Buscar

Cap. 04 - Porta-enxertos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

61Capítulo 4
Porta-enxertos
Jorgino Pompeu Junior
CITROS62 Porta-enxertos 63
Foto da página anterior: Subenxertos de citrange Troyer em laranjeira Bahia Frost sobre trifoliata, com sintomas de 
incompatibilidade, Califórnia (EUA) (J. Pompeu Junior)
CITROS62 Porta-enxertos 63
 1 Introdução
A produção de alimentos é, em essência, o 
manejo adequado da fotossíntese. Esse manejo 
envolve o conhecimento do sistema radicular, par-
ticularmente quando um porta-enxerto é reunido a 
uma copa, às vezes com a intermediação de um 
interenxerto, para formar uma nova planta, ou 
seja, outro sistema plurigenético.
A origem da palavra raízes data de 3000 a.C., 
quando, no idioma proto-indo-europeu, a palavra 
“rad” era usada para descrever o eixo descenden-
te da planta. Dela derivou a palavra grega “riza”, 
que originou o termo “rizoma”, utilizado em botâ-
nica desde o século XVIII, e a palavra latina “ra-
dícula”, que descreve a raiz primaria da planta. 
Assim, raízes e, por extensão, porta-enxertos, já 
têm uma longa história.
O sistema radicular é responsável pela fixação 
da planta ao solo, absorção e transporte de água 
e minerais, síntese e transporte de reguladores do 
crescimento e armazenamento de nutrientes, cujas 
interações ainda se extendem à rizosfera. Em 
1971, Kolesnikov citado por Rom (1987), relata 
que “as raízes das plantas são tão ativas quanto as 
folhas e que o sistema radicular interagindo com 
o solo e a copa desempenha importante papel 
no crescimento, desenvolvimento e frutificação da 
planta. Cabe ao agricultor proporcionar as condi-
ções adequadas para o harmonioso trabalho das 
folhas e raízes”.
Na natureza, a união de raízes ocorre com fre-
qüência. A observação das conseqüências dessa 
união motivou a criação da arte da enxertia unin-
do partes de duas plantas, de modo que cresces-
sem e se desenvolvessem como uma única planta. 
Os chineses praticavam a enxertia cerca de 1000 
a.C., e Aristóteles (384-322 a.C.) fez detalhada 
descrição dessa técnica em seus manuscritos. O 
uso de porta-enxertos visando reduzir a altura de 
pereiras e macieiras tornou-se uma prática comum 
a partir do século XV (Rom, 1987).
A operação da enxertia objetiva criar uma 
associação entre dois indivíduos, geneticamente 
diferentes, cada qual com suas características, que 
devem passar a viver em estreito relacionamento, 
mutuamente benéfico, para que a nova planta seja 
produtiva e longeva. Conseqüentemente, ela sofre, 
ao longo da vida, a influência de sua origem du-
pla, uma vez que nem sempre serão harmônicos os 
interesses e as necessidades da copa e do porta-
enxerto.
O porta-enxerto induz à copa alterações no 
crescimento, tamanho, precocidade de produção, 
produção, maturação e peso dos frutos, coloração 
da casca e do suco, teor de açúcares, de ácidos e 
de outros componentes do suco, permanência dos 
frutos na planta e sua conservação após a colheita, 
fertilidade do pólen, absorção, síntese e utilização 
de nutrientes, transpiração e composição química 
das folhas, resposta a produtos de abscisão dos 
frutos e folhas, tolerância à salinidade, à seca, ao 
frio, a doenças e pragas. As influências da copa 
sobre o porta-enxerto são menos visíveis, mas 
ocorrem no desenvolvimento do sistema radicular, 
resistência ao frio, à seca e a doenças e pragas.
Assim, para que a planta proporcione o má-
ximo de produtividade, é necessário que seja 
instalada em um ecossistema a ela apropriado, 
receba os tratos culturais necessários e que haja o 
mais harmônico relacionamento entre a copa e o 
porta-enxerto. 
O uso dos porta-enxertos permitiu superar fa-
tores abióticos e bióticos e obter ganhos de produ-
tividade, mas foi também responsável por grandes 
adversidades da citricultura, como gomose, triste-
za, declínio e morte súbita dos citros.
2 O uso dos porta-enxertos
As plantas cítricas podem ser propagadas por 
semente, estaquia, alporquia, enxertia e cultivo de 
tecidos.
As sementes da maioria das variedades cítri-
cas apresentam a característica de possuir um ou 
mais embriões sexuados (zigóticos), bem como um 
número variável de embriões nucelares formados 
pela diferenciação de células somáticas do nuce-
lo. Esses embriões possuem o mesmo genoma da 
planta-mãe e, ao germinar, dão origem a plantas 
idênticas àquelas que forneceram as sementes. 
A facilidade da propagação, do transporte e a 
longevidade das sementes foram fundamentais 
na disseminação dos citros das regiões de origem 
para novas áreas. A propagação por semente, que 
prevaleceu até meados de 1800, apresenta algu-
mas dificuldades e inconveniências: existem varie-
dades desprovidas de sementes, como as laranjas 
Bahia e Baianinha [Citrus sinensis (L.) Osbeck] e a 
lima ácida Tahiti [C. latifolia (Yu. Tanaka) Tanaka] 
enquanto outras, como a tangerina Clementina (C. 
clementina hort. ex Tanaka), têm sementes mono-
embriônicas, geralmente zigótico e, portanto, seus 
descendentes serão heterogêneos. A propagação 
CITROS64 Porta-enxertos 65
por semente apresenta também o inconveniente da 
suscetibilidade da maioria das variedades copas 
à gomose de Phytophthora e à seca, dão origem 
a plantas que iniciam mais tardiamente a produ-
ção dos frutos e apresentam muitos espinhos que 
podem danificar os frutos e as folhas e dificultar a 
colheita. 
A propagação por estaquia ou alporquia dá 
formação a plantas suscetíveis à gomose de Phyto-
phthora e à seca, e com sistema radicular sem 
raízes pivotantes, o que torna a planta sujeita ao 
tombamento. Ambas foram utilizadas na Flórida 
(EUA) na obtenção de limeiras Tahiti por induzirem 
maior precocidade de produção quando compa-
rado com plantas enxertadas (Campbell, 1972). A 
alporquia de clones nucelares de laranjas doces 
foi mais bem sucedida que a dos clones velhos 
(Sampaio et al., 1978), provavelmente pelo maior 
conteúdo de hormônios presentes no nucelar. A es-
taquia e a alporquia constituem um método rápido 
na obtenção de porta-enxertos de variedades que 
apresentam sementes pouco viáveis ou que produ-
zem baixa porcentagem de plântulas nucelares; as 
plantas, porém, estarão mais sujeitas à seca e ao 
tombamento.
Embora a enxertia dos citros já fosse conheci-
da desde o século V, considera-se que o principal 
indutor da transição da citricultura de pés francos 
para a de plantas enxertadas foi o surgimento 
da gomose de Phytophthora na Ilha dos Açores 
em 1842 e seu controle mediante porta-enxertos 
resistentes (Chapot, 1975). Dentre eles, destacou-
se a laranja Azeda (C. aurantium L.), adotada, a 
seguir, nas principais regiões citrícolas. Por volta 
de 1890, começou a se observar, na África do Sul 
e na Austrália, o declínio de laranjeiras e tangeri-
neiras enxertadas em laranja Azeda, o que levou 
a sua substituição pelo limão Rugoso (C. jambhiri 
Lush.). Na década de 1930, esse problema foi 
constatado nas citriculturas da Argentina, do 
Brasil e da Califórnia (EUA) (Wallace, 1959). No 
Brasil, ela foi observada em 1937, no Vale do Rio 
Paraíba, em São Paulo, afetando laranjeiras doces 
enxertadas em laranja Azeda (Bitancourt, 1940), 
sendo denominada de tristeza por Moreira (1942). 
A principio, foi considerada como uma forma de 
incompatibilidade entre copas e porta-enxertos, 
sendo a sua origem virótica, transmissão por bor-
bulhas e pelo pulgão-preto (Toxoptera citricidus 
Kirk.) constatada no Brasil em 1946 (Meneghini, 
1946). A inviabilidade do controle do vetor obri-
gou a substituição da laranja Azeda por outros 
porta-enxertos, tolerantes a essa virose, os quais 
manifestaram outras doenças, como a exocorte e a 
xiloporose (Moreira, 1954, 1955). O controle des-
sas viroses, que não são transmissíveis por vetores, 
passou a ser feito com a utilização de borbulhas 
retiradas de plantas matrizes sadias selecionadas 
em campo ou de clones nucelares derivadosdas 
cultivares infetadas (Moreira, 1962; Moreira & 
Salibe, 1965). 
Em 1956, Sylvio Moreira, no Congresso de 
Citricultura do Mediterrâneo, em Tel Aviv, fez uma 
recomendação fundamental para o estudo de por-
ta-enxertos: “para se conhecer o comportamento 
real de uma variedade copa em determinado por-
ta-enxerto, os ensaios deverão ser formados so-
mente com porta-enxertos originados de sementes 
e enxertados com clones nucelares ou sadios”.
Esse procedimento passou a ser adotado, na 
ciência e na prática, nas principais regiões citríco-
las, à medida que outros porta-enxertos iam subs-
tituindo a laranja Azeda, em vista do alastramento 
do vírus da tristeza. 
3 Porta-enxertos no Brasil
Desde a introdução dos citros em São Paulo, 
por volta de 1540, e até o inicio do século XX, as 
plantas cítricas foram propagadas por sementes. 
Apenas quando a citricultura alcançou expressão 
comercial, iniciou-se o uso de plantas enxertadas, 
sendo as laranjas doces, entre elas a laranja Cai-
pira (C. sinensis), o porta-enxerto mais utilizado. 
A baixa resistência da Caipira à gomose e à seca 
motivou a sua substituição pela laranja Azeda, que, 
até a década de 1940, foi o principal porta-enxer-
to. Nessa época, a citricultura paulista era formada 
por 12 milhões de plantas, 90% das quais estavam 
enxertadas na laranja Azeda e, as demais, em lima 
da Pérsia (C. limettioides Tanaka), limão Cravo (C. 
limonia Osbeck), laranja Caipira e limão Rugoso. 
A introdução do vírus da tristeza dos citros em 
São Paulo, por volta de 1937, e a sua dissemi-
nação por borbulha e pelo pulgão-preto, causa-
ram a morte das plantas enxertadas em laranja 
Azeda e lima da Pérsia, que são intolerantes ao 
vírus. Os experimentos que vinham sendo desen-
volvidos pela Escola Superior de Agricultura Luiz 
de Queiroz desde 1925 (Vasconcellos, 1939) e 
pelo Instituto Agronômico desde 1933 (Moreira, 
1946) e as observações em pomares comerciais 
CITROS64 Porta-enxertos 65
revelaram que as plantas enxertadas em limão 
Cravo, tangerina Cleópatra (C. reshni hort. ex 
Tanaka), tangerina Sunki [C. sunki (Hayata) hort. 
ex Tanaka], laranja Caipira e limão Rugoso não 
manifestavam os sintomas da doença. Esses porta-
enxertos foram considerados tolerantes à tristeza 
e utilizados na reconstrução da citricultura. A 
renovação dos pomares aproveitando borbulhas 
retiradas de plantas sobre laranja Azeda e en-
xertadas principalmente no limão Cravo mostrou 
que esse porta-enxerto era suscetível à exocorte e 
à xiloporose, cuja presença, nos pomares antigos 
era mascarada pela tolerância da laranja Azeda 
(Moreira, 1954, 1955). Elas se tornaram um gra-
ve problema, pois estavam presentes na maioria 
das cultivares e poderiam reduzir até em 70% a 
produção das plantas (Rossetti & Salibe, 1961), o 
que poderia tornar inviável o uso do limão Cravo. 
O conhecimento de que essas duas doenças eram 
transmitidas somente por borbulhas indicou a so-
lução mediante o emprego dos clones nucelares, 
cujo estudo havia sido iniciado na década de 
1930, e que passaram a ser utilizados a partir de 
1955 (Moreira & Salibe, 1965).
As excepcionais características apresentadas 
pelo limão Cravo: facilidade de formação das 
mudas, compatibilidade com todas as copas, 
produção precoce, altas produções de frutos de 
boa qualidade, e grande resistência à seca, além 
da tolerância à tristeza, tornaram-no o preferido 
pelos viveiristas e citricultores. A partir da década 
de 1960, ele passou a ser praticamente o único 
porta-enxerto da citricultura paulista (Pompeu Ju-
nior, 2001b). 
Um experimento iniciado no Instituto Agronô-
mico em 1948, com a colaboração do Departa-
mento de Agricultura dos Estados Unidos, pos-
sibilitou determinar a performance à tristeza de 
quase 400 tipos de citros e afins, dos quais apenas 
77 mostraram tolerância a essa virose. Os porta-
enxertos mais promissores foram selecionados e 
participaram de experimentos em diversas regiões 
do Brasil. Alguns dos experimentos, cujas plantas 
estavam infectadas por viroses como exocorte, 
xiloporose e sorose, proporcionaram resultados 
de valor relativo porque essas doenças impediram 
que os porta-enxertos manifestassem todo o seu 
potencial produtivo, mas permitiram conhecer a 
reação das plantas a essas viroses. 
Desde a década de 1970, o declínio dos citros 
vem afetando plantas enxertadas sobre o limão 
Cravo (Rodriguez et al., 1979), e provocou uma 
pequena diversificação dos porta-enxertos, lidera-
da pela tangerina Cleópatra e seguida pelo limão 
Volkameriano (C. volkameriana V. Ten. & Pasq.), 
tangerina Sunki, e, a partir do inicio da década de 
1990, pelo citrumelo Swingle [C. paradisi Macfad. 
x Poncirus trifoliata (L.) Raf.]. Porém, as excepcionais 
características do limão Cravo, fizeram com que ele 
continuasse a predominar nos novos plantios. Da-
dos coletados pelo Fundecitrus em 2002 mostravam 
que ele participava em 70% das mudas existentes 
em viveiros. No inicio deste milênio, estimava-se 
que o limão Cravo estivesse presente em 80% das 
plantas cítricas comerciais do Estado de São Paulo.
Desde 1999, uma nova doença, denominada 
de morte súbita dos citros, vem afetando laranjei-
ras e tangerineiras enxertadas em limão Cravo no 
sudoeste de Minas Gerais e no norte de São Paulo. 
As plantas enxertadas sobre tangerina Cleópatra, 
citrumelo Swingle e trifoliata [Poncirus trifoliata (L.) 
Raf.] não mostram sintomas, havendo suspeitas de 
que ela também afetasse plantas enxertadas sobre 
limão Volkameriano, o que foi, posteriormente, 
confirmado. A morte súbita dos citros acelerou a 
diversificação dos porta-enxertos. Levantamento 
realizado pelo Fundecitrus, em maio de 2003, 
mostrou que apenas 39,8% das mudas estavam 
enxertadas em limão Cravo seguido pela tangeri-
na Cleópatra com 32,6%, citrumelo Swingle 13,8% 
e tangerina Sunki 7,1%. 
A Tabela 1 apresenta a evolução do uso dos 
porta-enxertos em São Paulo. O exame dos dados 
no período 1961-70 mostra o incremento do limão 
Cravo, de 76,5 para 99,1%, motivado pelas ca-
racterísticas apresentadas por esse porta-enxerto e 
pela adoção dos clones nucelares, que passou de 
9,8% em 1961 para 32,9% em 1966 e 94,9% em 
1970 (Cintra et al., 1973). 
 A tangerina Cleópatra vem sendo adotada 
há mais de 50 anos, com relativo sucesso, o que 
faz com que o citricultor recorra a ela periodica-
mente. No decênio 1961-70, sua presença nas 
mudas diminuiu de 8,6% para 0,3%, provavel-
mente pelo uso dos clones nucelares a partir de 
1955, o que tornou viável o limão Cravo sem os 
inconvenientes das viroses presentes nos clones 
velhos. A constatação da suscetibilidade dos 
limões Cravo e Volkameriano ao declínio e da 
tolerância da tangerina Cleópatra a essa doença 
provocou o retorno desse porta-enxerto, cuja par-
ticipação nas mudas alcançou a media de 24% em 
1984-1988, com um máximo de 33,6% em 1987. 
CITROS66 Porta-enxertos 67
Ta
b
el
a
 1
 N
ú
m
er
o
 d
e 
m
u
d
a
s,
 e
m
 m
ilh
õ
es
 d
e 
p
la
n
ta
s,
 e
 p
a
rt
ic
ip
a
çã
o
 p
er
ce
n
tu
a
l 
d
o
s 
p
ri
n
ci
p
a
is
 p
o
rt
a
-e
n
x
er
to
s 
 
P
o
rt
a
-e
n
x
er
to
s
1
9
6
1
1
9
6
6
1
9
7
0
1
9
8
4
1
9
8
5
1
9
8
6
1
9
8
7
1
9
8
8
1
9
9
6
1
9
9
8
2
0
0
0
2
0
0
1
2
0
0
2
2
0
0
3
n
o
 t
o
ta
l 
m
u
d
a
s 
(x
 1
.0
0
0
)
3
.2
5
0
2
.1
6
0
9
.6
7
0
5
.5
6
0
1
4
.6
0
0
9
.1
9
0
7
.2
3
0
1
2
.3
4
0
1
7
.8
3
0
9
.4
0
0
1
9
.3
2
0
9
.9
7
0
6
.7
2
0
1
0
.7
6
0
 
%
Li
m
ão
 C
ra
vo
76
,5
95,9
99
,1
78
,7
77
,8
76
63
,2
65
85
,0
81
,2
74
,9
77
,6
69
,6
39
,8
C
le
óp
at
ra
8,
6
2,
8
0,
3
19
,2
19
,3
21
,6
33
,6
27
,7
9,
0
8,
3
13
,7
13
,0
10
,2
32
,6
V
ol
ka
m
er
ia
no
0
0
0
1,
2
0,
5
1,
2
0,
7
0,
7
1,
0
0,
9
1,
7
1,
4
0,
9
2,
9
Sw
in
gl
e
0
0
0
0
0
0
0
0,
9
3,
0
5,
8
6,
0
4,
3
10
,8
13
,7
Su
nk
i
0
0
0
0
0,
2
0,
3
1,
0
1,
3
1,
0
2,
2
1,
1
1,
0
5,
1
7,
1
Tr
ifo
lia
ta
_a
0,
4
0,
2
0
0
0
0,
2
0,
7
1,
0
0,
6
2,
3
2,
1
3,
0
2,
5
C
ai
pi
ra
12
,9
0,
8
0,
2
0,
8
2
0,
8
0,
8
1,
1
0
0
0
0
0
0,
2
Ru
go
so
 N
ac
io
na
l
1,
8
0
_
_
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Li
m
a 
da
 P
ér
si
a
_
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Tr
oy
er
_
0
0
0
0
0
0
0,
3
0
0
0
0,
1
0,
2
0
C
ar
riz
o
0
0
0
0
0
0
0
0,
3
0
0
0
0
0
0,
2
La
ra
nj
a 
A
ze
da
0
0
0,
1
0
0
0
0,
3
1,
2
0
0
0
0,
2
0
0
Ta
ng
el
o 
O
rla
nd
o
0
0
0
0
0
0
0
0,
7
0
0
0
0
0
0,
1
a 
D
ad
o 
nã
o 
di
sp
on
ív
el
CITROS66 Porta-enxertos 67
As limitações apresentadas pela tangerina Cleó-
patra, como o inicio de produção mais tardio e a 
suscetibilidade à seca, e a possibilidade de utilizar 
outros porta-enxertos, novamente reduziram a 
presença da tangerina Cleópatra, que, somente 
em 2003, voltou a ter a participação expressiva de 
32,6% em decorrência da sua tolerância à morte 
súbita dos citros.
O limão Volkameriano foi introduzido da Itália 
em 1963 e somente dez anos depois publicaram-
se os primeiros resultados mostrando ser ele uma 
opção ao limão Cravo, principalmente pela sua 
tolerância à seca (Salibe, 1973). Isto explica, em 
parte, que a sua presença nos viveiros somente co-
meçasse a ser registrada em 1984, em 1,2% das 
mudas. A suscetibilidade ao declínio e a incom-
patibilidade com a laranja Pêra são as principais 
limitações a seu maior uso. Sua aparente tolerân-
cia à morte súbita dos citros provocou um pequeno 
acréscimo de utilização, tendo sido encontrado em 
2,9% das mudas em 2003. Posteriormente, Bassa-
nezi et al. (2003) confirmaram a suscetibilidade do 
Volkameriano à morte súbita dos citros.
O citrumelo Swingle ou 4475 vem sendo ava-
liado pelo IAC desde sua introdução em 1948. O 
interesse por esse porta-enxerto começou na déca-
da de 1980, motivado pela tolerância ao declínio 
e resistência à gomose. Desde 1988, quando ele 
surge nas estatísticas participando de 0,9% das 
mudas, sua presença vem crescendo, sendo o ter-
ceiro porta-enxerto mais utilizado em 2002 e 2003, 
com 10,8 e 13,7% respectivamente, sobretudo por 
apresentar tolerância à morte súbita dos citros. Suas 
principais limitações são a menor resistência à seca 
que os limões Cravo e Volkameriano e a incompa-
tibilidade com a laranja Pêra (C. sinensis), tangor 
Murcott [C. reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Os-
beck] e limões [C. limon (L.) Burm. f.] cv. Siciliano e 
Eureka. Por ser tolerante à exocorte, vem sendo uti-
lizado como porta-enxerto para a lima ácida Tahiti 
clone Quebra-galho, portador dessa virose.
A presença da tangerina Sunki começou a ser 
registrada em 1985, quando participou de 0,2% 
das mudas presentes nos viveiros, motivada pela 
sua resistência ao declínio dos citros e por induzir 
produções de frutos geralmente superiores às pro-
porcionadas pela tangerina Cleópatra. A constata-
ção de que as plantas enxertadas nesse porta-en-
xerto não são afetadas pela morte súbita dos citros 
fez com que sua presença nos viveiros aumentasse 
para 5,1% em 2002 e 7,1% em 2003.
O trifoliata e os citranges (C. sinensis x P. tri-
foliata) cv. Carrizo e Troyer têm como limitações o 
maior tempo necessário para a formação das mu-
das, suscetibilidade ao declínio dos citros, baixa 
tolerância à seca e incompatibilidade com a laran-
ja Pêra e com o tangor Murcott. A Tabela 1 mostra 
que a participação deles nas mudas formadas 
nos últimos 40 anos foi inferior a 0,5% exceto, 
para o trifoliata, que teve pequeno acréscimo a 
partir de 2000, provavelmente pela ocupação 
de áreas mais sujeitas à gomose, plantios mais 
adensados, tolerância à morte súbita dos citros 
e adoção da seleção Flying Dragon [P. trifoliata 
var. monstrosa (T. Ito) Swingle], com caracterís-
ticas ananicantes, principalmente para a lima 
ácida Tahiti.
A laranja Caipira é suscetível à seca e à go-
mose de Phytophthora, tendo sido considerada 
tolerante aos viróides da exocorte e da xiloporose, 
por não manifestar seus sintomas. Foi a principal 
razão de ter sido utilizada até o inicio dos anos 
sessentas quando foi tornado compulsório o uso de 
borbulhas de origem nucelar isentas dessas viro-
ses. O maior vigor dos clones nucelares acentuou 
as deficiências apresentadas por esse porta-enxer-
to, que teve seu uso reduzido de 12,9% em 1961 
para níveis inferiores a 2% a partir de 1962.
A lima da Pérsia, que em 1960 participava de 
0,03% das mudas, teve seu uso como porta-enxer-
to proibido a partir de 1963, mediante portaria do 
Instituto Biológico (DOE, 29/3/1963), pela intole-
rância ao vírus da tristeza (Cintra et al., 1973). 
O desinteresse pelo limão Rugoso pode ser 
atribuído à pequena longevidade das plantas 
nele enxertadas, provavelmente em vista da par-
cial intolerância à tristeza e por sua incompatibi-
lidade com a laranja Pêra. O ressurgimento da 
laranja Azeda, em 1970, deve-se a sua utiliza-
ção como porta-enxerto para os limões Siciliano 
e semelhantes. 
Outros porta-enxertos, que não figuram na 
Tabela 1, vêm sendo avaliados por citricultores em 
pomares exploratórios, geralmente decorrentes de 
introduções clandestinas ou de mutações naturais 
ou de hibridações espontâneas. 
As perspectivas são de que a morte súbita dos 
citros e os resultados das avaliações de novos por-
ta-enxertos promovam maior diversificação dos 
porta-enxertos, como sugerem os dados referentes 
a 2003 ao revelar que o limão Cravo participava 
apenas em 39,8% das mudas. 
CITROS68 Porta-enxertos 69
4 Problemas abióticos e bióticos asso-
ciados a porta-enxertos
Os fatores ambientais e sanitários são os prin-
cipais determinantes na seleção de porta-enxertos. 
Em São Paulo, a ausência da irrigação e a pre-
sença da tristeza, do declínio, da morte súbita dos 
citros e da gomose de Phytophthora são fatores 
condicionantes na eleição dos porta-enxertos. Em 
outros países, a salinidade e o frio são também 
limitantes. Ainda devem ser consideradas as res-
trições impostas pela ocorrência de incompatibili-
dade entre copas e porta-enxertos, fenômeno que 
acontece com freqüência entre a laranja Pêra e o 
tangor Murcott com o trifoliata e seus híbridos. 
Dentre as mais importantes limitações ao uso dos 
porta-enxertos destacam-se os seguintes:
4.1 Seca
O estresse da água ocorre quando as con-
dições ambientais tornam sua absorção ou seu 
transporte insuficiente para repor a água perdida 
pela transpiração. Ele inibe o crescimento da plan-
ta e do fruto, causa o murchamento e a queda de 
folhas, flores e frutos, podendo provocar a morte 
das plantas.
A diferença mais notável entre a citricultura 
brasileira, notadamente a paulista, e a citricultu-
ra de outros paises, é o uso restrito da irrigação. 
Como a florada ocorre em agosto/setembro e a 
colheita está concentrada de abril a dezembro, 
período de menor ocorrência de chuvas, é neces-
sário o uso de porta-enxertos tolerantes à seca. 
Asdiferenças entre os porta-enxertos podem ser 
atribuídas à quantidade e distribuição horizontal 
e vertical das raízes e radicelas e à eficiência da 
absorção e transporte da água, bem como à aber-
tura e ao fechamento dos estômatos das folhas. 
As variedades copas e os clones exercem grande 
influência no comportamento dos porta-enxertos. 
Assim, as laranjeiras demandam maior consumo 
de água que as tangerineiras e os clones nucela-
res, mais enfolhados, exigem mais água que os 
clones velhos.
4.2 Encharcamento
O excesso de água provoca a redução do oxi-
gênio disponível ao sistema radicular, causando a 
morte das radicelas. A sobrevivência do sistema 
radicular nos solos encharcados é influenciada 
pelo porta-enxerto e pelo tipo e pH do solo. A 
presença de sulfito de hidrogênio (H2S) e de outros 
metabólicos tóxicos produzidos na região ocupada 
pelo sistema radicular sob condições anaeróbias 
também pode causar a destruição das raízes. 
Parecem ser mais tolerantes ao encharcamento 
os limões Volkameriano, Rugoso e Milan (C. jam-
bhiri) e o citrumelo Swingle, enquanto a tangerina 
Cleópatra e o citrange Carrizo são menos toleran-
tes. Limão Cravo, trifoliata, laranja Azeda e lima 
da Pérsia formam um grupo intermediário.
Outro fator é a velocidade do porta-enxerto de 
repor as raízes mortas por sadias após cessado o 
encharcamento. O limão Rugoso supera os demais 
quanto a essa característica. 
De modo geral, os solos maldrenados, sujeitos 
a encharcamentos, não devem ser utilizados para 
o plantio de pomares cítricos, a menos que haja o 
preparo adequado do solo.
O encharcamento não deve ser confundido 
com lençol freático alto que limita a profundidade 
a ser atingida pelas raízes. O trifoliata e alguns de 
seus híbridos desenvolvem-se bem em solos com 
essa característica.
4.3 Alcalinidade 
A alcalinidade ocorre quando o pH do solo é 
superior a 7, geralmente em decorrência da pre-
sença de alta quantidade de cálcio ocasionando 
a redução da disponibilidade de nutrientes às 
plantas. O trifoliata e alguns de seus híbridos 
mostram deficiência de ferro em pH próximo a 
8. O citrange Carrizo inicia a manifestação de 
deficiências de zinco e manganês quando o pH 
supera 6. Essas deficiências podem ser corrigidas 
por pulverizações foliares.
4.4 Salinidade
Uma das conseqüências nas diferenças entre 
os porta-enxertos na absorção dos nutrientes é a 
tolerância à presença de sais no solo.
As plantas cítricas são sensíveis à salinidade, 
que pode causar-lhes redução no crescimento e 
na produção. A salinidade é provocada, princi-
palmente, por cloretos e sulfatos e por outros sais 
presentes na água de irrigação usada em áreas 
situadas em regiões áridas ou próximas ao mar. A 
irrigação sobre-copa com água salina pode cau-
CITROS68 Porta-enxertos 69
sar “queimadura” e queda de folhas e conseqüente 
redução da produção. A irrigação sub-copa com 
água salina pode acarretar acumulação de sais 
no solo. O limão Cravo e a tangerina Cleópatra 
são relativamente tolerantes ao cloreto de sódio 
enquanto o limão Rugoso, citrumelo Swingle, ci-
trange Carrizo e, principalmente, o limão Milan e 
o trifoliata são sensíveis à salinidade.
4.5 Frio 
A tolerância da planta cítrica ao frio e à geada 
é determinada pela copa e pelo porta-enxerto. 
Assim, a laranja Pêra e a lima ácida Tahiti são 
mais suscetíveis ao frio que as laranjas Bahia e 
Valência, independentemente do porta-enxerto uti-
lizado. Este exerce alguma influência na tolerância 
das plantas ao frio, podendo reduzir os danos das 
geadas. Desse modo, as plantas sobre tangerina 
Cleópatra, trifoliata e citrumelo Swingle são mais 
tolerantes ao frio que as enxertadas nos limões 
Cravo, Volkameriano, Rugoso e Milan e na lima 
da Pérsia. As laranjas doces e o citrange Carrizo 
são intermediários entre esses grupos. 
Precedendo a abordagem dos fatores bióticos, 
é necessário definir conceitos referentes às relações 
entre porta-enxertos e patógenos. Nesse contexto, 
o termo porta-enxerto suscetível ou intolerante é 
atribuído àquele que manifesta sintomas decorren-
tes da presença do patógeno, enquanto porta-en-
xerto tolerante é aquele em que tais sintomas não 
se manifestam. Como exemplo, o limão Cravo e o 
trifoliata são citados como suscetíveis à exocorte 
porque manifestam rachaduras e escamações da 
casca quando infectados por esse viróide. Já as 
tangerinas Cleópatra e Sunki e as laranjas do-
ces, inclusive as Caipiras, são denominadas de 
tolerantes porque não manifestam esses sintomas. 
Entretanto, a não-expressão dos sintomas pode 
ocultar danos econômicos. Por muitas décadas, 
as laranjas Caipiras foram recomendadas como 
porta-enxertos para clones portadores do viróide 
da exocorte. A evolução do conhecimento mostrou 
que laranjeiras Hamlin (C. sinensis), portadoras de 
exocorte e enxertadas em variedades de laranja 
doce apresentaram, em media, redução da pro-
dução de 28% quando comparadas com o clone 
nucelar da mesma cultivar. As maiores reduções 
foram observadas nas plantas enxertadas nas la-
ranjas Caipiras C e DAC, 34 e 33% e, as menores, 
na Santa Lucia e Caipira A, 15 e 16% respectiva-
mente (Pompeu Junior & Salibe, 2002). No mesmo 
experimento, as laranjeiras Hamlin portadoras 
da exocorte, quando enxertadas no limão Cravo, 
produziram 68% menos que as plantas sadias no 
mesmo porta-enxerto.
4.6 Tristeza
A introdução do vírus da tristeza no Brasil, no 
final da década de 1930 (Bittancourt, 1940), e sua 
rápida disseminação por borbulhas e pelo pulgão-
preto (Meneghini, 1946), motivou a exclusão dos 
porta-enxertos intolerantes, como a laranja Azeda 
e a lima da Pérsia, e tornou indispensável o uso de 
porta-enxertos tolerantes, entre os quais o limão 
Cravo e a tangerina Cleópatra, ou imunes como o 
trifoliata. Em São Paulo, ocorrem diversas raças do 
vírus da tristeza. Uma delas, denominada Capão 
Bonito, causa caneluras em porta-enxertos toleran-
tes a outras raças do vírus, como o limão Cravo e 
as tangerinas Cleópatra e Oneco (C. reticulata) e 
o trifoliata. A tangerina Sunki vem-se mostrando 
tolerante a essa estirpe de tristeza (Müller et al., 
1968).
A laranja Azeda somente pode ser utilizada 
como porta-enxerto para os limões Siciliano, Eu-
reka e semelhantes. A explicação é que as células 
dos limões são hipersensíveis ao vírus da tristeza e 
morrem logo após serem infectadas, impedindo a 
multiplicação do vírus. A laranja Azeda é também 
hipersensível ao vírus, o que ilustra porque é possí-
vel formar laranjeira Azeda enxertada em laranja 
Azeda ou em qualquer porta-enxerto ou ainda de 
“pés francos”.
4.7 Exocorte
A exocorte, causada por um viróide, foi cons-
tatada no Brasil na década de 1940 (Moreira, 
1946), causando a escamação dos porta-enxertos 
considerados intolerantes, entre os quais o limão 
Cravo, trifoliata e alguns citranges (Moreira, 
1954, 1955, 1959). Geralmente, é visualizada 
em plantas com quatro ou mais anos de idade e 
ocasiona redução no crescimento, no tamanho e 
na produção das plantas. Isso também ocorre, em 
menor intensidade, nas plantas enxertadas sobre 
os porta-enxertos considerados “tolerantes”, por-
que não mostram as escamações características 
dessa virose (Pompeu Junior et al., 1979; Pompeu 
Junior & Salibe, 2002).
CITROS70 Porta-enxertos 71
Não são conhecidos vetores dessa doença, 
efetuando-se seu controle com o emprego de bor-
bulhas sadias e desinfecção de equipamentos de 
poda e de enxertia. 
Plantas com sintomas de exocorte no porta-
enxerto podem ser parcialmente recuperadas se 
subenxertadas com variedades menos suscetíveis, 
como a tangerina Cleópatra ou citrumelo Swin-
gle. A tangerina Sunki é considerada intolerante 
à exocorte, embora não manifeste rachaduras e 
escamações.
4.8 Xiloporose
Sua ocorrência no Brasil foi relatada por Mo-
reira (1938),afetando laranjeiras Barão enxerta-
das em lima da Pérsia. É causada por um viróide 
que induz no lenho das variedades intolerantes 
a formação de depressões arredondadas que se 
justapõem a saliências da face interna da casca; 
às vezes, pode dar-se o inverso: saliências no le-
nho e depressões na casca. Tais sintomas ocorrem 
geralmente em plantas com mais de seis anos de 
idade e quando o porta-enxerto é o limão Cravo. 
As plantas afetadas apresentam redução do cres-
cimento e da produção. Entre os porta-enxertos 
mais utilizados, são suscetíveis à xiloporose diver-
sas seleções de limão Cravo, a tangerina Oneco e 
o tangelo Orlando (C. reticulata x C. paradisi). As 
tangerinas Cleópatra e Sunki, o trifoliata, citranges 
Troyer e Carrizo e o citrumelo Swingle não mani-
festam os sintomas dessa virose (Salibe & Moreira, 
1965; Moreira & Roessing, 1965).
O controle da doença, da qual não se conhe-
cem vetores, é feito com borbulhas sadias e desin-
fecção de equipamentos de poda e de enxertia. A 
subenxertia de plantas doentes com porta-enxertos 
tolerantes pode reduzir os danos causados por 
essa virose.
O emprego dos clones nucelares ou clones 
novos eliminou a exocorte e a xiloporose dos 
nossos pomares e permitiu o uso econômico do 
limão Cravo e de outros porta-enxertos suscetíveis 
a essas doenças. 
4.9 Galha lenhosa
É causada pelo vírus enação foliar-galha 
lenhosa que foi encontrado no Brasil afetando 
laranjeiras e outras espécies enxertadas em li-
mões Volkameriano e Rugoso (Feichtenberger 
et al., 1989). Ele induz dois tipos de sintomas: 
galhas ou intumescências nos troncos dos limões 
Volkameriano e Rugoso ou espessamento das 
nervuras na face inferior das folhas de algumas 
variedades, como a lima ácida Galego [C. auran-
tiifolia (Christm.) Swingle], a laranja Azeda e o 
limão Rugoso. O vírus é transmitido por borbulhas 
e por pulgões, entre os quais o pulgão-preto. A 
doença, geralmente, não causa grandes danos às 
plantas. Quando as galhas aparecem em plantas 
adultas, estas continuam a produzir economi-
camente por até dez anos, mesmo mostrando 
grande número de galhas no porta-enxerto. 
Mudas que apresentam galhas ainda no viveiro, 
podem resultar em plantas raquíticas e pouco 
produtivas (Jacomino & Salibe, 1994). Em São 
Paulo, o vírus da galha lenhosa foi transmitido 
por pulgões-pretos coletados em laranjeiras por-
tadoras do complexo Capão Bonito do vírus da 
tristeza, originando galhas nos limões Volkame-
riano Palermo, Catania-2 e Australian, Rugoso 
da Flórida, Rangpur lime D22.30, limão Cravo 
híbrido-2, tangelo Orlando e citrange Carrizo 
(Carvalho et al., 2001).
4.10 Declínio dos citros
O declínio dos citros, com características se-
melhantes ao blight que ocorre na Flórida desde 
1880 foi constatado no Brasil em 1977 (Rodri-
guez et al., 1979) afetando laranjeiras enxerta-
das em limão Cravo e, posteriormente, em limão 
Volkameriano, trifoliatas e outros porta-enxertos 
(Beretta et al., 1986a, 1986b, 1994). De causas 
ainda desconhecidas, foi transmitido somente 
por enxertia de raízes (Carlos, 1996). Os sin-
tomas geralmente se manifestam nas laranjeiras 
com quatro ou mais anos de idade, não sendo 
observados em tangerineiras, limeiras ácidas e 
pomeleiros enxertados sobre porta-enxertos sus-
cetíveis. Seu controle é feito com o emprego de 
porta-enxertos tolerantes, como o citrumelo Swin-
gle, a laranja Caipira e as tangerinas Cleópatra 
e Sunki, embora laranjeiras Valência enxertadas 
sobre tangerina Cleópatra, com 14 anos de 
idade, tenham manifestado sintomas da doença 
(Müller et al., 1997). 
As observações indicam que todos os porta-
enxertos comerciais apresentam suscetibilidade 
ao blight/declínio, que se manifesta com o enve-
lhecimento da planta. Assim, Castle (1993) relata 
CITROS70 Porta-enxertos 71
que, em experimento de porta-enxertos para 
laranja Valência com 15 anos de idade, o blight 
foi responsável pela perda de 45% das plantas 
enxertadas em limão Volkameriano, 43% das en-
xertadas em limão Rugoso, 27% das enxertadas 
em limão Cravo, 23% daquelas sobre tangelo 
Orlando, 17% das plantas sobre trifoliata, 13% 
das enxertadas sobre citrange Carrizo, 7% das 
enxertadas em citrumelo Swingle e 2% das plan-
tas sobre laranja doce. Apenas as enxertadas 
sobre laranja Azeda não apresentaram plantas 
mortas. Relata, ainda, que a perda de laranjeiras 
Valência enxertadas sobre tangerina Cleópatra 
que havia sido de 15% até as plantas terem 12 
anos de idade aumentou para 23% quando elas 
completaram 15 anos, ou seja, um crescimento 
de 8% em três anos.
Declínios com características semelhantes ao 
que ocorre no Brasil acontecem também na África 
do Sul, Venezuela, Cuba, Argentina e Uruguai, 
recebendo nomes como blight, declinamiento 
repentino ou fruta bolita na Argentina, marchita-
miento repentino no Uruguai (Beretta et al., 1994), 
e Macrophylla decline, no Arizona (Taylor et al., 
2000).
4.11 Declínio do citrumelo Swingle
Foi observado no Belize, em 1999, afetando 
laranjeiras Valência com cinco a oito anos de ida-
de. Os sintomas iniciais são deficiências nutricio-
nais seguidas da redução do vigor e da produção 
das plantas, podendo ocorrer sua morte. Durante 
a época da seca, as plantas doentes sofrem mais 
que as sadias pelo estresse hídrico. O exame do 
sistema radicular das plantas com diferentes níveis 
da anomalia mostra a morte progressiva das raí-
zes absorventes. Talhões adjacentes de laranjeiras 
Valência enxertadas em limão Volkameriano, tan-
gerina Cleópatra, citrange Carrizo e laranja Aze-
da não mostram a doença. O problema vem sendo 
atribuído a um conjunto de fatores decorrentes da 
presença de horizonte argiloso muito denso no 
perfil do solo (Gutierrez, 2002).
4.12 Declínio do Citrus macrophylla
É uma forma de declínio de causas desconhe-
cidas, semelhante ao blight que afeta esse porta-
enxerto no Estado do Arizona (EUA) (Taylor et al., 
2000).
4.13 Cristacortis
Sua ocorrência em São Paulo foi verificada 
por Rossetti (1976) em tangerineiras Clementina 
sobrenxertadas em laranjeiras Hamlin sobre limão 
Cravo. Os sintomas dessa virose, da qual não se 
conhecem vetores, são semelhantes aos da xilopo-
rose, ou seja, depressões no lenho coincidentes 
com excreções da face interna da casca. Ela afeta 
somente copas e porta-enxertos de laranjas doces 
e laranjas azedas, o que não ocorre com a xilo-
porose.
4.14 Citrange stunt
Essa virose, causada pelo complexo tatterleaf-
-citrange stunt, transmissível por borbulhas, pode 
provocar a formação de anel de goma na linha de 
enxertia, depressões no lenho dos porta-enxertos e 
nanismo de algumas variedades de laranjas, tan-
gerinas e limões, quando enxertadas em trifoliata 
ou citranges (Garnsey & Miyakawa, 1993).
4.15 Morte súbita dos citros (MSC)
Constatada em 1999, essa anomalia vem afe-
tando laranjeiras e tangerineiras enxertadas em 
limão Cravo (Gimenes-Fernandes & Bassanezi, 
2001) e em limão Volkameriano (Bassanezi et 
al., 2003). As plantas apresentam, inicialmente, 
folhas verde-pálido seguida da queda das folhas 
e morte dos ramos apicais e culminando com o 
perecimento das plantas, cerca de seis meses após 
o aparecimento dos sintomas (Müller et al., 2002). 
A retirada da casca do limão Cravo mostra o câm-
bio amarelado, sendo esse o sintoma-diagnóstico 
da doença e que precede os sintomas da copa. A 
MSC já foi observada em plantas com dois anos 
de idade, sendo mais freqüente nas com mais de 
seis anos. Plantas enxertadas sobre tangerinas 
Cleópatra e Sunki, citrumelo Swingle e trifoliata 
não mostram sintomas da doença. Suas causas 
permanecem desconhecidas, havendo evidencias 
de que seja provocada por um vírus e transmitida 
por borbulhas (Yamamoto et al., 2003) e por vetor 
alado. 
A convivência com a MSC vem sendo feita 
pela subenxertia das plantas sobrelimões Cravo 
e Volkameriano com porta-enxertos tolerantes 
e pelo plantio de mudas formadas sobre esses 
porta-enxertos.
CITROS72 Porta-enxertos 73
4.16 Necrose do Citrus macrophylla
As principais cultivares de limão, quando 
enxertadas em Alemow (C. macrophylla Wester), 
podem apresentar oclusão de vasos do floema que 
induzem ao declínio e morte das plantas (Castle, 
1987; Davies & Albrigo, 1994). As causas dessa 
anomalia são desconhecidas, supondo-se ser uma 
forma de incompatibilidade.
4.17 Gomose de Phytophthora 
A primeira ocorrência documentada da gomose 
de Phytophthora no Brasil data de 1917 (Alencar, 
1941). As diversas espécies de Phytophthora são 
responsáveis pelo tombamento ou mela que ocorre 
nas sementeiras dos porta-enxertos, por lesões em fo-
lhas, brotações e hastes muito freqüentes em viveiros, 
pela podridão-parda dos frutos e por outros danos à 
planta cítrica. As mais serias manifestações do fungo, 
genericamente denominadas de gomose, são a po-
dridão do colo, do tronco, das raízes e radicelas. As 
lesões podem causar o anelamento das raízes e do 
tronco, impedindo o fluxo da seiva elaborada nas fo-
lhas para as raízes, ocasionando a morte destas. Em 
conseqüência, ocorre a descoloração das nervuras e 
amarelecimento das folhas, que murcham e secam; 
florescimentos e frutificações freqüentes e extemporâ-
neos; produção de frutos pequenos e de maturação 
precoce; desfolha e seca de ramos e morte da planta. 
A podridão de raízes e radicelas pode ocorrer em 
viveiros e pomares sem que as plantas apresentem os 
sintomas foliares típicos da doença.
Entre as espécies de Phytophthora que afetam 
as plantas cítricas, a P. citrophthora (R.E. Sm. e E.H. 
Sm.) e a P. parasítica Dastur (= P. nicotianae Breda 
de Haan) são as principais causadoras da gomose 
no Brasil, sendo a P. parasitica a predominante. Os 
porta-enxertos podem ser agrupados quanto à sus-
cetibilidade às infecções do tronco por P. citrophtho-
ra e P. parasitica em: alta suscetibilidade: laranjas 
doces e limões rugosos; moderada suscetibilidade: 
limões Cravo e Volkameriano, tangerinas Sunki e 
Cleópatra, tangelo Orlando e citranges Troyer e 
Carrizo; baixa suscetibilidade: laranja Azeda e C. 
macrophylla, e muito baixa suscetibilidade: trifolia-
ta e citrumelo Swingle (Feichtenberger et al., 1994). 
Essas reações podem ser alteradas por ferimentos 
causados por agentes abióticos, como grades e 
herbicidas, ou bióticos, como coleópteros curculio-
nídeos. Na Flórida, a ação conjunta da Diaprepes 
abbreviatus (L.) (Coleóptera: Curculionidae) com a 
Phytophthora spp. vem ampliando a perda de plan-
tas enxertadas sobre porta-enxertos considerados 
resistentes a gomose (Graham et al., 2003).
4.18 Clorose variegada dos citros
Doença causada pela bactéria Xylella fastidio-
sa Wells et al., pode ser transmitida pelas sementes 
de laranjas doces (Pria Junior et al., 2003). Não 
foi relatada sua transmissão pelas sementes de 
outros porta-enxertos. 
4.19 Nematóides
Embora muitas espécies de nematóides já 
tenham sido encontradas em pomares de citros 
no Brasil, apenas o nematóide dos citros (Tylen-
chulus semipenetrans Cobb) e três espécies de 
Platylenchus - P. coffea (Zimmermann) Goodey, P. 
brachyurus (Godfrey) Goodey e P. jaehni Inserra 
et al. - podem ser considerados danosos à cultura. 
Na Flórida, o Radopholus citrophilus Huettel, Dick-
son & Kaplan é considerado o principal nematóide 
parasita dos citros (Campos, 2002).
O primeiro relato sobre a ocorrência do nema-
tóide dos citros em pomares do Estado de São Pau-
lo e do Rio de Janeiro coube a Carvalho (1942), 
que aventou sua relação com a nova doença que 
então assolava a citricultura, posteriormente iden-
tificada como a tristeza dos citros. O nematóide 
dos citros causa a doença denominada de declínio 
lento dos citros, manifestada pelo apodrecimento 
das radicelas e clorose das folhas, seguido da re-
dução no crescimento das plantas, na produção e 
no tamanho dos frutos.
Segundo Salibe (1996) e Campos & Ferraz 
(1980), o trifoliata e o citrumelo Swingle são muito 
resistentes ao T. semipenetrans, o citrange Troyer 
apresenta media resistência, e os limões Cravo, 
Volkameriano e Rugoso da Flórida, as tangerinas 
Cleópatra, Sunki e Sun Chu Sha Kat (C. reticulata) 
e a laranja Hamlim, são pouco resistentes a esse 
nematóide. 
O controle é feito pela utilização de mudas 
sadias e de porta-enxertos resistentes.
4.20 Incompatibilidades
A enxertia promove o contato de vegetais ge-
neticamente diferentes e com sistemas anatômicos, 
CITROS72 Porta-enxertos 73
fisiológicos e bioquímicos distintos, possibilitando 
a ocorrência de interações tanto favoráveis como 
desfavoráveis entre as partes envolvidas. Dentre 
estas, destaca-se a ocorrência de pouca afinidade 
e até incompatibilidade entre copas e porta-en-
xertos. As plantas afetadas, a principio, crescem 
normalmente, às vezes até mais vigorosamente 
que as combinações copa/porta-enxerto compa-
tíveis, provavelmente pelo progressivo anelamento 
causado pela formação de um anel de goma 
na região de enxertia e que retém na copa os 
metabólicos elaborados pelas folhas. Decorridos 
dois ou mais anos da enxertia, elas passam a 
apresentar deficiências nutricionais, queda das 
folhas, seca de ponteiros, brotação exagerada 
do porta-enxerto e produções não econômicas de 
frutos, podendo vir a morrer. A retirada da casca 
na região de enxertia revela a penetração da cas-
ca no lenho, em parte ou em todo o perímetro do 
tronco, geralmente acompanhado pela formação 
de linha necrótica com exsudação de goma na 
casca e no lenho (Nauryal et al., 1958; Kirkpatrick 
et al., 1962; Pompeu Junior et al., 1972).
A incompatibilidade pode ser definida como 
um fenômeno de senescência prematura causada 
por processos anatômicos e bioquímicos e que 
pode ser intensificada sob condições de estresse 
(Feucht, 1988; Feucht & Schmid, 2002).
Ainda não se conhecem as causas da incompa-
tibilidade, podendo haver agentes diferentes ou in-
teração deles para cada combinação copa-porta-
enxerto. Há hipóteses que a associam a diferenças 
no vigor e no inicio e término do ciclo vegetativo 
do porta-enxerto e do enxerto, enquanto outras a 
atribuem a diferenças fisiológicas e bioquímicas 
decorrentes de substancias preexistentes na copa 
e no porta-enxerto ou formadas em conseqüência 
da enxertia. Alguns autores associam-na a fatores, 
provavelmente vírus, transmissíveis por borbulhas 
(Bridges & Youtsey, 1968; McClean, 1974; Rois-
tacher, 1991). Vives et al. (2001) avaliaram la-
ranjeiras e outros citros enxertados em citranges e 
citrumelo com sintomas de anelamento e constata-
ram a presença do vírus da folha manchada (citrus 
leaf blotch virus) em algumas das plantas. Fatores 
ambientais devem interagir com fatores bióticos, o 
que poderia explicar a não-ocorrência da incom-
patibilidade em determinadas situações. 
As incompatibilidades foram classificadas por 
Mosse (1962) em dois tipos: translocada e loca-
lizada. É considerada translocada quando não é 
contornada pela inserção de um interenxerto com-
patível com a copa e o porta-enxerto, em vista, 
aparentemente, a algum fator que pode mover-se 
através dele. Na localizada, as reações de incom-
patibilidade dependem do contato direto entre os 
tecidos do enxerto e do porta-enxerto, e pode ser 
superada por um interenxerto. Esta incompatibili-
dade é a que ocorre nas plantas cítricas.
Nauryal et al. (1958) estudaram limoeiros Eu-
reka enxertados diretamente em seleções de trifolia-
ta ou separados por interenxerto de laranja Valência 
e constataram a incompatibilidade somente quando 
o Eureka esteve unido ao trifoliata, mesmo quando 
este foi utilizado como interenxerto. Valente et al. 
(1993) verificaram incompatibilidade em laranjeiras 
Pêra interenxertadas com citrumelo Swingle.Esse fato 
permite concluir que o sistema radicular do trifoliata 
ou do citrumelo Swingle não seriam os responsáveis 
pela promoção da incompatibilidade.
No Brasil, constataram-se incompatibilidades 
das laranjas Pêra e Seleta de Itaboraí enxertadas 
em limão Rugoso da Flórida e trifoliata Limeira, da 
laranja Pêra com o limão Rugoso da África e com 
o citrumelo Swingle, dos clones Pêra Premunizada 
e Pêra Bianchi com o citrumelo Swingle (Pompeu 
Junior, 1991, 1996), e da Pêra Premunizada com 
os citrumelos F.80.3 e F.80.5 e com dois híbridos 
de limão Cravo x citrange Carrizo (Pompeu Junior 
& Blumer, 2002a).
Salibe & Cereda (1984) constataram a in-
compatibilidade dos clones de Pêra: Bianchi, Pre-
munizado, Santa Irene e Comprida com o limão 
Volkameriano.
O tangor Murcott é incompatível com trifoliata 
(Pompeu Junior et al., 1972), citrumelo Swingle 
(Pompeu Junior, 1991) e limão Cravo x citrange 
Carrizo (Pompeu Junior & Blumer, 2001). A Me-
xerica-do-Rio, com os citranges C.14 e C.20 e, o 
limão Siciliano, com os citranges C.8, C.14, C.36, 
C.41, C.62 e C.65 (Dornelles, 1978).
Laranjeiras Valência, com 14 anos de idade, 
passaram a apresentar sintomas de incompatibili-
dade com o porta-enxerto limão Cravo x citrange 
Carrizo (Pompeu Junior & Blumer, 2002 a)
Stuchi (2003) relaciona incompatibilidades cons-
tatadas no exterior, entre as quais merecem destaque: 
laranja Valência sobre limão Rugoso, tangerina Sat-
suma (C. unshiu Marcow.) e limões Eureka e Lisboa 
enxertados em tangerina Cleópatra, limões Eureka 
e Lisboa sobre C. macrophylla e tangelo Nova (C. 
reticulata x C. paradisi) em citrange Carrizo.
CITROS74 Porta-enxertos 75
Cabe ressaltar que o maior diâmetro do tronco 
do porta-enxerto em relação ao da copa ou vice-
versa nem sempre é indicativo de incompatibilida-
de. Diversos cultivares de citros enxertados sobre 
trifoliatas e seus híbridos mostram maior diâmetro 
do caule do porta-enxerto em relação ao da copa, 
porém as plantas não apresentam anel de goma e 
são produtivas e longevas.
O inverso acontece com limoeiros Eureka 
enxertados em trifoliata, os quais mostram logo 
acima da região de enxertia maior diâmetro do 
tronco da copa tanto em plantas sadias como 
em plantas com sintomas de incompatibilidade 
(Nauryal et al., 1958).
Como os problemas decorrentes da incompa-
tibilidade somente começam a aparecer dois ou 
mais anos após a instalação do pomar, é desacon-
selhável o plantio de grandes áreas com combina-
ções ainda não conhecidas. Vale lembrar que uma 
das características negativas da laranja Pêra é ser 
incompatível com diversas seleções de trifoliata, 
citrumelos, citranges e outros híbridos de trifoliata, 
além do limão Volkameriano e várias seleções de 
limão Rugoso. Em determinadas circunstâncias, 
ainda não identificadas, essas incompatibilidades 
podem não ocorrer; assim, Teófilo Sobrinho et al. 
(1984) relatam que laranjeiras Pêra enxertadas 
em citrumelo Swingle, com nove anos de idade, 
não apresentavam anel de goma na região de 
enxertia. Por sua vez, esse anel era intenso nas 
laranjeiras Pêra sobre trifoliata Limeira e menos 
evidente nas plantas enxertadas em trifoliata Davis 
A, citrange Troyer, e nos limões Volkameriano, Ru-
goso da África e Rugoso da Flórida. Passos et al. 
(1976) verificaram anel de goma em laranjeiras 
Pêra com sete anos de idade quando enxertadas 
em limão Rugoso da Flórida, citrumelo Sacaton e 
em citrange Troyer, mas não em citrange Carrizo 
e tangerina Cleópatra; observaram, também, a 
presença do anel de goma em algumas plantas 
enxertadas sobre limão Cravo.
Nas plantas cítricas as incompatibilidades 
podem ser superadas pelo uso de interenxertos, 
compatíveis com copa e porta-enxerto, inseridos 
por ocasião da formação da muda. Assim, por 
exemplo, é possível formar plantas de laranja Pêra 
ou de tangor Murcott enxertados sobre citrumelo 
Swingle com o auxilio de um interenxerto de la-
ranja Hamlin ou Valência que poderá ter 5 cm 
de comprimento e inserido a 15 cm de altura do 
porta-enxerto.
A ocorrência da incompatibilidade no pomar 
pode ser superada pela subenxertia com porta-en-
xerto afim da variedade copa ou pela sobrenxertia 
com variedade compatível com o porta-enxerto.
5 Micorrizas
O desenvolvimento das plantas cítricas está 
associado a determinados fungos presentes no 
sistema radicular com os quais mantêm relação de 
interdependência. Nessa associação, denominada 
de micorriza (do grego: mico = fungo, e riza = 
raízes), o fungo penetra nas raízes mais finas e nas 
radicelas, retirando açucares, aminoácidos e ou-
tras substâncias sintetizadas pelas plantas e neces-
sárias ao seu desenvolvimento. Como retribuição, 
eles atuam como extensões das raízes, ampliando 
o volume do solo explorado e favorecendo a ab-
sorção de nutrientes, especialmente do fósforo, a 
tolerância da planta ao déficit hídrico e a resistência 
a patógenos presentes no solo. A importância des-
ses fungos é destacada por Cardoso et al. (1986, 
1993) que concluíram que a inoculação de fungos 
micorrízicos em substratos desinfetados aumentou a 
altura, a produção de matéria seca e o teor de fós-
foro nas folhas de limoeiros Cravo de 183, 1.045 
e 231% respectivamente e até 1.830% na matéria 
seca produzida por tangerineiras Cleópatra. 
Os porta-enxertos diferem quanto a sua depen-
dência dos fungos micorrízicos. A laranja Azeda e 
a tangerina Cleópatra são mais dependentes que 
os limões Cravo e Rugoso e o citrange Carrizo, 
sendo este o menos dependente (Nemec, 1978). 
A utilização desses fungos nos pomares tem 
sido dificultada pela impossibilidade do seu cultivo 
in vitro. Sabe-se, porém, que a cobertura morta 
e a presença de culturas intercalares favorece a 
estabilidade do agroecosistema. 
6 Porta-enxertos e nutrição mineral
As características físicas e químicas do solo são 
dois dos fatores a considerar quando da decisão 
de uso de um porta-enxerto. As características 
químicas podem ser corrigidas por adubações 
adequadas, mas as físicas são mais difíceis e de-
moradas de alterar.
Como o sistema radicular é a parte da planta 
que absorve os elementos minerais, com exceção 
daqueles fornecidos via foliar, é evidente que os 
porta-enxertos exercem influência na composição 
CITROS74 Porta-enxertos 75
de ramos, folhas e frutos. A quantidade de um nu-
triente nas folhas é determinada pela capacidade 
ou eficiência de absorção e translocação nos vasos 
condutores. Com freqüência, análises de plantas 
com sintomas visuais de desnutrição, especialmen-
te de micronutrientes, mostram níveis adequados 
ou até altos desses nutrientes nas raízes. Parte das 
influências do porta-enxerto nas características de 
qualidade do fruto é de origem nutricional. Se o 
porta-enxerto pertence a uma das espécies de 
Citrus, as variações nos níveis de nutrientes entre 
os porta-enxertos é pouco marcante, mas se ele 
pertence a outros gêneros, como é o caso do P. 
trifoliata, essas diferenças podem ser acentuadas.
Segundo Wutscher (1973), o calo formado 
pela enxertia interfere muito pouco nas diferenças 
nutricionais. Estudando as conseqüências da en-
xertia recíproca do limão Rugoso e do trifoliata e 
da presença de dois sistemas radiculares, do mes-
mo ou de ambos os porta-enxertos, constatou que 
a copa teve maior influencia no tamanho da planta 
que o porta-enxerto. O conteúdo mineral das fo-
lhas foi semelhante nas plantas com um ou dois 
porta-enxertos, mas diferiu com os porta-enxertos. 
A inserção de um interenxerto entre o porta-enxer-
to e a copa resultou em pouco significantes e errá-
ticas alterações na composição química das folhas 
expressando que é a absorção pelas raízes e não 
a translocação o fator dominante na determina-
ção dos níveis de nutrientes nas folhas (Wutscher, 
1973; Labanauskas & Bitters, 1974).
A seletividade da absorçãodos nutrientes apre-
sentada pelos porta-enxertos deve ser considerada 
quando da interpretação dos resultados das aná-
lises foliares. A preferência pela absorção de um 
elemento pode causar depressão na absorção de 
outros, como, por exemplo, o efeito negativo à ab-
sorção de nitrogênio por excesso de cálcio e o de 
magnésio por excesso de potássio. 
Uma das conseqüências nas diferenças entre 
os porta-enxertos na absorção de nutrientes é a 
tolerância a sais ou a salinidade. Em diversos paí-
ses, a citricultura é desenvolvida em regiões áridas 
onde a água utilizada na irrigação contém altos 
teores de sais.
A tolerância à salinidade refere-se, principal-
mente, a sulfatos e cloretos, mas também inclui a 
tolerância ao boro. A maior parte das espécies 
cítricas acumula boro, podendo ocorrer toxicida-
de, enquanto a laranja Azeda e o C. macrophylla 
induzem baixos teores de boro. Plantas enxertadas 
em limão Cravo, tangerina Cleópatra e outras tan-
gerinas apresentam baixos teores de cloretos ao 
contrário das enxertadas em trifoliata e diversos 
de seus híbridos. As plantas em porta-enxerto 
de C. macrophylla acumulam altas quantidades 
de cloretos, mas raramente mostram sintomas de 
toxicidade. 
Os citros são relativamente tolerantes aos sul-
fatos que, mesmo em altas concentrações na água 
de irrigação, causam poucos danos. Swingle et al. 
(1928) citados por Wutscher (1973), estudaram 
a tolerância ao boro (B) de gêneros de citros, 
concluindo que Severinia buxifolia (Poir.) Ten., 
Eremocitrus glauca (Lindl.) Swingle e Atalantia dis-
ticha (Blanco) Merr. [= Severinia disticha (Blanco) 
Swingle] devem ser usados como porta-enxertos 
nas áreas onde houver excesso de B. Os porta-
enxertos limão Rugoso, laranja doce, tangerina 
Cleópatra, trifoliata e citrange Savage (C. sinensis 
x P. trifoliata) induzem altos teores de B nas folhas 
quando a água de irrigação contém B = 0,5 a 1,0 
mg L-1. Os sulfatos e cloretos afetam o crescimento 
das plantas cítricas de duas maneiras: aumen-
tando a pressão osmótica da solução do solo, 
causando a chamada “seca fisiológica”, e pelos 
efeitos específicos dos íons sulfato e cloreto dentro 
da planta. A baixa concentração de boro no solo 
faz com que o efeito desse elemento seja restrito ao 
causado pelo íon B.
7 Práticas associadas à porta-enxertos
7.1 Altura da enxertia 
A altura da enxertia influencia o tamanho e a 
produção da planta, as características da região 
da enxertia, a nutrição da planta e a incidência 
de doenças. Os efeitos variam conforme a copa e 
o porta-enxerto, sendo mais evidentes nas plantas 
enxertadas em trifoliata e seus híbridos. 
Ainda não foi determinada a altura de enxer-
tia mais adequada para cada porta-enxerto de 
modo a obter a melhor performance da planta. 
As alturas praticadas pelos viveiristas atendem a 
suas próprias conveniências e tradições e, even-
tualmente, práticas culturais e prevenção a doen-
ças. Assim, os limões que são muito suscetíveis à 
gomose de Phytophthora devem ser enxertados a 
40 a 50 cm de altura dos porta-enxertos conside-
rados resistentes a essa doença, visando reduzir a 
incidência nas copas, segundo Köller et al. (1984). 
CITROS76 Porta-enxertos 77
Esses autores constataram que as alturas de enxer-
tia entre 20 e 80 cm, com formação da copa a 50 
e 100 cm de altura, não influenciaram a altura das 
plantas, a produção e o peso médio dos frutos de 
limoeiros Siciliano enxertados em laranja Azeda. 
Bitters et al. (1982a) relatam que a severidade da 
shellbark, causada pelo fungo Phoma tracheiphila 
(Petri) Kantschaveli & Gikashvili em limoeiros foi 
menor nas plantas enxertadas mais alto. Relatam 
também, que quanto maior a altura da enxertia, 
menos visível é a diferença entre os diâmetros 
dos troncos da copa e do porta-enxerto, e que a 
influencia da altura de enxertia é maior nas plan-
tas enxertadas em trifoliata e seus híbridos, mas 
também ocorre em outros porta-enxertos, como 
a laranja Azeda. Os mesmos autores enxertaram 
laranja Valência Campbell nucelar em tangerina 
Cleópatra e citrange Troyer em alturas entre 5 e 
90 cm e verificaram que as plantas enxertadas em 
tangerina Cleópatra apresentaram maior produ-
ção e tamanho quando enxertadas a 30 cm. Para 
o citrange Troyer, a maior produção foi obtida nas 
laranjeiras enxertadas a 15 cm, porém as maiores 
plantas eram as enxertadas a 30 e 45 cm. A altura 
da enxertia não influenciou o tamanho dos frutos 
produzidos sobre o citrange Troyer, porém, para 
a tangerina Cleópatra, ele foi maior nas plantas 
enxertadas mais alto. Não se constataram outras 
diferenças induzidas pela altura da enxertia nas 
demais características comerciais dos frutos nos 
dois porta-enxertos. Embora as folhas das plantas 
tenham apresentado teores adequados de nutrien-
tes, houve influência da altura da enxertia na sua 
concentração. Para os dois porta-enxertos, a con-
centração de zinco aumentou com a elevação da 
altura da enxertia. Os teores de nitrogênio, cálcio, 
sódio e cobre encontrados nas folhas não mostra-
ram correlação com a altura da enxertia. As con-
centrações de clorados nas plantas enxertadas em 
citrange Troyer foram significativamente afetadas 
pela altura da enxertia, mas não nas enxertadas 
sobre tangerina Cleópatra. A concentração de 
boro nas folhas das laranjeiras enxertadas sobre 
tangerina Cleópatra foi significativamente influen-
ciada pela altura da enxertia, mas não nas enxer-
tadas em citrange Troyer.
Salibe et al. (1970) enxertaram laranja Baia-
ninha em limão Cravo, laranja Caipira e trifoliata 
em alturas de 0, 25 e 50 cm a partir do colo dos 
porta-enxertos. Após as seis primeiras safras, ve-
rificaram que a elevação da altura da enxertia in-
duziu menor tamanho da copa e menor produção 
nas laranjeiras enxertadas no limão Cravo e no tri-
foliata, verificando-se o inverso nas plantas sobre 
laranja Caipira. Posteriormente, constatou-se que 
parte das plantas estava infectada com o viróide 
da exocorte (Moreira et al.,1982), o que pode ex-
plicar esses resultados, uma vez que o limão Cravo 
e o trifoliata são suscetíveis a essa virose. 
Sampaio (1993, 1994) enxertou laranja Pira-
lima em trifoliata a 0, 10, 20 e 40 cm do colo das 
plantas. Após seis anos do plantio do experimen-
to, verificou que as enxertias mais altas propicia-
ram as menores plantas. As maiores produções 
de frutos ocorreram nas plantas enxertadas a 0 
cm, não havendo diferenças entre os pesos mé-
dios dos frutos. Verificou, também, que a enxertia 
da laranja Valência no limão Cravo em alturas de 
15, 25 e 35 cm, não influenciou a produção e o 
tamanho dos frutos. 
7.2 Interenxerto
A mudança da copa, uma operação realizada 
em fruticultura visando atender novas exigências 
do consumidor, motivou a sobrenxertia de plantas 
e, por decorrência, a presença de um ou mais 
interenxertos. A presença de um interenxerto ge-
ralmente causa pequena alteração na fisiologia 
da combinação copa/porta-enxerto, uma vez que 
a maior parte do efeito sobre a planta é causado 
pelo porta-enxerto.
Bitters et al. (1982b) avaliaram os efeitos da 
altura de inserção e do comprimento de interen-
xertos recíprocos de tangerina Cleópatra e citran-
ge Troyer na produção e tamanho de laranjeiras 
Valência. Os interenxertos, com 15 cm de compri-
mento, foram inseridos nas plantas nas alturas de 
5 a 45 cm. enquanto que interenxertos com 5 a 
60 cm de comprimento foram inseridos na altura 
constante de 15 cm. Verificaram que o comprimen-
to do interenxerto teve pequeno efeito no tamanho 
e na produção das plantas. Porém, quanto mais 
alta a altura de inserção do interenxerto, menor 
foi o tamanho das plantas e a produção dos frutos. 
Os porta-enxertos auto-interenxertados mostraram 
maior redução no tamanho e na produção das 
plantas que os interenxertados reciprocamente. A 
presença dos interenxertosnão alterou as caracte-
rísticas comerciais dos frutos.
Labanauskas & Bitters (1974) verificaram que 
cinco seleções de trifoliata usados como interenxer-
CITROS76 Porta-enxertos 77
tos de laranjeiras Valência enxertadas em laranja 
doce não induziram nenhum efeito significativo no 
conteúdo de nutrientes das folhas da copa quando 
comparadas com plantas sem interenxertos da 
mesma combinação.
Sampaio (1993) relata que a presença de inte-
renxerto de trifoliata entre a laranja Valência e o 
limão Cravo resultou na redução do tamanho da 
planta e menor produção de frutos. Entretanto, o 
comprimento do interenxerto, que foi de 5, 10 e 
20 cm, inserido a 15 cm de altura, não influenciou 
o tamanho e a produção das plantas.
Rosa et al. (2001) relatam que o interenxerto 
de Flying Dragon reduziu em 30% o tamanho de 
laranjeiras e pomeleiros, e embora apresentassem 
menor produção por planta, mostraram maior 
eficiência produtiva expressa em quilograma de 
frutos por metro cúbico da copa. Ashkenazi et al. 
(1994) também usaram o interenxerto de Flying 
Dragon, obtendo reduções no tamanho da copa 
de 30 a 50%, dependendo da combinação copa-
porta-enxerto.
O uso de interenxertos pode reduzir o trans-
porte de sódio e cloro das raízes para a copa, 
aumentando a resistência das plantas à salinidade 
(Camara et al., 2003).
Os interenxertos têm sido utilizados na pre-
venção da ocorrência de incompatibilidade entre 
copas e porta-enxertos. A inserção da laranja 
Hamlin entre o citrumelo Swingle e a laranja Pêra 
permite formar plantas produtivas e longevas. 
A utilização de interenxertos como “filtros” do 
patógeno no controle de doenças, não apresen-
tou resultados. A inserção de um interenxerto de 
tangerina não impediu que o blight ou o declínio 
afetassem combinações suscetíveis a essa doença 
(Pompeu Junior et al., 1989; Carlos, 1996). 
7.3 Subenxertia
A subenxertia ou troca do porta-enxerto é uti-
lizada para salvar plantas cujo sistema radicular 
ou tronco foi danificado por roedores, doenças, 
agentes mecânicos ou químicos. O caso mais 
famoso do uso da subenxertia para salvar uma 
planta é o da primeira laranjeira Bahia plantada 
na Califórnia em 1877, cujo porta-enxerto estava 
sendo danificado por gomose; ela foi subenxer-
tada em 1926 e permanece viva. Em São Paulo, 
a subenxertia com porta-enxertos tolerantes foi 
utilizada no controle da tristeza, da exocorte, do 
declínio e, atualmente, na convivência com a morte 
súbita dos citros. Ela também pode ser empregada 
na superação de incompatibilidade entre copa e 
porta-enxerto. Alguns cuidados são necessários: 
o novo porta-enxerto deve ser compatível com a 
variedade copa e tolerante ao vírus eventualmente 
presente na planta.
7.4 Sobrenxertia
Esse processo permite superar a ocorrência 
de incompatibilidade entre copa e porta-enxerto. 
Consiste na retirada da copa original pela decapi-
tação do porta-enxerto ou no forçamento de bro-
tações deste e a enxertia da nova copa nos ramos 
brotados do porta-enxerto. 
7.5 Afrancamento
É a supressão do porta-enxerto pelo enraiza-
mento da copa. Foi utilizado no controle de doen-
ças que o afetam, mas às quais a copa é tolerante, 
como exocorte, tristeza, declínio e morte súbita dos 
citros. Tem como limitações a suscetibilidade da 
maioria das variedades copas à seca e à gomose 
de Phytophthora.
8 Características dos porta-enxertos
São apresentadas as características agronô-
micas dos principais porta-enxertos utilizados em 
São Paulo, bem como de alguns que poderão vir a 
ser de interesse à citricultura paulista.
8.1 Laranjas doces [Citrus sinensis (L.) 
Osbeck]
As laranjas doces foram os primeiros porta-en-
xertos utilizados na citricultura. Uma vez conheci-
das as vantagens da enxertia em outras frutíferas, 
a enxertia de laranjas em laranjas ou até mesmo 
a auto-enxertia deve ter-se tornado uma pratica 
freqüente até porque, em caso de perda da copa, 
por exemplo, pelo frio, a brotação do porta-enxer-
to permitiria a formação de uma nova planta mais 
rapidamente e menos onerosa que o replantio. O 
uso desse porta-enxerto tem duas limitações: baixa 
tolerância à seca e alta suscetibilidade à gomose 
de Phytophthora. 
De modo geral, as laranjas doces são conside-
radas bons porta-enxertos para laranjas e tange-
CITROS78 Porta-enxertos 79
rinas, proporcionando produções de frutos de boa 
qualidade. Apresentam melhor comportamento 
quando plantadas em solos com médio teor de 
argila; os arenosos acentuam sua suscetibilidade 
à seca, e as plantas e os frutos tendem a murchar 
antes que aqueles sobre outros porta-enxertos.
Os porta-enxertos de laranjas doces são to-
lerantes à tristeza, à xiloporose (Moreira et al., 
1965) e ao declínio (Beretta et al., 1986b, 1994), 
mas não é conhecido seu comportamento em pre-
sença da morte súbita dos citros. Foram conside-
radas tolerantes à exocorte porque não mostram 
o escamamento que ocorre no limão Cravo, tendo 
sido recomendadas como porta-enxertos para as 
variedades portadoras desse viróide. Pompeu Ju-
nior & Salibe (2002) compararam a performance 
de dois clones de laranja Hamlin, sendo um nu-
celar e, o outro, velho portador de raça forte do 
viróide causador da exocorte, enxertados em 11 
variedades de laranjas doces e no limão Cravo. 
Verificaram que as plantas de clone velho eram, 
em media, 18% menores que as de clone novo, 
com reduções que variavam de 26% para as en-
xertadas em laranja Caipira DAC a 13% para as 
enxertadas sobre laranja Parson Brown (C. sinen-
sis). O conjunto das laranjeiras nucelares produziu 
28% mais frutos e sólidos solúveis que as de clone 
velho. As laranjas Caipiras DAC e A induziram 
as maiores produções de frutos ao clone nucelar, 
e a laranja Caipira A, também ao clone velho. 
Nenhuma das variedades de laranjas apresentou 
as escamações típicas da exocorte que ocorreram 
no limão Cravo. Os autores destacam que a la-
ranja Hamlin não foi um bom porta-enxerto para 
a laranja Hamlin; as laranjeiras nucelares ou com 
exocorte enxertadas na laranja Caipira A produzi-
ram, respectivamente, 8 e 10% mais frutos que as 
enxertadas na própria Hamlin. 
As laranjas Parson Brown e Caipira R foram 
as mais resistentes às gomoses de P. parasítica e 
P. citrophthora para ambos os clones, enquanto 
a laranja Caipira A revelou-se a mais suscetível 
aos dois fungos para as duas copas (Mello et al., 
1973). 
As laranjas doces são suscetíveis ao nema-
tóide dos citros e ao Radopholus similis, exceto 
as variedades Ridge Pineapple, Algerian navel e 
Sanguine Grosse Rond, que são tolerantes a este 
nematóide. Elas são moderadamente tolerantes ao 
frio e a solos salinos, mas não a solos calcários 
(Ford, 1973).
8.2 Laranja Azeda (Citrus aurantium L.)
Nesse grupo, estão incluídas as laranjas-aze-
das propriamente ditas, as agridoces e outras 
espécies e variedades semelhantes. 
A laranja Azeda foi, e continua sendo, o prin-
cipal porta-enxerto da citricultura de quase todos 
os paises até a introdução do vírus da tristeza dos 
citros. Ela apresenta boa adaptação a solos argi-
losos e arenosos e induz altas produções de frutos 
de boa qualidade, que permanecem na planta por 
longo período, sem perda das suas características. 
Apresenta boa resistência à gomose de Phyto-
phthora, ocorrendo diferenças entre as seleções 
(Hutchinson & Grimm, 1972). É moderadamente 
tolerante à salinidade e à alcalinidade (Wutcher et 
al., 1970) e induz as copas grande resistência ao 
frio, semelhante à induzida por trifoliata, citrumelo 
Swingle e tangerina Cleópatra (Young, 1977). As 
laranjas azedas são intolerantes ao vírus da triste-
za dos citros (Grant et al., 1961), o que restringe 
seu uso como porta-enxerto apenas para os limões 
tipo Siciliano. Os limoeiros enxertados sobre la-
ranja Azeda são pouco afetados pela tristeza em 
decorrênciada hipersensibilidade das suas célu-
las, que morrem logo após infectadas, impedindo 
a multiplicação do vírus. É tolerante à exocorte e 
à xiloporose e pouco afetada pelo blight (Cohen, 
1972). A laranja Azeda é suscetível aos nema-
tóides R. similis e T. semipenetrans (Hutchinson & 
O’Bannon, 1972) e ao mal secco, doença fúngi-
ca que ocorre na Itália e países vizinhos (Russo, 
1973). Ainda, o limão Monachello não é compatí-
vel com a laranja Azeda.
Os frutos amadurecem de maio a agosto 
e contêm, em media, 25 sementes. Seu grupo 
abrange também as laranjas agridoces, assim 
denominadas pelo sabor característico do suco, 
as quais apresentam características agronômicas 
semelhantes às da laranja Azeda (Bitters, 1959a; 
Olson & Shull, 1962; Bevington & Bacon, 1978).
Há dezenas de seleções da laranja Azeda com 
variações no seu comportamento sugerindo a exis-
tência de híbridos ou mutações fenotipicamente 
semelhantes. Algumas são consideradas porta-
enxertos promissores.
A laranja Gou Tou, conhecida também como 
Goutoucheng, parece ser um híbrido natural de 
laranja Azeda. Utilizada em algumas regiões da 
China e considerada tolerante a diversas formas 
do vírus da tristeza, pode eventualmente apresen-
CITROS78 Porta-enxertos 79
tar caneluras, mesmo quando inoculada com raças 
fracas do vírus (Chao et al., 1979; van Vuuren et 
al., 1991; Garnsey, 1992; Moreno et al., 1993). 
É resistente às gomoses de P. parasitica e P. citro-
phthora e ao nematóide dos citros (van Vuuren et 
al., 1991), e também à seca, ao encharcamento e 
a solos alcalinos. 
A laranjeira Gou Tou produz frutos que ama-
durecem de maio a agosto e apresentam media de 
32 sementes viáveis e sete abortadas.
Foi introduzida em São Paulo pelo IAC em 
1983 por G.W. Müller, e avaliada como porta-en-
xerto para as laranjas Hamlin, Pêra e Folha Mur-
cha (C. sinensis), tangerina Ponkan (C. reticulata), 
lima ácida Galego e pomelo Marsh seedless (C. 
paradisi), tendo induzido produção e qualidade 
dos frutos semelhantes às obtidas sobre limão Cra-
vo. As plantas, aos 10 anos de idade, não mostra-
vam sinais de incompatibilidade (anel de goma) 
na região da enxertia, mas o diâmetro do tronco 
da laranja Gou Tou, para todas as copas, era 
maior que o do tronco da copa e apresentava re-
entrâncias semelhantes às observadas em plantas 
enxertadas em trifoliatas e seus híbridos. A laranja 
Gou Tou comprovou ser tolerante aos complexos 
de tristeza presentes nas borbulhas utilizadas na 
formação das plantas desse experimento (Müller 
et al., 1998). 
Não é conhecido o seu comportamento com 
relação ao declínio e à morte súbita dos citros. 
A laranja Smooth Flat Seville (C. aurantium), 
também conhecida como laranja Australian ou 
laranja Appleby, é considerada um híbrido natural 
entre a laranja Azeda e o tangelo Poorman (Castle 
et al., 1993b). Suas sementes são poliembriôni-
cas, mas produzem muitas plântulas zigóticas, 
com folhas uni ou bifoliadas, de comportamento 
semelhante. A laranja Smooth Flat Seville é menos 
suscetível à tristeza e mais resistente à gomose 
de Phytophthora que as laranjas azedas comuns 
(Stannard, 1975; Grimm & Hutchison, 1978). Ela 
é tolerante à exocorte e à xiloporose (Davies & Al-
brigo, 1994) e ao declínio (Castle et al., 1993b). 
Outros híbridos a destacar são: i) o Yama ou 
Yamamikan (C. intermedia hort. ex Tanaka) é um 
híbrido de laranja Azeda, suscetível à tristeza e 
utilizado em pequena escala como porta-enxerto 
no Japão (Bitters, 1972), ii) o Kinkoji ou Kinkoshi 
(C. obovoidea hort. ex I. Takah.), presumivelmente 
um híbrido de toranja [C. maxima (Burm.) Merr.] 
com laranja Azeda, tolerante à tristeza e ao nema-
tóide dos citros (Castle, 1987), e iii) o C. taiwanica 
Tanaka & Y. Schimada, conhecido no Japão como 
Nanshôdaidai, é considerado um híbrido de laran-
ja Azeda tolerante à tristeza (Grant et al., 1961) e 
suscetível ao declínio (Beretta et al., 1994).
Entre os híbridos artificiais de laranja Azeda, 
as citradias (C. aurantium x P. trifoliata) apresen-
tam potencial de uso como porta-enxertos nani-
cantes, enquanto o híbrido laranja Smooth Flat 
Seville x citrumelo Swingle revelou-se suscetível ao 
vírus da tristeza (Pompeu Junior, 2001a; Pompeu 
Junior et al., 2002a, b)
8.3 Lima da Pérsia (Citrus limettioides 
Tanaka)
Mundialmente conhecida como Palestine sweet 
lime, é considerada um híbrido de quatro espécies, 
incluindo C. limon e C. aurantiifolia. Foi um dos 
principais porta-enxertos da citricultura de todos 
os países, tendo perdido importância pela susceti-
bilidade à tristeza. É também suscetível à exocorte, 
à xiloporose, ao blight, à gomose de Phytophthora 
e ao boro e não apresenta bom desempenho nos 
solos salinos. Induz a produção de frutos de regu-
lar qualidade (Wutscher, 1979; Davies & Albrigo, 
1994). 
8.4 Limão Cravo (Citrus limonia Os-
beck)
De acordo com Swingle (1948), o limão Cravo 
é um lemandarin, isto é, um híbrido natural de 
limão (C. limon) e uma tangerina (C. reticulata), 
originado na região de Canton, no Sul da Chi-
na, onde é conhecido como limão Canton. Na 
classificação de Tanaka (1954), o limão Cravo 
é considerado uma espécie (C. limonia) nativa 
da Índia, onde é conhecido pelo nome de Jamir. 
Hodgson (1967) relata diversas denominações 
regionais para o limão Cravo: Rangpur lime (Es-
tados Unidos), Japansche citroen (Java), Canton 
lemon (China), limão Cravo (Brasil), lima Rangpur 
(Argentina), Sylhet lime, Surrh nimboo e Sharbati 
(Índia), Hime lemon (Japão). No Brasil, Rolfs & Rol-
fs (1931), encontraram 19 nomes para indicar o 
limão Cravo, entre eles: Rosa, Vermelho, Vinagre, 
Selvagem, Limpa-tacho e Bugre.
Há diversas seleções de limão Cravo, seme-
lhantes quanto às características de crescimento, 
vigor e produção das plantas, mas que diferem 
CITROS80 Porta-enxertos 81
no formato dos frutos, coloração e aderência da 
casca, acidez e aroma do suco. 
Hodgson (1967) agrupou-as em três tipos: i) as 
seleções do tipo Rangpur produzem frutos de ta-
manho médio a pequeno, com formato arredonda-
do a achatado, casca fina medianamente aderente 
e cor variando do vermelho ao laranja-avermelha-
do. A polpa é alaranjada, suculenta e ácida, ii) 
as do tipo Kusaie apresentam planta e fruto seme-
lhantes aos demais limões Cravo, diferindo apenas 
na coloração da casca, que é amarelada, e iii) o 
tipo Otaheite reune plantas semelhantes aos tipos 
anteriores, porém menos vigorosas e de menor ta-
manho. Os frutos são semelhantes aos dos outros 
dois, porém menores, com “pescoço” e pouca ou 
nenhuma semente. Seu suco tem sabor insípido 
pela ausência de acidez.
A utilização de marcadores moleculares ran-
dom amplified polymorphic DNA (RAPD) revelou 
variabilidade genética entre os limões cravos Li-
meira, Taquaritinga, EEL e Santa Bárbara, todos 
pertencentes ao grupo Rangpur e, morfologica-
mente, indistinguíveis entre si (Silva, 1996).
Supõe-se que o limão Cravo tenha sido levado 
do sudeste da Ásia para a Europa e daí para as 
Américas, tendo sido introduzido no Brasil pelos 
colonizadores. 
A primeira referencia ao seu uso como porta-
enxerto no Brasil foi feita por Rolfs & Rolfs (1931), 
que encontraram em Minas Gerais laranjeiras en-
xertadas nesse porta-enxerto, plantadas na déca-
da de 1900. Esses autores ficaram entusiastas com 
o uso do limão Cravo, considerando-o excelente 
porta-enxerto.
Atualmente, ele é amplamente utilizado no Bra-
sil, exceto no Rio Grande do Sul, onde predomina 
o trifoliata, e no Sergipe, onde divide espaço com 
o limão Rugoso. No exterior, ele está presente nas 
citriculturas da Argentina, da China e da Índia.
Em São Paulo, vem sendo comercialmente em-
pregado desde a década de 1920, porém seu uso 
foi ampliado a partir dos anos cinqüentas, vindo a 
substituir a laranja Azeda pela suscetibilidade desta 
ao vírus

Outros materiais