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ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 131 m r Eixo de rotação Figura 14.1 14. MOMENTO DE INÉRCIA O termo “inércia” é normalmente associado com a dificuldade de se colocar em movimento de translação um corpo que está parado. Do mesmo modo, este termo está associado com a dificuldade de parar um corpo que realiza um movimento de translação. É usual falar-se em inércia com objetivo de citar a massa do corpo. Quando o movimento que o corpo realiza é do tipo rotação, a dificuldade de colocar o corpo em movimento ou de parar o movimento que este realiza está associado com o momento de inércia do corpo em relação ao eixo de rotação, o qual é função do modo como a massa do corpo é distribuída em relação ao eixo de rotação. É importante salientar que o termo “momento de inércia” é empregado, em Engenharia, na maioria das vezes referindo-se ao momento de inércia de área, ou melhor, ao momento estático de segunda ordem. 14.1 MOMENTO DE INÉRCIA DE MASSA Sabe-se que o tempo necessário para uma partícula alcançar uma determinada velocidade de rotação é proporcional à massa m da partícula e ao quadrado da distância r entre o centro da partícula e o eixo de rotação. O valor mr2 denomina-se momento de inércia da massa m em relação ao eixo de rotação, Fig. (14.1). mrI 2= Para um corpo com n partículas o momento de inércia de massa em relação ao eixo de rotação é dado por ∑ = = n i ii mrI 1 2 que no caso limite, ou seja quando o número de partículas tende ao infinito, resulta na integral ∫= m dmrI 2 (14.1) que é de difícil solução. Na bibliografia são encontradas soluções para algumas geometrias simples desde que o material de que é feito o corpo seja considerado homogêneo. 14.2 MOMENTO DE INÉRCIA DE CHAPAS DELGADAS E HOMOGÊNEAS Deseja-se calcular o momento de inércia de um corpo, que é uma chapa delgada e homogênea em relação a um eixo de rotação ortogonal à chapa. Considerando-se que a espessura do corpo é constante e igual a t pode-se escrever dAtdVdm ρρ == em que ρ é a massa específica do corpo, que é constante já que o corpo é homogêneo. Neste caso, a equação (14.1) pode ser reescrita como AREAAm ItdArtdmrI ρρ === ∫∫ 22 (14.2) na qual IAREA é o momento de inércia de área (o termo correto seria momento estático de segunda ordem da área A em relação ao eixo estabelecido). Este é o único caso no qual se consegue determinar o momento de inércia de massa de geometrias complexas. Pela equação ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 132 (14.2) nota-se que o momento estático de segunda ordem depende apenas da distribuição de área e do quadrado da distância do elemento diferencial em relação ao eixo de referência. 14.3 MOMENTO DE INÉRCIA DE ÁREAS O momento de inércia de área ou simplesmente momento de inércia (modo como é normalmente referido em Engenharia) pode ser definido pela Fig. (14.2). Figura 14.2 – Definição dos momentos de inércia em relação aos eixos X, Y e Z. Os momentos de inércia do elemento dA em relação aos eixos X e Y são definidos como dAydI x 2 = e dAxdI y 2 = . O momento de inércia do elemento dA em relação ao eixo Z, também chamado de momento de inércia polar, é definido como dArdIdI oz 2 == . Logo, os momentos de inércia da área A em relação aos mesmos eixos X e Y são dados por ∫= Ax dAyI 2 ∫= Ay dAxI 2 (14.3) , e o momento de inércia polar da área A é definido como dArII Azo ∫== 2 (14.4) Pode-se demonstrar que os momentos de inércia Ix, Iy e o momento de inércia polar Io são relacionados substituindo-se a relação 222 yxr += na equação (14.4) verifica-se que ( ) yxAAAAo IIdAydAxdAyxdArI +=+=+== ∫∫∫∫ 22222 (14.5) É importante ressaltar que a unidade dos momentos de inércia é [L4 ]. Além disso, pode-se notar que os momentos de inércia assumem sempre valores positivos ou seja 0,0,0 >>> oyx III dAx yr X Y 0 A ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 133 Raio de Giração. Os raios de giração Rx, Ry e Ro (Rz) são definidos pelas expressões A IR A I R A IR oo y y x x === (14.6) , as quais podem ser mais facilmente lembradas fazendo-se analogia com a expressão para o cálculo do momento de inércia de uma partícula, ou seja 2xx RAI = , 2 yy RAI = e 2 oo RAI = . A unidade do raio de giração é do tipo [L] ou seja m, cm, mm. Os raios de giração são usualmente empregados no cálculo de colunas. 14.4 TEOREMA DOS EIXOS PARALELOS (TEOREMA DE STEINER) Quando o momento de inércia de uma área em relação a um eixo que passa pelo centróide da área é conhecido, pode-se empregar o Teorema dos Eixos Paralelos para determinar o momento de inércia da área em relação a um outro eixo paralelo ao eixo central. Para se deduzir a expressão do teorema dos eixos paralelos considera-se a Fig. (14.3) na qual C é o centróide da área A e os eixos X’ e Y’ são eixos centrais desta área (passam pelo centróide) e são paralelos aos eixos X e Y. Figura 14.3 – Ilustração do teorema dos eixos paralelos. Para se calcular o momento de inércia da área ilustrada em relação ao eixo X pode-se fazer ( ) dAyydI cx 2'+= e substituir este resultado na (14.3) obtendo-se ( ) ∫∫∫∫ ++=+= AcAcAA cx dAydAyydAydAyyI 222 '2'' (14.7) A integral dAy A∫ 2' , por analogia com a equação (14.3), representa o momento de inércia da área A em relação ao eixo central X’, ou seja dAyI Ax ∫= 2 ' ' . O produto cy2 é constante podendo ser representado fora da integral. A integral ∫A dAy' é o momento estático de 1ª ordem em relação ao eixo central X’. Esta integral deve ser igual a zero já que o eixo X’ é y c y' dA X X' Y'Y xc x' d C O ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 134 central, ou seja 0' =xS . A integral ∫AdA resulta na própria área A. Logo, a expressão final do teorema de Steiner fica sobre a forma 2' cxx yAII += (14.8) e de modo análogo tem-se 2' cyy xAII += e 2dAII co += (14.9) 14.5 CÁLCULO DO MOMENTO DE INÉRCIA DE UMA ÁREA POR INTEGRAÇÃO O cálculo de momento de inércia por integração é útil para obter os momentos de inércia de figuras mais comuns, os quais já estão tabelados. No caso de peças mais complexas, o cálculo é feito decompondo-se a peça em figuras mais simples, ou aplicando-se integração numérica. Momento de inércia de um retângulo. Deseja-se calcular os momentos de inércia de um retângulo em relação aos eixos X e Y e em relação aos eixos centrais Xc e Yc, que estão ilustrados na Fig. (14.4). Para o cálculo do momento de inércia em relação ao eixo X adota-se uma faixa de altura dy de modo que o momento de inércia Ix é calculado como 33 3 0 3 0 22 bhybdybydAyI h h Ax = === ∫∫ Com raciocínio análogo demonstra-se que 3 3hbI y = Aplicando-se o Teorema de Steiner pode-se calcular o momento de inércia em relação ao eixo central Xc 124323 33323 bhbhbhIhbhIbh cc XX =−=→ ⋅+= Com raciocínio análogo demonstra-se que o momento de inércia em relação ao eixo Yc vale 12 3hbI cy = Os momentos de inércia de um quadrado são obtidos fazendo-se b = h nas expressões obtidas. No cálculo de Ix considerou-se que dAydI x 2 = . Valendo-se em conta o Teorema de Steiner nota-se que deveria existir um outro termo que seria o momento de inércia da faixa infinitezimal em relação ao seu eixo central. Este termo não é considerado no cálculo por resultar num infinitésimo de ordem superior. X Y C XC YC dy h b y Figura (14.4) ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 135 Momento de inércia de um triângulo. Deseja-se calcular o momento de inércia de um triângulo em relação aos eixos X e Xc, em que Xcé um eixo central. Para o cálculo do momento de inércia em relação ao eixo X adota-se uma faixa de altura dy sendo o diferencial de área dA escrito como dyx . A variável x é definida através de uma relação de triângulos (ver capítulo 13) como ( )yh h bx −= Aplicando-se estas considerações na equação (14.3) fica ( ) 124343 344 0 43 0 2 0 22 bhhh h byhy h bdyyh h bydyxydAyI h hh Ax = −= −=−=== ∫∫∫ Aplicando-se o Teorema de Steiner pode-se calcular o momento de inércia em relação ao eixo central Xc. Para tal deve-se aplicar o resultado obtido no capítulo 13 que dá a posição do centróide de um triângulo. 3618123212 33323 bhbhbhIhbhIbh cc XX =−=→ ⋅+= Momento de inércia de um círculo. Deseja-se calcular o momento de inércia de um círculo em relação aos seus eixos centrais. Para a solução da questão deve-se considerar a equação da circunferência 222 ryx =+ . Adotando-se uma faixa com altura dy paralela ao eixo Xc pode-se escrever ∫∫ − ⋅== r rAx dyxydAyI c 2 22 4 2 4 222 rdyyryI r rxc π =−⋅= ∫ − Por simetria 4 4rI cy π = Este problema também pode ser resolvido adotando-se uma faixa diferencial com espessura dx e paralela ao eixo y. Neste caso, o processo de solução deve aplicar o teorema de Steiner. O momento de inércia diferencial é definido como ( ) 3 202 12 2 33 dxydxyydxdI cx =⋅+= h b x x y y dy x-x y dy C r Xc Yc ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 136 4 4rI cx π = 14.6 MOMENTO DE INÉRCIA DE ÁREAS COMPOSTAS O processo para cálculo de momento de inércia de áreas compostas consiste em decompor a área em figuras simples cuja a solução seja conhecida, tabelada ou de fácil determinação. Para exemplificar, o momento de inércia em relação a um eixo X de uma área composta pode ser escrito como ∑∑ == +== n i iix n i xx yAIII ii 1 2 1 (14.10) Nesta equação o índice i varia de 1 ao número de figuras simples, ixI é o momento de inércia em relação ao eixo central da figura que seja paralelo ao eixo X, Ai é a área da figura e yi é a distância ortogonal entre o eixo X e o eixo central da figura paralelo a este. Exemplo. Determinar os momentos de inércia da peça ilustrada na Fig. (14.5) em relação aos eixos X e Y. Determine também o momento de inércia polar em relação a O. Neste tipo de problema é fundamental estabelecer um processo de solução que leve a uma solução mais simples do problema. A Fig. (14.5) apresenta dois esquemas de solução. No primeiro, a solução é obtida somando-se os valores correspondentes às áreas 1, 2 e 3. No segundo esquema, a solução é obtida subtraindo-se da área 1 os valores das áreas 2 e 3. Figura 14.5 – Ilustração da peça e dos esquemas de solução do exemplo. y dx C r Xc Yc -y 30 10 10 20 10 10 X Y O (cm) 1 2 3 1 2 3 ( ) dxxrdxydII r r r rA xx cc ∫∫∫ −− −=== 2322 3 3 2 3 2 ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 137 Como a peça é formada apenas por retângulos os resultados úteis para solução deste problema estão apresentados na página 112. Também é importante o Teorema de Steiner. Aplicando-se o primeiro esquema de solução tem-se ( ) 42 333 cm 166666101025 12 1010 3 3010 3 1040 321 =⋅⋅+ ⋅ + ⋅ + ⋅ =++= xxxx IIII ( ) 4 33 2 3 cm 106666 3 1010 3 1030401010 12 4010 321 = ⋅ + ⋅ +⋅+ ⋅ =++= yyyy IIII 4cm 273334=+= yxo III Aplicando-se o segundo esquema de solução tem-se ( ) 4 33 2 3 cm 166666 3 2010 3 3020404010 12 4040 321 = ⋅ − ⋅ −⋅+ ⋅ =−−= xxxx IIII ( ) ( ) ( ) ( ) 4 3 2 3 2 3 cm 106666 3 1020203020 12 2030404010 12 4040 321 = ⋅ − ⋅−+ ⋅ −⋅−+ ⋅ =−−= yyyy IIII 14.7 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1) Determinar os momentos de inércia do perfil C ilustrado na Fig. (14.6) em relação aos seus eixos centrais Xc e Yc. Figura 14.6 – Perfil C. Solução: O primeiro passo para a solução do problema é localizar o centróide do perfil C. Como este perfil tem um eixo de simetria, o eixo Xc é localizado em 2h sem necessidade de cálculo. Para localizar o eixo Yc adotou- se Yaux como eixo de referência, o qual está localizado na metade da espessura da alma do perfil. Logo o centróide pode ser localizado fazendo-se b h t b t b th Xc Xc YcYauxYaux C xc ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 138 ( ) ( ) ( ) ( ) hbb hb hbb h b i ii tthbt tbbt tthbt tbbt A Ax x 2222 22 2 −+ − = −+ − == ∑ Uma vez localizados os eixos centrais, calcula-se, então, os momentos de inércia em relação à estes eixos. Quando se calcula o momento de inércia em relação ao eixo X central observa-se que as parcelas correspondentes às mesas superior e inferior são iguais a menos dos sinais das cotas. Apesar disto, estes termos resultam em valores iguais porque estão elevados ao quadrado. Para simplificar a expressão resultante agrupou- se estes termos tomando-se apenas um deles e multiplicando por 2. ( ) +−++ −++ − = 23233 2212221212 2 b b bb b bbh x thtbtbthtbtbthtI c ( ) −++ − = 233 2212 2 12 2 b b bbh x thtbtbthtI c ( ) ( ) −−++−+ − = 23 23 2212 22 12 2 x tbtb bt xtth tth I hb b hb hb yc 2) Determinar os momentos de inércia do perfil I ilustrado na Fig. (14.7) em relação aos seus eixos centrais Xc e Yc. Figura 14.7 – Perfil I. Solução: Como este perfil tem dupla simetria, o centróide é obtido diretamente pela interseção destes eixos. ( ) +−++ −++ − = 23233 2212221212 2 b b bb b bbh x thtbtbthtbtbthtI c ( ) −++ − = 233 2212 2 12 2 b b bbh x thtbtbthtI c ( ) ( ) 612 2 12 2 12 2 3333 bttthbttthI bhbbhbyc + − =+ − = b h t b t b th Xc Yc C ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 139 3) Determinar os momentos de inércia do perfil I de mesas desiguais ilustrado na Fig. (14.8) em relação aos seus eixos centrais Xc e Yc. Figura 14.8 – Perfil I de mesas desiguais. Solução: Neste caso tem-se apenas um eixo de simetria, logo o centróide dev ser localizado por cálculo. ( ) ( )[ ] ( ) h h i ii ttthtbtb ttthttthtthtb A Ay y 212211 21 22121 11 2222 −−++ −− + −− + −− == ∑ ( ) ( ) −−++ +−++−−+ −− = 2 2 22 3 22 2 1 11 3 112 21 3 21 2212221212 ythtbtbythtbtbytthttthtI hhxc ( ) 121212 3 22 3 11 3 21 btbtttthI hyc ++ −− = 4) Calcular os momentos de inércia em relação aos eixos X e Y. Solução: Este tipo de problema deve ser resolvido por integração. Para tal adota-se uma faixa de integração com área dxydA = . O primeiro passo na solução do exercício é calcular os momentos de inércia da faixa de integração em relação aos eixos X e Y. 3412212 33323 dxydxydxyydxydxydIx =+= += dxxyxdxydxydI y 22 3 12 =+= O termo 12 3dxy é desprezado por ser um infinitésimo de ordem superior. 3 m 1,73 m x dx y X Y 23 xy −= b1 h t 1 t 2 th Yc b2 Xaux Yc Xaux XcC y ENG 01156 – Mecânica - Aula 14 Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM 140 ∫∫∫ −+−= −== 731 0 642731 0 32731 0 3 92727 3 13 3 1 3 ,,, dxxxxdxxdxyI x 4 731 0 753 m 137 75 9 3 2727 3 1 , , = −+−= xxxxI x 4 731 0 53731 0 42731 0 22 m 082 53 333 , , ,, = −= −= −= ∫∫ xxdxxxdxxxI y 5) Determine o momento de inércia da barra fina mostrada na figura em relação aos eixos X e Y. Considere que lt << . Solução: Adota-se uma faixa de integração de área dstdA = . Decompondo a coordenada do centróide da faixa de integração s, medida ao longo do eixo da barra, em relação aos eixos X e Y tem-se θcossx = e θsensy = . Para calcular o momento de inércia da faixa de integração deve-se aplicar o teorema de Steiner, o que resulta em 2ydstdIdI xcx += e 2xdstdIdI ycy += . Desprezando os momentos de inércia da faixa de integração em relação ao seu eixo central, ou seja 0≈xcdI e 0≈ycdI , e escrevendo-se as coordenadas x e y em função de s e θ tem-se dstsdI x θ 22 sen= e dstsdI y θ 22 cos= . Calculando-se agora as integrais tem-se θθθ 2 3 0 3 2 0 22 sen 33 sensen ltstdstsI l l x = == ∫ θθθ 2 3 0 3 2 0 22 cos 33 coscos ltstdstsI l l y = == ∫ A hipótese de desprezar os momentos de inércia xcdI e ycdI pode ser testada calculando-se o momento de inércia polar, ou seja ∫∫ == += ll o ltdsstsdstdstI 0 3 2 0 2 3 312 , o que confirma a simplificação anterior já que yxo III += x y θ s l ds t
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