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Avancos e polemicas em avaliacao psicologica (1)

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Avanços	e	polêmicas	em	avaliação	psicológica
Article	·	August	2012
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Some	of	the	authors	of	this	publication	are	also	working	on	these	related	projects:
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Claudio	S	Hutz
Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	Sul
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Avanços e polêmicas 
em avaliação psicológica
Claudio Simon Hutz
(Org.)
AVANÇOS E POLÊMICAS
em Avaliação Psicológica
em homenagem a 
Jurema Alcides Cunha
Avanços e Polêmicas em Avaliação Psicológica.indd 1 25/6/2009 12:54:24
Avanços e Polêmicas em Avaliação Psicológica.indd 2 25/6/2009 12:54:24
AVANÇOS E POLÊMICAS
em Avaliação Psicológica
em homenagem a 
Jurema Alcides Cunha
CLAUDIO SIMON HUTZ
(Org.)
Avanços e Polêmicas em Avaliação Psicológica.indd 3 25/6/2009 12:54:24
Avanços e Polêmicas em Avaliação Psicológica.indd 4 25/6/2009 12:54:24
SUMÁRIO
1 - A tradição em avaliação psicológica no Rio Grande do Sul: 
a liderança e a referência de Jurema Alcides Cunha ...................... 7
William B. Gomes
2 - Teoria de resposta ao item: conceitos e aplicações na psicologia 
e na educação ............................................................................... 25
Carlos Henrique Sancineto da Silva Nunes e Ricardo Primi
3 - Testes psicológicos: conceito, uso e formação do psicólogo ..... 71
Ana Paula Porto Noronha
4 - Avaliação da criatividade: possibilidades e desafios .................. 93
Solange Muglia Wechsler
5 - O uso da estatística na avaliação psicológica: comentários e 
considerações práticas .................................................................. 127
Valdiney V. Gouveia, Walberto S. Santos e Taciano L. Milfont
6 - Métodos Projetivos em Avaliações Compulsórias: indicadores 
e perfis ......................................................................................... 157
Anna Elisa de Villemor-Amaral
Avanços e Polêmicas em Avaliação Psicológica.indd 5 25/6/2009 12:54:24
7 - Avaliação psicológica e genética ............................................... 175
Clarissa Marceli Trentini e Denise Balem Yates
8 - Avaliação psicológica do dependente de substâncias psicoativas .... 199
Irani de Lima Argimon e Margareth da Silva Oliveira
9 - Reflexões sobre o ensino da avaliação psicológica na formação 
do psicólogo ................................................................................. 217
Irai Cristina Boccato Alves
10 - Definições contemporâneas de validade de testes psicológicos .... 243
Ricardo Primi, Monalisa Muniz e Carlos Henrique Sancineto Nunes
11 - Leonardo da Vinci, o Rorschach e o movimento.................... 267
Latife Yazigi
12 - Ética na Avaliação Psicológica ................................................ 297
Claudio Simon Hutz
Sobre os autores ........................................................................... 311
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1
A TRADIÇÃO EM AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA NO RIO GRANDE DO SUL: 
A LIDERANÇA E A REFERÊNCIA DE 
JUREMA ALCIDES CUNHA
William B. Gomes1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
A área da avaliação psicológica foi uma das primeiras 
referências profissionais do psicólogo. As medidas psicológicas 
surgiram de princípios da psicofísica e da psicologia experimental, 
o que demonstra claramente as bases sólidas dessa importante área 
de pesquisa e prática. Equipamentos utilizados em experimentos 
serviram de avaliação para tempo de reação, atenção e percepção 
diferencial. Os mesmos princípios foram adotados na preparação de 
medidas para processos psicológicos superiores como o estudo 
da memória e da inteligência. 
No Brasil, a grande divulgação da avaliação psicológica cou-
be a um jornalista, o pernambucano José Joaquim de Campos da 
Costa Medeiros de Albuquerque (1867-1934). Professor, político, 
1 Agradecimentos aos bolsistas de iniciação científica que colaboram com o 
Projeto Pioneiros, transcrevendo audioteipes e localizando documentos. 
Foram eles: Amanda da Costa da Silveira, Adriano Moraes Migliavacca e Erika 
Juchem. Também agradeço aos colegas Claudio S. Hutz e Clarissa M. Trentini 
pela leitura do manuscrito original e pelas prestimosas informações. 
Avanços e Polêmicas em Avaliação Psicológica.indd 7 25/6/2009 12:54:24
AVANÇOS E POLÊMICAS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
8
literato, Medeiros de Albuquerque é considerado um pioneiro 
da psicologia brasileira (Campos, 2001), por vislumbrar muito 
cedo a importância dessa nova área de conhecimento e de suas 
implicações para a saúde e para a educação. No Brasil, ele sempre 
será lembrado por ter escrito a letra do Hino da Proclamação 
da República2. Foi ele quem incentivou o irmão mais novo, o 
médico Maurício Campos de Medeiros, a ir a Europa e estudar 
psicologia experimental e psiquiatria com Emil Kraepelin (1856-
1926) e George Dumas (1866-1946). Ao voltar, Maurício criou 
um laboratório de psicologia no Hospital Nacional dos Alienados. 
A instalação de um laboratório de psicologia em um hospital 
sugeria o potencial dos equipamentos e das técnicas tanto para 
pesquisa quanto para avaliação psicológica. Em seu livro sobre 
Tests3, Medeiros e Albuquerque faz uma minuciosa descrição dos 
critérios utilizados na construção dos testes de inteligência para 
uso individual e coletivo, com fartos exemplos. Interessante ele 
ter mantido do verbete tests no título, pois o equivalente teste já 
existia na língua portuguesa desde o século XIII (Houaiss, 2001). 
Certamente, ele queria chamar atenção para a novidade que estava 
sendo apresentada.
No livro, Medeiros e Albuquerque mostra familiaridade 
com os trabalhos de Alfred Binet (1857-1911) e de Lewis Madison 
Terman (1877-1956), dedicando todo um capítulo às formulações 
dos testes de inteligência. A maior preocupação dele era o uso de 
critérios científicos de avaliação em escolas, para valorizar a apro-
priação do conhecimento pelos estudantes e evitar julgamentos 
2 Liberdade! Liberdade! 
 Abre as asas sobre nós! 
 Das lutas na tempestade 
 Dá que ouçamos tua voz!
3 O livro foi digitalizado pelo MuseuPsi da UFRGS e está disponível em 
http://www.ufrgs.br/museupsi/tests.htm
Avanços e Polêmicas em Avaliação Psicológica.indd 8 25/6/2009 12:54:24
WILLIAM B. GOMES
9
equivocados e injustos dos professores. Suas considerações sobre 
avaliação continuam atuais e bem que poderiam ser levadas a sério 
pelos profissionais da educação.
No início dos anos 1940, os testes estavam presentes em 
todos os campos de atuação da nascente ciência psicológica. Com 
a Segunda Guerra Mundial, investiu-se muito na preparação e 
na aplicação de testes para recrutamento, orientação e, poste-
riormente, em tratamentos de combatentes e ex-combatentes. As 
repercussões dessa pesquisa e aplicação foram enormes, alcançando 
também o Brasil. No Rio Grande do Sul, os testes chegaram dire-
tamente da Europa e dos Estados Unidos, trazidos por psiquiatras 
como Décio de Souza, que na década de 1930 havia estudado na 
Europa, ou mesmo por Oscar Machado da Silva, que na década 
de 1920 estudara nos Estados Unidos. 
A inauguração das Faculdades de Filosofia em Porto Alegre 
trouxe para as salas de aula o interesse pelos testes psicológicos, 
estimulados pelo professor psiquiatra Décio Soares de Souza (1907-
1970),um grande usuário do teste de Rorschach. Para se ter ideia 
da importância desse teste na psiquiatria gaúcha, basta dizer que 
em 1949 O diagnóstico da personalidade em clínica ginecológica 
pelo teste de Rorschach foi título de tese de livre-docência para a 
cadeira de Ginecologia da UFRGS, defendida pelo médico Newton 
A. Prates de Lima. Foi Décio de Souza quem iniciou a prática de 
estágios em psicopatologia, na época frequentados por estudantes 
de filosofia, interessados na prática psicológica (Gomes, 2006).
O grande herdeiro da psicologia aplicada de Décio de 
Souza foi Nilo Antunes Maciel (1920-1993), indicado por ele 
para ser assistente do professor que o substituiria, quando de sua 
viagem a Londres para formação em psicanálise. O prof. Victor 
de Britto Velho (1915-) assumiu a teoria e Nilo Maciel ficou com 
as aulas e práticas e supervisões de estágios. Nilo Maciel passou 
a ser a grande referência para avaliação psicológica em Porto 
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AVANÇOS E POLÊMICAS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
10
Alegre, criando serviços para organizações, como o Departamento 
Estadual de Estradas e Rodagens, a Carris, e a antiga Viação Aérea 
Rio-Grandense (Varig). Manteve um serviço de avaliação psicoló-
gica, muito procurado pelos médicos psiquiatras para diagnósticos 
clínicos. A avaliação psicológica também prosperava nas Escolas 
Normais, como evidenciam os Boletins do Centro de Pesquisas 
e Orientação Educacionais (CPOE) da Secretaria de Educação e 
Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, e a criação de Gabinetes 
de Psicologia nas Escolas Normais (Gomes, 2006).
Na década de 1950, o estudo de psicologia se transfere da 
UFRGS para a PUC-RS, com a criação de cursos de especialização 
em psicologia que funcionaram até a abertura do curso de gra-
duação em 1962. A partir dos anos 1960, a avaliação psicológica 
terá nova referência em Porto Alegre, a simpática morena Jurema 
Alcides Cunha, que começava a se destacar com suas pesquisas 
sobre testes de inteligência.
Jurema Alcides Cunha nasceu em Porto Alegre (RS), em 30 
de outubro de 1925, e faleceu na mesma cidade em 20 de agosto 
de 2003, de complicações de um infarto. Deixou duas filhas e 
cinco netos. Seu pai era militar, chegando ao posto de coronel do 
Exército, e sua mãe, professora. Seu pai também foi professor de 
português e latim. Seu primeiro contato com a Psicologia foi no 
Curso Normal do Instituto de Educação Flores da Cunha, onde 
estudou com Victor de Britto Velho, Graciema Pacheco (1910-
1999) e Elmira Flores Cabral Pellanda. Em 1946, assumiu uma 
cadeira de professora primária no Grupo Escolar Rio Branco, em 
Porto Alegre. No mesmo período, iniciou seus estudos de filoso-
fia, primeiro na Faculdade Católica (futura PUC-RS), e depois na 
Universidade do Rio Grande do Sul, atual Universidade Federal 
(UFRGS), onde concluiu o bacharelado em 1949 e a licenciatura 
em 1950. Sua atração pelo curso de Filosofia da UFRGS estava nas 
várias disciplinas relacionadas à Psicologia, como psicopatologia e 
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WILLIAM B. GOMES
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psicodiagnóstico, incluindo testes como TAT, PMK e Rorschach. 
Entre os professores, estavam Victor de Britto Velho e Nilo Maciel. 
Em 1952, passou a lecionar psicologia para o Curso Normal do 
Instituto de Educação General Flores da Cunha. Na Faculdade 
Católica, predominava a psicologia filosófica de Armando Câmara, 
para quem a psicologia tinha se transferido do galinheiro (ironia 
ao behaviorismo) para o cabaré (ironia à psicanálise).
Cunha participou dos grandes momentos que estabeleceram 
a psicologia no Rio Grande do Sul. Assistiu às aulas do psicólo-
go judeu-húngaro Béla Székely (1881-1955), que fora aluno de 
Freud e de Adler. Székely estava residindo em Buenos Aires e, no 
início da década de 1950, visitou algumas cidades brasileiras para 
proferir conferências sobre psicologia. Com estas, ele abriu um 
curso preparatório para a futura especialização em psicologia na 
PUC-RS, que antecedeu o curso de graduação. Cunha foi aluna 
da primeira turma do Curso de Especialização em Psicologia da 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), 
o primeiro desse gênero oferecido no estado (1954-1956). Na 
verdade, Cunha havia sido cogitada para ser professora do curso, 
mas na época a PUC-RS não costumava incluir professoras em seu 
quadro docente. Para não deixar de participar, ela se matriculou e 
concluiu o curso. Ainda na década de 1950, participou dos grupos 
de Círculo Analítico de Psicanálise de orientação carusiana, fun-
dado em Porto Alegre em 1956 com a presença do próprio Igor 
Caruso (1914-1981). Caruso foi um psicanalista que se afastou da 
ortodoxia freudiana, e com uma postura espiritualista aproximou-
se da filosofia existencial, sendo bem recebido pelas instituições 
católicas que não cultivavam simpatias pelo materialismo de Freud. 
Por sua influência, abriu-se espaço em Porto Alegre para a formação 
psicanalítica a psicólogos, na época restrita a médicos.
Em 1963, Cunha foi aprovada em concurso para o cargo de 
psicólogo da Divisão Especial da Secretaria da Educação do Rio 
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AVANÇOS E POLÊMICAS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
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Grande do Sul, tornando-se logo a seguir presidente da Comissão 
de Pesquisa, organizada para colaborar com um projeto de pes-
quisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade de Maryland, 
com apoio do Foundations Funds for Research in Psychiatry e 
da Fullbright Comission, coordenado pelo dr. Eugene B. Brody. 
Por esse intercâmbio, Cunha foi, entre 1963 e 1966, professora 
visitante da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, em 
Baltimore, Estados Unidos. O projeto culminou com a publicação 
do livro The lost ones: Social forces and mental illness in Rio de 
Janeiro (Brody, 1973).
Em 1972, matriculou-se no curso de mestrado em Psicologia 
da PUC-RS, sob a orientação de Isacc Sprinz, concluindo-o em 
1977 com a dissertação Sinais simbólicos de agressão no teste de 
Bender e a dimensão da normalidade – anormalidade. Ainda em 
1977, defendeu sua tese de livre-docência, intitulada Suicídio e o 
teste de Bender. Neste mesmo ano, Cunha passou a integrar o grupo 
de professores fundadores do Curso de Psicologia da Universidade 
do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o segundo curso de formação 
em Psicologia do estado, que recebeu a primeira turma em 1972 (o 
primeiro foi o curso da PUC-RS, fundado em 1962). Para compor 
o corpo docente da Unisinos, ela convidou o psicólogo Claudio 
Simon Hutz, que acabara de chegar da Universidade de Haifa, em 
Israel, onde havia concluído o bacharelado em Psicologia. Para 
Hutz, o convite de Cunha foi um marco em sua vida, em dois 
sentidos. Foi quando começou a se interessar pela pesquisa em 
avaliação psicológica e também pela carreira universitária.
Em 1977, Cunha transferiu suas atividades de docência e 
pesquisa universitária para a PUC-RS, passando a integrar o corpo 
docente do curso de mestrado em Psicologia, lá permanecendo 
até 1998. A partir de 1999, ela passa a colaborar com os cursos 
de mestrado e doutorado em Psicologia da UFRGS, vinculada ao 
Laboratório de Mensuração, coordenado por Claudio S. Hutz. 
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WILLIAM B. GOMES
13
Com efeito, as últimas edições do celebrado Psicodiagnóstico 
indicavam a UFRGS como afiliação institucional.
As publicações de Jurema Alcides Cunha concentram-se na 
área dos testes e medidas. Realizou a padronização do Inventário de 
Inteligência Não Verbal de Pierre Weil (1924-2008) para escolares 
adolescentes do estado Rio Grande do Sul, e do Teste Projetivo 
Holtzman Inkblot Technique para o mesmo estado. Outros instru-
mentos quereceberam atenção de Cunha foram as escalas Beck, 
o Teste das Fábulas e o Teste Wisconsin. Ela escreveu cerca de 
trezentos artigos de divulgação psicológica para o jornal Correio do 
Povo, de Porto Alegre, e traduziu vários livros muito utilizados nos 
cursos de graduação em psicologia no Brasil, como Ensinamentos 
básicos dos grandes psicólogos, de S. S. Sargent e K. R. Stafford 
(1969), e Psiquiatria dinâmica, de R. R. Mezer (1972), ambos pu-
blicados pela Editora Globo de Porto Alegre. Em 1970, organizou 
um dicionário de termos psicanalíticos também publicado pela 
Editora Globo. Uma de suas contribuições mais importantes foi 
a organização do livro Psicodiagnóstico, originalmente publicado 
em 1986, atualmente na 5a edição, sem dúvida o mais abrangente 
livro do gênero no Brasil.
Na última versão do Currículo Lattes/CNPq (on line) de 
Jurema Alcides Cunha constavam 37 artigos, 32 capítulos de 
livro, doze organizações de livros e 26 orientações de disser-
tação de mestrado. Uma obra expressiva na área da psicologia 
no Rio Grande do Sul para um pesquisador da sua geração, que 
acompanhou a transição da formação em cursos de filosofia para 
cursos psicologia propriamente. Entre os muitos psicólogos e 
pesquisadores influenciados por ela, gostaria de mencionar alguns 
nomes representativos, pelo reconhecimento alcançado tanto Rio 
Grande do Sul quanto no Brasil. Além de Cláudio Hutz, uma das 
principais referências na área da avaliação psicológica, cabe citar 
sua ex-orientanda de mestrado Blanca Susana Guevara Werlang, 
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AVANÇOS E POLÊMICAS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
14
professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-
RS, atual diretora do Instituto de Psicologia dessa universidade; e a 
ex-orientanda de iniciação científica Clarissa Marceli Trentini, pro-
fessora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS, 
atual chefe do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento 
e Personalidade. Tanto Welang quanto Trentini são exemplos re-
presentativos, entre muitos outros, do trabalho de formação de 
pesquisadores desenvolvido por Cunha. 
Um mês antes de falecer, uma semana após sofrer um infarto, 
Jurema Alcides Cunha foi homenageada no I Congresso Nacional 
de Avaliação Psicológica, realizado entre 23 e 26 de julho de 2003 
na PUC-Campinas (SP). Como já estava muito doente, não pôde 
comparecer, sendo representadana cerimônia por Blanca Werlang. 
No entanto, o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (Ibap), 
entidade promotora do evento, fez chegar às mãos de Jurema, 
pouco antes de seu falecimento, o troféu e o texto da homenagem. 
Foi realmente um reconhecimento justo a essa pioneira da pesquisa 
em psicologia no Brasil. Clarissa Trentini, presente a essa singela 
cerimônia realizada em um quarto de hospital, disse que ela ficou 
muito contente com o reconhecimento.
No início dos anos 1990, visitei vários pioneiros da psicologia 
em Porto Alegre, entre os quais entrevistei Nilo Maciel, Graciema 
Pacheco, Elmira Pellanda. Em 5 de maio de 1991, em uma tarde 
cinza de outono meridional, fui recebido por Jurema em seu apar-
tamento da avenida Independência, em Porto Alegre. Na época, 
ela desenvolvia intenso trabalho de pesquisa e atendia seus muitos 
orientandos em seu apartamento, quase não saindo de casa. Durante 
anos ela lutou bravamente contra o alcoolismo que lhe atormentava a 
vida e restringia sua mobilidade. Também fumava muito, acendendo 
um cigarro após o outro. Parou de beber e fumar alguns anos antes 
de morrer. Já não saía mais de casa, não exatamente por causa do 
alcoolismo ou da dependência de cigarro, mas em decorrência dos 
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WILLIAM B. GOMES
15
problemas gerados por eles. Nessa época caminhava lentamente 
e com alguma dificuldade. Eu poderia omitir esse lado triste de 
sua vida, mas não seria justo com ela e com as lições que sempre 
extraímos ao refletir sobre a vida e a obra desses grandes pesquisa-
dores. Posso encontrar, nas muitas teorias psicológicas, explicações 
e interpretações para o fato, mas não é essa a questão. Todos temos 
dificuldades e fraquezas, mas podemos impedir que elas afetem 
nosso lado produtivo e a contribuição positiva que queremos deixar 
para a posteridade. Ainda sobre a rotina de trabalho da Jurema, 
Clarissa Trentini lembrou que ela acordava cedo e passava o dia no 
gabinete trabalhando, Todo seu trabalho era manuscrito (ou seja, 
escrevia todos os seus trabalhos em folhas de almaço e com lápis 
2B. Depois, enviava esse material para uma datilógrafa, que acabou 
por se tornar sua grande amiga. Embora dominasse a informática 
e contasse com um computador bastante moderno em sua sala de 
estudo, esse era o percurso de seus escritos
A seguir reproduzo trechos da entrevista, omitindo repeti-
ções e algumas das minhas perguntas, abrindo espaço para a fala 
e a reflexão de Jurema, que fala fala abertamente sobre a carreira 
profissional e alguns aspectos pitorescos de sua história de vida. Nas 
entrelinhas, breves menções aos bastidores do desenvolvimento 
da psicologia como profissão e ciência no Rio Grande do Sul. Ela 
conclui com uma análise, hoje consensual, sobre as dificuldades 
encontradas na formação, no uso e na aplicação de testes psico-
lógicos no Brasil.
A entrevista
William – Como foi sua formação em Psicologia? 
Jurema – Comecei pela Filosofia. O primeiro ano cursei na 
PUC e depois passei para UFRGS, por uma razão muito simples: 
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AVANÇOS E POLÊMICAS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
16
o que me interessava era basicamente a Psicologia. Não havia curso 
específico de Psicologia e a UFRGS estava oferecendo um programa 
que satisfazia assim uma iniciação nesse sentido. 
William – Como surgiu esse interesse pela Psicologia, numa 
época em que esse campo de estudos era pouco conhecido?
Jurema – A Psicologia, de certa maneira, se insinuou 
no Brasil pela educação; antes disso fiz o curso de professora 
primária, e tive grandes professores; naquele tempo eu os con-
siderava grandes professores de Psicologia: Graciema Pacheco e 
Elmira Cabral Pellanda. Quem praticamente me empurrou para 
faculdade foi a Graciema, porque ela achava meu desempenho 
muito bom e viu que eu gostava muito de Psicologia. Fui fazer 
o vestibular sem preparar nada, e levei a única bomba na minha 
vida, uma bomba em latim. E isso aconteceu porque peguei o 
ginásio em uma época de reforma, o professor demorou a chegar 
e só tive uns oito meses de latim.. Quando fui fazer o vestibular, 
que exigia cinco anos de latim, eu só tinha estudado oito meses. 
Tanto que éramos 22 candidatos e só quatro, que eram padres, 
foram aprovados. Mas eu não desisti, passei uma semana daque-
las, estudando dia e noite, preparando os textos que achávamos 
que entravam no vestibular. Assim que eu soube do resultado 
da UFGRS, lá pelas dez horas da manhã, fui me inscrever na 
PUCRS. E, semana seguinte, fiz a prova e saí do exame oral com 
elogios ao meu latim! Foi por isso que comecei na PUC, quando 
na verdade eu desejava estudar na UFRGS, que tinha currículo 
que atendia bastante minhas necessidades iniciais; nós tínhamos 
uma boa formação em Psicopatologia e também, vamos dizer, 
na linha de Psicodiagnóstico e dos testes...
William – No curso de Filosofia?
Jurema – No curso de Filosofia tive Roscharch, por 1947, 
1948. Quem ensinava era o Nilo Antunes Maciel. Nós tínhamos 
grandes professores! Britto Velho era um deles. Aliás, Britto Velho 
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WILLIAM B. GOMES
17
já havia sido meu professor no Curso Normal. Grandes professores 
davam aula naquela época, e nos davam uma boa base em coisas 
dinâmicas.William – A psicanálise já aparecia então com muita força?
Jurema – Sim, já aparecia; me lembro bem de coisas que 
tivemos sobre entendimento de neurose, sobre defesas e todo me-
canismo. Tudo isso eu me lembro do curso de Filosofia. Tivemos 
Rorscharch, acho que TAT, e também noções do PMK, todas essas 
coisas básicas já naquele tempo. A bibliografia estrangeira não 
demorava muito para chegar ao Brasil e a influência dos livros 
europeus era grande. Em 1952, comecei a lecionar no Curso 
Normal, onde dava uma boa noção de Piaget. É curioso porque no 
começo de 1960 eu estava nos Estados Unidos e numa discussão 
em aula eu tive de ir ao quadro-negro explicar alguns conceitos de 
Piaget, que os americanos não estavam entendendo, mas que eu já 
ensinava em 1952 para minhas alunas do Curso Normal.
William – Na verdade, nos Estados Unidos ocorreu um 
fenômeno muito curioso com o Piaget. Ele esteve lá por volta de 
1930 em um grande congresso de Psicologia, e as pessoas se impres-
sionaram muito com o pensamento dele. Nas primeiras edições do 
Manual de psicologia infantil, editado por Leonard Carmichael, 
ele aparece, depois nas edições seguintes desaparece, para, alguns 
anos depois, reaparecer.
Jurema – Ele foi redescoberto nos Estados Unidos por volta 
de 1960. Eu me lembro de que em 1952 fazia as minhas alunas 
aplicarem todas aquelas perguntinhas do Piaget em crianças, isto 
é, de certa maneira já havia uma larvinha de pesquisa. Em relação 
à minha formação, concluí o curso de Filosofia em 1949, em se-
guida fiz didática, em 1950, em 1952, depois comecei a lecionar 
no Instituto de Educação, e foi nesse momento que começou 
aquele movimento na PUC-RS de fazer alguma coisa voltada para 
a Psicologia. Trouxeram muita gente da Europa, inclusive o Béla 
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Székely, e com isso germinou na PUC-RS a ideia de um curso de 
Psicologia, de cuja organização participei com o Irmão Justo e 
com muitas outras pessoas. Trabalhei na organização desse curso, 
pois eu era das poucas pessoas que atuavam em Psicologia. No 
início eu eraprofessora do curso, mas em pouco tempo houve 
uma série de implicações, que nem interessa mencionar aqui, 
mas, naquele tempo, quase todos os professores eram padres, ou 
homens, e, de repente, a Edela [Pereira de Souza, 1925-2004] e 
eu estávamos lecionando no curso de Psicologia. Começamos a 
sentir certa pressão, pois diziam que éramos comunistas, entre 
outras coisas, e a pressão para sairmos foi aumentando até o 
ponto em que acabaram nos dizendo que era porque éramos 
mulheres. O diretor quis fazer força, quis lutar contra, mas eu 
disse: “Não, até por ser comunista eu posso pedir para eles me 
provarem o contrário, mas por ser mulher eu não vou pedir”. 
Então nós duas pedimos demissão em caráter irrevogável, uma 
situação muito chata. Em resumo, trabalhei na organização do 
curso, lecionei e depois de uns três meses deixei de ser professora 
e entrei no curso, me tornei aluna. 
William – Que disciplina você começou lecionava?
Jurema – Psicodinâmica da conduta, baseada em [Karl] 
Jaspers [o livro era Psicopatologia geral]. Como passei a ser aluna, 
não apareço com professora. Já a Edela simplesmente saiu.
William – Mas o marido dela, o Chico Pedro [Francisco Pedro 
Pereira de Souza], continuou como professor
Jurema – Sim, continuou. Fiz os dois anos do curso e mais 
um estágio. Como nessa altura, eu trabalhava no Gabinete de 
Psicologia do Instituto de Educação, meu trabalho valeu como 
estágio. Naquela época eu já tinha começado a fazer pequenas 
pesquisas, levantamentos, coisas simples e coisas complicadas. 
William – E o interesse por pesquisa formal, com método e 
publicação, de onde veio?
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Jurema – Sabe que eu não sei dizer? Acho que nós, dessa 
turma iniciante, fomos basicamente autodidatas. Houve um em-
purrão inicial, mas eu já sentia que a coisa era muito incompleta. 
Eu e outros da minha geração trabalhamos sozinhos e estudamos 
sozinhos. Nosso afã de ter de descobrir as coisas, que afinal de 
contas é a atitude científica que leva à pesquisa, foi a atitude qu 
nos formou, ou a necessidade...
William – Eu, talvez, pudesse ajudar no seguinte aspecto: 
você, diferentemente de outros que se interessaram exclusivamente 
pela psicanálise, estudou psicodiagnóstico e testes psicológicos com 
seriedade, tomando contato com a literatura básica e com os relatos 
das pesquisas de onde provinha a informação.
Jurema – Evidentemente, mas acho que o fato de se fazer 
perguntas e ter de procurar respostas a qualquer preço certa manei-
ra preparou a atitude de pesquisa. Não só havia modelos, é claro, 
como havia uma necessidade básica que levou a uma postura que 
é a necessária para se fazer ciência.
William – Ao concluir esse curso pioneiro de formação em 
Psicologia na PUC-RS, quais foram os passos seguintes? 
Jurema – Concluí o curso em 1955 etrabalhava no Gabinete 
de Psicologia do Instituto de Educação, era professora do Curso 
Normal, e depois estive na Secretaria do Trabalho. Lá planejei 
um serviço que não foi adiante, pois o governo Leonel Brizola o 
engavetou. No entanto, José Carlos Fenianos [1930-2003] e eu 
fizemos um estudo sobre movimentos grevistas e levamos para 
um congresso no México. Eu vivia apresentando trabalhos em 
congressos e gostava muito disso.
William – Seu currículo lista mais de trezentas publicações 
em jornais e revistas. Uma produção altíssima, mesmo para hoje.
Jurema – Bom, mas nesses trezentos estão também minha pro-
dução no Correio do Povo, em que u tinha uma coluna dominical.
William – E você tratava de assuntos de Psicologia?
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Jurema – Sim.
William – E as pesquisas? Você já disse que começou a fazer 
pesquisa muito cedo.
Jurema – Sim, comecei lá pelos anos 1950. Fiz um estudo 
de cinco mil e tantos casos aqui em Porto Alegre sobre as Matrizes 
Progressivas do Raven. 
William – Chegou a fazer uma padronização?
Jurema – De certa forma, sim. Naquele tempo eu já estava 
encucada com aquela coisa de os alunos de melhor nível, que 
podiam frequentar colégio particular, davam certo e iam se de-
senvolver mais que aqueles dos colégios públicos..
William – Isso foi publicado? 
Jurema – Sim, em um boletim da Sociedade de Psicologia do 
Rio Grande do Sul. Depois presidi uma comissão de pesquisa na 
Secretaria de Educação. Fizemos um estudo sobre estudantes aqui 
no Rio Grande do Sul, na capital. Usei uma amostra representativa 
de Porto Alegre, e se fizemos estudos sobre vários pontos de vista, 
mas nessa época eu já estava colaborando com a Universidade de 
Maryland e com a Universidade do Texas. Foi quando padronizei 
o INV para o Rio Grande do Sul; uma padronização em cima dos 
estudantes também. Depois me envolvi em uma pesquisa inter-
cultural, porque nessa ocasião o trabalho já deixava de ser apenas 
descritivo para começar a incluir hipóteses.
William – E que trabalho marcou essa fase?
Jurema – Isso é difícil de responder. A gente sempre acha 
que os últimos são os melhores. Por exemplo, agora estou traba-
lhando com crianças da pré-escola. Basicamente, tenho de lidar 
com conceitos teóricos. Eu tenho me perguntado muito sobre 
coisas freudianas, especialmente quanto à ética. Tentamos uma 
fundamentação teórica para encontrar indicadores eos resulta-
dos são bem interessantes. Nessa pesquisa temos 192 crianças, 
sendo 50% de famílias intactas e 50% de famílias fragmentadas. 
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No outro corte da mesma amostrahá 50% de nível socioeconômico 
baixo, outro médio; queríamos ver se aquelas coisas que Freud 
disse sobre a família burguesa no fim de século passado acontecem 
agora. E, em certo sentido, só posso achar que as últimas coisas 
é que estão melhores, porque, de repente, sentimos que estamos 
tentando, aos poucos, testar certos conceitos, eisso, evidentemente, 
acho um meio de pesquisa bem mais que outros.
William – Qual foi o impacto do mestrado que você fez na 
PUC-RS na sua formação? Quem foi seu orientador?
Jurema – Isso é meio difícil dizer. Primeiro fiz um projeto de 
pesquisa, orientada pelo Isacc Sprinz [médico psiquiatra e psica-
nalista, por muitos anos professor da PUC-RS]. Mas, na realidade, 
me lembro que passei mais ou menos uma hora conversando com 
ele, sobre as minhas ideias. Nós conversamos e depois, creio que 
umas duas semanas antes de eu defender, no encontramos por 
mais uns quinze minutos. Ele me deu boas sugestões, mas na par-
te de metodologia quem me deu uma mão foi o [Luis] Pasquali 
[Pasquali foi coordenador do curso de mestrado em Psicologia na 
PUC-RS, 1974-75]. 
William – E as suas viagens aos Estados Unidos?
Jurema – Estive umas três vezes lá. A primeira vez quando 
fui a um congresso no México e emendei com os Estados Unidos. 
Estive algum tempo na Universidade de Maryland. Depois voltei 
para visitar os principais serviços de psicologia, naquele tempo eu 
lidava também com reabilitação, psicologia da reabilitação, por 
isso me interesse por psicologia clínica e psicologia da reabilitação, 
listando os serviços que me interessavam. O Departamento de 
Estado fez todos os contatos e fui de Washington a San Francisco. 
Por fim, trabalhei durante três meses na Universidade de Maryland, 
preparando uma pesquisa que depois se desenvolveu no Rio de 
Janeiro, na qual eu trabalhei durante uns três ou quatro anos, ou 
pouco mais. Concluída a coleta de dados sociais e doenças aqui, 
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estive mais uns seis meses lá, preparando o material. A pesquisa 
abordava a influência das forças sociais na doença mental. 
William – Voltando a Porto Alegre, sei que você foi cedida 
pela Secretaria a Educação à UFRGS, lotada na Faculdade de 
Medicina.
Jurema – Exato, trabalhei cinco anos na Medicina 
Comunitária, inclusive dando aulas. Agora vou fazer um parêntese 
porque você parece interessado na minha vida Eu utilizei minha vi-
da como funcionária pública como um jeito de conhecer um pouco 
de tudo. Estive à disposição de escolas, do serviço de reabilitação, 
decreched. Trabalhei algum tempo com essa parte de medicina. 
Usei isso para mimassim: “Isso já conheço bastante, então deixa ir 
para outro lugar.” Eu conseguia ser posta à disposição, ficava três, 
quatro anos, onde eu achava importante, para conhecer diferentes 
populações, diferentes áreas da psicologia. Foi muito bom, porque 
em geral a pessoa tem de trocar de emprego para fazer isso. 
William – Ou seja, seu emprego básico durante esse tempo 
todo foi a Secretaria de Educação.
Jurema – Foi. Eu me aposentei como psicóloga da Secretaria 
da Educação.
William – E quanto ao trabalho docente na PUC-RS? 
Jurema – Eu comecei a dar aula na PUC-RS depois que fiz 
o meu concurso de livre-docência. Antes da PUC-RS, lecionei na 
Unisinos. Minha dissertação de mestrado e minha tese de livre-
docência foram trabalhos complementares. Na de mestrado, 
validei certos sinais que para mim tinham significação de agressão 
no Bender, e na tese de livre-docência usei esses subsídios para 
testar certos conceitos. Na livre-docência não havia orientação. 
Os exames incluíam uma prova escrita sobre um tema sorteado na 
hora. E podáimos levar bibliografia. Depois havia prova de títulos, 
prova oral e didática, e a defesa da tese. Aí você tinha o título de 
livre-docente e o título de doutor, era assim no meu tempo.
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William – Já que sua carreira foi toda envolvida com ava-
liação psicológica, como você assistiu ao desprestigio da área nas 
décadas de 1970 e 1980? 
Jurema – Em primeiro lugar, uma questão filosófica, influên-
cia das coisas humanistas, de achar que de repente não era certo, 
não era correto, não se deveria lidar com o ser humano dessa forma 
aplicando testes. Depois, acho que o próprio descrédito. Porque os 
testes tiveram aquele primeiro grande impulso durante a guerra e 
depois as atividades de pesquisa não foram muito adequadas, ou 
não acompanharam o desenvolvimento em paralelo com outros 
tipos de atividades científicas. Acho que foi na década de 1960 e 
depois de 1970 que houve uma retomada. E, em terceiro lugar, 
digamos, pelo próprio fato de a Psicologia oferecer um leque de 
oportunidades de realização, então isso fez muitos psicólogos se 
afastarem de uma função, digamos, que lhe seria exclusiva, quan-
do outras não são, mas acho que houve muita, como posso dizer, 
houve muitas oportunidades profissionais na Psicologia. Por outro 
lado, estamos de portas fechadas, apesar de haver um gravador, 
mas em todo caso, as faculdades preparam mal. A verdade é que 
o aluno sai como profissional sem saber muitas vezes manejar os 
testes; portanto, se há outras possibilidades, é melhor fugir do 
que tenho medo, não é mesmo? Acho que tudo isso contribuiu 
para essa situação.
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