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Fisiologia do Envelhecimento Fst. Lívia Melo Introdução O envelhecimento é considerado um processo natural caracteriza-se por perdas progressivas na capacidade de manter o equilíbrio homeostático em condições de sobrecarga funcional. Não é uniforme, ou seja, alguns idosos apresentam alterações importantes e outros não. Introdução De forma geral, ocorrerão transformações estruturais e funcionais que se acumulam de forma progressiva e específica para cada indivíduo. Alterações na composição corporal e no metabolismo podem ser determinantes para o desenvolvimento de patologias associadas que contribuirão para o declínio da capacidade funcional. Gordura corporal, principalmente na cavidade abdominal (aos 75 anos podendo ser o dobro de quando o indivíduo tinha 25 anos); Massa muscular magra (Sarcopenia) Alterações da composição corporal É responsável pela diminuição do nível metabólico basal, da força muscular e dos níveis de atividade Alterações na composição geral e forma do corpo Perda de estatura; Aumento da caixa torácica e do crânio; Crescimento do nariz e do pavilhão auditivo; Aumento do tecido adiposo; Diminuição da quantidade de água corporal; Perda de potássio pela diminuição do número de células no corpo; Alterações nos sistemas orgânicos Alterações no sistema Tegumentar Fatores intrínsecos Degradação natural Fatores extrínsecos Fotoenvelhecimento Alterações nas moléculas e estruturas corporais próprias do processo natural de envelhecimento Causados por agentes externos que aceleram o processo do envelhecimento, principalmente ligados à radiação. Secura, palidez, menor elasticidade e extensibilidade, manchas e rugas. Epiderme Torna-se mais fina e a quantidade de melanócitos é diminuída, porém os que ainda restam, sofrem hiperplasia. Com a exposição ao sol, há o aparecimento de manchas senis (hiperpigmentadas, achatadas e lisas). Há também a diminuição de queratinócitos que são responsáveis pela produção de queratina. Assim, a pele adquire uma aparência pálida, translúcida e fina. Derme (tecido conjuntivo) Diminuição da vascularização; perda de colágeno (confere resistência à pele) e redução de fibras elastina. As altas incidência de raios UV causam danos às fibras elásticas acelerando o processo do envelhecimento. Essas alterações na elasticidade da pele resultam no aparecimento de rugas, além de contribuírem para o risco de lacerações. A diminuição da atividade das glândulas sebáceas e sudoríparas alteram a retenção de água na pele, deixando a pele com aspecto ressecado e rugoso. Os cabelos brancos são também consequência da produção cada vez menor de melanócitos (melanina é responsável pela cor do cabelo) no folículo pilos. Diminuição da irrigação vascular diminui enquanto a fragilidade capilar aumenta; Alterações no sistema ósseo É um tecido conjuntivo mineralizado, altamente vascularizado, vivo, em transformação constante. Tecido ósseo Processo de Deposição e Reposição de minerais Regulado por ação hormonal e aspectos comportamentais Com o envelhecimento: desequilíbrio no processo de deposição e reposição óssea Sobrecarga óssea (menor tempo de atividade geral) Estabilização dos osteoblástos Aumento da ação dos osteoclástos Menor absorção de vit. D, fósforo e Cálcio pelo intestino Exposição ao sol Alterações no sistema articular Articulações As articulações são estruturas de ligação entre ossos que participam da estática corporal e dos movimentos físicos. Auxiliam na sustentação do corpo e na flexibilidade, além de atuarem na resistência ao desgaste ósseo. À medida que envelhecemos, nossas articulações enfraquecem devido ao seu desgaste por pressão, por desidratação ou por atrito com ossos Cartilagem articular É a membrana que reveste as articulações e tem a função de dissipar e transmitir as forças, amortecer as cargas e providenciar um deslizamento adequado entre as superfícies articulares. Avascular Desnervado Sem a capacidade de regeneração No processo de envelhecimento ocorre: • Degeneração na cartilagem articular; • Perda da capacidade reprodutiva dos condrócitos; • diminuição no conteúdo de água; • Diminuição dos proteoglicanos. Nas articulações não-sinoviais a cartilagem vai sendo substituída por osso por volta dos 30 anos. Aumento do contato entre as superfícies articulares A partir dos 40 anos, verifica-se uma diminuição dos arcos plantares, alterações das curvaturas da coluna e/ou deterioração das articulações intervertebrais, causando uma diminuição da altura total dos indivíduos. Alterações no sistema muscular Funções dos músculos Principais funções: • Permitir movimento do corpo; • Postura; • Estabilidade articular; e • Produção de calor. São inseridos nos ossos pelos tendões. Anatomia Contração muscular Um Motoneurônio Axônios para cada fibra nervosa Unidade motora Fibras musculares Características Tipo I Tipo IIA Tipo IIB Aspecto da fibra Vermelhas Pálidas Esbranquiçadas Quantidade de mitocôndrias Alta Intermediária Baixa Concentração de mioglobina Alta Intermediária Baixa Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida Resistência à Fadiga Baixa Moderada Alta Metabolismo Aeróbico Intermediário Anaeróbico Alterações devido o processo do envelhecimento Perda de massa muscular de 20 a 40%. Ocorrendo também: • Perda de unidades motoras; • Fendas sinápticas tornam-se mais amplas; Qualidade de contração Força muscular Coordenação dos movimentos Probabilidade de sofrer acidentes Alterações na Marcha Alterações de Equilíbrio Quantidade das fibras tipo II Menor velocidade de contração e movimento Desempenho de várias atividades de vida diária, independência e capacidade funcional Síntese de proteínas Atrofia muscular e menor reparo após lesões Alterações devido o processo do envelhecimento Resistência muscular Capacidade de realização de exercícios por períodos prolongados. Geração de energia ou Capacidade oxidativa Suprimento de energia Capacidade da fibra para o metabolismo oxidativo Capacidade do fluxo sanguíneo de fornecer oxigênio Alterações no sistema neurológico Alterações no sistema Nervoso Peso e volume cerebrais - frontal e temporal; Atrofia cerebral; e Ventrículos. Memória Linguagem Linguagem Perda da substância Branca (perda Axônica e degeneração de mielina) Perda da substância Cinzenta (atrofia cortical) Aumento dos Ventrículos Ocorrem também perdas significativas: Córtex dos giros pré-centrais (motora); Giros temporais; Córtex cerebelar. Alterações nos neurônios com: Dilatação dos dendritos; Redução ou perda de espinhas dendríticas; e Diminuição das superfícies de contato para sinapses. Alterações no sistema cardiovascular Miocárdio Órgão muscular Bombear o sangue Condução do sangue Coração Vasos sanguíneosAorta Alterações cardíacas Hipertrofia ventricular Alterações vasculares Ateriosclerose Arteriosclerose Deposição de gordura nas paredes dos vasos Enrijecimento: redução das fibras elásticas e aumento no número de colágeno Aumento da resistência vascular periférica Hipertensão arterial Aumento na circunferência as valvas cardíacas (principalmente na aórtica); Espessamento, calcificação e degeneração das cúspides; Calcificação e estenose da válvula mitral (Átrio e ventrículo esquerdo); Alterações nas válvulas cardíacas Menor capacidade de expansão do ventrículo Hipertrofia e enrijecimento ventricular Hipertrofia e enrijecimento dos vasos sanguíneos Maior esforço cardíaco para levar o sangue para a circulação sistêmica Mais trabalho para o coração Maior resistência vascular periférica Espessamento e calcificação das válvulas cardíacas Hipertensão Arterial Sistêmica Elevação da pressão arterial que atinge 50% dos idosos. Débito cardíaco Resistência periférica Pressão arterial No idoso No idoso Alteração na complacência aórtica Geralmente em repouso essas alterações não ocasionaram grandes problemas, porém quando a demanda metabólica aumenta estas alterações podem se tornar mais nítidas. Alterações no sistema de condução Anormalidades nas frequências e regularidades dos impulsos cardíacos (arritmias); Diminuição de células do marca-passo no nódulo sinusal: Alterações fibróticas do sistema especializado de condução; Acúmulo de gordura e colágeno em volta do nódulo sinusal; Estímulo Vagal (parassimpático) diminuído; Infiltração fibrosa e calcificação do feixe de His; Alterações no sistema de condução Estas alterações levarão à: Diminuição da capacidade de bombeamento do coração; Capacidade reduzida de transporte de oxigênio; Retardo de condução dos estímulos; e Alterações no eletrocardiograma em mais de 50% dos idoso. Alterações da frequência cardíaca Frequência cardíaca máxima Sistema nervoso autônomo Marca-passo Simpático Parasimpático Emoções e Alterações Posturais Reduzido numero de células Em repouso Em atividade Alterações no sistema respiratório Alterações no sistema respiratório Rigidez da caixa torácica; Diminuição da elasticidade pulmonar (levando a diminuição da complacência pulmonar); Diminuição da amplitude de movimento das articulações costovertebrais; Aumento da resistência ao fluxo aéreo por alterações nas fibras elásticas do parênquima pulmonar. Alterações no sistema respiratório Aumento do volume residual; Diminuição da capacidade vital e da capacidade respiratória; Desequilíbrios da razão ventilação/perfusão, o que leva a alterações nos valores de oxigênio arterial; Diminuição do número de capilares pulmonares acentua as alterações das concentrações de gases no sangue. Alterações no sistema respiratório Ocorrerão também alterações musculares: A alteração no VR leva a uma modificação da posição de relaxamento do diafragma tornando sua ação menos eficiente; e, para compensar, os músculos acessórios tornam-se mais ativos. Essa diminuição acentuada nos músculos inspiratórios leva o idoso a ter maior propensão a fadiga e, consequentemente, há doenças do trato respiratório. Alterações no sistema digestivo Alterações no sistema digestivo A Ingestão de alimentos torna-se diminuída devido à: da atividade física e à limitada ingestão de micronutrientes essenciais. Magreza Obesidade OU Catabolismo acentuado, sedentarismo e descuido com a auto- imagem Redução da funcionalidade gastrointestinal promovida por alterações na digestão e absorção dos alimentos ingeridos. Modificações nos receptores gustativos e olfativos associado à sensação de plenitude gástrica e anorexia; Aumento da saciedade comprometem a ingestão de nutrientes e podem dar origem a desnutrição; Perda dos dentes e a presença de afecções na cavidade oral dificultam a mastigação e a deglutição; Uso inadequado e abusivo de dieta rica em carboidratos e sedentarismo podem contribuir para outro problema: Obesidade Redução das secreções gástricas que leva a uma menor absorção de Cálcio, Ferro e Cobre; Abrandamento da peristalse e a lentificação do esvaziamento gástrico (sedentarismo); Diminuição da atividade da lactase reduz a ingesta de produtos lácteos contribuindo para a osteoporose; Diminuição da motilidade e consequentemente menor ingesta hídrica; Redução do tônus e elasticidade muscular. Alterações no sistema metabólico Alterações metabólicas O envelhecimento está associado à um aumento na insensibilidade dos tecidos à insulina, levando à redução da tolerância à glicose, e, consequentemente, maior chance de desenvolvimento da diabetes Mellitus (Tipo II). Essa diminuição está associada à alterações na composição corporal e aos níveis de atividade. Envelhecimento é acompanhado por uma menor necessidade metabólica; Elevação do catabolismo e diminuição do anabolismo; Redução do tônus funcional do pâncreas e da secreção de insulina; Aumento nos níveis de colesterol total levando a presença de HAS e doenças coronarianas. Alterações no sistema imunológico Alterações no sistema imunológico As respostas celulares e orgânicas às agressões intrínsecas e extrínsecas se deterioram progressivamente, são menos efetivas e menos eficientes e provocam desequilíbrio funcional; A desnutrição interfere negativamente no sistema auto- imune; Idosos submetidos à frequente sobrecarga emocional e estressora estão mais sujeitos a enfermidades. Alterações endócrinas e hormonais Alterações no sistema hormonal Declínio hormonal ocorre em paralelo à resposta tecidual aos hormônios (ex. insulina); Alguns dos hormônios que sofrem descréscimo: Hormônio do crescimento (HG); Aldosterona; Progesterona; Estrógeno; Testosterona; Mudanças fisiológicas e psicológicas Libido e função reprodutiva Alterações na função Renal Alterações no sistema renal No decorrer do envelhecimento, observa-se diminuição progressiva do funcionamento dos rins. Diminuição no ritmo de filtração glomerular que pode levar a um aumento no risco de aparecimento de efeitos adversos e interação medicamentosa, principalmente quando será de uso contínuo ou por tempo prolongado; As funções de reabsorção e concentração tubular diminuem; Fluxo plasmático renal diminui (diminuição do Hormônio Anti-diurético (ADH); Alterações no sistema renal No envelhecimento pode ocorrer deterioração do controle do sistema nervoso central sobre a bexiga. Isso pode determinar o surgimento de contrações involuntárias da bexiga e/ou de alterações da sua sensibilidade e contratilidade (SÍNDROME DA BEXIGA HIPERATIVA) As funções de reabsorção e concentração tubular diminuem; Nas mulheres a ausência dos hormônios sexuais levam a alterações no assoalho pélvico que podem predispor o aparecimento de disfunções miccionais ou prolápsos vaginais. Um exemplo prático são as alterações em relação ao equilíbrio corporal. Emnosso corpo existem diversos mecanismos que mantêm o equilíbrio, desde os mais simples até os mais complexos. Esses mecanismos são compostos basicamente de sensores responsáveis pela detecção do desequilíbrio e de sensores efetores que executam as correções necessárias. Durante o envelhecimento ocorre redução, tanto no número quanto na sensibilidade desses sensores. Por isso, os idosos têm maior susceptibilidade para quedas. Alterações no sistema auditivo Alterações no ouvido Os principais sintomas auditivos associados ao envelhecimento são disfunção auditiva, prurido e zumbidos nos ouvidos. Neurossensorial Condutiva A disfunção auditiva pode ser: Hipoacusia neurossensorial Caracteriza-se por uma perda bilateral lenta e progressiva da audição para tons de alta frequência. Não se recomenda gritar com o paciente, para não agravar mais ainda o discernimento das palavras. O teste do sussurro (sussurrar uma ordem a 60 centímetros do ouvido e observar a compreensão do comando) é indicado como teste de triagem. A otoscopia é fundamental para se afastar a hipoacusia condutiva por impactação de cera. Prurido é uma queixa comum, secundário à atrofia da pele e ao ressecamento. Zumbido no ouvido, uni ou bilateral, é sintoma comum e multifatorial. Alterações no sistema oftalmológico Alterações nos olhos As alterações mais comuns: Enoftalmia (olho fundo); Edema de pálpebra inferior; Ptose palpebral; Entrópio (internalização dos cílios); Ectrópio (eversão das pálpebras e lacrimejamento); Alterações nos olhos Halo senil (anel esbranquiçado na íris); Pterigium (carne que cresce no olho); e Conjuntiva mais fina e friável (sensação de areia nos olhos). Do ponto de vista funcional: Presbiopia (diminuição da acomodação para objetos próximos); Glaucoma e/ou Catarata; Miose senil (redução da visão noturna e da acomodação aos clarões); Maior risco de descolamento de retina e redução da visão periférica e central; e Comprometendo a visão espacial aumentando o risco de quedas. O envelhecimento normal nem sempre afeta a capacidade de decisão (autonomia) ou de execução (independência) do indivíduo. O que se percebe é uma lentificação global no funcionamento capaz de trazer algumas limitações, mas não a restrição da participação social. A maior vulnerabilidade do idoso exige determinados cuidados nas tarefas do cotidiano e maior utilização de facilitadores ambientais. Tais limitações devem ser percebidas pelo idoso, familiares e pelos profissionais que o acompanham.
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