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Apostila de Redação Leandro

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SUMÁRIO 1 
UMA BOA REDAÇÃO 2 
INSTRUÇÕES GERAIS: DO TEXTO E DO LEITOR 3 
DOS ERROS MAIS COMUNS 5 
 OS DEZ ERROS MAIS GRAVES 11 
CAPÍTULO 01 SESSÃO LEITURA – ASSALTO À BRASILEIRA 12 
CONCEITUAÇÃO DE TEXTO 12 
COERÊNCIA (ou fator semântico conceitual) 13 
FIXAÇÃO 15 
COESÃO (ou fator formal) 16 
FIXAÇÃO 17 
CAPÍTULO 02 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS 19 
OS GÊNEROS TEXTUAIS 19 
A TIPOLOGIA TEXTUAL 19 
CAPÍTULO 03 O TEXTO DESCRITIVO 23 
SESSÃO LEITURA 23 
CAPITULO 04 O TEXTO NARRATIVO 27 
GÊNEROS NARRATIVOS 30 
FIXAÇÃO 33 
CAPÍTULO 05 O TEXTO INJUNTIVO-INSTRUCIONAL 37 
CAPÍTULO 06 
 
O TEXTO DISSERTATIVO 39 
ESTRUTURA TEXTUAL 40 
QUALIDADES DE UMA DISSERTAÇÃO 41 
ELEMENTOS DE COESÃO 41 
O FATOR ARGUMENTATIVO 41 
TIPOS DE DESENVOLVIMENTO 42 
A CONCLUSÃO DO TEXTO DISSERTATIVO 43 
MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO 45 
FIXAÇÃO 51 
CAPITULO 07 NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO 56 
FIXAÇÃO 58 
CAPÍTULO 08 NOÇÃO DE RESUMO, RESENHA E GÊNEROS MISTOS 61 
RESUMO E RESENHA 61 
GÊNEROS MISTOS 63 
FIXAÇÃO 64 
CAPITULO 09 RELAÇÃO COERÊNCIA, COESÃO E CONJUNÇÕES 65 
CONJUNÇÕES 66 
FIXAÇÃO 67 
CAPÍTULO 10 PINTOU NO ENEM 72 
GABARITO 78 
REFERÊNCIAS 81 
 
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Uma boa redação 
 
O Exame Nacional do Ensino Médio é uma das provas mais esperadas do ano, principalmente 
pelos estudantes que se preparam o ano inteiro. Uma das polêmicas do concurso é a avaliação da redação 
no ENEM que teve alguns problemas há algum tempo, mas agora melhorou nas últimas edições. Confira a 
seguir algumas dicas para fazer uma boa redação para o Enem 2014. 
A prova de redação do ENEM 2014 é bem parecida em relação à do vestibular tradicional, mas que 
apresenta alguns traços característicos. Em ambos o tipo de prova, o candidato precisa estar bem 
informado dos assuntos da atualidade para melhor desenvolver a sua redação. 
Entre os temas mais frequentes das redações do ENEM são temas sociais e a aplicação de cinco 
conceitos mostrados nas provas objetivas. Essas são algumas das peculiaridades da redação do ENEM 
2014. 
Mesmo sendo uma prova bem parecida do vestibular tradicional, a prova do ENEM exige do 
candidato a explanação de conceitos bem homogêneos e completos, ou seja, o candidato precisa ver o 
tema como um todo e não apenas isoladamente. Conseguir contextualizar o assunto como em sua 
totalidade, essa é uma das principais dicas de como fazer uma boa redação para o ENEM assim como 
também para outras provas. 
O tema será geralmente apresentado ao estudante, acompanhado de um pequeno texto 
exemplificativo e a partir desse tema, o candidato deverá desenvolver suas ideias. Alguns requisitos 
também serão avaliados, como a apresentação dos textos, por isso uma letra legível é recomendável; boa 
grafia e concordância gramatical são essenciais; assim como os aspectos de ortografia, acentuação. 
Outra competência que será avaliada é saber desenvolver o tema da redação do Enem 2014, se há 
clareza e objetividade na explanação do tema. Por isso, outra dica de como fazer uma boa redação é a 
técnica básica de introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, como o próprio nome diz deve 
ser apresentado as principais ideias que serão exploradas no texto. No desenvolvimento, o candidato deve 
desenvolver as ideias apresentadas na introdução. Uma dica é se for falar de vários tópicos dentro do tema, 
divida cada um desses em parágrafos, deixando o texto mais organizado. E na conclusão, é um desfecho 
das ideias, fechando com uma ideia conclusiva que amarra as demais. 
O ENEM gosta de explorar temas polêmicos, como violência, política e educação, então, além de se 
preparar com as técnicas de redação, ter interesse também por leituras de jornais, revistas sobre temas da 
atualidade é fundamental para fazer uma boa redação no ENEM e em outros concursos. 
Esperamos que nossa apostila seja um importante instrumento de estudos para que você possa 
atingir seus objetivos! 
 
Sucesso! 
 
 
 
 
 
 
 
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INSTRUÇÕES GERAIS 
 
 
Para a produção de um excelente texto, alguns cuidados são necessários 
 
DO TEXTO E DO LEITOR 
 
 
 
 
 
1 – Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. Use frases curtas e evite intercalações excessivas ou 
ordens inversas desnecessárias. Não é justo exigir que o leitor faça complicados exercícios mentais para 
compreender o texto. 
 
2 – Construa períodos com no máximo duas ou três linhas. Os parágrafos, para facilitar a leitura, deverão 
ter cinco linhas, em média, e no máximo oito. 
 
3 – A simplicidade é condição essencial de um texto. Lembre-se de que você escreve para todos os tipos 
de leitor e todos, sem exceção, têm o direito de entender qualquer texto, seja ele político, econômico, 
internacional, urbanístico ou, até mesmo, sua redação do Enem. 
 
4 – Adote como norma a ordem direta, por ser aquela que conduz mais facilmente o leitor à essência das 
informações. Dispense os detalhes irrelevantes e vá diretamente ao que interessa, sem rodeios. 
 
5 – A simplicidade do texto não implica necessariamente repetição de formas e frases desgastadas, uso 
exagerado de voz passiva (será iniciado, será realizado), pobreza vocabular etc. Com palavras conhecidas 
de todos, é possível escrever de maneira original e criativa e produzir frases elegantes, variadas, fluentes e 
bem alinhavadas. Nunca é demais insistir: fuja, isto sim, dos rebuscamentos, dos pedantismos vocabulares, 
dos termos técnicos evitáveis e da erudição. 
 
6 – Não comece períodos ou parágrafos seguidos com a mesma palavra, nem use repetidamente a mesma 
estrutura de frase. 
 
7 – Evite tanto a retórica e o hermetismo como a gíria, o jargão e o coloquialismo. 
 
8 – Tenha sempre presente: o espaço hoje é precioso; o tempo do leitor, também. Expresse seus 
argumentos no menor número possível de palavras. 
 
9 – Em qualquer ocasião, prefira a palavra mais simples: votar é sempre melhor que sufragar; pretender é 
sempre melhor que objetivar, intentar ou tencionar; voltar é sempre melhor que regressar ou retornar; 
tribunal é sempre melhor que corte; passageiro é sempre melhor que usuário; eleição é sempre melhor que 
pleito; entrar é sempre melhor que ingressar. 
 
10 – Procure banir do texto os modismos e os lugares-comuns. Você sempre pode encontrar uma forma 
elegante e criativa de dizer a mesma coisa sem incorrer nas fórmulas desgastadas pelo uso excessivo. Veja 
algumas: a nível de, deixar a desejar, chegar a um denominador comum, transparência, instigante, pano de 
fundo, estourar como uma bomba, encerrar com chave de ouro, segredo guardado a sete chaves, dar o 
último adeus. Acrescente as que puder a esta lista. 
 
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11 – Proceda da mesma forma com as palavras e formas empoladas ou rebuscadas, que tentam 
transmitir ao leitor mera ideia de erudição. O texto dissertativo-argumentativo não tem lugar para termos 
como tecnologizado, agudização, consubstanciação, execucional, operacionalização, mentalização, 
transfusional, paragonado, rentabilizar, paradigmático, programático, emblematizar, congressual, 
instrucional, embasamento, ressociabilização, dialogal, transacionar, parabenizar e outros do gênero. 
 
12 – Não perca de vista o universo vocabular do leitor. Adote esta regra prática: nunca escreva o que você 
não diria. Assim, alguém rejeita (e não declina de) um convite, protela ou adia (e não procrastina) uma 
decisão, aproveita (e não usufrui) uma situação. Da mesma forma, prefira demora ou adiamento a delonga. 
 
13 – Dificilmente os textos justificam a inclusão de palavras ou expressões de valor absoluto ou muito 
enfático, como certos adjetivos (magnífico, maravilhoso, sensacional, espetacular, admirável, esplêndido, 
genial), os superlativos (engraçadíssimo, deliciosíssimo, competentíssimo, celebérrimo) e verbosfortes 
como infernizar, enfurecer, maravilhar, assombrar, deslumbrar, dentre outros. 
 
14 – Termos coloquiais ou de gíria deverão ser usados com extrema parcimônia e apenas em casos muito 
especiais, para não darem ao leitor a ideia de vulgaridade e principalmente para que não se tornem novos 
lugares-comuns. Como, por exemplo: a mil, barato, galera, detonar, deitar e rolar, flagrar, com a corda (ou a 
bola) toda, legal, grana, bacana etc. 
15 – Seja rigoroso na escolha das palavras do texto. Desconfie dos sinônimos perfeitos ou de termos que 
sirvam para todas as ocasiões. Em geral, há uma palavra para definir uma situação. 
 
16 – Você pode ter familiaridade com determinados termos ou situações, mas o leitor, não. Por isso, seja 
explícito nas informações e não deixe nada subentendido. 
 
17 – Nas redações dissertativo-argumentativas, o primeiro parágrafo deve fornecer resposta a pergunta 
básica: sobre o que é? Essa resposta será a tese. 
 
18 – Não inicie a redação com declaração entre aspas e só o faça se esta tiver importância muito grande 
(o que é a exceção e não a norma). 
 
19 – Procure dispor os argumentos em ordem decrescente de importância (princípio da pirâmide 
invertida), para que, no caso de qualquer necessidade de corte no texto, os últimos possam ser suprimidos, 
de preferência. 
 
20 – Encadeie o texto de maneira suave e harmoniosa, para que os parágrafos dialoguem entre si. Nada 
pior do que um texto em que os parágrafos se sucedem uns aos outros como compartimentos estanques, 
sem nenhuma fluência: ele não apenas se torna difícil de acompanhar, como faz a atenção do leitor se 
dispersar no meio do texto. Isso dá ao leitor a sensação de que o assunto agora é outro e não parte de um 
todo. 
 
21 – Por encadeamento de parágrafos não se entenda o cômodo uso de vícios linguísticos, como por 
outro lado, enquanto isso, ao mesmo tempo, não obstante e outros do gênero. Busque formas menos 
batidas ou simplesmente as dispense: se a sequência do texto estiver correta, esses recursos se tornarão 
absolutamente desnecessários. 
 
22 – A falta de tempo do leitor exige que os textos sejam cada vez mais curtos (20 ou 30 linhas). Quando 
houver tempo, reescreva o texto: é o mais recomendável. Quando não, vá cortando as frases dispensáveis. 
 
23 – Proceda como se o seu texto fosse o definitivo. Assim, depois de pronto, reveja e confira todo o texto, 
com cuidado. Afinal, é o seu texto e ele será avaliado. 
 
24 – O recurso à primeira pessoa só se justifica, em geral, em textos narrativos e relatos. 
 
25 – Não use argumentos não confirmados nem inclua neles informações sobre as quais você tenha 
dúvidas. Você poderá estar criando uma armadilha para si mesmo. Exemplo: “Os Estados Unidos 
começaram a criar centros para recolher as baterias de lítio desutilizadas.”; “A briga pelo mercado 
petrolífero continua sendo o maior dos problemas no continente Oriente Médio.”. 
 
26 – Nas versões conflitantes, divergentes ou não confirmadas, mencione quais as fontes responsáveis 
pelas informações ou pelo menos os setores dos quais elas partem. Toda cautela é pouca e o máximo 
cuidado nesse sentido evitará que o argumento se torne uma mentira. 
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27 – Nunca deixe de ler até o fim o rascunho que vá ser refeito, mesmo que você tenha poucos minutos 
disponíveis. Ele poderá conter informações indispensáveis no fim e você corre o risco cortá-las. 
 
28 – Trate de forma impessoal o personagem citado no texto, por mais popular que ele seja: a 
apresentadora Xuxa ou Xuxa, apenas (e nunca a Xuxa), Pelé (e não o Pelé), Piquet (e não o Piquet) etc. 
 
29 - Um texto não deve admitir generalizações que possam atingir toda uma classe ou categoria, raças, 
credos, profissões, instituições etc. Muita ATENÇÃO a isso. Evite construções com: todos, nenhum, 
ninguém, jamais, sempre etc. 
 
30 – Em caso de dúvida, não hesite em consultar dicionários, enciclopédias, almanaques e outros livros de 
referência. Ou recorrer aos especialistas, aos colegas mais experientes ou professores. Bem melhor 
perguntar antes de comprometer o texto. 
 
 
DOS ERROS MAIS COMUNS 
 
 
Erros gramaticais e ortográficos devem, por princípio, ser evitados. Alguns, no entanto, como ocorrem com 
maior frequência, merecem atenção redobrada. Anteriormente, vimos algumas sugestões sobre o texto e o 
leitor que o leitor deve ater-se. Veja, abaixo, os cem mais comuns do idioma e use esta relação como um 
roteiro para fugir deles. 
 
1 - "Mal cheiro", "mau-humorado". Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), 
mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar. 
 
2 - "Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. 
/ Fez 15 dias. 
 
3 - "Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / 
Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais. 
 
4 - "Existe" muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: 
Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / 
Sobravam ideias. 
 
5 - Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para 
eu trazer. 
 
6 - Entre "eu" e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti. 
 
7 - "Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos 
atrás. 
 
8 - "Entrar dentro". O certo: entrar em. Veja outras redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação, 
monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido. 
 
9 - "Venda à prazo". Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a 
palavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a 
caráter. 
 
10 - "Porque" você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado: Por 
que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que razão você se atrasou. Porque 
é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado. 
 
11 - Vai assistir "o" jogo hoje. Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. 
Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram 
(desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / 
Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes. 
 
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12 - Preferia ir "do que" ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue 
a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória. 
 
13 - O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O 
resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal entre 
o predicado e o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias. 
 
14 - Não há regra sem "excessão". O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a 
forma correta: "paralizar" (paralisar), "beneficiente" (beneficente), "xuxu" (chuchu), "previlégio" (privilégio), 
"vultuoso" (vultoso), "cincoenta" (cinqüenta), "zuar" (zoar), "frustado" (frustrado), "calcáreo" (calcário), 
"advinhar" (adivinhar), "benvindo" (bemvindo), "ascenção" (ascensão), "pixar" (pichar), "impecilho" 
(empecilho), "envólucro" (invólucro). 
 
15 - Quebrou "o" óculos. Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus 
parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias. 
 
16 - Comprei "ele" para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o 
para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-me. 
 
17 - Nunca "lhe" vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não podeser usado com objeto 
direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama. 
 
18 - "Aluga-se" casas. O verbo concorda com o sujeito: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim 
que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se empregados. 
 
19 - "Tratam-se" de. O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: Trata-se dos melhores 
profissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-se com os amigos. 
 
20 - Chegou "em" São Paulo. Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai 
amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo. 
 
21 - Atraso implicará "em" punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará 
punição. / Promoção implica responsabilidade. 
 
22 - Vive "às custas" do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não "em vias de": 
Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão. 
 
23 - Todos somos "cidadões". O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), 
juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres. 
 
24 - O ingresso é "gratuíto". A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento 
não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo. 
 
25 - A última "seção" de cinema. Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a tempo de uma 
reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de 
pancadas, sessão do Congresso. 
 
26 - Vendeu "uma" grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de 
dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc. 
 
27 - "Porisso". Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de. 
 
28 - Não viu "qualquer" risco. É nenhum, e não "qualquer", que se emprega depois de negativas: Não viu 
nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu nenhuma confusão. 
 
29 - A feira "inicia" amanhã. Alguma coisa se inicia, se inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã. 
 
30 - Soube que os homens "feriram-se". O que atrai o pronome: Soube que os homens se feriram. / A 
festa que se realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções subordinativas e os advérbios: 
Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no assunto... / Como as 
pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois o procuro. 
 
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31 - O peixe tem muito "espinho". Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O "fuzil" (fusível) 
queimou. / Casa "germinada" (geminada), "ciclo" (círculo) vicioso, "cabeçário" (cabeçalho). 
 
32 - Não sabiam "aonde" ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de 
movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos? 
 
33 - "Obrigado", disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: "Obrigada", disse a moça. / Obrigado 
pela atenção. / Muito obrigados por tudo. 
 
34 - O governo "interviu". Intervir conjuga-se como vir. Assim: O governo interveio. Da mesma forma: 
intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, 
pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc. 
 
35 - Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga. 
 
36 - "Fica" você comigo. Fica é imperativo do pronome tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você 
comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui. 
 
37 - A questão não tem nada "haver" com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que 
ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você. 
 
38 - A corrida custa 5 "real". A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais. 
 
39 - Vou "emprestar" dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. 
Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: Pediu emprestadas duas 
malas. 
 
40 - Foi "taxado" de ladrão. Tachar é que significa acusar de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de 
leviano. 
 
41 - Ele foi um dos que "chegou" antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que 
chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre vibravam com a vitória. 
 
42 - "Cerca de 18" pessoas o saudaram. Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com 
números exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram. 
 
43 - Ministro nega que "é" negligente. Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: 
Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide 
para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa. 
 
44 - Tinha "chego" atrasado. "Chego" não existe. O certo: Tinha chegado atrasado. 
 
45 - Tons "pastéis" predominam. Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, 
blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas 
pretas, fitas amarelas. 
 
46 - Lute pelo "meio-ambiente". Meio ambiente não tem hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, 
pronta entrega, mão de obra, infraestrutura, meio de campo etc. 
 
47 - Queria namorar "com" o colega. O com não existe: Queria namorar o colega. 
 
48 - O processo deu entrada "junto ao" STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi 
contratado do (e não "junto ao") Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não "junto aos") 
leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não "junto ao") banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não 
"junto ao") Procon. 
 
49 - As pessoas "esperavam-o". Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as 
tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-
nos. 
 
50 - Vocês "fariam-lhe" um favor? Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de 
futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-
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iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca "imporá-se"). / Os amigos nos darão (e não 
"darão-nos") um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo "formado-me"). 
 
51 - Chegou "a" duas horas e partirá daqui "há" cinco minutos. Há indica passado e equivale a faz, 
enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas 
horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 
metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias. 
 
52 - Blusa "em" seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: Blusa de 
seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira. 
 
53 - A artista "deu à luz a" gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. 
Também é errado dizer: Deu "a luz a" gêmeos. 
 
54 - Estávamos "em" quatro à mesa. O em não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / 
Ficamos cinco na sala. 
 
55 - Sentou "na" mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: 
Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador. 
 
56 - Ficou contente "por causa que" ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe. Use 
porque: Ficou contente porque ninguém se feriu. 
 
57 - O time empatou "em" 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por 
e perde por. Da mesma forma: empate por. 
 
58 - À medida "em" que a epidemia se espalhava... O certo é: À medida que a epidemia se espalhava... 
Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas 
existem. 
 
59 - Não queria que "receiassem" a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua 
companhia.Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e 
que precede a terminação ear: receiem, passeias, enfeiam). 
 
60 - Eles "tem" razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre 
com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem. 
 
61 - A moça estava ali "há" muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia 
(fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia 
(fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do 
indicativo.) 
 
62 - Não "se o" diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-
os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc. 
 
63 - Acordos "políticos-partidários". Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia: acordos 
político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico-financeiras, partidos 
social-democratas. 
 
64 - Fique "tranqüilo". O u pronunciável depois de q e g e antes de e e i não exige mais o trema: 
Tranquilo, consequência, linguiça, aguentar, Birigui. 
 
65 - Andou por "todo" país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). 
/ Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem 
(cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos. 
 
66 - "Todos" amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil 
apontar todas as contradições do texto. 
 
67 - Favoreceu "ao" time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A 
decisão favoreceu os jogadores. 
 
9 
 
68 - Ela "mesmo" arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) 
arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia. 
 
69 - Chamei-o e "o mesmo" não atendeu. Não se pode empregar o mesmo no lugar de pronome ou 
substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país 
conhecerá a decisão dos servidores (e não "dos mesmos"). 
 
70 - Vou sair "essa" noite. É este que designa o tempo no qual se está ou objeto próximo: Esta noite, esta 
semana (a semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 
20). 
 
71 - A temperatura chegou a 0 "graus". Zero indica singular sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero 
hora. 
 
72 - A promoção veio "de encontro aos" seus desejos. Ao encontro de é que expressa uma situação 
favorável: A promoção veio ao encontro dos seus desejos. De encontro a significa condição contrária: A 
queda do nível dos salários foi de encontro às (foi contra) expectativas da categoria. 
 
73 - Comeu frango "ao invés de" peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de peixe. 
Ao invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu. 
 
74 - Se eu "ver" você por aí... O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), 
convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós 
dissermos (de dizer), predissermos. 
 
75 - Ele "intermedia" a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou 
medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles 
anseiem, incendeio. 
 
76 - Ninguém se "adequa". Não existem as formas "adequa", "adeqüe", etc., mas apenas aquelas em que 
o acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse etc. 
 
77 - Evite que a bomba "expluda". Explodir só tem as pessoas em que depois do d vêm e e i: Explode, 
explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale "exploda" ou "expluda", substituindo essas formas por 
rebente, por exemplo. Precaver-se também não se conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem as 
formas "precavejo", "precavês", "precavém", "precavenho", "precavenha", "precaveja" etc. 
 
78 - Governo "reavê" confiança. Equivalente: Governo recupera confiança. Reaver segue haver, mas 
apenas nos casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem 
"reavejo", "reavê" etc. 
 
79 - Disse o que "quiz". Não existe z, mas apenas s, nas pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, 
quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos. 
 
80 - O homem "possue" muitos bens. O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a 
terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue. 
 
81 - A tese "onde"... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as 
crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa ideia. / O livro em que... 
/ A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que... 
 
82 - Já "foi comunicado" da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém "é comunicado" de 
alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria 
"comunicou" os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos 
empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados. 
 
83 - Venha "por" a roupa. Pôr, verbo, tem acento diferencial: Venha pôr a roupa. O mesmo ocorre com 
pôde (passado): Não pôde vir. Outros casos mudaram após o novo acordo ortográfico: fôrma (facultativo), 
pelo e pelos (cabelo, cabelos), para (verbo parar), pela (bola ou verbo pelar), pelo (verbo pelar), polo e 
polos. 
 
10 
 
84 - "Inflingiu" o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não 
"inflingir") significa impor: Infligiu séria punição ao réu. 
 
85 - A modelo "pousou" o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante etc. Não 
confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com 
tráfego (trânsito). 
 
86 - Espero que "viagem" hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem 
(de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também "comprimentar" alguém: de cumprimento (saudação), só 
pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido 
(concretizado). 
 
87 - O pai "sequer" foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não 
disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar. 
 
88 - Comprou uma TV "a cores". Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV "a" preto e 
branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores. 
 
89 - "Causou-me" estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, 
pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram 
iniciadas esta noite as obras (e não "foi iniciado" esta noite as obras). 
 
90 - A realidade das pessoas "podem" mudar. Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na 
concordância. Por isso : A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários 
foi punida (e não "foram punidas"). 
 
91 - O fato passou "desapercebido". Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. 
Desapercebido significa desprevenido. 
 
92 - "Haja visto" seu empenho... A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja 
vista seus esforços. / Haja vista suas críticas. 
 
93 - A moça "que ele gosta". Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O 
dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que participou, o amigo a que 
se referiu, etc. 
 
94 - É hora "dele" chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome, nos 
casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado... / Depois de essesfatos terem ocorrido... 
 
95 - Vou "consigo". Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com 
você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e não 
"para si"). 
 
96 - Já "é" 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não 
"são") 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite. 
 
97 - A festa começa às 8 "hrs.". As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem ponto. 
Assim: 8 h, 2 km (e não "kms."), 5 m, 10 kg. 
 
98 - "Dado" os índices das pesquisas... A concordância é normal: Dados os 
índices das pesquisas... / Dado o resultado... / Dadas as suas ideias... 
 
99 - Ficou "sobre" a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / 
Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou 
sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém 
traz alguma coisa e alguém vai para trás. 
 
100 - "Ao meu ver". Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver. 
 
 
 
11 
 
OS DEZ ERROS MAIS GRAVES 
 
 
Alguns erros revelam maior desconhecimento da língua que outros. Os dez abaixo estão nessa situação. 
 
1 - Quando "estiver" voltado da Europa. Nunca confunda tiver e tivesse com estiver e estivesse. 
Assim: Quando tiver voltado da Europa. / Quando estiver satisfeito. / Se tivesse saído mais cedo. / Se 
estivesse em condições. 
 
2 - Que "seje" feliz. O subjuntivo de ser e estar é seja e esteja: Que seja feliz. / Que esteja (e nunca 
"esteje") alerta. 
 
3 - Ele é "de menor". O de não existe: Ele é menor. 
 
4 - A gente "fomos" embora. Concordância normal: A gente foi embora. E também: O pessoal chegou (e 
nunca "chegaram"). / A turma falou. 
 
5 - De "formas" que. Locuções desse tipo não têm s: De forma que, de maneira que, de modo que, etc. 
 
6 - Fiquei fora de "si". Os pronomes combinam entre si: Fiquei fora de mim. / Ele ficou fora de si. / Ficamos 
fora de nós. / Ficaram fora de si. 
 
7 - Acredito "de" que. Não use o de antes de qualquer que: Acredito que, penso que, julgo que, disse que, 
revelou que, creio que, espero que etc. 
 
8 - Fale alto porque ele "houve" mal. A confusão está-se tornando muito comum. O certo é: Fale alto 
porque ele ouve mal. Houve é forma de haver: Houve muita chuva esta semana. 
 
9 - Ela veio, "mais" você, não. É mas, conjunção, que indica ressalva, restrição: Ela veio, mas você, não. 
 
10 - Fale sem "exitar". Escreva certo: hesitar. Veja outros erros de grafia e entre parênteses a forma 
correta: "areoporto" (aeroporto), "metereologia" (meteorologia), "deiche" (deixe), enchergar (enxergar), 
"exiga" (exija). E nunca troque menos por "menas", verdadeiro absurdo linguístico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
CAPÍTULO 01 – SESSÃO LEITURA 
 
 
Assalto à brasileira 
 
Assaltante mineiro 
 
"Ô sô, prestenção. Issé um assarto, uai. Levantus 
braçu e fiketin quié mió prucê. Esse trem na minha 
mão tá chein di bala... Mió passá logo os trocado 
que eu num to bão hoje. Vai andano, uai ! Tá 
esperanuquê, sô?!" 
 
Assaltante baiano 
 
"Ô meu rei... (pausa). Isso é um assalto... (longa 
pausa). Levanta os braços, mas não se avexe 
não... 
(outra pausa). Se num quiser nem precisa levantar, 
pra num ficar cansado Vai passando a grana, bem 
devagarinho (pausa pra pausa ) Num repara se o 
berro está sem bala, mas é pra não ficar muito 
pesado (pausa maior ainda). Não esquenta, meu 
irmãozinho (pausa). Vou deixar teus documentos 
na encruzilhada." 
 
Assaltante carioca 
 
"Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bicho. Isso é um assalto, sacô? Passa a grana e levanta os braço 
rapá ... Não fica de caô que eu te passo o cerol.... Vai andando e se olhar pra trás vira presunto ..." 
 
Assaltante paulista 
 
"Isto é um assalto! Erga os braços! Pass a logo a grana, meu. Mais rápido, mais rápido, meu, que eu ainda 
preciso pegar a bilheteria aberta pru jogo do Curintias, meu ... Pô, agora se manda, meu, vai... vai..." 
 
Assaltante gaúcho 
 
"O guri, ficas atento... isso é um assalto. Levanta os braços e te aquieta, tchê ! Não tentes nada e cuidado 
que esse facão corta uma barbariiidaaade, tchê. Passa as pilas prá cá ! Trilegal! Agora, te mandas, senão o 
quarenta e quatro fala." 
 
Assaltante de Brasília 
 
"Companheiros, estou aqui no horário nobre da TV para diz er que no final do mês, aumentaremos as 
seguintes tarifas: energia, água, esgoto, gás, passagem de ônibus, imposto de renda, licenciamento de 
veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, IPTU, IPVA, IPI, ICMS, PIS, Cofins." 
 
 
 
CONCEITUAÇÃO DE TEXTO 
 
O texto é uma manifestação linguística produzida por alguém, em alguma situação concreta 
(contexto), com alguma intenção. Independentemente de sua extensão, o texto deve dar a sensação de 
completude, do contrário não será um texto. 
 
Além da noção de completude, sete fatores são responsáveis pela textualidade (conjunto de 
características que fazem de um texto um texto e não um amontoado de frases): 
 
13 
 
 fatores pragmáticos1 – intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e 
intertextualidade – dizem respeito aos fatores contextuais que determinam os usos linguísticos nas 
situações de comunicação e contribuem para a construção do sentido do texto: 
 intencionalidade: é a manifestação da intenção, do objetivo do emissor numa determinada situação 
sociocomunicativa; 
 
 aceitabilidade: é a expectativa que o leitor manifesta de que o texto com que se defronta seja 
coerente, coeso, útil, relevante; 
 
 situacionalidade: pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que ocorre. Ela orienta 
tanto a produção quanto a recepção de textos; 
 
 informatividade: diz respeito à taxa de informação do texto. Ela depende da situação, do público, 
das intenções; 
 
 intertextualidade: refere-se ao diálogo entre textos. A produção e compreensão de textos dependem 
do conhecimento de outros textos. 
 
Exemplificando: Canção do exílio facilitada 
lá? 
ah! 
sabiá... 
papá... 
maná... 
sofá... 
sinhá... 
cá? 
bah! 
(José Paulo Paes) 
 
Esse texto pode parecer um amontoado de palavras sem sentido se o leitor não perceber as 
intenções do autor, se não aceitá-lo como um texto coerente. Mas, para isso, ele deve ter em seu repertório 
a informação de que este texto refere-se a outro (dialoga com outro) do Romantismo brasileiro – Canção do 
exílio, de Gonçalves Dias – e dirige-se a leitores de um tempo moderno, caracterizado pela pressa, daí seu 
título. 
 
 fator semântico conceitual – dele depende a coerência do texto; 
 
 fator formal – diz respeito à coesão textual (corresponde à superfície linguística do texto). 
 
Como você viu, um texto vai além de sua superfície linguística e pressupõe um comunicador atento 
a todas as suas dimensões. Em seguida, vamos tratar com maior profundidade os dois últimos fatores: o 
semântico conceitual e o formal. 
 
1. COERÊNCIA (ou fator semântico conceitual) 
 
A coerência é o resultado de processos cognitivos, relações de sentido, conhecimentos partilhados, 
condições operantes entre os usuários – emissor e destinatário – e não apenas um traço constitutivo dos 
textos. 
 Para ser coerente, um texto deve: 
 
 manter o mesmo tema; 
 
 trazer sempre uma informação nova; 
 
 
1 Pragmático: Suscetível de aplicações práticas; voltado para a ação; relativo à pragmática (estudo dos 
fatores contextuais que determinam os usos linguísticos nas situações de comunicação). 
Por exemplo, alguém sai correndo de um edifício e grita: “Fogo!” Percebe-seque nessa circunstância a 
palavra “fogo” adquire um significado diferente de uma mera referência a um processo de combustão. A 
interpretação será de que há um incêndio naquele prédio e a pessoa está querendo alertar outras e, se 
possível, conseguir ajuda. Logo, nessa situação específica, a palavra “fogo” é um texto. 
14 
 
 não ser contraditório; 
 
 ter um valor de verdade que possa ser percebido e aceito por sua organização. 
 
A realização da coerência condiciona-se à adequação entre os elementos cognitivos ativados pelas 
palavras e o universo de referência do texto. 
Veja este exemplo: Os leões subiram as montanhas geladas e puseram-se a perseguir a foca. Os 
esquimós os chamavam por seus nomes. As feras corriam sobre o gelo, protegendo-se com suas garras 
para não cair. Quando estavam prestes a alcançá-la, a foca alçou voo. (In: GUIMARÃES, Elisa. A 
articulação do texto. São Paulo: Ática, 1990. p. 39) 
Se considerarmos o “mundo normal”, a incoerência do texto decorre da incompatibilidade entre 
aquilo que ele descreve e os fatos da realidade: os leões não habitam territórios gelados, os esquimós não 
se utilizam desses animais para caçadas, nem as focas voam. No entanto, inserido num contexto ficcional 
fantástico, o mesmo texto teria a coerência própria (o valor de verdade) desse tipo de contexto. Como se 
trata do “mundo normal”, teria de haver a consonância entre os referentes textual e externo (situacional) em 
que repousa a coerência. 
A coerência também é representada pela organização linear das sequências e pela ordenação 
temporal relativa aos fatos descritos. Nas seguintes frases, só a primeira é coerente: 
A menina despediu-se da mãe, disse o dia da sua volta, tomou o táxi e partiu. 
A menina partiu, despediu-se da mãe, tomou o táxi e disse o dia da sua volta. 
 
1 - Se houver incoerências neste texto, aponte-as: 
 
“João Carlos vivia em uma pequena casa construída no alto de uma colina árida, cuja frente dava 
para o Leste. Desde o pé da colina se espalhava em todas as direções, até o horizonte, uma planície 
coberta de areia. Na noite em que completava 30 anos, João, sentado nos degraus da escada à frente de 
sua casa, olhava o sol poente. E observava como a sua sombra ia diminuindo no caminho coberto de 
grama. De repente, viu um cavalo que descia para a sua casa. As árvores e a folhagem não lhe permitiam 
ver distintamente; entretanto observou que o cavalo era manco. Ao olhar mais de perto verificou que o 
visitante era seu filho Guilherme, que havia 20 anos partira para alistar-se no exército, e, em todo esse 
tempo, não tinha dado sinal de vida. Guilherme, ao ver o pai, desmontou imediatamente, correu até ele, 
lançando-se nos seus braços e começando a chorar. (In Koch, Ingedore & Travaglia, Luiz Carlos. A 
coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990). 
 
2 – Este texto, para você, é incoerente? Por quê? 
 
“Com gemas para financiá-lo, nosso herói desafiou valentemente todos os risos desdenhosos que 
tentaram dissuadi-lo de seu plano. ‘Os olhos enganam’, disse ele, ‘um ovo e não uma mesa tipificam 
corretamente este planeta inexplorado’. Então as três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de provas, 
abrindo caminho, às vezes através de imensidões tranquilas, mas amiúde através de picos e vales 
turbulentos. Os dias se tornaram semanas, enquanto os indecisos espalhavam rumores apavorantes a 
respeito da beira. Finalmente, sem saber de onde, criaturas aladas e bem-vindas apareceram anunciando 
um sucesso prodigioso. (In: “Effects of comprehension on retention of prose”, Journal of experimental 
Psychogy, apud Kleiman, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1992. 
p.21). 
 
3 – Leia o texto seguinte e indique o que, à primeira vista, o torna incoerente e, por isso, causa o 
efeito de humor. 
 
A vaguidão específica 
 
“As mulheres têm uma maneira de falar 
que eu chamo de vago-específica.” 
(Richard Gehman) 
 
— Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. 
— Junto com as outras? 
— Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com 
elas. Ponha no lugar do outro dia. 
— Sim senhora. Olha, o homem está aí. 
— Aquele de quando choveu? 
— Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. 
15 
 
— Que é que você disse a ele? 
— Eu disse para ele continuar. 
— Ele já começou? 
— Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. 
— É bom? 
— Mais ou menos. O outro parece mais capaz. 
— Você trouxe tudo para cima? 
— Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar 
até a véspera. 
— Mas traga, traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada 
e ele reclama como na outra noite. 
— Está bem, vou ver como. 
(Fernandes, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. São Paulo: Abril Cultural, 1973) 
 
 
FIXAÇÃO 
 
Exercícios 
 
1) A maneira como certos textos são escritos pode produzir efeitos de incoerência, como no exemplo: 
 
“Zélia Cardoso de Mello decidiu amanhã oficializar sua união com Chico Anysio”. (A Tarde, Salvador, 
16/9/94). É o que ocorre no trecho a seguir: 
 
 “As Forças Armadas brasileiras já estão treinando três mil soldados para atuar no Haiti depois da retirada 
das tropas americanas. A Organização das Nações Unidas (ONU) solicitou o envio de tropas ao Brasil e a 
mais quatro países”, disse ontem o presidente da Guatemala, Ramiro de Léon. (O Estado de S.Paulo, 
24/9/94). 
 
a) Qual o efeito de incoerência presente nesse texto? 
b) Do ponto de vista sintático, o que provoca esse efeito? 
c) Reescreva o trecho, introduzindo apenas as modificações necessárias para resolver o problema. 
 
2) (Fuvest 99) O cheque em branco que o eleitor passa ao eleito é alto demais, faz parte da condição 
mesma de o candidato expor-se ao escrutínio público e abrir mão de uma série de prerrogativas, entre elas 
a privacidade. (Folha de S.Paulo, 3/9/98). 
 
Há algum problema na expressão “alto demais”, dado o contexto linguístico em que ela ocorre? Justifique 
sua resposta. 
 
3) (Puccamp-SP) Identifique a alternativa em que o pensamento é formulado de forma contraditória: 
 
1) O compositor Pestana expirou naquela madrugada, às quatro horas e cinco minutos, bem com os 
homens e mal consigo mesmo. 
2) Na falta de alternativas, acabou optando pela que lhe pareceu a mais barata: passar as férias com os 
pais. 
3) “Nem vem que não tem”, disse-me o menino ressabiado, pensando que eu fosse algum agente do 
Juizado. 
4) Há males que vêm para bem: a gripe que me obrigou ao repouso deu-me a oportunidade de descobrir 
Cervantes. 
 
4) (FGV-SP) A seguir, temos o primeiro período de um texto. Os demais períodos estão alinhados sem 
ordem alguma. Organize-os em uma sequência lógica, de forma a completar o sentido do primeiro. Na 
resposta indique, por meio de números, a ordem lógica em que devem dispor-se os períodos. 
 
Primeiro período 
A costarriquenha Eleonora Odio e o americano George E. Hill fazem parte de um grupo especial de 
pessoas. 
 
1. Mas eles são mais do que viajantes contumazes. 
2. Essa equipe é o embrião da BCP Telecomunicações, futura operadora da telefonia celular na região 
metropolitana de São Paulo. 
16 
 
3. Eles são membros de uma equipe formada pela americana BellSouth para dar conta de uma missão no 
Brasil. 
4. O que Hill e Eleonora têm em comum é um perfil de globe-trotter. 
5.No mundo dos negócios, isso significa ter aptidão para comunicar-se de modo eficiente mundo afora, a 
ponto de treinar equipes num país estranho, com língua diferente da sua. 
6. “São profissionais com capacidade para atravessar a barreira do etnocentrismo e serem aceitos”, diz 
Roberto Péon, presidente da BPC. 
 
 
2. COESÃO (ou fator formal) 
 
A coesão, efeito da coerência,manifesta-se no plano linguístico e constrói-se por meio de 
mecanismos gramaticais e lexicais. 
 
 Mecanismos gramaticais: o conhecimento da gramática nos auxilia a produzir textos coesos. 
Entre alguns dos recursos gramaticais que auxiliam a coesão estão os pronomes, conjunções, 
pontuação, crase, advérbios, a elipse, a concordância, a correlação entre os tempos verbais, a 
colocação das palavras na frase, a pontuação etc. 
 
 Mecanismos lexicais: a coesão lexical se dá, entre outros processos, pela reiteração, pela 
substituição e pela expansão lexical. 
 
 reiteração: repetição do mesmo item lexical; 
 
 substituição: inclui a sinonímia, a antonímia, a hiponímia e a hiperonímia e os nomes genéricos 
(coisa, negócio, gente, pessoa, lugar); 
 
 expansões lexicais: trazem para o texto novas informações sobre o termo substituído, marcando 
também o posicionamento ideológico do enunciador, pois as palavras não são neutras, manifestam 
intenções. Ex.: João Paulo II esteve em Varsóvia. Na capital da Polônia, o sumo Pontífice disse que 
a Igreja continua a favor do celibato clerical. // João Paulo II esteve em Varsóvia. Na cidade do 
odioso gueto, o mais recente aliado do capitalismo disse que a Igreja continua a favor dessa 
excrescência que é o celibato clerical. 
 
O texto abaixo, publicado na primeira página de um jornal de bairro da Zona Sul de São Paulo logo 
após os resultados do primeiro turno para eleição do prefeito da cidade, em 2000, exemplifica aspectos da 
coerência e coesão: 
 
“Os dois mais votados agora procuram adeptos para somarem votos. Na verdade àqueles que votaram no 
Alckmin e no Tuma, com certeza, vão votar no Maluf, pois pertencem a uma classe que não querem o 
comunismo ou, pelo menos, que o prefeito seja conduzido pelos princípios que regem as diretrizes do PT. 
Até na Rússia por terem sofrido barbaridades, impostas pelo sistema do comunismo, massacrante, 
autoritário, sem qualquer liberdade, o muro da vergonha foi derrubado, demonstrando a insatisfação de um 
povo sofredor, mas que mesmo assim até hoje sentem os reflexos do sistema.” 
 
Esse texto não apresenta coerência porque não trata de um único assunto nem a informação da 
introdução foi desenvolvida (portanto não houve progressão semântica), houve, também, uma informação 
que contraria nosso conhecimento do mundo: o Muro da Vergonha ficava em Berlim (Alemanha) e não na 
Rússia. No plano linguístico, faltou-lhe coesão, pois a crase no àqueles não remete a nada e não há 
correlação entre os termos pertencem/ querem/ classe; terem sofrido/ sentem/ povo. No segundo período, 
terem sofrido não tem sujeito explícito, portanto o muro da vergonha é o sujeito dessa oração reduzida e o 
mas e o mesmo assim marcam uma relação que não existe. Conclusão: texto(?) mal-estruturado, que 
jamais deveria ter sido publicado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
FIXAÇÃO 
 
Exercícios 
 
1) Reescreva estes trechos, realizando a coesão seja no nível lexical, seja no gramatical: 
 
a) A deputada parecia nervosa. A deputada havia sido vítima de um assalto. 
 
b) O menino entrou depressa no supermercado. O menino parecia estar fugindo de alguém. 
 
c) A Enterprise partiu da estação espacial com toda a tripulação. A Enterprise faria mais uma viagem 
intergalática. 
 
d) As revendedoras de automóveis estão equipando cada vez mais os automóveis para vender os 
automóveis mais caro. O cliente vai à revendedora de automóveis com pouco dinheiro e, se tiver de pagar 
mais caro pelo automóvel, desiste de comprar o automóvel, e as revendedoras de automóveis têm prejuízo. 
(in: ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1990.). 
 
e) Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo e até há pouco nenhum oceanógrafo 
ou biólogo era capaz de explicar por que as baleias encalham nas praias do mundo. Segundo uma hipótese 
corrente, as baleias se suicidariam ao pressentir a morte, em razão de uma doença grave ou da própria 
idade, ou seja, as baleias praticariam uma espécie de eutanásia instintiva. Segundo outra hipótese corrente, 
as baleias se desorientariam por influência de tempestades magnéticas ou de correntes marinhas. 
 
f) A multimídia é uma tecnologia que combina sons, imagens e textos. No futuro a multimídia apresentará 
recursos ainda mais sofisticados. Os preços dos equipamentos de multimídia tendem a ficar cada vez 
menores. Os preços dos equipamentos de multimídia continuarão inacessíveis para a maioria da população 
brasileira. O poder aquisitivo da maioria da população brasileira é baixo. 
 
g) A jubarte é uma baleia que mede até 15 metros de comprimento. Ela chega a pesar 45 toneladas. Ela 
está ameaçada de extinção. Ela passou a ser vista no arquipélago de Abrolhos. O arquipélago de Abrolhos 
fica ao sul do litoral da Bahia. 
 
2) Corrija os defeitos de coesão que aparecem nestas frases: 
 
a) Conheci Maria Elvira, onde me amarrei. 
 
b) Ele sempre foi bom, porém honesto. 
 
c) Os alunos não entenderam todos os assuntos. Assuntos estes que foram aprofundados. 
 
d) Todos querem uma vaga na USP, mesmo sabendo que a USP faz exames de seleção rigorosos. 
 
e) Eles fugiam da polícia. A polícia foi mais rápida e prendeu eles. 
 
f) Há um grande número de pessoas que não entendem e não se interessam por política. 
 
g) Lembrou-se que havia um bilhete. Bilhete este que desaparecera entre os velhos papéis da escrivaninha. 
 
3) Os pronomes demonstrativos são alguns dos elementos que promovem coesão num texto. Preencha os 
espaços com aquele adequado ao contexto: 
 
Crianças escravizadas 
 
Explorar o trabalho de uma criança é sempre muito ruim. Mesmo assim, existem trabalhos infantis 
que são considerados piores. 
É o caso de crianças que são usadas como escravas junto com suas famílias. 
Os donos de fazendas e empresas que fazem _________ cobram a comida e o aluguel dos 
trabalhadores. Mas o dinheiro cobrado pela alimentação e moradia é sempre maior do que o salário que 
__________ fazendeiros pagam para ___________ pessoas. 
18 
 
____________ condições, os trabalhadores ficam sempre devendo. Para piorar, os fazendeiros não 
deixam ninguém ir embora. Quem tenta fugir e não consegue apanha. Do mesmo modo que os antigos 
senhores de engenho do Brasil tratavam seus escravos. (FOLHINHA, Folha de S. Paulo, 28/2/98). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
CAPÍTULO 02 – GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS 
 
 
“Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de 
criá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos 
enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível.” (Mikhail Bakhtin. Estética da criação 
verbal). 
 
 OS GÊNEROS TEXTUAIS 
 
Gêneros são entidades sociodiscursivas altamente maleáveis, dinâmicas, plásticas que surgem, 
situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. Os gêneros orientam tanto o 
autor na produção, quanto o leitor na interpretação. Dessa definição do linguista russo Bakhtin, depreende-
se que: 
 
 como estão inseridos no fluxo histórico, os gêneros modificam-se constantemente, morrem e 
surgem em função, por exemplo, de inovações tecnológicas. Assim, até antes de o computador ser 
inventado, não havia o gênero e-mail ou o gênero infografia; 
 
 os gêneros têm uma função dentro da sociedade e representam uma grande economia, pois são 
reconhecidos pelos interlocutores por suas características. Por exemplo, qualquer um sabe que 
uma receita não é um poema, que não é um romance, que não é uma notícia de jornal, que não é 
um requerimento, que não é um texto publicitário e assim por diante; 
 
 os gêneros têm três dimensõesessenciais à sua caracterização: tema (conteúdo), estilo 
(configurações específicas das unidades de linguagem) e composição (estrutura particular do texto, 
relaciona-se com a finalidade extralinguística do texto: didática, publicitária, jornalística, etc.) 
 
É importante saber que cada gênero trabalha com a tipologia textual que lhe é mais adequada, 
assim, por exemplo: uma notícia vai trabalhar sobretudo com a narração e a descrição; um artigo de jornal, 
com a argumentação; um texto publicitário, com a injunção (ordem); uma conferência, com a exposição... 
 
A TIPOLOGIA TEXTUAL: descrição, narração, exposição e argumentação 
 
Descrição 
Descrever é recriar imagens sensoriais na mente do leitor: o enunciador percebe o objeto através de seus 
cinco sentidos e sua imaginação criadora “traduz” em palavras o objeto com riqueza de detalhes, minuciosa 
e inventivamente. Observe o esquema: 
 
Percepção 
 
Sujeito (aquele que percebe) Objeto (aquilo que é percebido) 
 
Base sensorial 
 
Imaginação criadora (visão, audição, olfação, gustação, tato) 
 
Exemplos: 
 
“A faca desce macia, cortando sem esforço o pedaço de picanha. Dourada e crocante nas bordas, tenra e 
úmida no centro. Você põe a carne na boca e mastiga devagar, sentindo o tempero, a maciez, a 
temperatura. O sumo que escorre dela enche a boca e, com ele, o sabor incomparável. Carne é bom. 
Mas que tal assistir à mesma cena de outra perspectiva? No prato jaz um pedaço de músculo, amputado da 
região pélvica de um animal bem maior que você. Com a faca, você serra os feixes musculares. A seguir, 
coloca o tecido morto na boca e começa a dilacerá-lo com os dentes. As fibras musculares, células 
comprimidas – de até 4 centímetros – e resistentes, são picadas em pedaços. Na sua boca, a água (que 
ocupa até 75% da célula) se espalha, carregando organelas celulares e todas as vitaminas, os minerais e a 
abundante gordura que tornavam o músculo capaz de realizar suas funções, inclusive a de se contrair. Sim, 
meu caro, por mais que você odeie pensar que a comida no seu prato tenha sido um animal um dia, você 
está comendo um cadáver.” (Superinteressante, abril de 2002.). 
20 
 
“Fui também recomendado ao Sanches. Achei-o supinamente
2
 antipático: cara extensa, olhos rasos, 
mortos, de um pardo transparente, lábios úmidos, porejando baba, meiguice viscosa de crápula
3
 antigo. 
Primeiro que fosse do coro dos anjos, no meu conceito era a derradeira das criaturas.” (Raul Pompeia) 
 
“Lá vem ele. E ganjento
4
, pilantra: roupinha de brim amarelo, vincada a ferro; chapéu tombado de banda, 
lenço e caneta no bolsinho do jaquetão abotoado; relógio de pulso, pegador de monograma na gravata 
chumbadinha de vermelho.” (Mário Palmério). 
 
Depois da leitura dos textos, você percebeu que o ato de descrever exige percepção e imaginação criadora. 
Só existe uma boa descrição a partir da percepção do objeto. É preciso, portanto, desenvolver a acuidade 
sensorial, ativando sentidos às vezes adormecidos, anestesiados por uma civilização predominantemente 
audiovisual. Somente uma percepção aguçada permite revelar facetas novas do objeto descrito. 
 
 
Narração 
 
O texto narrativo conta uma história. A narração é um relato de fatos vividos por personagens e 
ordenados numa sequência lógica e temporal, por isso ela caracteriza-se pelo emprego de verbos de ação 
que indicam a movimentação das personagens no tempo e no espaço. A estrutura narrativa compõe-se das 
seguintes sequências: apresentação, complicação, clímax, desfecho. 
Se os fatos se apresentarem nessa ordem acima exposta, o enredo será linear; do contrário, será 
alinear. 
 
Os morangos 
 
A vizinha espiou por cima do muro. 
— Bom dia, seu Agenor! 
— Bom dia. 
— Que lindos estão esses morangos, que maravilha! 
(...) 
— O senhor não colhe, seu Agenor? Estão no ponto. 
— Não gosto de morangos. 
— Que pena, aqui em casa somos todos loucos por morangos. As crianças, então, nem se diga. Se 
não colher, vão apodrecer no pé, uma judiação. 
— É. 
— Se o senhor não se incomodasse eu colhia um pouco, já que o senhor não gosta de morangos. 
— Com licença, preciso pegar o ponto na repartição. 
— À vontade, seu Agenor, mas... e os morangos? 
— Não prestam para comer, têm gosto de terra. 
— Pena, tão lindos! 
Saiu para a repartição. Voltou à noite. O luar batia em cheio no canteiro de morangos. Acercou-se 
em silêncio. Estavam bonitos mesmo. De dar água na boca. Pena que não se pudessem comer. Suspirou 
fundo. 
Mariana, tão linda. Linda como uma flor. Mas tão desleixada, tão preguiçosa. Comida malfeita, 
roupa por lavar, pratos gordurosos. E aquele gênio! Sempre descontente, exigindo tudo o que não lhe podia 
dar, espezinhando-o diariamente pelo seu magro ordenado. 
Fora realmente uma gentil ideia plantar os morangos depois que a enterrara no jardim. 
(Giselda Laporta Nicolelis) 
 
 
Exposição 
 
O texto expositivo é de natureza dissertativa. Trata-se da apresentação, explicação ou constatação, 
de maneira impessoal, sem julgamento de valor e sem o propósito de convencer o leitor. 
 
 
 
A formação da mensagem – Muniz Sodré 
 
2 Supinamente: Em alto grau; demasiadamente, excessivamente. 
3
 Crápula: Indivíduo devasso, desregrado, libertino. 
4
 Ganjento: Vaidoso, presumido, enganjento. 
21 
 
 
De um modo geral, a mensagem da televisão – assim como a do rádio – visa a uma universalidade 
(atingir todo e qualquer receptor indistintamente) que, mal compreendida, pode levar o veículo a uma 
relação falsa com o grupo social. A tv é levada a tratar como homogêneos fenômenos característicos de 
apenas alguns setores da sociedade. A busca de um suposto denominador comum, que renda o máximo de 
aceitação por parte do público, preside à elaboração da mensagem. O êxito de um programa é aferido pelo 
índice de audiência: quanto maior o público, maior o sucesso. 
Essa necessidade de padronizar o conteúdo do veículo segundo um índice optimum de aprovação 
do público condiciona necessariamente a formação da mensagem. Isso é demonstrável na Teoria da 
Informação: quanto menor é a taxa matemática de informação de uma mensagem (e maior, portanto, a 
redundância), maior a sua capacidade de comunicação. Comunicação aqui é empregada em seu sentido 
técnico: não se trata de um ideal de ordem humana ou social, mas da recepção e decodificação da 
mensagem por um indivíduo qualquer. Quanto mais os signos da mensagem (os elementos culturais de um 
programa de televisão, por exemplo) forem familiares ao público, por já constarem de seu repertório, maior 
será o grau de comunicação. 
O que aconteceria se um comunicador (a tv, por exemplo) tentasse transmitir uma mensagem a um 
público amplo e heterogêneo (composto por diferentes classes sociais, níveis de instrução e faixas etárias) 
sem atentar, na sua formação, para o nível comum de entendimento? Certamente a mensagem só seria 
decodificada ou aceita pela parte do público que conhecesse o código do comunicador, ou seja, que 
participasse da mesma estrutura cultural. 
Suponhamos que a televisão pretendesse, a título de serviço público, esclarecer o povo sobre os 
perigos da falta de higiene doméstica e de limpeza urbana para a saúde nacional. Se a tv utilizasse 
argumentos puramente técnicos (de ordem médico-sanitária, sociológica, etc.), a mensagem seria 
provavelmente entendida por uma boa parcela da população culta, a detentora do código segundo o qual se 
organizou a mensagem. Mas os outros setores da população ficariam impermeáveis à campanha. 
O comunicador poderia, então, elaborar uma nova mensagem em termos mais acessíveis. A nova 
mensagem, embora mais efetiva em comunicação, seria certamente mais pobre em informação por omitir 
dados científicos (difíceis, mas necessários à corretaapreciação do problema) desconhecidos da 
população. Mas figuremos uma terceira hipótese: a mensagem não atingiu a população inteira. 
O comunicador poderia criar, agora, um slogan (algo como Higiene é Saúde), cujos termos fossem 
acessíveis até aos analfabetos. Esse slogan sintetiza a mensagem original, mas a esvazia de sua força 
informativa. Já viram o que acontece quando se joga uma pedra num lago? Formam-se círculos 
concêntricos, cada vez maiores à medida que se espalham. No processo de comunicação, dá-se 
exatamente o movimento inverso: a mensagem original é um grande círculo que tende a reduzir-se para se 
espalhar. Na televisão, como a norma geral é atingir o maior público possível, as mensagens são 
empobrecidas ou reduzidas ao suposto denominador comum. 
 
 
Argumentação 
 
O texto argumentativo também é de natureza dissertativa. Ele consiste na apresentação, explicação 
ou constatação de um fato para: 
a) convencer o leitor através de um raciocínio lógico, consistente e baseado na evidência das provas; 
b) persuadir o leitor através da emoção. 
 
APROVEITE EM EXCESSO. FUME COM MODERAÇÃO. Ninguém tem o direito de fazer suas escolhas por 
você. É isso que chamam de liberdade. O ideal mais importante na vida de qualquer um.Free sempre 
acreditou nisso, respeitando os mais diversos estilos, opiniões, atitudes. Cada um na sua. Então seja livre 
para fazer o que quiser: cante, ame, dance, crie, apaixone-se, sonhe, aproveite tudo em excesso. E se você 
decidiu fumar, por que não com moderação? A decisão é sua. Só não deixe de ser quem você é, seja você 
quem for. 
 
Uma questão de ser Free. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
REDAÇÃO: 
QUADRO-RESUMO 
MODALIDADES 
DESCRIÇÃO NARRAÇÃO DISSERTAÇÃO 
Características Situa seres e objetos no 
espaço (fotografia). 
Situa seres e objetos no 
espaço (história). 
Discute um assunto, 
apresentando pontos de 
vista e “juízos de valor”. 
Introdução A perspectiva do observador 
focaliza o ser ou objeto, 
distingue seus aspectos 
gerais e os interpreta. 
Apresenta as 
personagens, 
localizando-as no tempo 
e no espaço. 
Apresenta a síntese do 
ponto de vista a ser 
discutido (tese). 
Desenvolvimento Capta os elementos numa 
ordem coerente com a 
disposição em que eles se 
encontram no espaço, 
caracterizando-os objetiva e 
subjetivamente, física e 
psicologicamente. 
 
Através das ações das 
personagens, constrói-
se a trama e o 
suspense, que culminam 
no clímax. 
 
Amplia e explica o 
parágrafo introdutório. 
Expõe argumentos que 
evidenciam posição 
crítica, analítica, 
reflexiva, interpretativa, 
opinativa sobre o 
assunto. 
Conclusão Não há procedimento 
específico. Considera-se 
concluído o texto quando se 
completa a caracterização 
 
Existem várias maneiras 
de concluir uma 
narração. Esclarecer a 
trama é uma delas 
Retoma sinteticamente 
as reflexões críticas ou 
aponta as perspectivas 
de solução para o que 
foi discutido. 
Recursos Uso dos cinco sentidos, que, 
combinados, produzem a 
sinestesia. Adjetivação farta, 
verbos de estado, 
comparações. 
Verbos de ação, 
geralmente no tempo 
passado; narrador 
personagem, observador 
ou onisciente; discurso 
direto, indireto e indireto 
livre. 
Linguagem referencial, 
objetiva; evidências, 
exemplos, justificativas e 
dados. 
O que se pede Sensibilidade para combinar 
e transmitir sensações 
físicas – cores, formas, 
sons, gostos, odores – e 
psicológicas – impressões 
subjetivas, comportamentos. 
Pode ser redigida em um 
único parágrafo. 
Imaginação para compor 
uma história que 
entretenha o leitor, 
provocando expectativa 
e tensão. Pode ser 
romântica, dramática, 
humorística... 
Capacidade de 
organizar ideias 
(coesão), conteúdo para 
discussão (cultura 
geral), linguagem clara, 
objetiva, vocabulário 
adequado e 
diversificado. 
 
OBSERVAÇÃO: Ao elaborar seus textos, lembre-se de que sua comunicação será muito mais eficiente se 
você observar as seguintes condições: 
 
 conheça com razoável profundidade aquilo sobre o que vai falar (leia, pesquise, discuta...); 
 
 conheça seu receptor, para adequar a ele sua linguagem. Trata-se de saber a posição do outro, 
usar a linguagem e o nível adequados à hierarquia; 
 
 conheça e domine as possibilidades e as regras do código por meio do qual você vai expressar-se; 
 
 escolha o canal mais eficiente para enviar sua mensagem. 
 
Lembre-se, no entanto, de que ruídos21 na comunicação podem comprometer a mensagem. Para 
combatê-los existe a redundância, também conhecida como saber partilhado. Trata-se do fenômeno que 
não traz informação nova à mensagem, mas garante sua eficácia. Os meios de comunicação de massa, por 
exemplo, primam pela redundância, pois, para atingir um público amplo e heterogêneo e conquistar o 
máximo de audiência, evitam soluções originais preferindo trabalhar com elementos previsíveis, que fazem 
parte do repertório desse público (saber partilhado). 
No entanto, quando a redundância é exagerada, ao invés de garantir a eficácia da mensagem, torna 
o texto prolixo22, repetitivo, sem coesão. 
 
 
 
23 
 
CAPÍTULO 03 – O TEXTO DESCRITIVO 
 
 
Descrição de ambiente 
 
1. Tentando ativar a percepção, procure registrar livremente todos os sons e ruídos que estão ocorrendo. 
2. Registre, agora, os cheiros que esteja sentindo ou de que possa lembrar-se. 
3. ... e os gostos. 
4. Descreva, em seguida, as formas que enxerga ao seu redor. 
5. Que cores essas formas têm? 
6. Que diferentes sensações táteis tais formas apresentam? 
7. Organize um texto que seja a descrição de uma feira livre 
 
 
SESSÃO LEITURA 
 
“Vivem dentro, mesquinhamente, vergônteas estioladas de famílias fidalgas, de boa prosápia 
entroncada na nobiliarquia lusitana. Pelos salões vazios, cujos frisos dourados se recobrem de pátina, e 
cujo estuque, lagarteado de fendas, esboroa a força de goteiras, erra o bafio da morte. Há nas paredes 
velhos quadros, crayons, moldurando efígies de capitães-mores de barba em colar; há candelabros de 
dezoito velas, esverdecidos em azinavre; mas nem se acendem as velas, nem se guardam mais os nomes 
enquadrados. E por tudo se agruma o bolor râncido da velhice. São palácios mortos, da cidade morta.” 
 
(Monteiro Lobato) 
 
“De fato, o espetáculo era excepcional. 
O céu, dividido entre a noite e o alvorecer, preto-azulado do oeste até o zênite, branco-perolado no Oriente, 
estava inteiramente tomado pela mais fabulosa arquitetura de nuvens que se podia imaginar. A brisa 
noturna que construíra esse gigantesco canteiro de obras de palácios, colunatas, torres e geleiras tinha-se 
ido, deixando tudo em desordem, numa imobilidade e num silêncio solenes que serviam de pedestal à 
aurora. A crista mais alta de um cúmulo descabelado pelo vento já estava sendo tocada por um pincel 
amarelo, primeiro farol do dia no frontão da noite que terminava, enquanto nas regiões mais baixas as 
nuvens ainda estavam mergulhadas numa penumbra difusa, perfurada por desfiladeiros, picos, formando 
fileiras de escarpas e precipícios azuis, campos de neve noturnos, correntes de lava violenta. Todo o céu 
estava possuído por uma energia contínua, parecia a presa de um caos imóvel, o teatro de um 
desabamento cristalizado; sobre o mar diáfano e sem rugas, tudo estava em suspenso, à espera do dia.” 
 
(Simon Leys) 
 
 
“Maravilha de ruído, encantamento do barulho. Zé Pereira, bumba, bumba. Falsetes azucrinam, 
zombeteiam. Viola chora e espinoteia. Melopeia negra, melosa, feiticeira, candomblé. Tudo é instrumento, 
flautas, violões, reco-recos, saxofones, pandeiros, liras, gaitas e trombetas. Instrumentos sem nome 
inventados subitamente no delírio da improvisação, do ímpeto musical. Tudo é canto. Os sons se sacodem, 
berram, lutam, arrebentam no arsonoro dos ventos, vaias, klaxons, aços estrepitosos. Dentro dos sons 
movem-se cores, vivas, ardentes, pulando, dançando, desfilando sob o verde das árvores, em face do azul 
da baía no mundo dourado. Dentro dos sons e das cores, movem-se os cheiros, cheiro de negro, cheiro de 
mulato, cheiro branco, cheiro de todos os matizes, de todas as excitações e de todas as náuseas. Dentro 
dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais, suaves, lúbricos, meigos, alucinantes. Tatos, sons, 
cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre, de mendubim, de castanhas, de bananas, de laranja, de 
bocas e de mucosas. Libertação dos sentidos envolventes das massas frenéticas, que maxixam, gritam, 
tresandam, deslumbram, saboreiam, de Madureira à Gávea na unidade do prazer desencadeado.” 
 
(Graça Aranha) 
 
Brasileiro 
Lá está ele: figura arcada pelo trabalho pesado. Seus olhos são fundos, cansados, cercados pela marca do 
tempo. Suas roupas são simples, surradas, suadas. Tem no bolso um volante da loto, a carteira de trabalho 
e alguns trocados. Nas mãos, ásperas e grossas, traz uma marmita vazia, outrora cheia de quase nada. 
Não se segura a nada, já tão acostumado ao vaivém do trem da sua vida. Ele mal respira, espremido por 
entre cópias de si próprio. Não se comunica, como se já não tivesse forças sequer para reclamar. Seu olhar 
é vazio, sinal do cansaço da desesperança de não ter esperança. 
24 
 
Lá está ele, de olhar fixo em lugar algum, sem aparentemente nada pensar, nada almejar. Talvez, vez por 
outra, pense simplesmente em chegar para se completar mais uma vez o ciclo de sua vida quase sem vida. 
Lá está ele, o brasileiro, em mais um trem, em mais uma volta, de olhar vazio, sem nada esperar, a não ser 
a volta do dia seguinte. 
(José Ramon) 
 
 
“Quem prefere os rostos ingênuos de Renoir e as formas perfeitas de Michelangelo, o ser humano como 
anjo recriado, não aceita a crueza de Lucien Freud. Ele não mais usa o acabamento que dá à pele o frescor 
rosado. Sua pintura representa a carne passada: busto caído, traseiro murcho, pregas na barriga, coxas 
flácidas, profusos pêlos púbicos, pernas e braços queimando óleo 60, rostos arruinados por manchas e 
marcas. Gente castigada pela vida dura. O toque de pigmento oleoso nessas telas é mínimo, deixando cada 
corpo exibir sua sensualidade inerente: chega-se a imaginar o odor natural, a transpiração, o anseio 
animal.” 
(Sônia Nolasco, O Estado de S.Paulo, 8/12/1993) 
 
 
Descrição de tipos 
 
“A familiaridade engendra a indiferença.” 
(Aldous Huxley) 
 
Além de descrever um objeto, pessoa, ambiente..., você pode trabalhar criativamente fundindo gêneros 
textuais diferentes. Veja o efeito nos textos abaixo. 
 
1. O Despertar do Burocrata 
 
O burocrata acorda e abre a boca, segundo ordena o RIPD (Regras Imediatas para o Despertar). 
Confere os botões do pijama, vê que está faltando um, anota a quantia deles numa folha ao lado, data, 
assina e carimba. Tranca-se no banheiro, até que se forma lá fora uma fila imensa (mulher, empregada e 
cinco filhos) que começa a se agitar. O burocrata dá um sorriso (ele só consegue rir diante de filas 
insatisfeitas). A mulher grita “escova os dentes” e ele escova, “toma banho” e ele toma (o burocrata adora 
cumprir ordens). Confere o número de furos do chuveiro, anota, data, assina e carimba. Senta-se à mesa da 
copa, também chamada de RDPD (Repartição Doméstica do Pão Diário), lê seu jornal predileto (o Diário 
Oficial) e encaminha um ofício à empregada solicitando um pedaço de pão com manteiga. A manteiga vem 
estragada e imediatamente é instaurado um inquérito administrativo. Em seguida ele palita os dentes (com 
o palito confere o número de molares e caninos, anota, data, assina e carimba). Deixa com a esposa o 
dinheiro — também chamado de previsão orçamentária — do dia: cinco cruzeiros (o burocrata é 
notoriamente um pão-duro). A mulher quer beijá-lo, mas ele olha o relógio — oito horas — sente muito, o 
expediente está encerrado, agora só amanhã. Fecha a porta e sai para mais um dia de serviço, lamentando 
para a esposa: — Chega de diversões e aventuras, querida. O jeito agora é ir para a repartição e aguentar 
aquela monotonia. 
(Procópio, Almanaque Humordaz) 
 
2. GLAXOBOL 
 
Antagonista seletivo dos receptores da ansiedade. 
Composição 
Cloreto de polivinil.................................................................0,5g 
Indicações 
Medicação lazerogênica. Antiestressante exclusivo para uso médico e afins. Plantonite aguda. Profilaxia 
contra os efeitos da chefose paroxística. Clientofobia aguda. 
Contra-indicações 
Parkinsonismo. Tetraplegia. Estados comatosos. 
Precauções 
Manter afastado de pessoas com tendência à cleptomania. 
Interação medicamentosa 
Não há. Pode ser usado inclusive em concomitância com familiares. 
Posologia 
Uma, duas ou três vezes ao dia, ou após cada 3 ou 4 consultas. Ou, ainda, a cada 5 propagandas médicas. 
 
Modo de usar 
25 
 
Vide instruções. 
Obs.: Ao contrário dos demais medicamentos, GLAXOBOL pode ser usado com segurança no primeiro 
trimestre de gestação. 
GLAXO DO BRASIL S.A. Rua Viúva Cláudio, 300 - RJ 
 
3. AVÓ 
 
Composição: Carne, ossos (fracos), dentes (pouco originais), sangue, coração disritmado, cabelos 
brancos, pele enrugada e pensamentos radicais. 
Indicações: Conselhos inúteis, problemas financeiros, fome, carência maternal, remendos urgentes, 
domingos perdidos. 
Precauções: Mantê-la afastada de problemas pessoais, horários, filmes pornográficos, quartos 
desarrumados e pessoas muito liberadas e escandalosas. 
Efeito colateral: Pode levar ao desespero crônico e ao total isolamento familiar. 
Contraindicações: Pessoas independentes e impacientes. 
Posologia: Duas vezes ao mês. Cuidado com o uso constante. 
Modo de usar 
Aconselhável telefonar, para não ter contato físico constante. 
Obs.: Manter esta bula longe dos olhos de qualquer espécie de avó, pois a leitura acarretará homicídio 
doloso. 
(Adriana Coelho, Alessandra Bucciarelli, Ana Paula Aragão — Fiam/88) 
 
4. Anúncio de lançamento da Overconta Bozano, Simonsen 
 
Overconta. (Neol.)S.f. 1. Conta bancária que funciona como todas as outras, porém com rendimentos, 
encontrada exclusivamente nas agências do Banco Bozano, Simonsen. 2. Conta corrente que rende. 3. 
Conta com remuneração. 4. Conta com rendimentos da noite para o dia. 5. Despreocupação. 6. 
Investimento inteligente: “Tira da conta e põe no over, tira do over e põe na conta... Tira tudo isso e põe na 
Overconta Bozano, Simonsen.” 
 
CONTRIBUIÇÃO DO BANCO BOZANO, SIMONSEN PARA TODOS OS PEQUENOS, MÉDIOS E 
GRANDES DICIONÁRIOS DA LÍNGUA PORTUGUESA. 
 
 
Descrição objetiva 
 
Até este ponto, fornecemos exemplos de descrições subjetivas que incorporaram a visão do 
observador, transmitindo concomitantemente às características do objeto as impressões causadas no 
sujeito que descreve. No entanto, a descrição pode centrar-se no objeto, independentemente de quem o 
sente ou vê. É a chamada descrição objetiva ou técnica, que busca a objetividade absoluta. 
A descrição objetiva trabalha com a função referencial, os traços objetivos referem-se ao objeto, 
independentemente de quem o vê ou sente. O vocabulário é preciso, os pormenores exatos e seu objetivo é 
esclarecer, informar, comunicar. Ela está presente em manuais de instrução ou de estudos e em relatórios. 
Robert Barrass, em seu livro Os cientistas precisam escrever, nos fornece indicações úteis de como 
redigir instruções, que com algumas alterações aqui transcrevemos. As instruções devem ser completas, de 
modo a explanar a ação requerida e responder a todas as perguntas relevantes. Devem ser claras, 
concisas, simples e de fácil entendimento. Devem, portanto, ser redigidas por alguém que conheça a tarefa 
a executar. 
 
1. Considerar o destinatário das instruções.

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