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Universidade Federal de Mato Grosso Depto. Sociologia e Ciência Política TEORIA POLÍTICA Prof. Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues NOCOLAU MAQUIAVEL: A POLÍTICA MUNDANA E O PRINCIPE MAQUIAVEL (1469-1527) FILOSOFIA POLÍTICA • Política autônoma • História (Fenômeno Cíclico) • Verdade efetiva das coisas • Virtù / Fortuna • Desvinculada: - da política baseada em princípios universais - da fé e da moral convencional (ética cristã) MARCELINO Sticky Note Numa definição modernizada, virtù é o conjunto das nossas qualidades pessoais e fortuna são os fatores fora de nosso controle, digamos, a nossa "sorte". Niccolò Maquiavelli •O italiano Nicolau Maquiavel (1469/1527), fundador da ciência política moderna, foi, como muitos já afirmaram, um homem de bons e maus conselhos – embora tenha se notabilizado pelos maus. •O Príncipe - é um manual para o exercício da arte da política, para o bem ou para o mal. Há alguns que nela só enxergam o princípio de que os fins justificam os meios. Daí o termo maquiavélico para ações planejadas que contenham intuito de executar maldade extrema. Embora de fato essa obra tenha sido agraciada ao nobre Lourenço de Médicis, no afã de como auxiliá-lo a manter um principado, nela encontramos pérolas preciosas para a luta política, compreendida, em última instância, como disputa de poder entre classes sociais antagônicas. •Em uma passagem dessa obra, onde analisa a prudência da utilização de forças próprias para a luta política, ou valer-se de forças mercenárias ou auxiliares, ele faz alusão ao episódio de Davi e Golias para expor seu ponto de vista: •“Quando Davi foi à presença de Saul oferecer-se para lutar contra Golias – o filisteu que o desafiara – Saul, na intenção de encorajá-lo, passou-lhe a sua própria armadura. Davi, após tê-la vestido, recusou-a, alegando que com ela não poderia valer-se das suas próprias forças, preferindo ir ao encontro do seu inimigo armado com a sua funda e com a sua faca. Numa palavra, a armadura de um outro, ou ela te cairá dos ombros, ou pesará demais sobre eles, ou te comprimirá.” FLORENÇA DA ÉPOCA DE MAQUIAVEL MAQUIAVELISMO •MAQUIAVELISMO: associada o idéia de velhaco, traiçoeiro, astucioso, etc. •Termo usado na política e no cotidiano. •Serve a todos os ódios e pode ser apropriado por todos envolvidos em uma disputa. •FORMA DE DESQULIFICAR O INIMIGO. BUSTOS DE NICCOLO MAQUIAVELLI EM FLORENÇA - ITÁLIA Desventura de um florentino •Maquiavel nasceu em Florença em 02 de maio de 1469. •Itália dividida em pequenos Estados, com regimes políticos variados. •Sujeito a conflitos e invasões estrangeiras. •1494- Lourenço – dar tranqüilidade a Itália. •Instabilidade e desordens. Desventura de um florentino •Maquiavel passou a infância em um ambiente conturbado, instável politicamente. •Exerceu cargo na vida pública (Segunda Chancelaria, cargo da administração do Estado italiano). •Tarefas diplomáticas. •Com retorno dos Médices ao poder Maquiavel é demitido em 1512. Desventura de um florentino •Depois de sair da prisão, Maquiavel recupera o cargo. •Passa a estudar os clássicos. •Produz obras de filosofia política. •O PRINCIPE (1512) •OS DISCURSOS SOBRE A PRIMEIRA DÉCADA DE TITO LÍVIO (1513/19) •ARTE DA GUERRA (1519/20) •HISTÓRIA DE FLORENÇA (1520/25) REGIÕES DA PENÍNSULA ITÁLICA QUE TIVERAM INFLUÊNCIA DAS OBRAS DE MAQUIAVEL • Depois de passar o dia convivendo com os aldeãos e os freqüentadores da taverna, à noite Maquiavel, trajando-se com boas roupas, recolhia-se para a sua biblioteca para "encontrar-se com os grandes", isto é, pôr-se a ler os autores clássicos: Tucídides, Cícero, Júlio César, Tácito, Tito Lívio, e tantos outros mais, imaginando dialogar com eles todos. •Sua obra política resultou dessa simbiose entre o empírico (a experiência dele como diplomata) e o conhecimento histórico acumulado (os livros da política greco-romana). Lourenço de Médicis, a quem foi dedicado O Príncipe César Borgia (que inspirou em Maquiavel a figura do prícipe ideal) •"O Príncipe", dedicado a Lourenço de Médici (+ 1519), duque de Urbino, é curto. •São 26 capítulos, ou lições, que chegam, dependendo da edição, a mais ou menos umas cem páginas. •Tornou-se um dos manuais de política mais editados, traduzidos e lidos no mundo inteiro. •Depois da "Comédia" de Dante (+ 1327), é a mais universalmente famosa obra escrita por um italiano. • MAQUIAVEL – O PRÍNCIPE • TRATADO SOBRE O EXERCÍCIO DO PODER POR MEIO DO USO DA FORÇA E DA ASTÚCIA - APLICADO AO CASO ITALIANO. • O detentor do poder oculta suas intenções, mantém determinadas informações em segredo. Exemplos: Candidato 2 caras. Ditadura Militar. Ciência Política Maquiavel Maquiavel não admite um fundamento anterior e exterior à política (Deus, natureza, razão). “Toda cidade está dividida em dois desejos opostos: o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o do povo de não ser oprimido nem comandado.” A cidade é tecida por lutas internas que a obrigam a instruir um pólo superior que possa unificá-la e dar-lhe identidade. Esse pólo é o PODER POLÍTICO. Finalidade da Política • A finalidade da política não é, como dizia os pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem comum, mas como sempre souberam os políticos, isto, é, A TOMADA E MANUTENÇÃO DO PODER. O Príncipe • ... é aquele que sabe tomar e conservar o poder e que, por isso, jamais se alia aos grandes, pois estes são rivais e querem o poder para si, mas deve aliar-se ao povo, que espera do governante a imposição de limites ao desejo de opressão e mando dos grandes. LÓGICA DA POLÍTICA: A política não é a lógica racional da justiça e da ética, ... mas a LÓGICA DA FORÇA TRANSFORMADORA DO PODER E DA LEI. Não ao príncipe virtuoso com as morais cristãs Maquiavel recusa a figura do Bom Governo. O príncipe precisa ter virtú, mas é propriamente política, referido-se às qualidades dos dirigentes para tomar e manter o poder, mesmo que para isso, tenha que usar a violência. Tradição • A tradição afirmava que o governante devia ser amado e respeitado pelos governados. • Maquiavel afirma que o príncipe não pode odiado. Isso significa, que o príncipe deve ser respeitado e temido – o que só é possível se não for odiado. O poder do Príncipe • O poder do príncipe deve ser superior ao dos grandes e estar a serviço do povo. • O príncipe pode ser monarca hereditário ou por conquista; • pode ser todo um povo que conquista, pela força, o poder e o exerce democraticamente. O ethos ou caráter do príncipe deve variar. • Em certas circunstâncias, deverá ser cruel, em outras generoso; • em certas ocasiões deverá mentir, em outras ser honrado; • em certos momentos, deverá ceder à vontade dos outros, em algumas, ser inflexíveis. Verdade efetiva das coisas •Missão de falar sobre o Estado. •O Estado que realmente existe, e não aquele imaginado. •Rejeita ad posições idealistas de Platão, Aristóteles. •Ponto de partida: a realidade concreta (VERDADE EFETIVA DAS COISAS). Verdade efetiva das coisas •METODOLOGIA: ver e analisar a realidade tal como ela é, e não como gostaria que fosse. •Substituição do DEVER SER pelo SER da realidade. •QUESTÕES: como fazer para reinar a ordem? Como instaurar um Estado instável? •Como deve ser resolvido o inevitável ciclo de instabilidade e caos. Verdade efetiva das coisas •Maquiavel provoca uma ruptura com o pensar a política. •A ordem, produto da política, não é NATURAL, nem resultadode VONTADE EXTRATERRENA, DIVINA. •POLÍTICA- resultado de feixes de forças provenientes de ações concretas dos homens em sociedade. Nem sempre produto da racionalidade. Verdade efetiva das coisas •Política é transitória. •FALAR DO PODER QUE TODOS SENTEM, MAS NÃO CONHECEM. •Idéia de incerteza, contingência, nada é estável e que a política é regida por mecanismo distintos dos que norteiam a vida privada. Verdade efetiva das coisas •O mundo da política não leva ao céu, mas sua ausência é o pior dos infernos (p. 18). Natureza humana e história •Maquiavel estuda a história e reavalia sua experiência como funcionário do Estado. •Em todos os tempos e em toda parte, pode- se observar certos traços humanos imutáveis. •Atributos negativos que formam a natureza humana: covardes, ingratos, simuladores, etc. •Conflito e anarquia como desdobramentos das paixões. Natureza humana e história •A História é cíclica. •A ordem sucede a desordem. •É impossível extinguir as paixões e os instintos humanos. •O poder político tem origem mundana, nasce da malignidade humana. •O poder aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito. •“não existe modo mais seguro para conservar tais conquistas, senão a destruição. E quem se torne senhor de uma cidade acostumada a viver livre e não a destrua, espere ser destruído por ela..." ("O Príncipe", cap. V). • Ao invés de reproduzir a conhecida forma encontrada na filosofia política dos antigos, que separava os regimes em Monarquia (o governo de um só), Oligarquia (o governo de um grupo) e Democracia (o governo de muitos), Maquiavel identifica apenas dois tipos de regime: as repúblicas (o governo em comum) ou os principados (em geral governo de um homem só que pode exercê-lo por herança, por indicação, ou pela força). •A instabilidade maior acomete o principado "novo", porque a chegada repentina ao poder de um senhor desconhecido sempre termina por desgostar os que antes estavam no governo sem que ele tenha ainda a adesão ou a bem querença do povo. Anarquia X Principado e República •A desordem da imutável natureza humana junta-se a presença em todas as sociedades) de duas forças opostas: uma das quais provém de (1) não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e (2) a outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo (p. 20). •QUER DOMINAR O POVO •NÃO SER DOMINADA. Anarquia X Principado e República •O problema político é ENCONTRAR mecanismos que imponham estabilidade das relações, que sustentem uma correlação de forças. •DUAS RESPOSTAS À ANARQUIA DECORRENTE DA NATUREZA HUMANA: (1) O Principado; (2) A República. •A situação concreta define a escolha de uma ou de outra forma institucional. Anarquia X Principado e República •Em nações ameaçadas de corrupção, deterioração, é necessário um GOVERNO FORTE, para criar instrumento de poder capaz de inibir as forças desagregadoras (p. 20). •Príncipe não é um ditador, mas um fundador do Estado, um agente da transição numa fase em que a nação se acha ameaçada de decomposição (p. 21). Anarquia X Principado e República•Quando a nação se encontra em equilíbrio, onde o poder político cumpriu sua função regeneradora, ela está preparada para a REPÚBLICA. •Na República, o povo é virtuoso, as instituições são estáveis e contemplam a dinâmica das relações sociais. •Os conflitos são fonte de vigor, sinal de cidadania ativa (p. 21). Anarquia X Principado e República •Na Itália da época de Maquiavel, dividida, corrompida, era necessário um PRINCIPE. Ao se indagar sobre a possibilidade de se fazer uma aliança com a Fortuna, esta não é mais uma força impiedosa, mas uma deusa boa, tal como era simbolizada pelos antigos. Ela é mulher, deseja ser seduzida e está sempre pronta a entregar-se aos homens bravos, corajosos, aqueles que demonstram ter virtù. Fortuna, portanto, não está relacionado à sorte ou predestinação, mas sim ao exercício da virtù no mais alto grau. É aproveitar a ocasião dada pelas circunstâncias para amoldar as coisas como melhor aprouver ao virtuoso. Virtù e FortunaVirtù e Fortuna Virtú • A virtú é a capacidade do príncipe para ser sempre FLEXÍVEL às circunstâncias, mudando com elas para agarrar e dominar a fortuna. • Um príncipe que age sempre da mesma maneira fracassará e não terá virtú alguma. A fortuna • A fortuna é sempre favorável a quem souber agarrá-la. • Oferece-se como um presente a todo aquele que tiver ousadia para dobrá-la e vencê-la. • Essa ousadia para mudar de atitude e de comportamento é a verdadeira prudência principesca, senhora da fortuna. 41 Virtú X fortuna •Fortuna – deusa que possuía os bens que os homens desejavam: honra, riqueza, glória e poder. •Para a deusa fortuna favorecer, era necessário seduzi-la. •Para atrair a deusa, era necessário mostrar VIR, virilidade. •O homem que possuísse VIRTÚ seria beneficiado com os presentes da cornucópia da fortuna. •Com o cristianismo essa visão é derrotada, o destino é uma força da providência divina e homem sua vítima impotente (p. 22). Virtú X fortuna •Maquiavel critica a visão de que o destino do homem é determinado por forças extraterrenas. •Admite que a virtú pode conquista a fortuna. •A liberdade do homem pode amortecer o poder da Fortuna. •Poder, honra e glória são tentações mundanas que são valorizadas e que o homem de virtú pode consegui-los. Virtú X fortuna •O poder é redefinido. Ele resulta da sabedoria no uso da força, da utilização virtuosa da força (p. 22). •O governante não é o mais forte, mas o que demonstra possuir virtú, capaz de se manter no poder, com o respeito dos governados. •O poder se funda na força, mas é necessário virtú para se manter no poder. •Nem mesmo o principado hereditário é seguro. Virtú X fortuna •Governante virtuoso cria instituições que facilitam o domínio. Isso só é possível com “boas” leis e “boas” instituições. Sem isso o poder rival pode se impor. •A força explica a origem do poder, mas é a posse da virtú a chave por excelência do sucesso do príncipe. •Manutenção da conquista. •Governo tem que se mostrar capaz de resistir aos inimigos e os golpes da sorte. Virtú X fortuna •Homem de virtú deve atrair os favores da cornucópia, conseguindo fama, glória e segurança para seus governados (p. 23). •Alguns vícios são virtudes. •O príncipe deve agir conforme necessidades, as circunstâncias. •Agir virtuoso é agir conforme homem e como animal = combinação astuciosa da virilidade e da natureza animal (p. 23). O PRÍNCIPE •Os Estados são geralmente principados ou repúblicas. •Principados são NOVOS ou Hereditários. •Nos principados hereditários, as dificuldades para mantê-lo são menores, basta apenas conservar neles a ordem estabelecida pelos antepassados. Principados mistos • Nos principados novos estão as maiores dificuldades. • Principado misto = junção entre antigo e novo, por meio de conquistas. • Para manter um território conquistado = fazer com que a família do antigo príncipe desapareça; não alterar as suas leis e nem seus impostos (p. 26). • Formam um corpo só com o principado vizinho. Principados mistos • Ocupar o novo território (tropas). • Estabelecer colônias. • Os principados são governados por; • A) um príncipe de quem os demais são servidores • B) um príncipe e barões . Como governar cidades que antes eram regidas por leis próprias • Três maneiras de proceder para conservar um principado que vivia com leis próprias: • 1) destruí-lo; • 2) morar nele • 3) deixar viver com as suas leis, exigindo tributos e estabelecendo nele governo de poucas pessoas.Do principado civil • O principado civil é quando o cidadão se torna príncipe de sua pátria não por meio de crime, mas COM A AJUDA DOS SEUS COMPATRIOTAS. • Duas forças contrárias nas cidades: (a) dos que não desejam o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes e; • (b) dos que querem que os grandes dominem o povo (p. 31). • Dessas forças surgem nas cidades ou o principado ou a liberdade ou a anarquia. Do principado civil • O principado se origina da vontade do povo ou da dos grandes. • Recomenda-se ao príncipe conquistar a amizade de seu povo. Influência sobre o mundo moderno e contemporâneo. A política: ser entendida e praticada de forma objetiva e circunstancial. A política moderna deveria estar atenta aos acontecimentos do presente. Rompeu com a visão e práticas políticas tradicionais. De Maquiavel à nova política De Maquiavel à nova política Maquiavel e o rompimento Maquiavel e o rompimento com a tradição políticacom a tradição política 01) Virtù - Virtude – Fortuna 02) Os alicerces da política estão na própria sociedade. Acreditava-se que a política: - ou era uma obra de Deus para organizar os homens; - ou era obra da própria razão para garantir a sobrevivência da espécie humana de forma organizada. O poder emanava das próprias contradições internas contradições internas das sociedades. - O conflito é um conflito de poder. - Uns querem manter esse poder e outros não querem se submeter a esse poder. Maquiavel vê, nesse caos iminente: Maquiavel vê, nesse caos iminente: - a necessidade de um poder central unificador e organizador. - os diferentes interesses que se manifestam dentro de uma sociedade criam a necessidade de um poder político forte e estabilizador. • Mas, onde está a ruptura com a tradição? Na origem do poder político. ANTES { Manifestação da vontade divina. { Manifestação da própria razão humana. com Maquiavel { O poder nascia da própria tensão interna da sociedade. “Não o preocupa saber como “deveria ser” o governo ou o governante ideal. Interessa, isso sim, analisar como os homens governam; qual o limite ao uso da violência para conquistar ou conservar o poder; ou quando o poder se torna arbitrário.” ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Maquiavel: A lógica da força. SP. Moderna
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