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37Capítulo 3 Variedades copas Rose Mary Pio, José Orlando de Figueiredo, Eduardo Sanches Stuchi e Susette Aparecida de Barros Cardoso CITROS38 Variedades copas 39 Foto da página anterior: Variedades cítricas comerciais: tangelo Nova, lima ácida Tahiti e laranja Bahia (R.M. Pio e E.S. Stuchi) CITROS38 Variedades copas 39 1 Introdução Os cítricos utilizados em plantios comerciais como variedades copas estão, basicamente, dis- tribuídos em seis grupos, a saber: laranjas, tan- gerinas, limões, limas ácidas, pomelos e outros de menor importância. O grupo das laranjas doces apresenta maior expressividade, seguido por tan- gerinas, limões e limas ácidas. Desde os mais remotos tempos, nos idos de 1501, as plantas cítricas já vinham sendo cultiva- das nas feitorias construídas pelo governo de Por- tugal para assinalar sua posse no território ameri- cano. Estima-se que o princípio da citricultura no Brasil tenha ocorrido entre 1530 e 1540 (Hasse, 1987). A partir da continuidade de introduções no Brasil, eles foram se adaptando e se espalhando pelo solo brasileiro. Em todas as épocas, pouca diversidade de va- riedades pôde ser notada. Apesar da pujança da citricultura nacional, ela se vem mostrando bastante vulnerável aos diversos problemas fitossanitários que tem surgido ao longo da sua história como cultura importante para carrear divisas para o País. A seguir serão apresentadas, por grupo, as características das variedades cultivadas comer- cialmente, assim como as que estão em estudo. 2 Laranjas doces As laranjas doces [Citrus sinensis (L.) Osbeck] predominam na maioria dos países citrícolas com, aproximadamente, dois terços dos plantios, ficando o restante para as demais espécies. No Brasil, e particularmente no Estado de São Paulo, elas encontram, de maneira geral, boas condições edafoclimáticas para cultivo comercial. Segundo Amaro et al. (2001), em 1990, a laranja ocupava uma área de cerca de 700 mil hectares, com mais de 180 milhões de árvores plantadas, tendo atingido, em 1998/1999, 228 milhões de plantas. Quanto à produção, elevou-se de 218 milhões de caixas (40,8 kg) de laranja, em 1985, para 268,7 milhões em 1990 e para 400 milhões em 1998/1999. De acordo com FNP (2001), esse panorama se modificou ligeiramente, em vista, principalmente, da descapitalização dos produtores (conseqüên- cia de vários anos de preços baixos, provocados pelas supersafras de 1997 e 1999) associada aos efeitos das secas de 1999 e 2000. Esse fato veio se agravando com a ocorrência de problemas fi- tossanitários, que contribuíram para a erradicação de grande número de árvores. Tal situação, em um futuro não muito distante, poderá modificar-se pois, apesar dos percalços existentes, sempre tem havido a continuidade dessa atividade agrícola, quer pela utilização da alta tecnologia disponível, quer mesmo, pela convivência com os problemas existentes, fato que já tem ocorrido por diversas vezes, há mais de cinqüenta anos. Com relação às variedades comerciais, as la- ranjas estão apresentadas de acordo com sua im- portância, principalmente aquelas que existem em maior número dentro do grupo, ou seja, Pêra, Natal e Valência. A seguir, situa-se a Hamlin, com matura- ção precoce à meia-estação e com pequeno número de plantas em produção comercial. Finalmente, são apresentadas as demais variedades, com percenta- gens de plantios muito baixas. Algumas delas, com certo interesse, estão com os plantios em ascensão; outras mantêm-se estáveis e outras estão quase de- saparecendo dos pomares paulistas. Cabe mencionar que o número de variedades de laranjas é bastante pequeno (Figueiredo, 1991; Pompeu Junior, 2001) e que trabalhos de melhora- mento têm sido realizados no sentido de solucionar esse problema, dificultado, em parte, principal- mente, pelas doenças atualmente existentes e por algumas pragas. Outros aspectos desejáveis nesses trabalhos são aumento da produtividade, melhoria da qualidade dos frutos, redução do número de sementes e dilatação do período de safra. As Tabelas 1 e 2 apresentam as mais impor- tantes características das variedades comerciais em São Paulo e épocas de colheita. Esses dados complementam os relativos à descrição das varie- dades. 2.1 Pêra A laranja Pêra (Figura 1A) é a principal varie- dade de citros do País, pois seus frutos apresentam excelente qualidade para os mercados interno e externo de fruta fresca e para a industrialização. Participava com cerca de 38% de plantas (Pompeu Junior, 2001) em relação ao número total existente para laranjas doces, que estava estimado em 209 milhões de árvores.1 1 M. Boteon. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ USP, Piracicaba (SP). 2002. Comunicação pessoal. CITROS40 Variedades copas 41 Essa participação já atingiu índices maiores, superando os 50% (Figueiredo, 1991), até poucos anos atrás. A provável explicação para esse menor interesse pela Pêra está na seguinte hipótese: é a variedade de laranja que mais apresenta surtos ve- getativos e, conseqüentemente, é muito perseguida por cigarrinhas transmissoras da clorose variegada dos citros (CVC). Apresenta três a quatro floradas por ano, do que decorre a produção de frutas temporãs praticamente durante o ano todo. Esse fato encarece o produto em vista do maior número de pulverizações necessárias e das dificuldades na colheita. Como conseqüência, há uma redução na qualidade do suco e finalmente, deve-se considerar que as variedades Natal e Valência são mais produ- tivas. Entretanto, é esperado ocorrer um incremento nos plantios da laranja Pêra, porque, provavelmen- te, haverá falta de frutos oriundos de variedades cuja colheita se dá na época conhecida como meia- estação, para serem industrializados. Tabela 1 Principais características das variedades de laranjas de valor comercial no Estado de São Pauloa Variedade Origem Sementes/ fruto Massa fruto Teor suco °Brix Acidez Ratiob Destino dos frutosc no g % % Lima Desconhecida 5-6 120 45 10,3 0,12 85,0 MI - S Piralima SP (Brasil) 3-4 110 45 10,0 0,12 83,0 MI - S Hamlin Flórida (EUA) 3-4 130 41 12,0 0,96 12,5 E - S Bahia BA (Brasil) 0 200 38 13,2 0,94 14,0 MI Baianinha SP (Brasil) 0 168 40 13,0 0,92 14,1 MI - E - S Rubi Desconhecida 8-10 172 49 9,9 0,86 15,9 MI - S Westin RS (Brasil) 2-3 145 50 12,2 0,93 13,1 MI - E - S Pêra Desconhecida 3-4 145 52 11,8 0,95 12,5 MI - E - S Natal Brasil 3-4 140 50 12,0 1,00 12,0 MI - E - S Valência Portugald 5-6 150 50 11,8 1,05 11,2 MI - E - S Folha Murchae RJ (Brasil) 3-4 220 52 - f - 15,9 MI - E - S Lima Tardia MG (Brasil) 2 130 43 10,5 0,14 75,0 MI a Valores médios para variedades obtidos junto às indústrias processadoras b Ratio = razão sólidos solúveis (°Brix) / acidez c MI = mercado interno, S = suco e E = exportação d Origem provável e Stuchi & Donadio (2000) f Dado não disponível Fonte Adaptado de Figueiredo (1991) Tabela 2 Épocas de colheita dos frutos das principais variedades de laranjas no Estado de São Pauloa Variedade Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Lima e Piralima Hamlin Bahia e Baianinha Westin e Rubi Lima Tardia Pêra Valência e Natal Folha Murcha a Hachurado escuro representa épocas principais de colheita; hachurado claro, épocas de colheitas menores. Informações referem a pomares não irri- gados e situados nas condições médias de clima do planalto paulista Fonte Adaptado de Figueiredo (1991); Donadio et al. (1995) CITROS40 Variedades copas 41 No Estado de São Paulo, realizam-se perio- dicamente, pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), levantamentos de dados de diferen- tes naturezas nos viveiros. Um deles, a porcenta- gem de mudas existentes por variedade, indica, de certa forma, o interesse por elas para novos plan- tios. No levantamento realizado em 2003, de um total de, aproximadamente, 8 milhões de mudas em formação, 27% eram da variedade Pêra, que foi superada pela Valência, com 34% das mudas, fato considerado difícil de ocorrer pelos estudiosos do assunto. Igualmente, em setembro de 2004, outro levantamento mostrou que a situação das mudas ainda se mantinha praticamente inaltera- da, pois, de um total de 14 milhões de mudas, 33% eram de Valência e 28% de Pêra.2 Müller et al. (1999) asseguram que a laranja Pêra possui tecidos sensíveis ao vírus da tristeza. Segundo esses autores, criou-se, por meio de proteção cruzada, o clone denominado pré- imunizado e que, posteriormente, passou a de- nominar-se Pêra IAC. Esse material revelou bom comportamento em relação à doença e começou a ser distribuído aos interessados há trinta anos. Nos grandes plantios comerciais e nos experimen- tos que o incluíram para estudo, ele se posicionou entre os melhores para a variedade. Estudos com seleções de Pêra têm sido reali- zados nos últimos trinta anos com o objetivo de escolher material superior para utilização comer- cial. Essas seleções foram inicialmente encontradas na região de Bebedouro, em pomares da Estação Experimental de Limeira (atual Centro APTA Ci- tros Sylvio Moreira/IAC), em Cordeirópolis e em Campinas, na Seção de Virologia (atual Centro de Fitossanidade), do Instituto Agronômico (Teófilo Sobrinho et al., 1977). Os trabalhos de obtenção de seleções promissoras e para a regionalização da variedade prosseguem até o presente, existindo em estudo quase três dezenas delas, em sete mu- nicípios paulistas. Aquelas denominadas IAC, Bianchi, EEL, Vimusa, Ipiguá e Pêra IAC 2000 (Teófilo Sobrinho et al., 2001) têm se destacado das demais, por apresentarem boa produtividade, com frutos grandes e de boa qualidade (Salibe et al., 2002). Esses autores afirmaram ainda que a la- ranja Pêra é cultivada em escala comercial somen- te no Brasil e que o Uruguai é o único outro país com pequenos pomares da variedade, certamente pela proximidade com o território brasileiro. 2.2 Natal Em 2000, a variedade Natal se posicionava como a segunda em importância dentro do pano- rama citrícola brasileiro. Em São Paulo, no mesmo ano, ela representava próximo de 24% dos plantios dentro do grupo de laranjas doces (Pompeu Junior, 2001). Seus frutos apresentam excelente qualida- de para consumo como fruta fresca e também para industrialização (Figueiredo, 1991). Produz frutos de maturação tardia e, juntamente com a Valência, contribui para prolongar a safra da laranja Pêra. Essas três variedades, em conjunto, perfazem mais de 80% da citricultura paulista. De acordo com levantamento realizado nos viveiros paulistas em 2003, existiam, em formação, 12,23% de mudas dessa variedade. Em 2004, esse número foi de 11,10%. Por meio de trabalhos de melhoramento reali- zados pelo Instituto Agronômico (IAC), selecionou- se o clone nucelar para a laranja Natal, o qual predomina nos plantios comerciais. Entretanto, há conhecimento da existência da seleção de outro clone feita por um citricultor na região de Bebedouro - trata-se da Natal Paulo Rosa (Pompeu Junior, 1988), cuja utilização provavelmente ficou restrita àquela localidade. Há ainda suposição de que, por meio de mutação somática, a Natal possa ter originado a laranja Folha Murcha (Donadio et al., 1995). De acordo com as informações disponíveis, admite-se que a variedade Natal seja cultivada comercialmente apenas no Brasil. 2.3 Valência É uma variedade que ocupa lugar de destaque entre os produtores, principalmente pela boa pro- dutividade e pelo tamanho adequado dos frutos. Com relação ao número de plantas, em 2000 ela participava em São Paulo com, aproximadamente, 21% do total de laranjeiras existentes (Pompeu Ju- nior, 2001). A Valência (Figura 1B) produz frutos que se prestam aos três tipos de comercialização disponíveis: exportação de fruta fresca, mercado interno e suco concentrado congelado (Figueiredo, 1991). Essa variedade apresenta maturação tar- dia. Existiam, em maio de 2003, nos viveiros pau- listas, 34,12% de mudas de laranja Valência, ocu- pando a primeira posição em relação às demais. 2 Vagner Russo. Fundecitrus, Araraquara (SP). 2004. Comunicação pessoal. CITROS42 Variedades copas 43 Isso denota o grande interesse dos produtores em ampliar seu plantio. Em 2004, essa porcentagem se manteve em 33,5%. Estudos iniciais realizados em São Paulo com ela resultaram na obtenção de duas seleções de alta produtividade: Valência IAC 36 e 38 (Figuei- redo, 1991). Há diversas variedades que se assemelham à Valência, estando entre elas, a laranja Natal. Supõe-se que, por essa razão, ela seja uma muta- ção da Valência. Cabe lembrar que a ocorrência de mutações é relativamente freqüente dentro do gênero Citrus. A maioria dos países citricolas cultiva a laranja Valência e, em muitos deles, ela representa a prin- cipal variedade comercial, havendo diversos estu- dos, nesses países, com o objetivo de selecionar material superior. 2.4 Hamlin No ano 2000, essa variedade (Figura 1C) ocu- pava o quarto lugar em número de plantas existen- tes no Estado de São Paulo, o que correspondia a 6% em relação ao total de laranjas doces (Pompeu Junior, 2001). Seus frutos se destinam, principal- mente, ao mercado externo e à industrialização, por não possuírem características de qualidade que agradem ao paladar do brasileiro (Figueire- do,1991). Apresentam maturação precoce e as plantas são muito produtivas. Em 2003, havia 13,66% de mudas de Hamlin em formação nos viveiros de São Paulo, indicando que os plantios da variedade vem-se mantendo estáveis nos últimos anos. O mesmo ocorreu em 2004, com 11,59% de mudas. Essa variedade passou por trabalhos de sele- ção no IAC, dos quais resultaram clones nucelares que foram posteriormente estudados especialmen- te para qualidade e boa produção de frutos. Alguns países cultivam a laranja Hamlin; entre eles, Estados Unidos, Brasil e África do Sul. 2.5 Lima, Piralima e Lima Tardia São variedades com baixa acidez, cujo pala- dar é muito bem aceito pela população brasileira, particularmente entre as crianças e idosos. Admite-se que a Lima (Figura 1D) deu origem à Piralima, mutação essa ocorrida em Piracicaba (SP) e à Lima Sorocaba, que apareceu na região de Porto Feliz (SP). Já a Lima Tardia deve ter-se originado no Estado de Minas Gerais, como sendo mutação surgida em planta de laranja Pêra (Fi- gueiredo, 1991; Donadio et al., 1995). Seus frutos destinam-se, principalmente, ao mercado interno de fruta fresca, apenas utilizan- do-se o excedente na industrialização. As variedades Lima e Piralima apresentam maturação precoce de seus frutos e a Lima Tardia, como o próprio nome indica, tem sua safra normal no segundo semestre. A laranja Lima, em épocas passadas, foi a variedade sem acidez de maior importância no Brasil, com um plantio de cerca de 10% das árvo- res existentes. Atualmente, quase não possui mais valor comercial, mas apenas dietético. Decorrente dessa afirmação está o fato de que das variedades Lima e Piralima existiam, em 2003, apenas 0,03% de mudas em formação nos viveiros e 0,48% de Lima Verde (Figura 1E). Pelas informações disponíveis, pode-se afirmar que elas são cultivadas apenas no Brasil. 2.6 Bahia e Baianinha Admite-se que a laranja Bahia (Figura 1F) tenha sido originada de uma mutação encontra- da em uma planta da variedade Seleta, ocorrida no Estado da Bahia, entre 1810 e 1820. Já a Baianinha é aceita como sendo uma mutação da variedade Bahia e que apareceu em um pomar localizado em Piracicaba, por volta de 1908 (Fi- gueiredo, 1991). Os frutos da Bahia destinam-se ao mercado interno de fruta fresca, podendo-se usar os da Baianinha para consumo ao natural e também para industrialização (Figueiredo, 1991). As va- riedades produzem frutos de maturação precoce à meia-estação. As melhores seleções obtidas no IAC foram as intituladas Baianinha IAC 48, 89 e 79 (Donadio, 1972) . Atualmente, há um desinteresse pelos plantios das variedades desse grupo, principalmente pela diminuição da exportação dos frutos de Baiani- nha e também, provavelmente, porque os frutos da laranja Bahia não têm atingido os preços esperados pelo produtor no mercado interno. Assim, é razoável afirmar que as plantas dessas variedades quase estão por desaparecer dos po- mares. Uma prova disso é que em 2003 existia apenas 0,28% de mudas em formação nos vivei- ros paulistas.Espera-se que os frutos da variedade Bahia, num futuro próximo, voltem a ocupar lugar CITROS42 Variedades copas 43 de destaque no mercado de fruta fresca, pois, além de suas notáveis características de qualidade, não apresentam sementes, o que vem ao encontro do desejo do consumidor. Os preços também tendem a melhorar, em vista da escassez de oferta do produto, o que deve motivar novos plantios dessa variedade. Em outros países, elas compõem o chamado grupo Navel e são cultivadas comercialmente, em diversos deles. Cabe lembrar que seu nome foi mudado para Washington Navel nos Estados Unidos. 2.7 Westin Supõe-se que a Westin teve seu aparecimento no Estado do Rio Grande do Sul com o nome de laranja Clementina. Quando trazida para São Paulo, para evitar confusão de nomes entre ela e a bem conhecida tangerina Clementina nos mer- cados europeus, sugeriu-se que seu nome fosse trocado para laranja Westin (Figueiredo,1991). É uma variedade altamente produtiva, e frutos com poucas sementes. Apresenta maturação de meia-estação, cujos frutos se prestam muito bem para os mercados interno e externo de fruta fresca e para industrialização. Entretanto, tem um incon- veniente: seus frutos permanecem pouco tempo na planta, após a completa maturação. Em São Paulo, posicionava-se em menos de 2% do total existente de plantas de laranjas doces. Apesar de haver um pequeno incremento nos plan- tios, provavelmente pelo fato de as plantas serem moderadamente suscetíveis à CVC (Laranjeira & Pompeu Junior, 2002), esse número é menor que 1%. Teve maior expressão comercial no passado, mas, com o aumento do plantio de outras varieda- des, entre elas da Pêra, com melhor comportamen- to, começou a haver desinteresse por novos plan- tios da Westin. Em 2003, existiam em formação 2,48% de mudas da variedade no Estado. Não é conhecido o seu plantio em outros países. 2.8 Rubi Essa variedade (Figura 1G) foi introduzida no Banco Ativo de Germoplasma de Citros (BAG-Ci- tros), do Centro APTA Citros Sylvio Moreira, como proveniente da coleção de citros pertencente a Navarro de Andrade, localizada na Fazenda Re- serva, Araras (SP) sendo considerada de origem desconhecida (Figueiredo, 1991). Seus frutos, cuja maturação ocorre no período chamado meia-estação, destinam-se ao mercado interno de fruta fresca e à industrialização. A pro- dutividade das plantas é alta e os frutos possuem de oito a dez sementes. Em um passado não muito longínquo, da mes- ma forma que a variedade Westin, a participação percentual da Rubi, em número de plantas, situava- se em menos que 2% do total relativo a laranjas. Atualmente, esse percentual é ainda menor, mas espera-se que ele apresente alguma altera- ção, pois tem havido interesse pelo plantio da variedade, principalmente para a produção de suco concentrado. É desconhecido o seu plantio em outros países. 2.9 Folha Murcha Originária do Rio de Janeiro, é uma das principais variedades cultivadas naquele Estado (Figura 1H). Entretanto, há controvérsias sobre a sua origem, pois alguns autores a consideram uma variação espontânea de Pêra, Valência ou Seleta. Outros acreditam que possa ser uma mutação so- mática de Seleta ou Natal, conforme Donadio et al. (1995). Esses autores mencionam o município de Araruama como o de sua origem. Afirmam, ainda, que se trata de uma variedade tipicamente brasileira, pois não há citação de tipos semelhan- tes na literatura mundial. Sua característica marcante é apresentar as fo- lhas enroladas ou retorcidas, o que lhe dá o nome, pois parece estar sentindo a falta de água. Apresenta maturação muito tardia, de novem- bro a março, é produtiva, e seus frutos se parecem bastante com os das variedades Natal e Valência. É ainda muito resistente à seca e uma das mais tolerantes à bactéria do cancro cítrico (Donadio et al., 1995), mas apresenta suscetibilidade à CVC (Laranjeira & Pompeu Junior, 2002). Pelo fato de ser muito tardia, obviamente, tem despertado grande interesse para novos plantios. Dessa for- ma, existiam 2,01% de mudas em formação, em 2003, nos viveiros paulistas. Em outros países, não há conhecimento de plantios dessa variedade. 2.10 Seleção de novas variedades Pode-se considerar que o número de cultivares existentes de laranjas é bastante restrito e, por essa razão, tem sido feitos estudos de seleção de varie- CITROS44 Variedades copas 45 dades com diferentes épocas de maturação. Com relação às precoces e meia-estação, acham-se em estudo aquelas com maturação semelhante à da Hamlin, com o objetivo de oferecer novas opções de plantio aos usuários. Assim, estudaram-se, por mais de vinte anos em Cordeirópolis, 18 variedades com essas características sendo entre elas, as mais promissoras as seguintes: com relação à produção de frutos, sobressaíram-se, apresentando produções superiores à Hamlin, as variedades Homossassa e João Nunes, ao passo que Tomango, Mangaratiba e Pineapple proporcionaram, no período conside- rado, produções semelhantes à variedade tomada como comparação (Pompeu Junior et al., 1996). No que se refere à qualidade dos frutos, alguns aspectos são bastante importantes para sua comercialização, tomados sempre em comparação com a Hamlin, como: i) época de maturação: as mais precoces foram Mangaratiba e João Nunes; as variedades Se- leta Vermelha e Rubi tiveram maturação semelhante e as demais apresentaram maturação mais tardia, ii) maior produção de sólidos solúveis: destacaram-se Homossassa e João Nunes superando, em quantida- de, os valores obtidos para Hamlin, e iii) coloração do suco: as variedades Mangaratiba, Seleta Verme- lha e Rubi apresentaram coloração de casca e suco muito superiores à Hamlin (Pio et al.,1984). Considerando em conjunto todas as caracterís- ticas estudadas, os autores (Pompeu Junior et al., 1996; Pio et al., 1984) concluíram que as varie- dades Homossassa, João Nunes, Seleta Vermelha, Mangaratiba, Westin, Rosa e Rubi podem ser op- ções para plantio, juntamente com a Hamlin. Será apresentada, a seguir, a descrição sucinta dessas variedades, segundo Hodgson, 1967; Pio et al., 1984, 1986; Donadio et al., 1995, 1997). 2.10.1 Homossassa Essa variedade possui frutos médios e bem co- loridos quando maduros, apresentando 13 semen- tes e 51% de rendimento em suco. É de maturação meia-estação e uma das variedades mais antigas da Flórida, onde, pela má qualidade apresentada pelos frutos em climas áridos não alcançou impor- tância comercial. 2.10.2 João Nunes Procedente do Horto Florestal de Bebedouro, foi introduzida no BAG-Citros, do Centro APTA Citros Sylvio Moreira, em 1944. Apresenta matu- ração meia-estação. As árvores são de porte mé- dio, com folhas verdes, frutos de tamanho médio, alaranjados, com 46% de suco. 2.10.3 Seleta Vermelha Acredita-se que ela seja uma mutação da Sele- ta comum, que ocorreu, provavelmente, no Rio de Janeiro. Seus frutos apresentam maturação meia- estação e têm excelente cor interna. As árvores, de altura média, apesar de tolerantes à tristeza, possuem caneluras leves. Os frutos têm tamanho médio, de cor alaranjada e em torno de 12 se- mentes. O suco representa 49% da massa do fruto. Foi introduzida no BAG-Citros/IAC, da Fazenda Reserva, Araras (SP), em 1931. A Seleta Vermelha (Figura 1I) mais as varie- dades Westin, Rubi e Seleta de Itaborai, foram levadas como sementes para os Estados Unidos e lá multiplicadas, sendo as plantas selecionadas. Chegou-se à conclusão que o suco de seus frutos poderia melhorar a qualidade do suco da Hamlin, o que ocorreu porque possuíam melhor coloração, melhor sabor e maturação mais precoce (Taggart et al., 2001). Entretanto, nos Estados Unidos, a variedade Seleta Vermelha foi rebatizada com o nome de Earlygold, caso semelhante ao ocorrido com outra variedade brasileira, a laranja Bahia, também por ocasião de sua introdução naquele país, conforme se mencionou. 2.10.4 Mangaratiba Procedente da Fazenda Reserva, Araras (SP), foi introduzida no BAG-Citros, do IAC, em 1932. Apresenta maturação de meia-estação. Árvores com altura média. Frutos com 47% de sua massa em suco, são de tamanho médio e alaranjados. O número de sementes é de cerca de oito por fruto. 2.10.5 Rosa Também procedente da Fazenda Reserva, tendo sido introduzida no BAG-Citros/IAC, em 1951. As plantas possuem altura média. Os frutos apresentam maturação meia-estação, tamanho médio e coloração alaranjada. A polpa é de cor laranja-forte, o que a faz destacar-se entre outras laranjas doces. Os frutos, de coloração alaranja- da, tem suco abundante, representando 48% de sua massa. A quantidade de sementes é alta, cerca de 15 a 20 por fruto. CITROS44 Variedades copas 45 Cabe destacar que Donadio et al. (1999) estu- daram diversas variedades de maturação precoce, meia-estação e tardia, concluindo que, dentre elas, as laranjas doces Olivelands, Torregrosso, Finike, Kawatta, Cadenera, Mayorca, João Nunes e Westin se destacaram por apresentar coloração de suco superior à da Hamlin. Características rele- vantes como boa produção, qualidade industrial e utilização para o mercado de fruta fresca também foram encontradas. Com relação a variedades com frutos de ma- turação tardia, no Estado de São Paulo, também ocorre falta de opções para plantio, além das já conhecidas Pêra, Natal e Valência, de acordo com Figueiredo (1999). Segundo esse autor, desde 1993 estão sendo realizados experimentos de se- leção, contendo, cada um, as mesmas 48 copas, a maioria com frutos de maturação tardia e algumas poucas com maturação meia-estação, situados nas regiões de Conchal, Matão e Olímpia (SP). Como nas duas últimas regiões havia abundância de CVC, foi possível desenvolver estudos relativos a aspectos de fitossanidade e produção das varie- dades em relação a essa doença. Concluiu-se que, para a região de Olímpia, a variedade Whit’s Late Valência apresentou melhor comportamento em relação a esses itens. Entretanto, todas elas foram suscetíveis à moléstia (Figueiredo et al., 2002). Além dos trabalhos de melhoramento em desenvolvimento pelos pesquisadores do Centro APTA Citros Sylvio Moreira, tem-se efetuado o melhoramento e seleção das principais varieda- des de laranjas doces, comerciais ou de interesse potencial, para os diferentes tipos de mercado, em outros centros de pesquisa brasileiros. Entre os principais, podem-se mencionar os situados: na Bahia (Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas), no Rio Grande do Sul (Centro de Fruticultura de Taquari - CPFT, conectado à Funda- ção Estadual de Pesquisa Agropecuária - Fepagro, em Taquari), no Paraná (Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, em Londrina) e em São Paulo (Es- tação Experimental de Citricultura de Bebedouro, em Bebedouro). Figura 1 Variedades de laranjas doces economicamente importantes e variedades com menor expressão co- mercial: A.Hamlin, B. Bahia, C. Pêra; D. Valência, E. Lima Verde, F. Folha Murcha, G. Lima, H. Rubi, e I. Seleta Vermelha Fotos: Centro APTA Citros Sylvio Moreira/ IAC BA FED C IHG CITROS46 Variedades copas 47 Têm sido obtidas e/ou melhoradas diversas variedades de laranja, estando algumas delas em fase de experimentação no campo e outras já constituindo pequenos plantios comerciais, a maior parte em uso fora do Estado de São Paulo. 3 Tangerinas As tangerinas e seus híbridos constituem um grupo bastante diversificado e, como os demais cítricos, sua origem é incerta, mas acredita-se que tenham surgido no nordeste da India ou no Sudo- este da China (Saunt, 1990). Esse grupo apresenta grande adaptabilidade e cresce em condições desérticas, semitropicais e subtropicais do Mediterrâneo (Saunt, 1990) e tam- bém em outras regiões espalhadas pelo mundo. De maneira geral, apresenta um curto período de ma- turação e é muito suscetível às injúrias decorrentes do manuseio na colheita, pós-colheita e transporte. Apesar de toda essa diversidade, o cultivo de tangerinas vem, ao longo dos anos, baseando- se em um pequeno número delas. Na década dos sessentas, os plantios de tangerina Cravo (C. reticulata Blanco) eram representativos, vindo a decrescer para cerca de 20% nos anos noventas. Em 2000, as tangerinas representavam cerca de 4% do total de plantas cítricas existentes no Es- tado de São Paulo. Duas delas mantêm-se com expressividade nos plantios: tangerina Ponkan (C. reticulata) e tangor Murcott (C. sinensis x C. reticulata). As demais, Mexerica-do-Rio (C. deliciosa Ten.) e, principalmente, tangerina Cravo, apresentam níveis baixos de represen- tatividade. As Tabelas 3 e 4 contêm as mais importantes características das variedades comerciais de tan- gerinas em São Paulo e suas épocas de colheita. Seus dados complementam os apresentados na descrição das variedades. Tabela 3 Principais características das variedades de tangerinas de valor comercial no Estado de São Pauloa Variedade Origem Sementes/ fruto Massa fruto Teor suco °Brix Acidez Ratiob Destino dosfrutosc nº g % % Cravo Brasil ou Portugal 20-22 135 48 10,8 0,80 13,5 MI - S Mexerica- -do-Rio Itália 30 133 40 10,4 0,99 10,5 MI - E - S Ponkan Índia 5-8 138 43 10,8 0,85 12,7 MI Murcott EUA 20 140 48 12,6 0,92 13,7 MI - E - S a Valores médios para variedades obtidos junto às indústrias processadoras b Ratio = razão sólidos solúveis (°Brix) / acidez c MI = mercado interno, S = suco e E = exportação Fonte Adaptado de Figueiredo (1991) Tabela 4 Épocas de colheita dos frutos das principais variedades de tangerinas e tangor no Estado de São Pauloa Variedade Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Cravo Mexerica-do-Rio Ponkan Murcott a Hachurado escuro representa épocas principais de colheita; hachurado claro, as épocas de colheitas menores. Informações referem a pomares não irrigados e situados nas condições médias de clima do planalto paulista Fonte Adaptado de Figueiredo (1991) CITROS46 Variedades copas 47 3.1 Ponkan Originária da Ásia (Hodgson, 1967), esse gru- po de tangerinas constitui um dos mais cultivados no mundo - China, Japão, Filipinas (Batangas) e Índia (Nagpur Suntara) - e também é o mais po- pular no Brasil (Saunt, 1990). Em 2000, a varie- dade representava 2% dos plantios comerciais de citros (Pompeu Junior, 2001). A Flórida importou, em 1888, uma seleção de Ponkan, a Oneco, que se diferenciou da primeira pela textura da casca, pelo maior número de sementes e pela maturação mais tardia de seus frutos. No Brasil, Oneco é co- nhecida como Cravo Tardia (Saunt, 1990). São árvores de porte médio, com crescimento ereto, produtivas, mas com tendência a apresentar alternância de produção. Frutos grandes, de matu- ração meia-estação, casca solta e sabor bastante doce, o que as torna muito apreciadas para con- sumo in natura (Figura 2A). De acordo com levantamento realizado pelo Fundecitrus, nos viveiros paulistas havia em maio de 2003, 0,5% de mudas em formação dessa va- riedade. 3.2 Murcott O tangor Murcott (Figura 2B) é a segunda variedade mais importante cultivada em São Paulo e representava, em 2000, 0,8% dos plantios comerciais de citrícos (Pompeu Junior, 2001). Ori- ginado de progenitores desconhecidos, foi obtido por W.T. Swingle, na Flórida, onde, já em 1933, acreditava-se que poderia ter valor comercial. Foi propagado por Charles Murcott Smith e J. Ward Smith. Nos Estados Unidos, é chamado de tangeri- na Honey (Saunt, 1990). Os países que mais produzem Murcott são o Brasil e os Estados Unidos. É cultivado também na China, na Austrália, em regiões onde as clementi- nas não se adaptam bem, e no Japão tem tido mui- to êxito quando efetuado em estufas, apresentando frutos com maturação tardia (abril e maio), exce- lente coloração laranja-avermelhada e sem lesões (Saunt, 1990). Entre as variedades selecionadas a partir de Murcott, vale ressaltar a Murcott J, que apresenta as mesmas características da Murcott tradicional, exceto pela metade do número de sementes (Pompeu Junior, 2001) e a Afourer, que não tem bem clara a sua origem. Acredita-se que surgiu de semente, no Marrocos, de uma planta de Murcott com 35 anos de idade em Afourer, próximo a Beni Mellal. Entretanto, estudos reali- zados envolvendo DNA da variedade, realizados na Universidade da Califórnia, revelaram que ela não está relacionada com a Murcott. De acordo com as características do fruto, é provável que a Afourer seja um híbrido de Murcott com clementi- na (Saunt, 2000). No Estado de São Paulo, em maio de 2003, entre as mudas produzidas nos viveiros, 0,84% re- presentava essa variedade. Esse número supera os da Ponkan em razão de a Murcott se prestar tanto para a indústria como para o mercado, valendo ressaltar que essa variedade é importante para a exportação como fruta in natura. 3.3 Mexerica-do-Rio O grupo das mexericas (C. deliciosa), é tam- bém conhecido como o das tangerineiras do Mediterrâneo. Seus parentais e sua origem não são conhecidos, mas há indícios de que a espécie tenha surgido a partir de uma tangerina chine- sa (Hodgson, 1967). Entretanto, é possível que ela seja constituída por híbridos verdadeiros da tangerina comum (C. reticulata) (Machado et al., 1996). Seu aparecimento na Itália se deu entre os anos de 1810 e 1818 (Chapot, 1962). Por se adaptar bem ao clima quente e úmido, apresentou bom tamanho e boa qualidade dos frutos no Norte da África do Sul, onde amadurecem mais preco- cemente do que aqueles produzidos na Espanha e na Itália (Hodgson, 1967). Ao longo das décadas passadas, esse grupo foi perdendo importância na Europa, com sua substituição pela clementina. É conhecida mundialmente como Willowleaf mandarin. No Brasil, recebeu diversos nomes, como Mimosa e Bergamota, entre outros. No Estado de São Paulo representa 0,6% entre os cítricos (Pompeu Junior, 2001), mas é bastante representativo seu plantio no Rio Grande do Sul. Entre as variedades cultivadas no Brasil, tem-se a tradicional Mexerica-do-Rio (Figura 2C) e a Mon- tenegrina. Esta, segundo Rodrigues & Dornelles (1999), surgiu de mutação ou recombinação na progênie nucelar ou zigótica da variedade Caí, nome regional da Mexerica-do-Rio, variedade plantada no Rio Grande do Sul juntamente com o tangor Murcott (Amaro, 1984). O cultivar Monte- negrina destaca-se do Caí por ser dois a três meses mais tardio, com frutos de casca mais resistente e CITROS48 Variedades copas 49 de melhor coloração (Marodin, 1987, citado por Rodrigues & Dornelles, 1999). No Rio Grande do Sul, Sartori et al. (1996), apresentaram como perí- odo ideal de maturação, para a tangerina Caí, de abril a junho e, para a Montenegrina, de agosto a outubro. Para as condições edafoclimáticas de Cordeirópolis (SP), a tradicional Mexeriqueira-do- Rio tem seus frutos próprios para colheita entre maio e julho (Pio, 1999). Das mudas produzidas em maio de 2003, em São Paulo, somente 0,09% eram dessa variedade. 3.4 Cravo A tangerina Cravo (Figura 2D) tem como ori- gem provável o território português, sendo muito similar a outra variedade, Carvalhais (Saunt, 1990). Apesar da semelhança, os frutos da Cravo são maiores, pois foram adquirindo características próprias como é comum nas plantas propagadas por sementes (Donadio et al., 1995). Embora seja muito saborosa, vem perdendo, ano a ano, lugar de destaque entre os plantios no Estado de São Paulo, não aparecendo, muitas vezes, entre as mais plantadas. Apenas 0,03% das mudas produzidas nos vi- veiros paulistas era de tangerina Cravo, em maio de 2003. 3.5 Seleção de novas variedades Devido ao pequeno número de variedades plantadas comercialmente e à produção de tan- gerinas ser de variedades com sementes, pesqui- sas vêm sendo desenvolvidas para disponibilizar outras variedades, mais bem aceitas no mercado internacional, e também colocar à disposição do consumidor frutas cítricas em época em que não estão presentes no mercado brasileiro. 3.5.1 Grupo das ponkans Para o grupo das ponkans, selecionar varieda- des que apresentam período de maturação fora de safra é o grande objetivo das pesquisas. Algu- mas variedades de tangerina Satsuma (C. unshiu Marcow.), provenientes do Japão, cujos frutos são semelhantes aos da tangerina Ponkan, têm o período de maturação iniciando em fevereiro e, apesar de não apresentarem características de sabor muito adequadas ao paladar do brasileiro, entram no mercado quando há escassez desse tipo de citros, conseguindo, desse modo, boas vendas. Fazem parte do BAG-Citros do Centro APTA Citros Sylvio Moreira, as variedades Miyagawa e Owari, apresentando a primeira, frutos maiores, casca Figura 2 Variedades comerciais de tangerinas e híbridos: A. Ponkan, B. Murcott, C. Mexerica-do-Rio, e D. Cravo Fotos: Centro APTA Citros Sylvio Moreira/ IAC BA DC CITROS48 Variedades copas 49 mais lisa e fina e com maturação dos frutos se an- tecipando em três semanas aos da Owari (Saunt, 1990). Assim, as Satsumas têm sido estudadas, pois, além de o grupo apresentar variedades com maturação bastante precoce, coincidindo com uma época em que não há disponibilidade de tangerinas no mercado, possui outra característica favorável: seus frutos não possuem sementes. Va- riedades de Satsumas com características bastante promissoras vêm sendo estudadas por Morimoto (2001), no Japão, as quais foram obtidas de muta- ção de plântulas e hibridações convencionais. Após a maturação da Satsuma, selecionou-se a tangerina Span Americana, introduzida da Cór- sega em 1967. Essa variedade apresenta plantas de porte ereto e seus frutos possuem características bastante adequadas para serem consumidos a partir do final de março. Caracteriza-se como uma variedade precoce com frutos de aspecto bastante atrativo, quando se leva em consideração o sabor e o tamanho (Pio et al., 2001). Outras duas variedades, a Loose Jacket e a De Wildt, apresentam o período de colheita a partir de junho, estendendo-se até agosto, com frutos de excelente sabor, semelhantes aos da Ponkan; entretanto, são mais firmes, facilitando o manuseio na colheita e na pós-colheita (Pio, 1997). As variedades Africa-do-Sul e Empress têm-se mostrado bastante interessantes, pois podem ser colhidas a partir de julho, estendendo a matura- ção de seus frutos até setembro, sendo, portanto, bastante tardios. Com o aspecto semelhante ao da tradicional Ponkan, apresenta textura firme e exce- lente qualidade (Pio, 1992). Assim, tem-se a possibilidade de colheita de frutos do tipo Ponkan de fevereiro a setembro. Aliando diferentes regiões climáticas do Estado de São Paulo e porta-enxertos, provavelmente, ocor- rerá maior dilatação de safra dessa variedade. Dada importância que possui para os asiáti- cos, a Ponkan tem sido estudada por pesquisado- res chineses e, segundo Lisong & Xingui (2000), diversas seleções têm sido obtidas visando am- pliar o período de safra e conseguir frutos sem sementes. 3.5.2 Grupo das mexericas O grande objetivo da seleção de mexericas é a obtenção de variedades que ampliem ainda mais o período de colheita. A mexerica Tardia da Sicilia, que foi introduzida da Itália, em 1968, no Centro de Citros, em Cordeirópolis (SP), além de apresentar sabor e aspecto externo do fruto bastante semelhante à Mexerica-do-Rio, possui a característica de ser mais tardia. Seus frutos podem ser colhidos a partir de agosto, logo após a colheita da variedade plantada comercialmente. O equilíbrio entre açúcares e ácidos é fator marcante nessa variedade, tor- nando-a excelente para consumo in natura (Pio et al., 2001). 3.5.3 Variedades sem sementes Na região mediterânea, em especial no Mar- rocos e na Espanha, as variedades sem sementes, principalmente as clementinas, têm-se tornado as tangerinas mais populares e com a mais rápida expansão nas últimas três décadas. Na Espa- nha, tem-se plantado, basicamente, a autêntica clementina sem sementes, e em vista de intensas observações, têm sido detectadas mutações de grande interesse. Esse fato veio possibilitar a ob- tenção de safras de clementinas além dos meses tradicionais (novembro e dezembro), ou seja, de meados de outubro a meados de fevereiro (Saunt, 1990). Das muitas variedades cultivadas, podem- se citar: Fina, Nules, Esbal, Oroval e Marisol, entre outras. Existem muitas controvérsias sobre a origem da clementina. Uma das teorias é de que ela tenha surgido de um cruzamento acidental entre a me- xerica comum do Mediterrâneo e a laranja-azeda conhecida como Granito. Outra hipótese é de que apresenta características idênticas à variedade conhecida como tangerina Canton, plantada nas províncias de Gwangxi e Guangdong, na China (Saunt, 1990). Além das seleções de clementinas, alguns híbridos de tangerinas têm-se mostrado com bom potencial em alguns países, como Espanha, Israel, Estados Unidos, Austrália e Japão. Um exemplo é o crescente plantio de tangelo Nova em áreas de cultivo da Espanha e Israel, onde recebeu as de- nominações de Clemenville e Suntina. Na Flórida, este último vem ganhando popularidade em detri- mento do tangelo Orlando (Saunt, 1990). Além dos estudos para ampliação do período de maturação dos frutos, a ausência de sementes é outro objetivo que vem sendo buscado nos traba- lhos de melhoramento em São Paulo. CITROS50 Variedades copas 51 Segundo Gayet (1993), para o consumidor estrangeiro, as variedades de tangerinas planta- das no Brasil não atendem ao padrão de aceita- ção para serem consumidas como fruta fresca. O mercado internacional valoriza muito frutas sem sementes. O tangor Murcott, que é exportado, apresenta cerca de vinte sementes por fruto. En- tretanto, o europeu está acostumado a consumir as clementinas, que são produzidas e vendidas na ordem de 700.000 toneladas por safra. Fazem parte da coleção do Centro Avançado de Citros duas variedades obtidas pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Donadio, em 1972, provenientes de cruzamentos entre as tangerinas Cravo e Cle- mentina. Apesar de as plantas localizarem-se próximo de outras variedades cítricas, constata- se, com freqüência, a presença de alguns frutos sem sementes, o que é altamente interessante. Essas variedades, as Clementinas Caçula 3 e 4, vêm merecendo especial atenção, tendo em vista que há possibilidade de não possuírem sementes quando em plantios isolados (Pio et al., 2000). O tangelo Nova (Figura 3A) também tem sido alvo de estudos. Variedades com frutos de aspec- to bastante atraente e muito saborosos, tem-se comportado muito bem em regiões de clima mais ameno, realçando ainda mais a sua coloração e sabor da fruta (Pio, 2003). Outra variedade, o tangor Ortanique (Figura 3B), apresenta caracte- rísticas adequadas de sabor e, apesar de possuir casca mais aderente ao fruto, tem maturação bas- tante tardia, podendo ser colhidas até outubro, o que desperta grande interesse entre os produtores (Borges & Pio, 2003) 3.5.4 Outros híbridos O mais importante híbrido de tangerina é o tangor Murcott; entretanto há outros igualmente promissores. Segundo Pio (1997) e Pio et al. (2001a, 2004) são apresentadas a seguir varie- dades que poderão ampliar o quadro varietal da citricultura paulista. a) Thomas Introduzida da África do Sul, apresenta frutos de forma oblata, de tamanho médio e coloração laranja-avermelhada. Casca lisa e aderente. Ápice e base truncados com pequeno colarinho. Massa média de 161g. Polpa de coloração alaranjada forte, com a média de 16 sementes por fruto. Suco correspondendo a 38% da massa do fruto, com teores médios de °Brix de 13,1%; acidez, 1,2% e ratio de 10,1. Variedade promissora para exportação, tendo em vista o sabor que adquire, bastante adequado ao paladar do consumidor estrangeiro (Figura 3C). b) Sul-da-África Introduzida da África do Sul, em 1967. Apresenta frutos de tamanho médio, cor ala- ranjada forte e forma oblata; casca aderente com vesículas de óleo ligeiramente salientes. Ápice truncado e base côncava com peque- no colarinho. A polpa é alaranjada forte, com média de 14 sementes por fruto, que pesa em média, 106 g. Suco correspondendo a 45% da massa do fruto com teores médios de °Brix de 12,1%; acidez 1,0% e ratio 11,7. Variedade com frutos de aparência bastante atrativa e excelente sabor, prestando-se para o mercado de fruta fresca (Figura 3D). c) Szuwinkon Introduzida da Estação Experimental de Lipa, nas Filipinas, pelo Prof. Dr. Ary Salibe. Apresenta frutos de tamanho médio, coloração amarelo- alaranjada, forma oblata. Casca lisa e aderente. Ápice truncado e base com pescoço. Massa média de 122 g. Polpa de coloração alaranjada forte, com média de 13 sementes por fruto. Suco corres- pondendo a 41% da massa do fruto, com teores médios de °Brix de 11,6%, acidez 0,7% e ratio de 17,5 (Figura 3E). d) Szuwinkon x Szuwinkon-Tizon Introduzida da Estação Experimental de Lipa, nas Filipinas, em 1966, pelo Prof. Dr. Ary A. Salibe. Apresenta frutos de tamanho médio a grande, coloração alaranjada forte, forma oblata. Casca aderente, lisa, com glândulas li- geiramente salientes. Base com pescoço e ápice truncado. Massa de 132 g. Polpa de coloração alaranjada forte, com média de 11 sementes por fruto. Suco correspondendo a 40% da massa do fruto, com teores médios de °Brix de 11,6; acidez 0,7% e ratio de 18,8. Tanto essa variedade quanto a Szuwinkon apresentam casca bastante firme, porém fáceis de descas- car, o que, certamente, constitui importante fator no pós-colheita. Sabor exótico extrema- mente agradável ao paladar. CITROS50 Variedades copas 51 e) Fremont Originária de cruzamento das tangerinas Clementina e Ponkan (Citrus clementina hort. ex Tan. x Citrus reticulata Blanco), realizado por P.C. Reece, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em Orlando, Flórida, e depois selecionada por J.R. Furr, na Califórnia, antes de ser liberada em 1964. Apresenta plantas de porte médio, com boa produtividade. Frutos de matura- ção precoce a meia-estação, tamanho médio, for- ma oblata, casca lisa e ligeiramente frouxa. Mas- sa média de 103 g, com média de 13 sementes por fruto, casca e polpa de coloração alaranjada forte; 51% de rendimento em suco; °Brix de 12; acidez 1,0% e ratio de 11,9 (Figura 3F). 4 Limões e limas ácidas Neste grupo, estão reunidos os limões verdadei- ros e a lima ácida Tahiti. Nas Tabelas 5 e 6, são apresentadas as principais características e a época de colheita, do limão Siciliano e das duas limas áci- das Galego e Tahiti para o Estado de São Paulo. 4.1 Limões A origem do limão ainda hoje tem sido fon- te de controvérsias com relação a sua história e taxonomia. Acredita-se que seja nativo da porção oriental do Himalaia, na Índia e áreas adjacentes. Sua introdução na Europa ocorreu no século XI, com as cruzadas religiosas (Web- ber, 1943) Chegou à América do Norte trazido por Co- lombo na segunda expedição, em 1493, de onde se disseminou para os demais países da América do Norte e do Sul, conforme relato de Tolkowsky (1938), citado por Sinclair (1984). Atualmente, é bastante cultivado nos Estados Unidos, países mediterrâneos (Itália e Espanha), na Argentina, Brasil, China e África do Sul, além de outros, em menor quantidade. De acordo com Malik et al. (1974), citado por Sinclair (1984), existem dúvidas se o limão é um híbrido; acredita-se que seja um derivado da cidra, lima e outra fonte genética não identi- ficada, ou mesmo um pomelo. Figura 3 Variedades de tangerinas e híbridos com valor comercial: A. Nova, B. Ortanique, C. Thomas, D. Sul-da-África, E. Szuwinkon, e F. Fremont Fotos: Centro APTA Citros Sylvio Moreira/ IAC BA FED C CITROS52 Variedades copas 53 O limoeiro é adaptado às regiões de clima sub- tropical com temperatura média anual inferior a 20 °C. Em regiões cuja amplitude térmica entre os meses mais frios e quentes do ano se mantém em torno de 7 °C, apresenta florescimentos consecuti- vos, o que possibilita a colheita durante, pratica- mente, o ano todo. Quanto maior essa amplitude, mais concentrada será a produção nos meses de outono e inverno (Coggins, 1984) No Brasil, o limão é cultivado, comercialmen- te, sobretudo no Estado de São Paulo, havendo pequenos cultivos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. No Estado de São Paulo, os plan- tios localizados mais ao sul sofrem com as geadas, pois, entre as frutas cítricas, o limão é um dos mais sensíveis à baixa temperatura. Os plantios mais ao norte do Estado apresentam maior incidência de pragas, plantas mais vigorosas e longevidade menor, dadas as temperaturas mais altas. O limoeiro é uma planta de hábito de cresci- mento ereto, vigoroso e expansivo, exigindo poda normalmente a partir do 7o ano de cultivo. Os frutos são oblongo-elipsóides, com pescoço e ma- milo, cujo tamanho é inerente a cada variedade. A casca, quando maduro, é amarela, com vesículas de óleo grandes, albedo geralmente espesso e pol- pa amarelo-clara de textura firme (Donadio et al., 1995). A massa do fruto varia de 120 a 220 g e o teor de suco entre 45 e 55%, com teores médios de sólidos solúveis totais de 9,0% e acidez de 5,5%. O número de sementes varia de 7 a 15 (Cardoso, 1998). As variedades mais cultivadas no mundo são: Eureka, Femminello, Genova, Lisboa, Siciliano, Interdonato, Monachello, Verna e Villafranca, con- forme relato de Sinclair (1984) e Saunt (1990). No Brasil, as variedades Eureka, Femminello, Lisboa e Genova têm sido as mais cultivadas. Apesar de os limões da espécie C. limon (L.) Burm. f. serem conhecidos, no Brasil, como limão Siciliano, essa denominação se aplica, na ver- dade, a uma variedade pouco cultivada. Assim sendo, o termo “Siciliano” acaba englobando uma série de seleções ainda não classificadas dentro das demais variedades de limão cultivadas no Brasil. A sinonímia Siciliano utilizada no Brasil, Tabela 5 Principais características das variedades de limões e limas ácidas de valor comercial no Estado de São Pauloa Limas ácidas e limão Origem Sementes/ fruto Massa média Teor suco °Brix Acidez Ratiob Destino dos Frutoscno g % % Siciliano Desconhecida 10 95 35 8,0 5,3 1,5 MI - E - S Galego Índia 5-6 35 50 9,7 6,5 1,5 MI - S Tahiti Índia 0 70 50 9,0 6,0 1,5 MI - E - S a Valores médios para variedades obtidos junto às indústrias processadoras b Ratio = razão sólidos solúveis (°Brix) / acidez c MI = mercado interno, S = suco e E = exportação Fonte Adaptado de Figueiredo (1991) Tabela 6 Épocas de colheita dos frutos das principais variedades de limas ácidas e limão no Estado de São Pauloa Variedade Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Siciliano Galego Tahiti a Hachurado escuro representa épocas principais de colheita; hachurado claro, as épocas de colheitas menores. Informações referem a pomares não irrigados e situados nas condições médias de clima do planalto paulista Fonte Adaptado de Figueiredo (1991) CITROS52 Variedades copas 53 segundo relatos de Alves (1986), é uma alusão à origem das primeiras sementes de limão introdu- zidas no País, já que as mesmas, possivelmente, vieram da Sicília, na Itália. A variedade Siciliano, de acordo com Tucker & Hearn (1982), é cultiva- da na Flórida; suas plantas são muito vigorosas, apresentam grande quantidade de espinhos e alta sensibilidade ao frio. Seus frutos são grandes, com problemas de qualidade no pós-colheita, devendo ser destinados somente à industrialização. 4.1.1 Eureka A variedade Eureka (Figura 4A) é, atualmente, a mais cultivada tanto no Brasil, quanto nos Es- tados Unidos, na Argentina e na África do Sul. As plantas apresentam porte menor em relação à variedade Lisboa, sendo menos enfolhadas e com menor resistência às geadas e poucos espinhos. Sua produção é distribuída no inverno, na prima- vera e no início do verão, com a maior parte dos frutos distribuída na região externa da planta. O fruto tem tamanho médio, com casca de espessura média a fina, alto teor de suco e acidez e poucas sementes, características que o tornam a varieda- de de limão preferida para o mercado de fruta fresca (Saunt, 1990). 4.1.2 Femminello A variedade Femminello, a mais importante em cultivo na Itália, compreende um grupo de sele- ções que apresentam como característica principal plantas de porte vigoroso, boa produtividade e vários fluxos distintos de florescimento (Sinclair, 1984). O fruto apresenta tamanho médio, casca relativamente grossa, com conseqüente redução no teor de suco; acidez alta, com o número de se- mentes variando de acordo com o fluxo de floresci- mento. A seleção Femminello Santa Teresa, a qual segundo Saunt (1990), é resistente à doença mal secco [Phoma tracheiphila (Petri) Kanc. et Ghik], é a seleção cultivada no Brasil. 4.1.3 Lisboa De origem australiana, o Lisboa é, atualmen- te, bastante cultivado nos Estados Unidos e na Argentina, sendo, juntamente com o Eureka, as variedades mais cultivadas nas Américas. De porte médio a elevado, com bastante espinhos e folhagem densa, possui boa resistência ao frio e produtividade elevada, concentrada nos meses de outono e inverno. Os frutos estão distribuídos na região interna da planta. Em relação ao Eureka, seus frutos se diferenciam pela casca ligeiramente mais rugosa (Saunt, 1990). 4.1.4 Genova O Genova é uma variedade de origem italiana. As plantas são menores, com poucos espinhos e folhagem abundante. A resistência ao frio é boa. O fruto é de textura mais macia, formato mais arredondado, com mamilo e pescoço pequenos. Suas características internas são semelhantes às da variedade Eureka (Bono et al., 1985). A importância econômica do cultivo de limão está relacionada à sua utilização, tanto para pro- dução de suco, óleo essencial e pectina da casca, quanto para consumo como fruta de mesa. O óleo extraído da casca é utilizado pela indústria de perfumaria e alimentícia para conferir o aroma e o sabor de limão aos seus produtos; o suco é adotado na indústria de refrigerantes, sucos e be- bidas em geral e como acidulante natural em uma série de produtos alimentícios; a pectina extraída do albedo é utilizada como espessante em doces, geléias, sorvetes e iogurtes principalmente. Como fruta de mesa, ainda é pouco conhecida no Brasil, mas tem amplo consumo nos demais pa- íses do mundo, por apresentar sabor agradável, boa aparência e boa conservação pós-colheita; além disso, a ocorrência de diversos fluxos de pro- dução permite sua presença no mercado durante todo ano, favorecendo a estabilidade de preços. 4.2 Limas ácidas A lima ácida Tahiti (Figura 4B) pertence a um grupo de citros chamado de limas ácidas. Seu nome científico é C. latifolia (Yu. Tanaka) Tanaka. É conhecido como limon Persa no México, Bearss lime na Califórnia, Tahiti lime na Flórida (Roy et al., 1996) e como lima ácida de fruto grueso na Espanha (Gonzalez-Martinez & Garcia-Legaz, 1990). Difere da lima ácida Galego [C. aurantiifo- lia (Christm.) Swingle] pelo maior tamanho e pela ausência de sementes. Na verdade, não existem variedades de lima ácida Tahiti, mas, sim clones. Os mais difundidos são o IAC-5 ou Peruano e o Quebra-galho. Na região Nordeste, os clones mais difundidos são o CNPMF-1 e o CNPMF-2, ambos de origem nucelar CITROS54 Variedades copas 55 (Coelho, 1993), dos quais foram obtidos materiais pré-imunizados. Um deles, o clone CNPMF-1 pré-imunizado, foi avaliado em Bebedouro. Suas plantas apresentaram porte elevado e boa produ- ção, apesar de estar enxertado sobre tangerina Cleópatra (Stuchi et al., 2002). Em São Paulo, cultivam-se os clones IAC-5 e o Quebra-galho, que também são plantados nas demais regiões produtoras, incluindo a Nordeste. Estimou-se que o número de plantas dos clones Quebra-galho e IAC-5, em 2000, no Estado de São Paulo, era de 1 e 5 milhões respectivamente (Amaro & Teófilo Sobrinho, 2000). O IAC-5 é um clone nucelar bastante produti- vo que apresenta tolerância ao vírus da tristeza, ausência de fissuras na casca do tronco e ramos, e menor incidência de hipertrofia do cálice das flo- res (Figueiredo, 1991). Os pomares formados com esse clone costumam ser bastante uniformes, com plantas de porte elevado. Há relatos de pomares pouco produtivos desse clone. O Quebra-galho é um clone velho contamina- do com viróides dos citros (CVd), inclusive o da exocorte dos citros (CEVd), razão pela qual suas árvores são de menor porte, até 40% menos aos cinco anos, que as do IAC-5 (Salibe & Roessing, 1965). Os pomares de Quebra-galho são razo- avelmente produtivos, mas bastante desuniformes e de vida útil mais curta (15% de plantas mortas aos 10 anos de idade) e, em geral apresentam precocidade de entrada em produção similar à do IAC-5 (Salibe & Roessing, 1965; Figueiredo et al., 1976). No clone Quebra-galho, ocorre grande variação na fenologia das plantas de um mesmo talhão, tanto no tamanho como no hábito de crescimento (Salibe & Moreira, 1965; Salibe, 1986; Müller & Costa, 1993). Essas diferenças podem ser atribuídas ao viróide ou mescla de viróides que esteja contaminando o material, ou a falhas na transmissão por enxertia na propaga- ção ou na inoculação, uma vez que a contamina- ção com viróides pode ser setorizada (Figueiredo et al., 1976; Fernandes, 1983; Salibe, 1986; Corrales-Giraldo, 1990; Roistacher, 1991; Stuchi et al., 1998, 2001). Existem dúvidas quanto às vantagens de um ou outro clone. Foi reportado por Müller & Cos- ta (1993) que o Quebra-galho apresenta maior produção de frutos, inclusive na entressafra. En- tretanto, estudos realizados pelo IAC (Salibe & Ro- essing, 1965; Figueiredo et al., 1976) mostraram não haver diferenças na qualidade das frutas, na distribuição das safras no decorrer do ano nem na produção de frutos no período de entressafra (outubro), entre os clones velhos portadores de exocorte e o IAC-5. Quanto à precocidade de entrada em produção e à produção total de frutos, o IAC-5 foi superior ao Quebra-galho. Já Morei- ra (1956) afirmou que plantas com exocorte são precoces na entrada em produção e sempre pro- duzem frutos extemporâneos. Pomares irrigados de IAC-5, quando bem conduzidos e sob certas condições de clima, produzem grande quantidade de frutos na entressafra. Estima-se que a maioria dos pomares brasileiros seja formado por plantas do clone Quebra-galho; isso é explicado por apre- sentar porte reduzido, frutos de boa qualidade e boa produtividade. Essas características desper- taram a preferência dos produtores. Contudo, as vantagens atribuídas ao Quebra-galho poderiam estar associadas a outros clones cujas árvores fossem também menores. Plantas cítricas de menor porte (anãs) podem ser obtidas pelo uso de porta- enxertos ananicantes, de plantas interenxertadas com porta-enxertos ananicantes e pela inoculação de viróides conhecidos (Stuchi, 1994). Cabe mencionar que existem, em outros países, clones dessa espécie como segue: na Espanha, o Instituto Valenciano de Investigaciones Agrárias, em seu Banco Ativo de Germoplasma (BAG), con- ta com dois acessos: IVIA-124 e IVIA-227 (IVIA, 2003) . Na França, o CIRAD-CORSA tem disponí- vel, em seu BAG, três acessos: SRA 58, SRA 359 e SRA 617 (INRA, 2003). Nos Estados Unidos, estão disponíveis dois clones nucelares: USDA no 1 e USDA no 2 (Morton, 1987). 5. Pomelos Dentre as poucas variedades existentes no Bra- sil, destaca-se o Marsh Seedless, que foi origina- do, aparentemente, nos Estados Unidos, sendo seu nome dado por um viveirista chamado C.M. Marsh (Figueiredo, 1991). Os frutos têm polpa amarela (Figura 4C). São plantas de grande porte, com boa produti- vidade, atingindo até 200 kg de frutos por planta. Por serem pouco tolerantes à tristeza, necessitam de pré-imunização, com seleção de raça fraca do vírus. Os pomelos participam em número de plantas com menos de 0,1% do total existente no Estado. Nas Tabelas 7 e 8, são apresentadas as características do fruto e o período de colheita do pomelo para as condições paulistas CITROS54 Variedades copas 55 Figura 4 Variedades comerciais de limões, limas ácidas e pomelos: A limão Eureka, B. lima ácida Tahiti, e C. pomelo Marsh seedless Seus frutos servem para o consumo ao natural, nos mercados interno e externo e para a indústria de suco concentrado. Quanto a esse aspecto, há pequena utilização da fruta e do suco concentrado por parte dos brasileiros, provavelmente pelo seu sabor amargo. Assim, praticamente toda a produ- ção é destinada à industrialização e exportada como suco e fruta fresca. Em São Paulo, a colheita normalmente ocorre de maio a agosto, sendo a variedade considerada de meia-estação. Existem muitos pomelos de polpa colorida. Entre eles estão o Ruby e o Redblush, que não alcançam expressão comercial em São Paulo. Poucos foram os trabalhos realizados no Brasil com os pomelos até o presente. Mas um deles, de Donadio & Enciso-Garay (1997), comparou as características qualitativas dos pomelos Star Ruby, Redblush e Marsh Seedless, nas condições de Bebedouro(SP), com as descritas em diferentes pa- íses produtores. Os autores chegaram às seguintes conclusões: i) os dados médios das características qualitativas de frutos obtidos em Bebedouro, com o pomelo Marsh Seedless, são similares aos da Espanha, da Austrália e de Chipre; para o Red- blush, constatou-se que a porcentagem de suco, acidez e ratio são similares aos da Argentina; o Star Ruby apresentou conteúdo em suco e sólidos solúveis similar ao da Córsega, ii) Marsh Seedless e Redblush apresentaram frutos com maior massa média, e Star Ruby proporcionou frutos com maior Tabela 7 Principais características da variedade de pomelo de valor comercial no Estado de São Pauloa Variedade Origem Sementes/fruto Massa fruto Teor suco °Brix Acidez Ratio b Destino dos Frutosc no g % % Marsh Seedless EUA 4-6 250 38 8,5 1,3 6,5 MI - E - S a Valores médios para variedades obtidos junto às indústrias processadoras b Ratio = razão sólidos solúveis (°Brix) / acidez c MI = mercado interno, S = suco e E = exportação Fonte Adaptado de Figueiredo (1991) Fotos: Centro APTA Citros Sylvio Moreira/ IAC Tabela 8 Épocas de colheita dos frutos do pomelo Marsh Seedless no Estado de São Pauloa Variedade Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Marsh Seedless a Hachurado escuro representa épocas principais de colheita; hachurado claro, as épocas de colheitas menores. Informações referem a pomares não irrigados e situados nas condições médias de clima do planalto paulista Fonte Adaptado de Figueiredo (1991) BA C CITROS56 Variedades copas 57 ratio e porcentagem de suco, iii) Marsh Seedless foi o mais produtivo na média de três safras, e iv) para volume de copa, o Redblush apresentou a menor média, não existindo diferenças marcantes entre as outras variedades. 6 Considerações finais O quadro varietal da citricultura paulista mos- tra sua pequena base genética. As variedades de laranjas doces, em sua grande maioria, foram muito pesquisadas ao longo de todos esses anos, em vista de o Estado de São Paulo ter a maior par- te de sua citricultura voltada para a indústria, haja vista ser o Brasil o maior produtor de suco con- centrado congelado de citros do mundo. Assim, existe um número maior de variedades, quando comparado com os demais grupos cítricos dispo- nibilizado para plantios comerciais. Entretanto, novas seleções de laranjas doces de maturação tardia e, principalmente, precoces e meia-estação necessitam ser plantadas pelos produtores para que possam preencher com produção de frutos o período ocioso das indústrias. Com relação a variedades de laranja para mesa, o comportamento do mercado brasileiro ocorre de maneira diferente de grande parte dos países produtores desse tipo de fruta. As laranjas do tipo Navel são as preferidas pela maioria dos outros países. No Brasil, elas são substituídas por variedades que se prestam para as duas finalida- des: mesa e indústria. Quanto às tangerinas, os pro- dutores não se dedicam ao plantio de variedades sem sementes, que constituem a grande preferência de consumidores exigentes de todo o mundo. As limas ácidas vêm ganhando espaço nos mercados internacionais por iniciativa de asso- ciações que vão em busca de novos compradores. Essa estratégia também deveria ser adotada como um todo pelos citricultores do país no sentido de divulgar a fruta aqui produzida tanto para o consumidor interno quanto externo. Assim, há necessidade de uma política governamental de apoio e valorização do produtor brasileiro em mercados inexplorados. Disponibilizar novas variedades constitui importante fator na cadeia produtiva. Entretanto, o mais importante é haver a conscientização de todos os participantes do agro- negócio para a adoção da tecnologia gerada pela pesquisa, quer seja pública, quer privada. Essa postura é de grande relevância, com conseqüen- te obtenção de excelentes produtos, que possam contribuir para melhorar a qualidade de vida dos consumidores. CITROS56 Variedades copas 57 7 Referências bibliográficas ALVES, F.L. 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