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Fundamentos Sociofilosoficos livro

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Prévia do material em texto

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Universidade Aberta do Brasil
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
Diretoria de Educação a Distância
Fortaleza, CE
2011
Licenciatura de Matemática
Fundamentos Sociofilosóficos da Educação
Maria Idalina de Araújo Bezerra
Ana de Sena Tavares Bezerra
Tereza Cristina Valverde Araujo Alves
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 1 06/04/2016 11:01:02
Créditos
Presidente
Dilma Vana Rousseff
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário da SEED
Luís Fernando Massonetto
Diretor de Educação a Distância
Celso Costa
Reitor do IFCE
Cláudio Ricardo Gomes de Lima
Pró-Reitor de Ensino
Gilmar Lopes Ribeiro
Diretora de EAD/IFCE e 
Coordenadora UAB/IFCE
Cassandra Ribeiro Joye
Vice-Coordenadora UAB
Régia Talina Silva Araújo
Coordenador do Curso de 
Tecnologia em Hotelaria
José Solon Sales e Silva
Coordenador do Curso de 
Licenciatura em Matemática
Priscila Rodrigues de Alcântara
Elaboração do conteúdo
Maria Idalina Araújo Bezerra
Ana de Sena Tavares Bezerra
Tereza Cristina Valverde Araujo Alves
Colaborador
Jane Fontes Guedes
Lívia Maria de Lima Santiago
Equipe Pedagógica e Design Instrucional
Ana Cláudia Uchôa Araújo
Andréa Maria Rocha Rodrigues
Carla Anaíle Moreira de Oliveira
Cristiane Borges Braga
Eliana Moreira de Oliveira
Gina Maria Porto de Aguiar
Glória Monteiro Macedo
Iraci de Oliveira Moraes Schmidlin
Irene Moura Silva
Isabel Cristina Pereira da Costa
Jane Fontes Guedes
Karine Nascimento Portela
Lívia Maria de Lima Santiago
Lourdes Losane Rocha de Sousa
Luciana Andrade Rodrigues
Maria Irene Silva de Moura
Maria Vanda Silvino da Silva
Marília Maia Moreira
Maria Luiza Maia
Saskia Natália Brígido Batista
Equipe Arte, Criação e Produção Visual
Ábner Di Cavalcanti Medeiros
Benghson da Silveira Dantas
Cícero Felipe da Silva Figueiredo
Elson Felipe Gonçalves Mascarenha
Germano José Barros Pinheiro
Gilvandenys Leite Sales Júnior
José Albério Beserra 
José Stelio Sampaio Bastos Neto
Lucas de Brito Arruda
Marco Augusto M. Oliveira Júnior 
Navar de Medeiros Mendonça e Nascimento
Samuel da Silva Bezerra
Equipe Web
Benghson da Silveira Dantas 
Fabrice Marc Joye
Hanna França Menezes
Herculano Gonçalves Santos
Luiz Bezerra de Andrade FIlho
Lucas do Amaral Saboya
Ricardo Werlang 
Samantha Onofre Lóssio 
Tibério Bezerra Soares
Revisão Textual
Aurea Suely Zavam
Nukácia Meyre Araújo de Almeida
Revisão Web
Antônio Carlos Marques Júnior
Débora Liberato Arruda Hissa
Saulo Garcia
Logística
Francisco Roberto Dias de Aguiar
Secretários
Breno Giovanni Silva Araújo
Francisca Venâncio da Silva
Auxiliar
Ana Paula Gomes Correia
Bernardo Matias de Carvalho
Charlene Oliveira da Silveira
Isabella de Castro Britto
Nathália Rodrigues Moreira
Virgínia Ferreira Moreira
Vivianny de Lima Santiago
Wagner Souto Fernandes
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 2 06/04/2016 11:01:03
Bezerra, Maria Idalina de Araújo.
 Fundamentos sociofilosóficos da educação: semestre VI / Maria Ida-
lina de Araújo Bezerra, Tereza Cristina Valverde Araujo Alves, Ana de Sena 
Tavares Bezerra; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. - Fortaleza: UAB/
IFCE, 2011.
151p. : il. ; 27cm.
 1. EDUCAÇÃO - FILOSOFIA. 2. IDEOLOGIA. 3. DOUTRINAÇÃO. 4. 
ENSINO A DISTÂNCIA. I. Joye, Cassandra Ribeiro (Coord.). II. Instituto 
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE. III. Universi-
dade Aberta do Brasil – UAB. IV. Título.
CDD 370.1
B574f
Catalogação na Fonte: Islânia Fernandes Araújo (CRB 3 - Nº 917)
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 3 06/04/2016 11:01:03
SUMÁRIO
AULA 2
AULA 3
AULA 4
Apresentação 6
Referências 146
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
Tópico 4
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
Tópico 4
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
Currículo 150
Filosofia e educação 7
Filosofia e filosofia da educação: diferentes olhares 8
Finalidade da educação: educação e libertação 14
Formação do educador 17
Entraves na formação do educador 19
AULA 1
Ideologia 23
Ideologia e alienação 24
Ideologia e educação 29
Educação e doutrinação 31
Contra-ideologias e educação 35
Pressupostos filosóficos da educação: 
concepções antropológicas 39
Concepção essencialista 41
Concepção naturalista 43
Concepção histórico-cultural 45
Pressupostos filosóficos da educação: 
concepções epistemológicas 50
Concepção inatista 51
Concepção empirista 54
Construtivismo ou sociointeracionismo 57
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 4 06/04/2016 11:01:03
5SUMÁRIO
AULA 6
AULA 7
AULA 8
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
Tópico 4
Tópico 5
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
Tópico 1
Tópico 2
Tópico 3
AULA 5 Fazendo um passeio histórico (I) 63
O século XIX: um período de turbulência 64
Concepções liberais 71
Escola tradicional 75
Escola nova 78
Tendência tecnicista 85
Fazendo um passeio histórico (II) 88
Teorias socialistas 89
Concepção histórico-cultural de Vigotsky 96
Teorias construtivistas 103
Fazendo um passeio histórico (III) 111
Descolarização e Teorias Crítico-reprodutivistas 112
Concepções progressistas: Libertária e Libertadora 118
Pedagogias histórico-sociais 127
Dimensão ético-política da Educação 131
Compreender e ensinar no mundo contemporâneo 132
Competência e qualidade na docência 136
Dimensões da competência: Dimensão técnica, Estética, 
Ética e Política 140
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 5 06/04/2016 11:01:03
6 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação
APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Nesse semestre, para ajuda-lo a compreender o arcabouço teórico das práticas pedagógicas 
que você observa no seu cotidiano e também para auxilia-lo a construir os seus valores 
educacionais, faremos um bom passeio pelos fundamentos sócio-filosóficos da educação. 
Dessa forma, vamos ler e interpretar textos, analisando as dimensões sócio-filosóficas e 
ético-políticas da educação, e vamos conhecer os paradigmas educacionais. Dentre esses, 
destacaremos, o paradigma emergente, a partir do qual que você poderá buscar, no exercício 
da sua profissão, alternativas de transformação de situações da realidade em que se nega o 
princípio da cidadania.
Esperamos que você se encante com a disciplina e procure aproveitar ao máximo o material 
que preparamos. Estaremos juntos, instigando, em cada aula, a sua curiosidade e auxiliando-o 
a dirimir suas dúvidas e inquietações.
Seja bem-vindo(a)! 
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 6 06/04/2016 11:01:03
7
Você já pensou no campo de atuação da Filosofia e sua relação com a educação?
Será que todos vêem o mundo do mesmo modo? Uma mesma pessoa o vê numa 
mesma perspectiva sempre? Que referências usamos para interpretar o mundo? 
O que caracteriza o olhar filosófico? Qual a importância desse olhar na educação? 
Quais os campos de atuação da filosofia? Qual a finalidade da educação? O que 
se espera do educador? O que é necessário na formação do educador? O que 
caracteriza um professor reflexivo? 
Ufa! Quantas perguntas, não? Essas e outras questões procuraremos responder 
nesta primeira aula. Nosso objetivo é ajudá-lo(a) a compreender a filosofia não 
como ciência,mas como base para todas as ciências. Iniciaremos convidando 
você a refletir sobre o que significa o ato de pensar. Será que esse ato nos oferece 
terreno seguro ou nos conduz a incertezas?
AULA 1 Filosofia e Educação
AULA 1
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 7 06/04/2016 11:01:03
8 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação
TÓPICO 1 Filosofia e filosofia da educação: diferentes olhares
ObjetivOs
•	 Refletir	sobre	os	vários	modos	da	consciência	do	
homem	se	relacionar	com	o	mundo
•	 Compreender	a	importânciada	filosofia	e	o	seu	papel	
na	análise	das	diferentes	formas	de	apreensão	do	real
Podemos	 olhar	 o	 mundo	 e	 a	 nós	mesmos	 a	 partir	 de	 diversas	perspectivas:	 do	 mito,	 da	
religião,	do	senso	comum,	da	ciência,	da	arte	e	da	
filosofia.	Essas	abordagens	o	real	coexistem,	sem	
exclusão	entre	si,	e	são	facilmente	observadas	no	
nosso	cotidiano.
Mas,	 em	 que	 consiste	 cada	 uma	 das	
abordagens	acima?	Na	história	do	desenvolvimento	da	humanidade,	como	foram	
vistas?	 Antes	 de	 começarmos	 a	 entender	 melhor	 cada	 uma	 delas,	 no	 entanto,	
precisamos	refletir	sobre	o	que	significa	o	ato	de	pensar.	
Como	 já	perguntamos,	 será	que	 ele	nos	 oferece	um	 terreno	 seguro	 ou,	 ao	
contrário,	nos	faz	mergulhar	num	mar	profundo	de	incertezas?
O QUE É PENSAR?
Acesse	 o	 site	 http://nossaagora.blogspot.
com/2008/04/perguntar-e-pensar.html	 e	 veja	 o	 que	 diz	 o	
texto	“Perguntar	e	pensar”	do	autor	Juan	Alfaro.	
Agora	que	você	já	começa	a	entender	melhor	o	ato	de	
pensar,	vamos	conhecer	um	pouco	sobre	como	apreendemos	
o	real.	Analise	a	Figura	1	e	reflita.
Diante	do	exposto	o	que	a	imagem	sugere?Figura	1	-	O	que	é	pensar?
v o c ê s a b i a?
Por	 outro	 lado,	 mesmo	 que,	 por	 exemplo,	
coexistam	várias	perspectivas	para	se	apreender	
um	mesmo	fenômeno,	pode	haver	ênfase	de	uma	
(ou	mais)	perspectiva(s)	nessa	apreensão.
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 8 06/04/2016 11:01:04
9
ABORDAGENS DO REAL
Há	várias	perspectivas	através	de	que	 se	
pode	observar	o	real.	Vejamos	algumas	delas:
O mitO
O	 mito	 é	 um	 conhecimento	 imediato	
da	 realidade	 que	 dispensa	 explicações	 e	
fundamentos.	 Seu	 objetivo	 é	 explicar	 porque	
a	vida	é	como	é.	Os	mitos	estão	arraigados	nas	
culturas,	 independente	 do	 tempo	 ou	 espaço.	
Caracterizam-se	por	serem	dogmáticos	e,	nas	comunidades	tribais,	onde	existe	um	
predomínio	maior	desta	abordagem,	também	por	ser	coletivo,	uma	vez	que	todas	
as	atividades,	são	ritualizadas	pelo	mito.
Considerando	 a	 definição	 acima,	 o	 que	 significa,	 então,	 ter	 uma	 visão	
mitológica	do	mundo?	Será	que	temos	mitos	destrutivos?.	A	consciência	
mítica	é	muito	forte	nos	povos	de	nosso	milênio,	segundo	Aranha	(2006),	
tudo	 o	 que	 pensamos	 e	 queremos	 se	 situa	 inicialmente	 no	 horizonte	 da	
imaginação,	 nos	 pressupostos	 míticos,	 cujo	 sentido	 existencial	 serve	 de	
base	para	o	trabalho	posterior	da	razão.
A	mesma	autora	nos	convida	a	refletir	sobre	os	mitos	que	embalam	
nossos	 sonhos,	 oferecidos	 pela	 literatura,	 religião	 e	 ideais	 políticos,	 e	
que,	assim,	mobilizam	nossas	convicções	mais	 íntimas.	Por	outro	 lado,	a	
autora	também	alude	àqueles	que,	ao	contrário	dos	que	podem	contribuir	
para	o	 crescimento	da	humanidade,	 conduziram-na	 lamentáveis	 enganos	
que	 tiveram	 conseqüências	 terríveis,	 como	 o	 da	 raça	 pura	 ariana	 e	 da	
superioridade	européia	em	relação	aos	ameríndios.
O sensO cOmum
O	senso	comum	é	um	conhecimento	espontâneo	ou	vulgar,	herdado	por	um	
grupo	social	e	que	é	seguido	pelos	seus	membros.	É	fragmentado,	difuso,	ametódico	
e	assistemático.	Pode	se	caracterizar	como	ingênuo	e	arbitrário,	injusto,	parcial	ou	
reprodutor	da	classe	dominante,	ou	ainda,	evoluir	para	o	bom	senso.
Apesar	de	parecer	ter	apenas	características	negativas,	o	senso	comum	não	é	
algo	tão	ruim	assim.	Na	verdade,	é	importante	saber	que	é	através	do	conhecimento	
do	senso	comum	que	projetamos	nossas	vidas,	adquirimos	certezas	e	confiança	para	
Figura	2	-	Pandora
Fon
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AULA 1 TÓPICO 1
v o c ê s a b i a?
O	real	é	a	coisa	em	si,	é	o	que	verdadeiramente	
existe,	o	que	para	muitos	filósofos	é	inalcançável	
pelo	homem.	A	Realidade	é	como	este	apreende	o	
real,	ou	seja,	uma	relação	subjetiva.
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 9 06/04/2016 11:01:04
Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação10
agir.	Suas	fontes	são	a	tradição,	a	autoridade,	a	
intuição	e	o	bom-senso.
Segundo	 Chauí	 (2000),	 as	 características	
do	senso	comum	são:	 subjetivos,	qualitativos	e	
heterogêneos,	 individualizadores,	 estabelecem	
relação	 de	 causa	 e	 efeito	 entre	 as	 coisas	 e	 os	
fatos;	não	se	surpreendem	nem	se	admiram	com	
a	regularidade,	constância,	repetição	e	diferença	
das	coisas;	identificam	ciência	com	magia.
e O bOm sensO, cOmO se caracteriza?
Como	 uma	 análise	 crítica	 dos	 saberes	
e	 valores	 herdados,	 que	 não	 está	 atrelada	 à	
erudição,	mas	à	capacidade	individual	de	lidar	com	o	que	diz	o	senso	comum	e	a	
sua	pertinência	na	ocasião.	
Contudo,	como	veremos	na	aula	2,	nem	sempre	há	uma	evolução	do	sendo	
comum	para	o	bom	senso	devido	a	influência	da	ideologia	dominante.
a ciência
E o olhar da perspectiva da Ciência, quais as especificidades 
desse olhar?
Antes	de	começarmos	essa	nova	discussão,	 analise	 a	figura	
“Melancolia”	 Figura	 3	 e	 reflita	 sobre	 a	 influência	 da	perspectiva	
científica	na	sociedade	ocidental.
Agora,	 convidamos	 você	 a	 voltar	 ao	 século	 XVII,	 quando	
Galileu	Galilei-	responsável	por	transformar	a	física	e	a	astronomia	
vigentes	desde	a	antiguidade	grega	e	que	tinha	em	Aristóteles,	a	
maior	referência,	desenvolveu	as	bases	do	método	científico.
A	 partir	 das	 proposições	 de	 Galileu,	 nada	 mais	 pôde	
ser	 considerado	 um	 saber	 seguro	 se	 não	 tivesse	 sido	matemática	 passou	 a	 ser	 a	
ferramenta	básica,	uma	vez	que	o	importante	não	era	saber	o	que	são	as	coisas,	nem	
a	que	finalidades	servem,	mas	como	são	e	por	que	surgiram	em	tal	tempo	e	espaço.	
Logo,	 passou	 a	 ser	 imprescindível	 definir	 como	 representar	 matematicamente	
tempo	e	o	espaço.	
Figura	3	-	Melancolia
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v o c ê s a b i a?
Mito	de	Pandora	na	mitologia	grega,	Pandora	(“a	
que	possui	 todos	os	dons”,	ou	“a	que	é	o	dom	
de	todos	os	deuses”)	foi	a	primeira	mulher,	criada	
por	Zeus	como	punição	aos	homens	pela	ousadia	
do	 titã	Prometeu	em	roubar	aos	céus	o	 segredo	
do	fogo.	Para	saber	mais	acesse	o	site	http://www.
historianet.com.br
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 10 06/04/2016 11:01:04
11
Essa	forma	de	ver	as	coisas	traria	segurança	por	ser	capaz	de	descobrir	leis	
gerais	causais	e	justificá-las,	tornando	possível,	prever	acontecimentos	futuros	e	
a	regularidade	destes.	Isso	significava,	em	outras	palvaras,	o	domínio	da	natureza	
pelo	homem.	Dominando	a	natureza,	ele	seria,	então,	capaz	de	transformá-la	de	
acordo	 com	 as	 suas	 necessidades.	 A	 Ciência	 se	 propõe,	 portanto,	 a	 explicar	 a	
realidade.		
Vamos	 refletir	 um	pouco	 sobre	 as	 transformações	 que	 ocorreram	na	 vida	
da	 humanidade	 desde	 a	 introdução	 do	 pensamento	 científico	 por	 Galileu,	 no	
século	 XVII:	 Pensemos	 no	 desenvolvimento	 tecnológico	 que	 mudou	 a	 face	 do	
mundo	e	o	seu	acesso,	bem	como	o	preço	que	a	humanidade	teve	que	pagar	pela	
hipervalorização	da	ciência.
Não	esqueça:	embora	se	apresente	como	rigoroso	e	eficaz,	o	conhecimento	
científico	é	apenas	uma	das	formas	de	compreender	a	realidade.	
O Olhar da FilOsOFia
O que vOcê Observa aO Olhar a Figura 4?
Na	 imagem,	podemos	 ter	uma	 representação	do	que	 seria	 a	
apreensão	do	 real	 a	partir	 do	ponto	de	vista	da	filosofia.	Perceba	
que	na	imagem,	o	corpo	está	 imerso	e	a	cabeça	emerge.	Esse	seria	
o	primeiro	passo	para	desenvolver	essa	abordagem	do	real.	Aranha	
(2006,	p.	20)	ilustra	melhor	esta	questão	nas	citações	abaixo:
“O	 filósofo	 desestabiliza	 certezas	 e	 questiona	 o	 que	 é	
convencional.“		
“A	 Filosofia	 se	 insere	 na	história,	 e	 os	 temas	 com	que	 se	 ocupa	mudam	de	
acordo	 com	os	problemas	que	precisaenfrentar	 e	 que	 exigem	 esse	 tipo	de	
reflexão.”	
Ela	não	nos	oferece	um	corpo	de	saber	acabado	ou	verdades	absolutas,	mas	
a	 capacidade	de	 refletir	 sobre	o	 real	 através	do	
desenvolvimento	 da	 atitude	 filosófica.	 Então,	 o	
que	caracteriza	atitude	filosófica?
A	 atitude	 filosófica	 é	 caracterizada	 pela	
capacidade	de	estranhamento.	Platão	dizia	que	a	
admiração,	o	espanto,	era	condição	fundamental	
para	problematizar.
Fo
n
te
:	
w
w
w
.l
at
in
st
oc
k
.c
om
.b
r
Figura	4	-	Emersão
AULA 1 TÓPICO 1
v o c ê s a b i a?
Você	 poderá	 encontrar	 disponível	 no	 ambiente	
três	definições	sobre	Filosofia
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 11 06/04/2016 11:01:05
Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação12
quais sãO suas características? 
Demerval	 Saviani	 (1986)	 nos	 diz	 que	 a	 reflexão	 propriamente	 filosófica	 é:	
radical,	rigorosa	e	de	conjunto.
Radical:	Busca	as	raízes,	procura	quais	as	bases	do	pensar	e	do	agir.
Rigorosa:	 Utiliza-se	 de	 um	 método	 claramente	 explicitado	 que	 permite	
proceder	com	rigor,	garantindo	a	coerência	e	o	exercício	da	crítica.
De conjunto:	 É	 globalizante	 porque	 relaciona	 os	 diversos	 aspectos	 de	 um	
problema	com	o	todo.	Tudo	visa	à	totalidade.
mas O que é necessáriO para exercitar O FilOsOFar?
Primeiro,	saber	quais	são	nossos	valores,	aqueles	que	orientam	nossa	vida	
familiar,	econômica,	 religiosa,	profissional,	 social	e	política:	descobrir	porque	as	
coisas	são	como	são.
Segundo,	saber	por	que	acreditamos	no	que	acreditamos,	ou	seja,	de	onde	
vêm	nossas	certezas?	Buscar	os	fundamentos.
Terceiro,	 construir	 criticamente	 os	 valores	 que	 orientarão	 nossa	 vida	
individual	e	dentro	da	sociedade.
Ora,	cabe	ao	filósofo	acompanhar	reflexiva	
e	 criticamente	 a	 educação	 para	 que	 promova	
a	 passagem	 de	 uma	 educação	 assistemática,	
fundamentada	 no	 senso	 comum	 para	 uma	
educação	 sistemática,	 intencional.	 A	 Filosofia	
visa	 evitar	 que	 a	 educação	 se	 torne	 dogmática	
ou	 se	 transforme	 em	 adestramento.	 Para	
que	 isso	 aconteça,	 é	 fundamental	 saber	 quais	 os	 pressupostos	 antropológicos,	
epistemológicos	e	axiológicos	que	norteiam	a	prática	educativa.	Tema	de	nossas	
próximas	aulas.
a arte
E na arte, como se caracteriza a abordagem do real?
O	 olhar	 da	 arte	 não	 objetiva	 necessariamente	 fazer	 afirmações	 sobre	 as	
coisas,	mas	fundamentalmente,	lançar	possibilidades	de	interpretações	sobre	estas	
de	forma	criativa,	utilizando-se	de	uma	 linguagem	específica	e	da	 imaginação.	É	
at e n ç ã o !
Qual	seria	então	o	papel	da	filosofia	na	educação?
Fundamentos Socio-filosoficos.indd 12 06/04/2016 11:01:05
13
uma	relação	subjetiva,	tanto	para	quem	faz	como	para	quem	a	contempla.	Não	é	
inferior	nem	superior,	simplesmente	uma	forma	de	ler	o	mundo	e	a	si.
Ao	 criar	 uma	 obra	 de	 arte,	 o	 artista	 parte	 da	 intuição,	 do	 conhecimento	
imediato,	da	forma	concreta	e	individual	de	sua	experiência,	para	a	representação	
dessa	percepção,	de	forma	também	concreta	e	individual.	Ela	se	dirige	primeiramente	
à	 imaginação	e	ao	sentimento.	Veja	o	que	diz	Maria	Lúcia	Arruda	 (	2006,	p.	19)	
sobre	imaginação:	
“A	imaginação	é	a	mediadora	entre	o	vivido	e	o	pensado,	mas	esse	pensamento	
é	de	natureza	analógica.	Ou	seja,	a	imaginação	ao	tornar	o	mundo	em	imagem	
nos	 faz	 pensar.	 Saltamos	 dessas	 imagens	 para	 outras	 semelhantes,	 fazendo	
uma	síntese	criativa.	O	mundo	imaginário	assim	criado	não	é	irreal.	É,	antes,	
pré-real,	isto	é,	antecede	o	real	porque	aponta	suas	possibilidades	em	vez	de	
fixá-lo	numa	forma	cristalizada.	Por	 isso,	alarga	o	campo	do	real	percebido,	
preenchendo-o	de	outros	sentidos”.
Acesse	o	site	http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema025.htm	,	
leia	 o	 poema	 e	 observe	 as	 figuras	 que	 se	 seguem	 e	 depois	 reflita,	 que	 tipo	 de	
mensagem	elas	sugerem.
Figura	5	-	Espírito	da	Manhã Figura	6	-	Gênio
AULA 1 TÓPICO 1
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14 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação
TÓPICO 2 Finalidade da educação: educação e libertação
ObjetivO
•	 Refletir	sobre	o	papel	da	educação	na	sociedade,	pos-
sibilidades	e	limites
No	tópico	anterior	vimos	o	papel	da	filosofia	na	educação.	Neste	tópico,	iremos	refletir	um	pouco	sobre	a	finalidade	da	educação.	Antes	de	refletir	vamos	pensar	um	pouco	sobre	o	que	é	educar.	
Analisemos	os	conceitos	abaixo:
“Educar	(em	latim	educare)	é	conduzir	de	um	estado	a	outro,	é	modificar	numa	
certa	direção	o	que	é	susceptível	de	educação.”	
José Carlos Libâneo
“Do	ponto	de	vista	da	educação	o	que	significa,	então,	promover	o	homem?	
Significa	tornar	o	homem	cada	vez	mais	capaz	de	conhecer	os	elementos	de	sua	
situação	para	intervir	nela,	transformando-a	no	sentido	de	uma	ampliação	da	
liberdade,	da	comunicação	e	colaboração	entre	os	homens.”
Dermeval Saviani
“A	educação	não	é	a	simples	transmissão	da	herança	dos	antepassados	para	as	
novas	gerações,	mas	o	processo	pelo	qual	também	se	torna	possível	a	gestação	
do	novo	e	a	ruptura	com	o	velho.”																			
Maria Lúcia de Arruda Aranha
Como	você	pôde	observar	nas	afirmações	acima,	educar	é	oferecer,	às	novas	
gerações,	as	conquistas	das	anteriores,	subsídios	que	serão	fundamentais	para	que	
se	transformem	em	sujeitos	de	sua	história,	se	construindo	a	si	próprios	de	forma	
consciente.
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15
Nesta	perspectiva,	a	finalidade	da	educação	é	situar	os	 indivíduos	no	seu	
tempo	e	espaço	para	que	possam	romper,	renovar	ou	manter	com	o	estabelecido	
(conhecimentos,	 princípios,	 normas,	 costumes),	 compreendendo-se	 como	 parte	
de	um	coletivo	 e	 compreendendo	 também	que	 suas	 escolhas	 influirão	direta	ou	
indiretamente	no	curso	da	história	dos	demais.	Mas	será	que,	ao	longo	da	história	
da	educação,	essa	foi	a	sua	finalidade?	E	hoje,	quantos	educadores	podem	dizer	
que	realmente	promovem	a	emancipação	de	seus	alunos?
O	papel	da	escola	no	século	XXI	não	é	o	mesmo	da	escola	do	século	XIX,	
por	exemplo,	visto	que	as	mudanças	econômicas,	tecnológicas,	políticas,	sociais	e	
culturais	promoveram	mudanças	significativas	nas	sociedades	modernas	e	a	escola	
está	sendo	obrigada	a	repensar	o	seu	papel	frente	às	novas	demandas	e	exigências	
feitas	no	contexto	da	sociedade	contemporânea.
mas aFinal O que O mudOu?
Em	 suas	 origens,	 a	 escola	 sempre	 apresentou	 linhas	 diretivas	 de	 caráter	
centralista,	 transmissora,	 selecionadora	 e	 individualista.	 Para	 entendermos	 a	
mudança	do	papel	da	escola	nos	dias	atuais	é	preciso	compreender	o	que	se	espera	
da	educação	hoje?	Qual	o	seu	papel	frente	à	sociedade	contemporânea.	No	relatório	
da	UNESCO	“Educação,	um	tesouro	a	descobrir”,	Delors	(1989,	p.	89),	afirma	que	
frente	aos	inúmeros	desafios	do	século	XXI,	cabe	à	educação	o	desafio	de:	
...	transmitir	de	fato,	de	forma	maciça	e	eficaz,	cada	vez	mais	saberes	e	saber-
fazer	 evolutivos,	 adaptados	 a	 civilização	 cognitiva,	 pois	 são	 as	 bases	 da	
competência	do	 futuro.	 Simultaneamente	 compete-lhe	 encontrar	 e	 assinalar	
as	 referências	 que	 impeçam	 as	 pessoas	 de	 ficar	 submergidas	 nas	 ondas	 de	
informações,	 mais	 ou	menos	 efêmeras,	 que	 invadem	 os	 espaços	 públicos	 e	
privados	e	as	levem	a	orientar-se	para	projetos	de	desenvolvimento	individuais	
e	coletivos.	À	educação	cabe	fornecer,	de	algum	modo,	os	mapas	de	um	mundo	
complexo	e	constantemente	agitado	e,	ao	mesmo	tempo,	a	bússola	que	permita	
navegar	através	dele”.
Esse	novo	papel	da	escola	também	é	confirmado	por	Libâneo	(2004),	quando	
este	afirma	que	a	escola	moderna	deve	adotar	um	currículo	centradona	formação	
geral	e	continuada	de	sujeitos	pensantes	e	críticos,	objetivando	assim	a	preparação	
para	 uma	 sociedade	 técnica/cientifica/informacional	 na	 contribuindo	 para	 a	
formação	de	uma	cidadania	crítica	participativa	e	na	formação	ética.	
AULA 1 TÓPICO 2
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação16
Historicamente	 os	 sistemas	 educacionais	 são	 determinados	 pelos	 sistemas	
sociais,	 políticos,	 econômicos	 e	 religiosos.	 Muitas	 vezes	 essas	 estruturas	
são	 extremamente	 pesadas,	 o	 que	 impede	 ou	 dificulta	 bastante	 uma	 prática	
emancipatória.	Mészáros	(2007,	p.	202)	afirma	que	a:	
Educação	 institucionalizada,	 especialmente	 nos	 últimos	 150	 anos,	 serviu	
-no	seu	todo-	ao	propósito	de	não	só	fornecer	os	conhecimentos	e	o	pessoal	
necessário	a	maquina	produtiva	do	sistema	do	capital,	como	também	gerar	e	
transmitir	um	quadro	de	valores	que	legitima	os	interesses	dominantes,	como	
se	não	pudesse	haver	nenhuma	alternativa	à	gestão	da	sociedade,	seja	na	forma	
‘internalizada’	 (isto	 é	 pelos	 indivíduos	 devidamente	 “educados”	 e	 aceitos)	
ou	 através	de	uma	dominação	 estrutural	 e	 uma	 subordinação	hierárquica	 e	
implacavelmente	impostas.	(p.	202)		
Considerando	 essa	 afirmação,	 é	 possível	 fomentar	 o	 desenvolvimento	 de	
uma	 consciência	 crítica	nos	nossos	 alunos	 em	 instituições	 estabelecidas	por	 tais	
estruturas	de	poder?	Para	o	educador	Paulo	Freire	(2006,	p.16),	“a	escola	deve	ser	
também	um	centro	irradiador	da	cultura	popular,	a	disposição	da	comunidade,	não	
para	consumi-la,	mas	para	recriá-la.	A	escola	é	também	um	espaço	de	organização	
política	das	classes	populares”.
Mas	 como	 desenvolver	 um	 projeto	 pedagógico	 que	 contribua	 para	 o	
rompimento	 das	 estruturas	 arcaicas	 da	 educação	 e	 permita	 a	 efetivação	 de	 um	
projeto	 pedagógico	 que	 realmente	 atenda	 aos	 anseios	 da	 sociedade	 moderna,	
especialmente	das	classes	populares,	que	sempre	estiveram	marginalizadas?	
Para	responder	esta	questão	com	mais	propriedade,	observe	as	imagens:
Figura	8	-	Jovens	reunidos
Fo
n
te
:	
h
tt
p
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Figura	7	-	Primeira	missa
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17
TÓPICO 3 Formação do educador
ObjetivO
•	 Compreender	a	importância	da	formação	do	educador	
dentro	do	contexto	da	educação	brasileira
Quais	os	cuidados	que	devemos	ter	com	a	formação	do	professor?Que	 saberes	 específicos	 são	 obrigatórios	 na	sua	formação?	Por	quê?
No	tópico	anterior,	discutimos	sobre	o	que	é	educação	e	qual	
a	sua	finalidade.	Neste,	vamos	refletir	sobre	o	que	é	necessário	para	
que	o	professor	desenvolva	uma	prática	intencional	e	emancipatória.
destacaremOs três aspectOs Fundamentais na FOrmaçãO dOcente:
1.	 Qualificação	profissional:	 conhecimento	 específico	para	
a(s)	área(s)	de	atuação.
2.	 Formação	pedagógica:	domínio	de	saberes	necessários	a	
uma	atuação	sistematizada	e	intencional.
3.	 Formação	 ética	 e	 política:	
consciência	de	que	atuação	docente	
é	 fundamentada	 em	 valores	 que	
são	 disseminados	 pela	 sua	 postura	
diante	 do	 mundo	 e	 que	 estes	
precisam	 ser	 fundamentados	 no	
coletivo	 e	 numa	 consciência	 de	
classe.
Figura	9	-	Professor	conectado
AULA 1 TÓPICO 3
v o c ê s a b i a?
Obtenha	mais	informações	consultando	os	dados	
no	site	http://www.inep.gov.br
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação18
Uma	boa	formação	ética	fará	com	que	o	professor	seja	capaz	de	analisar	o	
que	é	relevante	para	ser	incluído	no	programa,	não	somente	visando	a	transmitir	
saberes	construídos	pela	humanidade,	mas	para	colaborar	com	os	meios	necessários	
aos	fins	estabelecidos,	respeitando	as	especificidades	dos	alunos.		
Somente	 com	 uma	 formação	 sólida,	 o	 professor	 poderá	 sistematizar	
conteúdos,	estratégias	de	ensino	e	intervenções	adequadas.
Durante	muito	tempo,	no	Brasil,	até	quase	os	anos	1980,	a	profissão	docente	
esteve	 atrelada	 ao	 sacerdócio,	 à	 vocação,	 à	 figura	 da	 “tia”,	 principalmente	 no	
ensino	 infantil	 e	 fundamental,	 o	 que	 trouxe	 sérios	 prejuízos	 a	 categoria,	 como	
baixa	remuneração,	falta	de	condições	de	trabalho,	desqualificação	profissional	e		
dificuldade	para	a	organização	da	classe.
Mas	 onde	 deve	 ser	 garantida	 a	 formação	 dos	 professores?	 Somente	 na	
academia?
É	 verdade	 que	 a	 universidade	 é	 o	 lugar	 por	 excelência	 para	 assegurar	
uma	 ampla	 formação	 dos	 nossos	 educadores,	mas	 não	 somente.	A	 escola,	 palco	
de	sua	atuação,	deve	estar	imbuída	desta	ação	porque	cada	instituição	é	singular	
e,	 somente	no	 coletivo,	discutindo	 seus	problemas	 e	possibilidades,	 o	professor	
desenvolverá	ações	eficazes.	
Por	 outro	 lado,	 não	podemos	mais	 permitir	 a	 atuação	 leiga	 no	magistério	
por	termos	a	consciência	de	que	não	bastam	boas	intenções,	mas	competência	para	
atuar	de	forma	intencional.
Os	números	de	repetência	e	abandono,	bem	
como	os	baixos	índices	alcançados	pelos	alunos	
de	ensino	fundamental	e	médio	nas	avaliações	de	
desempenho	 realizadas	 oficialmente,	 no	 nosso	
país,	 apontam	para	 a	 urgência	 no	 investimento	
na	 formação	 de	 nossos	 educadores,	 porque,	
infelizmente,	 o	 fato	 de	 terem	 se	 graduado	 não	
lhes	assegurou	o	domínio	dos	saberes	necessários	
a	sua	atuação	profissional.	
at e n ç ã o !
Para	 aprofundar	 um	 pouco	 mais	 a	 temática,	
pesquise	como	as	ciências,	tais	como	Sociologia,	
Filosofia,	 Economia,	 Psicologia,	 História	 da	
educação,	podem	auxiliar	a	pedagogia.
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TÓPICO 4 Entraves na formação do educador
ObjetivO
•	 Refletir	sobre	as	dificuldades	encontradas	pelos	educa-
dores	na	sua	formação	profissional
No	 tópico	 anterior	 analisamos	 a	 importância	 da	 formação	 do	educador	 dentro	 do	 contexto	 da	 educação	 brasileira.	 Neste	tópico,	 vamos	 estudar	 as	 exigências	 educacionais	 atuais	 e	 as	
dificuldades	encontradas	pelos	educadores	na	sua	formação	profissional.
Para	compreendermos	a	citação	do	autor	José	Carlos	Libâneo	necessitamos	
traçar	alguns	pontos,	ainda	que	de	forma	generalizada,	da	trajetória	da	Educação	
nacional	e,	neste	tocante,	ao	papel	exercido	pelo	educador	num	contexto	traduzido	
por	aceleradas	mudanças	quer	no	plano	legal	como	sócio-filosófico.
A	expansão	do	ensino	na	década	de	60,	ocasionou	o	conseqüente	crescimento	
da	massa	de	professores	e	alunos,	essa	expansão	foi	amparada	pela	Lei	e	Diretrizes	
e	 Bases	 4024/61,	 que	 entre	 outras	 coisas	 incorporava	 uma	 série	 de	 garantias	 à	
sociedade	civil,	no	tocante	a	obrigatoriedade	do	ensino	primário	e	sua	gratuidade		
nas	escolas	públicas,	além	de	estender	essa	gratuidade	nos	níveis	ulteriores,	para	
alunos	carentes.
O	 texto	 legal	de	1961,	ofereceu	pela	primeira	vez	na	história	da	educação	
brasileira,	 um	 arcabouço	 teórico	 e	 metodológico	 em	 que	 se	 podia	 divisar,	 com	
Novas exigências educacionais pedem às 
universidades e cursos de formação para o 
magistério um professor capaz de ajustar sua 
didática às novas realidades da sociedade, do 
conhecimento, do aluno, dos diversos universos 
culturais, dos meios de comunicação.
José Carlos Libâneo
AULA 1 TÓPICO 4
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação20
relativa	 clareza	 as	 diretrizes	 e	 bases	 da	 educação	 nacional.	 Essas	 diretrizes	
promoveram	uma	grande	flexibilizaçãoem	nível	de	migração	interna	do	aluno	que,	
através	do	mecanismo	de	 aproveitamento	de	 estudos	poderia,	 a	partir	de	 então,	
migrar	de	um	ramo	para	outro	de	ensino,	com	mesmo	nível	de	equivalência,	o	que	
antes	não	era	viabilizado.						
A	continuidade	dessa	expansão	foi	reforçada	com	a	Lei	5694/71	da	Reforma	
de	ensino	de	1º	 e	2º	graus,	que	ampliou	a	escolaridade	obrigatória	para	8	anos.			
A	democratização	escolar	oportunizou	acesso	de	grande	camada	da	população	a	
etapas	mais	avançadas	da	escolarização	básica.	Em	contrapartida,	exigiu	a	criação	
de	políticas	públicas	voltadas	 a	destinação	de	 recursos	para	 o	financiamento	da	
escolarização	elementar	a	ser	atendida	na	faixa	etária	de	7	a	14	anos.
A	 criação	 de	 um	 fundo	 destinado	 a	 educação	 já	 tinha	 sido	 prevista	 na	
Constituição	 de	 1932,	 reforçada	 na	 Constituição	 de	 1946,	 e	 na	 Constituição	 de	
1988,	no	seu	artigo	212.	No	governo	de	Fernando	Henrique	Cardoso,	foi	sancionada	
a	 Lei	 9424/96	 que	 cria	 o	 Fundo	 de	Manutenção	 e	 Desenvolvimento	 do	 Ensino	
Fundamental	(FUNDEF)	e	de	Valorização	do	magistério,	destinando	a	aplicação	de	
60%.	Essa	lei	tinha	como	objetivo	a	eliminação	
do	 analfabetismo,	 a	 universalização	 do	 ensino	
fundamental	 e	 a	 remuneração	 condigna	 do	
magistério.	 Hoje	 esta	 lei	 foi	 revogada	 pela	
medida	 provisória	 nº	 339,	 de	 28	 de	 dezembro	
2006,	que	dispõem	sobre	os	 fundos	destinados	
à	 manutenção	 e	 ao	 desenvolvimento	 da	
educação	básica	e	à	 remuneração	condigna	dos	
trabalhadores	da	educação.
Partindo	 deste	 pressuposto	 poderíamos	
considerar	que	esses	avanços	foram	importantes	
para	 corrigir	 as	 imensas	 desigualdades	 sempre	
recorrentes	da	estrutura	educacional	brasileira.	
Essa,	no	entanto,	seria	uma	visão	simplista,	uma	
vez	 que	 essas	 medidas	 ainda	 são	 insuficientes	
no	 sentido	 lato	 para	 fazer	 frente	 à	 histórica	
defasagem	regional,	 em	 termos	de	 aplicação	de	
recursos,	senão	vejamos
at e n ç ã o !
É	 importante	que	você	 consulte	 a	Constituição,	
mais	 especificamente	 o	 artigo	 212.	 Acesse	 o	
site	 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L9394.htm	e	conheça	mais	 sobre	as	 leis	de	
Valorização	do	magistério.
s a i b a m a i s !
Saiba	 mais	 sobre	 o	 FUNDEF	 e	 agora	 sobre	 o	
FUNDEB	consultando	o	site:	
www.mec.gov.br
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21
•	 O	 crescente	 aumento	 da	 massa	 escolarizada	 X	 incipiente	 condições	
infra-estruturais	da	educação	básica;
•	 A	falta	de	sintonia	entre	os	níveis	de	ensino,	a	educação	básica	não	
contou	com	o	suporte	necessário	das	universidades	na	preparação	e	
adequação	 dos	 profissionais	 do	 magistério	 frente	 às	 especificidades	
da	 educação	 básica,	 o	 que	 acarretou	 como	 conseqüência	 a	 lenta	
desqualificação	 e	 precarização	 dos	 profissionais	 de	 ensino,	 através	
de	cursos	de	licenciatura	com	currículos	aligeirados,	alguns	deles	no	
formato	seqüencial;
•	 Escassez	 de	 Concurso	 de	 provas	 e	 títulos	 para	 ingresso	 na	 carreira	
de	magistério,	como	forma	de	suprir	esta	carência	surge	a	figura	do	
professor	 temporário	 no	 provimento	 de	 cargos	 para	 o	 magistério	
público,	precarizando	as	relaçõs	de	trabalho.
•	 Modelo	neoliberal	foi	também	estendido	à	educação,	onde	a	máxima	é	
o	ter	preponderando	sobre	o	ser.	A	mais	valia	produtiva	era	traduzida	
pelo	aumento	de	vagas	e	a	natural	absorção	da	mão	de	obra	docente	
tendo	 como	 prerrogativa	 legal	 a	 (LDB	 9394/96)	 cuja	 determinações	
expressas	 no	 Plano	Nacional	 de	 Educação	 (	 )	 instituiu	 a	Década	 da	
Educação,	em	sintonia	com	a	Declaração	Mundial	sobre	Educação	para	
Todos	prevendo	que	todos	os	professores	da	Educação	Básica	tivessem	
nível	superior,	sem	se	preocupar	com	a	qualidade	dessa	formação.
•	 Disparidades	regionais	na	aplicação	de	recursos	que	criaram	ilhas	de	
excelência	em	áreas	tradicionalmente	contempladas,	como	as	regiões	
sul	 e	 sudeste,	 tradicionalmente	 as	 mais	 aquinhoadas	 com	 recursos	
orçamentários	 da	 União	 que	 utiliza	 os	 indicadores	 do	 número	 de	
alunos	matriculados	no	cômputo	das	receitas	e	despesas.
•	 O	descompasso	na	práxis	de	sala	de	aula	no	domínio	das	Tecnologias	
de	informação	e	comunicação	(Tic´s)	em	algumas	escolas	os	professores	
fazem	 uso	 da	 convergência	 de	 mídias	 interativas,	 e,	 em	 outras,	 há	
somente	disponibilidade	do	quadro	e	giz.	Acrescenta-se	a	este	fato,	a	
ausência	nos	currículos	das	licenciaturas	de	uma	disciplina	que	trate	
das	mídias	na	educação	numa	perspectiva	crítica.
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Diante	dessas	questões,	o	professor	se	vê	diante	as	incertezas	de	um	contexto	
globalizado	ou	diria	 está	 submerso	“nas	 incertezas”	de	uma	prática	pedagógica	
que	não	consegue	dá	respostas	aos	grandes	problemas	vivenciados	na	sala	de	aula	
e	da	contemporaneidade.	Como	diria	Moran:		
Muitas	formas	de	ensinar	hoje	não	se	justificam	mais.	Perdemos	tempo	demais,	
aprendemos	muito	pouco,	desmotivamo-nos	continuamente.	Tanto	professores	
como	alunos	temos	a	clara	sensação	de	que	muitas	aulas	convencionais	estão	
ultrapassadas.	 Mas	 para	 onde	 mudar?	 Como	 ensinar	 e	 aprender	 em	 uma	
sociedade	mais	interconectado.	
(MORAN, 2000, p.11)
Nesta	ótica	deste	autor	a	maior	contribuição	do	conhecimento	do	século	XX	
foi	o	conhecimento	dos	limites	do	conhecimento.	A	maior	certeza	que	nos	foi	dada	
é	a	da	indestruibilidade	das	incertezas.
Concluiríamos	 que	 os	 impasses	 ou	 entraves	 na	 formação	 de	 educadores	
tendem	a	ser	relativizados	ao	se	contemplar	a	educação	não	como	redentora	das	
mazelas	 sociais	e	muito	menos	na	 sua	 forma	compensatória,	mas	como	condição	
substantiva	 que	 envolva	 a	 ótica	 planetária,	 mundial	 e	 globalizante,	 portanto,	
superando	 a	 matriz	 epistemológica	 cartesiana	 que	 privilegiou	 a	 separação	 em	
detrimento	a	ligação,	e	a	análise	em	detrimento	da	síntese.	
At i v i d a d e s d e a p r o f u n d a m e n t o
1.	Você	poderia	apontar	na	sua	vida	cotidiana	situações	de	resoluções	de	problemas	baseado	no	senso	
comum	?	Descreva-as	e	se	possível	compare-as	se	estas	mesmas	resoluções	fossem	solucionadas	utilizando-
se	a	visão	científica.
2.	Para	aprofundar	um	pouco	mais	o	tema,	pesquise	sobre	um	dos	temas	(ou	os	temas)	a	seguir:	Educação	
formal	e	informal.
3.	Finalidade	da	educação	na	Grécia	antiga	(Esparta	e	Atenas),	na	Idade	Média	e	na	Idade	Moderna.
Finalidade	da	educação	nas	comunidades	tribais.
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23
AULA 2 Ideologia
Caro(a) aluno(a),
Na aula anterior mencionamos várias vezes a palavra ideologia. 
Você sabia que a ideologia é fundamental na organização das nossas ações 
cotidianas, responsável por nossas escolhas e que, no sentido restrito, o senso 
comum é o espaço por excelência de sua influência? É o que vamos discutir a 
seguir. Fique atento!
Os conceitos de ideologia, a história da criação destes conceitos e as 
características da ideologia, no sentido restrito, para entendermos as 
influências que sofremos na nossa formação e posicionamentos políticos, 
econômicos e sociais;
•	 O significado e conseqüências da alienação
•	 A força da ideologia na educação
•	 A diferença entre educação e doutrinação
•	 As condições objetivas para desvelar a ideologia dominante e criar uma 
contra ideologia
Convidamos você a mergulhar no universo de informações, reflexões e 
desafios que propomos, para que possa desenvolver um posicionamento 
crítico sobre a ideologia na sua perspectiva ampla e restrita. 
Bom aproveitamento! 
AULA 2
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24 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação
1.1 CONCEITOS DE IDEOLOGIA
O	conceito	de	ideologia	aparece	pela	primeira	vez,	no	final	do	século	XVIII,	
com	o	francês	Desttut	de	Tracy,	para	designar	a	ciência	das	idéias.	O	autor	parte	da	
crença	na	razão,	típica	de	sua	época,	com	o	intuito	de	submeter	às	idéias	ao	mesmo	
processo	de	análise	e	compreensão	dos	objetos	naturais.
a) raymOnd Williams
Já	 no	 século	 XX,	 Raymond	Williams	 (na	 obra	 Cultura	 e	 sociedade,	 1958)	
define	ideologia	em	três	concepções	básicas:
•	 Sistema	 de	 crenças	 de	 uma	 classe	 ou	 grupo	 social,	 incluindo-se	 os	
valores,	idéias	e	projetos	de	um	grupo	ou	classe	social	específico.
•	 Sistema	 de	 crenças	 ilusórias	 –	 falsa	 consciência.	 Essas	 crenças,	
baseadas	em	critérios	impossíveis	de	ser	comprovados,	contrastariam	
com	o	conhecimento	verdadeiro	ou	científico.
•	 Processo	geral	de	produção	de	significados	ou	idéias.
Aos	dois	primeiros	conceitos	chamaremos	de	conceito	restrito	e	ao	último	de	
conceito	amplo	ou	geral	de	ideologia.	Vamos	entender	melhor	o	conceito geral.
Cada	pessoa	tem	seus	valores	e	crenças	com	os	quais	orienta	suas	escolhas.	
Ideologia	 seria,	 então,	 um	 conjunto	 de	 idéias	 sistematizadas	 que	 servem	 para	
orientar	nossas	ações.
E no sentido restrito, o que significa?
TÓPICO 1 Ideologia e alienação
ObjetivOs
•	 Compreender	os	conceitos	de	ideologia,	amplo	e	restrito
•	 Identificar	as	características	da	ideologia	no	seu	conceito	
restrito
•	 Refletir	sobre	as	causas	e	conseqüências	da	alienação	na	
sociedade	capitalista
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25
b) engels e marx
Vamos	voltar	ao	século	XIX,	ao	livro	A	ideologia Alemã,	de Friedric Engels 
(1820-1895) e Karl Marx (1818-1883),	para	compreendermos	a	interpretação	do	
que	 caracterizava	 a	 sociedade	 capitalista	 e	 o	 conceito	 de	 ideologia	 para	 os	 dois	
autores.	Esse	conceito	significou,	na	verdade,	uma	verdadeira	revolução,	um	marco,	
na	história	do	pensamento	político,	econômico	e	social	da	humanidade.		
A	obra	de	Engels	e	Marx	apresenta	a	ideologia	em	três	elementos	básicos:
•	 Separação:	A	vida	humana	está	dividida	em	duas	instâncias:	a	infra-
estrutura,	 esfera	da	produção	material	 e	 a	 superestrutura,	 esfera	da	
produção	de	idéias.	A	infra-estrutura	se	compõe	da	economia,	produção	
de	bens	necessários	à	sobrevivência	das	pessoas;	e	a	superestrutura	se	
constitui	da	moral,	do	direito,	da	política	e	das	artes.
•	 Determinação:	 É	 a	 relação	 decorrente	 da	 separação	 entre	 infra-
estrutura	 e	 superestrutura.	Analisando	 essa	 separação,	 verifica-se	 o	
domínio	estabelecido	pela	 infra-estrutura	 sobre	a	 superestrutura:	 as	
relações	 de	 produção	 determinam	 a	 organização	 social	 (jeito	 de	 ser	
e	 viver	 de	 um	 povo).	 No	 princípio	 de	 determinação,	 as	 idéias	 são	
originadas	na	vida	material	e	por	ela	definidas.
•	 Inversão:	Distorção	da	realidade.	Numa	metáfora,	a	obra	A	ideologia	
Alemã	mostra	 como	a	 ideologia	 faz	 com	que	a	vida	apareça	para	os	
homens:	 como	 se	 estivesse	 no	 interior	 de	 uma	 câmera	 fotográfica,	
de	cabeça	para	baixo.	Isto	é,	ela	aparece	para	os	homens	de	maneira	
inversa	àquilo	que	é	na	realidade.	O	saber	científico,	saber	real,	seria,	
pois,	 o	 elemento	 capaz	 de	 desmascarar	 a	 ideologia,	 recolocando	 o	
mundo	 de	 cabeça	 para	 cima,	mostrando	 a	 realidade	 tal	 como	 ela	 é.	
Segundo	 os	 autores,	 destruindo	 a	 inversão	 que	 a	 ideologia	 produz,	
o	conhecimento	científico	 iria	revelar	os	mecanismos	de	separação	e	
determinação.	Vejamos	as	palavras	dos	autores:
Os	homens	são	os	produtores	de	suas	representações,	de	suas	idéias	etc.,	mas	os	
homens	reais	e	ativos,	tal	como	se	acham	condicionados	por	um	determinado	
desenvolvimento	 de	 suas	 forças	 produtivas	 e	 pelo	 intercâmbio	 que	 a	 ela	
corresponde	até	chegar	às	suas	formações	mais	amplas.	A	consciência	jamais	
pode	ser	outra	do	que	o	ser	consciente,	e	o	ser	dos	homens	é	o	seu	processo	
de	 vida	 real.	 E	 se,	 em	 toda	 ideologia,	 os	 homens	 e	 suas	 relações	 aparecem	
AULA 2 TÓPICO 1
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação26
ATENTAR PARA ESPAÇO NO FIM DO ICONE (TENTAR 
MANTER SEMPRE ESSE MESMO ESPAÇAMENTO)
invertidos	como	uma	câmara	escura,	tal	fenômeno	decorre	
de	seu	processo	histórico	de	vida,	do	mesmo	modo	por	que	
a	inversão	dos	objetos	na	retina	decorre	de	seu	processo	
de	vida	diretamente	físico,	processo	de	vida	real,	expõe-se	
também	o	desenvolvimento	dos	reflexos	ideológicos	e	dos	
ecos	desse	processo	de	vida.
...Não	é	a	consciência	que	determina	a	vida,	mas	a	vida	
que	determina	a	consciência.	
(MARX; ENGELS, p.37)
Observe	 a	 figura	 anterior	 (imagem)	 e	 a	
relacione	ao	que	Aranha	(2006,	p.	81)	afirma,	na	esteira	do	pensamento	de	Marx	e	
Engels,	sobre	ideologia:	“Ao	ocultar	a	situação	concreta	de	exploração,	a	ideologia	
descreve	uma	realidade	abstrata,	universal,	lacunar	e	invertida.
Reflita	um	pouco	sobre	isso	e	depois	volte	para	à	leitura.
c) gramsci
Para	concluir	esta	primeira	parte,	vamos	refletir	sobre	o	conceito	positivo	
de	 ideologia	para	pensador	Antonio	Gramsci	 (1891-1937),	 que	 a	defendia	 como	
base	da	estrutura	social.	Para	o	autor,	a	ideologia,	quando	incorporada	como	senso	
comum,	 estabeleceria	 o	 consenso,	 garantindo	 hegemonia	 de	 uma	 determinada	
classe	que	assume	o	poder.	De	acordo	com	Gramsci,	“O	significado	mais	amplo	de	
uma	concepção	de	mundo	que	se	manifesta	implicitamente	na	arte,	no	direito,	na	
atividade	econômica,	em	todas	as	manifestações	de	vidas	individuais	e	coletivas	e	
que	tem	por	função,	conservar	a	unidade	do	bloco	social”.	
1.2 ALIENAÇÃO NA SOCIEDADE INDUSTRIAL E PÓS-MODERNA
Agora	que	já	compreendemos	um	pouco	melhor	os	conceitos	de	ideologia,	
vamos	 entender	 como	 aconteceram	 os	 processos	 de	 alienação	 na	 sociedade	
industrial	e	pós-moderna.	
a) relações de trabalhO e alienaçãO
Na	 sociedade	 industrial,	 que	 se	 desenvolveu	 nos	 séculos	 XVII	 e	 XVIII,	 o	
trabalhador	 trocava	 o	 fruto	 do	 seu	 trabalho	 por	 um	 salário,	 caracterizando-se,	
assim,	a	perda	da	posse	de	sua	produção.	Com	a	perda	da	sua	produção,	o	próprio	
indivíduo	 não	mais	 se	 pertence,	 porque	 não	 escolhe	 o	 ritmo	 de	 trabalho,	 seus	
horários,	o	valor	do	seu	salário,	não	planeja	o	que	faz,	apenas	executa	comandado	
Figura	1	-	Câmera	fotográfica
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27
de	 fora	 por	 forças	 que	 lhe	 são	 estranhas.	 Não	
bastando	 isso,	 a	 alienação	do	produto,	provoca	
alienação	 do	 próprio	 indivíduo	 porque	 este	
deixa	de	ser	referência	de	si.
No	 século	 XX,	 o	 norte–americano	
Henry	Ford	 introduziu	 a	novidade	da	 linha	de	
montagem.	A	idéia	de	Ford	provocou	a	perda	da	
totalidade	da	produção	por	parte	do	trabalhador,	
que	 passou	 a	 ser	 responsável	 por	 apenas	 uma	
parte	da	produção.		
Frederick	Taylor	(1856-	1915),	por	sua	vez,	estabeleceu	as	bases	do	aumento	
da	 produção,	 economizando	 tempo,	 condicionando	 o	 trabalhador	 a	 evitar	
gestos	entendidos	como	desnecessários	durante	a	produção,	uma	vez	que	até	as	
necessidades	 fisiológicas	 eram	 cronometradas	 e	
controladas.	
O	 sucesso	 do	 taylorismo,	 que	 previa	 e	
controlava	melhor	as	fases	da	produção,	fez	com	que	
se	expandisse	a	idéia	para	domínios	fora	da	fábrica.	
Houve,	 assim,	 um	 grande	 desenvolvimento	 do	
setor	de	planejamento,	o	que	resultou	numa	grande	
burocratização.	 Este	 modelo	 de	 objetividade	 e	
racionalidade	caracterizou-se	por	uma	técnica	social	
de	 dominação.	 A	 eficiência	 tornou-seum	 dos	 principais	 critérios	 dos	 negócios	
através	das	premiações	gratificações	e	promoções,	estimulou-se	a	competição	entre	
os	 trabalhadores,	 fato	que	dificultava	a	solidariedade	entre	eles	e	os	 identificava	
com	 os	 interesses	 da	 empresa	 em	 que	 trabalhavam.	 Pior,	 esses	 mesmos	 valores	
invadiram	 os	 lares	 e	 influenciaram	 a	 educação,	 perfeitamente	 representados	 na	
tendência	tecnicista	que	chega	ao	Brasil	na	década	de	60	(assunto	que	estudaremos	
na	aula	V.)
b) alienaçãO e inFOrmaçãO 
E na nossa sociedade, como se caracteriza o processo de alienação? 
As	relações	de	trabalho	se	modificaram.	Com	o	desenvolvimento	tecnológico	
e	as	modificações	na	produção,	o	setor	predominante	passou	a	ser	o	setor	de	serviços	
que	envolvem	as	áreas	de	comunicação	e	informação,	educação,	saúde,	comércio,	
Figura	2	-	Industria	Automobilística
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AULA 2 TÓPICO 1
s a i b a m a i s !
Vamos	 lembrar	 o	 conceito	 de	 alienação	 no	
dicionário	 Aurélio	 (2006):	 “falta	 de	 consciência	
dos	problemas	políticos	e	sociais;	afastamento	da	
sociedade;	sensação	de	marginalidade.”
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação28
finanças,	lazer,	entre	outras.	Uma	das	principais	
características	dessas	novas	relações,	o	trabalho	
especializado	 e	 a	 flexibilização,	 superando	 o	
modo	 de	 produção	 fordista	 e	 modificando	 as	
relações	patrão	e	empregado.
Contudo,	essas	mudanças	não	 libertaram	
as	 pessoas	 dos	 processos	 de	 alienação	 a	 que	
estavam	 submetidas	 no	 modelo	 anterior,	
que	 tinha	 no	 setor	 secundário	 seu	 principal	
representante,	apenas	estes	se	modificaram.
Como,	você	deve	estar	se	perguntando:
O	 fato	 de	 o	 mercado	 exigir	 pessoas	
melhor	preparadas,	em	muitos	casos	graduados	
e	especialistas,	não	tornaria	mais	fácil	desvelar	a	
ideologia	dos	grupos	dominantes?	
É	 aparentemente	 sim.	 Todavia,	 o	
desemprego,	a	terceirização	dos	serviços	e	o	aumento	do	mercado	informal	fazem	com	
que	os	trabalhadores	tenham	que	aceitar	as	condições	estabelecidas,	determinadas	
pelo	mercado	financeiro,	que	tem	nas	áreas	de	comunicação	e	informação	seu	maior	
veículo	de	disseminação	dos	valores	necessários	a	sua	expansão	e	dominação.
A	realidade,	o	mundo	real	dos	homens,	desaparece,	então,	em	detrimento	
de	 uma	 outra	 realidade,	 que	 é	 um	 simulacro,	 um	 espetáculo	 em	 que	 as	 ações	
dos	homens	passam	a	ser	mediadas	pelas	 influências	recebidas;	em	que	eles	são	
expostos	a	uma	série	de	necessidades	que	não	são	reais	e	a	um	isolamento	cada	vez	
maior.	Nessa	perspectiva,	até	o	lazer	torna-se	alienado.
Não	 bastando	 tudo	 o	 que	 traz	 essa	 nova	 realidade,	
o	mundo	do	consumismo	gera	uma	exclusão	gigantesca	de	
pessoas	que	não	 têm	 acesso	 ao	 conhecimento	 e	 aos	 frutos	
da	 riqueza	 produzida,	 uma	 verdadeira	 massa	 humana	 de	
marginalizados	pelo	sistema.	
O	que	fazer	então	pra	usar	os	meios	de	comunicação	
e	 a	 educação	 a	 serviço	 da	 emancipação	humana?	Este	 é	 o	
assunto	do	nosso	próximo	tópico.Figura	3	-	Pessoas	conversando
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Processo	de	multifuncionalização	de	sua	mão-de-
obra,	uma	vez	que	por	se	basear	na	mecanização	
flexível	 e	 na	 produção	 para	 mercados	 muito	
segmentados,	 a	 mão-de-obra	 não	 podia	 ser	
especializada	em	funções	únicas	e	restritas	como	
a	fordista.	Para	atingir	esse	objetivo	os	japoneses	
investiram	na	educação	e	qualificação	de	seu	povo	
e	o	toyotismo,	em	lugar	de	avançar	na	tradicional	
divisão	do	trabalho,	seguiu	também	um	caminho	
inverso,	incentivando	uma	atuação	voltada	para	o	
enriquecimento	do	trabalho.
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TÓPICO 2 Ideologia e educação
ObjetivOs
•	 Perceber	o	caráter	ideológico	da	educação
•	 Compreender	a	importância	de	um	sistema	educacional	
brasileiro,	para
•	 Orientar	a	definição	dos	rumos	da	educação	em	nosso	país
Já	vimos	que	é	ingênuo	pensar	na	educação	como	uma	prática	a	política,	como	um	espaço	neutro,	porque	esta	reflete,	sem	sombra	de	dúvida,	os	interesses	antagônicos	das	forças	existentes	na	sociedade	em	que	
está	inserida.	Logo,	só	é	possível	fazer	uma	análise	da	educação,	se	a	situarmos	num	
tempo	e	num	espaço.
Neste	tópico,	refletiremos	um	pouco	sobre	o	caráter	ideológico	da	educação	
e	sobre	os	cuidados	que	os	educadores	precisam	ter	para	não	se	transformarem	em	
reprodutores,	 o	 que	 o	 educador	 Paulo	 Freire	 (1996,	 p.27),	 chamou	 de	 educação	
bancária,	como	vemos	a	seguir:
Quanto	mais	 criticamente	 se	 exerça	a	 capacidade	de	aprender	 tanto	mais	 se	
constrói	o	que	venho	chamando	“curiosidade	epistemológica”,	sem	a	qual	não	
alcançamos	o	conhecimento	cabal	do	objeto”.
“É	isto	que	nos	leva...	à	crítica	e	à	recusa	ao	ensino	“bancário”
Ao	definir	a	sua	prática	educativa,	o	educador	é	orientado	internamente	por	
uma	ideologia,	no	sentido	amplo.	O	problema	é	saber	como	se	construiu	essa	mesma	
ideologia	internamente,	e	até	que	ponto	o	educador	não	foi	 induzido	a	acreditar	
no	que	o	 impulsiona,	 sem	uma	reflexão	critica	dos	a	 respeito	dos	pilares	de	 sua	
formação,	uma	vez	que	o	senso	comum	é	o	espaço,	por	excelência,	da	disseminação	
da	ideologia	dominante.	Esse	é	um	perigo	denunciado	por	Gramsci,	filósofo	italiano	
(1891-1937),	sobre	o	qual	já	falamos	no	tópico	anterior.
AULA 2 TÓPICO 2
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De	 acordo	 com	 Freire	 (1996,	 p.24),	 “a	 reflexão	 critica	 sobre	 a	 prática,	 se	
torna	uma	exigência	da	relação	teoria/prática	sem	a	qual	a	teoria	pode	ir	virando	
blábláblá	e	a	prática,	ativismo.”	É	por	esta	razão,	que	o	professor	precisa	desenvolver	
uma	práxis	alicerçada	no	chão	da	escola	 (levando	em	consideração	as	condições	
políticas,	 sociais	e	econômicas);	em	teorias	que	 fundamentem	sua	prática	e	uma	
reflexão	rigorosa	desta,	para	que	desenvolva	suas	atividades	de	forma	intencional.
O	problema	que	se	põe	é	que	o	educador	partirá	de	suas	próprias	concepções	
sobre	 educação	 e	 as	 suas	 finalidades:	 se	 for	 um	 professor	 progressista,	 buscará	
estratégias	 de	 intervenção	 que	 desvelem	 a	 ideologia	 dominante,	 objetivando	
uma	 ruptura;	 se	 for	 conservador,	 consciente	 ou	 inconsciente	 (quando	 acredita	
desenvolver	uma	educação	neutra),	organizará	sua	prática	de	modo	a	manter	o	que	
está	estabelecido.	A	forma	como	a	escola	se	organiza,	os	textos	e	livros	didáticos	
que	utiliza	até	a	forma	como	os	utiliza,	o	enfoque	dado	as	disciplinas,	o	currículo	
determinam	que	tipo	de	educação	esteja	propondo	e	a	serviço	de	que/quem	ela	
está.
É	por	 esta	 razão	que	 se	 faz	necessário	 ampliar	 esta	discussão	para	 toda	 a	
sociedade	 civil	 e	 suas	 representações,	 para	definir	de	que	 educação	 o	 seu	povo	
necessita.	Ou	seja,	que	 sociedade	precisa	 ser	construída	a	médio	e	 longo	prazo,	
definindo	para	tanto,	o	seu	sistema	educacional.
Sobre	como	se	pensa	a	educação	no	Brasil,	Saviani	(1988)	fez	uma	análise	da	
Lei	de	Diretrizes	e	base	de	1961	e	denunciou	o	aspecto	precário	da	Lei,	uma	vez	
que	a	ela	não	está	subjacente	uma	teoria	capaz	de	possibilitar	a	construção	de	um	
verdadeiro	sistema	educacional	brasileiro.
Na	mesma	 análise,	 Saviani	mostra	 a	 diferença	 entre	 sistema	 de	 ensino	 	 e	
estrutura	 de	 ensino,	 esta	 última	 caracterizada	 pela	 ausência	 de	 plano,	 pela	
assistematicidade	da	ação	e	pela	 inexistência	de	projetos	claramente	expostos	e.	
Vejamos	o	que	afirma	Aranha	(2006)	ao	interpretar	o	trabalho	de	Saviani:Se	não	existe	uma	teoria	explicita	subjacente,	a	ação	perde	a	intencionalidade,	
a	unidade	e	a	coerência,	mas	não	deixa	de	ser	orientada	pelos	valores	vigentes,	
expressos	 pelos	 interesses	 dos	 grupos	 dominantes.	 E	 eis	 ai	 de	 novo	 a	 ação	
silenciosa	da	 ideologia.	Pois	o	direito,	 como	 toda	elaboração	da	consciência	
humana,	 reflete	 as	 condições	 estruturais	 da	 sociedade	 em	 determinado	
momento	histórico,	 e	 as	 leis,	 como	 são	 feitas	pela	 elite,	vêm	em	defesa	dos	
valores	daqueles	que	já	detêm	privilégios.
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TÓPICO 3 Educação e doutrinação
ObjetivO
•	 Estabelecer	a	diferença	entre	educação	e	doutrinação
3.1 EDUCAÇÃO E DOUTRINA
Para	 podermos	 tratar	 de	 educação	 e	 doutrinação	 convém	 retomar	 nossas	
reflexões	sobre	o	papel	da	educação.	Vejamos	o	que	diz	Aranha	sobre	esta	questão:
É	a	educação	que	mantém	viva	a	memória	de	um	povo	e	dá	condições	para	a	
sua	sobrevivência	material	e	imaterial.	A	educação	é,	portanto,	fundamental	
para	uma	socialização	e	humanização,	com	vistas	à	autonomia	e	a	emancipação.	
Trata-se	 de	 um	 processo	 que	 dura	 à	 vida	 toda	 e	 não	 se	 restringe	 à	 mera	
continuidade	da	tradição,	pois	supõe	a	possibilidade	de	rupturas,	pelas	quais	a	
cultura	se	renova	e	o	ser	humano	faz	história.	
(ARANHA, 2006, p.67)
Dessa	forma	seriam	necessárias	três	coisas	para	educar:
1. Informar:	Socializar	as	produções	materiais	e	imateriais	construídas	
pela	humanidade	historicamente,	de	forma	concreta;	
2. Discutir:	Refletir	sobre	os	condicionamentos	históricos	da	produção	
do	conhecimento,	o	acesso	a	este,	as	condições	objetivas	de	superação	
dos	 processos	 de	 dominação	 e	 exclusão,	 através	 da	 promoção	 de	
debates	no	interior	dos	espaços	educativos;
3. Criar:	 fomentar	 a	 curiosidade	 epistemológica	 para	 que	 o	 novo	 seja	
gestado.
AULA 2 TÓPICO 3
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação32
Tratemos	agora	de	doutrina,	para	depois	fazermos	a	relação	entre	doutrinação	
e	educação.	Vejamos	o	conceito	de	doutrina:
DOUTRINA:	 Conjunto	 de	 princípios,	 de	 idéias	 que	 servem	 de	 base	 a	 um	
sistema	religioso,	político,	filosófico	ou	científico.	
(Aurélio, 2006)
Doutrinar,	então,	seria	ensinar	princípios.
3.2 BREVE HISTÓRIA DO SURGIMENTO DA 
ESCOLA
Século VI a.C.	 –	 Surgem	 as	 primeiras	
escolas	 nas	 cidades	 da	Grécia	 antiga.	 Elas	 tinham	
como	objetivo	educar	os	jovens	para	suprir	as	suas	
necessidades	(da	cidade).	Eram	destinadas	aos	que	
podiam	 dedicar-se	 ao	 ócio,	 ocupar-se	 das	 funções	
nobres	de	pensar,	governar	e	guerrear.
Século VI d.C.	 -	 Surgem	 as	 primeiras	
escolas	nos	mosteiros.	Tinham	como	a	finalidade		
de	instruir	os	noviços.
–	 Por	 ocasião	 do	 Renascimento	 urbano,	
foram	criadas	escolas	seculares,	que	contestavam	
o	 ensino	 religioso,	 considerado	 muito	 formal;	
apresentavam	uma	proposta	ativa	cujo	interesses	
estavam	voltados	para	a	burguesia	em	ascensão.	Nessa	época,	Como	
geralmente	não	tinham	acomodações	adequadas,	o	mestre	recebia	os	
alunos	em	diferentes	locais,	até	na	sua	casa.
Século XVI e XVII –	 Como	 resultado	 do	 embate	 católico	
e	 protestante,	 são	 organizadas	 instituições	 religiosas	 na	 Europa	
(reformadas	 ou	 católicas)	 para,	 principalmente,	 evangelizar.	
Observemos	suas	vertentes	e	seus	idealizadores:
Martim Lutero,	 considerava	 importante	 que	 as	 pessoas	
(homens	e	mulheres)	aprendessem	a	ler,	para	terem	acesso	a	Bíblia,	
traduzida	por	ele,	para	o	alemão.	Defendia	a	implantação	da	escola	
primária	para	todos,	repudiava	os	castigos	físicos,	o	“verbalismo	oco	
Figura	4	-	Túnel	do	tempo
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Figura	5	-	Mosteiro	medieval
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A	palavra	 grega	 “Scholé”	 significa	 inicialmente	
lugar	do	ócio.
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33
da	Escolástica”	e	a	filosofia	medieval,	propondo	jogos,	exercícios	físicos,	música,	
conteúdos	literários,	o	estudo	da	história	e	matemática.	
Companhia de Jesus,	ordem	católica	que	surgiu	como	reação	a	Reforma	
protestante,	tinha	como	objetivo	inicial,	a	propagação	da	fé,	a	luta	contra	os	infiéis	
e	os	hereges.	Os	jesuístas	fundaram	vários	colégios	e	universidades	na	América,	
África	e	Ásia.	Preferiam	a	tradição	clássica,	enfatizando	a	retórica	e	os	exercícios	de	
erudição,	o	latim	e	a	Escolástica.Davam	pouca	importância	à	história,	à	geografia	e	a	
matemática.	A	escola	jesuítica	era	caracterizada	pela	clausura,	renúncia	e	sacrifício,	
impunha	 uma	 disciplina	 rígida,	 vigiada	 24h.	 Estimulava	 o	 desenvolvimento	
individual	 por	 meio	 da	 competição,	 através	 de	 torneios	 intelectuais	 (incentivo	
para	superar	o	outro),	premiando	ou	castigando.
Século XVII	–	Vejamos	os	grandes	representantes	desta	época:
João Amós Comênio,	 autor	 da	 obra	 Didática	 Magna,	 desenvolve	 um	
método	de	ensino	que	busca	ensinar	de	forma	rápida	e	segura,	tendo	como	ponto	
de	partida,	 o	 conhecido	 e	que	valoriza	 a	 experiência.	Defende	 a	 escola	única	 e	
universal,	de	 responsabilidade	do	estado.	Apesar	do	aparente	avanço	das	 idéias	
comenianas,	o	rigor	estabelecido	aos	passos	que	deviam	ser	seguidos	na	aplicação	
do	método	 de	 aprendizagem	 e	 a	 preocupação	 o	 com	 a	 ordem,	 o	 colocam	 como	
representante	da	escola	tradicional.
Oratorianos:	Ordem	religiosa	que	se	opunha	aos	jesuítas	e	que	se	voltava	
para	as	novas	ciências	e	para	o	pensamento	cartesiano,	René	Descartes	
(1596-1650),	ensinavam	o	francês	e	outras	línguas	modernas,	além	do	latim,	
recomendavam	 o	 uso	 de	 história	 e	 geografia	 com	 uso	 de	mapas,	 encorajavam	 a	
pesquisa	científica	e	empregavam	uma	disciplina	branda.
Jonh Locke	 –	 (1632-1704),	 valorizava	 o	 ensino	 da	 língua	 local,	 da	
contabilidade	e	da	escrituração	comercial,	 recusando	a	retórica	e	os	excessos	da	
lógica,	propondo	o	estudo	da	história,	geografia,	geometria	e	ciências	naturais.	Pai	
do	empirismo	compreendia	a	mente	como	uma	tabula	rasa	que	se	escreveria	com	a	
experiência	(aula	4	).
Cabia	ao	professor,	proporcionar	experiências	 fecundas	que	auxiliassem	a	
criança	a	fazer	uso	correto	da	razão.
Século XVIII	–	Século	das	luzes,	as	exigências	do	mercado	e	as	demandas	
sociais	 impunham	 a	 necessidade	 de	 se	 criar	 uma	 escola	 que	 ensinasse	 a	 ler,	
organizasse	a	massa	de	trabalhadores	e	a	submetesse	à	disciplina	e	à	obediência.
AULA 2 TÓPICO 3
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação34
Século XIX -	 Destaca-se	 a	 experiência	
dos	ingleses	Andrew	Bew	(1753-1832)	e	Joseph	
Lancaster	 (1778-1838),	 que	 desenvolvem,	
separadamente	 em	 suas	 escolas	 destinadas	
a	 crianças	 pobres,	 um	 método	 de	 ensino	
monitorado	 que	 prepara	 os	 melhores	 alunos	
para	 serem	 monitores	 dos	 demais	 que	 eram	
agrupados	de	acordo	com	o	nível		em	matemática	
(aritmética),	ortografia	e	leitura.
O	professor	ensinava	aos	mais	adiantados	
e	 estes,	 ensinavam	 ao	 seu	 grupo,	 cabendo	 ao	
professor,	 monitorar	 toda	 a	 sala	 e	 interferir	 quando	 necessários.	 As	 atividades	
tinham	um	tempo	certo	para	serem	desenvolvidas.
Mesmo	 a	 escola	 tradicional	 tendo	 sido	 alvo	 de	 críticas,	 principalmente	
devido	às	contribuições	da	sociologia	e	da	psicologia,	nela	persistia,	o	ensino	em	
internatos,	com	disciplina	rigorosa	e	vigilância	constate.
Século XX	 –	 Palco	 de	 importantes	 teorias	 e	 projetos	 pedagógicos	 que	
objetivavam	 superar	 a	 escolatradicional,	 rígida,	 magistrocêntrica	 e	 voltada	 a	
memorização	dos	conteúdos.
Escola Nova:	objetivava	fazer	com	que	os	alunos	aprendessem	a	aprender.	
Nela	aluno	é	visto	como	um	 indivíduo	único,	 tornando-se	o	centro	do	processo	
(pedocentrismo),	 destacando-se	 a	 importância	 da	 satisfação	 das	 necessidades	
infantis.	O	 conteúdo	 é	visto	 como	 secundário	diante	do	processo	de	descoberta	
do	conhecimento.	A	metodologia	tem	como	princípio,	aprender	fazendo.	Objetiva-
se	formar	o	sujeito	integral:	razão,	sentimentos,	
emoção,	ação	e	o	corpo.	Os	programas	e	horários	
são	flexíveis	e	a	avaliação	é	compreendida	como	
um	processo	para	o	aluno,	não	para	o	professor.	
A	disciplina	é	voltada	para	autodisciplina,	que	
deve	 ser	 construída	 por	 meio	 de	 debates	 que	
farão	com	estes	compreendam	a	necessidade	das	
normas	coletivas.
p a r a p e n s a r
A	partir	do	que	relatamos,	quais	seriam	as	reais	
possibilidades	 de	 transformação	 qualitativa	 da	
escola,	a	fim	de	que	ela	possa	desenvolver	uma	
contra-ideologia?	 Este	 é	 o	 assunto	 do	 próximo	
tópico.
v o c ê s a b i a?
Pedagogias	 progressistas	 partem	de	uma	 análise	
crítica	 das	 realidades	 sociais	 sustentando	 as	
finalidades	sócio-políticas	da	educação.
A	 pedagogia	 progressista	 se	 divide	 em	 três	
tendências:	 Libertária,	 Libertadora	 e	 Critico	
social	dos	conteúdos.
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35
Começamos	 nossa	 discussão	 sobre	 CONTRA-IDEOLOGIA E EDUCAÇÃO	 tendo	 como	 categoria	 a	 POLÍTICA,	 para	 isso	 nos	servimos	 da	 análise	 de	 Chauí	 (2000),	 sobre	 o	 pensamento	 de	
Maquiavel,	 segundo	 o	 qual	 não	 é	 possível	 admitir	 um	 fundamento	 anterior	 e	
exterior	à	política	(Deus,	Natureza	ou	razão).	Diz	o	autor,	em	O príncipe,	que	toda	
Cidade	está	originariamente	dividida	por	dois	desejos	opostos:	o	desejo	dos	grandes	
de	oprimir	e	comandar	e	o	desejo	do	povo	de	não	ser	oprimido	nem	comandado.
Essa	divisão	evidenciaria	que	a	Cidade	não	seria	uma	comunidade	homogênea	
nascida	da	vontade	divina,	da	ordem	natural	ou	da	razão	humana.	Na	realidade,	a	
Cidade	seria	tecida	por	lutas	internas	que	a	obrigam	a	instituir	um	pólo	superior	
que	possa	unificá-la	e	dar-lhe	identidade.	Esse	pólo	é	o	poder	político.	Assim,	a	
política	nasce	das	lutas	sociais	e	é	obra	da	própria	sociedade	para	dar	a	si	mesma	
unidade	e	identidade.
Chauí	(op.cit	2000.	p.512)	aponta	ainda	no	pensamento	de	Maquiavel	a	não	
aceitação	da	idéia	da	boa	comunidade	política	constituída	para	o	bem	comum	e	a	
justiça.	O	ponto	de	partida	da	política	para	ele	é	a	divisão	social	entre	os	grandes	
e	 o	povo.	A	 sociedade	 é	 originariamente	dividida	 e	 jamais	pode	 ser	vista	 como	
uma	 comunidade	 una,	 indivisa,	 homogênea,	 voltada	 para	 o	 bem	 comum.	 Essa	
imagem	da	unidade	e	da	indivisão	é	uma	máscara	com	que	os	grandes	recobrem	a	
realidade	social	para	enganar,	oprimir	e	comandar	o	povo,	como	se	os	interesses	
dos	 grandes	 e	 dos	 populares	 fossem	 os	mesmos	 e	 todos	 fossem	 irmãos	 e	 iguais	
numa	bela	comunidade.
TÓPICO 4 Contra-ideologias e educação
ObjetivO
•	 Refletir	sobre	as	possibilidades	concretas	do	desenvolvi-
mento	de	um	discurso	contra-ideológico
AULA 2 TÓPICO 4
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Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação36
Outros	 pensadores	 afirmam	 que	 para	 responder	 às	 diferentes	 formas	
assumidas	pelas	lutas	de	classes,	a	política	é	inventada	de	tal	maneira	que,	a	cada	
solução	encontrada,	um	novo	conflito	ou	uma	nova	 luta	podem	surgir,	exigindo	
novas	soluções.	Em	lugar	de	reprimir	os	conflitos	pelo	uso	da	força	e	da	violência	
das	armas,	a	política	aparece	como	trabalho	legítimo	dos	conflitos,	de	tal	modo	que	
o	fracasso	nesse	trabalho	é	a	causa	do	uso	da	força	e	da	violência.
No	mundo	do	trabalho,	a	questão	da	política,	com	a	ampliação	do	setor	de	
serviços,	é	desfocada	da	 tradicional	oposição	entre	o	proprietário	da	 fábrica	e	o	
proletário,	segundo	a	clássica	representação	marxista.	Cada	vez	mais	as	empresas	
são	controladas	por	administradores,	os	tecnoburocratas.	 	 	Tudo	isso	pode	dar	a	
ilusão	de	que	a	máquina	livra	o	homem	do	duro	conflito	patrão-empregado,	libera	
o	seu	tempo	para	outras	atividades,	mais	prazerosas,	criando	ainda	a	expectativa	
da	possibilidade	de	melhor	distribuição	das	riquezas.
O	que	ocorre,	no	entanto,	é	o	aparecimento	de	mecanismos	de	exploração	
menos	 evidentes,	 já	 que	 a	 autonomia	 dos	 executivos	 tem	 como	 pano	 de	 fundo	
controlador	o	grande	capital	das	multinacionais,	concentrando	renda	e	impedindo	
que	a	distribuição	da	riqueza	seja	feita	de	forma	homogênea.
PROFESSORES COMO MÃO-DE-OBRA ALIENADA?
Na	educação	o	 foco	político	recai	nos	riscos	de	alienação	que	ameaçam	os	
profissionais	 de	 ensino	 e	 em	 especial	 os	 professores,	 que	 desenvolvem	 um	 tipo	
de	 trabalho	 intelectual	 ou	 trabalho não-material,	muito	peculiar.	 Enquanto,	 por	
exemplo,	 para	 os	 intelectuais	 que	 produzem	 obras	 de	 arte	 e	 livros,	 a	 obra	 de	
pensamento	se	encontra	separada	de	quem	a	produziu;	no	caso	do	professor,	não	
existe	essa	separação,	já	que	seu	trabalho	se	desenvolve	durante	o	ato	mesmo	de	
se	produzir.
A	esse	respeito,	diz	o	professor	Saviani:
A	aula	é	alguma	coisa	que	supõe,	ao	mesmo	tempo,	a	presença	do	professor	e	a	
presença	do	aluno.	Ou	seja,	o	ato	de	dar	aula	é	inseparável	da	produção	desse	
ato	e	de	seu	consumo.	A	aula	é,	pois,	produzida	e	consumida	ao	mesmo	tempo.
Justamente	nesse	contato	com	o	aluno	é	que	poderia	ser	inculcada	a	ideologia	
e	a	alienação,	o	que	foi	amplamente	enfatizado	por	muitos	autores	como	Althusser,	
Passeron	 e	Arroyo,	 que	 estudaram	 a	 escola	 como	 reprodutora	 do	 sistema	 sócio-
político-econômico	 vigente.	 Nesse	 sentido,	 mesmo	 quando	 imbuídos	 de	 boas	
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intenções,	os	professores	estariam	repassando	a	seus	alunos	valores	que	precisariam	
na	verdade	ser	revistos	e	criticados.
Somos,	 diz	Hegel,	 seres	históricos	 e	 culturais.	 Isso	 significa	que,	 além	de	
nossa	vontade	individual	subjetiva	(que	Rousseau	chamou	de	coração	e	Kant	de	
razão prática),	existe	uma	outra	vontade,	muito	mais	poderosa,	que	determina	a	
nossa:	a vontade objetiva,	inscrita	nas	instituições	ou	na	Cultura.
A	vontade	objetiva	–	impessoal,	coletiva,	social,	pública	–	cria	as	instituições	
e	a	moralidade	como	sistema	regulador	da	vida	coletiva	por	meio	de	mores,	isto	
é,	 dos	 costumes	 e	 dos	 valores	 de	 uma	 sociedade,	 numa	 época	 determinada.	 A	
moralidade	 é	 uma	 totalidade	 formada	 pelas	 instituições	 (família,	 religião,	 artes,	
técnicas,	ciências,	relações	de	trabalho,	organização	política,	etc.),	que	obedecem,	
todas,	aos	mesmos	valores	e	aos	mesmos	costumes,	educando	os	indivíduos	para	
interiorizarem	a	vontade	objetiva	de	sua	sociedade	e	de	sua	cultura.	
Como	 conseqüência,	 o	 imperativo	 categórico	 não	 poderá	 ser	 uma	 forma	
universal	desprovida	de	 conteúdo	determinado,	 como	afirmara	Kant,	 	mas	 terá,	
em	cada	época,	em	cada	sociedade	e	para	cada	Cultura,	conteúdos	determinados,	
válidos	apenas	para	aquela	formação	histórica	e	cultural.		
Assim,	 cada	 sociedade,	 em	 cada	 época	 de	 sua	História,	 define	 os	 valores	
positivos	 e	 negativos,	 os	 atos	 permitidos	 e	 os	 proibidos	 para	 seus	 membros,	 o	
conteúdo	dos	deveres	e	do	imperativo	moral.	Ser	ético	e	livre	será,	portanto,	pôr-
se	de	acordo	com	as	regras	morais	de	nossa	sociedade,	interiorizando-as.
Nas	obras	do	educador	Paulo	Freire	temos	vários	caminhos	para	a	construção	
de	uma	contra-ideologia	na	educação.
Vejamos	o	que	diz	o	depoimento	de	uma	moradora	de	cortiço	de	Santiagodo	
Chile,	que	aparece	no	final	do	livro	Educação	como	Prática	da	liberdade	(1999	):	
“Gosto	de	discutir	sobre	isto,	porque	vivo	assim.	Enquanto	vivo,	porém	não	vejo.	
Agora	sim,	observo	como	vivo.”		
Freire	retrata	a	dialética	docente	da	seguinte	maneira:
Não	posso	ser	professor	se	não	percebo	cada	vez	melhor	que,	por	não	poder	ser	
neutra,	minha	prática	exige	de	mim	uma	definição.	Uma	tomada	de	posição.	
Decisão.	Ruptura.	Exige	de	mim	que	escolha	entre	 isto	e	aquilo.	Não	posso	
ser	professor	a	favor	de	quem	quer	que	seja	e	a	favor	de	não	importa	o	quê.	
Não	posso	ser	professor	a	favor	simplesmente	do	Homem	ou	da	Humanidade,	
frase	de	uma	vaguidade	demasiado	contrastante		com	a	concretude	da	prática	
educativa.	Sou	professor	a	 favor	da	decência	contra	o	despudor,	a	 favor	da	
AULA 2 TÓPICO 4
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liberdade	 contra	 o	 autoritarismo,	 da	 autoridade	 contra	 a	 licenciosidade,	 da	
democracia	contra	a	ditadura	de	direita	ou	de	esquerda.	Sou	professor	a	favor	
da	luta	constante	contra	qualquer	forma	de	discriminação,	contra	a	dominação	
econômica	dos	indivíduos	ou	das	classes	sociais.	Sou	professor	conta	a	ordem	
capitalista	 vigente	 que	 inventou	 esta	 aberração:	 a	 miséria	 na	 fartura.	 Sou	
professor	a	 favor	da	esperança	que	me	anima	apesar	de	tudo.	Sou	professor	
contra	 o	 desengano	 que	me	 consome	 e	 imobiliza.	 Sou	 professor	 a	 favor	 da	
boniteza	de	minha	própria	prática,	boniteza	que	dela	some	se	não	cuido	do	
saber	que	devo	ensinar	se	não	brigo	por	este	saber,	se	não	luto	pelas	condições	
materiais	necessárias	sem	as	quais	meu	corpo,	descuidado,	corre	o	risco	de	se	
amofinar	e	de	já	não	ser	o	testemunho	que	deve	ser	de	lutador	pertinaz,	que	
cansa,	mas	não	desiste.	
Boniteza	 que	 esvai	 de	minha	 prática	 se,	 cheio	 de	mim	mesmo,	 arrogante	 e	
desdenhoso	dos	alunos,	não	canso	de	me	admirar.	
(FREIRE,	1996,	p.	115-116)
O	texto	A	Escola:	Espaço	de	construção	da	contra-ideologia	está	disponível	
no	ambiente.
At i v i d a d e s d e a p r o f u n d a m e n t o
1.	Fazendo	uma	comparação	com	o	que	estudamos	no	tópico	2,	da	aula	1	(finalidade	da	educação:	educação	
e	libertação),	as	informações	sobre	o	papel	da	educação,	o	conceito	de	doutrinar	e	o	breve	histórico	a	seguir,	
o	desafiamos	a	responder:	
Embora	 a	 escola	 não	 seja	 responsável	 sozinha	 pela	 educação	 das	 pessoas,	 as	 escolas	 se	 caracterizaram	
historicamente	como	espaços	educacionais	ou	doutrinadores?	
2.	O	que	é	ideologia	e	qual	a	sua	função?
3.	Quais	as	características	da	alienação?
4.	Reflita	sobre	educação	e	doutrinação	e	aponte	as	suas	características.
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Olá!
Você já se perguntou sobre o que é o ser humano? O que o caracteriza e o faz 
diferente dos outros seres? Se existe uma natureza humana que já nasça com 
o próprio ser humano, se ele se faz dependendo do seu tempo e espaço ou se 
também se faz mediante as circunstâncias: se é determinado, determinante, artífice 
de si (Aquele que projeta a si e executa ou seja é o responsável por construir-se a 
si mesmo)? Já se questionou sobre a existência ou não de uma essência humana? 
Se suas limitações naturais? Se são determinantes? Se existe liberdade para o 
ser humano? E, se existe, até onde pode ir? Ou não existe, é uma ilusão?
Todas as indagações acima foram e são feitas ao longo de nossa história na GAIA, 
ou seja, no Planeta Terra.
Nesta aula, procuraremos mostrar a você como, desde o mundo antigo, essas 
perguntas, foram sendo respondidas pelos filósofos e o que estas respostas 
significaram na definição dos modelos educativos que construímos: como esses 
modelos foram influenciados por estas concepções.
De tudo o que foi afirmado pelos filósofos, destacamos três concepções para 
serem analisadas nesta aula: essencialista, naturalista e histórico cultural. 
Leia o material com atenção e tenha bom aproveitamento em mais este encontro.
AULA 3 Pressupostos filosóficos da educação: concepções antropológicas
AULA 3
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40 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação
TÓPICO 1 Concepção essencialista
ObjetivO
•	 Analisar	os	fundamentos	teóricos	que	sustentaram	
a	concepção	essencialista	ao	longo	da	história	da	
educação	no	Ocidente
Alguns	 filósofos	 ao	 longo	 da	nossa	história,	 afirmaram	que	havia	 uma	 natureza	 imutável	
nos	seres,	inclusive	no	ser	humano,	aquilo	o	que	
os	fazia	serem	o	que	eram	e	que	já	nascia	com	eles:	
“a	 unidade	 na	 multiplicidade”	 (PARMÊNIDES	
(510-470	a.C.))
A	 partir	 dessa	 perspectiva,	 mesmo	
constatando	 diferenças	 entre	 os	 homens,	 havia	
um	modelo	de	 ser	humano	a	 ser	atingido,	uma	
natureza	 humana	 universal	 idêntica	 em	 sua	
essência	em	todos	os	tempos	e	lugares,	que	seria	
atingida	por	meio	da	educação.	Esses	pensadores	
eram	 defensores	 da	 concepção	 ontológica	
essencialista.
Vamos	iniciar	com	três	pensadores	gregos:
sócrates
Para	 Sócrates	 (469-399	 a.C.)	 as	 idéias	
se	 encontravam	 no	 íntimo	 do	 indivíduo.
Desenvolveu	os	métodos	da	 Ironia	 e	Maiêutica	
para	provar	o	que	afirmava.
v o c ê s a b i a?
Definições	da	palavra	Essência:
1.	 O	 que	 constitui	 a	 natureza	 de	 algo	
(Aurélio,	2006	p	374).
2.	 Parte	mais	 importante	de	alguma	coisa	
(Santos,	2001	p.	295)
s a i b a m a i s !
Ironia:	 Desconstrução	 do	 que	 o	 sujeito	 pensa	
saber
Maiêutica:	Construção	consciente	do	que	o	sujeito	
não	sabia	saber	com	a	intervenção	do	mestre	que	
o	faz	“parir”	o	conhecimento.
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41AULA 3 TÓPICO 1
platãO
Platão	 (427-347	 a.C.)	 acreditava	 que	 as	
pessoas	 tinham	 contemplado	 o	 mundo	 das	
idéias,	espaço	fora	da	realidade	material,	onde	se	
encontram	as	idéias	perfeitas,	e	que	a	existência	
empírica	-	seu	mundo	de	sombras-,	as	impediam	
muitas	 vezes,	 de	 recordar-se	 do	 que	 sabiam	
(reminiscência).
O	 Platão	 utilizou	 um	mito	 para	 explicar	
sua	teoria:	Mito	da	caverna.	A	verdadeira	educação,	admitindo	a	teoria	de	Platão,	
seria	responsável	por	ajudar	o	ser	humano	a	se	lembrar	do	que	já	conhecera,	no	
Mundo	das	Idéias,	antes	de	ser	aprisionado	em	seu	corpo,	superando,	assim,	sua	
existência	empírica.
Cada	ser	humano	nascia	com	um	tipo	de	alma,	o	que	explicava	as	diferenças	
na	capacidade	de	retorno,	lembrança	das	idéias	perfeitas,	justificando	as	diferentes	
posições	que	ocupavam	na	sociedade.
aristóteles
Aristóteles	 (384-322	 a.C.),	 definia	 o	
homem	 como	 ser	 racional,	 considerando	 essa	
atividade	sua	essência	e	separou	matéria	e	forma,	
por	compreender	ser	a	matéria	passiva,	variável	
e	 neutra;	 e	 a	 forma,	 ativa,	 duradoura	 e	 aquela	
que	dava	um	aspecto	qualitativamente	definido.	
A	forma	do	homem	era	atividade	pensante,	que	
moldava	a	matéria	e	o	criava,	havendo	uma	forma	
para	cada	homem.
O	ser	humano	trazia	em	potência	tudo	o	que	podia	ser,	cabendo	a	educação	
atuar	da	mesma	maneira	com	todos.
O	que,	então,	podia	fazer	os	homens	bons	e	dotados	de	qualidades	morais,	
segundo	o	pensador?
•	 A	natureza
•	 O	hábito
•	 A	razão
•	 Aspectos	que	deviam	se	harmonizar	entre	si.
s a i b a m a i s !
Acesse	 o	 site:	 http://www.youtube.com/
watch?v=I9qPYb_N3ng&feature=related	 e	
obtenha	 mais	 informações	 sobre	 o	 mito	 da	
caverna.
g u a r d e b e m i s s o !
O	método	 da	Maiêutica	 é	 inspirado	 na	mãe	 do	
Sócrates	que	era	parteira,	cujo	trabalho	consiste	
em	abrir	caminho	para	a	criança	nascer.
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