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DIREITO CIVIL
DIREITO DE FAMÍLIA
1. REGIME DE BENS NO CASAMENTO.
O casamento gera efeitos pessoais e patrimoniais, sendo os efeitos patrimoniais determinados pelo regime de bens adotado. Portanto, os regimes de bens são os princípios jurídicos que regulam as relações econômicas entre os cônjuges, na constância do casamento.
Na doutrina, encontramos diversas definições, ainda que na essência sejam semelhantes. Na definição de Washington de Barros Monteiro: “Regime de bens é o complexo das normas que disciplinam as relações econômicas entre marido e mulher durante o casamento”
Venosa define como “Regulamento dos interesses patrimoniais durante o casamento”.
Mais completa a definição de Maria Helena Diniz , para quem
Regime de bens é o conjunto de normas aplicáveis às relações e interesses econômicos resultante do casamento. Consiste nas disposições normativas aplicáveis à sociedade conjugal no que concerne aos seus interesses pecuniários.
O regime de bens no casamento provém da livre estipulação entre os consortes, e é chamado de regime convencional; ou da imposição da lei, sendo conhecido como regime legal.
Podem os cônjuges escolher o regime de sua preferência, salvo nas situações que se enquadram no disposto pelo artigo 1.641 do Código Civil. Pode ser feita a combinação entre os diversos regimes, podem ser estipuladas cláusulas, enfim, há liberdade de total escolha, desde que não vá de encontro aos princípios de ordem pública. (Silvio Venosa)
Na vigência do Código Civil de 1916, o regime de bens, uma vez escolhido, não era passível de alteração. Dispunha o artigo 230 “o regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento e é irrevogável”. Justificava-se a imutabilidade como forma de proteção aos cônjuges com intuito de evitar que, após o casamento, sob pressão e influência de um sobre o outro, se alterasse o regime, colocando em risco o patrimônio de um dos cônjuges. Ainda na vigência do código de 1916, a súmula 377 do STF estabeleceu que “No regime da separação de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”, amenizou, portanto, a imutabilidade do regime legal do casamento. (Caio Mario)
O regime de bens dispõe a respeito dos bens existentes à época do consórcio, os adquiridos durante a vida em comum, bem como define o critério de administração dos bens em geral. Em face da importância do fator econômico para a vida individual e familiar, é necessário que o casamento se submeta a uma modalidade de regime de bens. (Paulo Nader)
Em relação aos regimes de bens, há três princípios fundamentais, o da variedade de regime de bens, o da liberdade dos pactos antenupciais e o da mutabilidade justificada. O Código Civil possibilita aos cônjuges quatro opções, embora não se restrinja a elas. É permitida ao casal a escolha dentre estes ou estipular um estatuto próprio que atenda aos seus interesses, estipulado ou não em lei.
No silêncio dos nubentes, prevalece na constância do casamento o regime da comunhão parcial de bens, que será também adotado no caso de nulidade do pacto antenupcial. Em determinadas situações, a lei não permite escolha e impõe aos cônjuges o regime da separação de bens. Com já dito, o regime de bens escolhido pode ser alterado mediante autorização judicial uma vez demonstrada a vontade dos cônjuges e constatação de que tal alteração não trará prejuízo para terceiros.
A permissão para a mudança de regime alcança os pactos antenupciais firmados antes da entrada em vigor do atual Código Civil. Não acarretando risco ou prejuízo para os cônjuges, filhos ou terceiro, não há razão para se impedir a aplicação imediata do princípio às relações matrimoniais existentes antes de janeiro de 2003.
Nesse sentido, a lição de Washington de Barros Monteiro
Se os nubentes podem, via de regra, regular o regime de bens do modo que lhes aprouver, à época da celebração do casamento, é adequado facultar-lhes por pedido conjunto e motivado, a modificação de seus interesses patrimoniais que são de ordem privada.
Em resumo, verifica-se que o Código Civil vigente possibilita aos nubentes, regra geral, a escolha do regime de bens que entendem devem regular seu patrimônio após a celebração do casamento. Nesse caso, impera a vontade dos nubentes. No entanto, em algumas hipóteses, a lei civil impõe, independente da vontade dos nubentes, o regime de bens a ser instaurado após o casamento. Nessa hipótese, tem-se o regime legal de bens.
A seguir, serão tratados os tipos de regime de bens existentes em nosso sistema jurídico.
1.1 PACTO ANTENUPCIAL
A opção por um dos regimes de bens que não seja o da comunhão parcial e o da separação obrigatória de bens exige a formalização, pelos nubentes, do pacto antenupcial. Por esse motivo, necessária a sua conceituação.
De acordo com Paulo Nader, “O pacto configura negócio jurídico bilateral, de direito de família, sujeito a condição suspensiva, pois os efeitos só se produzem com a realização do casamento”
Pacto antenupcial é um contrato solene, formalizado através de escritura pública e realizado antes do casamento, através do qual as partes estabelecem o regime de bens que irá vigorar na constância do matrimônio. É um contrato solene porque o código civil nega validade a tais ajustes quando feitos por outra forma que não a escritura pública que representa a condição essencial à existência do ato. Conforme ensina Silvio Rodrigues “Pacto antenupcial é contrato solene pois a lei impõe a forma notarial”
Na lição de Maria Helena Diniz,
O pacto antenupcial é negócio dispositivo que só pode ter conteúdo patrimonial, não admitindo estipulações alusivas às relações pessoais dos consortes, nem mesmo as de caráter pecuniário que não digam respeito ao regime de bens ou que contravenham preceito legal.
O pacto antenupcial, embora exprima a liberdade contratual dos nubentes, está subordinado a princípios que condizem com a ordem pública, sejam aquelas de cunho patrimonial, sejam de natureza pessoal. São inválidas as cláusulas que suprimam direitos que a lei assegura a ambos os cônjuges.
Passa a ter validade o pacto antenupcial a partir da celebração do matrimônio, e passa a ser como acessório deste. Sendo assim, anulado o casamento, invalida-se o pacto; mas o contrário não ocorre.
As convenções antenupciais terão efeitos perante terceiros após a transcrição, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges .
1.2 REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS
Disciplinado como sendo o “regime legal”, ou seja, no silêncio dos nubentes em relação ao regime de bens a ser adotado, o casamento será regido pelo regime da comunhão parcial. Cada cônjuge conserva para si os bens particulares que trouxe para o casamento e comunicam-se os adquiridos na constância da sociedade conjugal, com exceção daqueles cuja aquisição tenha por título uma causa anterior ao casamento, tais como bens recebidos por doação ou sucessão e os sub-rogados em seu lugar, bens adquiridos com valor pertencente a um só cônjuge em sub rogação de bens particulares, obrigações anteriores ao casamento, bens de uso pessoal, os instrumentos de profissão, proventos de trabalho pessoal de cada cônjuge, pensão, meio soldo, montepio e outros semelhantes. (Tatiana Assef)
Na lição de Silvio Rodrigues, o regime da comunhão parcial de bens basicamente exclui da comunhão os bens que os consortes possuem ao casar ou que venham a adquirir por causa anterior e alheia ao casamento, e que inclui na comunhão os bens adquiridos posteriormente.
Ao prescrever a comunhão dos bens adquiridos na constância do casamento, estabelece uma solidariedade entre os cônjuges, unindo os materialmente, pois os interesses são comuns e tudo o que for adquirido serão comuns por serem frutos da colaboração que se estabelece entre marido e mulher.
Conforme Maria Helena Diniz, “Sinteticamente esse regime caracteriza-se pela existência de três patrimônios, o patrimônio comum, o patrimônio pessoal do marido e o patrimônio pessoal da mulher.”
O artigo 1659 nos incisos VI e VII determinaque os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge e as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes, não se comunicam com o casamento, ou seja, o fruto do trabalho do cônjuge ou a pensão que receba só a este pertence em virtude do caráter personalíssimo.
Nesse aspecto, a lição de Silvio Rodrigues afirmando que
Recebida a remuneração, o valor assim obtido entra no patrimônio do casal. Da mesma maneira, os bens adquiridos como seu produto. Assim por exemplo, se um dos cônjuges, antes de casar, tinha direito a determinada pensão, tal direito não se comunica por força do casamento posterior. Mas o dinheiro que mensalmente receber, após o casamento, comunica-se a partir do vencimento da prestação.
No regime da comunhão parcial de bens, presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móveis, salvo se for provado que foram adquiridos em data anterior ao casamento ou se houver disposição em contrário no pacto antenupcial.
1.3 REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS
O regime de comunhão universal caracteriza-se pela comunicação de todos os bens, presentes e futuros dos cônjuges, com a ressalva dos bens relacionados nos incisos I a V do artigo 1668 do Código Civil. Paulo Nader, citando Lafayette Rodrigues Pereira, apresenta uma definição precisa do regime:
Consiste a comunhão em que todos os haveres do casal, móveis e imóveis, direitos e ações, permanecem indivisos na propriedade comum dos cônjuges, a cada um dos quais pertence uma metade ideal, intransmissível durante a existência da sociedade conjugal.
Até o advento da Lei do Divórcio, em 1977, o regime da comunhão comum universal era estabelecido como o regime legal, sendo a partir de então substituído pelo regime da comunhão parcial. Alguns doutrinadores consideram o regime da comunhão universal como sendo o mais perfeito pois uma vez que o casamento implica na comunhão de vida, nada mais certo do que a comunhão do patrimônio.
Silvio Rodrigues refere-se à comunhão universal de bens como sendo um condomínio peculiar, uma vez que insuscetível de divisão antes da dissolução da sociedade conjugal. Contrário a essa definição, Paulo Nader diz que “A comunhão de bens constitui sociedade sui generis, que não se reduz a qualquer outra categoria jurídica.”
Nessa mesma linha a posição de Washington de Barros Monteiro, ao afirmar que:
É com a sociedade que a comunhão conjugal apresenta maior afinidade ou maior semelhança. Sem receio de errar, podemos dizer que a comunhão é espécie de sociedade, regida por normas peculiares e próprias.
Embora a essência do regime seja a comunicação de todos os bens, há exceções, os bens “incomunicáveis”, estabelecidos pelo artigo 1668, incisos I a V do código civil.
Os bens, no regime da comunhão universal poderão ser administrados por qualquer dos cônjuges, exigindo-se, entretanto, a anuência de ambos para os atos, a título gratuito, que impliquem cessão de uso ou gozo destes bens. A comunhão termina com a dissolução da sociedade conjugal, ou seja, pela morte de um dos cônjuges, pela sentença que decreta a nulidade ou anula o casamento, pela separação judicial ou pelo divórcio. (Silvio Rodrigues)
1.4 REGIME DA PARTICIPAÇÃO FINAL DOS AQÜESTOS
O regime da participação final dos aqüestos foi introduzido em nosso ordenamento jurídico pelo Código Civil em vigor, e possui características que o aproximam inicialmente da separação de bens e, ao final, ao da comunhão parcial. Silvio Rodrigues assim o define:
Representa um sistema híbrido, ou misto, ao prever a separação de bens na constância do casamento, preservando cada cônjuge, seu patrimônio pessoal, com a livre administração de seus bens, embora só se possa vender os imóveis com autorização do outro, ou mediante expressa convenção no pacto dispensando a anuência. Mas com a dissolução, fica estabelecido o direito a metade dos bens adquiridos pelo casal na constância do casamento.
Por esse regime, os bens anteriores ao casamento e os adquiridos em sua constância, integram os patrimônios particulares e ficam sob a administração de cada cônjuge, mas sem autonomia para alienar os imóveis. A diferença se revela na ocasião da dissolução da sociedade conjugal, independente de qual seja a causa, quando então se verifica a partilha dos adquiridos durante o casamento que consiste na soma dos bens adquiridos a título oneroso por ambos os cônjuges e sua partilha.
Rolf Madaleno ensina que
[...] a eficácia desse regime de bens, quanto a efetiva participação final dos aquestos, só surge com o fato jurídico da dissolução da sociedade conjugal. Antes disso o casal vive sob o regime da separação de bens. Na constância da sociedade conjugal, tudo o que os cônjuges adquirirem integrará o patrimônio de cada um. No momento da dissolução do casamento serão apurados os bens adquiridos na constância da sociedade conjugal, a título oneroso, e divididos pela metade para cada um dos cônjuges.
Como toda novidade, tal regime encontra resistência por parte de alguns doutrinadores.
Silvio Venosa manifesta seu receio com a afirmação de que:
É muito provável que esse regime não se adapte ao gosto de nossa sociedade. Por si só verifica-se que se trata de estrutura complexa, disciplinada por nada menos do que 15 artigos, com inúmeras particularidades. Não se destina evidentemente, à grande maioria da população brasileira, de baixa renda e pouca cultura.
Na mesma esteira Caio Mario:
Pretendeu o código de 2002 ser inovador ao instituí-lo, sobre cuja penetração em nosso sistema jurídico manifestamos nossas restrições, sob fundamento e não encontrar amparo em nossas tradições, e não oferecer aos cônjuges maiores vantagens do que já oferecem os clássicos regimes de comunhão parcial e de separação de bens, com as contribuições que ao longo do tempo lhes trouxe a jurisprudência.
Na visão de Paulo Nader
A efetividade alcançada na Alemanha se deve, notadamente por ser ali o regime legal supletivo, afastável apenas por pacto antenupcial, não sendo difícil de se prever que, em nosso país, deverá tornar-se letra morta no Código, a exemplo do regime dotal.
Conforme Paulo Nader, somente o tempo mostrará a aceitação ou não pelo novo regime, pela complexidade ao que tudo indica não será incorporado facilmente na opção dos futuros cônjuges.
1.5 REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS
O regime da separação de bens pode ser estipulado pelas partes, através do pacto antenupcial ou pela imposição da lei, nos casos previstos no artigo 1641 do Código Civil. Cada um dos cônjuges conserva a posse e a propriedade dos bens que trouxer para o casamento, bem como dos que forem a eles sub-rogados, e dos que cada um adquirir a qualquer título, na constância do casamento.
No regime da separação, cada um dos cônjuges administra livremente seus bens.
Arnold Wald assim o define:
Trata-se de um regime de estrutura simples, em que subsistem com inteira independência dois patrimônios distintos, o do marido e o da mulher. Tantos os bens anteriores como os posteriores à celebração do casamento são de propriedade individual de um dos cônjuges.
No regime da separação não se forma um acervo ou massa patrimonial comum, Washington de Barros Monteiro conceituou como:
O regime que conserva exclusivamente para si os bens que possuía quando casou, sendo também incomunicáveis os bens que cada um veio a adquirir na constância do casamento.
O regime da separação, conforme disciplinado no Código Civil, permite aos cônjuges a alienação de imóveis, bem como a prestação de fiança independente de outorga uxória, permissões que são conseqüência da total incomunicabilidade dos patrimônios.
Na lição de Silvio Rodrigues :
Pelo casamento os cônjuges unem suas vidas e seu destino. Mas por meio do pacto antenupcial que ajustam a separação, circunscrevem os efeitos dessa união, a fim de impedir que ela se estenda também ao campo patrimonial. De modo que, embora sejam marido e mulher, cada cônjuge continua dono daquilo que era seu, será senhor exclusivo dos bens que vier a adquirir e receberá sozinho, as rendas produzidas por uns e outrosdesses bens.
O regime da separação de bens, em síntese, é aquele em que os bens que possuem os cônjuges antes do casamento não se comunicam, cada um conserva o que é seu, não havendo comunhão entre eles. Embora ambos os cônjuges tenham o dever de contribuir para as despesas comuns, o patrimônio que possuíam antes do casamento não irá se comunicar. A característica principal neste regime é a existência de dois patrimônios distintos, o do marido e o da mulher, administrados com total independência um do outro.
1.6 REGIME DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS
Embora possam os nubentes escolher o regime de bens que julgarem mais conveniente, em algumas hipóteses o legislador impõe-lhes a adoção do regime da separação de bens, não permitindo a escolha de outro regime.
Ensina Paulo Nader que.
Há dois regimes legais de bens, ou seja, imposto pela lei e que prevalecem, quando os nubentes não exercitarem a sua faculdade de opção do regime ou nula foi a indicação, caso em que se impõe a comunhão parcial de bens, e diante de determinadas situações em que a lei não permite sequer a escolha e impõe a separação de bens estabelecendo o regime legal obrigatório
Conforme leciona Silvio Rodrigues,
O legislador para impedir que o interesse material venha a constituir o elemento principal a mover a vontade do outro consorte, procura por meio do regime obrigatório da separação, eliminar essa espécie de incentivo
Na definição de Arnoldo Wald,
O regime da separação de bens caracteriza-se pela incomunicabilidade dos bens presentes e futuros dos cônjuges. Cada cônjuge conserva, em separado, a propriedade e posse de seus bens, administrando-os a sua vontade
A imposição do regime da separação obrigatória de bens está disciplinada no artigo 1641 do código civil:
Art 1641 – É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I – das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de sessenta anos
III – de todos os que dependerem para casar, de suprimento judicial.
As causas suspensivas são circunstâncias previstas na lei que retiram dos cônjuges a livre opção ao regime de bens, tendo por objetivo a preservação do patrimônio não só de algum dos nubentes com também, conforme o caso, dos filhos, herdeiros e ex-cônjuges.
Em relação ao inciso II do artigo acima citado, ensina Maria Helena Diniz que a regra não se aplica se resultar de união estável de mais de dez anos consecutivos ou da qual tenham nascidos filhos, podendo portanto os nubentes escolher livremente o regime matrimonial de bens.
Conforme Paulo Nader, a imposição do regime da separação de bens aos maiores de 60 anos deve ao fato de que “na visão do legislador, a partir de certa idade a pessoa se tornaria suscetível de sofrer o que, na boa gíria, costuma se designar por golpe do baú” Complementa afirmando que tal disposição está eivada de inconstitucionalidade, pois atenta contra o princípio da dignidade da pessoa humana, ao limitar a autonomia da pessoa, impondo-lhe constrangimento.
Partilha do mesmo entendimento Maria Helena Diniz quando afirma:
O nubente que sofre tal capitis diminutio imposta pela Estado, tem maturidade suficiente para tomar uma decisão relativamente a seus bens e é plenamente capaz de exercer os atos na vida civil, logo nos parece que, juridicamente, não teria sentido essa restrição legal em função de idade avançada do nubente.
O inciso III estabelece que em todo o casamento que necessite de autorização judicial, o regime será o da separação. Conforme lição de Silvio Venosa, o legislador entende, por exemplo, que o menor que se casa com suprimento judicial da vontade de seus pais ou para furtar-se à imposição de pena criminal necessita de maior proteção no curso do casamento. Entende Venosa ser equivocada a posição do legislador, pois foge a realidade da sociedade brasileira, pois geralmente os casamentos de pessoas nessas condições ocorrem nas classes sociais menos favorecidas cujo patrimônio se constituirá nos anos futuros ao casamento. Afirma ser, nessas hipóteses, o melhor regime o da comunhão parcial de bens, uma vez que,
É de curial justiça que os bens adquiridos pelo esforço comum de ambos os cônjuges pertençam a ambos. Não se justifica que em casamento estável, perdurando por décadas haja imposição de separação absoluta de bens.
No mesmo sentido Paulo Nader critica a imposição do regime da separação imposto pelo inciso III, pois,
No plano crítico, não se entende a distinção: os incapazes, que logram o consentimento de seu representante, não são atingidos pelo regime compulsório; os que tiveram denegada a autorização, mas constatando o juiz que a recusa foi injusta, são alcançados. Ora o suprimento judicial tem igual efeito ao consentimento do representante legal e, não obstante, a Lei Civil impõe o discrimen.
Das lições acima, verifica-se que a doutrina considera o regime da separação obrigatória de bens inconstitucional, pois, ao limitar a autonomia da vontade do nubente maior de 60 anos, fere a dignidade da pessoa humana. No entanto, a regra que o prevê ainda está em pleno vigor e é utilizada nas celebrações de casamentos de pessoas que se enquadram na hipótese nela versada.
Dada a importância do tema, é imprescindível que os noivos tenham conhecimento dos diversos regimes de bens previstos no Código Civil, e façam a escolha de modo a determinar o regime que mais lhes aprouver, tendo em conta que, no caso de extinção da sociedade conjugal, seja pelo divórcio ou pela morte, o regime adotado terá influência direta sobre a partilha do patrimônio.

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