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Resumo 11 (Conceito de Estado)

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FACULDADE DE DIREITO DE SOROCABA – FADI 
Ciência Política e Teoria Geral do Estado – 2016 
Professor Jorge Marum
Resumo 11 – Conceito de Estado
"Tudo o que pode ser em geral pensado pode ser pensado claramente. Tudo o que se pode enunciar pode-se enunciar claramente" (L. Wittgenstein)
Introdução. Afinal, o que é o Estado? Após estudar os elementos essenciais do Estado e a sua natureza de pessoa jurídica, podemos finalmente elaborar um conceito e, com isso, formular uma definição de Estado.
Conceito e definição. Conceito é a representação intelectual e abstrata de algo (noção, concepção, idéia). Conceituar é dizer, por meio de outras palavras, o que é uma coisa ou o que uma palavra significa. Definir, por sua vez, significa limitar a extensão de um termo, para identificá-lo e torná-lo distinto de outros termos. Nesse sentido, conceito e definição são praticamente sinônimos.
A multiplicidade de conceitos. Há tantos conceitos diferentes de Estado que há cerca de cem anos Bastiat,� em tom de brincadeira, instituiu um prêmio de 50 mil francos para uma definição perfeita. David Easton,� por sua vez, encontrou 145 definições diferentes e acabou desistindo de conceituar Estado, passando a tratar de “sistema político”. Não obstante tal dificuldade, é importante tentar elaborar um conceito e expressar uma definição satisfatórios de Estado.
 
Estado não é nação. Primeiramente, como ensina Dallari, é necessário afastar um equívoco recorrente na linguagem comum e até mesmo entre alguns especialistas no tema, que é a de confundir Estado com nação. Trata-se da definição de Estado como “nação politicamente organizada”, muito difundida e que consta até mesmo de alguns dicionários.� Essa definição é duplamente errônea, porque Estado não se confunde com nação e também porque o Estado não é politicamente organizado. 
Com efeito, conforme já foi visto em capítulos anteriores, o termo nação se refere a uma comunidade de pessoas e o Estado é mais do que isso, tendo como elementos também o território, a soberania e a finalidade. Além disso, o elemento pessoal do Estado, que é o povo, não precisa necessariamente ter características homogêneas como ocorre com os grupos nacionais.
Estado, portanto, não se confunde nação e tampouco depende dela para existir. Prova disso é que há nações sem Estado (por exemplo, os judeus antes de 1948, os curdos, os tibetanos etc.), Estados sem nação (Vaticano, Brasil no início da independência etc.) e Estados com mais de uma nação (antiga URSS, Israel, etc.). Até mesmo algumas comunidades indígenas são às vezes chamadas de “nações”. Portanto, não se pode começar a definição de Estado por algo que ele não é (nação). 
Além disso, o Estado não é “politicamente organizado”, pois o que organiza o Estado é a ordem jurídica. O Estado apenas funciona politicamente. O Estado, portanto, é juridicamente organizado para o exercício da Política. Dessa maneira, verifica-se que o Estado nem é nação, nem é politicamente organizado.
Regras da definição. O professor Edmundo Dantès Nascimento ensina que uma boa definição deve obedecer às seguintes regras: 
a definição deve ser conversível ao definido (ex.: “ser humano é o animal racional” = “animal racional é o ser humano”); 
a definição deve ser mais clara do que o definido (ela deve servir para esclarecer, e não para complicar ou confundir);
a definição não deve conter o definido, do contrário ocorre o vício da petição de princípio (ex.: “impedimento é o ato de impedir”); 
a definição deve ser positiva (a coisa deve ser definida pelo que ela é, e não pelo que ela não é, como, por exemplo, definir a cor branca como aquilo que não é preto);
a definição deve ser breve (mas entre a brevidade e a clareza, deve-se preferir a clareza).�
O mesmo professor dá como exemplo a perfeita definição de citação contida no Código de Processo Civil de 1973. Dizia o artigo 213 dessa lei: “citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou interessado a fim de se defender”.
Os diversos pontos de vista. Segundo Paulo Bonavides, o Estado pode ser definido segundo diversos pontos de vista: o filosófico, o jurídico e o sociológico (também chamado por Dallari de político).� 
Ponto de vista filosófico. Filosoficamente, muitos autores pensaram sobre a essência do Estado. Para Aristóteles, por exemplo, o Estado é uma forma de convivência perfeita que está na natureza do ser humano e que este busca a fim de obter a eudaimonia (felicidade perfeita). 
Modernamente, teve grande influência o pensamento de Hegel, para quem o Estado é a síntese da contradição dialética entre a família (tese) e a sociedade (antítese). 
Hegel. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) foi um filósofo alemão que exerceu enorme influência na filosofia e na política. Sua linha filosófica era o idealismo, ou seja, a exemplo de Platão e ao contrário dos materialistas, Hegel parte do pressuposto de que as coisas são antes idealizadas para depois ganharem materialidade, sendo o mundo material um reflexo do mundo ideal, também chamado de espiritual. 
 Hegel
Seu sistema filosófico baseava-se na dialética, segundo a qual tudo (o mundo, a história etc.) se desenvolve a partir de fatos ou conceitos que se contrapõem (tese e antítese) e dão origem a uma síntese, que os une e supera. Assim, a uma posição inicial, chamada tese, sempre será oposta uma antítese, que a contraria. Do confronto entre essa duas posições (contradição) surgirá a síntese, que combina tese e antítese e se posiciona num patamar superior a ambas. A síntese, porém, nada mais é do que uma nova tese, à qual naturalmente será oposta uma antítese, gerando uma nova síntese. Esse movimento se repete até que se chegue ao absoluto, que é a ausência de contradições.
Segundo Hegel, ao longo da história as civilizações expressam o espírito de seu tempo (zeitgeist). São os modos de agir, se expressar, legislar e governar. Mas esse zeitgeist também produz contradições, que vão levar à sua superação por outra forma de cultura. Este novo zeitgeist, por sua vez atrairá novas contradições e assim por diante, de modo que o progresso é constante. Assim, o Estado grego seria uma comunidade moral de indivíduos, como uma grande família. Essa comunidade foi confrontada pelo individualismo dos romanos, do cristianismo e da sociedade individualista surgida com o contratualismo. Desse embate surgiu o Estado moderno de tipo prussiano (monarquia constitucional), em que Hegel vivia e que ele via como o ápice da história. Esse Estado seria uma síntese que engloba e supera a união moral, baseada em relações afetivas, como é a família (espírito subjetivo), e a união de indivíduos que buscam seus próprios interesses, como é a sociedade civil (espírito objetivo). Para Hegel, somente nesse Estado é que as pessoas seriam realmente livres, autoconscientes e realizadas (espírito absoluto). 
Como se verifica, Hegel inovou em relação ao pensamento contratualista, até então predominante, diferenciando a sociedade civil (caracterizada pelas relações sociais, culturais e econômicas entre os indivíduos fora da família) da sociedade política, que é o Estado, posicionado num patamar superior e englobando família e sociedade. 
 
A filosofia política de Hegel influenciou muitos pensadores importantes, como, por exemplo, Marx. Este, porém, inverteu a dialética hegeliana, afirmando que as condições materiais é que criam as idéias (materialismo dialético). O culto hegeliano ao Estado também influenciou o nazi-fascismo. Assim, embora essa certamente não fosse sua intenção, Hegel é considerado o inspirador dos totalitarismos de esquerda e de direita que surgiriam no século XX. 
Ponto de vista jurídico. A partir da segunda metade do século XIX, os pensadores passaram a dar ênfase ao aspecto jurídico do Estado, vendo-o como uma ordenação de pessoas num determinado território. O ápice dessa linha de pensamento é representado por Hans Kelsen, que pensava o Estado sob o ponto de vista estritamente jurídico.Para ele, Estado e ordem jurídica são a mesma coisa. O povo e o território seriam, respectivamente, apenas o âmbito pessoal e geográfico de incidência dessa ordem jurídica. Assim, ele definia Estado simplesmente como a “ordem coativa normativa da conduta humana”. 
Ponto de vista sociológico. A Sociologia examina os fatos como eles se apresentam na realidade, embora essa análise nem sempre seja neutra. Marx, por exemplo, via o Estado como um instrumento da burguesia para a exploração do proletariado. Já Duguit, numa análise mais neutra, via o Estado como força material irresistível, embora regulada e limitada pelo Direito. 
Quem, porém, melhor analisou o Estado sob esse ponto de vista foi Max Weber. Para ele, o Estado é a comunidade humana que, dentro de um determinado território, reivindica para si, de maneira bem sucedida, o monopólio da violência física legítima.
 
“O Estado moderno é um agrupamento de dominação que apresenta caráter institucional e que procurou – com êxito – monopolizar, nos limites de um território, a violência física legítima como instrumento de domínio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas mãos dos dirigentes os meios materiais de gestão” (Max Weber).
Definições sintéticas. As melhores definições são aquelas que sintetizam os diversos pontos de vista e incluem os elementos considerados essenciais do Estado. Por exemplo: 
“Corporação de um povo, assentada num determinado território e dotada de um poder originário de mando” (Jellinek).
“Pessoa jurídica soberana constituída de um povo organizado, sobre um território, sob o comando de um poder supremo, para fins de defesa, ordem, bem-estar e progresso social” (Groppalli).
 “Ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território” (Dallari).
“Pessoa jurídica soberana, composta de um povo e de um território, que tem por fim o bem comum”. 
Para pensar:
 
Tente formular um conceito sintético de Estado. 
Em sua opinião, o Estado Moderno contemplado por Hegel é de fato o ápice da evolução das instituições sociais, políticas e jurídicas, ou essa evolução teve ou terá continuidade? 
 
Leitura essencial: 
DALLARI, Dalmo. Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo II, itens 57 a 59.
Leituras complementares: 
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política, Cap. 3, item 6. 
NASCIMENTO, Edmundo Dantès. Lógica aplicada à advocacia, Cap. V. 
WEFFORT, Francisco (org.). “Hegel: o Estado e a realização da liberdade”, por Gildo Marçal Brandão, in: Os clássicos da política, vol. 2. 
� Claude Frédéric Bastiat, economista liberal francês (� HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/1801" \o "1801" �1801�-� HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/1850" \o "1850" �1850�).
� David Easton, cientista político canadense-norte-americano (1917- 2014).
� Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 117.
� Lógica aplicada à Advocacia, p. 31 e segs. 
� Ciência Política, p. 62 e segs.

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