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DIREITO PENAL1 TRABALHO PRONTO

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DIREITO PENAL				Professor: Jorge Dória
Alunos Grupo 1: 
Alice Curty Maciel			Matrícula: 2017.03.37580.7
Bruno dos Santos Farias Matrícula: 2017.03.21825.6
Tiago da Silva Costa Matrícula: 
Natalia	Matrícula:	 
Alonso	Matrícula:
Aline	Matrícula:
Cidinei José Menezes Rosa	Matrícula:2017.03.44177.1
Título
Princípios Constitucionais que limitam o poder punitivo do Estado:
Principio de Dignidade da Pessoa Humana			p. 2 a 8
Princípio da Bagatela ou Insignificância 						p. 9
Princípio da Fragmentariedade
Princípio da Proporcionalidade
Princípio da Humanidade
Princípio de Ofensividade ou Lesividade
Princípio da Culpabilidade
Princípio da Retroatividade Benéfica
Princípio da Alteridade
Princípio da Inocência Presumida
Princípio da Retroatividade Benéfica da Lei
Princípio da Alteridade
Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídico
Princípio do de Ne bis in Idem
Princípio da Anteridade da lei Penal
Princípio da Legalidade
Principio de Dignidade da Pessoa Humana
A dignidade da pessoa humana é um conceito extremamente abrangente, desta forma, existe uma grande dificuldade de se formular um conceito jurídico a respeito. Sua definição e delimitação são amplas, haja vista englobar diversas concepções e significados. Seu sentido foi sendo criado e compreendido historicamente como valor, preexistiu ao homem.
Nesse sentido, podemos afirmar que nunca houve uma época em que o homem esteve separado de sua dignidade, mesmo que ainda não a reconhecesse como um atributo ou como uma qualidade inata da pessoa.
A dignidade é um atributo humano sentido e criado pelo homem; por ele desenvolvido e estudado, existindo desde os primórdios da humanidade, mas só nos últimos dois séculos, percebido plenamente. Contudo, apesar de que quando o ser humano começou a viver em sociedades rudimentares organizadas a honra, a honradez e a nobreza já eram respeitadas por todos do grupo, o que não era percebido e entendido concretamente, mas geravam destaque a alguns membros.
Plácido e Silva consigna que: Dignidade é a palavra derivada do latim dignitas (virtude, honra, consideração), em regra se entende a qualidade moral, que, possuída por uma pessoa serve de base ao próprio respeito em que é tida: compreende-se também como o próprio procedimento da pessoa pelo qual se faz merecedor do conceito público; em sentido jurídico, também se estende como a dignidade a distinção ou a honraria conferida a uma pessoa, consistente em cargo ou título de alta graduação; no Direito Canônico, indica-se o benefício ou prerrogativa de um cargo eclesiástico.
Esta base moral que o autor se refere é o norteador que vai dar a pessoa o direcionamento a ser seguido, suas atitudes serão referenciadas neste balizador, afinal todo ser humano busca o respeito e o reconhecimento por partes dos seus semelhantes.
O valor da dignidade da pessoa humana - resultante do traço distintivo do ser humano, dotado de razão e consciência, embora tenha suas raízes no pensamento clássico, vincula-se à tradição bimilenar do pensamento cristão, ao enfatizar cada Homem relacionado com um Deus que também é pessoa. Dessa verdade teológica, que identifica o homem à imagem e semelhança do Criador, derivam sua eminente dignidade e grandeza, bem como seu lugar na história e na sociedade. Por isso, a dignidade da pessoa humana não é, no âmbito do Direito, só o ser humano é o centro de imputação jurídica, valor supremo da ordem jurídica.
O reconhecimento e a proteção da dignidade da pessoa humana pelo Direito é resultado da evolução do pensamento humano.
O postulado da dignidade da pessoa humana sempre existiu acoplado à existência humana, se hoje, ainda, algumas culturas não o reconhecem como tal, isso não impede que, fora do conhecimento de cada cultura, esse conceito já não estivesse presente na consciência humana.
A Constituição Federal de 1988 traz como fundamentos da República Federativa do Brasil e consequentemente, do Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana. É o que dispõe o art. 1º, III da CF/88: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana”.
O avanço que o Direito Constitucional apresenta atualmente é resultado, em parte, da afirmação dos direitos fundamentais como núcleo da proteção da dignidade da pessoa e da visão de que a Constituição é o local adequado para positivar normas asseguradoras dessas pretensões.
Seguem juntos no tempo o reconhecimento da Constituição como norma suprema do ordenamento jurídico e a percepção de que os valores mais caros da existência humana merecem estar resguardados em documento jurídico com força vinculativa máxima, ilesa às maiorias ocasionais formadas no calor de momentos adversos ao respeito devido ao homem.
Foi a partir da Constituição Federal de 1988 que os direitos fundamentais tiveram um avanço significativo, estes passaram a ser tratados como núcleo da proteção da dignidade da pessoa humana.
Respeitar a dignidade da pessoa humana deve ser uma tônica das relações de trabalho, o Direito deve atuar de forma dinâmica, inovando e transformando, porque o trabalho torna o homem mais digno ao possibilitar-lhe o pleno desenvolvimento de sua personalidade, de onde resulta sua valorização como pessoa humana.
Enfim, o princípio da dignidade da pessoa humana, ao qual se reporta a ideia democrática, como um dos fundamentos do Estado de Direito Democrático, torna-se o elemento referencial para a interpretação e aplicação das normas jurídicas. O ser humano não pode ser tratado como simples objeto, principalmente na condição de trabalhador, muitas vezes visto apenas como uma peça da engrenagem para fazer girar a economia.
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A Constituição de 1967 foi uma caminhada na contra mão da dignidade da pessoa humana, foi quebrada por ela a bem sucedida evolução da constitucionalização dos direitos civis, ainda acreditamos ser juridicamente inaceitável que a força militar, que tem por incumbência moral e histórica ser a Ultima Ration Legis, se substitua ao povo, delegando, em nome do deste, mas, em proveito próprio.
Faltou respeito ao próximo, faltou valoração a dignidade dos Brasileiros.
É interessante notar que esta Carta era denominada simplesmente de “Constituição do Brasil”.
Constituição da República Federativa do Brasil de Brasil de 17 de outubro de 1969
Houve uma grande alteração na Constituição de 1967 com a edição da Emenda nº1 de 17 de outubro de 1969, esta foi tão substancial que muitos constitucionalistas acusam a emenda de ser verdadeiramente uma nova Constituição Outorgada, mesmo que em tese seja uma emenda à constituição de 1967.
Fica claro na lição do Professor José Afonso da Silva que a Emenda nº1 foi sim uma nova constituição outorgada:
“Teórica e tecnicamente, não se tratou de emenda, mas de nova constituição. A emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformado, a começar pela denominação que se lhe deu: Constituição da República Federativa do Brasil, enquanto a de 1967 se chamava apenas Constituição do Brasil”. (SILVA, 2007, p.86)
A Emenda Nº 1 foi decretada por uma Junta Militar, que furtivamente apossou-se do governo quando o então presidente Costa e Silva estava enfermo por causa de uma trombose; ora seu vice-presidente o senhor Pedro Aleixo fora impedido de assumir a presidência, pois, havia se posicionou contra a edição do AI-5 chegando inclusive a elaborar uma revisão da Carta de 1967, e ainda, foi acusado de ter a intenção de restabelecer o processo democrático; toda essa temática teatral dos militares só comprova seu comprometimento com o golpe dado no estado brasileiro, uma franca marcha na direção contraria a dos direitos humanos.
Quanto aos políticos não demorou e os militares apertaram o cerco e seus primeiros alvos foram os Deputados e osSenadores, estes podiam ser presos e processados a qualquer tempo:
“Art. 32. Os deputados e senadores são invioláveis, no exercício do mandato, por suas opiniões, palavras e votos, salvo nos casos de injúria, difamação ou calúnia, ou nos previstos na Lei de Segurança Nacional.
§ 1º Durante as sessões, e quando para elas se dirigirem ou delas regressarem, os deputados e senadores não poderão ser presos, salvo em flagrante crime comum ou perturbação da ordem pública.
§ 2º Nos crimes comuns, os deputados e senadores serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”. (BRASIL, constituição, 1969, Art. 32, grifo nosso)
Em resumo o regime da Constituição de 1969 não se coadunou, de forma alguma, com o ideal dos Direitos Humanos, estando muito distante das concepções de justiça; não existe espaço para o conceito da dignidade da pessoa humana, pois, não existia livre acesso as instituições democráticas, também não existe dignidade humana sem justiça social.
Constituição da República Federativa do Brasil de 5de outubro de 1988.
Após muitas lutas e com o fim do regime militar e a decretação da Lei da Anistia, e ainda, com a eleição de Tancredo Neves primeiro presidente civil, mesmo que de sufrágio indireto, após mais de vinte anos o Brasil teve novamente a oportunidade de aspirar por dignidade humana.
A constituição Federal de 1988 nasceu da proposta encaminhada ao Congresso Nacional por José Sarney, que resultou na Emenda Constitucional 26, de 27 de novembro de 1985, tal emenda convocava uma Assembleia Nacional Constituinte, formada pelos deputados e senadores da época; a constituinte iniciou seus trabalhos em 1º de fevereiro de 1987 só terminando em 5 de outubro de 1988, com a promulgação da Carta Magna atual.
Nossa lei maior nasceu moderna e em comparação com as constituições anteriores ela é inovadora como bem declara o Professor José Afonso da Silva:
“É um texto moderno, com inovações de relevante importância para o constitucionalismo brasileiro e até mundial. Bem examinada, a Constituição Federal, de 1988, constitui, hoje, um documento de grande importância para o constitucionalismo em geral.” (SILVA, 2007, p. 89)
Essa constituição foi tão inovadora, principalmente no que diz respeito aos direitos humanos, que recebeu de Ulisses Guimarães o nome de “Constituição Cidadã”, pois, ela veio para proteger, os direitos do homem, calcados no conceito de dignidade da pessoa humana, os quais muitos já estavam nas paginas da Constituição de 1946, que foi uma bela Constituição, mas, foi abruptamente derrubada pelo Regime Militar, com a ditadura.
Logo no seu preâmbulo a Carta Maior mostra seu alinhamento com o respeito aos direitos humanos e sociais, pondo seu foco na segurança, no bem-estar, na igualdade e na justiça como o destino do Estado Democrático:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” (BRASIL, constituição, 1988, preâmbulo, grifo nosso)
É de longe o preâmbulo mais constitucional e legislador de todas as constituições, desde a de 1824 até a de 1969, em suas poucas linhas ele dá a diretriz interpretativa da Constituição e determina:
1. Que somos um Estado Democrático;
2. Que o destino, ou melhor, a razão de ser, da constituição é assegurar:
2.1. O exercício dos direitos sociais;
2.2. O exercício dos direitos individuais;
2.3. A liberdade;
2.4. A segurança; e
2.5. O bem-estar.
3. Que os valores supremos da constituição são a igualdade e a justiça;
4. Que a sociedade deve ser fraterna, pluralista e sem preconceitos; e
5. Que o fundamento maior deve será a harmonia social.
Fica fácil notar que o conceito da dignidade da pessoa humana permeia toda a Carta, tendo no Art. 1º inciso III, a costura perfeita entre o texto principal e o preâmbulo, pois, quando este fala de direitos individuais, de liberdade, de igualdade, de justiça e tudo sem preconceitos, aquele, trás como fundamento ou alicerce da Constituição a dignidade da pessoa humana, mais adiante, ainda, existe o Art. 4º, inciso II, trazendo os direitos humanos como regente da Republica e o Art. 5º, que fala da inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à igualdade.
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...]
II - prevalência dos direitos humanos;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” (BRASIL, constituição, 1988, Art. 1º, III e Art. 5º, grifo nosso)
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é diferente de todas as suas antecessoras porque tem de fato um texto voltado para o lado humano, o que fica claro quando se observa os remédios constitucionais, os quais têm por finalidade garantir os direitos individuais, baseados nos princípios da solidariedade e da dignidade da pessoa humana, são sete os remédios:
“1. Habeas Corpus – Art. 5º - LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. (BRASIL, constituição, 1988, Art. 5º, LXVIII)
2. Mandado de Segurança – Art. 5º - LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. (BRASIL, constituição, 1988, Art. 5º, LXIX)
3. Mandado de Segurança Coletivo – Art. 5º - LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;(BRASIL, constituição, 1988, Art. 5º, LXX, letra a e b)
4. Mandado de Injunção – Art. 5º - LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. (BRASIL, constituição, 1988, Art. 5º, LXXI)
5. Habeas Data – Art. 5ª - LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. (BRASIL, constituição, 1988, Art. 5º, LXXII, letra a e b)
6. Ação Popular - Art. 5ª - LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. (BRASIL, constituição, 1988, Art. 5º, LXXIII)
7. Ação Civil Publica – Art. 129, III, CF/88 -. São funções institucionais do Ministério Público: III - promovero inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.” (BRASIL, constituição, 1988, Art. 129)
Depreende-se da leitura da Constituição Federal de 1988 que seu objetivo fim é a busca pela igualdade, pela justiça social, talvez tudo seja fruto do bárbaro momento que a antecedeu, pois, sua constituinte fora montada ainda sob o peso do Regime Militar, parece então mais que razoável que suas paginas estejam cheias de clamor pela liberdade, buscou-se no texto a blindagem dos direitos e garantias individuais, provavelmente com a intenção de evitar no futuro uma possível volta aos “anos de chumbo”, período que vergastou dignidade da pessoa humana.
Hoje através da interpretação humanitária da Constituição, temos por certo que toda e qualquer ação do Estado Brasileiro, ou melhor, do Governo deve ser produzido tendo por primeiro e ultimo a proteção da dignidade da pessoa humana, tendo por inconstitucional qualquer ato que o viole.
O Brasil tem uma Constituição ímpar em sua historia, uma Carta que recepcionou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas, cada brasileiro tem a obrigação moral de ser um vigiar, pois, um País que declara estar fundado na dignidade da pessoa humana, deve a todo instante, considerar se cada cidadão é tomado como fim em si mesmo ou como instrumento, sendo meio para outros objetivos.
CONCLUSÃO:
Fica claro que a dignidade da pessoa humana, que esta presente nas constituições brasileiras, não pode ser visto apenas como um principio, pois, é muito mais, é de fato fundamento constitucional estando assim além dos princípios servindo de guia a todos aqueles, em termos mais claros nada deve ser produzido ou normatizado sem observar o fundamento maior de nossa República, em bons termos pode-se inferir a idéia de que todos os direitos inclusive os direitos humanos, sejam eles pertencentes a qualquer geração, exigem a obrigação moral do reconhecimento dos diretos dos outros (seres humanos).
Cada direito humano pressupõe o dever moral de respeitar o outro enquanto fim em si mesmo, isto é, enquanto humanidade, os direitos humanos, pois, implicam em universalidade da dignidade da pessoa humana e desprezar os outros significa negar-lhes o respeito devido aos direitos humanos.
Das constituições podemos resumir que:
1) A Constituição outorgada de 1824 foi à primeira Carta no mundo a normatizar os direitos humanos, mas, foi nominativa, pois, era contraditória à realidade do País, embora afirmasse a liberdade e a igualdade de todos perante a lei, a maioria da população continuava escrava.
2) A Constituição promulgada de 1891 trouxe em sua seção II a declaração de direitos o que normatizou direitos de primeira geração, implementou a Republica e a Federação, mas, foi nominativa, pois, suas disposições não encontraram eco na realidade social, vale dizer, seus comandos não foram efetivamente cumpridos.
3) A constituição promulgada de 1934 inaugurou no Brasil a idéia do bem-estar social, voltando às atenções para o bem estar do indivíduo, pregando a justiça social; deu início ao processo contínuo de publicização do direito privado, mas, teve curtíssima sobrevida, pouco relevantes foram seus reflexos práticos.
4) A Constituição outorgada de 1937 deu inicio ao “Estado Novo”, quanto ao aspecto democrático tinha apenas uma embaçada imagem, pois dela foram tolhidos os princípios da legalidade, da irretroatividade da lei, entre outros, trazia a previsão expressa da pena de morte e da censura prévia. Não havia liberdades civis.
5) A Constituição promulgada de 1946 foi notadamente avançada para a Democracia Brasileira da época e para as liberdades individuais, normalizou os direitos do trabalhador, retirou a censura prévia, e ainda, trouxe a volta da figura do Habeas Corpus e do Mandado de Segurança.
6) A Constituição semi-outorgada de 1967 nasceu do Ato Institucional Número Quatro, ou AI-4, sendo elaborada sob a pressão dos militares, com a finalidade de legalizar e institucionalizar a ditadura militar; houve um flagrante retrocesso aos direitos humanos apregoados pela constituição de 1946, todas as liberdades são ressalvadas. Houve, ainda, a edição dos AIs.
7) A Constituição outorgada, por uma junta militar, de 1969 foi à efetivação dos “Anos de Chumbo”, aquela Carta não se coadunou, de forma alguma, com o ideal dos Direitos Humanos, estando muito distante das concepções de justiça; não existia espaço para o conceito da dignidade da pessoa humana.
8) A Constituição promulgada de 1988 trouxe maior liberdade e direitos ao cidadão, ficou conhecida como “Constituição Cidadã”, seu foco esta na segurança, no bem-estar, na igualdade e na justiça social, como o destino do Estado Democrático, sua finalidade é garantir os direitos individuais, baseados nos princípios da solidariedade e da dignidade da pessoa humana. É uma Carta que valoriza o conceito da dignidade da pessoa humana como nenhuma outra fez.
No ordenamento jurídico brasileiro, destacou-se a Constituição Federal de 1988, que estabeleceu parâmetros e princípios que devem ser observados por todos, principalmente pelo legislativo. Houve uma valorização do conceito da dignidade da pessoa humana, como um valor absoluto para as liberdades individuais, sendo ainda, essencial para o sistema jurídico.
Por fim, como este conceito é histórico, temos por certo que, nos dias atuais sua amplitude esta nos limites do respeito ao próximo, não havendo espaço para qualquer tipo de preconceito, devendo sempre labutar para que ninguém seja menosprezado.
Aduz-se nesse artigo, que a historia do conceito da dignidade da pessoa humana, é a historia do processo civilizatório; e nada mais.
Bibliografia:
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7830
Crime de Bagatela: Princípio da insignificância ou Princípio da irrelevância.
 
Crime de bagatela é o crime de menor conteúdo ofensivo. É aquele de ínfima relevância penal, seja por haver desvalor na conduta do agente, seja por haver desvalor no resultado. 
Para a caracterização do crime de bagatela é necessário que se verifique a incidência de dois princípios: da irrelevância ou da insignificância. Para isto, leva-se em consideração se o crime é de pequeno valor ou de valor insignificante.
Para a aplicação do princípio da insignificância, é imprescindível a distinção entre o valor ínfimo (ninharia, desprezível) e o pequeno valor. De acordo com a opinião dominante, o pequeno valor da coisa subtraída é algo em torno de um salário mínimo. Abaixo disto seria valor insignificante, ínfimo.
 
No crime previsto no §2º do art. 155 do Código Penal - furto de coisa de pequeno valor - a lei penal confere ao legislador a faculdade de escolher a sanção que melhor atenda aos interesses de política criminal, considerando-se a finalidade atribuída à pena, a qual deve ser suficiente para a reprovação e prevenção de crimes. Embora haja crime, não há exigibilidade da aplicação da pena.
Aplica-se aqui o princípio da irrelevância no qual é necessário que haja desvalor da conduta do agente, do resultado dessa conduta e da culpabilidade do agente. Este princípio é causa excludente da punição concreta do fato, ou seja, não aplica-se a pena em razão da sua desnecessidade de acordo com o caso concreto.
O princípio da irrelevância encontra assento legal no art. 59 do CP. : "O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime". 
Exemplo: furto de um boné.
Para que se aplique o princípio da irrelevância, o objeto - boné - tem de ser de pequeno valor, a conduta não deve ser violenta e o agente não pode ser reincidente, precisa ter bons antecedentes etc.
Este princípio tem pertinência no momento da aplicação da pena - em que terá influência notipo e quantum de pena que será determinado pelo juiz - necessária à reprovação e prevenção do delito.
Todavia, quando a coisa subtraída não gozar da importância exigida pelo direito Penal, em virtude de sua insignificância, deverá o agente ser absolvido.
O princípio da insignificância é aquele que permite invalidar a tipicidade de condutas que, por sua inexpressividade, constituem ações de bagatela, desprovidas de reprovabilidade, de modo que não merecem valoração da norma penal.
Tal princípio tem como critério fundamental o desvalor da ação e/ou do resultado jurídico. A aplicação deste princípio exclui a tipicidade, ou seja, exclui o crime. Considera-se atípico o fato que, por sua insignificância, sequer ofende o bem jurídico protegido. Desta forma, o que importa é o fato e não o agente.
Exemplo: a lesão corporal  leve culposa que tem por resultado um arranhão. 
Esta conduta é materialmente atípica aplica-se o princípio da insignificância.
O princípio da insignificância está profundamente ligado ao princípio da proporcionalidade, pois deve haver um equilíbrio entre o resultado do delito, ou seja, a gravidade do fato ilícito praticado e a pena cominada.
Sendo ínfimo o valor e não havendo nenhum abalo no patrimônio da vítima, determina-se o reconhecimento da atipicidade material.
http://videdireito.blogspot.com.br/2010/05/crime-de-bagatela-principio-da.html
Princípio da fragmentariedade do direito penal
Resumo: O presente artigo abordará o caráter fragmentário do direito penal, este como óbice a atividade persecutória do estado, realizado através do direito processual penal
É indubitável que a eleição de uma conduta como criminosa deve orientar-se pelo desiderato protetivo do bem juridicamente tutelado (WELZEL, 1987, p. 83). Nem todos os bens jurídicos merecem a tutela específica do Direito Penal. Os interesses protegidos pela norma penal são apenas aqueles que exigem especial blindagem, por se revelarem insuficientes as garantias ofertadas pelos demais ramos do Direito. (ROCHA, 2004, p. 88).
Assim, o Direito Penal qualifica-se como fragmentário pelo fato de ocupar-se somente de uma parte dos bens jurídicos tutelados pelo ordenamento jurídico (BITENCOURT, 2008, p. 14). Analogia interessante sobre o tema é que o Direito Penal constitui um gigantesco oceano de irrelevância, ponteado por pequenas ilhas de tipicidade. (CAPEZ, 2008, v. 1, p. 17).
Com efeito, apenas os ilícitos que atacam os valores fundamentais para o progresso da sociedade configuram infrações penais – o Direito Penal é a ultima ratio na proteção de bens jurídicos (MASSON, 2009, p. 35). Realiza-se uma proteção seletiva dos bens jurídicos, exigindo-se a gravidade e a intensidade da ofensa, de maneira a sancionar tão somente as condutas mais austeras praticadas contra os interesses mais relevantes. (BITENCOURT, 2008, p. 15).
A doutrina moderna é praticamente unânime em afirmar que o Direito Penal qualifica-se como subsidiário e fragmentário. O postulado da fragmentariedade traduz uma característica do princípio da intervenção mínima, assim como a subsidiariedade.
Enquanto a subsidiariedade norteia a intervenção do Direito Penal em seu âmbito abstrato, que somente deve interferir diante do fracasso dos outros ramos do Direito (ultima ratio ou derradeira trincheira), a fragmentariedade guia a operação do Direito Penal diante de caso concreto, que apenas deve interferir nos fatos causadores de intolerável e relevante lesão ao bem jurídico tutelado.
Todavia, há quem afirme que a fragmentariedade, em verdade, evidencia uma consequência da adoção dos princípios da intervenção mínima, lesividade e adequação social, pois, uma vez escolhidos os interesses fundamentais (comprovada a lesividade e a inadequação social das condutas que os violam), esses bens jurídicos passam a ser protegidos pelo Direito Penal. (GRECO, 2010, p. 57).
Exemplificando, se um empregado furta uma caixa de canetas e é demitido por justa causa, ao ressarcir o prejuízo, constata-se que o problema foi satisfatoriamente resolvido pelo Direito do Trabalho e Direito Civil, não havendo necessidade da drástica intervenção do Direito Penal.
Destarte, dado o caráter fragmentário do Direito Penal, esse ramo do Direito se limita a castigar apenas os comportamentos mais severos contra os bens jurídicos mais importantes. 
https://jus.com.br/artigos/36293/principios-da-fragmentariedade-e-da-adequacao-social-e-crime-de-casa-de-prostituicao
https://rodrigocastello.jusbrasil.com.br/artigos/121936751/principio-da-fragmentariedade-no-direito-penal
Princípio da Adequação Social
As mães perfuram as orelhas das suas filhas. Muitas pessoas fazem tatuagem. Essas condutas são formalmente típicas, ou seja, acham-se descritas na lei penal, em razão da ocorrência de uma lesão corporal. Apesar disso, não são consideradas um crime. por quê?
Concebido por Hans Welzel, o princípio da adequação social preconiza que não se pode reputar criminosa uma conduta tolerada pela sociedade, ainda que se enquadre em uma descrição típica. Trata-se de condutas que, embora formalmente típicas, porquanto subsumidas num tipo penal, são materialmente atípicas, porque socialmente adequadas, isto é, estão em consonância com a ordem social.
A teoria da adequação social, significa que apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada.
A vida em sociedade impõe riscos que não podem ser punidos pelo Direito Penal, como por exemplo o transporte, usinas, mas são consideradas socialmente adequadas, afastando a interferência do Direito Penal.
O princípio da adequação social, possui dupla função. A primeira função é a de restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. A segunda função se dirige a legislador em duas vertentes: 1) orienta o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com o fim de proteger os bens considerados mais importantes. Se a conduta que o legislador pretende tipificar for considerada socialmente adequada, não poderá ele reprimi-la através do Direito Penal. 2) destina-se a fazer com que o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade.
O princípio da adequação social, nesta última função, bem como o princípio da intervenção mínima, destinam-se ao legislador, para orientá-lo na escolha de condutas a serem proibidas ou impostas e na revogação de tipos penais.
Tendo como norte o princípio da adequação social, o legislador deverá distinguir quais as condutas consideradas socialmente adequadas daquelas que estão a merecer a reprimenda do Direito Penal.
Lembrando ainda, que mesmo que a prática constantes de algumas infrações penais, cujas condutas incriminadas já não são consideradas inadequadas para a sociedade, não poderá o agente alegar que o fato é tolerado socialmente. O princípio da adequação social não tem o poder de revogar uma lei. Uma lei só poderá ser revogado por outra lei.
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2153759/o-que-se-entende-pelo-principio-da-adequacao-social-denise-cristina-mantovani-cera
https://ferreiradepaula.jusbrasil.com.br/artigos/392212361/principio-da-adequacao-social
https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121928188/o-que-se-entende-por-principio-da-adequacao-social
Princípio da Proporcionalidade 
Determina que deve existir uma proporcionalidade entre a gravidade do crime praticado e a sanção a ser aplicada.
O princípio da proporcionalidade (que em inúmeras oportunidades é tratado como princípio contido no âmbito da razoabilidade) tem por finalidade precípua equilibrar os direitos individuais com os anseios da sociedade.
Surge exatamente como o equacionador da colisãodesses princípios fundamentais, a ser utilizado pelo operador do direito na ponderação dos valores que deverão prevalecer no caso concreto. 
Exemplo: Suponha que o indivíduo "X" tenha violado a correspondência de um terceiro para adquirir uma carta que prove que ele não é autor de um homicídio. Agora surge a pergunta: pode "X" levar o referido documento ao processo e a Júri (se for necessário)? Ou devemos proibir a utilização da referida prova correndo o risco de condenar um inocente à perda de sua liberdade? E o que dizer do cônjuge que só conseguiria comprovar o adultério de seu consorte mediante uma câmera escondida, não restando outro meio de prova? E o que dizer da violação da "correspondência pessoal" de um presidiário em decorrência de grave suspeita de fuga ou rebelião? É evidente que o Direito Moderno não pode se prender ao positivismo exacerbado de outras eras. Utilizando-se da Proporcionalidade, verifica-se que nos casos citados acima a sensibilidade do julgador o guiará a perceber que a aplicação literal e fria da vedação à prova ilícita causará mais malefícios do que benefícios.
"E M E N T A: HABEAS CORPUS - ESTRUTURA FORMAL DA SENTENÇA E DO ACÓRDÃO – OBSERVÂNCIA – ALEGAÇÃO DE INTERCEPTACÃO CRIMINOSA DE CARTA MISSIVA REMETIDA POR SENTENCIADOALEGAÇÃO DE INTERCEPTAÇÃO CRIMINOSA DE CARTA MISSIVA REMETIDA POR SENTENCIADO - UTILIZAÇÃO DE COPIAS XEROGRAFICAS NÃO AUTENTICADAS - PRETENDIDA ANÁLISE DA PROVA - PEDIDO INDEFERIDO. –
A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei n. 7.210/84, proceder a interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.". (HC 70814 / SP – São Paulo, DJ 24-06-1994. 1ª Turma do STF. Relator Min. Celso de Mello).
https://jus.com.br/artigos/9708/o-principio-da-proporcionalidade-como-instrumento-de-protecao-do-cidadao-e-da-sociedade-frente-ao-autoritarismo
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5865/O-principio-da-proporcionalidade
Princípio da humanidade 
Determina que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou então que lesionem a Constituição física e psíquica dos condenados.
Princípio segundo o qual o objetivo da pena não é o sofrimento ou a degradação do apenado. O Estado não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica do condenado.
EXEMPLOS: Um dos exemplos mais rotineiros da natureza retributiva da pena se contém na regra do art. 121, § 5.º do CP, prevendo o perdão judicial, na hipótese de homicídio culposo, “se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária
Ementa: PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME HEDIONDO. REGIME INTEGRALMENTE FECHADO. IMPOSSIBILIDADE. PROGRESSÃO DE PENA. CONSTITUCIONALIDADE. Tendo sido recepcionado pela Constituição da República o sistema progressivo de cumprimento de pena, constante do Código Penal e da Lei de Execução Penal, negá-lo ao condenado por crime hediondo gera descabida afronta aos princípios da humanidade das penas e da sua individualização. Recurso a que se nega provimento
http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/11966-11966-1-PB.pdf
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/291045/principio-da-humanidade
https://brunoflorentinosilva.jusbrasil.com.br/artigos/182481445/direito-penal-e-os-principios-limitadores-do-poder-punitivo-estatal
Principio da Ofensividade ou Lesividade
O princípio da ofensividade ou lesividade (nullum crimen sine iniuria) exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Explicam Alice Bianchini, Antonio Molina e Luiz Flávio Gomes que o princípio da ofensividade está atrelado à concepção dualista da norma penal, isto é, a norma pode ser primária (delimita o âmbito do proibido) ou secundária (cuida do castigo, do âmbito da sancionabilidade).
A norma primária, por seu turno, possui dois aspectos: (a) ela é valorativa (existe para a proteção de um valor); e (b) também imperativa (impõe uma determinada pauta de conduta).
O aspecto valorativo da norma fundamenta o injusto penal, isto é, só existe crime quando há ofensa concreta a esse bem jurídico. Daí se conclui que o crime exige, sempre, desvalor da ação (a realização de uma conduta) assim como desvalor do resultado (afetação concreta de um bem jurídico). Sem ambos os desvalores não há injusto penal (não há crime).
Tal como outros princípios, o da lesividade não se destina somente ao legislador, mas também ao aplicador da norma incriminadora, que deverá observar, diante da ocorrência de um fato tido como criminoso, se houve efetiva lesão ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico protegido.
Uma vez reconhecido este princípio, parcela da doutrina questiona a constitucionalidade dos delitos de perigo abstrato (ou presumido), casos em que da conduta o legislador presume, de forma absoluta, o perigo para o bem jurídico.
A tese não seduziu os Tribunais Superiores, para quem a criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional por parte do legislador penal.
Processo Penal I - v.10
Rogério Sanches Cunha e Ivan Luís Marques
Processo
REsp 1401961 MS 2013/0308447-0
Órgão Julgador
T6 - SEXTA TURMA
Publicação
DJe 28/05/2014
Julgamento
8 de Maio de 2014
Relator
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Ementa
RECURSO ESPECIAL. LEI N. 10.826/2003. ESTATUTO DO DESARMAMENTO. POSSE DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. TENTATIVA DE SUICÍDIO. OCORRÊNCIA DE ERRO DE PROIBIÇÃO. DESNECESSIDADE DA ATUAÇÃO DO DIREITO PENAL. PRINCÍPIOS DA OFENSIVIDADE E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ENTREGA ESPONTÂNEA REALIZADA PELA FAMÍLIA. SÚMULA 283/STF.
1. O acórdão recorrido apresenta quatro fundamentos - ocorrência da figura do erro de proibição (ausência de culpabilidade), desnecessidade da atuação do Direito Penal sob o prisma da intervenção mínima, princípios da ofensividade e da dignidade da pessoa humana -, e o recurso especial alega apenas ofensa ao art. 12 da Lei n. 10.826/2003. 2. Considerando-se que os fundamentos do acórdão a quo não foram totalmente infirmados, é de se reconhecer a incidência da Súmula 283/STF. 3. Recurso especial não conhecido.
https://rogeriosanches2.jusbrasil.com.br/artigos/121815101/principio-da-lesividade-ou-ofensividade-breves-comentarios
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25102158/recurso-especial-resp-1401961-ms-2013-0308447-0-stj
 
Principio da Culpabilidade.
O princípio da culpabilidade consagra a responsabilidade subjetiva no Direito Penal, partindo da premissa nullumcrimensine culpa. Para Zaffaroni e outros (2011, p. 245), este princípio é o mais importante dos que derivam do estado de direito, pois sua violação implicaria no desconhecimento da essência do conceito de pessoa.
De acordo com Palazzo (1989, p. 52), a “virtude” constitucional do princípio é dúplice, já que ele pode ser depreendido como fundamento da pena e do próprio ius puniendi e, também, como limite da intervenção punitiva do Estado.
Enxergando o princípio da culpabilidade como fundamento da pena, alvitra-se a ela um caráter retributivo, de compensação por um mal produzido pelo autor, na medida em que esse mal reflete a sua vontade. Neste prisma, o sistema penal coloca o homem em posição central, partindo do pressuposto de que possui capacidade de auto-determinação e de escolha de seus atos. Por outro lado, acolher o princípio da culpabilidade como limite da pena corresponde a justificar a finalidade da pena na prevenção do crime, em uma perspectiva utilitarista, com raízes no Rechtstaat. Insta frisar que o caráter humanístico-garantidor do princípio da culpabilidade é hoje, de acordo com Palazzo (1989, p. 53),incontroverso. Ainda, Palazzo aponta que da mesma forma que a “virtude constitucional” do princípio da culpabilidade, é igualmente dúplice a sua “operatividade” estritamente penal, no sentido de que se dá no sistema penal seja como critério subjetivo de imputação do ilícito, seja como critério de mensuração da pena.
Como regra, as consequências materiais do princípio da culpabilidade, apontadas por Bittencourt (2008, p. 16), são: (i) não há responsabilidade objetiva pelo simples resultado, logo, é inadmissível a versari in reillicita; (ii) a responsabilidade penal é pelo fato, e não pelo autor; e (iii) a culpabilidade é a medida da pena. No sentido de preservar a culpabilidade, que deriva do princípio da dignidade da pessoa humana, a CR/88 dá a ela gabarito constitucional, consagrando o princípio da culpabilidade no artigo 5º, inciso XVII.
Conclusões
Tendo em vista que os princípios constitucionais penais são a ordem que baseia toda a matéria penal, não há dúvidas da imprescindibilidade do seu estudo, já que pode ser aplicado praticamente em todos os casos penais. Como dito, os princípios penais funcionam tanto como fundamento quanto como limite da responsabilidade penal.
STJ - HABEAS CORPUS : HC 121264 RS 2008/0256111-9
Processo
HC 121264 RS 2008/0256111-9
Orgão Julgador
T6 - SEXTA TURMA
Publicação
DJe 07/12/2009
Julgamento
16 de Abril de 2009
Relator
Ministro PAULO GALLOTTI
Ementa
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. DIVERSAS MERCADORIAS TRANSPORTADAS EM AUTOMÓVEL. VÁRIOS RÉUS. CORRELAÇÃO ENTRE OS BENS E SEUS ADQUIRENTES. AUSÊNCIA. ATRIBUIÇÃO GLOBAL DE DÉBITO FISCAL. IMPROPRIEDADE. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE. VIOLAÇÃO. RATEIO DO VALOR ENTRE TODOS OS RÉUS. QUANTUM INFERIOR A DEZ MIL REAIS. ART. 20 DA LEI 10.522/02. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA.
1. A ilusão fiscal, concernente ao crime de descaminho, deve ser apurada em relação a cada um dos adquirentes das mercadorias internalizadas conjuntamente dentro de dado veículo. Caso contrário, tem-se por violado o princípio da culpabilidade, determinante da responsabilidade pessoal de cada um dos agentes do delito. Diante da irregular atribuição, indiscriminada, do valor global do tributo a todos os ocupantes de determinado meio de transporte, deve-se promover a divisão equânime de tal montante entre os acusados para se aferir a aplicabilidade do princípio da insignificância nos moldes do artigo 20 da Lei 10.522/02. Sendo o valor do tributo devido inferior a dez mil reais, tem-se a atipicidade material do crime previsto no artigo 334do Código Penal. Precedentes do STF e do STJ.
2. Ordem concedida. (com voto-vencido)
Acordão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "Prosseguindo no julgamento após o voto-vista do Sr. Ministro Nilson Naves concedendo a ordem de habeas corpus, a Turma, por maioria, concedeu a ordem de habeas corpus nos termos do voto da Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, que lavrará o acórdão. Vencidos os Srs. Ministros Relator e Og Fernandes." Votaram com a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura os Srs. Ministros Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP) e Nilson Naves. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACIGALUPO ZAPATER, Enrique. Principiosconstitucionales de Derecho Penal. Buenos Aires: Hammuarabi, 1999.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, volume 1: Parte Geral. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. 2. ed., rev. e aum. Porto Alegre: S.A. Fabris, 2003.
PALAZZO, Francesco Carlo. Valores constitucionais e direito penal: um estudo comparado. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1989.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 11. ed., rev., atual. eampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 2002.
ZAFFARONI, Eugenio Raul; SLOKAR, Alejandro; ALAGIA, Alejandro; BATISTA, Nilo. Direito Penal Brasileiro I. 4ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011.
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,os-principios-da-legalidade-da-culpabilidade-e-da-individualizacao-da-pena-no-ambito-do-direito-penal,42216.html
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8637668/habeas-corpus-hc-121264-rs-2008-0256111-9-stj
PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENÉFICA PENAL
O Princípio da Retroatividade Benéfica Penal determina que os efeitos benéficos e favoráveis de uma lei penal retroagem ilimitadamente e indiscriminadamente para todos os fatos anteriores à sua entrada em vigência.
Por se tratar de um efeito benéfico, ele interage ex-tunc, e, qualquer pessoa que já tenha, de alguma forma, sendo punida pela prática da conduta quando ela ainda era ilícita, passa, instantâneamente, com a vigência da Lei benéfica, a ser tratado como se sua conduta, à época da realização e condenação, já não fossem ilegais, mesmo para quem cumpre pena, ou mesmo, já a cumpriu anteriormente.
Assim, por exemplo, se um condenado cumpre pena por determinada conduta em Regime mais severo, advindo e entrando em vigência Lei que determine para aquela mesma conduta Regime mais brando, é imediato o Direito do condenado à mudança pro Regime mais brando, como se esse fosse o regime previsto para sua infração na época de sua prática, ainda que o processo e a Lei que tenham definidos seu regime inicial estivessem corretos pra época. O efeito mais agudo possível proporcionado por esse princípio ocorre o Abolitio criminis, isto é, quando determinada conduta deixa de ser considerada Infração penal . Nesse caso, A conduta não deixa de ser considerada ilícita e impunível apenas a partir daquele instante, mas sim, desde sempre. Na prática, a partir daquele instante, considera-se que a conduta nunca foi ilícita. Assim sendo, uma pessoa sendo processada, já condenada, cumprindo pena ou até mesmo, já tendo terminado de cumprir a pena a ele imposta por sua conduta, até então delituosa, passa instantaneamente a ser inocente, com todos os efeitos processuais e penais possíveis.
Este caso é bem interessante para entendermos a questão da retroatividade da lei penal. A lei não retroage para prejudicar a pessoa. Nunca. Esse é um princípio básico de democracia. Imaginemos o seguinte cenário: hoje você compra uma bicicleta. Amanhã o Congresso aprova uma lei dizendo que comprar bicicleta é um crime. Óbvio que seria injusto você ser punido por aquele novo crime, já que quando você agiu aquela ação ainda não era considerada um crime. Ou seja, a nova lei não retroage para prejudicar a pessoa.
Outro exemplo: homicídio é apenado com uma pena máxima de 20 anos. Você mata alguém hoje. Amanhã o Congresso aprova uma lei aumentando a pena máxima para 40 anos. Depois de amanhã começa seu julgamento. Você será julgado com base na lei antiga, ou seja, você será condenado a, no máximo, 20 anos. A lei, novamente, não retroagirá para prejudicá-lo.
Por outro lado, a lei retroage para beneficiar uma pessoa. Se o caso acima fosse inverso, ou seja, a nova lei previsse uma pena menor, você seria julgado pela nova lei. Outro exemplo: se o crime deixasse de existir na nova lei, você seria libertado, ainda que sua sentença já tivesse transitado em julgado.Este caso é bem interessante para entendermos a questão da retroatividade da lei penal. A lei não retroage para prejudicar a pessoa. Nunca. Esse é um princípio básico de democracia. Imaginemos o seguinte cenário: hoje você compra uma bicicleta. Amanhã o Congresso aprova uma lei dizendo que comprar bicicleta é um crime. Óbvio que seria injusto você ser punido por aquele novo crime, já que quando você agiu aquela ação ainda não era considerada um crime. Ou seja, a nova lei não retroage para prejudicar a pessoa.
Toda vez que um Tipo penal é revogado, se opera a Retroatividade Benéfica, de forma ilimitada e irrestrita ao passado.
Não se deve confundir a Revogação de um Tipo Penal, com o fim da vigência deLei penal temporária, pois, neste segundo caso, a Lei foi criada e prevista para que sua vigência e efeitos incriminantes tivessem prazo de início e fim. Assim, quem pratica a conduta proibida durante a vigência limitada dessa Lei, será atingido por seus efeitos, mesmo após o fim de sua vigência. No caso da revogação, temos uma Lei planejada e criada pra durar indefinidamente e que, de repente, se conclui que, por não se adequar mais a algo que mereça proibição ou punição, deva deixar de ser tipificada.
O Princípio da Retroatividade Benéfica Penal surge a partir do vácuo permissivo criado pelo Princípio da Irretroatividade Penal, uma vez que a Lei proíbe apenas que efeitos negativos retroajam. Como não são mencionados os efeitos positivos e benéficos na proibição de retroagir, se entende que a Retratividade é permitida desde que benéfica. Há que se entender também que, apesar da letra da Lei definir apenas que "OS CRIMES" não podem retroagir, a Doutrina, os Juristas e a Jurisprudência sempre entenderam pacificamente que, o Legislador se referia a todas as Infrações Penais, uma vez que, não faz sentido que as Contravenções, menos graves e danosas que os Crimes, tenham tratamento mais duro que estes. Trata-se, portanto, de equívoco de definição técnica por parte do Legislador ao escrever a Lei.
No Brasil, o Princípio da Retroatividade Benéfica Penal está garantido na Constituição Federal de 1988, a qual, em seu artigo 5º inciso XL exige que: "A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu".
A Constituição Federal proíbe a retroatividade da lei penal para prejudicar o agente, conforme reza o artigo 5º inciso XL da Carta Magna, in verbis, “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.
Como vimos, a retroatividade da lei penal benéfica é um princípio com fundamento na Constituição Federal e o Código Penal, no parágrafo único do artigo 2º, nos traz que “a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”.
Referências:
Constituição Federal art.2 e 5 
https://jus.com.br/artigos/37321/a-retroatividade-da-lei-penal-mais-benefica-e-a-im-possibilidade-de-combinacao-de-leis-penais-uma-analise-a-luz-do-entendimento-doutrinario-e-jurisprudencial-sobre-o-tema
https://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_retroatividade_ben%C3%A9fica_penal
http://direito.folha.uol.com.br/blog/retroatividade-da-lei-penal
PRINCÍPIO DA ALTERIDADE
O Princípio da Alteridade foi desenvolvido por Claus Roxin, e, em síntese, consiste no comando segundo o qual ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si mesmo. Ou seja, uma conduta, para ser penalmente relevante, deve transcender seu autor e atingir bem jurídico de outrem.
Nesse sentido, é atípica a conduta do agente que pratica autolesão. Ainda, entende alguns que, por força do princípio em comento, o crime de porte de drogas para consumo pessoal, previsto no art. 28 da lei 11.343/2006, é um indiferente penal, pois tem como objeto jurídico a saúde pública, e, em tese, o agente estaria prejudicando a si próprio quando do uso de entorpecente.
Ademais, com base no Princípio da Alteridade a doutrina anuncia que é proibida a incriminação de atitude meramente interna do agente, bem como do pensamento ou condutas moralmente censuráveis, incapazes de causar lesão a bem jurídico de terceiro (p.ex., fulano deseja que seu pai morra acidentado, durante uma viajem, para assim ficar com a herança).
http://www.blogladodireito.com.br/2016/06/principio-da-alteridade.html#.WZJJ3lGGNPY
O princípio da presunção de inocência
Historicamente, o princípio surge na Magna Carta Libertatum, de João-Sem-Terra (1215), e se consolida no período revolucionário francês, logo após a queda da Bastilha, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, que fez questão de deixar registrado em seu art. 9º: “Todo o acusado se presume inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor não necessário à guarda de sua pessoa, deverá ser severamente reprimido pela lei” (g.n.). A mesma prescrição consta da Constituição Francesa de 1791.
Tal é a importância da ideia veiculada neste princípio que, quase dois séculos mais tarde, ele continua a ser ressaltado, desta feita na Declaração Universal dos Direitos do Homem votada em 1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, cujo artigo XI é de uma clareza solar: “Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa” (g.n.). O mesmo ideal é reproduzido no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, adotado pela ONU em 1966, cujo artigo 14, item 3, enumera um rol de garantias mínimas a qualquer pessoa acusada de um delito, sobressaindo-se na alínea “g” o direito de não ser obrigado a se confessar culpado[1]. Da mesma forma, na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969), também nominada de Pacto de São José da Costa Rica, cujo item 2, do art. 8º, celebra a ideia de que “toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa”[2] (g.n.).
No Brasil, a adequação aos textos universais se deu após o período da ditadura militar na Assembléia Nacional Constituinte que promulgou a Carta de 1988, onde se expressa no inciso LVII do art. 5º, em termos diretos e objetivos: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (g.n.).
Importante aqui fazermos uma pequena digressão acerca da opção feita pelo constituinte brasileiro na redação do dispositivo. Diferentemente do que vem expresso nos textos internacionais, que deram preferência a locuções afirmativas, tais como tem o direito de ser presumida inocente, ou todo o acusado se presume inocente, o Brasil optou pela utilização de um enunciado negativo: ninguém será considerado culpado. Esta circunstância deu ensejo a várias interpretações sinalizando para a possibilidade de restringir o alcance e a aplicação do princípio, sob o argumento de que a Constituição não teria aclamado exatamente a presunção de inocência, mas sim a desconsideração prévia da culpabilidade.
Sem entrar num debate mais aprofundado, em especial referente àquelas correntes que insistentemente, e felizmente sem muito sucesso, tentaram restringir a limites mais estreitos o ideal iluminista da presunção de inocência, e que tiveram grande expressão nas doutrinas positivistas de Enrico Ferri, Vincenzo Manzini e Giuseppe Bettiol, na primeira metade do século XIX[3], parecem-nos mais adequados os entendimentos que caminham no sentido de que a formulação negativa da ideia não se mostra nem de longe suficiente para justificar o seu esvaziamento, muito menos a afeta em sua projeção sobre o ordenamento jurídico. Pode, quando muito, suscitar interpretações divergentes, e a gosto de circunstâncias ocasionais.
Mais relevante se faz, neste aspecto, lembrarmos que
tudo isto está calcado nos ideais iluministas que, como uma espécie de aposta no valor ético do ser humano, primou por não retirar seus direitos fundamentais enquanto tal, uma vez que possa vir a ser considerado inocente”. Esta “aposta” deve-se ao fato de que se os interesses do homem são os mais relevantes aos demais, muito mais gravoso seria retirar direitos de alguém que futuramente for considerado inocente[4].
Ora, pensar diferente disto seria dar mais valor ao processo como instrumento de persecução penal e de realização da pretensão punitiva estatal, admitindo que o interesse do Estado se sobreponha aos direitos fundamentais da pessoa humana. De fato, trata-se de um princípio que não se justifica por razões de técnica jurídica, mas “numa opção política, que resulta da convicção de que essa é a melhor forma de garantir o respeito à dignidade humana, em sede de persecução penal”[5].Este é o caminho trilhado pela significativa maioria dos doutrinadores na atualidade, dentre os quais o jurista argentino Julio B. J. Maier, doutor em Direito e Ciências Sociais da Universidade Nacional de Córdoba, e pós-graduado em Filosofia Jurídica, do Direito Penal e Direito Processual Penal na Universidade de Munique (Alemanha), ao concluir que as expressões presumir inocente ou não considerar culpado se equivalem, ou seja, significam exatamente o mesmo; ambas, segundo ele
revelam o mesmo princípio que emerge da exigência de um juízo prévio para infligir uma pena a uma pessoa (…) Se trata, na verdade, de um ponto de partida político que assume – ou deve assumir – a lei processual penal num Estado de Direito, ponto de partida que em um dado momento constitui-se como reação contra uma maneira de perseguir penalmente que, precisamente, partia do extremo contrário[6].
De uma forma ou de outra, o fato é que a própria jurisprudência brasileira se encarregou de estabelecer esta identificação, através da frequente utilização de ambas as proposições como se sinônimas fossem[7]. O Supremo Tribunal Federal, aliás, em se tratando do conteúdo material e alcance do referido princípio, não deixa margem a quaisquer dúvidas, conforme se extrai do julgamento proferido no Habeas Corpus n. 96.095-2/SP, relatado pelo Min. Celso de Mello, de cuja ementa se destaca, verbis:
O POSTULADO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA IMPEDE QUE O ESTADO TRATE, COMO SE CUPADO FOSSE, AQUELE QUE AINDA NÃO SOFREU CONDENAÇÃO PENAL IRRECORRÍVEL.
A prerrogativa jurídica da liberdade – que possui extração constitucional (CF, art. 5º., LXI e LXV) – não pode ser ofendida por interpretações doutrinárias ou jurisprudenciais, que, fundadas em preocupante discurso de conteúdo autoritário, culminam por consagrar, paradoxalmente, em detrimento de direitos e garantias fundamentais proclamados pela Constituição da República, a ideologia da lei e da ordem.
Mesmo que se trate de pessoa acusada da suposta prática de crime hediondo, e até que sobrevenha sentença penal condenatória irrecorrível, não se revela possível – por efeito de insuperável vedação constitucional (CF, art. 5º., LVII) – presumir-lhe a culpabilidade.
Ninguém pode ser tratado como culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe tenha sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória transitada em julgado.
O princípio constitucional da presunção de inocência, em nosso sistema jurídico consagra, além de outras relevantes consequências, uma regra de tratamento que impede o Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem sido condenados, definitivamente, por sentença do Poder Judiciário.[8]
De modo geral, é possível afirmar que a presunção de inocência, enquanto princípio constitucional geral, é mais um elemento de promoção do necessário equilíbrio entre a liberdade do cidadão (jus libertatis) e a prerrogativa estatal de punir eventuais infratores (jus puniendi), cujo objetivo maior é garantir a manutenção de um Estado de Direito. Por isto a presunção de inocência, enquanto princípio constitucional, não apenas desautoriza a formação prévia de qualquer juízo afirmativo quanto à culpabilidade, como também, e a nosso ver com maior ênfase ainda, veicula a ideia de que todos são inocentes até que se prove que são culpados. Este, aliás, o conteúdo semântico do próprio vocábulo “presunção”, ou seja, suposição que se tem por verdadeira até prova em contrário.
Oportuno que se esclareça, entrementes, que uma presunção jurídica (praesumptione juris) não se confunde com a presunção comum do homem. Esta última baseia-se apenas em aparentes indícios, em suposições e conjecturas pessoais, criando juízos subjetivos antecipados que sequer se sustentam em raciocínios indutivos minimamente lastreados na ideia de probabilidade. As presunções humanas comuns se valem de afetações, crenças, pressentimentos, evidências incompletas e frágeis, desconfianças, etc., para tirar conclusões antecipadas e sem compromisso com a realidade dos fatos, e muito menos com a verdade. A presunção jurídica, por outro lado, conforme leciona CHIOVENDA, é uma convicção fundada sobre a ordem natural das coisas[9]. Ora, a inocência presumida do acusado, desde as suas origens revelou-se como “uma atitude jurídico-política, justificada num ato de fé no valor ético da pessoa, próprio de toda a sociedade livre”[10].
Destarte, o princípio da presunção de inocência diz que o indivíduo prevalece à coletividade, ideia esta que deve inspirar a política criminal do Estado, e nortear a atividade legislativa e judiciária, como uma das maiores conquistas da sociedade civilizada, à qual muito deve o Estado de Direito, em especial porque repercute diretamente no compromisso de respeito à dignidade humana, e onde a liberdade desponta como direito subjetivo fundamental.
A primeira mensagem que se extrai deste princípio, aliás, é a de que o acusado não é objeto do processo, não é uma coisa, ou algo que possa ser usado para realizar eventuais sanhas acusatórias, e muito menos para satisfazer as massas em seus desejos espetaculares de vingança. Este aspecto é salientado com muita propriedade pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Habeas Corpus n, 94.408-6/MG, sob a relatoria do Min. Eros Grau (DJ de27.03.2009), em cuja ementa se fez questão de registrar que
nas democracias mesmo os criminosos são sujeitos de direitos. Não perdem essa qualidade, para se transformarem em objetos processuais. São pessoas, inseridas entre aquelas beneficiadas pela afirmação constitucional da sua dignidade (art. 1º, III, da Constituição do Brasil). É inadmissível a sua exclusão social, sem que sejam consideradas, em quaisquer circunstâncias, as singularidades de cada infração penal, o que somente se pode apurar plenamente quando transitado em julgado a condenação de cada qual (g.n.)
Não se deve esquecer, portanto, que o acusado é um sujeito, e mais que isto, um sujeito de direitos. Em outros termos, ainda mais claros, embora esquecido com preocupante frequência, é uma pessoa humana titular de direitos naturalmente assentados e constitucionalmente reconhecidos, ou seja: um cidadão.
A segunda mensagem veiculada pelo princípio, diferentemente do que costumam pensar as maiorias de ocasião, é a de que a proteção por ele conferida não se dirige ao criminoso, mas ao inocente. Ele diz que, se for preciso conceder benesses ao criminoso, para fins de evitar que o inocente seja injustiçado, então é isto que deve ser feito. Afinal de contas, ao fim de tudo, atendidas as prescrições legais, observada a serenidade das formas judiciais, e preservados os direitos constitucionais, o criminoso será identificado com a certeza exigida e punido da forma apropriada. E os eventuais inocentes sugados em meio a tudo isto, terão maiores chances de serem preservados.
Há que se considerar ainda outro aspecto, muito peculiar, do princípio da presunção de inocência, assim qualificado em razão dos valores que carrega em si, já explicitados alhures. É que, não obstante se tratar de um princípio, ele vem apresentado pelo dispositivo constitucional numa fórmula deveras objetiva, ou seja, até que haja o trânsito em julgado de uma sentença condenatória, qualquer acusado é presumidamente inocente, e não poderá ser tratado como culpado. Ora, o trânsito em julgado é um fato concreto passível de constatação objetiva, de forma que a presunção de inocência, pelo menos neste aspecto em particular, atua, na prática, como verdadeira regra jurídica, uma vez que não permite um cumprimento gradual, ou a ponderação com os valores que professa.
Enfim, como bem registrado pela pena iluminada de Montesquieu, “quando a inocência dos cidadãos não é assegurada, a liberdade também não o é”[11] (g.n.). O brilho profético destas palavras não pode ser apagado pela ânsia acusatória dos espíritos pouco iluminados. Mas impedir que sejam relegadas ao esquecimento é tarefanossa
http://www.osconstitucionalistas.com.br/o-principio-da-presuncao-de-inocencia
O PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA E SEUS REFLEXOS NA DOGMÁTICA JURÍDICO-PENA
O Direito Penal é o ramo do Direito através do qual o Estado exerce a forma mais intensa de intervenção na esfera pessoal dos indivíduos, sendo por meio dele que o legislador estabelece sanções extremas (em nosso sistema, a pena máxima é a restrição de liberdade) para comportamentos que atentem contra bens jurídicos tutelados pela lei. Por este motivo, devem se ter muito claro os limites que a atuação estatal via Direito Penal deve observar, sob pena de se ferir mais do que o devido à liberdade pessoal dos indivíduos. Desde a consagração das idéias iluministas nos séculos XVII e XVIII, procurou-se construir um sistema jurídico-penal que não tolerasse abusos do Poder Público, assegurando assim os direitos individuais dos cidadãos. Neste contexto, delineou-se na doutrina o princípio da intervenção mínima, segundo o qual o Direito Penal apenas será legítimo para resolver situações em que estejam envolvidos bens jurídicos considerados fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Com isso, delimita-se a intervenção penal por meio da referência aos valores consagrados pela Constituição Federal, o que traz inúmeras conseqüências na aplicação do Direito Penal. Primeiramente, evidencia-se que o Direito Penal não pode mais ser utilizado apenas levando-se em conta o sistema fechado estabelecido pela dogmática tradicional, mas deve observar os princípios e valores consagrados no texto da Constituição Federal, exigência fundamental em qualquer Estado Democrático de Direito. Ademais, tem-se que o Direito Penal apenas será legítimo para intervir nos casos em que estejam em jogo bens jurídicos fundamentais, que serão extraídos do substrato axiológico da própria Constituição. Com isso, a intervenção penal será mínima, constituindo ultima ratio na solução dos conflitos sociais, estando restrita aos casos em que for necessária para a proteção do indivíduo e da promoção de valores constitucionais, dentre os quais se destaca a proteção da dignidade da pessoa humana. Buscando discutir as conseqüências do princípio da intervenção mínima no Direito Penal brasileiro, o presente trabalho tem como objetivo estudar os reflexos que tal princípio pode trazer ao sistema jurídico-penal nacional; para tanto, será abordado, num primeiro momento, suas origens históricas e a evolução de sua sistematização no âmbito do Direito Penal, para em seguida ser estudado como o princípio da intervenção mínima influencia a dogmática jurídico-penal; por fim, serão comparadas as conseqüências de um Direito Penal mínimo com um Direito Penal máximo, confrontando-se com as exigências de um Estado Democrático de Direito como o Brasil. O procedimento da presente pesquisa será baseado fundamentalmente na coleta de dados bibliográficos e na sistematização das idéias. Finalmente, no que diz respeito aos métodos empregados, serão utilizados os métodos histórico, comparativo, hipotético-dedutivo, indutivo, dedutivo, sistemático e descritivo, fundamentais a qualquer pesquisa desta natureza.
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/revista/index.php/ETIC/article/viewArticle/1299
A aplicação do princípio da retroatividade benéfica no direito administrativo punitivo à luz da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
Resumo: Este artigo tem por objetivo apontar, com base em leitura do entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, a adequada aplicação do princípio da retroatividade benéfica em sede de direito administrativo punitivo.
Palavras-chave: Punição. Administrativa. Lei. Benéfica. Superveniente. (Ir)retroatividade.
Continua atual a discussão acerca da aplicação ou não do princípio penal da retroatividade da lei benéfica no direito administrativo punitivo. A problemática, todavia, não deve ser fixada pela afirmativa ou negativa de sua aplicabilidade, mas sim do que seria necessário para sua incidência na seara punitiva desse ramo jurídico. A resposta, objeto deste estudo, pode ser dada pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
Não é incomum a autoridade ficar diante de um processo que tenha apurado determinada conduta, cuja tipificação normativa na data que for proferir seu julgamento seja menos gravosa ao imputado do que previa o preceito normativo da época da experimentação do fato típico. Terá, então, que escolher entre qual das normas punitivas administrativas deverá aplicar ao caso: a vigente na época do fato ou a mais benéfica que lhe for superveniente.  
A análise exigirá, primeiramente, incursão acerca da aplicação da lei no tempo e do postulado jurídico do tempus regit actum, que possuem matriz infraconstitucional na Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4.657/42), cujo art. 6º assim dispõe:
“Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”.     
O tempus regit actum consagra a REGRA da aplicabilidade da norma de direito material vigente à época da ocorrência do fato/conduta gerador. Todavia, o referido postulado é mitigado pelo princípio da retroatividade da lei penal benéfica, por força do preceito constitucional estampado no art. 5º, XL, da Carta Política de 1988, ao dispor que:
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
 O princípio da retroatividade da lei penal benéfica, portanto, possui assento constitucional, por interpretação, a contrario sensu, do citado direito fundamental, cuja leitura também pode ser feita da seguinte forma: a lei penal somente retroagirá para beneficiar o réu. Lei penal nova não pode ser aplicada a fatos que lhe forem anteriores se isso prejudicar o réu.
A teoria da retroatividade da norma mais benéfica deve ser aplicada com moderação no processo administrativo, ante o maior dinamismo dessa seara jurídica e a diferença ontológica entre a sanção administrativa e a penal, bem assim em face da independência entre as instâncias. Transportar um princípio de um ramo do direito para outro exige certa ponderação.
Não se está a afirmar, todavia, a impossibilidade de transposição dos princípios do direito penal para o direito administrativo sancionador. Aliás, existe norma de direito não penal que expressamente determina a aplicabilidade do referido princípio aos ilícitos administrativo-tributários (art. 106, II, a e c, do CTN):
“Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
a) quando deixe de defini-lo como infração;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.”
Todavia, alguns julgados de Tribunais Regionais Federais têm direcionado para uma leitura equivocada de que a retroatividade in bonam partem seria um princípio geral de direito, que imperaria independentemente de haver ou não a multa índole tributária, privilegiando uma designação de princípio geral de direito de retroatividade da lei mais benéfica.
A título exemplificativo, confira-se ementas de dois acórdãos proferidos por Tribunais Regionais Federais de Regiões diversas:
“ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EXIGÊNCIA DE KITS DE PRIMEIRO SOCORRO. RESOLUÇÃO CONTRAN 42/98. ART. 12 DA LEI 9.503/97. REVOGAÇÃO PELA LEI 9.72/98. EFEITOS PUNITIVOS. LEI MAIS BENÉFICA. - Com o advento da Lei 9.792/99 foi revogado o art. 112 da Lei 9.503/97, que dava suporte à Resolução 42/98 do CONTRAN, portanto às multas por não portar os estojos de primeiro socorro. Dessa forma, deixou de existir os efeitos punitivosinerentes à norma revogada, até mesmo porque "totalmente destituída de adequação ao fim almejado, razão porque nula ex radice e dela não se pode extrair efeitos jurídicos", conforme bem assinalado na sentença. - "2. "A retroatividade in bonam partem é princípio geral de direito que impera independentemente de haver ou não a multa índole tributária. O simples fato de o direito ao tratamento mais benéfico estar positivado apenas no CTN não afasta a incidência da lei posterior in mellius, uma vez que há absoluta identidade de pressupostos fáticos. (...)" (TRF4, AG 2007.04.00.021914-4, Terceira Turma, Relator Roger Raupp Rios, D.E. 24/07/2007). (AC 200881000113950 - Relator(a) Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira - TRF5 - Primeira Turma - DJE - Data :22/07/2010 - Página 378.) - Apelação e remessa oficial improvidas”. (AC 200130000005852, JUIZ FEDERAL GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, TRF1 - 4ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 DATA:22/03/2012 PAGINA:288.) – grifos novos.
“ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. RESOLUÇÃO CONTRAN Nº 202/06. LEI 11.334/06 QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 218 DA LEI Nº 9.503/97. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO GERAL DE DIREITO DE RETROATIVIDADE DA LEI MAIS BENÉFICA. 1. Trata-se de apelação da sentença que denegou a segurança por não vislumbrar o direito líquido e certo alegado pelo impetrante, ao argumento de incidência da regra geral da irretroatividade da norma posterior (Lei 11.334/06), que deverá respeitar o ato jurídico da imposição da multa de trânsito, perfeito sob a égide da lei anterior (Lei 9.503/97). 2. À época dos fatos (31.05.2006) a Lei 11.334/06, que deu nova redação ao art. 218 da Lei no 9.503/97 (Código de Trânsito), ainda não existia. Porém quando do lançamento ocorrido em 10.08.2006 já se encontrava em vigor a referida Lei 11.334/2006. 3. O CONTRAN expediu a Resolução de nº 202 de 25.08.2006 no sentido de que as alterações do art. 218 do Código de Trânsito se aplicam, apenas, aos Autos de Infrações lavrados a partir de 26.07.2006. 4. Como todo e qualquer princípio, o da irretroatividade da lei, previsto tanto no art. 5º, XXXVI da CF/88, quanto no art. 6º da LICC não tem caráter absoluto. 5. A própria CF/88, expressa em seu art. 5º, XL a retroatividade da lei benigna. 6. A legislação infraconstitucional igualmente prevê a possibilidade de retroação para beneficiar. É o caso do art. 106 do CTN que elenca as possibilidade de aplicação da lei ao fato pretérito. 7. A despeito da Resolução do CONTRAN, a necessária ponderação sobre a aplicação dos princípios em comento, infere-se que o melhor direito está na aplicação retroativa da lei mais benéfica, privilegiando-se, assim, o princípio geral de direito de retroatividade da lei mais benéfica. 8. Reforma da sentença para conceder a segurança no sentido de determinar a aplicação retroativa da Lei 11.334/06, às Notificações de Atuação de nºs 6142278 e 6142279 aplicadas ao impetrante. 9. Apelação provida”. (AC 200881000113950, Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data::22/07/2010 - Página::378.) – grifos ausentes no original.
Os julgados acima retratados alçam a retroatividade benéfica como princípio geral do direito, de modo que ele poderia ser aplicado no direito administrativo punitivo independentemente de previsão legal, ao assentar que “A retroatividade in bonam partem é princípio geral de direito que impera independentemente de haver ou não a multa índole tributária. O simples fato de o direito ao tratamento mais benéfico estar positivado apenas no CTN não afasta a incidência da lei posterior in mellius”.
Ocorre, todavia, que a transposição deve ser feita com reservas e mediante análise específica do caso concreto e da sua norma de regência. Não se pode descurar, a propósito, que o Superior Tribunal de Justiça, em decisão anterior aos julgados acima citados, proclamou ser inaplicável a disciplina jurídica do Código Tributário, referente à retroatividade da lei mais benéfica, às multas administrativas, por ausência de pertinência temática:
“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ESPECIAL - CONSÓRCIOS - FUNCIONAMENTO SEM AUTORIZAÇÃO - MULTA ADMINISTRATIVA - PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI TRIBUTÁRIA - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PERTINÊNCIA TEMÁTICA DOS DISPOSITIVOS - FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL - REEXAME DE PROVAS: SÚMULA 7/STJ. 1. Inaplicável a disciplina jurídica do Código Tributário Nacional, referente à retroatividade de lei mais benéfica (art. 106 do CTN), às multas de natureza administrativa. Precedentes do STJ. 2. Não se conhece do recurso especial, no tocante aos dispositivos que não possuem pertinência temática com o fundamento do acórdão recorrido, nem tem comando para infirmar o acórdão recorrido. 3. Inviável a reforma de acórdão, em recurso especial, quanto a fundamento nitidamente constitucional (caráter confiscatório da multa administrativa). 4. É inadmissível o recurso especial se a análise da pretensão da recorrente demanda o reexame de provas. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e provido”. (RESP 201000134400, ELIANA CALMON, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:03/05/2010) – grifos ausentes no original.
Frise-se que o Superior Tribunal de Justiça não afirmou ser impossível a aplicação do referido princípio da retroatividade benéfica na seara punitiva administrativa. A inaplicabilidade do art. 106, do CTN, deu-se por impertinência temática, consoante texto da chamada da ementa acima transcrita, diga-se, inexistência de previsão legal específica sobre o tema, que determinasse a aplicação retroativa da lei nova mais benéfica.
É indene de dúvidas, portanto, que, por regra, em matéria de multa administrativa se aplica a lei (lato sensu) vigente na época da ocorrência de seu fato gerador, por força do postulado do tempus regit actum, adotado pelo art. 6°, do DL 4.657/42. É indene de dúvidas, igualmente, que a lei (latu sensu) não poderá retroagir para prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CF/88 e art. 6º, do DL 4.657/42).
Isso não que dizer, todavia, que uma lei punitiva administrativa não possa determinar sua aplicação retroativa (a fatos anteriores à sua vigência). Mas a norma somente poderá assim o fazer se for para beneficiar o imputado. E a determinação da retroatividade benéfica deve constar expressamente da norma, que lhe guarde pertinência temática. Não cabe ao aplicador do direito o fazer sem que tenha previsão legal específica para tanto.
A regra é a aplicação da lei (lato sensu) vigente na data da ocorrência de seu fato gerador. Todavia, por meio de instrumento normativo de equivalente ou de superior grau hierárquico ao da norma vigente por ocasião da ocorrência do fato gerador, pode sobrevir lei nova mais benéfica ao imputado, sobre o mesmo tema, que expressamente determine sua retroatividade aos processos com objetos ainda não exauridos ou pendentes de julgamento.
 Com efeito, a norma de direito punitivo administrativo somente retroage se ela própria assim determinar e somente para beneficiar o imputado. Não cabe, como afirmou o STJ, aplicação de norma, como do CTN, fora da pertinência temática. A regra é a aplicação do postulado do tempus regit actum, que somente pode ser afastado quando norma temática (específica) assim o determinar e somente para beneficiar o imputado.
Obviamente, se, eventualmente, uma lei punitiva administrativa determinar sua aplicabilidade aos processos administrativos em curso, indistintamente, sem qualquer menção quanto à sua incidência implicar ou não benefício ao imputado, deverá o interprete conformá-la ao preceito constitucional que veda a retroatividade maléfica, fazendo incidir o postulado do tempus regit actum, que a lei somente pode afastar se for para beneficiar o imputado.
A verificação quanto a se tratar de norma benéfica ou maléfica deve feita, primeiramente, em sede abstrata, ou seja, no quanto da pena cominada para a hipótese prevista legalmente. A propósito, o Superior Tribunal de Justiça:
“RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO.

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