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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Aberta do Brasil Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Diretoria de Educação a Distância Fortaleza, CE 2011 Licenciatura de Matemática Fundamentos Sociofilosóficos da Educação Maria Idalina de Araújo Bezerra Ana de Sena Tavares Bezerra Tereza Cristina Valverde Araujo Alves Fundamentos Socio-filosoficos.indd 1 06/04/2016 11:01:02 Créditos Presidente Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário da SEED Luís Fernando Massonetto Diretor de Educação a Distância Celso Costa Reitor do IFCE Cláudio Ricardo Gomes de Lima Pró-Reitor de Ensino Gilmar Lopes Ribeiro Diretora de EAD/IFCE e Coordenadora UAB/IFCE Cassandra Ribeiro Joye Vice-Coordenadora UAB Régia Talina Silva Araújo Coordenador do Curso de Tecnologia em Hotelaria José Solon Sales e Silva Coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática Priscila Rodrigues de Alcântara Elaboração do conteúdo Maria Idalina Araújo Bezerra Ana de Sena Tavares Bezerra Tereza Cristina Valverde Araujo Alves Colaborador Jane Fontes Guedes Lívia Maria de Lima Santiago Equipe Pedagógica e Design Instrucional Ana Cláudia Uchôa Araújo Andréa Maria Rocha Rodrigues Carla Anaíle Moreira de Oliveira Cristiane Borges Braga Eliana Moreira de Oliveira Gina Maria Porto de Aguiar Glória Monteiro Macedo Iraci de Oliveira Moraes Schmidlin Irene Moura Silva Isabel Cristina Pereira da Costa Jane Fontes Guedes Karine Nascimento Portela Lívia Maria de Lima Santiago Lourdes Losane Rocha de Sousa Luciana Andrade Rodrigues Maria Irene Silva de Moura Maria Vanda Silvino da Silva Marília Maia Moreira Maria Luiza Maia Saskia Natália Brígido Batista Equipe Arte, Criação e Produção Visual Ábner Di Cavalcanti Medeiros Benghson da Silveira Dantas Cícero Felipe da Silva Figueiredo Elson Felipe Gonçalves Mascarenha Germano José Barros Pinheiro Gilvandenys Leite Sales Júnior José Albério Beserra José Stelio Sampaio Bastos Neto Lucas de Brito Arruda Marco Augusto M. Oliveira Júnior Navar de Medeiros Mendonça e Nascimento Samuel da Silva Bezerra Equipe Web Benghson da Silveira Dantas Fabrice Marc Joye Hanna França Menezes Herculano Gonçalves Santos Luiz Bezerra de Andrade FIlho Lucas do Amaral Saboya Ricardo Werlang Samantha Onofre Lóssio Tibério Bezerra Soares Revisão Textual Aurea Suely Zavam Nukácia Meyre Araújo de Almeida Revisão Web Antônio Carlos Marques Júnior Débora Liberato Arruda Hissa Saulo Garcia Logística Francisco Roberto Dias de Aguiar Secretários Breno Giovanni Silva Araújo Francisca Venâncio da Silva Auxiliar Ana Paula Gomes Correia Bernardo Matias de Carvalho Charlene Oliveira da Silveira Isabella de Castro Britto Nathália Rodrigues Moreira Virgínia Ferreira Moreira Vivianny de Lima Santiago Wagner Souto Fernandes Fundamentos Socio-filosoficos.indd 2 06/04/2016 11:01:03 Bezerra, Maria Idalina de Araújo. Fundamentos sociofilosóficos da educação: semestre VI / Maria Ida- lina de Araújo Bezerra, Tereza Cristina Valverde Araujo Alves, Ana de Sena Tavares Bezerra; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. - Fortaleza: UAB/ IFCE, 2011. 151p. : il. ; 27cm. 1. EDUCAÇÃO - FILOSOFIA. 2. IDEOLOGIA. 3. DOUTRINAÇÃO. 4. ENSINO A DISTÂNCIA. I. Joye, Cassandra Ribeiro (Coord.). II. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE. III. Universi- dade Aberta do Brasil – UAB. IV. Título. CDD 370.1 B574f Catalogação na Fonte: Islânia Fernandes Araújo (CRB 3 - Nº 917) Fundamentos Socio-filosoficos.indd 3 06/04/2016 11:01:03 SUMÁRIO AULA 2 AULA 3 AULA 4 Apresentação 6 Referências 146 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Currículo 150 Filosofia e educação 7 Filosofia e filosofia da educação: diferentes olhares 8 Finalidade da educação: educação e libertação 14 Formação do educador 17 Entraves na formação do educador 19 AULA 1 Ideologia 23 Ideologia e alienação 24 Ideologia e educação 29 Educação e doutrinação 31 Contra-ideologias e educação 35 Pressupostos filosóficos da educação: concepções antropológicas 39 Concepção essencialista 41 Concepção naturalista 43 Concepção histórico-cultural 45 Pressupostos filosóficos da educação: concepções epistemológicas 50 Concepção inatista 51 Concepção empirista 54 Construtivismo ou sociointeracionismo 57 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 4 06/04/2016 11:01:03 5SUMÁRIO AULA 6 AULA 7 AULA 8 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 Tópico 5 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 AULA 5 Fazendo um passeio histórico (I) 63 O século XIX: um período de turbulência 64 Concepções liberais 71 Escola tradicional 75 Escola nova 78 Tendência tecnicista 85 Fazendo um passeio histórico (II) 88 Teorias socialistas 89 Concepção histórico-cultural de Vigotsky 96 Teorias construtivistas 103 Fazendo um passeio histórico (III) 111 Descolarização e Teorias Crítico-reprodutivistas 112 Concepções progressistas: Libertária e Libertadora 118 Pedagogias histórico-sociais 127 Dimensão ético-política da Educação 131 Compreender e ensinar no mundo contemporâneo 132 Competência e qualidade na docência 136 Dimensões da competência: Dimensão técnica, Estética, Ética e Política 140 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 5 06/04/2016 11:01:03 6 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), Nesse semestre, para ajuda-lo a compreender o arcabouço teórico das práticas pedagógicas que você observa no seu cotidiano e também para auxilia-lo a construir os seus valores educacionais, faremos um bom passeio pelos fundamentos sócio-filosóficos da educação. Dessa forma, vamos ler e interpretar textos, analisando as dimensões sócio-filosóficas e ético-políticas da educação, e vamos conhecer os paradigmas educacionais. Dentre esses, destacaremos, o paradigma emergente, a partir do qual que você poderá buscar, no exercício da sua profissão, alternativas de transformação de situações da realidade em que se nega o princípio da cidadania. Esperamos que você se encante com a disciplina e procure aproveitar ao máximo o material que preparamos. Estaremos juntos, instigando, em cada aula, a sua curiosidade e auxiliando-o a dirimir suas dúvidas e inquietações. Seja bem-vindo(a)! Fundamentos Socio-filosoficos.indd 6 06/04/2016 11:01:03 7 Você já pensou no campo de atuação da Filosofia e sua relação com a educação? Será que todos vêem o mundo do mesmo modo? Uma mesma pessoa o vê numa mesma perspectiva sempre? Que referências usamos para interpretar o mundo? O que caracteriza o olhar filosófico? Qual a importância desse olhar na educação? Quais os campos de atuação da filosofia? Qual a finalidade da educação? O que se espera do educador? O que é necessário na formação do educador? O que caracteriza um professor reflexivo? Ufa! Quantas perguntas, não? Essas e outras questões procuraremos responder nesta primeira aula. Nosso objetivo é ajudá-lo(a) a compreender a filosofia não como ciência,mas como base para todas as ciências. Iniciaremos convidando você a refletir sobre o que significa o ato de pensar. Será que esse ato nos oferece terreno seguro ou nos conduz a incertezas? AULA 1 Filosofia e Educação AULA 1 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 7 06/04/2016 11:01:03 8 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação TÓPICO 1 Filosofia e filosofia da educação: diferentes olhares ObjetivOs • Refletir sobre os vários modos da consciência do homem se relacionar com o mundo • Compreender a importânciada filosofia e o seu papel na análise das diferentes formas de apreensão do real Podemos olhar o mundo e a nós mesmos a partir de diversas perspectivas: do mito, da religião, do senso comum, da ciência, da arte e da filosofia. Essas abordagens o real coexistem, sem exclusão entre si, e são facilmente observadas no nosso cotidiano. Mas, em que consiste cada uma das abordagens acima? Na história do desenvolvimento da humanidade, como foram vistas? Antes de começarmos a entender melhor cada uma delas, no entanto, precisamos refletir sobre o que significa o ato de pensar. Como já perguntamos, será que ele nos oferece um terreno seguro ou, ao contrário, nos faz mergulhar num mar profundo de incertezas? O QUE É PENSAR? Acesse o site http://nossaagora.blogspot. com/2008/04/perguntar-e-pensar.html e veja o que diz o texto “Perguntar e pensar” do autor Juan Alfaro. Agora que você já começa a entender melhor o ato de pensar, vamos conhecer um pouco sobre como apreendemos o real. Analise a Figura 1 e reflita. Diante do exposto o que a imagem sugere?Figura 1 - O que é pensar? v o c ê s a b i a? Por outro lado, mesmo que, por exemplo, coexistam várias perspectivas para se apreender um mesmo fenômeno, pode haver ênfase de uma (ou mais) perspectiva(s) nessa apreensão. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 8 06/04/2016 11:01:04 9 ABORDAGENS DO REAL Há várias perspectivas através de que se pode observar o real. Vejamos algumas delas: O mitO O mito é um conhecimento imediato da realidade que dispensa explicações e fundamentos. Seu objetivo é explicar porque a vida é como é. Os mitos estão arraigados nas culturas, independente do tempo ou espaço. Caracterizam-se por serem dogmáticos e, nas comunidades tribais, onde existe um predomínio maior desta abordagem, também por ser coletivo, uma vez que todas as atividades, são ritualizadas pelo mito. Considerando a definição acima, o que significa, então, ter uma visão mitológica do mundo? Será que temos mitos destrutivos?. A consciência mítica é muito forte nos povos de nosso milênio, segundo Aranha (2006), tudo o que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para o trabalho posterior da razão. A mesma autora nos convida a refletir sobre os mitos que embalam nossos sonhos, oferecidos pela literatura, religião e ideais políticos, e que, assim, mobilizam nossas convicções mais íntimas. Por outro lado, a autora também alude àqueles que, ao contrário dos que podem contribuir para o crescimento da humanidade, conduziram-na lamentáveis enganos que tiveram conseqüências terríveis, como o da raça pura ariana e da superioridade européia em relação aos ameríndios. O sensO cOmum O senso comum é um conhecimento espontâneo ou vulgar, herdado por um grupo social e que é seguido pelos seus membros. É fragmentado, difuso, ametódico e assistemático. Pode se caracterizar como ingênuo e arbitrário, injusto, parcial ou reprodutor da classe dominante, ou ainda, evoluir para o bom senso. Apesar de parecer ter apenas características negativas, o senso comum não é algo tão ruim assim. Na verdade, é importante saber que é através do conhecimento do senso comum que projetamos nossas vidas, adquirimos certezas e confiança para Figura 2 - Pandora Fon te: h ttp ://p t.w ik ip ed ia.org /w ik i/ AULA 1 TÓPICO 1 v o c ê s a b i a? O real é a coisa em si, é o que verdadeiramente existe, o que para muitos filósofos é inalcançável pelo homem. A Realidade é como este apreende o real, ou seja, uma relação subjetiva. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 9 06/04/2016 11:01:04 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação10 agir. Suas fontes são a tradição, a autoridade, a intuição e o bom-senso. Segundo Chauí (2000), as características do senso comum são: subjetivos, qualitativos e heterogêneos, individualizadores, estabelecem relação de causa e efeito entre as coisas e os fatos; não se surpreendem nem se admiram com a regularidade, constância, repetição e diferença das coisas; identificam ciência com magia. e O bOm sensO, cOmO se caracteriza? Como uma análise crítica dos saberes e valores herdados, que não está atrelada à erudição, mas à capacidade individual de lidar com o que diz o senso comum e a sua pertinência na ocasião. Contudo, como veremos na aula 2, nem sempre há uma evolução do sendo comum para o bom senso devido a influência da ideologia dominante. a ciência E o olhar da perspectiva da Ciência, quais as especificidades desse olhar? Antes de começarmos essa nova discussão, analise a figura “Melancolia” Figura 3 e reflita sobre a influência da perspectiva científica na sociedade ocidental. Agora, convidamos você a voltar ao século XVII, quando Galileu Galilei- responsável por transformar a física e a astronomia vigentes desde a antiguidade grega e que tinha em Aristóteles, a maior referência, desenvolveu as bases do método científico. A partir das proposições de Galileu, nada mais pôde ser considerado um saber seguro se não tivesse sido matemática passou a ser a ferramenta básica, uma vez que o importante não era saber o que são as coisas, nem a que finalidades servem, mas como são e por que surgiram em tal tempo e espaço. Logo, passou a ser imprescindível definir como representar matematicamente tempo e o espaço. Figura 3 - Melancolia Fo n te : h tt p :/ /p t. w ik ip ed ia .o rg /w ik i/ v o c ê s a b i a? Mito de Pandora na mitologia grega, Pandora (“a que possui todos os dons”, ou “a que é o dom de todos os deuses”) foi a primeira mulher, criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar aos céus o segredo do fogo. Para saber mais acesse o site http://www. historianet.com.br Fundamentos Socio-filosoficos.indd 10 06/04/2016 11:01:04 11 Essa forma de ver as coisas traria segurança por ser capaz de descobrir leis gerais causais e justificá-las, tornando possível, prever acontecimentos futuros e a regularidade destes. Isso significava, em outras palvaras, o domínio da natureza pelo homem. Dominando a natureza, ele seria, então, capaz de transformá-la de acordo com as suas necessidades. A Ciência se propõe, portanto, a explicar a realidade. Vamos refletir um pouco sobre as transformações que ocorreram na vida da humanidade desde a introdução do pensamento científico por Galileu, no século XVII: Pensemos no desenvolvimento tecnológico que mudou a face do mundo e o seu acesso, bem como o preço que a humanidade teve que pagar pela hipervalorização da ciência. Não esqueça: embora se apresente como rigoroso e eficaz, o conhecimento científico é apenas uma das formas de compreender a realidade. O Olhar da FilOsOFia O que vOcê Observa aO Olhar a Figura 4? Na imagem, podemos ter uma representação do que seria a apreensão do real a partir do ponto de vista da filosofia. Perceba que na imagem, o corpo está imerso e a cabeça emerge. Esse seria o primeiro passo para desenvolver essa abordagem do real. Aranha (2006, p. 20) ilustra melhor esta questão nas citações abaixo: “O filósofo desestabiliza certezas e questiona o que é convencional.“ “A Filosofia se insere na história, e os temas com que se ocupa mudam de acordo com os problemas que precisaenfrentar e que exigem esse tipo de reflexão.” Ela não nos oferece um corpo de saber acabado ou verdades absolutas, mas a capacidade de refletir sobre o real através do desenvolvimento da atitude filosófica. Então, o que caracteriza atitude filosófica? A atitude filosófica é caracterizada pela capacidade de estranhamento. Platão dizia que a admiração, o espanto, era condição fundamental para problematizar. Fo n te : w w w .l at in st oc k .c om .b r Figura 4 - Emersão AULA 1 TÓPICO 1 v o c ê s a b i a? Você poderá encontrar disponível no ambiente três definições sobre Filosofia Fundamentos Socio-filosoficos.indd 11 06/04/2016 11:01:05 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação12 quais sãO suas características? Demerval Saviani (1986) nos diz que a reflexão propriamente filosófica é: radical, rigorosa e de conjunto. Radical: Busca as raízes, procura quais as bases do pensar e do agir. Rigorosa: Utiliza-se de um método claramente explicitado que permite proceder com rigor, garantindo a coerência e o exercício da crítica. De conjunto: É globalizante porque relaciona os diversos aspectos de um problema com o todo. Tudo visa à totalidade. mas O que é necessáriO para exercitar O FilOsOFar? Primeiro, saber quais são nossos valores, aqueles que orientam nossa vida familiar, econômica, religiosa, profissional, social e política: descobrir porque as coisas são como são. Segundo, saber por que acreditamos no que acreditamos, ou seja, de onde vêm nossas certezas? Buscar os fundamentos. Terceiro, construir criticamente os valores que orientarão nossa vida individual e dentro da sociedade. Ora, cabe ao filósofo acompanhar reflexiva e criticamente a educação para que promova a passagem de uma educação assistemática, fundamentada no senso comum para uma educação sistemática, intencional. A Filosofia visa evitar que a educação se torne dogmática ou se transforme em adestramento. Para que isso aconteça, é fundamental saber quais os pressupostos antropológicos, epistemológicos e axiológicos que norteiam a prática educativa. Tema de nossas próximas aulas. a arte E na arte, como se caracteriza a abordagem do real? O olhar da arte não objetiva necessariamente fazer afirmações sobre as coisas, mas fundamentalmente, lançar possibilidades de interpretações sobre estas de forma criativa, utilizando-se de uma linguagem específica e da imaginação. É at e n ç ã o ! Qual seria então o papel da filosofia na educação? Fundamentos Socio-filosoficos.indd 12 06/04/2016 11:01:05 13 uma relação subjetiva, tanto para quem faz como para quem a contempla. Não é inferior nem superior, simplesmente uma forma de ler o mundo e a si. Ao criar uma obra de arte, o artista parte da intuição, do conhecimento imediato, da forma concreta e individual de sua experiência, para a representação dessa percepção, de forma também concreta e individual. Ela se dirige primeiramente à imaginação e ao sentimento. Veja o que diz Maria Lúcia Arruda ( 2006, p. 19) sobre imaginação: “A imaginação é a mediadora entre o vivido e o pensado, mas esse pensamento é de natureza analógica. Ou seja, a imaginação ao tornar o mundo em imagem nos faz pensar. Saltamos dessas imagens para outras semelhantes, fazendo uma síntese criativa. O mundo imaginário assim criado não é irreal. É, antes, pré-real, isto é, antecede o real porque aponta suas possibilidades em vez de fixá-lo numa forma cristalizada. Por isso, alarga o campo do real percebido, preenchendo-o de outros sentidos”. Acesse o site http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema025.htm , leia o poema e observe as figuras que se seguem e depois reflita, que tipo de mensagem elas sugerem. Figura 5 - Espírito da Manhã Figura 6 - Gênio AULA 1 TÓPICO 1 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 13 06/04/2016 11:01:05 14 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação TÓPICO 2 Finalidade da educação: educação e libertação ObjetivO • Refletir sobre o papel da educação na sociedade, pos- sibilidades e limites No tópico anterior vimos o papel da filosofia na educação. Neste tópico, iremos refletir um pouco sobre a finalidade da educação. Antes de refletir vamos pensar um pouco sobre o que é educar. Analisemos os conceitos abaixo: “Educar (em latim educare) é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é susceptível de educação.” José Carlos Libâneo “Do ponto de vista da educação o que significa, então, promover o homem? Significa tornar o homem cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela, transformando-a no sentido de uma ampliação da liberdade, da comunicação e colaboração entre os homens.” Dermeval Saviani “A educação não é a simples transmissão da herança dos antepassados para as novas gerações, mas o processo pelo qual também se torna possível a gestação do novo e a ruptura com o velho.” Maria Lúcia de Arruda Aranha Como você pôde observar nas afirmações acima, educar é oferecer, às novas gerações, as conquistas das anteriores, subsídios que serão fundamentais para que se transformem em sujeitos de sua história, se construindo a si próprios de forma consciente. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 14 06/04/2016 11:01:05 15 Nesta perspectiva, a finalidade da educação é situar os indivíduos no seu tempo e espaço para que possam romper, renovar ou manter com o estabelecido (conhecimentos, princípios, normas, costumes), compreendendo-se como parte de um coletivo e compreendendo também que suas escolhas influirão direta ou indiretamente no curso da história dos demais. Mas será que, ao longo da história da educação, essa foi a sua finalidade? E hoje, quantos educadores podem dizer que realmente promovem a emancipação de seus alunos? O papel da escola no século XXI não é o mesmo da escola do século XIX, por exemplo, visto que as mudanças econômicas, tecnológicas, políticas, sociais e culturais promoveram mudanças significativas nas sociedades modernas e a escola está sendo obrigada a repensar o seu papel frente às novas demandas e exigências feitas no contexto da sociedade contemporânea. mas aFinal O que O mudOu? Em suas origens, a escola sempre apresentou linhas diretivas de caráter centralista, transmissora, selecionadora e individualista. Para entendermos a mudança do papel da escola nos dias atuais é preciso compreender o que se espera da educação hoje? Qual o seu papel frente à sociedade contemporânea. No relatório da UNESCO “Educação, um tesouro a descobrir”, Delors (1989, p. 89), afirma que frente aos inúmeros desafios do século XXI, cabe à educação o desafio de: ... transmitir de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber- fazer evolutivos, adaptados a civilização cognitiva, pois são as bases da competência do futuro. Simultaneamente compete-lhe encontrar e assinalar as referências que impeçam as pessoas de ficar submergidas nas ondas de informações, mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e privados e as levem a orientar-se para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos. À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele”. Esse novo papel da escola também é confirmado por Libâneo (2004), quando este afirma que a escola moderna deve adotar um currículo centradona formação geral e continuada de sujeitos pensantes e críticos, objetivando assim a preparação para uma sociedade técnica/cientifica/informacional na contribuindo para a formação de uma cidadania crítica participativa e na formação ética. AULA 1 TÓPICO 2 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 15 06/04/2016 11:01:05 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação16 Historicamente os sistemas educacionais são determinados pelos sistemas sociais, políticos, econômicos e religiosos. Muitas vezes essas estruturas são extremamente pesadas, o que impede ou dificulta bastante uma prática emancipatória. Mészáros (2007, p. 202) afirma que a: Educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu -no seu todo- ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário a maquina produtiva do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da sociedade, seja na forma ‘internalizada’ (isto é pelos indivíduos devidamente “educados” e aceitos) ou através de uma dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e implacavelmente impostas. (p. 202) Considerando essa afirmação, é possível fomentar o desenvolvimento de uma consciência crítica nos nossos alunos em instituições estabelecidas por tais estruturas de poder? Para o educador Paulo Freire (2006, p.16), “a escola deve ser também um centro irradiador da cultura popular, a disposição da comunidade, não para consumi-la, mas para recriá-la. A escola é também um espaço de organização política das classes populares”. Mas como desenvolver um projeto pedagógico que contribua para o rompimento das estruturas arcaicas da educação e permita a efetivação de um projeto pedagógico que realmente atenda aos anseios da sociedade moderna, especialmente das classes populares, que sempre estiveram marginalizadas? Para responder esta questão com mais propriedade, observe as imagens: Figura 8 - Jovens reunidos Fo n te : h tt p :/ /p t. w ik ip ed ia .o rg /w ik i/ Figura 7 - Primeira missa Fo n te : w w w .l at in st oc k .c om .b r Fundamentos Socio-filosoficos.indd 16 06/04/2016 11:01:05 17 TÓPICO 3 Formação do educador ObjetivO • Compreender a importância da formação do educador dentro do contexto da educação brasileira Quais os cuidados que devemos ter com a formação do professor?Que saberes específicos são obrigatórios na sua formação? Por quê? No tópico anterior, discutimos sobre o que é educação e qual a sua finalidade. Neste, vamos refletir sobre o que é necessário para que o professor desenvolva uma prática intencional e emancipatória. destacaremOs três aspectOs Fundamentais na FOrmaçãO dOcente: 1. Qualificação profissional: conhecimento específico para a(s) área(s) de atuação. 2. Formação pedagógica: domínio de saberes necessários a uma atuação sistematizada e intencional. 3. Formação ética e política: consciência de que atuação docente é fundamentada em valores que são disseminados pela sua postura diante do mundo e que estes precisam ser fundamentados no coletivo e numa consciência de classe. Figura 9 - Professor conectado AULA 1 TÓPICO 3 v o c ê s a b i a? Obtenha mais informações consultando os dados no site http://www.inep.gov.br Fundamentos Socio-filosoficos.indd 17 06/04/2016 11:01:06 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação18 Uma boa formação ética fará com que o professor seja capaz de analisar o que é relevante para ser incluído no programa, não somente visando a transmitir saberes construídos pela humanidade, mas para colaborar com os meios necessários aos fins estabelecidos, respeitando as especificidades dos alunos. Somente com uma formação sólida, o professor poderá sistematizar conteúdos, estratégias de ensino e intervenções adequadas. Durante muito tempo, no Brasil, até quase os anos 1980, a profissão docente esteve atrelada ao sacerdócio, à vocação, à figura da “tia”, principalmente no ensino infantil e fundamental, o que trouxe sérios prejuízos a categoria, como baixa remuneração, falta de condições de trabalho, desqualificação profissional e dificuldade para a organização da classe. Mas onde deve ser garantida a formação dos professores? Somente na academia? É verdade que a universidade é o lugar por excelência para assegurar uma ampla formação dos nossos educadores, mas não somente. A escola, palco de sua atuação, deve estar imbuída desta ação porque cada instituição é singular e, somente no coletivo, discutindo seus problemas e possibilidades, o professor desenvolverá ações eficazes. Por outro lado, não podemos mais permitir a atuação leiga no magistério por termos a consciência de que não bastam boas intenções, mas competência para atuar de forma intencional. Os números de repetência e abandono, bem como os baixos índices alcançados pelos alunos de ensino fundamental e médio nas avaliações de desempenho realizadas oficialmente, no nosso país, apontam para a urgência no investimento na formação de nossos educadores, porque, infelizmente, o fato de terem se graduado não lhes assegurou o domínio dos saberes necessários a sua atuação profissional. at e n ç ã o ! Para aprofundar um pouco mais a temática, pesquise como as ciências, tais como Sociologia, Filosofia, Economia, Psicologia, História da educação, podem auxiliar a pedagogia. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 18 06/04/2016 11:01:06 19 TÓPICO 4 Entraves na formação do educador ObjetivO • Refletir sobre as dificuldades encontradas pelos educa- dores na sua formação profissional No tópico anterior analisamos a importância da formação do educador dentro do contexto da educação brasileira. Neste tópico, vamos estudar as exigências educacionais atuais e as dificuldades encontradas pelos educadores na sua formação profissional. Para compreendermos a citação do autor José Carlos Libâneo necessitamos traçar alguns pontos, ainda que de forma generalizada, da trajetória da Educação nacional e, neste tocante, ao papel exercido pelo educador num contexto traduzido por aceleradas mudanças quer no plano legal como sócio-filosófico. A expansão do ensino na década de 60, ocasionou o conseqüente crescimento da massa de professores e alunos, essa expansão foi amparada pela Lei e Diretrizes e Bases 4024/61, que entre outras coisas incorporava uma série de garantias à sociedade civil, no tocante a obrigatoriedade do ensino primário e sua gratuidade nas escolas públicas, além de estender essa gratuidade nos níveis ulteriores, para alunos carentes. O texto legal de 1961, ofereceu pela primeira vez na história da educação brasileira, um arcabouço teórico e metodológico em que se podia divisar, com Novas exigências educacionais pedem às universidades e cursos de formação para o magistério um professor capaz de ajustar sua didática às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos diversos universos culturais, dos meios de comunicação. José Carlos Libâneo AULA 1 TÓPICO 4 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 19 06/04/2016 11:01:06 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação20 relativa clareza as diretrizes e bases da educação nacional. Essas diretrizes promoveram uma grande flexibilizaçãoem nível de migração interna do aluno que, através do mecanismo de aproveitamento de estudos poderia, a partir de então, migrar de um ramo para outro de ensino, com mesmo nível de equivalência, o que antes não era viabilizado. A continuidade dessa expansão foi reforçada com a Lei 5694/71 da Reforma de ensino de 1º e 2º graus, que ampliou a escolaridade obrigatória para 8 anos. A democratização escolar oportunizou acesso de grande camada da população a etapas mais avançadas da escolarização básica. Em contrapartida, exigiu a criação de políticas públicas voltadas a destinação de recursos para o financiamento da escolarização elementar a ser atendida na faixa etária de 7 a 14 anos. A criação de um fundo destinado a educação já tinha sido prevista na Constituição de 1932, reforçada na Constituição de 1946, e na Constituição de 1988, no seu artigo 212. No governo de Fernando Henrique Cardoso, foi sancionada a Lei 9424/96 que cria o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF) e de Valorização do magistério, destinando a aplicação de 60%. Essa lei tinha como objetivo a eliminação do analfabetismo, a universalização do ensino fundamental e a remuneração condigna do magistério. Hoje esta lei foi revogada pela medida provisória nº 339, de 28 de dezembro 2006, que dispõem sobre os fundos destinados à manutenção e ao desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação. Partindo deste pressuposto poderíamos considerar que esses avanços foram importantes para corrigir as imensas desigualdades sempre recorrentes da estrutura educacional brasileira. Essa, no entanto, seria uma visão simplista, uma vez que essas medidas ainda são insuficientes no sentido lato para fazer frente à histórica defasagem regional, em termos de aplicação de recursos, senão vejamos at e n ç ã o ! É importante que você consulte a Constituição, mais especificamente o artigo 212. Acesse o site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/L9394.htm e conheça mais sobre as leis de Valorização do magistério. s a i b a m a i s ! Saiba mais sobre o FUNDEF e agora sobre o FUNDEB consultando o site: www.mec.gov.br Fundamentos Socio-filosoficos.indd 20 06/04/2016 11:01:06 21 • O crescente aumento da massa escolarizada X incipiente condições infra-estruturais da educação básica; • A falta de sintonia entre os níveis de ensino, a educação básica não contou com o suporte necessário das universidades na preparação e adequação dos profissionais do magistério frente às especificidades da educação básica, o que acarretou como conseqüência a lenta desqualificação e precarização dos profissionais de ensino, através de cursos de licenciatura com currículos aligeirados, alguns deles no formato seqüencial; • Escassez de Concurso de provas e títulos para ingresso na carreira de magistério, como forma de suprir esta carência surge a figura do professor temporário no provimento de cargos para o magistério público, precarizando as relaçõs de trabalho. • Modelo neoliberal foi também estendido à educação, onde a máxima é o ter preponderando sobre o ser. A mais valia produtiva era traduzida pelo aumento de vagas e a natural absorção da mão de obra docente tendo como prerrogativa legal a (LDB 9394/96) cuja determinações expressas no Plano Nacional de Educação ( ) instituiu a Década da Educação, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos prevendo que todos os professores da Educação Básica tivessem nível superior, sem se preocupar com a qualidade dessa formação. • Disparidades regionais na aplicação de recursos que criaram ilhas de excelência em áreas tradicionalmente contempladas, como as regiões sul e sudeste, tradicionalmente as mais aquinhoadas com recursos orçamentários da União que utiliza os indicadores do número de alunos matriculados no cômputo das receitas e despesas. • O descompasso na práxis de sala de aula no domínio das Tecnologias de informação e comunicação (Tic´s) em algumas escolas os professores fazem uso da convergência de mídias interativas, e, em outras, há somente disponibilidade do quadro e giz. Acrescenta-se a este fato, a ausência nos currículos das licenciaturas de uma disciplina que trate das mídias na educação numa perspectiva crítica. AULA 1 TÓPICO 4 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 21 06/04/2016 11:01:06 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação22 Diante dessas questões, o professor se vê diante as incertezas de um contexto globalizado ou diria está submerso “nas incertezas” de uma prática pedagógica que não consegue dá respostas aos grandes problemas vivenciados na sala de aula e da contemporaneidade. Como diria Moran: Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, desmotivamo-nos continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que muitas aulas convencionais estão ultrapassadas. Mas para onde mudar? Como ensinar e aprender em uma sociedade mais interconectado. (MORAN, 2000, p.11) Nesta ótica deste autor a maior contribuição do conhecimento do século XX foi o conhecimento dos limites do conhecimento. A maior certeza que nos foi dada é a da indestruibilidade das incertezas. Concluiríamos que os impasses ou entraves na formação de educadores tendem a ser relativizados ao se contemplar a educação não como redentora das mazelas sociais e muito menos na sua forma compensatória, mas como condição substantiva que envolva a ótica planetária, mundial e globalizante, portanto, superando a matriz epistemológica cartesiana que privilegiou a separação em detrimento a ligação, e a análise em detrimento da síntese. At i v i d a d e s d e a p r o f u n d a m e n t o 1. Você poderia apontar na sua vida cotidiana situações de resoluções de problemas baseado no senso comum ? Descreva-as e se possível compare-as se estas mesmas resoluções fossem solucionadas utilizando- se a visão científica. 2. Para aprofundar um pouco mais o tema, pesquise sobre um dos temas (ou os temas) a seguir: Educação formal e informal. 3. Finalidade da educação na Grécia antiga (Esparta e Atenas), na Idade Média e na Idade Moderna. Finalidade da educação nas comunidades tribais. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 22 06/04/2016 11:01:06 23 AULA 2 Ideologia Caro(a) aluno(a), Na aula anterior mencionamos várias vezes a palavra ideologia. Você sabia que a ideologia é fundamental na organização das nossas ações cotidianas, responsável por nossas escolhas e que, no sentido restrito, o senso comum é o espaço por excelência de sua influência? É o que vamos discutir a seguir. Fique atento! Os conceitos de ideologia, a história da criação destes conceitos e as características da ideologia, no sentido restrito, para entendermos as influências que sofremos na nossa formação e posicionamentos políticos, econômicos e sociais; • O significado e conseqüências da alienação • A força da ideologia na educação • A diferença entre educação e doutrinação • As condições objetivas para desvelar a ideologia dominante e criar uma contra ideologia Convidamos você a mergulhar no universo de informações, reflexões e desafios que propomos, para que possa desenvolver um posicionamento crítico sobre a ideologia na sua perspectiva ampla e restrita. Bom aproveitamento! AULA 2 Fundamentos Socio-filosoficos.indd23 06/04/2016 11:01:06 24 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação 1.1 CONCEITOS DE IDEOLOGIA O conceito de ideologia aparece pela primeira vez, no final do século XVIII, com o francês Desttut de Tracy, para designar a ciência das idéias. O autor parte da crença na razão, típica de sua época, com o intuito de submeter às idéias ao mesmo processo de análise e compreensão dos objetos naturais. a) raymOnd Williams Já no século XX, Raymond Williams (na obra Cultura e sociedade, 1958) define ideologia em três concepções básicas: • Sistema de crenças de uma classe ou grupo social, incluindo-se os valores, idéias e projetos de um grupo ou classe social específico. • Sistema de crenças ilusórias – falsa consciência. Essas crenças, baseadas em critérios impossíveis de ser comprovados, contrastariam com o conhecimento verdadeiro ou científico. • Processo geral de produção de significados ou idéias. Aos dois primeiros conceitos chamaremos de conceito restrito e ao último de conceito amplo ou geral de ideologia. Vamos entender melhor o conceito geral. Cada pessoa tem seus valores e crenças com os quais orienta suas escolhas. Ideologia seria, então, um conjunto de idéias sistematizadas que servem para orientar nossas ações. E no sentido restrito, o que significa? TÓPICO 1 Ideologia e alienação ObjetivOs • Compreender os conceitos de ideologia, amplo e restrito • Identificar as características da ideologia no seu conceito restrito • Refletir sobre as causas e conseqüências da alienação na sociedade capitalista Fundamentos Socio-filosoficos.indd 24 06/04/2016 11:01:06 25 b) engels e marx Vamos voltar ao século XIX, ao livro A ideologia Alemã, de Friedric Engels (1820-1895) e Karl Marx (1818-1883), para compreendermos a interpretação do que caracterizava a sociedade capitalista e o conceito de ideologia para os dois autores. Esse conceito significou, na verdade, uma verdadeira revolução, um marco, na história do pensamento político, econômico e social da humanidade. A obra de Engels e Marx apresenta a ideologia em três elementos básicos: • Separação: A vida humana está dividida em duas instâncias: a infra- estrutura, esfera da produção material e a superestrutura, esfera da produção de idéias. A infra-estrutura se compõe da economia, produção de bens necessários à sobrevivência das pessoas; e a superestrutura se constitui da moral, do direito, da política e das artes. • Determinação: É a relação decorrente da separação entre infra- estrutura e superestrutura. Analisando essa separação, verifica-se o domínio estabelecido pela infra-estrutura sobre a superestrutura: as relações de produção determinam a organização social (jeito de ser e viver de um povo). No princípio de determinação, as idéias são originadas na vida material e por ela definidas. • Inversão: Distorção da realidade. Numa metáfora, a obra A ideologia Alemã mostra como a ideologia faz com que a vida apareça para os homens: como se estivesse no interior de uma câmera fotográfica, de cabeça para baixo. Isto é, ela aparece para os homens de maneira inversa àquilo que é na realidade. O saber científico, saber real, seria, pois, o elemento capaz de desmascarar a ideologia, recolocando o mundo de cabeça para cima, mostrando a realidade tal como ela é. Segundo os autores, destruindo a inversão que a ideologia produz, o conhecimento científico iria revelar os mecanismos de separação e determinação. Vejamos as palavras dos autores: Os homens são os produtores de suas representações, de suas idéias etc., mas os homens reais e ativos, tal como se acham condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ela corresponde até chegar às suas formações mais amplas. A consciência jamais pode ser outra do que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. E se, em toda ideologia, os homens e suas relações aparecem AULA 2 TÓPICO 1 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 25 06/04/2016 11:01:06 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação26 ATENTAR PARA ESPAÇO NO FIM DO ICONE (TENTAR MANTER SEMPRE ESSE MESMO ESPAÇAMENTO) invertidos como uma câmara escura, tal fenômeno decorre de seu processo histórico de vida, do mesmo modo por que a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico, processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse processo de vida. ...Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência. (MARX; ENGELS, p.37) Observe a figura anterior (imagem) e a relacione ao que Aranha (2006, p. 81) afirma, na esteira do pensamento de Marx e Engels, sobre ideologia: “Ao ocultar a situação concreta de exploração, a ideologia descreve uma realidade abstrata, universal, lacunar e invertida. Reflita um pouco sobre isso e depois volte para à leitura. c) gramsci Para concluir esta primeira parte, vamos refletir sobre o conceito positivo de ideologia para pensador Antonio Gramsci (1891-1937), que a defendia como base da estrutura social. Para o autor, a ideologia, quando incorporada como senso comum, estabeleceria o consenso, garantindo hegemonia de uma determinada classe que assume o poder. De acordo com Gramsci, “O significado mais amplo de uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas as manifestações de vidas individuais e coletivas e que tem por função, conservar a unidade do bloco social”. 1.2 ALIENAÇÃO NA SOCIEDADE INDUSTRIAL E PÓS-MODERNA Agora que já compreendemos um pouco melhor os conceitos de ideologia, vamos entender como aconteceram os processos de alienação na sociedade industrial e pós-moderna. a) relações de trabalhO e alienaçãO Na sociedade industrial, que se desenvolveu nos séculos XVII e XVIII, o trabalhador trocava o fruto do seu trabalho por um salário, caracterizando-se, assim, a perda da posse de sua produção. Com a perda da sua produção, o próprio indivíduo não mais se pertence, porque não escolhe o ritmo de trabalho, seus horários, o valor do seu salário, não planeja o que faz, apenas executa comandado Figura 1 - Câmera fotográfica Fundamentos Socio-filosoficos.indd 26 06/04/2016 11:01:07 27 de fora por forças que lhe são estranhas. Não bastando isso, a alienação do produto, provoca alienação do próprio indivíduo porque este deixa de ser referência de si. No século XX, o norte–americano Henry Ford introduziu a novidade da linha de montagem. A idéia de Ford provocou a perda da totalidade da produção por parte do trabalhador, que passou a ser responsável por apenas uma parte da produção. Frederick Taylor (1856- 1915), por sua vez, estabeleceu as bases do aumento da produção, economizando tempo, condicionando o trabalhador a evitar gestos entendidos como desnecessários durante a produção, uma vez que até as necessidades fisiológicas eram cronometradas e controladas. O sucesso do taylorismo, que previa e controlava melhor as fases da produção, fez com que se expandisse a idéia para domínios fora da fábrica. Houve, assim, um grande desenvolvimento do setor de planejamento, o que resultou numa grande burocratização. Este modelo de objetividade e racionalidade caracterizou-se por uma técnica social de dominação. A eficiência tornou-seum dos principais critérios dos negócios através das premiações gratificações e promoções, estimulou-se a competição entre os trabalhadores, fato que dificultava a solidariedade entre eles e os identificava com os interesses da empresa em que trabalhavam. Pior, esses mesmos valores invadiram os lares e influenciaram a educação, perfeitamente representados na tendência tecnicista que chega ao Brasil na década de 60 (assunto que estudaremos na aula V.) b) alienaçãO e inFOrmaçãO E na nossa sociedade, como se caracteriza o processo de alienação? As relações de trabalho se modificaram. Com o desenvolvimento tecnológico e as modificações na produção, o setor predominante passou a ser o setor de serviços que envolvem as áreas de comunicação e informação, educação, saúde, comércio, Figura 2 - Industria Automobilística Fo n te : w w w .l at in st oc k .c om .b r AULA 2 TÓPICO 1 s a i b a m a i s ! Vamos lembrar o conceito de alienação no dicionário Aurélio (2006): “falta de consciência dos problemas políticos e sociais; afastamento da sociedade; sensação de marginalidade.” Fundamentos Socio-filosoficos.indd 27 06/04/2016 11:01:07 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação28 finanças, lazer, entre outras. Uma das principais características dessas novas relações, o trabalho especializado e a flexibilização, superando o modo de produção fordista e modificando as relações patrão e empregado. Contudo, essas mudanças não libertaram as pessoas dos processos de alienação a que estavam submetidas no modelo anterior, que tinha no setor secundário seu principal representante, apenas estes se modificaram. Como, você deve estar se perguntando: O fato de o mercado exigir pessoas melhor preparadas, em muitos casos graduados e especialistas, não tornaria mais fácil desvelar a ideologia dos grupos dominantes? É aparentemente sim. Todavia, o desemprego, a terceirização dos serviços e o aumento do mercado informal fazem com que os trabalhadores tenham que aceitar as condições estabelecidas, determinadas pelo mercado financeiro, que tem nas áreas de comunicação e informação seu maior veículo de disseminação dos valores necessários a sua expansão e dominação. A realidade, o mundo real dos homens, desaparece, então, em detrimento de uma outra realidade, que é um simulacro, um espetáculo em que as ações dos homens passam a ser mediadas pelas influências recebidas; em que eles são expostos a uma série de necessidades que não são reais e a um isolamento cada vez maior. Nessa perspectiva, até o lazer torna-se alienado. Não bastando tudo o que traz essa nova realidade, o mundo do consumismo gera uma exclusão gigantesca de pessoas que não têm acesso ao conhecimento e aos frutos da riqueza produzida, uma verdadeira massa humana de marginalizados pelo sistema. O que fazer então pra usar os meios de comunicação e a educação a serviço da emancipação humana? Este é o assunto do nosso próximo tópico.Figura 3 - Pessoas conversando Fo n te : w w w .l at in st oc k .c om .b r s a i b a m a i s ! Processo de multifuncionalização de sua mão-de- obra, uma vez que por se basear na mecanização flexível e na produção para mercados muito segmentados, a mão-de-obra não podia ser especializada em funções únicas e restritas como a fordista. Para atingir esse objetivo os japoneses investiram na educação e qualificação de seu povo e o toyotismo, em lugar de avançar na tradicional divisão do trabalho, seguiu também um caminho inverso, incentivando uma atuação voltada para o enriquecimento do trabalho. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 28 06/04/2016 11:01:07 29 TÓPICO 2 Ideologia e educação ObjetivOs • Perceber o caráter ideológico da educação • Compreender a importância de um sistema educacional brasileiro, para • Orientar a definição dos rumos da educação em nosso país Já vimos que é ingênuo pensar na educação como uma prática a política, como um espaço neutro, porque esta reflete, sem sombra de dúvida, os interesses antagônicos das forças existentes na sociedade em que está inserida. Logo, só é possível fazer uma análise da educação, se a situarmos num tempo e num espaço. Neste tópico, refletiremos um pouco sobre o caráter ideológico da educação e sobre os cuidados que os educadores precisam ter para não se transformarem em reprodutores, o que o educador Paulo Freire (1996, p.27), chamou de educação bancária, como vemos a seguir: Quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto mais se constrói o que venho chamando “curiosidade epistemológica”, sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto”. “É isto que nos leva... à crítica e à recusa ao ensino “bancário” Ao definir a sua prática educativa, o educador é orientado internamente por uma ideologia, no sentido amplo. O problema é saber como se construiu essa mesma ideologia internamente, e até que ponto o educador não foi induzido a acreditar no que o impulsiona, sem uma reflexão critica dos a respeito dos pilares de sua formação, uma vez que o senso comum é o espaço, por excelência, da disseminação da ideologia dominante. Esse é um perigo denunciado por Gramsci, filósofo italiano (1891-1937), sobre o qual já falamos no tópico anterior. AULA 2 TÓPICO 2 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 29 06/04/2016 11:01:07 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação30 De acordo com Freire (1996, p.24), “a reflexão critica sobre a prática, se torna uma exigência da relação teoria/prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo.” É por esta razão, que o professor precisa desenvolver uma práxis alicerçada no chão da escola (levando em consideração as condições políticas, sociais e econômicas); em teorias que fundamentem sua prática e uma reflexão rigorosa desta, para que desenvolva suas atividades de forma intencional. O problema que se põe é que o educador partirá de suas próprias concepções sobre educação e as suas finalidades: se for um professor progressista, buscará estratégias de intervenção que desvelem a ideologia dominante, objetivando uma ruptura; se for conservador, consciente ou inconsciente (quando acredita desenvolver uma educação neutra), organizará sua prática de modo a manter o que está estabelecido. A forma como a escola se organiza, os textos e livros didáticos que utiliza até a forma como os utiliza, o enfoque dado as disciplinas, o currículo determinam que tipo de educação esteja propondo e a serviço de que/quem ela está. É por esta razão que se faz necessário ampliar esta discussão para toda a sociedade civil e suas representações, para definir de que educação o seu povo necessita. Ou seja, que sociedade precisa ser construída a médio e longo prazo, definindo para tanto, o seu sistema educacional. Sobre como se pensa a educação no Brasil, Saviani (1988) fez uma análise da Lei de Diretrizes e base de 1961 e denunciou o aspecto precário da Lei, uma vez que a ela não está subjacente uma teoria capaz de possibilitar a construção de um verdadeiro sistema educacional brasileiro. Na mesma análise, Saviani mostra a diferença entre sistema de ensino e estrutura de ensino, esta última caracterizada pela ausência de plano, pela assistematicidade da ação e pela inexistência de projetos claramente expostos e. Vejamos o que afirma Aranha (2006) ao interpretar o trabalho de Saviani:Se não existe uma teoria explicita subjacente, a ação perde a intencionalidade, a unidade e a coerência, mas não deixa de ser orientada pelos valores vigentes, expressos pelos interesses dos grupos dominantes. E eis ai de novo a ação silenciosa da ideologia. Pois o direito, como toda elaboração da consciência humana, reflete as condições estruturais da sociedade em determinado momento histórico, e as leis, como são feitas pela elite, vêm em defesa dos valores daqueles que já detêm privilégios. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 30 06/04/2016 11:01:07 31 TÓPICO 3 Educação e doutrinação ObjetivO • Estabelecer a diferença entre educação e doutrinação 3.1 EDUCAÇÃO E DOUTRINA Para podermos tratar de educação e doutrinação convém retomar nossas reflexões sobre o papel da educação. Vejamos o que diz Aranha sobre esta questão: É a educação que mantém viva a memória de um povo e dá condições para a sua sobrevivência material e imaterial. A educação é, portanto, fundamental para uma socialização e humanização, com vistas à autonomia e a emancipação. Trata-se de um processo que dura à vida toda e não se restringe à mera continuidade da tradição, pois supõe a possibilidade de rupturas, pelas quais a cultura se renova e o ser humano faz história. (ARANHA, 2006, p.67) Dessa forma seriam necessárias três coisas para educar: 1. Informar: Socializar as produções materiais e imateriais construídas pela humanidade historicamente, de forma concreta; 2. Discutir: Refletir sobre os condicionamentos históricos da produção do conhecimento, o acesso a este, as condições objetivas de superação dos processos de dominação e exclusão, através da promoção de debates no interior dos espaços educativos; 3. Criar: fomentar a curiosidade epistemológica para que o novo seja gestado. AULA 2 TÓPICO 3 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 31 06/04/2016 11:01:07 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação32 Tratemos agora de doutrina, para depois fazermos a relação entre doutrinação e educação. Vejamos o conceito de doutrina: DOUTRINA: Conjunto de princípios, de idéias que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico ou científico. (Aurélio, 2006) Doutrinar, então, seria ensinar princípios. 3.2 BREVE HISTÓRIA DO SURGIMENTO DA ESCOLA Século VI a.C. – Surgem as primeiras escolas nas cidades da Grécia antiga. Elas tinham como objetivo educar os jovens para suprir as suas necessidades (da cidade). Eram destinadas aos que podiam dedicar-se ao ócio, ocupar-se das funções nobres de pensar, governar e guerrear. Século VI d.C. - Surgem as primeiras escolas nos mosteiros. Tinham como a finalidade de instruir os noviços. – Por ocasião do Renascimento urbano, foram criadas escolas seculares, que contestavam o ensino religioso, considerado muito formal; apresentavam uma proposta ativa cujo interesses estavam voltados para a burguesia em ascensão. Nessa época, Como geralmente não tinham acomodações adequadas, o mestre recebia os alunos em diferentes locais, até na sua casa. Século XVI e XVII – Como resultado do embate católico e protestante, são organizadas instituições religiosas na Europa (reformadas ou católicas) para, principalmente, evangelizar. Observemos suas vertentes e seus idealizadores: Martim Lutero, considerava importante que as pessoas (homens e mulheres) aprendessem a ler, para terem acesso a Bíblia, traduzida por ele, para o alemão. Defendia a implantação da escola primária para todos, repudiava os castigos físicos, o “verbalismo oco Figura 4 - Túnel do tempo Fo n te : w w w .l at in st oc k .c om .b r Figura 5 - Mosteiro medieval Fo n te : w w w .l at in st oc k .c om .b r s a i b a m a i s ! A palavra grega “Scholé” significa inicialmente lugar do ócio. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 32 06/04/2016 11:01:07 33 da Escolástica” e a filosofia medieval, propondo jogos, exercícios físicos, música, conteúdos literários, o estudo da história e matemática. Companhia de Jesus, ordem católica que surgiu como reação a Reforma protestante, tinha como objetivo inicial, a propagação da fé, a luta contra os infiéis e os hereges. Os jesuístas fundaram vários colégios e universidades na América, África e Ásia. Preferiam a tradição clássica, enfatizando a retórica e os exercícios de erudição, o latim e a Escolástica.Davam pouca importância à história, à geografia e a matemática. A escola jesuítica era caracterizada pela clausura, renúncia e sacrifício, impunha uma disciplina rígida, vigiada 24h. Estimulava o desenvolvimento individual por meio da competição, através de torneios intelectuais (incentivo para superar o outro), premiando ou castigando. Século XVII – Vejamos os grandes representantes desta época: João Amós Comênio, autor da obra Didática Magna, desenvolve um método de ensino que busca ensinar de forma rápida e segura, tendo como ponto de partida, o conhecido e que valoriza a experiência. Defende a escola única e universal, de responsabilidade do estado. Apesar do aparente avanço das idéias comenianas, o rigor estabelecido aos passos que deviam ser seguidos na aplicação do método de aprendizagem e a preocupação o com a ordem, o colocam como representante da escola tradicional. Oratorianos: Ordem religiosa que se opunha aos jesuítas e que se voltava para as novas ciências e para o pensamento cartesiano, René Descartes (1596-1650), ensinavam o francês e outras línguas modernas, além do latim, recomendavam o uso de história e geografia com uso de mapas, encorajavam a pesquisa científica e empregavam uma disciplina branda. Jonh Locke – (1632-1704), valorizava o ensino da língua local, da contabilidade e da escrituração comercial, recusando a retórica e os excessos da lógica, propondo o estudo da história, geografia, geometria e ciências naturais. Pai do empirismo compreendia a mente como uma tabula rasa que se escreveria com a experiência (aula 4 ). Cabia ao professor, proporcionar experiências fecundas que auxiliassem a criança a fazer uso correto da razão. Século XVIII – Século das luzes, as exigências do mercado e as demandas sociais impunham a necessidade de se criar uma escola que ensinasse a ler, organizasse a massa de trabalhadores e a submetesse à disciplina e à obediência. AULA 2 TÓPICO 3 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 33 06/04/2016 11:01:08 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação34 Século XIX - Destaca-se a experiência dos ingleses Andrew Bew (1753-1832) e Joseph Lancaster (1778-1838), que desenvolvem, separadamente em suas escolas destinadas a crianças pobres, um método de ensino monitorado que prepara os melhores alunos para serem monitores dos demais que eram agrupados de acordo com o nível em matemática (aritmética), ortografia e leitura. O professor ensinava aos mais adiantados e estes, ensinavam ao seu grupo, cabendo ao professor, monitorar toda a sala e interferir quando necessários. As atividades tinham um tempo certo para serem desenvolvidas. Mesmo a escola tradicional tendo sido alvo de críticas, principalmente devido às contribuições da sociologia e da psicologia, nela persistia, o ensino em internatos, com disciplina rigorosa e vigilância constate. Século XX – Palco de importantes teorias e projetos pedagógicos que objetivavam superar a escolatradicional, rígida, magistrocêntrica e voltada a memorização dos conteúdos. Escola Nova: objetivava fazer com que os alunos aprendessem a aprender. Nela aluno é visto como um indivíduo único, tornando-se o centro do processo (pedocentrismo), destacando-se a importância da satisfação das necessidades infantis. O conteúdo é visto como secundário diante do processo de descoberta do conhecimento. A metodologia tem como princípio, aprender fazendo. Objetiva- se formar o sujeito integral: razão, sentimentos, emoção, ação e o corpo. Os programas e horários são flexíveis e a avaliação é compreendida como um processo para o aluno, não para o professor. A disciplina é voltada para autodisciplina, que deve ser construída por meio de debates que farão com estes compreendam a necessidade das normas coletivas. p a r a p e n s a r A partir do que relatamos, quais seriam as reais possibilidades de transformação qualitativa da escola, a fim de que ela possa desenvolver uma contra-ideologia? Este é o assunto do próximo tópico. v o c ê s a b i a? Pedagogias progressistas partem de uma análise crítica das realidades sociais sustentando as finalidades sócio-políticas da educação. A pedagogia progressista se divide em três tendências: Libertária, Libertadora e Critico social dos conteúdos. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 34 06/04/2016 11:01:08 35 Começamos nossa discussão sobre CONTRA-IDEOLOGIA E EDUCAÇÃO tendo como categoria a POLÍTICA, para isso nos servimos da análise de Chauí (2000), sobre o pensamento de Maquiavel, segundo o qual não é possível admitir um fundamento anterior e exterior à política (Deus, Natureza ou razão). Diz o autor, em O príncipe, que toda Cidade está originariamente dividida por dois desejos opostos: o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado. Essa divisão evidenciaria que a Cidade não seria uma comunidade homogênea nascida da vontade divina, da ordem natural ou da razão humana. Na realidade, a Cidade seria tecida por lutas internas que a obrigam a instituir um pólo superior que possa unificá-la e dar-lhe identidade. Esse pólo é o poder político. Assim, a política nasce das lutas sociais e é obra da própria sociedade para dar a si mesma unidade e identidade. Chauí (op.cit 2000. p.512) aponta ainda no pensamento de Maquiavel a não aceitação da idéia da boa comunidade política constituída para o bem comum e a justiça. O ponto de partida da política para ele é a divisão social entre os grandes e o povo. A sociedade é originariamente dividida e jamais pode ser vista como uma comunidade una, indivisa, homogênea, voltada para o bem comum. Essa imagem da unidade e da indivisão é uma máscara com que os grandes recobrem a realidade social para enganar, oprimir e comandar o povo, como se os interesses dos grandes e dos populares fossem os mesmos e todos fossem irmãos e iguais numa bela comunidade. TÓPICO 4 Contra-ideologias e educação ObjetivO • Refletir sobre as possibilidades concretas do desenvolvi- mento de um discurso contra-ideológico AULA 2 TÓPICO 4 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 35 06/04/2016 11:01:08 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação36 Outros pensadores afirmam que para responder às diferentes formas assumidas pelas lutas de classes, a política é inventada de tal maneira que, a cada solução encontrada, um novo conflito ou uma nova luta podem surgir, exigindo novas soluções. Em lugar de reprimir os conflitos pelo uso da força e da violência das armas, a política aparece como trabalho legítimo dos conflitos, de tal modo que o fracasso nesse trabalho é a causa do uso da força e da violência. No mundo do trabalho, a questão da política, com a ampliação do setor de serviços, é desfocada da tradicional oposição entre o proprietário da fábrica e o proletário, segundo a clássica representação marxista. Cada vez mais as empresas são controladas por administradores, os tecnoburocratas. Tudo isso pode dar a ilusão de que a máquina livra o homem do duro conflito patrão-empregado, libera o seu tempo para outras atividades, mais prazerosas, criando ainda a expectativa da possibilidade de melhor distribuição das riquezas. O que ocorre, no entanto, é o aparecimento de mecanismos de exploração menos evidentes, já que a autonomia dos executivos tem como pano de fundo controlador o grande capital das multinacionais, concentrando renda e impedindo que a distribuição da riqueza seja feita de forma homogênea. PROFESSORES COMO MÃO-DE-OBRA ALIENADA? Na educação o foco político recai nos riscos de alienação que ameaçam os profissionais de ensino e em especial os professores, que desenvolvem um tipo de trabalho intelectual ou trabalho não-material, muito peculiar. Enquanto, por exemplo, para os intelectuais que produzem obras de arte e livros, a obra de pensamento se encontra separada de quem a produziu; no caso do professor, não existe essa separação, já que seu trabalho se desenvolve durante o ato mesmo de se produzir. A esse respeito, diz o professor Saviani: A aula é alguma coisa que supõe, ao mesmo tempo, a presença do professor e a presença do aluno. Ou seja, o ato de dar aula é inseparável da produção desse ato e de seu consumo. A aula é, pois, produzida e consumida ao mesmo tempo. Justamente nesse contato com o aluno é que poderia ser inculcada a ideologia e a alienação, o que foi amplamente enfatizado por muitos autores como Althusser, Passeron e Arroyo, que estudaram a escola como reprodutora do sistema sócio- político-econômico vigente. Nesse sentido, mesmo quando imbuídos de boas Fundamentos Socio-filosoficos.indd 36 06/04/2016 11:01:08 37 intenções, os professores estariam repassando a seus alunos valores que precisariam na verdade ser revistos e criticados. Somos, diz Hegel, seres históricos e culturais. Isso significa que, além de nossa vontade individual subjetiva (que Rousseau chamou de coração e Kant de razão prática), existe uma outra vontade, muito mais poderosa, que determina a nossa: a vontade objetiva, inscrita nas instituições ou na Cultura. A vontade objetiva – impessoal, coletiva, social, pública – cria as instituições e a moralidade como sistema regulador da vida coletiva por meio de mores, isto é, dos costumes e dos valores de uma sociedade, numa época determinada. A moralidade é uma totalidade formada pelas instituições (família, religião, artes, técnicas, ciências, relações de trabalho, organização política, etc.), que obedecem, todas, aos mesmos valores e aos mesmos costumes, educando os indivíduos para interiorizarem a vontade objetiva de sua sociedade e de sua cultura. Como conseqüência, o imperativo categórico não poderá ser uma forma universal desprovida de conteúdo determinado, como afirmara Kant, mas terá, em cada época, em cada sociedade e para cada Cultura, conteúdos determinados, válidos apenas para aquela formação histórica e cultural. Assim, cada sociedade, em cada época de sua História, define os valores positivos e negativos, os atos permitidos e os proibidos para seus membros, o conteúdo dos deveres e do imperativo moral. Ser ético e livre será, portanto, pôr- se de acordo com as regras morais de nossa sociedade, interiorizando-as. Nas obras do educador Paulo Freire temos vários caminhos para a construção de uma contra-ideologia na educação. Vejamos o que diz o depoimento de uma moradora de cortiço de Santiagodo Chile, que aparece no final do livro Educação como Prática da liberdade (1999 ): “Gosto de discutir sobre isto, porque vivo assim. Enquanto vivo, porém não vejo. Agora sim, observo como vivo.” Freire retrata a dialética docente da seguinte maneira: Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da AULA 2 TÓPICO 4 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 37 06/04/2016 11:01:08 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação38 liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor conta a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa, mas não desiste. Boniteza que esvai de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar. (FREIRE, 1996, p. 115-116) O texto A Escola: Espaço de construção da contra-ideologia está disponível no ambiente. At i v i d a d e s d e a p r o f u n d a m e n t o 1. Fazendo uma comparação com o que estudamos no tópico 2, da aula 1 (finalidade da educação: educação e libertação), as informações sobre o papel da educação, o conceito de doutrinar e o breve histórico a seguir, o desafiamos a responder: Embora a escola não seja responsável sozinha pela educação das pessoas, as escolas se caracterizaram historicamente como espaços educacionais ou doutrinadores? 2. O que é ideologia e qual a sua função? 3. Quais as características da alienação? 4. Reflita sobre educação e doutrinação e aponte as suas características. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 38 06/04/2016 11:01:08 39 Olá! Você já se perguntou sobre o que é o ser humano? O que o caracteriza e o faz diferente dos outros seres? Se existe uma natureza humana que já nasça com o próprio ser humano, se ele se faz dependendo do seu tempo e espaço ou se também se faz mediante as circunstâncias: se é determinado, determinante, artífice de si (Aquele que projeta a si e executa ou seja é o responsável por construir-se a si mesmo)? Já se questionou sobre a existência ou não de uma essência humana? Se suas limitações naturais? Se são determinantes? Se existe liberdade para o ser humano? E, se existe, até onde pode ir? Ou não existe, é uma ilusão? Todas as indagações acima foram e são feitas ao longo de nossa história na GAIA, ou seja, no Planeta Terra. Nesta aula, procuraremos mostrar a você como, desde o mundo antigo, essas perguntas, foram sendo respondidas pelos filósofos e o que estas respostas significaram na definição dos modelos educativos que construímos: como esses modelos foram influenciados por estas concepções. De tudo o que foi afirmado pelos filósofos, destacamos três concepções para serem analisadas nesta aula: essencialista, naturalista e histórico cultural. Leia o material com atenção e tenha bom aproveitamento em mais este encontro. AULA 3 Pressupostos filosóficos da educação: concepções antropológicas AULA 3 Fundamentos Socio-filosoficos.indd 39 06/04/2016 11:01:08 40 Fundamentos Soc io f i l osó f icos da Educação TÓPICO 1 Concepção essencialista ObjetivO • Analisar os fundamentos teóricos que sustentaram a concepção essencialista ao longo da história da educação no Ocidente Alguns filósofos ao longo da nossa história, afirmaram que havia uma natureza imutável nos seres, inclusive no ser humano, aquilo o que os fazia serem o que eram e que já nascia com eles: “a unidade na multiplicidade” (PARMÊNIDES (510-470 a.C.)) A partir dessa perspectiva, mesmo constatando diferenças entre os homens, havia um modelo de ser humano a ser atingido, uma natureza humana universal idêntica em sua essência em todos os tempos e lugares, que seria atingida por meio da educação. Esses pensadores eram defensores da concepção ontológica essencialista. Vamos iniciar com três pensadores gregos: sócrates Para Sócrates (469-399 a.C.) as idéias se encontravam no íntimo do indivíduo. Desenvolveu os métodos da Ironia e Maiêutica para provar o que afirmava. v o c ê s a b i a? Definições da palavra Essência: 1. O que constitui a natureza de algo (Aurélio, 2006 p 374). 2. Parte mais importante de alguma coisa (Santos, 2001 p. 295) s a i b a m a i s ! Ironia: Desconstrução do que o sujeito pensa saber Maiêutica: Construção consciente do que o sujeito não sabia saber com a intervenção do mestre que o faz “parir” o conhecimento. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 40 06/04/2016 11:01:09 41AULA 3 TÓPICO 1 platãO Platão (427-347 a.C.) acreditava que as pessoas tinham contemplado o mundo das idéias, espaço fora da realidade material, onde se encontram as idéias perfeitas, e que a existência empírica - seu mundo de sombras-, as impediam muitas vezes, de recordar-se do que sabiam (reminiscência). O Platão utilizou um mito para explicar sua teoria: Mito da caverna. A verdadeira educação, admitindo a teoria de Platão, seria responsável por ajudar o ser humano a se lembrar do que já conhecera, no Mundo das Idéias, antes de ser aprisionado em seu corpo, superando, assim, sua existência empírica. Cada ser humano nascia com um tipo de alma, o que explicava as diferenças na capacidade de retorno, lembrança das idéias perfeitas, justificando as diferentes posições que ocupavam na sociedade. aristóteles Aristóteles (384-322 a.C.), definia o homem como ser racional, considerando essa atividade sua essência e separou matéria e forma, por compreender ser a matéria passiva, variável e neutra; e a forma, ativa, duradoura e aquela que dava um aspecto qualitativamente definido. A forma do homem era atividade pensante, que moldava a matéria e o criava, havendo uma forma para cada homem. O ser humano trazia em potência tudo o que podia ser, cabendo a educação atuar da mesma maneira com todos. O que, então, podia fazer os homens bons e dotados de qualidades morais, segundo o pensador? • A natureza • O hábito • A razão • Aspectos que deviam se harmonizar entre si. s a i b a m a i s ! Acesse o site: http://www.youtube.com/ watch?v=I9qPYb_N3ng&feature=related e obtenha mais informações sobre o mito da caverna. g u a r d e b e m i s s o ! O método da Maiêutica é inspirado na mãe do Sócrates que era parteira, cujo trabalho consiste em abrir caminho para a criança nascer. Fundamentos Socio-filosoficos.indd 41 06/04/2016
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