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61Capítulo 4 Porta-enxertos Jorgino Pompeu Junior CITROS62 Porta-enxertos 63 Foto da página anterior: Subenxertos de citrange Troyer em laranjeira Bahia Frost sobre trifoliata, com sintomas de incompatibilidade, Califórnia (EUA) (J. Pompeu Junior) CITROS62 Porta-enxertos 63 1 Introdução A produção de alimentos é, em essência, o manejo adequado da fotossíntese. Esse manejo envolve o conhecimento do sistema radicular, par- ticularmente quando um porta-enxerto é reunido a uma copa, às vezes com a intermediação de um interenxerto, para formar uma nova planta, ou seja, outro sistema plurigenético. A origem da palavra raízes data de 3000 a.C., quando, no idioma proto-indo-europeu, a palavra “rad” era usada para descrever o eixo descenden- te da planta. Dela derivou a palavra grega “riza”, que originou o termo “rizoma”, utilizado em botâ- nica desde o século XVIII, e a palavra latina “ra- dícula”, que descreve a raiz primaria da planta. Assim, raízes e, por extensão, porta-enxertos, já têm uma longa história. O sistema radicular é responsável pela fixação da planta ao solo, absorção e transporte de água e minerais, síntese e transporte de reguladores do crescimento e armazenamento de nutrientes, cujas interações ainda se extendem à rizosfera. Em 1971, Kolesnikov citado por Rom (1987), relata que “as raízes das plantas são tão ativas quanto as folhas e que o sistema radicular interagindo com o solo e a copa desempenha importante papel no crescimento, desenvolvimento e frutificação da planta. Cabe ao agricultor proporcionar as condi- ções adequadas para o harmonioso trabalho das folhas e raízes”. Na natureza, a união de raízes ocorre com fre- qüência. A observação das conseqüências dessa união motivou a criação da arte da enxertia unin- do partes de duas plantas, de modo que cresces- sem e se desenvolvessem como uma única planta. Os chineses praticavam a enxertia cerca de 1000 a.C., e Aristóteles (384-322 a.C.) fez detalhada descrição dessa técnica em seus manuscritos. O uso de porta-enxertos visando reduzir a altura de pereiras e macieiras tornou-se uma prática comum a partir do século XV (Rom, 1987). A operação da enxertia objetiva criar uma associação entre dois indivíduos, geneticamente diferentes, cada qual com suas características, que devem passar a viver em estreito relacionamento, mutuamente benéfico, para que a nova planta seja produtiva e longeva. Conseqüentemente, ela sofre, ao longo da vida, a influência de sua origem du- pla, uma vez que nem sempre serão harmônicos os interesses e as necessidades da copa e do porta- enxerto. O porta-enxerto induz à copa alterações no crescimento, tamanho, precocidade de produção, produção, maturação e peso dos frutos, coloração da casca e do suco, teor de açúcares, de ácidos e de outros componentes do suco, permanência dos frutos na planta e sua conservação após a colheita, fertilidade do pólen, absorção, síntese e utilização de nutrientes, transpiração e composição química das folhas, resposta a produtos de abscisão dos frutos e folhas, tolerância à salinidade, à seca, ao frio, a doenças e pragas. As influências da copa sobre o porta-enxerto são menos visíveis, mas ocorrem no desenvolvimento do sistema radicular, resistência ao frio, à seca e a doenças e pragas. Assim, para que a planta proporcione o má- ximo de produtividade, é necessário que seja instalada em um ecossistema a ela apropriado, receba os tratos culturais necessários e que haja o mais harmônico relacionamento entre a copa e o porta-enxerto. O uso dos porta-enxertos permitiu superar fa- tores abióticos e bióticos e obter ganhos de produ- tividade, mas foi também responsável por grandes adversidades da citricultura, como gomose, triste- za, declínio e morte súbita dos citros. 2 O uso dos porta-enxertos As plantas cítricas podem ser propagadas por semente, estaquia, alporquia, enxertia e cultivo de tecidos. As sementes da maioria das variedades cítri- cas apresentam a característica de possuir um ou mais embriões sexuados (zigóticos), bem como um número variável de embriões nucelares formados pela diferenciação de células somáticas do nuce- lo. Esses embriões possuem o mesmo genoma da planta-mãe e, ao germinar, dão origem a plantas idênticas àquelas que forneceram as sementes. A facilidade da propagação, do transporte e a longevidade das sementes foram fundamentais na disseminação dos citros das regiões de origem para novas áreas. A propagação por semente, que prevaleceu até meados de 1800, apresenta algu- mas dificuldades e inconveniências: existem varie- dades desprovidas de sementes, como as laranjas Bahia e Baianinha [Citrus sinensis (L.) Osbeck] e a lima ácida Tahiti [C. latifolia (Yu. Tanaka) Tanaka] enquanto outras, como a tangerina Clementina (C. clementina hort. ex Tanaka), têm sementes mono- embriônicas, geralmente zigótico e, portanto, seus descendentes serão heterogêneos. A propagação CITROS64 Porta-enxertos 65 por semente apresenta também o inconveniente da suscetibilidade da maioria das variedades copas à gomose de Phytophthora e à seca, dão origem a plantas que iniciam mais tardiamente a produ- ção dos frutos e apresentam muitos espinhos que podem danificar os frutos e as folhas e dificultar a colheita. A propagação por estaquia ou alporquia dá formação a plantas suscetíveis à gomose de Phyto- phthora e à seca, e com sistema radicular sem raízes pivotantes, o que torna a planta sujeita ao tombamento. Ambas foram utilizadas na Flórida (EUA) na obtenção de limeiras Tahiti por induzirem maior precocidade de produção quando compa- rado com plantas enxertadas (Campbell, 1972). A alporquia de clones nucelares de laranjas doces foi mais bem sucedida que a dos clones velhos (Sampaio et al., 1978), provavelmente pelo maior conteúdo de hormônios presentes no nucelar. A es- taquia e a alporquia constituem um método rápido na obtenção de porta-enxertos de variedades que apresentam sementes pouco viáveis ou que produ- zem baixa porcentagem de plântulas nucelares; as plantas, porém, estarão mais sujeitas à seca e ao tombamento. Embora a enxertia dos citros já fosse conheci- da desde o século V, considera-se que o principal indutor da transição da citricultura de pés francos para a de plantas enxertadas foi o surgimento da gomose de Phytophthora na Ilha dos Açores em 1842 e seu controle mediante porta-enxertos resistentes (Chapot, 1975). Dentre eles, destacou- se a laranja Azeda (C. aurantium L.), adotada, a seguir, nas principais regiões citrícolas. Por volta de 1890, começou a se observar, na África do Sul e na Austrália, o declínio de laranjeiras e tangeri- neiras enxertadas em laranja Azeda, o que levou a sua substituição pelo limão Rugoso (C. jambhiri Lush.). Na década de 1930, esse problema foi constatado nas citriculturas da Argentina, do Brasil e da Califórnia (EUA) (Wallace, 1959). No Brasil, ela foi observada em 1937, no Vale do Rio Paraíba, em São Paulo, afetando laranjeiras doces enxertadas em laranja Azeda (Bitancourt, 1940), sendo denominada de tristeza por Moreira (1942). A principio, foi considerada como uma forma de incompatibilidade entre copas e porta-enxertos, sendo a sua origem virótica, transmissão por bor- bulhas e pelo pulgão-preto (Toxoptera citricidus Kirk.) constatada no Brasil em 1946 (Meneghini, 1946). A inviabilidade do controle do vetor obri- gou a substituição da laranja Azeda por outros porta-enxertos, tolerantes a essa virose, os quais manifestaram outras doenças, como a exocorte e a xiloporose (Moreira, 1954, 1955). O controle des- sas viroses, que não são transmissíveis por vetores, passou a ser feito com a utilização de borbulhas retiradas de plantas matrizes sadias selecionadas em campo ou de clones nucelares derivadosdas cultivares infetadas (Moreira, 1962; Moreira & Salibe, 1965). Em 1956, Sylvio Moreira, no Congresso de Citricultura do Mediterrâneo, em Tel Aviv, fez uma recomendação fundamental para o estudo de por- ta-enxertos: “para se conhecer o comportamento real de uma variedade copa em determinado por- ta-enxerto, os ensaios deverão ser formados so- mente com porta-enxertos originados de sementes e enxertados com clones nucelares ou sadios”. Esse procedimento passou a ser adotado, na ciência e na prática, nas principais regiões citríco- las, à medida que outros porta-enxertos iam subs- tituindo a laranja Azeda, em vista do alastramento do vírus da tristeza. 3 Porta-enxertos no Brasil Desde a introdução dos citros em São Paulo, por volta de 1540, e até o inicio do século XX, as plantas cítricas foram propagadas por sementes. Apenas quando a citricultura alcançou expressão comercial, iniciou-se o uso de plantas enxertadas, sendo as laranjas doces, entre elas a laranja Cai- pira (C. sinensis), o porta-enxerto mais utilizado. A baixa resistência da Caipira à gomose e à seca motivou a sua substituição pela laranja Azeda, que, até a década de 1940, foi o principal porta-enxer- to. Nessa época, a citricultura paulista era formada por 12 milhões de plantas, 90% das quais estavam enxertadas na laranja Azeda e, as demais, em lima da Pérsia (C. limettioides Tanaka), limão Cravo (C. limonia Osbeck), laranja Caipira e limão Rugoso. A introdução do vírus da tristeza dos citros em São Paulo, por volta de 1937, e a sua dissemi- nação por borbulha e pelo pulgão-preto, causa- ram a morte das plantas enxertadas em laranja Azeda e lima da Pérsia, que são intolerantes ao vírus. Os experimentos que vinham sendo desen- volvidos pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz desde 1925 (Vasconcellos, 1939) e pelo Instituto Agronômico desde 1933 (Moreira, 1946) e as observações em pomares comerciais CITROS64 Porta-enxertos 65 revelaram que as plantas enxertadas em limão Cravo, tangerina Cleópatra (C. reshni hort. ex Tanaka), tangerina Sunki [C. sunki (Hayata) hort. ex Tanaka], laranja Caipira e limão Rugoso não manifestavam os sintomas da doença. Esses porta- enxertos foram considerados tolerantes à tristeza e utilizados na reconstrução da citricultura. A renovação dos pomares aproveitando borbulhas retiradas de plantas sobre laranja Azeda e en- xertadas principalmente no limão Cravo mostrou que esse porta-enxerto era suscetível à exocorte e à xiloporose, cuja presença, nos pomares antigos era mascarada pela tolerância da laranja Azeda (Moreira, 1954, 1955). Elas se tornaram um gra- ve problema, pois estavam presentes na maioria das cultivares e poderiam reduzir até em 70% a produção das plantas (Rossetti & Salibe, 1961), o que poderia tornar inviável o uso do limão Cravo. O conhecimento de que essas duas doenças eram transmitidas somente por borbulhas indicou a so- lução mediante o emprego dos clones nucelares, cujo estudo havia sido iniciado na década de 1930, e que passaram a ser utilizados a partir de 1955 (Moreira & Salibe, 1965). As excepcionais características apresentadas pelo limão Cravo: facilidade de formação das mudas, compatibilidade com todas as copas, produção precoce, altas produções de frutos de boa qualidade, e grande resistência à seca, além da tolerância à tristeza, tornaram-no o preferido pelos viveiristas e citricultores. A partir da década de 1960, ele passou a ser praticamente o único porta-enxerto da citricultura paulista (Pompeu Ju- nior, 2001b). Um experimento iniciado no Instituto Agronô- mico em 1948, com a colaboração do Departa- mento de Agricultura dos Estados Unidos, pos- sibilitou determinar a performance à tristeza de quase 400 tipos de citros e afins, dos quais apenas 77 mostraram tolerância a essa virose. Os porta- enxertos mais promissores foram selecionados e participaram de experimentos em diversas regiões do Brasil. Alguns dos experimentos, cujas plantas estavam infectadas por viroses como exocorte, xiloporose e sorose, proporcionaram resultados de valor relativo porque essas doenças impediram que os porta-enxertos manifestassem todo o seu potencial produtivo, mas permitiram conhecer a reação das plantas a essas viroses. Desde a década de 1970, o declínio dos citros vem afetando plantas enxertadas sobre o limão Cravo (Rodriguez et al., 1979), e provocou uma pequena diversificação dos porta-enxertos, lidera- da pela tangerina Cleópatra e seguida pelo limão Volkameriano (C. volkameriana V. Ten. & Pasq.), tangerina Sunki, e, a partir do inicio da década de 1990, pelo citrumelo Swingle [C. paradisi Macfad. x Poncirus trifoliata (L.) Raf.]. Porém, as excepcionais características do limão Cravo, fizeram com que ele continuasse a predominar nos novos plantios. Da- dos coletados pelo Fundecitrus em 2002 mostravam que ele participava em 70% das mudas existentes em viveiros. No inicio deste milênio, estimava-se que o limão Cravo estivesse presente em 80% das plantas cítricas comerciais do Estado de São Paulo. Desde 1999, uma nova doença, denominada de morte súbita dos citros, vem afetando laranjei- ras e tangerineiras enxertadas em limão Cravo no sudoeste de Minas Gerais e no norte de São Paulo. As plantas enxertadas sobre tangerina Cleópatra, citrumelo Swingle e trifoliata [Poncirus trifoliata (L.) Raf.] não mostram sintomas, havendo suspeitas de que ela também afetasse plantas enxertadas sobre limão Volkameriano, o que foi, posteriormente, confirmado. A morte súbita dos citros acelerou a diversificação dos porta-enxertos. Levantamento realizado pelo Fundecitrus, em maio de 2003, mostrou que apenas 39,8% das mudas estavam enxertadas em limão Cravo seguido pela tangeri- na Cleópatra com 32,6%, citrumelo Swingle 13,8% e tangerina Sunki 7,1%. A Tabela 1 apresenta a evolução do uso dos porta-enxertos em São Paulo. O exame dos dados no período 1961-70 mostra o incremento do limão Cravo, de 76,5 para 99,1%, motivado pelas ca- racterísticas apresentadas por esse porta-enxerto e pela adoção dos clones nucelares, que passou de 9,8% em 1961 para 32,9% em 1966 e 94,9% em 1970 (Cintra et al., 1973). A tangerina Cleópatra vem sendo adotada há mais de 50 anos, com relativo sucesso, o que faz com que o citricultor recorra a ela periodica- mente. No decênio 1961-70, sua presença nas mudas diminuiu de 8,6% para 0,3%, provavel- mente pelo uso dos clones nucelares a partir de 1955, o que tornou viável o limão Cravo sem os inconvenientes das viroses presentes nos clones velhos. A constatação da suscetibilidade dos limões Cravo e Volkameriano ao declínio e da tolerância da tangerina Cleópatra a essa doença provocou o retorno desse porta-enxerto, cuja par- ticipação nas mudas alcançou a media de 24% em 1984-1988, com um máximo de 33,6% em 1987. CITROS66 Porta-enxertos 67 Ta b el a 1 N ú m er o d e m u d a s, e m m ilh õ es d e p la n ta s, e p a rt ic ip a çã o p er ce n tu a l d o s p ri n ci p a is p o rt a -e n x er to s P o rt a -e n x er to s 1 9 6 1 1 9 6 6 1 9 7 0 1 9 8 4 1 9 8 5 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 9 6 1 9 9 8 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 n o t o ta l m u d a s (x 1 .0 0 0 ) 3 .2 5 0 2 .1 6 0 9 .6 7 0 5 .5 6 0 1 4 .6 0 0 9 .1 9 0 7 .2 3 0 1 2 .3 4 0 1 7 .8 3 0 9 .4 0 0 1 9 .3 2 0 9 .9 7 0 6 .7 2 0 1 0 .7 6 0 % Li m ão C ra vo 76 ,5 95,9 99 ,1 78 ,7 77 ,8 76 63 ,2 65 85 ,0 81 ,2 74 ,9 77 ,6 69 ,6 39 ,8 C le óp at ra 8, 6 2, 8 0, 3 19 ,2 19 ,3 21 ,6 33 ,6 27 ,7 9, 0 8, 3 13 ,7 13 ,0 10 ,2 32 ,6 V ol ka m er ia no 0 0 0 1, 2 0, 5 1, 2 0, 7 0, 7 1, 0 0, 9 1, 7 1, 4 0, 9 2, 9 Sw in gl e 0 0 0 0 0 0 0 0, 9 3, 0 5, 8 6, 0 4, 3 10 ,8 13 ,7 Su nk i 0 0 0 0 0, 2 0, 3 1, 0 1, 3 1, 0 2, 2 1, 1 1, 0 5, 1 7, 1 Tr ifo lia ta _a 0, 4 0, 2 0 0 0 0, 2 0, 7 1, 0 0, 6 2, 3 2, 1 3, 0 2, 5 C ai pi ra 12 ,9 0, 8 0, 2 0, 8 2 0, 8 0, 8 1, 1 0 0 0 0 0 0, 2 Ru go so N ac io na l 1, 8 0 _ _ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Li m a da P ér si a _ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Tr oy er _ 0 0 0 0 0 0 0, 3 0 0 0 0, 1 0, 2 0 C ar riz o 0 0 0 0 0 0 0 0, 3 0 0 0 0 0 0, 2 La ra nj a A ze da 0 0 0, 1 0 0 0 0, 3 1, 2 0 0 0 0, 2 0 0 Ta ng el o O rla nd o 0 0 0 0 0 0 0 0, 7 0 0 0 0 0 0, 1 a D ad o nã o di sp on ív el CITROS66 Porta-enxertos 67 As limitações apresentadas pela tangerina Cleó- patra, como o inicio de produção mais tardio e a suscetibilidade à seca, e a possibilidade de utilizar outros porta-enxertos, novamente reduziram a presença da tangerina Cleópatra, que, somente em 2003, voltou a ter a participação expressiva de 32,6% em decorrência da sua tolerância à morte súbita dos citros. O limão Volkameriano foi introduzido da Itália em 1963 e somente dez anos depois publicaram- se os primeiros resultados mostrando ser ele uma opção ao limão Cravo, principalmente pela sua tolerância à seca (Salibe, 1973). Isto explica, em parte, que a sua presença nos viveiros somente co- meçasse a ser registrada em 1984, em 1,2% das mudas. A suscetibilidade ao declínio e a incom- patibilidade com a laranja Pêra são as principais limitações a seu maior uso. Sua aparente tolerân- cia à morte súbita dos citros provocou um pequeno acréscimo de utilização, tendo sido encontrado em 2,9% das mudas em 2003. Posteriormente, Bassa- nezi et al. (2003) confirmaram a suscetibilidade do Volkameriano à morte súbita dos citros. O citrumelo Swingle ou 4475 vem sendo ava- liado pelo IAC desde sua introdução em 1948. O interesse por esse porta-enxerto começou na déca- da de 1980, motivado pela tolerância ao declínio e resistência à gomose. Desde 1988, quando ele surge nas estatísticas participando de 0,9% das mudas, sua presença vem crescendo, sendo o ter- ceiro porta-enxerto mais utilizado em 2002 e 2003, com 10,8 e 13,7% respectivamente, sobretudo por apresentar tolerância à morte súbita dos citros. Suas principais limitações são a menor resistência à seca que os limões Cravo e Volkameriano e a incompa- tibilidade com a laranja Pêra (C. sinensis), tangor Murcott [C. reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Os- beck] e limões [C. limon (L.) Burm. f.] cv. Siciliano e Eureka. Por ser tolerante à exocorte, vem sendo uti- lizado como porta-enxerto para a lima ácida Tahiti clone Quebra-galho, portador dessa virose. A presença da tangerina Sunki começou a ser registrada em 1985, quando participou de 0,2% das mudas presentes nos viveiros, motivada pela sua resistência ao declínio dos citros e por induzir produções de frutos geralmente superiores às pro- porcionadas pela tangerina Cleópatra. A constata- ção de que as plantas enxertadas nesse porta-en- xerto não são afetadas pela morte súbita dos citros fez com que sua presença nos viveiros aumentasse para 5,1% em 2002 e 7,1% em 2003. O trifoliata e os citranges (C. sinensis x P. tri- foliata) cv. Carrizo e Troyer têm como limitações o maior tempo necessário para a formação das mu- das, suscetibilidade ao declínio dos citros, baixa tolerância à seca e incompatibilidade com a laran- ja Pêra e com o tangor Murcott. A Tabela 1 mostra que a participação deles nas mudas formadas nos últimos 40 anos foi inferior a 0,5% exceto, para o trifoliata, que teve pequeno acréscimo a partir de 2000, provavelmente pela ocupação de áreas mais sujeitas à gomose, plantios mais adensados, tolerância à morte súbita dos citros e adoção da seleção Flying Dragon [P. trifoliata var. monstrosa (T. Ito) Swingle], com caracterís- ticas ananicantes, principalmente para a lima ácida Tahiti. A laranja Caipira é suscetível à seca e à go- mose de Phytophthora, tendo sido considerada tolerante aos viróides da exocorte e da xiloporose, por não manifestar seus sintomas. Foi a principal razão de ter sido utilizada até o inicio dos anos sessentas quando foi tornado compulsório o uso de borbulhas de origem nucelar isentas dessas viro- ses. O maior vigor dos clones nucelares acentuou as deficiências apresentadas por esse porta-enxer- to, que teve seu uso reduzido de 12,9% em 1961 para níveis inferiores a 2% a partir de 1962. A lima da Pérsia, que em 1960 participava de 0,03% das mudas, teve seu uso como porta-enxer- to proibido a partir de 1963, mediante portaria do Instituto Biológico (DOE, 29/3/1963), pela intole- rância ao vírus da tristeza (Cintra et al., 1973). O desinteresse pelo limão Rugoso pode ser atribuído à pequena longevidade das plantas nele enxertadas, provavelmente em vista da par- cial intolerância à tristeza e por sua incompatibi- lidade com a laranja Pêra. O ressurgimento da laranja Azeda, em 1970, deve-se a sua utiliza- ção como porta-enxerto para os limões Siciliano e semelhantes. Outros porta-enxertos, que não figuram na Tabela 1, vêm sendo avaliados por citricultores em pomares exploratórios, geralmente decorrentes de introduções clandestinas ou de mutações naturais ou de hibridações espontâneas. As perspectivas são de que a morte súbita dos citros e os resultados das avaliações de novos por- ta-enxertos promovam maior diversificação dos porta-enxertos, como sugerem os dados referentes a 2003 ao revelar que o limão Cravo participava apenas em 39,8% das mudas. CITROS68 Porta-enxertos 69 4 Problemas abióticos e bióticos asso- ciados a porta-enxertos Os fatores ambientais e sanitários são os prin- cipais determinantes na seleção de porta-enxertos. Em São Paulo, a ausência da irrigação e a pre- sença da tristeza, do declínio, da morte súbita dos citros e da gomose de Phytophthora são fatores condicionantes na eleição dos porta-enxertos. Em outros países, a salinidade e o frio são também limitantes. Ainda devem ser consideradas as res- trições impostas pela ocorrência de incompatibili- dade entre copas e porta-enxertos, fenômeno que acontece com freqüência entre a laranja Pêra e o tangor Murcott com o trifoliata e seus híbridos. Dentre as mais importantes limitações ao uso dos porta-enxertos destacam-se os seguintes: 4.1 Seca O estresse da água ocorre quando as con- dições ambientais tornam sua absorção ou seu transporte insuficiente para repor a água perdida pela transpiração. Ele inibe o crescimento da plan- ta e do fruto, causa o murchamento e a queda de folhas, flores e frutos, podendo provocar a morte das plantas. A diferença mais notável entre a citricultura brasileira, notadamente a paulista, e a citricultu- ra de outros paises, é o uso restrito da irrigação. Como a florada ocorre em agosto/setembro e a colheita está concentrada de abril a dezembro, período de menor ocorrência de chuvas, é neces- sário o uso de porta-enxertos tolerantes à seca. Asdiferenças entre os porta-enxertos podem ser atribuídas à quantidade e distribuição horizontal e vertical das raízes e radicelas e à eficiência da absorção e transporte da água, bem como à aber- tura e ao fechamento dos estômatos das folhas. As variedades copas e os clones exercem grande influência no comportamento dos porta-enxertos. Assim, as laranjeiras demandam maior consumo de água que as tangerineiras e os clones nucela- res, mais enfolhados, exigem mais água que os clones velhos. 4.2 Encharcamento O excesso de água provoca a redução do oxi- gênio disponível ao sistema radicular, causando a morte das radicelas. A sobrevivência do sistema radicular nos solos encharcados é influenciada pelo porta-enxerto e pelo tipo e pH do solo. A presença de sulfito de hidrogênio (H2S) e de outros metabólicos tóxicos produzidos na região ocupada pelo sistema radicular sob condições anaeróbias também pode causar a destruição das raízes. Parecem ser mais tolerantes ao encharcamento os limões Volkameriano, Rugoso e Milan (C. jam- bhiri) e o citrumelo Swingle, enquanto a tangerina Cleópatra e o citrange Carrizo são menos toleran- tes. Limão Cravo, trifoliata, laranja Azeda e lima da Pérsia formam um grupo intermediário. Outro fator é a velocidade do porta-enxerto de repor as raízes mortas por sadias após cessado o encharcamento. O limão Rugoso supera os demais quanto a essa característica. De modo geral, os solos maldrenados, sujeitos a encharcamentos, não devem ser utilizados para o plantio de pomares cítricos, a menos que haja o preparo adequado do solo. O encharcamento não deve ser confundido com lençol freático alto que limita a profundidade a ser atingida pelas raízes. O trifoliata e alguns de seus híbridos desenvolvem-se bem em solos com essa característica. 4.3 Alcalinidade A alcalinidade ocorre quando o pH do solo é superior a 7, geralmente em decorrência da pre- sença de alta quantidade de cálcio ocasionando a redução da disponibilidade de nutrientes às plantas. O trifoliata e alguns de seus híbridos mostram deficiência de ferro em pH próximo a 8. O citrange Carrizo inicia a manifestação de deficiências de zinco e manganês quando o pH supera 6. Essas deficiências podem ser corrigidas por pulverizações foliares. 4.4 Salinidade Uma das conseqüências nas diferenças entre os porta-enxertos na absorção dos nutrientes é a tolerância à presença de sais no solo. As plantas cítricas são sensíveis à salinidade, que pode causar-lhes redução no crescimento e na produção. A salinidade é provocada, princi- palmente, por cloretos e sulfatos e por outros sais presentes na água de irrigação usada em áreas situadas em regiões áridas ou próximas ao mar. A irrigação sobre-copa com água salina pode cau- CITROS68 Porta-enxertos 69 sar “queimadura” e queda de folhas e conseqüente redução da produção. A irrigação sub-copa com água salina pode acarretar acumulação de sais no solo. O limão Cravo e a tangerina Cleópatra são relativamente tolerantes ao cloreto de sódio enquanto o limão Rugoso, citrumelo Swingle, ci- trange Carrizo e, principalmente, o limão Milan e o trifoliata são sensíveis à salinidade. 4.5 Frio A tolerância da planta cítrica ao frio e à geada é determinada pela copa e pelo porta-enxerto. Assim, a laranja Pêra e a lima ácida Tahiti são mais suscetíveis ao frio que as laranjas Bahia e Valência, independentemente do porta-enxerto uti- lizado. Este exerce alguma influência na tolerância das plantas ao frio, podendo reduzir os danos das geadas. Desse modo, as plantas sobre tangerina Cleópatra, trifoliata e citrumelo Swingle são mais tolerantes ao frio que as enxertadas nos limões Cravo, Volkameriano, Rugoso e Milan e na lima da Pérsia. As laranjas doces e o citrange Carrizo são intermediários entre esses grupos. Precedendo a abordagem dos fatores bióticos, é necessário definir conceitos referentes às relações entre porta-enxertos e patógenos. Nesse contexto, o termo porta-enxerto suscetível ou intolerante é atribuído àquele que manifesta sintomas decorren- tes da presença do patógeno, enquanto porta-en- xerto tolerante é aquele em que tais sintomas não se manifestam. Como exemplo, o limão Cravo e o trifoliata são citados como suscetíveis à exocorte porque manifestam rachaduras e escamações da casca quando infectados por esse viróide. Já as tangerinas Cleópatra e Sunki e as laranjas do- ces, inclusive as Caipiras, são denominadas de tolerantes porque não manifestam esses sintomas. Entretanto, a não-expressão dos sintomas pode ocultar danos econômicos. Por muitas décadas, as laranjas Caipiras foram recomendadas como porta-enxertos para clones portadores do viróide da exocorte. A evolução do conhecimento mostrou que laranjeiras Hamlin (C. sinensis), portadoras de exocorte e enxertadas em variedades de laranja doce apresentaram, em media, redução da pro- dução de 28% quando comparadas com o clone nucelar da mesma cultivar. As maiores reduções foram observadas nas plantas enxertadas nas la- ranjas Caipiras C e DAC, 34 e 33% e, as menores, na Santa Lucia e Caipira A, 15 e 16% respectiva- mente (Pompeu Junior & Salibe, 2002). No mesmo experimento, as laranjeiras Hamlin portadoras da exocorte, quando enxertadas no limão Cravo, produziram 68% menos que as plantas sadias no mesmo porta-enxerto. 4.6 Tristeza A introdução do vírus da tristeza no Brasil, no final da década de 1930 (Bittancourt, 1940), e sua rápida disseminação por borbulhas e pelo pulgão- preto (Meneghini, 1946), motivou a exclusão dos porta-enxertos intolerantes, como a laranja Azeda e a lima da Pérsia, e tornou indispensável o uso de porta-enxertos tolerantes, entre os quais o limão Cravo e a tangerina Cleópatra, ou imunes como o trifoliata. Em São Paulo, ocorrem diversas raças do vírus da tristeza. Uma delas, denominada Capão Bonito, causa caneluras em porta-enxertos toleran- tes a outras raças do vírus, como o limão Cravo e as tangerinas Cleópatra e Oneco (C. reticulata) e o trifoliata. A tangerina Sunki vem-se mostrando tolerante a essa estirpe de tristeza (Müller et al., 1968). A laranja Azeda somente pode ser utilizada como porta-enxerto para os limões Siciliano, Eu- reka e semelhantes. A explicação é que as células dos limões são hipersensíveis ao vírus da tristeza e morrem logo após serem infectadas, impedindo a multiplicação do vírus. A laranja Azeda é também hipersensível ao vírus, o que ilustra porque é possí- vel formar laranjeira Azeda enxertada em laranja Azeda ou em qualquer porta-enxerto ou ainda de “pés francos”. 4.7 Exocorte A exocorte, causada por um viróide, foi cons- tatada no Brasil na década de 1940 (Moreira, 1946), causando a escamação dos porta-enxertos considerados intolerantes, entre os quais o limão Cravo, trifoliata e alguns citranges (Moreira, 1954, 1955, 1959). Geralmente, é visualizada em plantas com quatro ou mais anos de idade e ocasiona redução no crescimento, no tamanho e na produção das plantas. Isso também ocorre, em menor intensidade, nas plantas enxertadas sobre os porta-enxertos considerados “tolerantes”, por- que não mostram as escamações características dessa virose (Pompeu Junior et al., 1979; Pompeu Junior & Salibe, 2002). CITROS70 Porta-enxertos 71 Não são conhecidos vetores dessa doença, efetuando-se seu controle com o emprego de bor- bulhas sadias e desinfecção de equipamentos de poda e de enxertia. Plantas com sintomas de exocorte no porta- enxerto podem ser parcialmente recuperadas se subenxertadas com variedades menos suscetíveis, como a tangerina Cleópatra ou citrumelo Swin- gle. A tangerina Sunki é considerada intolerante à exocorte, embora não manifeste rachaduras e escamações. 4.8 Xiloporose Sua ocorrência no Brasil foi relatada por Mo- reira (1938),afetando laranjeiras Barão enxerta- das em lima da Pérsia. É causada por um viróide que induz no lenho das variedades intolerantes a formação de depressões arredondadas que se justapõem a saliências da face interna da casca; às vezes, pode dar-se o inverso: saliências no le- nho e depressões na casca. Tais sintomas ocorrem geralmente em plantas com mais de seis anos de idade e quando o porta-enxerto é o limão Cravo. As plantas afetadas apresentam redução do cres- cimento e da produção. Entre os porta-enxertos mais utilizados, são suscetíveis à xiloporose diver- sas seleções de limão Cravo, a tangerina Oneco e o tangelo Orlando (C. reticulata x C. paradisi). As tangerinas Cleópatra e Sunki, o trifoliata, citranges Troyer e Carrizo e o citrumelo Swingle não mani- festam os sintomas dessa virose (Salibe & Moreira, 1965; Moreira & Roessing, 1965). O controle da doença, da qual não se conhe- cem vetores, é feito com borbulhas sadias e desin- fecção de equipamentos de poda e de enxertia. A subenxertia de plantas doentes com porta-enxertos tolerantes pode reduzir os danos causados por essa virose. O emprego dos clones nucelares ou clones novos eliminou a exocorte e a xiloporose dos nossos pomares e permitiu o uso econômico do limão Cravo e de outros porta-enxertos suscetíveis a essas doenças. 4.9 Galha lenhosa É causada pelo vírus enação foliar-galha lenhosa que foi encontrado no Brasil afetando laranjeiras e outras espécies enxertadas em li- mões Volkameriano e Rugoso (Feichtenberger et al., 1989). Ele induz dois tipos de sintomas: galhas ou intumescências nos troncos dos limões Volkameriano e Rugoso ou espessamento das nervuras na face inferior das folhas de algumas variedades, como a lima ácida Galego [C. auran- tiifolia (Christm.) Swingle], a laranja Azeda e o limão Rugoso. O vírus é transmitido por borbulhas e por pulgões, entre os quais o pulgão-preto. A doença, geralmente, não causa grandes danos às plantas. Quando as galhas aparecem em plantas adultas, estas continuam a produzir economi- camente por até dez anos, mesmo mostrando grande número de galhas no porta-enxerto. Mudas que apresentam galhas ainda no viveiro, podem resultar em plantas raquíticas e pouco produtivas (Jacomino & Salibe, 1994). Em São Paulo, o vírus da galha lenhosa foi transmitido por pulgões-pretos coletados em laranjeiras por- tadoras do complexo Capão Bonito do vírus da tristeza, originando galhas nos limões Volkame- riano Palermo, Catania-2 e Australian, Rugoso da Flórida, Rangpur lime D22.30, limão Cravo híbrido-2, tangelo Orlando e citrange Carrizo (Carvalho et al., 2001). 4.10 Declínio dos citros O declínio dos citros, com características se- melhantes ao blight que ocorre na Flórida desde 1880 foi constatado no Brasil em 1977 (Rodri- guez et al., 1979) afetando laranjeiras enxerta- das em limão Cravo e, posteriormente, em limão Volkameriano, trifoliatas e outros porta-enxertos (Beretta et al., 1986a, 1986b, 1994). De causas ainda desconhecidas, foi transmitido somente por enxertia de raízes (Carlos, 1996). Os sin- tomas geralmente se manifestam nas laranjeiras com quatro ou mais anos de idade, não sendo observados em tangerineiras, limeiras ácidas e pomeleiros enxertados sobre porta-enxertos sus- cetíveis. Seu controle é feito com o emprego de porta-enxertos tolerantes, como o citrumelo Swin- gle, a laranja Caipira e as tangerinas Cleópatra e Sunki, embora laranjeiras Valência enxertadas sobre tangerina Cleópatra, com 14 anos de idade, tenham manifestado sintomas da doença (Müller et al., 1997). As observações indicam que todos os porta- enxertos comerciais apresentam suscetibilidade ao blight/declínio, que se manifesta com o enve- lhecimento da planta. Assim, Castle (1993) relata CITROS70 Porta-enxertos 71 que, em experimento de porta-enxertos para laranja Valência com 15 anos de idade, o blight foi responsável pela perda de 45% das plantas enxertadas em limão Volkameriano, 43% das en- xertadas em limão Rugoso, 27% das enxertadas em limão Cravo, 23% daquelas sobre tangelo Orlando, 17% das plantas sobre trifoliata, 13% das enxertadas sobre citrange Carrizo, 7% das enxertadas em citrumelo Swingle e 2% das plan- tas sobre laranja doce. Apenas as enxertadas sobre laranja Azeda não apresentaram plantas mortas. Relata, ainda, que a perda de laranjeiras Valência enxertadas sobre tangerina Cleópatra que havia sido de 15% até as plantas terem 12 anos de idade aumentou para 23% quando elas completaram 15 anos, ou seja, um crescimento de 8% em três anos. Declínios com características semelhantes ao que ocorre no Brasil acontecem também na África do Sul, Venezuela, Cuba, Argentina e Uruguai, recebendo nomes como blight, declinamiento repentino ou fruta bolita na Argentina, marchita- miento repentino no Uruguai (Beretta et al., 1994), e Macrophylla decline, no Arizona (Taylor et al., 2000). 4.11 Declínio do citrumelo Swingle Foi observado no Belize, em 1999, afetando laranjeiras Valência com cinco a oito anos de ida- de. Os sintomas iniciais são deficiências nutricio- nais seguidas da redução do vigor e da produção das plantas, podendo ocorrer sua morte. Durante a época da seca, as plantas doentes sofrem mais que as sadias pelo estresse hídrico. O exame do sistema radicular das plantas com diferentes níveis da anomalia mostra a morte progressiva das raí- zes absorventes. Talhões adjacentes de laranjeiras Valência enxertadas em limão Volkameriano, tan- gerina Cleópatra, citrange Carrizo e laranja Aze- da não mostram a doença. O problema vem sendo atribuído a um conjunto de fatores decorrentes da presença de horizonte argiloso muito denso no perfil do solo (Gutierrez, 2002). 4.12 Declínio do Citrus macrophylla É uma forma de declínio de causas desconhe- cidas, semelhante ao blight que afeta esse porta- enxerto no Estado do Arizona (EUA) (Taylor et al., 2000). 4.13 Cristacortis Sua ocorrência em São Paulo foi verificada por Rossetti (1976) em tangerineiras Clementina sobrenxertadas em laranjeiras Hamlin sobre limão Cravo. Os sintomas dessa virose, da qual não se conhecem vetores, são semelhantes aos da xilopo- rose, ou seja, depressões no lenho coincidentes com excreções da face interna da casca. Ela afeta somente copas e porta-enxertos de laranjas doces e laranjas azedas, o que não ocorre com a xilo- porose. 4.14 Citrange stunt Essa virose, causada pelo complexo tatterleaf- -citrange stunt, transmissível por borbulhas, pode provocar a formação de anel de goma na linha de enxertia, depressões no lenho dos porta-enxertos e nanismo de algumas variedades de laranjas, tan- gerinas e limões, quando enxertadas em trifoliata ou citranges (Garnsey & Miyakawa, 1993). 4.15 Morte súbita dos citros (MSC) Constatada em 1999, essa anomalia vem afe- tando laranjeiras e tangerineiras enxertadas em limão Cravo (Gimenes-Fernandes & Bassanezi, 2001) e em limão Volkameriano (Bassanezi et al., 2003). As plantas apresentam, inicialmente, folhas verde-pálido seguida da queda das folhas e morte dos ramos apicais e culminando com o perecimento das plantas, cerca de seis meses após o aparecimento dos sintomas (Müller et al., 2002). A retirada da casca do limão Cravo mostra o câm- bio amarelado, sendo esse o sintoma-diagnóstico da doença e que precede os sintomas da copa. A MSC já foi observada em plantas com dois anos de idade, sendo mais freqüente nas com mais de seis anos. Plantas enxertadas sobre tangerinas Cleópatra e Sunki, citrumelo Swingle e trifoliata não mostram sintomas da doença. Suas causas permanecem desconhecidas, havendo evidencias de que seja provocada por um vírus e transmitida por borbulhas (Yamamoto et al., 2003) e por vetor alado. A convivência com a MSC vem sendo feita pela subenxertia das plantas sobrelimões Cravo e Volkameriano com porta-enxertos tolerantes e pelo plantio de mudas formadas sobre esses porta-enxertos. CITROS72 Porta-enxertos 73 4.16 Necrose do Citrus macrophylla As principais cultivares de limão, quando enxertadas em Alemow (C. macrophylla Wester), podem apresentar oclusão de vasos do floema que induzem ao declínio e morte das plantas (Castle, 1987; Davies & Albrigo, 1994). As causas dessa anomalia são desconhecidas, supondo-se ser uma forma de incompatibilidade. 4.17 Gomose de Phytophthora A primeira ocorrência documentada da gomose de Phytophthora no Brasil data de 1917 (Alencar, 1941). As diversas espécies de Phytophthora são responsáveis pelo tombamento ou mela que ocorre nas sementeiras dos porta-enxertos, por lesões em fo- lhas, brotações e hastes muito freqüentes em viveiros, pela podridão-parda dos frutos e por outros danos à planta cítrica. As mais serias manifestações do fungo, genericamente denominadas de gomose, são a po- dridão do colo, do tronco, das raízes e radicelas. As lesões podem causar o anelamento das raízes e do tronco, impedindo o fluxo da seiva elaborada nas fo- lhas para as raízes, ocasionando a morte destas. Em conseqüência, ocorre a descoloração das nervuras e amarelecimento das folhas, que murcham e secam; florescimentos e frutificações freqüentes e extemporâ- neos; produção de frutos pequenos e de maturação precoce; desfolha e seca de ramos e morte da planta. A podridão de raízes e radicelas pode ocorrer em viveiros e pomares sem que as plantas apresentem os sintomas foliares típicos da doença. Entre as espécies de Phytophthora que afetam as plantas cítricas, a P. citrophthora (R.E. Sm. e E.H. Sm.) e a P. parasítica Dastur (= P. nicotianae Breda de Haan) são as principais causadoras da gomose no Brasil, sendo a P. parasitica a predominante. Os porta-enxertos podem ser agrupados quanto à sus- cetibilidade às infecções do tronco por P. citrophtho- ra e P. parasitica em: alta suscetibilidade: laranjas doces e limões rugosos; moderada suscetibilidade: limões Cravo e Volkameriano, tangerinas Sunki e Cleópatra, tangelo Orlando e citranges Troyer e Carrizo; baixa suscetibilidade: laranja Azeda e C. macrophylla, e muito baixa suscetibilidade: trifolia- ta e citrumelo Swingle (Feichtenberger et al., 1994). Essas reações podem ser alteradas por ferimentos causados por agentes abióticos, como grades e herbicidas, ou bióticos, como coleópteros curculio- nídeos. Na Flórida, a ação conjunta da Diaprepes abbreviatus (L.) (Coleóptera: Curculionidae) com a Phytophthora spp. vem ampliando a perda de plan- tas enxertadas sobre porta-enxertos considerados resistentes a gomose (Graham et al., 2003). 4.18 Clorose variegada dos citros Doença causada pela bactéria Xylella fastidio- sa Wells et al., pode ser transmitida pelas sementes de laranjas doces (Pria Junior et al., 2003). Não foi relatada sua transmissão pelas sementes de outros porta-enxertos. 4.19 Nematóides Embora muitas espécies de nematóides já tenham sido encontradas em pomares de citros no Brasil, apenas o nematóide dos citros (Tylen- chulus semipenetrans Cobb) e três espécies de Platylenchus - P. coffea (Zimmermann) Goodey, P. brachyurus (Godfrey) Goodey e P. jaehni Inserra et al. - podem ser considerados danosos à cultura. Na Flórida, o Radopholus citrophilus Huettel, Dick- son & Kaplan é considerado o principal nematóide parasita dos citros (Campos, 2002). O primeiro relato sobre a ocorrência do nema- tóide dos citros em pomares do Estado de São Pau- lo e do Rio de Janeiro coube a Carvalho (1942), que aventou sua relação com a nova doença que então assolava a citricultura, posteriormente iden- tificada como a tristeza dos citros. O nematóide dos citros causa a doença denominada de declínio lento dos citros, manifestada pelo apodrecimento das radicelas e clorose das folhas, seguido da re- dução no crescimento das plantas, na produção e no tamanho dos frutos. Segundo Salibe (1996) e Campos & Ferraz (1980), o trifoliata e o citrumelo Swingle são muito resistentes ao T. semipenetrans, o citrange Troyer apresenta media resistência, e os limões Cravo, Volkameriano e Rugoso da Flórida, as tangerinas Cleópatra, Sunki e Sun Chu Sha Kat (C. reticulata) e a laranja Hamlim, são pouco resistentes a esse nematóide. O controle é feito pela utilização de mudas sadias e de porta-enxertos resistentes. 4.20 Incompatibilidades A enxertia promove o contato de vegetais ge- neticamente diferentes e com sistemas anatômicos, CITROS72 Porta-enxertos 73 fisiológicos e bioquímicos distintos, possibilitando a ocorrência de interações tanto favoráveis como desfavoráveis entre as partes envolvidas. Dentre estas, destaca-se a ocorrência de pouca afinidade e até incompatibilidade entre copas e porta-en- xertos. As plantas afetadas, a principio, crescem normalmente, às vezes até mais vigorosamente que as combinações copa/porta-enxerto compa- tíveis, provavelmente pelo progressivo anelamento causado pela formação de um anel de goma na região de enxertia e que retém na copa os metabólicos elaborados pelas folhas. Decorridos dois ou mais anos da enxertia, elas passam a apresentar deficiências nutricionais, queda das folhas, seca de ponteiros, brotação exagerada do porta-enxerto e produções não econômicas de frutos, podendo vir a morrer. A retirada da casca na região de enxertia revela a penetração da cas- ca no lenho, em parte ou em todo o perímetro do tronco, geralmente acompanhado pela formação de linha necrótica com exsudação de goma na casca e no lenho (Nauryal et al., 1958; Kirkpatrick et al., 1962; Pompeu Junior et al., 1972). A incompatibilidade pode ser definida como um fenômeno de senescência prematura causada por processos anatômicos e bioquímicos e que pode ser intensificada sob condições de estresse (Feucht, 1988; Feucht & Schmid, 2002). Ainda não se conhecem as causas da incompa- tibilidade, podendo haver agentes diferentes ou in- teração deles para cada combinação copa-porta- enxerto. Há hipóteses que a associam a diferenças no vigor e no inicio e término do ciclo vegetativo do porta-enxerto e do enxerto, enquanto outras a atribuem a diferenças fisiológicas e bioquímicas decorrentes de substancias preexistentes na copa e no porta-enxerto ou formadas em conseqüência da enxertia. Alguns autores associam-na a fatores, provavelmente vírus, transmissíveis por borbulhas (Bridges & Youtsey, 1968; McClean, 1974; Rois- tacher, 1991). Vives et al. (2001) avaliaram la- ranjeiras e outros citros enxertados em citranges e citrumelo com sintomas de anelamento e constata- ram a presença do vírus da folha manchada (citrus leaf blotch virus) em algumas das plantas. Fatores ambientais devem interagir com fatores bióticos, o que poderia explicar a não-ocorrência da incom- patibilidade em determinadas situações. As incompatibilidades foram classificadas por Mosse (1962) em dois tipos: translocada e loca- lizada. É considerada translocada quando não é contornada pela inserção de um interenxerto com- patível com a copa e o porta-enxerto, em vista, aparentemente, a algum fator que pode mover-se através dele. Na localizada, as reações de incom- patibilidade dependem do contato direto entre os tecidos do enxerto e do porta-enxerto, e pode ser superada por um interenxerto. Esta incompatibili- dade é a que ocorre nas plantas cítricas. Nauryal et al. (1958) estudaram limoeiros Eu- reka enxertados diretamente em seleções de trifolia- ta ou separados por interenxerto de laranja Valência e constataram a incompatibilidade somente quando o Eureka esteve unido ao trifoliata, mesmo quando este foi utilizado como interenxerto. Valente et al. (1993) verificaram incompatibilidade em laranjeiras Pêra interenxertadas com citrumelo Swingle.Esse fato permite concluir que o sistema radicular do trifoliata ou do citrumelo Swingle não seriam os responsáveis pela promoção da incompatibilidade. No Brasil, constataram-se incompatibilidades das laranjas Pêra e Seleta de Itaboraí enxertadas em limão Rugoso da Flórida e trifoliata Limeira, da laranja Pêra com o limão Rugoso da África e com o citrumelo Swingle, dos clones Pêra Premunizada e Pêra Bianchi com o citrumelo Swingle (Pompeu Junior, 1991, 1996), e da Pêra Premunizada com os citrumelos F.80.3 e F.80.5 e com dois híbridos de limão Cravo x citrange Carrizo (Pompeu Junior & Blumer, 2002a). Salibe & Cereda (1984) constataram a in- compatibilidade dos clones de Pêra: Bianchi, Pre- munizado, Santa Irene e Comprida com o limão Volkameriano. O tangor Murcott é incompatível com trifoliata (Pompeu Junior et al., 1972), citrumelo Swingle (Pompeu Junior, 1991) e limão Cravo x citrange Carrizo (Pompeu Junior & Blumer, 2001). A Me- xerica-do-Rio, com os citranges C.14 e C.20 e, o limão Siciliano, com os citranges C.8, C.14, C.36, C.41, C.62 e C.65 (Dornelles, 1978). Laranjeiras Valência, com 14 anos de idade, passaram a apresentar sintomas de incompatibili- dade com o porta-enxerto limão Cravo x citrange Carrizo (Pompeu Junior & Blumer, 2002 a) Stuchi (2003) relaciona incompatibilidades cons- tatadas no exterior, entre as quais merecem destaque: laranja Valência sobre limão Rugoso, tangerina Sat- suma (C. unshiu Marcow.) e limões Eureka e Lisboa enxertados em tangerina Cleópatra, limões Eureka e Lisboa sobre C. macrophylla e tangelo Nova (C. reticulata x C. paradisi) em citrange Carrizo. CITROS74 Porta-enxertos 75 Cabe ressaltar que o maior diâmetro do tronco do porta-enxerto em relação ao da copa ou vice- versa nem sempre é indicativo de incompatibilida- de. Diversos cultivares de citros enxertados sobre trifoliatas e seus híbridos mostram maior diâmetro do caule do porta-enxerto em relação ao da copa, porém as plantas não apresentam anel de goma e são produtivas e longevas. O inverso acontece com limoeiros Eureka enxertados em trifoliata, os quais mostram logo acima da região de enxertia maior diâmetro do tronco da copa tanto em plantas sadias como em plantas com sintomas de incompatibilidade (Nauryal et al., 1958). Como os problemas decorrentes da incompa- tibilidade somente começam a aparecer dois ou mais anos após a instalação do pomar, é desacon- selhável o plantio de grandes áreas com combina- ções ainda não conhecidas. Vale lembrar que uma das características negativas da laranja Pêra é ser incompatível com diversas seleções de trifoliata, citrumelos, citranges e outros híbridos de trifoliata, além do limão Volkameriano e várias seleções de limão Rugoso. Em determinadas circunstâncias, ainda não identificadas, essas incompatibilidades podem não ocorrer; assim, Teófilo Sobrinho et al. (1984) relatam que laranjeiras Pêra enxertadas em citrumelo Swingle, com nove anos de idade, não apresentavam anel de goma na região de enxertia. Por sua vez, esse anel era intenso nas laranjeiras Pêra sobre trifoliata Limeira e menos evidente nas plantas enxertadas em trifoliata Davis A, citrange Troyer, e nos limões Volkameriano, Ru- goso da África e Rugoso da Flórida. Passos et al. (1976) verificaram anel de goma em laranjeiras Pêra com sete anos de idade quando enxertadas em limão Rugoso da Flórida, citrumelo Sacaton e em citrange Troyer, mas não em citrange Carrizo e tangerina Cleópatra; observaram, também, a presença do anel de goma em algumas plantas enxertadas sobre limão Cravo. Nas plantas cítricas as incompatibilidades podem ser superadas pelo uso de interenxertos, compatíveis com copa e porta-enxerto, inseridos por ocasião da formação da muda. Assim, por exemplo, é possível formar plantas de laranja Pêra ou de tangor Murcott enxertados sobre citrumelo Swingle com o auxilio de um interenxerto de la- ranja Hamlin ou Valência que poderá ter 5 cm de comprimento e inserido a 15 cm de altura do porta-enxerto. A ocorrência da incompatibilidade no pomar pode ser superada pela subenxertia com porta-en- xerto afim da variedade copa ou pela sobrenxertia com variedade compatível com o porta-enxerto. 5 Micorrizas O desenvolvimento das plantas cítricas está associado a determinados fungos presentes no sistema radicular com os quais mantêm relação de interdependência. Nessa associação, denominada de micorriza (do grego: mico = fungo, e riza = raízes), o fungo penetra nas raízes mais finas e nas radicelas, retirando açucares, aminoácidos e ou- tras substâncias sintetizadas pelas plantas e neces- sárias ao seu desenvolvimento. Como retribuição, eles atuam como extensões das raízes, ampliando o volume do solo explorado e favorecendo a ab- sorção de nutrientes, especialmente do fósforo, a tolerância da planta ao déficit hídrico e a resistência a patógenos presentes no solo. A importância des- ses fungos é destacada por Cardoso et al. (1986, 1993) que concluíram que a inoculação de fungos micorrízicos em substratos desinfetados aumentou a altura, a produção de matéria seca e o teor de fós- foro nas folhas de limoeiros Cravo de 183, 1.045 e 231% respectivamente e até 1.830% na matéria seca produzida por tangerineiras Cleópatra. Os porta-enxertos diferem quanto a sua depen- dência dos fungos micorrízicos. A laranja Azeda e a tangerina Cleópatra são mais dependentes que os limões Cravo e Rugoso e o citrange Carrizo, sendo este o menos dependente (Nemec, 1978). A utilização desses fungos nos pomares tem sido dificultada pela impossibilidade do seu cultivo in vitro. Sabe-se, porém, que a cobertura morta e a presença de culturas intercalares favorece a estabilidade do agroecosistema. 6 Porta-enxertos e nutrição mineral As características físicas e químicas do solo são dois dos fatores a considerar quando da decisão de uso de um porta-enxerto. As características químicas podem ser corrigidas por adubações adequadas, mas as físicas são mais difíceis e de- moradas de alterar. Como o sistema radicular é a parte da planta que absorve os elementos minerais, com exceção daqueles fornecidos via foliar, é evidente que os porta-enxertos exercem influência na composição CITROS74 Porta-enxertos 75 de ramos, folhas e frutos. A quantidade de um nu- triente nas folhas é determinada pela capacidade ou eficiência de absorção e translocação nos vasos condutores. Com freqüência, análises de plantas com sintomas visuais de desnutrição, especialmen- te de micronutrientes, mostram níveis adequados ou até altos desses nutrientes nas raízes. Parte das influências do porta-enxerto nas características de qualidade do fruto é de origem nutricional. Se o porta-enxerto pertence a uma das espécies de Citrus, as variações nos níveis de nutrientes entre os porta-enxertos é pouco marcante, mas se ele pertence a outros gêneros, como é o caso do P. trifoliata, essas diferenças podem ser acentuadas. Segundo Wutscher (1973), o calo formado pela enxertia interfere muito pouco nas diferenças nutricionais. Estudando as conseqüências da en- xertia recíproca do limão Rugoso e do trifoliata e da presença de dois sistemas radiculares, do mes- mo ou de ambos os porta-enxertos, constatou que a copa teve maior influencia no tamanho da planta que o porta-enxerto. O conteúdo mineral das fo- lhas foi semelhante nas plantas com um ou dois porta-enxertos, mas diferiu com os porta-enxertos. A inserção de um interenxerto entre o porta-enxer- to e a copa resultou em pouco significantes e errá- ticas alterações na composição química das folhas expressando que é a absorção pelas raízes e não a translocação o fator dominante na determina- ção dos níveis de nutrientes nas folhas (Wutscher, 1973; Labanauskas & Bitters, 1974). A seletividade da absorçãodos nutrientes apre- sentada pelos porta-enxertos deve ser considerada quando da interpretação dos resultados das aná- lises foliares. A preferência pela absorção de um elemento pode causar depressão na absorção de outros, como, por exemplo, o efeito negativo à ab- sorção de nitrogênio por excesso de cálcio e o de magnésio por excesso de potássio. Uma das conseqüências nas diferenças entre os porta-enxertos na absorção de nutrientes é a tolerância a sais ou a salinidade. Em diversos paí- ses, a citricultura é desenvolvida em regiões áridas onde a água utilizada na irrigação contém altos teores de sais. A tolerância à salinidade refere-se, principal- mente, a sulfatos e cloretos, mas também inclui a tolerância ao boro. A maior parte das espécies cítricas acumula boro, podendo ocorrer toxicida- de, enquanto a laranja Azeda e o C. macrophylla induzem baixos teores de boro. Plantas enxertadas em limão Cravo, tangerina Cleópatra e outras tan- gerinas apresentam baixos teores de cloretos ao contrário das enxertadas em trifoliata e diversos de seus híbridos. As plantas em porta-enxerto de C. macrophylla acumulam altas quantidades de cloretos, mas raramente mostram sintomas de toxicidade. Os citros são relativamente tolerantes aos sul- fatos que, mesmo em altas concentrações na água de irrigação, causam poucos danos. Swingle et al. (1928) citados por Wutscher (1973), estudaram a tolerância ao boro (B) de gêneros de citros, concluindo que Severinia buxifolia (Poir.) Ten., Eremocitrus glauca (Lindl.) Swingle e Atalantia dis- ticha (Blanco) Merr. [= Severinia disticha (Blanco) Swingle] devem ser usados como porta-enxertos nas áreas onde houver excesso de B. Os porta- enxertos limão Rugoso, laranja doce, tangerina Cleópatra, trifoliata e citrange Savage (C. sinensis x P. trifoliata) induzem altos teores de B nas folhas quando a água de irrigação contém B = 0,5 a 1,0 mg L-1. Os sulfatos e cloretos afetam o crescimento das plantas cítricas de duas maneiras: aumen- tando a pressão osmótica da solução do solo, causando a chamada “seca fisiológica”, e pelos efeitos específicos dos íons sulfato e cloreto dentro da planta. A baixa concentração de boro no solo faz com que o efeito desse elemento seja restrito ao causado pelo íon B. 7 Práticas associadas à porta-enxertos 7.1 Altura da enxertia A altura da enxertia influencia o tamanho e a produção da planta, as características da região da enxertia, a nutrição da planta e a incidência de doenças. Os efeitos variam conforme a copa e o porta-enxerto, sendo mais evidentes nas plantas enxertadas em trifoliata e seus híbridos. Ainda não foi determinada a altura de enxer- tia mais adequada para cada porta-enxerto de modo a obter a melhor performance da planta. As alturas praticadas pelos viveiristas atendem a suas próprias conveniências e tradições e, even- tualmente, práticas culturais e prevenção a doen- ças. Assim, os limões que são muito suscetíveis à gomose de Phytophthora devem ser enxertados a 40 a 50 cm de altura dos porta-enxertos conside- rados resistentes a essa doença, visando reduzir a incidência nas copas, segundo Köller et al. (1984). CITROS76 Porta-enxertos 77 Esses autores constataram que as alturas de enxer- tia entre 20 e 80 cm, com formação da copa a 50 e 100 cm de altura, não influenciaram a altura das plantas, a produção e o peso médio dos frutos de limoeiros Siciliano enxertados em laranja Azeda. Bitters et al. (1982a) relatam que a severidade da shellbark, causada pelo fungo Phoma tracheiphila (Petri) Kantschaveli & Gikashvili em limoeiros foi menor nas plantas enxertadas mais alto. Relatam também, que quanto maior a altura da enxertia, menos visível é a diferença entre os diâmetros dos troncos da copa e do porta-enxerto, e que a influencia da altura de enxertia é maior nas plan- tas enxertadas em trifoliata e seus híbridos, mas também ocorre em outros porta-enxertos, como a laranja Azeda. Os mesmos autores enxertaram laranja Valência Campbell nucelar em tangerina Cleópatra e citrange Troyer em alturas entre 5 e 90 cm e verificaram que as plantas enxertadas em tangerina Cleópatra apresentaram maior produ- ção e tamanho quando enxertadas a 30 cm. Para o citrange Troyer, a maior produção foi obtida nas laranjeiras enxertadas a 15 cm, porém as maiores plantas eram as enxertadas a 30 e 45 cm. A altura da enxertia não influenciou o tamanho dos frutos produzidos sobre o citrange Troyer, porém, para a tangerina Cleópatra, ele foi maior nas plantas enxertadas mais alto. Não se constataram outras diferenças induzidas pela altura da enxertia nas demais características comerciais dos frutos nos dois porta-enxertos. Embora as folhas das plantas tenham apresentado teores adequados de nutrien- tes, houve influência da altura da enxertia na sua concentração. Para os dois porta-enxertos, a con- centração de zinco aumentou com a elevação da altura da enxertia. Os teores de nitrogênio, cálcio, sódio e cobre encontrados nas folhas não mostra- ram correlação com a altura da enxertia. As con- centrações de clorados nas plantas enxertadas em citrange Troyer foram significativamente afetadas pela altura da enxertia, mas não nas enxertadas sobre tangerina Cleópatra. A concentração de boro nas folhas das laranjeiras enxertadas sobre tangerina Cleópatra foi significativamente influen- ciada pela altura da enxertia, mas não nas enxer- tadas em citrange Troyer. Salibe et al. (1970) enxertaram laranja Baia- ninha em limão Cravo, laranja Caipira e trifoliata em alturas de 0, 25 e 50 cm a partir do colo dos porta-enxertos. Após as seis primeiras safras, ve- rificaram que a elevação da altura da enxertia in- duziu menor tamanho da copa e menor produção nas laranjeiras enxertadas no limão Cravo e no tri- foliata, verificando-se o inverso nas plantas sobre laranja Caipira. Posteriormente, constatou-se que parte das plantas estava infectada com o viróide da exocorte (Moreira et al.,1982), o que pode ex- plicar esses resultados, uma vez que o limão Cravo e o trifoliata são suscetíveis a essa virose. Sampaio (1993, 1994) enxertou laranja Pira- lima em trifoliata a 0, 10, 20 e 40 cm do colo das plantas. Após seis anos do plantio do experimen- to, verificou que as enxertias mais altas propicia- ram as menores plantas. As maiores produções de frutos ocorreram nas plantas enxertadas a 0 cm, não havendo diferenças entre os pesos mé- dios dos frutos. Verificou, também, que a enxertia da laranja Valência no limão Cravo em alturas de 15, 25 e 35 cm, não influenciou a produção e o tamanho dos frutos. 7.2 Interenxerto A mudança da copa, uma operação realizada em fruticultura visando atender novas exigências do consumidor, motivou a sobrenxertia de plantas e, por decorrência, a presença de um ou mais interenxertos. A presença de um interenxerto ge- ralmente causa pequena alteração na fisiologia da combinação copa/porta-enxerto, uma vez que a maior parte do efeito sobre a planta é causado pelo porta-enxerto. Bitters et al. (1982b) avaliaram os efeitos da altura de inserção e do comprimento de interen- xertos recíprocos de tangerina Cleópatra e citran- ge Troyer na produção e tamanho de laranjeiras Valência. Os interenxertos, com 15 cm de compri- mento, foram inseridos nas plantas nas alturas de 5 a 45 cm. enquanto que interenxertos com 5 a 60 cm de comprimento foram inseridos na altura constante de 15 cm. Verificaram que o comprimen- to do interenxerto teve pequeno efeito no tamanho e na produção das plantas. Porém, quanto mais alta a altura de inserção do interenxerto, menor foi o tamanho das plantas e a produção dos frutos. Os porta-enxertos auto-interenxertados mostraram maior redução no tamanho e na produção das plantas que os interenxertados reciprocamente. A presença dos interenxertosnão alterou as caracte- rísticas comerciais dos frutos. Labanauskas & Bitters (1974) verificaram que cinco seleções de trifoliata usados como interenxer- CITROS76 Porta-enxertos 77 tos de laranjeiras Valência enxertadas em laranja doce não induziram nenhum efeito significativo no conteúdo de nutrientes das folhas da copa quando comparadas com plantas sem interenxertos da mesma combinação. Sampaio (1993) relata que a presença de inte- renxerto de trifoliata entre a laranja Valência e o limão Cravo resultou na redução do tamanho da planta e menor produção de frutos. Entretanto, o comprimento do interenxerto, que foi de 5, 10 e 20 cm, inserido a 15 cm de altura, não influenciou o tamanho e a produção das plantas. Rosa et al. (2001) relatam que o interenxerto de Flying Dragon reduziu em 30% o tamanho de laranjeiras e pomeleiros, e embora apresentassem menor produção por planta, mostraram maior eficiência produtiva expressa em quilograma de frutos por metro cúbico da copa. Ashkenazi et al. (1994) também usaram o interenxerto de Flying Dragon, obtendo reduções no tamanho da copa de 30 a 50%, dependendo da combinação copa- porta-enxerto. O uso de interenxertos pode reduzir o trans- porte de sódio e cloro das raízes para a copa, aumentando a resistência das plantas à salinidade (Camara et al., 2003). Os interenxertos têm sido utilizados na pre- venção da ocorrência de incompatibilidade entre copas e porta-enxertos. A inserção da laranja Hamlin entre o citrumelo Swingle e a laranja Pêra permite formar plantas produtivas e longevas. A utilização de interenxertos como “filtros” do patógeno no controle de doenças, não apresen- tou resultados. A inserção de um interenxerto de tangerina não impediu que o blight ou o declínio afetassem combinações suscetíveis a essa doença (Pompeu Junior et al., 1989; Carlos, 1996). 7.3 Subenxertia A subenxertia ou troca do porta-enxerto é uti- lizada para salvar plantas cujo sistema radicular ou tronco foi danificado por roedores, doenças, agentes mecânicos ou químicos. O caso mais famoso do uso da subenxertia para salvar uma planta é o da primeira laranjeira Bahia plantada na Califórnia em 1877, cujo porta-enxerto estava sendo danificado por gomose; ela foi subenxer- tada em 1926 e permanece viva. Em São Paulo, a subenxertia com porta-enxertos tolerantes foi utilizada no controle da tristeza, da exocorte, do declínio e, atualmente, na convivência com a morte súbita dos citros. Ela também pode ser empregada na superação de incompatibilidade entre copa e porta-enxerto. Alguns cuidados são necessários: o novo porta-enxerto deve ser compatível com a variedade copa e tolerante ao vírus eventualmente presente na planta. 7.4 Sobrenxertia Esse processo permite superar a ocorrência de incompatibilidade entre copa e porta-enxerto. Consiste na retirada da copa original pela decapi- tação do porta-enxerto ou no forçamento de bro- tações deste e a enxertia da nova copa nos ramos brotados do porta-enxerto. 7.5 Afrancamento É a supressão do porta-enxerto pelo enraiza- mento da copa. Foi utilizado no controle de doen- ças que o afetam, mas às quais a copa é tolerante, como exocorte, tristeza, declínio e morte súbita dos citros. Tem como limitações a suscetibilidade da maioria das variedades copas à seca e à gomose de Phytophthora. 8 Características dos porta-enxertos São apresentadas as características agronô- micas dos principais porta-enxertos utilizados em São Paulo, bem como de alguns que poderão vir a ser de interesse à citricultura paulista. 8.1 Laranjas doces [Citrus sinensis (L.) Osbeck] As laranjas doces foram os primeiros porta-en- xertos utilizados na citricultura. Uma vez conheci- das as vantagens da enxertia em outras frutíferas, a enxertia de laranjas em laranjas ou até mesmo a auto-enxertia deve ter-se tornado uma pratica freqüente até porque, em caso de perda da copa, por exemplo, pelo frio, a brotação do porta-enxer- to permitiria a formação de uma nova planta mais rapidamente e menos onerosa que o replantio. O uso desse porta-enxerto tem duas limitações: baixa tolerância à seca e alta suscetibilidade à gomose de Phytophthora. De modo geral, as laranjas doces são conside- radas bons porta-enxertos para laranjas e tange- CITROS78 Porta-enxertos 79 rinas, proporcionando produções de frutos de boa qualidade. Apresentam melhor comportamento quando plantadas em solos com médio teor de argila; os arenosos acentuam sua suscetibilidade à seca, e as plantas e os frutos tendem a murchar antes que aqueles sobre outros porta-enxertos. Os porta-enxertos de laranjas doces são to- lerantes à tristeza, à xiloporose (Moreira et al., 1965) e ao declínio (Beretta et al., 1986b, 1994), mas não é conhecido seu comportamento em pre- sença da morte súbita dos citros. Foram conside- radas tolerantes à exocorte porque não mostram o escamamento que ocorre no limão Cravo, tendo sido recomendadas como porta-enxertos para as variedades portadoras desse viróide. Pompeu Ju- nior & Salibe (2002) compararam a performance de dois clones de laranja Hamlin, sendo um nu- celar e, o outro, velho portador de raça forte do viróide causador da exocorte, enxertados em 11 variedades de laranjas doces e no limão Cravo. Verificaram que as plantas de clone velho eram, em media, 18% menores que as de clone novo, com reduções que variavam de 26% para as en- xertadas em laranja Caipira DAC a 13% para as enxertadas sobre laranja Parson Brown (C. sinen- sis). O conjunto das laranjeiras nucelares produziu 28% mais frutos e sólidos solúveis que as de clone velho. As laranjas Caipiras DAC e A induziram as maiores produções de frutos ao clone nucelar, e a laranja Caipira A, também ao clone velho. Nenhuma das variedades de laranjas apresentou as escamações típicas da exocorte que ocorreram no limão Cravo. Os autores destacam que a la- ranja Hamlin não foi um bom porta-enxerto para a laranja Hamlin; as laranjeiras nucelares ou com exocorte enxertadas na laranja Caipira A produzi- ram, respectivamente, 8 e 10% mais frutos que as enxertadas na própria Hamlin. As laranjas Parson Brown e Caipira R foram as mais resistentes às gomoses de P. parasítica e P. citrophthora para ambos os clones, enquanto a laranja Caipira A revelou-se a mais suscetível aos dois fungos para as duas copas (Mello et al., 1973). As laranjas doces são suscetíveis ao nema- tóide dos citros e ao Radopholus similis, exceto as variedades Ridge Pineapple, Algerian navel e Sanguine Grosse Rond, que são tolerantes a este nematóide. Elas são moderadamente tolerantes ao frio e a solos salinos, mas não a solos calcários (Ford, 1973). 8.2 Laranja Azeda (Citrus aurantium L.) Nesse grupo, estão incluídas as laranjas-aze- das propriamente ditas, as agridoces e outras espécies e variedades semelhantes. A laranja Azeda foi, e continua sendo, o prin- cipal porta-enxerto da citricultura de quase todos os paises até a introdução do vírus da tristeza dos citros. Ela apresenta boa adaptação a solos argi- losos e arenosos e induz altas produções de frutos de boa qualidade, que permanecem na planta por longo período, sem perda das suas características. Apresenta boa resistência à gomose de Phyto- phthora, ocorrendo diferenças entre as seleções (Hutchinson & Grimm, 1972). É moderadamente tolerante à salinidade e à alcalinidade (Wutcher et al., 1970) e induz as copas grande resistência ao frio, semelhante à induzida por trifoliata, citrumelo Swingle e tangerina Cleópatra (Young, 1977). As laranjas azedas são intolerantes ao vírus da triste- za dos citros (Grant et al., 1961), o que restringe seu uso como porta-enxerto apenas para os limões tipo Siciliano. Os limoeiros enxertados sobre la- ranja Azeda são pouco afetados pela tristeza em decorrênciada hipersensibilidade das suas célu- las, que morrem logo após infectadas, impedindo a multiplicação do vírus. É tolerante à exocorte e à xiloporose e pouco afetada pelo blight (Cohen, 1972). A laranja Azeda é suscetível aos nema- tóides R. similis e T. semipenetrans (Hutchinson & O’Bannon, 1972) e ao mal secco, doença fúngi- ca que ocorre na Itália e países vizinhos (Russo, 1973). Ainda, o limão Monachello não é compatí- vel com a laranja Azeda. Os frutos amadurecem de maio a agosto e contêm, em media, 25 sementes. Seu grupo abrange também as laranjas agridoces, assim denominadas pelo sabor característico do suco, as quais apresentam características agronômicas semelhantes às da laranja Azeda (Bitters, 1959a; Olson & Shull, 1962; Bevington & Bacon, 1978). Há dezenas de seleções da laranja Azeda com variações no seu comportamento sugerindo a exis- tência de híbridos ou mutações fenotipicamente semelhantes. Algumas são consideradas porta- enxertos promissores. A laranja Gou Tou, conhecida também como Goutoucheng, parece ser um híbrido natural de laranja Azeda. Utilizada em algumas regiões da China e considerada tolerante a diversas formas do vírus da tristeza, pode eventualmente apresen- CITROS78 Porta-enxertos 79 tar caneluras, mesmo quando inoculada com raças fracas do vírus (Chao et al., 1979; van Vuuren et al., 1991; Garnsey, 1992; Moreno et al., 1993). É resistente às gomoses de P. parasitica e P. citro- phthora e ao nematóide dos citros (van Vuuren et al., 1991), e também à seca, ao encharcamento e a solos alcalinos. A laranjeira Gou Tou produz frutos que ama- durecem de maio a agosto e apresentam media de 32 sementes viáveis e sete abortadas. Foi introduzida em São Paulo pelo IAC em 1983 por G.W. Müller, e avaliada como porta-en- xerto para as laranjas Hamlin, Pêra e Folha Mur- cha (C. sinensis), tangerina Ponkan (C. reticulata), lima ácida Galego e pomelo Marsh seedless (C. paradisi), tendo induzido produção e qualidade dos frutos semelhantes às obtidas sobre limão Cra- vo. As plantas, aos 10 anos de idade, não mostra- vam sinais de incompatibilidade (anel de goma) na região da enxertia, mas o diâmetro do tronco da laranja Gou Tou, para todas as copas, era maior que o do tronco da copa e apresentava re- entrâncias semelhantes às observadas em plantas enxertadas em trifoliatas e seus híbridos. A laranja Gou Tou comprovou ser tolerante aos complexos de tristeza presentes nas borbulhas utilizadas na formação das plantas desse experimento (Müller et al., 1998). Não é conhecido o seu comportamento com relação ao declínio e à morte súbita dos citros. A laranja Smooth Flat Seville (C. aurantium), também conhecida como laranja Australian ou laranja Appleby, é considerada um híbrido natural entre a laranja Azeda e o tangelo Poorman (Castle et al., 1993b). Suas sementes são poliembriôni- cas, mas produzem muitas plântulas zigóticas, com folhas uni ou bifoliadas, de comportamento semelhante. A laranja Smooth Flat Seville é menos suscetível à tristeza e mais resistente à gomose de Phytophthora que as laranjas azedas comuns (Stannard, 1975; Grimm & Hutchison, 1978). Ela é tolerante à exocorte e à xiloporose (Davies & Al- brigo, 1994) e ao declínio (Castle et al., 1993b). Outros híbridos a destacar são: i) o Yama ou Yamamikan (C. intermedia hort. ex Tanaka) é um híbrido de laranja Azeda, suscetível à tristeza e utilizado em pequena escala como porta-enxerto no Japão (Bitters, 1972), ii) o Kinkoji ou Kinkoshi (C. obovoidea hort. ex I. Takah.), presumivelmente um híbrido de toranja [C. maxima (Burm.) Merr.] com laranja Azeda, tolerante à tristeza e ao nema- tóide dos citros (Castle, 1987), e iii) o C. taiwanica Tanaka & Y. Schimada, conhecido no Japão como Nanshôdaidai, é considerado um híbrido de laran- ja Azeda tolerante à tristeza (Grant et al., 1961) e suscetível ao declínio (Beretta et al., 1994). Entre os híbridos artificiais de laranja Azeda, as citradias (C. aurantium x P. trifoliata) apresen- tam potencial de uso como porta-enxertos nani- cantes, enquanto o híbrido laranja Smooth Flat Seville x citrumelo Swingle revelou-se suscetível ao vírus da tristeza (Pompeu Junior, 2001a; Pompeu Junior et al., 2002a, b) 8.3 Lima da Pérsia (Citrus limettioides Tanaka) Mundialmente conhecida como Palestine sweet lime, é considerada um híbrido de quatro espécies, incluindo C. limon e C. aurantiifolia. Foi um dos principais porta-enxertos da citricultura de todos os países, tendo perdido importância pela susceti- bilidade à tristeza. É também suscetível à exocorte, à xiloporose, ao blight, à gomose de Phytophthora e ao boro e não apresenta bom desempenho nos solos salinos. Induz a produção de frutos de regu- lar qualidade (Wutscher, 1979; Davies & Albrigo, 1994). 8.4 Limão Cravo (Citrus limonia Os- beck) De acordo com Swingle (1948), o limão Cravo é um lemandarin, isto é, um híbrido natural de limão (C. limon) e uma tangerina (C. reticulata), originado na região de Canton, no Sul da Chi- na, onde é conhecido como limão Canton. Na classificação de Tanaka (1954), o limão Cravo é considerado uma espécie (C. limonia) nativa da Índia, onde é conhecido pelo nome de Jamir. Hodgson (1967) relata diversas denominações regionais para o limão Cravo: Rangpur lime (Es- tados Unidos), Japansche citroen (Java), Canton lemon (China), limão Cravo (Brasil), lima Rangpur (Argentina), Sylhet lime, Surrh nimboo e Sharbati (Índia), Hime lemon (Japão). No Brasil, Rolfs & Rol- fs (1931), encontraram 19 nomes para indicar o limão Cravo, entre eles: Rosa, Vermelho, Vinagre, Selvagem, Limpa-tacho e Bugre. Há diversas seleções de limão Cravo, seme- lhantes quanto às características de crescimento, vigor e produção das plantas, mas que diferem CITROS80 Porta-enxertos 81 no formato dos frutos, coloração e aderência da casca, acidez e aroma do suco. Hodgson (1967) agrupou-as em três tipos: i) as seleções do tipo Rangpur produzem frutos de ta- manho médio a pequeno, com formato arredonda- do a achatado, casca fina medianamente aderente e cor variando do vermelho ao laranja-avermelha- do. A polpa é alaranjada, suculenta e ácida, ii) as do tipo Kusaie apresentam planta e fruto seme- lhantes aos demais limões Cravo, diferindo apenas na coloração da casca, que é amarelada, e iii) o tipo Otaheite reune plantas semelhantes aos tipos anteriores, porém menos vigorosas e de menor ta- manho. Os frutos são semelhantes aos dos outros dois, porém menores, com “pescoço” e pouca ou nenhuma semente. Seu suco tem sabor insípido pela ausência de acidez. A utilização de marcadores moleculares ran- dom amplified polymorphic DNA (RAPD) revelou variabilidade genética entre os limões cravos Li- meira, Taquaritinga, EEL e Santa Bárbara, todos pertencentes ao grupo Rangpur e, morfologica- mente, indistinguíveis entre si (Silva, 1996). Supõe-se que o limão Cravo tenha sido levado do sudeste da Ásia para a Europa e daí para as Américas, tendo sido introduzido no Brasil pelos colonizadores. A primeira referencia ao seu uso como porta- enxerto no Brasil foi feita por Rolfs & Rolfs (1931), que encontraram em Minas Gerais laranjeiras en- xertadas nesse porta-enxerto, plantadas na déca- da de 1900. Esses autores ficaram entusiastas com o uso do limão Cravo, considerando-o excelente porta-enxerto. Atualmente, ele é amplamente utilizado no Bra- sil, exceto no Rio Grande do Sul, onde predomina o trifoliata, e no Sergipe, onde divide espaço com o limão Rugoso. No exterior, ele está presente nas citriculturas da Argentina, da China e da Índia. Em São Paulo, vem sendo comercialmente em- pregado desde a década de 1920, porém seu uso foi ampliado a partir dos anos cinqüentas, vindo a substituir a laranja Azeda pela suscetibilidade desta ao vírus
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