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A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER (Maérlio Machado)

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FGF – FACULDADE INTEGRADA GRANDE FORTALEZA
CURSO: DIREITO NOITE
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA
PROFº. ALEXANDRE CARNEIRO
 A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
MAÉRLIO MACHADO
Fortaleza, Outubro 2003
SUMÁRIO
	INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
MAX WEBER
1. Aspectos controversos da técnica do autor
2. Contribuições e Limites
3. Método
4. Visão da realidade
5. Objeto
OPINIÃO DE AUTORES QUE CRITICAM WEBER
1. Georg Lukács
2. Paul Sweezy
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende apresentar as considerações sobre o metódico Max Weber e suas contribuições para a sociologia moderna, onde é dada relevância às teorias de dominação e da burocratização e institucionalização típicas da sociedade capitalista.
	Max Weber privilegiava a pesquisa histórica, que, segundo ele, era fundamental para a compreensão da sociedade. Os dados históricos, no entanto, são incompletos sem uma compreensão qualitativa do fenômeno, afirmava o sociólogo. Weber também ressaltava que as particularidades e as especificidades de cada sociedade são tão importantes quanto os aspectos e leis mais gerais. 
	Como para Max Weber o papel dos indivíduos era relevante nas relações estabelecidas na sociedade, ele procura compreender qual o sentido que o ator ou os atores sociais atribuem às suas condutas. Afirmava, ainda, que a realidade é algo extremamente complexo. Somente seria possível conhecer fragmentos dessa realidade e, por isso, “cada cientista vai dar um enfoque diferenciado a partir do recorte feito” (Figueiró, 2001:57) dessa realidade. Chama-se a corrente de pensamento de Weber de Sociologia Compreensiva.
	O objetivo de Max Weber foi estudar a sociedade capitalista. Ressaltou dois aspectos fundamentais no capitalismo: a racionalidade e a burocratização extremas. Sua crítica foi ferrenha à burocratização. O fato de uma elite se perpetuar no poder e deter o controle do Estado estaria ligado a uma institucionalização da sociedade, que radicalizava a burocracia e a hierarquização. Ou seja, sua preocupação era “com a burocracia enquanto estratégia de dominação” (Canella, 2001:89).
A finalidade é conhecer como esta questão foi tratada pelo autor e ver como as idéias, os conceitos e as noções foram por ele próprio operacionalizados nas análises de processos sociais concretos. 
DESENVOLVIMENTO
1 Max Weber
Max Weber nasceu em Erfurt, na Turíngia, no ano de 1864. Seu pai era um jurista, de família de industriais e comerciantes de têxteis da Vestfália. Em 1869 foi com a família para Berlim, onde foi membro da Dieta municipal; foi deputado na Dieta prussiana e no reichstag, pertencia ao grupo dos liberais de direita. Sua mãe Helena era uma mulher de grande cultura sempre preocupada com os problemas religiosos e sociais.
Em 1882, Max inscreve-se na faculdade de direito, mas continua estudando economia, filosofia, teologia e história. Em 1889, doutorando-se em Direito, com tese sobre as empresas comerciais na Idade Média. Em 1891, através de um diálogo com Mommsen defende a tese da História agrária de Roma e sua significação para o direito público e privado o que lhe valeu um cargo na Faculdade de Direito de Berlim, iniciando assim, uma carreira de professor universitário.
Nos vinte anos seguintes a esta trajetória, viaja pelos Estados Unidos e Europa, época em que seus interesses voltaram-se para a Sociologia. Durante a Primeira Guerra Mundial, Weber trabalhou em administração hospitalar e adotou uma posição contrária ao regime monárquico. Essa conduta lhe deu um posto na comissão que redigiu a Constituição de Weimar, após a guerra. Em 1918, voltou ao cargo de professor universitário.
Em 1920, Weber falece após ter contraído a gripe que se alastrou na Europa nessa época, matando mais gente do que a guerra. Sendo assim, Weber desaparece no ápice de suas capacidades intelectuais, deixando grande obra incompleta. Na época de sua morte, seus escritos encontravam-se em estado caótico. Nada havia sido traduzido para o inglês. Em 1930, o sociólogo americano Talcott Parsons traduziu A ética protestante e o espírito do capitalismo, projetando-o no cenário internacional. Em meados dos anos 40, seus escritos sobre a burocracia foram também traduzidos para o inglês.
Em sua obra, o desafio mais marcante que enfrentou foi alimentado por Marx, fonte do mais conseqüente debate teórico e metodológico nas ciências sociais contemporâneas.	A oposição principal de Weber (1864 – 1930) ao marxismo consiste em negar ao método de Marx a função de fonte de explicações monocausais para fenômenos sociais universais.
Embora sem negar a existência dos conflitos de classes, não os considerou como elemento único que leva à transformação social; afirmou que, quando tal conflito se verifica, é acompanhado por outros fatores, favoráveis ao rompimento das ordenações existentes na vida das sociedades.
Refletindo sobre a aplicação do materialismo de Marx às estruturas econômicas, Weber encontrou um padrão para tratar outras estruturas, principalmente as burocracias políticas e militares. A ênfase de Marx na separação do trabalhador assalariado dos meios de produção econômica aparece, na perspectiva weberiana, como tendência universal do capitalismo.
2 A atividade social como objeto de estudo
O objeto de estudo de Weber foi a ação social ou atividade social. O próprio Weber traduz atividade social como:
 “(...) um comportamento humano (pouco importa que se trate de um ato exterior ou interior, de uma omissão ou de uma tolerância), sempre que o agente ou os agentes lhe comunicam um sentido subjetivo” (Weber apud Freund, 1987:78).
Ou ainda:
 “Por atividade social entendemos a que, segundo o sentido visado, o agente ou os agentes relacionam com o comportamento de outrem para orientar, em conseqüência, seu desenvolvimento” (Weber apud Freund, 1987:78).
Portanto, as ações ou atividades sociais são dotadas de intenções por parte de seus autores. E a ação vai se tornar social quando o ator ou os atores sociais levam em consideração a reação de outros indivíduos. Weber classifica como relação social o fato do sentido de uma ação social ser compartilhado por outras pessoas que não seus autores.
Tenta fugir, Weber, da irresistível tendência a aplicar “juízos de valores” quando se analisa um fato social. Propôs uma objetividade de análise, como explica Julien Freund:
 “Encontramos no centro de sua sociologia a noção de atividade social, não para avaliar ou apreciar as estruturas no sentido em que podem ser boas ou más, oportunas ou inoportunas, porém, para compreender o mais objetivamente possível como os homens avaliam, a apreciam, utilizam, criam e destroem as diversas relações sociais” (Freund, 1987:68).
Weber dá, também, importância fundamental à pesquisa histórica porque para ele a vontade e o sentido dado às atividades e às relações sociais são construídos histórica e socialmente. “É somente a partir da análise do contexto histórico-social de cada indivíduo que se pode compreender a realidade social” (Figueiró, 2001:58).
3 A sociologia da ação
Seu ponto de partida é definir o caráter daquelas ações humanas que são objeto da sociologia compreensiva e o modo pelo qual elas devem ser apreendidas, no plano conceitual.
O decurso do comportamento humano, diz Weber, revela conexões e regularidades. Esse decurso pode ser interpretado pela compreensão. A compreensão, obtida pela interpretação, acarreta uma evidência. O grau máximo de evidência, por sua vez, é encontrado no que ele chama de "interpretação racional com relação a fins".
Comportamento racional com relação a fins é aquele que se orienta, exclusivamente, por meios tidos como adequados para obter fins determinados, tidos como indiscutíveis. Por apresentar uma evidência específica, nãosignifica que o comportamento racional com relação a fins seja a meta da sociologia compreensiva. Este comportamento é o tipo ideal, pois, tanto a sociologia como a História fazem interpretações sobretudo de caráter pragmático a partir das conexões racionalmente compreensíveis de uma ação.
O interesse da sociologia é a ação. Por ação, entendemos sempre um comportamento compreensível com relação a objetos, isto é, um comportamento especificado ou caracterizado por um sentido (subjetivo) real ou mental mesmo que ele não seja quase percebido. A ação que especificamente tem importância para a sociologia compreensiva é, em particular, um comportamento que: 1) está relacionado ao sentido subjetivo pensado daquele que age com referência ao comportamento de outros; 2) está co-determinado no seu decurso por esta referência significativa e, portanto, 3) pode ser explicado pela compreensão a partir deste sentido mental.
Weber estabelece, então, diferenças entre os tipos de ação, a partir de referências típicas, providas de sentido. Desse modo, a ação social racional com relação a fins serve de tipo ideal precisamente para poder avaliar o alcance do irracional com relação a fins.
A ação está referenciada também no mundo exterior, isto é, processos da natureza, que não possuem relação provida de sentido. Mas tais processos são importantes como condicionamentos e conseqüências nos quais se orientam as ações providas de sentido. Assim, por exemplo, se fosse possível estabelecer uma correlação objetiva entre certas características hereditárias e a aspiração de certos indivíduos pelo poder (relação não provida de sentido), ela deveria ser levada em consideração pela sociologia compreensiva na medida em que ela procurasse explicar de modo interpretativo: 1) mediante que ação, provida de sentido, procuraram os homens dotados com aquelas qualidades herdadas e específicas realizar o conteúdo de sua aspiração, de tal modo co-determinada e favorecida e por que e em que medida conseguiu-se aquilo. 2) que conseqüências compreensíveis teve esta aspiração (condicionada hereditariamente) no seu comportamento, com referência ao comportamento de outros homens, o qual também era provido de sentido.
Weber diz que processos exclusivamente psíquicos, são incompreensíveis para a sociologia. Conforme já foi dito, a forma mais imediatamente compreensível da estrutura provida de sentido de uma ação é para ele a ação orientada subjetivamente de maneira estritamente racional, conforme meios que são considerados (subjetivamente) como univocamente adequados para alcançar os fins propostos, os quais também, por sua vez, são claros e unívocos. Por contraste, processos irracionais são aqueles nos quais: a) não foram devidamente consideradas e observadas as condições objetivamente regulares da ação racional com relação a fins; b) os que eliminaram em parte relativamente grande as considerações subjetivamente racionais com relação a fins do ator. Para explicar processos irracionais é preciso antes interpretar como seria o comportamento no caso limite ideal típico racional com relação a fins e racionalidade regular.
De acordo com Weber (1992:25)
“Entre a ação que está orientada (subjetivamente) de modo absolutamente racional com relação a fins e os dados psíquicos absolutamente incompreensíveis, encontram-se, mediante múltiplas transações, as conexões compreensíveis (...) que se chamam comumente de `psicológicas'". 
A estas, Weber (1992:25) chama de "irracionais com relação a fins".
Deve-se distinguir também entre: a) ação social racional com relação a fins; e b) ação orientada de modo correto conforme aquilo que é objetivamente válido: ação racional de acordo com o regular.
Segundo Weber (1982:45), a orientação subjetiva de um comportamento com referência ao comportamento regular (de acordo com ele, contra ele, próximo dele, etc) pode constituir um "sentido" para a ação. "A coincidência com o ‘tipo regular’ é a conexão causal ‘mais compreensível’ porque é a mais ‘adequada provida de sentido". Mas o fato de uma ação real coincidir com o "tipo regular" (com as regularidades observáveis de comportamento) está longe de significar que coincida com um tipo de ação orientada (subjetivamente) de modo racional com relação a fins. Assim, a sociologia compreensiva também procura interpretar aquelas conexões de sentido das ações sociais que não são "orientadas subjetivamente e racionais, mas que, mesmo assim, de fato, se processam segundo uma conexão que é compreensível objetivamente de uma maneira racional". É óbvio para a sociologia compreensiva, afirma Weber, que as conexões "psicológicas" não são "discerníveis de maneira lógica racional". Mas é possível deduzir suas conseqüências nos comportamentos. Assim, por exemplo, a crença na predestinação pode desenvolver no crente uma atitude ética ativa e, assim, as ações deste modo orientadas passam a ser "inteiramente compreensíveis providas de sentido". "A racionalidade regular serve à sociologia como tipo ideal no que diz respeito à ação empírica (...). Através da comparação com o tipo ideal se estabelecem, pensando na imputação causal, os elementos irracionais causalmente relevantes".
2. Max Weber e a sociologia compreensiva
A essa altura, é possível apontar uma distinção metodológica importante entre a determinação causal tal como aparece na sociologia anterior a Weber, especialmente em Durkheim, e a noção de causalidade utilizada por nosso autor. 
	As interpretações providas de sentido de um comportamento concreto, para a sociologia, afirma Weber (1982:46), 
"não são, naturalmente, mesmo quando apresentam uma 'evidência' muito grande, mais do que meras hipóteses para uma imputação causal. Faz-se necessário, portanto, uma verificação na qual se emprega os mesmos meios como em qualquer outra hipótese. Elas valem para nós como hipóteses utilizáveis enquanto vemos uma 'possibilidade', que é muito diferente de caso para caso, de poder supor que existam cadeias de motivações 'providas de sentido'".
	 Para a sociologia compreensiva, tudo o que não se refira a comportamentos cujo sentido (passível de interpretação) está relacionado a objetos (interiores ou exteriores) é visto como processo da natureza, que não tem sentido. Daí conclui Weber (1982:46) “exatamente por esta razão, nesta maneira de ver, o indivíduo constitui o limite e o único portador de um comportamento provido de sentido". Em conseqüência, conceitos como Estado, ‘feudalismo’, corporação e outros semelhantes, designam para a sociologia, de maneira geral, categorias que se referem a determinados modos de o homem agir em sociedade, portanto, a sua tarefa consiste em reduzi-lo a um agir que é compreensível e isto significa, sem exceção, um agir de homens que se relacionam entre si.
	É nesse sentido que Weber aponta, por exemplo, uma importante diferença de enfoque entre a sociologia e o direito. Ao contrário do direito, 
"a sociologia não se preocupa com a elaboração do conteúdo do sentido ‘objetivo’ e ‘logicamente correto’ dos ‘preceitos jurídicos’, mas com um agir, para cujos determinantes e resultantes desempenham um papel importante, assim como as representações dos homens sobre o ‘sentido’ e o ‘valor’ de determinados preceitos jurídicos". Não se trata aqui de pressupor uma coletividade que determina o rumo dos comportamentos individuais, mas de tomar as elaborações coletivas (como os preceitos jurídicos) como referências, como um dos dados da realidade frente aos quais os comportamentos individuais, vistos como dotados de intencionalidade, se orientam. Metodologicamente, "a sociologia deve proceder continuamente da maneira seguinte: usar conexões 'usuais' da vida cotidiana, cujo sentido é bem conhecido, tendo em mente a definição de outras conexões que, em seguida, serão usadas para definir as primeiras". (Weber, 1982:47)
No pensamento de Weber (apud Freund, 1987), o indivíduo não baliza seu comportamento simplesmente pelo comportamento dos demais indivíduos, mas também em construtos coletivos, institucionalizados,que jogam igualmente um papel decisivo na conformação das ações e relações sociais. Não é, e nem poderia ser, exclusividade da sociologia durkheimiana a consideração dos constrangimentos institucionais à liberdade de ação individual, ou as preocupações de Marx com as condições objetivas que permitem as ações subjetivas. O ator weberiano por certo se depara com regras, normas de conduta, padrões estabelecidos. Ocorre, porém, que no universo da sociologia compreensiva as regras, normas e padrões são referenciais intersubjetivos, parâmetros para diferentes modos de agir e, ao mesmo tempo, produto de interações intersubjetivas.
Weber esclarece em seu paradigma que a Ciência Social na qual pretende por em prática é uma Ciência da Realidade, voltada para a compreensão da significação cultural atual dos fenômenos e para o entendimento de sua origem histórica.
Ciência da Realidade, tal como utilizado por Weber, nos conduz a uma concepção específica do objeto e do método das Ciências Sociais.
3 O conhecimento científico weberiano
Pode ser compreendido como resultando da articulação de dois fatos: 1) o conhecimento só é possível a partir da referência a valores e interesses; 2) valores e interesses não podem ser validados ou hierarquizados segundo critérios objetivos.
Deduz-se, portanto que: é possível alcançar um conhecimento objetivo, universalmente válido, científico, no sentido mais forte da palavra.
No entanto é necessário entender como é possível para Weber, partindo das duas premissas indicadas, chegar a essa última afirmação. Talvez a melhor estratégia seja considerar, inicialmente, as próprias premissas.
O que chamamos aqui de premissas da epistemologia weberiana é, na verdade, a forma das duas perspectivas básicas definirem a concepção de Weber no que cerne à relação entre conhecimento, realidade e valores. Seguindo uma orientação claramente neokantiana, Weber assume, de forma radical e com todas as implicações daí decorrentes, o postulado da existência de uma separação clara entre os planos do conhecimento e da realidade, cuja transposição é sempre parcial, provisória e, sobretudo, mediada por uma série de categorias e construções conceituais definidas conforme os valores e interesses de quem busca o conhecimento.
A realidade é entendida como algo infinito, que pode ser adquirida a partir de vários ângulos de visão, mas jamais absoluta, na sua totalidade ou essência. O conhecimento será sempre o resultado de uma amostra específica retirado também de um conjunto de problemas relativos.
Essa amostra específica seria, necessariamente, feita a partir das referências pessoais dos sujeitos já conhecidos. Weber nega, assim, a possibilidade de um conhecimento absoluto, livre de quaisquer pressupostos, capaz de definir de modo completamente neutro qual a verdade absoluta das coisas. Não existiria, segundo ele, um ponto privilegiado a partir do qual o investigador pudesse atingir uma visão isenta e global da realidade. Ao contrário, todo e qualquer conhecimento estaria referido a valores e interesses pré-existentes, subjetivos.
Seriam a partir dessas referências que os sujeitos atribuiriam relevância e selecionariam, dentro da realidade infinita, os problemas e objetos que, do seu ponto de vista, mereceriam ser investigados.
A primeira premissa do modelo epistemológico weberiano é, portanto, a do conhecimento a valores e interesses. Não existiriam problemas ou objetos que seriam intrinsecamente relevantes para o conhecimento humano. De uma forma ou de outra, o sujeito cognoscente sempre partiria de um conjunto específico de referências e pressupostos culturalmente definidos. É uma questão secundária, o fato de que se trate de um sistema ético, de um conjunto de postulados metafísicos, de um modelo teórico ou de um conjunto de crenças e interesses religiosos ou econômicos.
Em todos esses casos, a situação seria, basicamente, a mesma. Tratar-se-ia de conjuntos de perspectivas ou referenciais subjetivos que orientariam os investigadores nas atividades do conhecimento.
A segunda premissa fundamental seria a de que essas referências não poderiam jamais ser validada e nem mesmo hierarquizadas segundo critérios que pudessem ser chamados de objetivos. A adesão a determinados valores ou a uma visão de mundo específica seria, em última instância, uma questão de fé. Não existiriam parâmetros objetivos a partir dos quais se pudesse decidir sobre o melhor valor ou a visão de mundo mais verdadeira. A adesão a qualquer desses pontos de vista seria sempre dependente de uma convicção pessoal, portanto, subjetiva.
Todos os valores, as visões de mundo, os sistemas metafísicos, as normas e princípios éticos que conduzem os homens em seus assuntos práticos e que são referências do conhecimento seriam imensuráveis e teriam, em princípio, que ser tomados como equivalentes.
Partindo dessas premissas, a conclusão aparentemente mais lógica seria a que afirmasse que não é possível um conhecimento objetivamente válido da realidade, sobretudo, no que se refere aos fenômenos culturais. A conclusão de Weber, no entanto, é exatamente a contrária. A objetividade do conhecimento é possível, inclusive, nas Ciências da Cultura.
É importante lembrar que dentro do contexto intelectual alemão do final do século passado, no qual Weber se inseria, existiam pelo menos duas respostas disponíveis à questão da validação do conhecimento das Ciências culturais. Ambas, no entanto, foram rejeitadas por Weber.
Como sujeito humano o observador poderia compreender de modo relativamente fácil outros universos humanos. Weber rejeita a solução de Dilthey, fundamentalmente, argumentando que o acesso a esse universo subjetivo não é nem direto, nem completo e nem imparcial. Tratar-se-ia, ainda, de um método de difícil controle intersubjetivo, que como tal não poderia ser posto como garantia de objetividade.
A observação desses valores universais seria a garantia da relevância e pertinência do conhecimento produzido. Como observa Saint-Pierre a relação com os valores seria, particularmente para Rickert, não “apenas um princípio de seleção do material de estudo, mas, e principalmente, constituía o fundamento da validade do conhecimento histórico-social” (1994:24). Weber rechaça essa alternativa acentuando, sobretudo, o fato de que os valores não são universais, mas, ao contrário, múltiplos e contraditórios. Não existiria um sistema de valores privilegiado, fundado numa base transcendental, com relação ao qual as Ciências da Cultura pudessem se orientar, mas, apenas, o eterno confronto histórico entre diversos valores inconciliáveis.
Em contraposição a essas duas alternativas, Weber busca uma solução para o problema da objetividade do conhecimento que, se situa no plano metodológico.
O conhecimento objetivo é possível desde que os sujeitos cognoscentes se comprometam a observar certas regras próprias à atividade científica. A objetividade não seria alcançada pela extirpação de toda e qualquer referência a valores e pela busca de um olhar imparcial, como talvez sonhassem os positivistas. Weber se mantém fiel a sua primeira premissa. Também não seria obtida por meio da hierarquização das várias referências e da escolha, entre essas, talvez, algum sistema teórico ou metafísico ou, ainda, um conjunto de valores superiores, como queria Rickert a partir do qual, se pudesse proceder a uma abordagem unívoca da realidade. Weber, também, não abandona a sua segunda premissa; não é possível selecionar segundo critérios cientificamente válidos qual a referência melhor ou mais verdadeira.
A objetividade do conhecimento é possível, no entanto, desde que, em primeiro lugar, sejam claramente separadas as esferas do conhecimento empírico e da ação prática, particularmente, a de natureza política ou religiosa. Weber se dedica exaustivamente ao estabelecimento de uma delimitação clara entre essas duas esferas.
4 A concepção de sociologia de Max Weber
As características do paradigma sociológico weberiano só se definem à luzda visão de mundo mais ampla de Weber, dentro da qual se articulam uma concepção específica sobre o que é a realidade sócio-histórica e uma reflexão profunda sobre a natureza do empreendimento científico.
Talvez o ponto central da perspectiva weberiana seja o reconhecimento de que a realidade humana não possui um sentido intrínseco, dado de modo natural e definitivo, independentemente das ações humanas concretas. Weber pressupõe que a realidade é infinita e sem qualquer sentido cognoscível imanente. Seriam os sujeitos humanos que estabeleceriam recortes na realidade e se posicionariam diante deles conferindo-lhes sentido.
Weber assume essa perspectiva de modo radical. Orientado por ela, procura excluir das Ciências Sociais qualquer proposição que busque definir de modo geral e substantivo qual a lógica da história, qual a dimensão estrutural determinante da sociedade ou qual o sentido último subjacente às ações individuais. Todas essas definições suporiam a existência de uma realidade atemporal, naturalmente dada, subjacente e determinante dos fenômenos empíricos.
Weber não apenas não acredita na existência desses determinantes anistóricos do comportamento humano, como defende que não seria possível defini-los de um modo objetivo, verificável segundo as regras da ciência.
Os únicos objetos legítimos das Ciências Sociais seriam, então, em si mesmas, as ações sociais. O agente individual seria o único portador real de sentido. A única coisa que realmente existiria seriam sujeitos humanos agindo de uma forma e com um sentido específico e produzindo, de modo intencional ou não, uma série de conseqüências.
Cada fenômeno cultural só poderia ser compreendido na sua significação e ter sua origem explicada a partir da referência a agentes sociais que ao organizarem significativamente suas ações contribuiriam, de forma mais ou menos intencional, para determinar essa significação e essa origem.
Quando Weber afirma enfaticamente que a Ciência Social que ele pretende praticar é uma ciência da realidade o que ele esta querendo acentuar é, em grande medida, esse compromisso com a análise de realidades empíricas concretas, tornadas significativas por agentes historicamente situados. Não existiria um mundo cognoscível acima, abaixo ou além do mundo das ações significativas e das conexões entre ações.
Todas as categorias conceituais, incluindo as de natureza coletiva, como Estado, nação ou família, teriam que ser formuladas de um modo que explicitasse sua relação com as ações sociais concretas. Nenhum fenômeno seria definido por sua essência ou substância fixa. Seriam os agentes concretos, historicamente localizados, agindo segundo os valores mais diversificados e contraditórios, que construiriam, de modo mais ou menos consciente, tudo o que seria culturalmente significativo.
O compromisso enfático de Weber com a interpretação de fenômenos concretos, historicamente localizados, não permitem, no entanto, que esse seja confundido com um simples colecionador de fatos históricos (Jaspers, 1977:126). Esse, certamente, não é seu perfil. O interesse de Weber não se restringe ao acúmulo de dados ou mesmo a uma descrição detalhada de singularidades histórico-sociais.
Weber está interessado em compreender causalmente a realidade empírica, em analisar a importância relativa de cada elemento presente numa situação para a definição do curso subseqüente dos acontecimentos. Esse tipo de trabalho não pode basear-se, apenas, no conhecimento, por mais amplo que seja, das características da situação que se deseja compreender. A imputação causal só pode ser bem sucedida quando feita a partir do conhecimento de regularidades empíricas. Somente a partir do conhecimento do que é o comportamento provável em cada tipo de situação é que é possível ao cientista analisar o caso concreto e definir as causas prováveis.
A solidariedade entre Sociologia e História, de que nos fala Aron (1990:482), estaria baseada nessa dependência mútua entre o conhecimento do geral e do particular nas Ciências Sociais. A sociologia estaria voltada para a formulação das “regras gerais dos acontecimentos”. A história interessar-se-ia pela “análise e imputação causal de ações, formações e personalidades individuais culturalmente importantes”. Uma, no entanto, dependeria imensamente da outra. A compreensão dos eventos historicamente circunscritos só poderia ser feita por meio do conhecimento das regularidades sociologicamente definidas e essas só poderiam ser sustentadas através da demonstração de sua validade em situações historicamente definidas.
É fundamental perceber que o projeto weberiano para as Ciências Sociais supõe muito mais do que a simples coleta e descrição de dados definidos em sua singularidade empírica. Sem dúvida, na medida mesmo em que se afasta das definições fixas dos fenômenos sociais, Weber se aproxima das manifestações sociais concretas, marcadas por um contexto histórico e cultural singular. Essa aproximação, no entanto, é mediada por todo um instrumental analítico que transforma os fenômenos concretos em objetos científicos. Os fenômenos empíricos são recortados conceitualmente. Seus elementos e conexões internas são comparados com formas típicas construídas artificialmente pelo observador. São avaliadas as várias causas possíveis que explicariam sua configuração atual e atribuído um peso relativo a cada uma delas.
Uma das preocupações de Weber foi, justamente, com a formulação de certos instrumentos metodológicos que permitissem que o cientista investigasse os fenômenos particulares sem se perder na infinidade disforme dos seus aspectos concretos. O principal desses instrumentos é o tipo ideal. Os tipos ideais cumpririam duas funções principais: selecionar explicitamente a dimensão do objeto que será analisada e apresentar essa dimensão de uma forma pura, despida de suas nuanças concretas.
Nas palavras de Weber, a construção de tipos permitiria operar uma espécie de abstração que converteria a realidade em “objeto categorialmente construído” (1993-b: 203). Os tipos seriam elaborados “mediante acentuação mental de determinados elementos da realidade" (1993:137), considerados, do ponto de vista do investigador, relevantes para a pesquisa. O cientista social criaria definições exageradas, unilaterais, das dimensões da realidade que pretendesse conhecer. 	Essas definições poderiam então ser utilizadas, num segundo momento, para uma espécie de comparação com o mundo real. Elas auxiliariam no trabalho de compreensão e de imputação causal realizado pela Sociologia e pela História. Cada aspecto concreto da realidade empírica poderia ser compreendido em função da sua maior ou menor distância em relação à definição típica ideal.
O tipo ideal mais importante da Sociologia weberiana é o de ação racional com referencia a fins . Este tipo de ação se caracterizaria pelo fato do ator escolher de modo ponderado seus fins, considerando as conseqüências previsíveis, e por adequar do modo que lhe parece mais eficaz, dadas as condições, os meios aos fins. Seria um tipo de ação social no qual o sujeito agiria desapegado de vínculos afetivos ou tradicionais. O que prevaleceria seria a análise objetiva da eficiência e da eficácia, dos custos e benefícios de cada alternativa. A ação racional com referência a valores possuiria, basicamente, as mesmas características. A diferença é que os fins da ação, neste caso, seriam perseguidos de modo absoluto, independentemente das conseqüências previsíveis que possam estar associadas a eles. A idéia de Weber é de que a ação racional, nas suas duas modalidades, seria a forma mais previsível, compreensível, de comportamento humano.
Quando desapegados de suas tradições e afetos, os homens agiriam diante das situações de modo muito regular. Suas ponderações sobre os custos e benefícios de cada alternativa de ação são feitas segundo regras que seriam mais ou menos universais de raciocínio. Suas decisões, ou seja, os cursos efetivos da ação seriam, portanto, muito regulares.
Essa concepçãofaria com que o tipo ideal de ação racional desempenhasse o papel de um recurso metodológico tão central na Sociologia weberiana . Os fenômenos poderiam, num primeiro momento, ser interpretados como baseados em ações racionais. Essa interpretação seria, num segundo momento, comparada com a realidade concreta. Os comportamentos divergentes seriam compreendidos como desvios, afetivos ou tradicionais, em relação às ações racionais previstas.
Servindo-se de tipos que recriam, de modo acentuado, vários aspectos da realidade empírica e valendo-se do conhecimento de certas regularidades da ação humana - associadas, principalmente, ao seu caráter racional - Weber pode construir, para cada situação social analisada, um quadro das possibilidades objetivas de ação .
Este quadro funciona como um recurso metodológico complementar que permite avaliar a influência de modificações mais ou menos abrangentes dos componentes de uma situação social sobre a escolha por parte do sujeito do seu curso de ação. Torna-se possível simular vários cenários, através da modificação virtual de determinado componente da situação, imaginar, segundo as regras da experiência, como o ator reagiria às modificações, e, assim, avaliar o peso causal que cada componente da situação desempenharia – ou efetivamente desempenhou, no caso histórico - na definição do curso de ação.
A avaliação do significado causal de um fato para o curso subseqüente dos acontecimentos seria, assim, realizada considerando-se a probabilidade maior ou menor, de acordo com as regras da experiência, de que, na ausência desse fato, o comportamento dos agentes seja modificado. Seria possível simular a ausência do fato e avaliar, com algum grau de segurança, quais as possibilidades objetivas de que isso se traduza numa mudança do comportamento dos agentes e, indiretamente, numa alteração do curso dos acontecimentos.
A reconstrução analítica de elementos da realidade em termos típico ideais e a simulação das possibilidades objetivas envolvidas num acontecimento ou situação – simulação baseada, principalmente, na previsão de como seria o curso dos eventos no caso de ações puramente racionais – seriam os elementos principais que permitiriam a compreensão causal dos fenômenos sociais. O cientista reconstruiria, em termos típicos, dimensões específicas da realidade, avaliariam, segundo as regras da experiência, como os agentes provavelmente agiriam diante dessas dimensões e compararia os cursos de ação concretos com as previsões realizadas. Essa comparação permitiria definir o grau de proximidade entre a construção típica e a realidade concreta.
A compreensão causal, no sentido weberiano, ou seja, a explicação dos fenômenos a partir da interpretação do sentido visado pelas ações dos sujeitos e da análise das implicações, intencionais ou não, dessas ações supõe a utilização dos três recursos metodológicos acima discutidos: os tipos ideais, que permitem isolar artificialmente dimensões da realidade empírica e avaliar a presença dessas, em maior ou menor grau, em diversas configurações concretas; o tipo ideal de ação racional, que forneceria uma espécie de padrão previsível de comportamento a partir do qual se poderiam identificar desvios; a noção de possibilidade objetiva, que permite avaliar o peso relativo de várias causas possíveis na determinação de um acontecimento.
A sociologia weberiana não lida com indivíduos socialmente isolados, mas com agentes localizados em situações sociais determinadas, nas quais está aberto um campo definido de possibilidades de ação (Cohn, 1979). 
A primeira condição que torna possível a compreensão sociológica seria, justamente, o fato dos sujeitos agirem dentro desse universo estreito de possibilidades. Os atores lidam com essas possibilidades de um modo que pode ser compreendido quanto ao sentido – na medida em que adequado aos “hábitos médios de pensar e sentir” (Weber, 1992:8), e previsível de acordo com regras de probabilidade construídas a partir da experiência histórica.
O trabalho do sociólogo seria, basicamente, o de reconstruir de modo típico os elementos considerados significativos em cada situação. A partir dessa reconstrução o sociólogo poderia compreender as possibilidades de ação abertas para o sujeito (as conexões de sentido possíveis) e avaliar, a partir da experiência, quais as mais prováveis.
A Sociologia poderia, finalmente, afirmar que diante de situações próximas ao caso típico, os sujeitos provavelmente agiriam de uma determinada forma e de acordo com um sentido que poderia ser compreendido .
Num certo sentido, pode-se dizer que a Sociologia weberiana tem como projeto a reconstrução conceitual do mundo sócio-histórico. Certamente, não se trata de uma reconstrução exata, completa, definitiva ou imparcial. Weber enfatizou suficientemente a separação existente entre conhecimento e realidade. O mundo social seria recriado em termos típicos ideais, ou seja, selecionando-se e exagerando-se algumas de suas dimensões. Seriam explicitadas, ainda, as relações regulares observadas entre dimensões da realidade.
Como a realidade empírica é definida em termos de agentes com um objetivo, agindo em relação a outros agentes, servindo-se dos meios disponíveis e das condições dadas pela situação, os elementos tipificados seriam, justamente, os objetivos ou motivos, os meios, as condições e as próprias situações.
Mesmo as categorias sociológicas mais gerais utilizadas pela Sociologia, como capitalismo, burocracia ou patrimonialismo, seriam definidas em função da probabilidade de que se repitam certas ações típicas, do ponto de vista do seu sentido, que, supostamente, estão envolvidas e, inclusive, são as responsáveis pela existência desses fenômenos macro-sociais.
Weber não pretende e não acha possível ir além dessa reconstrução tipificada dos elementos do real e do estabelecimento de certas relações, mais ou menos regular e compreensível, entre esses elementos. Apenas essas seriam tarefas de uma Ciência Social da realidade, no sentido weberiano. É a isso que ele chama de ordenação conceitual da realidade. Qualquer objetivo além desse seria visto como inadequado a uma ciência empírica e própria à metafísica ou à filosofia social.
5 Os limites da sociologia weberiana
Uma das maiores preocupações de Weber seria, exatamente, a de afastar certas categorias da análise sociológica, normalmente de natureza coletiva ou macroestrutural, que não seriam diretamente acessíveis empiricamente.
A ação social é definida como o objeto elementar das Ciências Sociais, justamente, pelo seu caráter, num certo sentido, real. Como já foi dito, a única coisa que realmente existiria no mundo social seriam homens agindo segundo um sentido visado e tendo como referência os outros agentes. Esse, portanto, seria o único objeto passível de ser analisado por uma Ciência da Realidade.
Com isso, vai estar diretamente relacionada à definição das ações sociais como o objeto elementar dessas Ciências, qualquer categoria que não seja passível de redução ao plano das ações passa a ser rotulada de metafísica.
Em “A objetividade do conhecimento nas Ciências Sociais e na Ciência Política”, Weber (1973) defende a tese segundo a qual é impossível estabelecer um referencial teórico único a partir do qual se pudesse abordar cientificamente toda a realidade histórico-social.
Weber parece utilizar três argumentos principais na sustentação dessa tese. Primeiro, o de que não existiria um, mas vários referenciais teóricos, normalmente associados a diferentes sistemas filosóficos. Cada um deles significaria, na verdade, apenas mais uma perspectiva, mais um ângulo a partir do qual é possível recortar e analisar o real. A seleção de um entre esses ângulos como referencial privilegiado seria, num certo sentido, sempre arbitrário. Nos termos de Weber, “o número e a natureza das causas que determinaram qualquer acontecimento individual são sempre infinitos, e não existe nas próprias coisas critério algum que permita escolher dentre elas uma fração quepossa entrar isoladamente em linha de conta” (1993:129 ).
Weber insiste em afirmar que não compartilha do preconceito, segundo o qual "as reflexões sobre a vida cultural que pretendem interpretar metafisicamente o mundo, indo portanto, além da ordenação conceitual dos dados empíricos, não poderiam, por causa desta sua característica, contribuir, de alguma forma, para o conhecimento” (1993:114). Sua crítica seria dirigida, assim, apenas, à pretensão, comum a essas “interpretações metafísicas”, de se firmarem como “método universal”, como denominador comum da explicação causal da realidade (1993:121).
Essa pretensão seria inaceitável, no campo científico, pelo simples fato de que não se teria como se decidir objetivamente entre as várias alternativas disponíveis. O argumento seria, basicamente, o mesmo utilizado com relação aos valores da vida prática em geral, como a política e a religião. As interpretações metafísicas são múltiplas, inconciliáveis e não podem ser validadas ou hierarquizadas segundo critérios objetivos . Devem permanecer, portanto, no contexto não controlado da descoberta.
O segundo argumento desenvolvido por Weber para rejeitar o estabelecimento de um referencial teórico abrangente e unificado nas ciências da cultura aponta para o fato de que os objetos dessas ciências são individualidades históricas concretas que não podem ser deduzidas de um sistema de leis.
Weber se opõe a autores que, segundo ele, concebem o ideal do conhecimento científico como sendo o estabelecimento de um “sistema de proposições das quais seria possível deduzir a realidade” (1993: 125). 	Argumenta que isso não é válido nem para o caso, por exemplo, da Astronomia. Mesmo uma Ciência Natural como essa se interessaria por entender o “efeito individual produzido pela ação das leis sobre uma constelação individual” e por saber a origem desta como “conseqüência de outra constelação, igualmente individual que a precede” (1993:125). No caso das Ciências da Cultura, o interesse pela dimensão individual do fenômeno, incluindo sua significação histórica, seria ainda mais central.
Assim, Weber afirma que mesmo que fosse estabelecida uma “imensa casuística de conceitos e regras com a validade rigorosa de leis” (1993:126), isso constituiria apenas um primeiro passo do conhecimento. O passo seguinte e, talvez, mais importante, seria a análise da vigência dessas leis em casos concretos e historicamente individualizados.
Este segundo argumento, na verdade, não implica uma rejeição do estabelecimento de referenciais teóricos abrangentes e mesmo unificados nas Ciências Sociais. Ele apenas delimita o papel que poderia ser desempenhado por esses referenciais. Eles poderiam ser instrumentos utilizados na interpretação dos fenômenos concretos. Não seriam capazes, no entanto, de substituir ou de tornar dispensável a análise empírica dos próprios fenômenos .
O terceiro argumento utilizado por Weber para restringir a importância dos pressupostos teóricos mais gerais nas Ciências da Cultura é na verdade um complemento do argumento anterior. Os objetos das Ciências Sociais seriam definidos pelo atributo de possuírem uma significação cultural, de estarem relacionados com idéias de valor de sujeitos concretos. Como tais, esses objetos teriam, logicamente, que ser tomados como construções históricas individualizadas. 	A compreensão dessas construções particulares e a explicação de suas causas não poderiam ser feitas a despeito ou em contradição com o seu caráter individual. A proeminência teria que ser dada ao objeto concreto, com sua significação cultural e origem histórica específica.
Nos termos de Weber, 
“quando se trata da individualidade de um fenômeno, o problema da causalidade não incide sobre as leis, mas sobre conexões causais concretas; não se trata de saber a que fórmula se deve subordinar o fenômeno a título de exemplar, mas sim, a que constelação deve ser imputado como resultado". (1993: 129). 
Os referenciais teóricos gerais ou o “conhecimento das leis da causalidade” seriam, assim, apenas um instrumento a ser utilizado no trabalho de imputação causal.
Weber observa ainda que “quanto mais gerais, isto é, abstratas são as leis, menos contribuem para as necessidades da imputação causal dos fenômenos” ( 1993:129), justamente, por se afastarem demasiadamente de sua realidade concreta.
Esses três argumentos juntos compõem o essencial da concepção weberiana relativa ao lugar que deve ser reservado aos pressupostos teóricos ou metafísicos nas Ciências Sociais. Na verdade, esse lugar seria bastante restrito. Esses pressupostos poderiam, no máximo – mesmo assim, na medida em que não fosse abstrato demais – auxiliar o sociólogo ou o historiador no trabalho prévio de formulação dos problemas e desenvolvimento inicial das hipóteses. De certa forma, essas “filosofias sociais” são vistas como sendo apenas um componente a mais do conjunto de visões de mundo, valores e convicções pessoais que constituem as referências do investigador .
Essas ponderações de Weber (1993) não implicam, no entanto, uma renúncia à possibilidade do conhecimento geral nas Ciências Sociais. Como já foi dito nas seções anteriores, Weber acredita na possibilidade e na relevância do estabelecimento de regularidades nessas ciências. O conhecimento nomológico, no sentido weberiano, é, no entanto, algo completamente distinto do que aqui se está chamando de pressupostos teóricos e filosóficos gerais.
Quando Weber (1993) fala da importância do conhecimento das leis que presidem aos conhecimentos naturais nas Ciências Sociais, refere-se especificamente a conexões regulares entre elementos típicos da realidade empírica, nada a mais do que isso. Essas conexões podem ter um caráter mais ou menos abstrato conforme o pesquisador que as formule se oriente numa perspectiva mais sociológica ou histórica. De qualquer forma, seriam reconstruções tipificadas – puras e exageradas - de aspectos presentes na realidade concreta
O que Weber (1993) exclui do campo das Ciências Sociais, ou pelo menos relega a uma posição bastante marginal, é todo tipo de teorização que se refira a dimensões, processos ou mecanismos sociais puramente abstratos, que não possam ser traduzidos em termos de conjuntos típicos ou concretos de ações. Não existiria espaço na Sociologia weberiana para o desenvolvimento de conceitos ou sistemas de teorias que tenham como objeto dimensões não diretamente empíricas dos fenômenos sociais.
Weber (1993), certamente, desestimularia qualquer esforço no sentido de estabelecer um conhecimento geral e abstrato, válido para qualquer configuração histórico-social, sobre a natureza dos sistemas sociais e de seus mecanismos internos de equilíbrio ou mudança. Ao contrário, ele está interessado em compreender como em diferentes situações históricas, passíveis de serem tipificadas, os homens orientaram suas ações de um modo que tornou possível o estabelecimento de relações sociais mais ou menos estáveis. Da mesma forma, no plano microssociológico,
Weber (1993), sem dúvida, não apoiaria iniciativas no sentido de estabelecer os mecanismos gerais subjacentes aos processos de interação social. Não lhe interessariam teorias abstratas sobre o universo subjetivo ou sobre os processos inconscientes envolvidos nas interações. Restringiria-se a compreender, no caso real ou em termos típicos, o sentido visado pelos atores e as conseqüências intencionais ou não de suas ações.
O ponto fundamental é o compromisso de Weber (1993) com o plano da ação social: tudo o que se encontra num plano analítico subjacente ou transcendente em relação ao da ação seria excluído do campo específico das Ciências Sociais e reservado ao âmbito filosófico. A única dimensão dos fenômenos sociais que Weber reconhece como efetivamente real é a das ações. Qualquer dimensão desses fenômenos que não possa ser traduzida em termos de ações é afastada do campo científico.
Definir a ciência social como uma ciência da realidade significa, portanto, para Weber, o mesmo que defini-la comouma ciência da ação social. É claro que Weber não está pensando em ações isoladas. Partindo da ação social como unidade elementar, Weber reconstrói conceitualmente todo o emaranhado de relações sociais em que cada ação encontra-se, possivelmente, envolvida. Parsons (1968:653) observa que Weber produz um esquema geral dos “tipos objetivamente possíveis de estrutura social”. São tipificadas as várias formas, mais ou menos estáveis, de relação social e definidos os modos típicos de orientação das ações nessas relações.
O conceito fundamental, de qualquer forma, é o de ação social. Esse conceito marca a especificidade, a força, mas, também, os limites da perspectiva weberiana. Weber (1982) se limita a perguntar como, com que sentido e com quais conseqüências os sujeitos agem nas situações históricas concretas, em média e no caso típico. Essas seriam as únicas questões pertinentes no âmbito de uma Ciência Social da realidade.
Ficam excluídas questões centrais da teoria social. A maior delas talvez seja a da determinação do sentido da ação individual. O que faz com que um agente imprima determinada direção a sua ação? Como são selecionados os fins das ações? Como os agentes decidem entre cursos alternativos de ação? O que faz com que diante de uma mesma situação alguns ajam do modo racionalmente mais previsível, enquanto outros se desviam e se orientam segundo os mais diversos princípios normativos? Qual o espaço de autonomia do sujeito, frente às situações sociais, na definição do sentido de sua ação?
Weber (1982) se recusa a responder questões formuladas nesse nível de abstração. Os problemas levantados por elas só são tratados na medida em que puderem ser traduzidos para o plano da análise concreta das ações sociais. Weber (1993) não pretende formular uma teoria abstrata da relação entre agentes e situações, sujeitos e estruturas. A questão do grau em que a orientação da ação é determinada pelas características objetivas da situação não é colocada. Weber parte de agentes concretos, perseguindo fins estabelecidos em situações historicamente dadas. Não está disposto a produzir uma teoria geral sobre os fundamentos da ordem social.
CONCLUSÃO
	A Sociologia de Max Weber (1864 – 1920) é a base da Sociologia no sentido da tipologia e compreensão objetiva. Weber estabeleceu a Sociologia compreensiva do significado subjetivo dos atos sociais. Para tornar este conhecimento objetivo, fundou a metodologia dos tipos-ideais e a afinidade eletiva das relações causais.
	Weber elaborou um conjunto de categorias, como tipos de profecia, a noção de carisma (poder Sociologia e Economia Históricas espiritual), e outras categorias, que se tornaram ferramentas para lidar com material comparativo; tornando-se verdadeiro fundador da Sociologia comparativa. Como dissemos anteriormente, Weber sustenta que não existe nenhuma lei universal da sociedade como existe para as ciências da natureza, nem uma lei da história que determine o desenrolar das dinâmicas mecanicamente. 
	O objetivo da Sociologia weberiana é o de entender os atos sociais a partir dos significados subjetivos dos atores racionais, não pretendendo estabelecer leis da sociedade ou da religião nem extrair a essência dos atos sociais. Nem sequer pretende formular ou avaliar a função social da religião no sentido marxista em que a religião é o ópio do povo e muito menos no sentido durkheimiano em que era a religião que mantinha a sociedade moral unida.
	A tipologia e a compreensão comparativa dos atos sociais dependem da construção teórica do tipo-ideal através do pensamento. A compreensão objetiva dos atos religiosos, por outro lado, depende da análise do juízo de valor acerca do significado subjetivo da ação social a partir do ponto de vista das idéias assim como dos interesses materiais e mentais.
	Para evitar os juízos de valor, temos que distinguir aquilo que é de aquilo que devia ser. A validade de uma pretensão ética não é do foro da análise social mas sim de consciência e de crença. O critério do juízo de valor é imperativo e não depende de uma realidade empírica. A compreensão de aquilo que é, por outro lado, envolve não só fatos empíricos da ação social, mas também o significado subjetivo da ação social. A ação social não é uma reação mecânica da lei dos interesses materiais mas a dinâmica das idéias e interesses que fornecem ao ator o significado consciente ou inconsciente da vida e do mundo. Por forma a compreender a realidade sociológica, Weber afirma a importância da idéia que não pode ser reduzida à sua componente de interesse material (Marx) nem à sua função social (Durkheim). Assim, para Weber não são as idéias mas os interesses materiais e ideológicos que governam diretamente as condutas dos homens embora freqüentemente as imagens do mundo que foram criadas por idéias determinaram as linhas ao longo das quais as ações foram orientadas por dinâmicas de interesse.
Dessa forma, a preocupação central do autor se concentra na estrutura de poder na sociedade. Weber sugere aspectos interessantes da relação entre a luta política das classes dominantes e a burocracia estatal. No entanto, poucas são as contribuições para a compreensão do fenômeno da burocracia privada, empresarial, na sua relação com a ação e a organização política das classes dominantes. Weber parece concordar com que a república parlamentar é o melhor arranjo político institucional para acomodar os interesses da burguesia e suas frações, e das classes subalternas, apontando para as vantagens do sistema parlamentar na resolução dos conflitos políticos e no controle do aparelho de Estado.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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