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Uso de Algemas

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HELGA DA SILVA BROD 
 
 
 
 
 
 
USO DE ALGEMAS: 
 O LIMITE ENTRE A LICITUDE E O ABUSO 
 
 
Monografia apresentada como requisito 
para obtenção do certificado de conclusão do curso de 
Pós-Graduação Ordem Jurídica e Ministério Público 
da Fundação Escola Superior do Ministério Público do 
Distrito Federal e Territórios, sob orientação do Prof. 
Paulo Afonso Carmona. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA – DF 
2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Jairo e Maria Lucia, e à minha 
avó Geralda, razões da minha vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os limites da liberdade individual não são 
postos senão no ponto em que ela comece a 
prejudicar a liberdade de outrem. 
 
Abade Sieyès 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................8 
2. DISCIPLINA LEGAL SOBRE O USO DE ALGEMAS ..................................................9 
2.1 A Lei de Execução Penal............................................................................................................. 9 
2.2 O Código de Processo Penal ..................................................................................................... 11 
2.3 O Código de Processo Penal Militar ........................................................................................ 12 
2.4 O Estatuto da Criança e do Adolescente ................................................................................. 14 
2.5 As Leis da Segurança da Água e do Ar ................................................................................... 15 
2.6 As Normas do Estado de São Paulo ......................................................................................... 16 
2.7 As Regras Mínimas para Tratamento de Presos no Brasil.................................................... 17 
3. O USO DE ALGEMAS E SUA PROBLEMÁTICA .......................................................18 
3.1 O abuso de autoridade e o constrangimento ilegal................................................................. 18 
3.2 Algemas e os direitos fundamentais......................................................................................... 19 
3.2.1 O princípio da dignidade da pessoa humana....................................................................... 19 
3.2.2 O princípio da presunção de inocência ............................................................................... 21 
3.2.3 A proibição à tortura e ao tratamento desumano ou degradante ........................................ 21 
3.2.4 O direito à integridade física e moral .................................................................................. 23 
3.2.5 O direito à imagem versus o direito de informação............................................................. 25 
3.2.6 O princípio da proporcionalidade como limite entre a legalidade e o abuso no uso de 
algemas ......................................................................................................................................... 30 
4. INCONGRUÊNCIAS DA SÚMULA VINCULANTE Nº 11..........................................35 
4.1 A inconstitucionalidade da súmula .......................................................................................... 35 
4.2 O ativismo judicial no conteúdo da súmula ............................................................................ 39 
4.3 O âmbito de abrangência da súmula ....................................................................................... 42 
4.4 A súmula vinculante n° 11 como exemplo de decisão judicial simbólica ............................. 44 
4.4.1 O simbolismo sob a ótica de Marcelo Neves ....................................................................... 44 
4.4.2 O momento de edição da súmula ......................................................................................... 48 
4.4.3 A impossibilidade de se cumprir a súmula........................................................................... 49 
4.4.4 A desnecessidade da súmula ................................................................................................ 51 
4.4.5 A ausência de legitimidade da súmula ................................................................................. 52 
5. CONCLUSÃO.....................................................................................................................56 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho investiga o limite entre a licitude e o abuso no emprego de algemas. 
Embora não haja uma lei, no Brasil, regulando o uso desse instrumento em âmbito nacional, é 
feita uma análise das leis que, de algum modo, servem para orientar o emprego adequado das 
algemas. Após, passa-se a enfrentar os problemas que envolvem o tema, como o possível 
enquadramento do mau uso de algemas em crimes de abuso de autoridade e de 
constrangimento ilegal, e a questão da compatibilidade dos direitos fundamentais do preso, 
tais como a dignidade da pessoa humana, a presunção de inocência, a integridade física e 
moral e a imagem, com o uso de algemas. Nesse aspecto, surge o princípio da 
proporcionalidade como o meio de se aferir se o uso de algemas, em determinado caso 
concreto, está dentro do que o ordenamento jurídico permite ou se houve algum excesso. Por 
fim, são levantadas críticas à súmula vinculante nº 11 editada pelo Supremo Tribunal Federal, 
que se em nada contribuiu para a solução dos conflitos hoje existentes sobre o uso de algemas, 
serviu para acentuá-los. 
 
Palavras-chave: Uso de algemas. Abuso de autoridade. Direitos fundamentais. Princípio da 
proporcionalidade. Súmula vinculante n° 11. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
This paper investigates the boundary between the lawful and abuse in the use of handcuffs. 
Although there is no law in Brazil, regulating the use of the instrument at the national level, 
there is a review of laws that in some way serve to guide the appropriate use of handcuffs. 
Following, is to tackle the problems that surround the subject, as a possible framework for the 
misuse of handcuffs in crimes of abuse of authority and illegal constraint, and the question of 
the compatibility of the fundamental rights of the prisoner, such as the dignity of human, the 
presumption of innocence, the physical and moral integrity and image, with the use of 
handcuffs. In this respect, is the principle of proportionality as the means to assess whether 
the use of handcuffs, in a case is within the law allows or if there was an excess. Finally, the 
criticisms raised are binding summary number 11 issued by the Supreme Court, which in no 
way contributed to the solution of conflicts now available on the use of handcuffs, served to 
accentuate them. 
 
Keywords: Use of handcuffs. Abuse of authority. Fundamental rights. Principle of 
proportionality. Summary binding 11. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Algema é uma pulseira metálica, dotada de fechadura, empregada para 
prender os braços de uma pessoa pelos punhos, na frente ou atrás do corpo.1 A utilização 
desse instrumento tornou-se comum por volta do século XVI, não somente para garantir a 
segurança pública, mas também, e principalmente, comomeio de castigar e humilhar os 
infratores da lei.2 
Ao longo do tempo, o uso de algemas vem gerando diversos 
questionamentos, sobretudo com a consagração do Estado Democrático de Direito e dos 
princípios insculpidos na Constituição de 1988, onde houve uma crescente preocupação em se 
estabelecer os limites dessa prática. Em face do princípio da dignidade da pessoa humana, por 
exemplo, hoje é inadmissível o emprego de algemas com o fim de infligir sofrimento físico ou 
psíquico a quem quer que seja. 
Contudo, não se olvida que persiste a necessidade de utilização de algemas 
para garantir a segurança dos responsáveis pela prisão e pelo transporte de presos, bem como 
de todos os presentes durante a realização de audiências e julgamentos.3 E à míngua de uma 
norma específica que discipline o uso de algemas em âmbito nacional, este trabalho faz um 
apanhado das leis do ordenamento jurídico pátrio, que de uma forma ou de outra, trazem em 
seu bojo alguma regra balizadora do emprego adequado do artefato em estudo. 
O cerne da questão, porém, consiste em encontrar uma solução para o 
conflito existente entre o uso de algemas e os direitos fundamentais do preso à dignidade da 
pessoa humana, à presunção de inocência, à integridade física e moral e à imagem, dentre 
outros. Propõe-se então, o princípio da proporcionalidade como o instrumento capaz de aferir, 
no caso concreto, se o uso de algemas respeitou os ditames legais e constitucionais vigentes 
ou se houve excesso, caracterizado este pela violação à integridade física do preso ou pela 
exposição pública do preso algemado, o que configura o crime de abuso de autoridade. 
Por fim, é feita uma análise da polêmica súmula vinculante nº 11, editada 
pelo Supremo Tribunal Federal, versando sobre o emprego de algemas. As principais críticas 
apontadas à súmula referem-se ao ativismo judicial e ao seu conteúdo eminentemente 
simbólico. Em vez de resolver os problemas, que não são poucos, envolvendo o uso de 
algemas, restará aqui demonstrado que a súmula criou vários outros. 
 
1
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, v. 1, 1998, p.162. 
2
 PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. Inquérito Policial: novas tendências. Belém: CEJUP, 1987, p. 49. 
3
 QUEIJO, Maria Elizabeth. Estudos em Processo Penal. São Paulo: Siciliano Jurídico, 2004, p. 20. 
2. DISCIPLINA LEGAL SOBRE O USO DE ALGEMAS 
2.1 A Lei de Execução Penal 
O artigo 199 da Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984, que instituiu a Lei de 
Execução Penal (LEP) no sistema brasileiro, prevê que “o emprego de algemas será 
disciplinado por decreto federal”.4 Assim, na forma definida em lei, o uso de algemas depende 
de regulamentação complementar, a ser feita por um decreto federal, que o discipline em 
âmbito nacional de maneira geral e uniforme. 
Por oportuno, vale lembrar que a LEP é do ano de 1984 e por isso se refere 
a um decreto federal para regulamentar o uso de algemas, o qual deveria ser editado pelo 
Poder Executivo. Todavia, com a Constituição de 1988, isso passou a ser matéria de lei, 
portanto de competência do Legislativo Federal.5 De qualquer forma, decorridos quase vinte e 
cinco anos de vigência da LEP, o artigo 199 ainda carece de complementação legal. 
De fato, desde 1986 surgem projetos de lei que visam regulamentar o uso de 
algemas, porém, nenhum deles, até o presente momento, logrou se transformar na tão 
esperada lei, sendo que vários foram arquivados6 e outros tantos ainda se encontram em fase 
de tramitação7. Historicamente, em regra, imperam as chamadas “normas de emergência”,8 
isto é, basta um episódio envolvendo o uso de algemas e que repercuta socialmente para, mais 
que depressa, despontarem toda sorte de projetos de lei prontos a dar uma resposta àquela 
situação determinada. 
 
4
 BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivl 03/Leis/L7210.htm. Acesso em: 25 mar. 2009. 
5
 BARBOSA, Júnio Alves Braga. O uso de algemas. Disponível em: 
http://www.direitonet.com.br/artigos/x/19/49/1949. Acesso em: 25 mar. 2009. 
6
 O primeiro projeto de lei que pretendeu regulamentar o artigo 199 da Lei de Execução Penal foi proposto pelo 
senador Jamil Haddad e recebeu o n° 241/1986, sendo, porém, arquivado ao fim da legislatura do referido 
parlamentar. No ano seguinte, o senador insistiu em seu propósito, por meio do PLS n° 41/1987, o qual mais 
uma vez não chegou a ser apreciado. Já em 1991, como deputado federal, Jamil propôs o PL n° 1.918/1991, 
que tramitou durante oito anos até ser arquivado em 1999. Em 2007, o PL n° 4/2007, de autoria do deputado 
Carlos Lapa, também não se desincumbiu de regulamentar o uso de algemas, restando arquivado nesse mesmo 
ano. 
7
 Há na Câmara dos Deputados 13 projetos apensados com o tema algemas, que tramitam em conjunto e 
aguardam votação, são eles: PL n° 2.753/2000, PL n° 3.287/2000, PL n° 4.537/2001, PL n° 5.494/2005, PL n° 
5.858/2005, PL n° 2.527/2007, PL n° 3.506/2008, PL n° 3.746/2008, PL n° 3.785/2008, PL n° 3.887/2008 PL 
n° 3.888/2008, PL n° 3.889/2008 e PL n° 3.938. Há ainda o Projeto de Decreto Legislativo – PDC n° 853/08. 
No Senado Federal tramita o PLS n° 185/2004. 
8
 “A idéia de emergência é corriqueiramente atrelada à de urgência e, num certo sentido, à de crise. Chama a 
atenção para algo que, de forma repentina, surge de modo a desestabilizar o status quo ante, colocando em 
xeque os padrões normais de comportamento e a conseqüente possibilidade de manutenção das estruturas. 
Nesse sentido, a ela se une a necessidade de uma resposta pronta, imediata e que, substancialmente, deve durar 
enquanto o estado emergencial perdura.” CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo Penal de emergência: aspectos 
introdutórios. Disponível em: http://www.justicavirtual.com.br/artigos/art98.htm. Acesso em: 25 mar. 2009. 
Tome-se como exemplo o projeto de lei de n° 5.494, apresentado em 23 de 
junho de 2005, o qual se originou logo após a prisão de um dos proprietários da Cervejaria 
Schincariol, caso esse que colocou em voga o debate sobre a necessidade do uso de algemas. 
Mais recentemente, no ano de 2008, em virtude do grande número de operações policiais que 
culminaram com o polêmico algemamento de pessoas da alta sociedade, como o advogado 
Ricardo Tosto, o banqueiro Daniel Dantas e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, houve 
uma avalanche de projetos de lei motivados pela exposição na mídia dos detidos com 
algemas. 
Sobre esse processo de legiferação de urgência, Fauzi Hassan Choukr critica 
o costume tupiniquim, destacando que 
a situação brasileira apresenta uma delicadeza particular quando se pensa na 
cultura emergencial, característica esta comum aos países em processo de 
(re)democratização, onde os valores que lhes são próprios mal são 
estabelecidos no pacto de civilidade e acabam por ser desmoralizados na 
prática dos operadores do direito - e na prática social, de forma geral - que 
desta forma conferem uma vivência apenas formal ao cânones culturais da 
normalidade.9 
Não resta dúvida de que a falta de uma lei específica a regulamentar 
nacionalmente o uso de algemas no Brasil, que tem como tradição o sistema da Civil Law,10 
traz insegurança para todos os agentes estatais que as utilizam como instrumento de trabalho, 
tais como policiais e agentes penitenciários na execução de prisões e no transporte de presos 
respectivamente, e para o juiz responsável pela decisão de se manter ou não as algemas no réu 
em audiência.11 Todavia, a elaboração dessa norma deve ser feita de forma responsável e 
séria, ampliando-se o debate democrático com os setores interessados da sociedade, e não 
apenas intentando-se projetos de lei de emergência para, em seguida, relegá-los ao 
esquecimentoaté o próximo episódio envolvendo algemas. “O direito do cidadão e a 
segurança da sociedade, via de regra, ocasionam conflitos que devem merecer soluções 
 
9
 CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo Penal de emergência: aspectos introdutórios. Disponível em: 
http://www.justicavirtual.com.br/artigos/art98.htm. Acesso em: 25 mar. 2009. 
10
 “Os dois principais sistemas jurídicos do mundo ocidental são o sistema jurídico de common law e o sistema 
jurídico de civil law. [...] Em países que adotam o civil law, a legislação representa a principal fonte do Direito. 
Os tribunais fundamentam as sentenças nas disposições de códigos e leis, a partir dos quais se originam as 
soluções de cada caso. Adotado por países americanos e de origem anglo-saxônica, o sistema do common law 
é o sistema no qual o costume prevalece sobre o direito escrito. Os casos de direito (case law) são as principais 
fontes do Direito, ou seja, a base da criação das regras de conduta.” MOCHNY, Daniela. Civil Law, 
Consuetudinário ou Common Law: qual é o seu direito? Disponível em: 
http://www.ccaps.net/newsletter/06-05/art_1pt.htm. Acesso em: 09 abr. 2009. 
11
 Vários doutrinadores apontam para a premente necessidade de se regulamentar o artigo 199 da Lei de 
Execução Penal, dentre eles consultar MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal: comentários à Lei n° 
7.210 de 11/07/1984. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 835. 
judiciais, razão pela qual não podem ficar a mercê da regulamentação de um dispositivo legal 
que eterniza desde 1984”.12 
2.2 O Código de Processo Penal 
Embora não exista no Brasil uma lei específica regulamentando o uso de 
algemas, é possível extrair do ordenamento jurídico pátrio algumas regras balizadoras do 
manejo adequado desse instrumento restritivo da liberdade. O Código de Processo Penal 
(CPP) estabelece no artigo 284 que “não será permitido o uso de força, salvo a indispensável 
no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso”.13 Essa é um dos artigos do CPP que é 
frequentemente utilizado para fundamentar o uso de algemas nas hipóteses de resistência ou 
de fuga. 
Ao interpretar referido dispositivo, Guilherme de Souza Nucci esclarece que 
o CPP impõe “que a prisão seja feita sem violência gratuita e desnecessária, especialmente 
quando há aquiescência do procurado. Entretanto, especifica, expressamente, que a força pode 
ser utilizada, no caso de haver resistência ou tentativa de fuga”.14 Seguindo essa trilha, Marcus 
Vinicius Boschi também entende que “não se legitima ou até mesmo se autoriza a força 
policial excessiva ou desproporcional quando da prisão, o que não significa dizer no entanto, 
que não possam as autoridades utilizar-se de forte aparato humano e/ou técnico na captura 
daqueles que devem deter”.15 
Mais adiante, ao tratar da prisão em flagrante, fixa o CPP em seu artigo 292 
que 
se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante 
ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o 
auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para 
vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas 
testemunhas.16 
Por meio desse artigo a lei autoriza, se necessário, o emprego de meios, 
como o de algemas, para deter a insubordinação ou evitar que a fuga ocorra, incumbindo ao 
agente decidir proporcionalmente à gravidade da reação que necessite ser estancada, o 
 
12
 CAVALCANTI, Ubyratan Guimarães. O uso de algemas. Revista do Conselho Nacional de Política 
Criminal e Penitenciária. Ministério da Justiça, janeiro a junho de 1993, p.29. 
13
 BRASIL. Decreto-Lei n° 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm. Acesso em: 06 abr. 2009. 
14
 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 8. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2008, p. 579. 
15
 BOSCHI, Marcus Vinicius (org). Código de Processo Penal Comentado. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2008, p. 249. 
16
 BRASIL. Decreto-Lei n° 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm. Acesso em: 06 abr. 2009. 
momento, o quantum e a espécie de força a ser utilizada no caso concreto.17 Assim, em todos 
os casos de prisão, em que tenha o agente resistido ou tentado a fuga, quer seja prisão em 
flagrante ou qualquer outra prisão de caráter cautelar a utilização de algemas encontra 
respaldo no CPP. Hélio Tornaghi confirma que “diante dos artigos 284 e 292, parece não 
haver dúvida de que, se com as algemas o executor da prisão pode vencer a resistência, ele 
está autorizado a usá-las.”18 
Foi somente, porém, no ano de 2008, com a reforma do procedimento do 
júri, feita pela Lei n° 11.689, de 09 de junho de 2008, que a palavra “algemas” apareceu 
expressa no CPP. Dispõe a nova redação do artigo 474 do CPP em seu § 3° que não “se 
permitirá o uso de algemas no acusado durante o período que permanecer no plenário do júri, 
salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à 
garantia da integridade física dos presentes”.19 Também o artigo 478 do CPP veda no inciso I 
que as partes durante os debates façam referências “à decisão de pronúncia, às decisões 
posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como 
argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado”.20 
Tem-se, portanto, que no âmbito do tribunal do júri o uso de algemas está 
disciplinado. Todavia, como a alteração do CPP se deu, especificamente, no Capítulo que 
dispõe sobre o procedimento no tribunal do júri, Fernanda Herbella sustenta que a nova regra 
se aplica apenas aos julgamentos realizados perante o tribunal popular. Isso porque a ratio da 
criação da norma é a influência que supostamente as algemas exerceriam na decisão dos 
jurados, leigos que são, o que não ocorre nas audiências da Justiça Criminal Comum, onde o 
réu está diante de um juiz togado que, por ser um técnico, não se influencia.21 
2.3 O Código de Processo Penal Militar 
O Código de Processo Penal Militar (CPPM) permite o uso da força no 
caput do artigo 234, nos mesmos moldes do Código de Processo Penal, in verbis: 
Art. 234. O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso 
de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da 
parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou 
 
17
 ROCHA, Luiz Carlos. Prática Policial. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 94. 
18
 TORNAGHI, Hélio. Instituições de Processo Penal. 2. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1978, p. 233. 
19
 BRASIL. Decreto-Lei n° 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm. Acesso em: 06 abr. 2009. 
20
 Ibidem. 
21
 HERBELLA, Fernanda. Algemas e a dignidade da pessoa humana: fundamentos jurídicos do uso de 
algemas. São Paulo: Lex, 2008, p. 118. 
para defesa do executor e auxiliares seus, inclusive a prisão do ofensor. De 
tudo se lavrará auto, subscrito pelo executor e pelas testemunhas.22 
 Já o § 1° desse mesmo artigo, regula explicitamente o uso de algemas nos 
seguintes termos: “o emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga 
ou de agressão da parte do preso, e de modo algum será permitido, nos presos a que se refere 
o artigo 242”.23 Por sua vez, o artigo 242 do CPPM diz o seguinte: 
Art. 242. Serão recolhidos a quartel ou a prisão especial, à disposição da 
autoridade competente, quando sujeitos a prisão, antes de condenação 
irrecorrível: 
a) os ministros de Estado; 
b) os governadoresou interventores de Estados, ou Territórios, o prefeito do 
Distrito Federal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia; 
c) os membros do Congresso Nacional, dos Conselhos da União e das 
Assembléias Legislativas dos Estados; 
d) os cidadãos inscritos no Livro de Mérito das ordens militares ou civis 
reconhecidas em lei; 
e) os magistrados; 
 f) os oficiais das Fôrças Armadas, das Polícias e dos Corpos de Bombeiros, 
Militares, inclusive os da reserva, remunerada ou não, e os reformados; 
 g) os oficiais da Marinha Mercante Nacional; 
h) os diplomados por faculdade ou instituto superior de ensino nacional; 
 i) os ministros do Tribunal de Contas; 
 j) os ministros de confissão religiosa. 
É importante salientar que a maioria da doutrina questiona a validade do 
artigo 234 do CPPM sob o argumento de que a proibição do uso de algemas nos denominados 
presos especiais ofende ao princípio da igualdade. Nestor Távora e Rosmar Antonni são 
categóricos ao afirmar que “a parte final desse dispositivo, ao vedar o uso de algemas em 
determinadas autoridades e portadoras de diploma de curso superior, afigura-se anti-
isonômica, por não se compatibilizar com o sistema constitucional”.24 Endossando esse 
entendimento, Rodrigo Carneiro Gomes sustenta que “a nova ordem constitucional não 
recepcionou o questionável sistema de privilégios do citado dispositivo do CPPM, resquício 
de uma época de intangibilidade das autoridades, com escassos instrumentos de controle 
social e de prestação de contas”.25 Realmente, esse sistema de apartheid entre homens comuns 
e autoridades vem da época das Ordenações Filipinas que vigoraram no Brasil até o advento 
do Código Civil de 1916.26 
 
22
 BRASIL. Decreto-Lei 1.002, de 21 de outubro de 1969. Código de Processo Penal Militar. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1002.htm. Acesso em: 06 abr. 2009. 
23
 Ibidem. 
24
 TÁVORA, Nestor; ANTONNI, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 
2008, p. 443. 
25
 GOMES, Rodrigo Carneiro. Algemas segundo o STF. Revista Jurídica Consulex. Brasília: Consulex, nº 241, 
2007, p. 34. 
26
 VIEIRA, Luís Guilherme. Algemas: uso e abuso. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal. s.l.: 
síntese, n° 16, out.-nov. 2002, p. 11-16. 
 Além disso, o CPPM surgiu em pleno regime militar, portanto, os seus 
dispositivos devem ser reinterpretados à luz do Estado Democrático de Direito trazido pela 
Constituição Federal de 1988. E não poderia ser diferente, pois o que determina o uso de 
algemas é a situação em concreto e não o cargo ou a função do prisioneiro, como bem 
afirmou Ricardo Vergueiro Figueiredo.27 Portanto, não importa se o crime é comum ou 
militar, desde que se mostre imprescindível pelas circunstâncias, seja para impedir a fuga, seja 
para conter a violência da pessoa que está sendo presa, será admissível algemar as pessoas 
destacadas no artigo 242 do CPPM como qualquer outra pessoa. 
2.4 O Estatuto da Criança e do Adolescente 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), previsto pela Lei n° 8.069, 
de 13 de julho de 1990, não proíbe expressamente o emprego de algemas em menores de 
idade. O uso desse instrumento de contenção física em crianças e adolescentes se escora no 
artigo 178 do ECA que assim reza: 
Art. 178. O adolescente, a quem lhe atribua autoria de ato infracional não 
poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo 
policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que lhe impliquem 
risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.28 
Assim, a proibição legal versa somente no sentido de que crianças e 
adolescentes não podem ser transportados em compartimentos fechados de viaturas policiais, 
em condições que violem a sua dignidade ou que lhes comprometa a saúde física e mental. 
Diante disso, alguns doutrinadores sustentam que a lei não impede que um menor de idade 
venha a ser contido por meio de algemas caso pratique algum ato infracional, desde que a 
medida se mostre necessária e isso não afete a integridade do menor. A respeito do tema, 
Sílvio França da Silva esclarece que 
são freqüentes as dúvidas com relação a algemar ou não um adolescente. A 
jurisprudência é pacífica no sentido de que, se o indivíduo possui um alto 
grau de periculosidade e seu porte físico avantajado coloque em risco a 
incolumidade física das pessoas, é lícito que ele seja contido mediante o 
emprego de algemas.29 
Selma Sauerbronn de Souza também admite o algemamento de crianças e 
adolescentes quando estes forem de altíssimo grau de periculosidade, de porte físico 
 
27
 FIGUEIREDO, Ricardo Vergueiro. Algemas: algumas considerações. Revista Direito Militar. Florianópolis: 
s.e., n° 56, 2005, p. 08-09. 
28
 BRASIL. Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá 
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em: 11 abr. 
2009. 
29
 SILVA, Silvio França da. Algemas, estreito limite entre a legalidade e o abuso. Revista Força Policial. São 
Paulo: s.e., n° 29, jan. - mar., 2001, p. 42. 
compatível a um adulto, e que reajam à apreensão. Segundo a promotora de justiça, algemar 
um menor diante de tais circunstâncias, 
certamente, evitará luta corporal e fuga com perseguição policial de desfecho 
muitas vezes trágico para o policial ou para o próprio adolescente. Portanto, 
o policial que [...] optar pela colocação de algemas, na realidade estará 
preservando a integridade física do adolescente, e, por conseguinte, 
resguardando o direito à vida e à saúde, assegurados pela CF, e como não 
poderia deixar de serem, direitos substancialmente, consagrados pelo ECA 
[...]30 
Dessa forma, admite-se que utilização de algemas em crianças e 
adolescentes, desde que sejam preservados os seus direitos fundamentais e que sejam 
obedecidas as mesmas regras que se pregam aos adultos delinqüentes, ou seja, que haja 
resistência à prisão ou tentativa de fuga. 
2.5 As Leis da Segurança da Água e do Ar 
A Lei n° 7.565/1986, que instituiu o Código Brasileiro de Aeronáutica, não 
dispõe especificamente sobre o uso de algemas, porém prevê em seu artigo 168 que o 
comandante poderá tomar as providências que entender cabíveis para manter a aeronave, as 
pessoas e os bens transportados em segurança, nos termos a seguir: 
Art. 168. Durante o período de tempo previsto no artigo 167,31 o 
Comandante exerce autoridade sobre as pessoas e coisas que se encontrem a 
bordo da aeronave e poderá: 
[...] 
II - tomar as medidas necessárias à proteção da aeronave e das pessoas ou 
bens transportados;32 
Há ainda a Instrução da Aviação Civil 2504-0388, editada em março de 
1988 pelo extinto Departamento de Aviação Civil – atual Agência Nacional de Aviação Civil 
– que em seu item II – 5 normatiza o embarque de passageiro preso dispondo que “caso o 
prisioneiro seja transportado com algemas esta situação deverá, se possível, ser encoberta”.33 
Essa determinação visa evitar o possível constrangimento do preso e dos demais passageiros. 
Por outro lado, a Lei nº 9.537/97, que cuida da segurança do tráfego 
aqüaviário em águas sob jurisdição nacional, diz em seu artigo 10, inciso III, que o 
comandante, com o fim de manter a segurança das pessoas, da embarcação e da carga, poderá 
 
30
 Apud GOMES, Rodrigo Carneiro. Algemas para a salvaguarda da sociedade: a desmistificação do seu uso. 
Disponível em: http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/191006i.pdf. Acesso em: 14 abr. 2009. 
31
 “Art. 167. O comandante exerce autoridade inerente à função desde o momento em que se apresenta para o 
vôo até o momento em que entregaa aeronave, concluída a viagem. Parágrafo único. No caso de pouso 
forçado, a autoridade do comandante persiste até que as autoridades competentes assumam a responsabilidade 
pela aeronave, pessoas e coisas transportadas.” 
32
 BRASIL. Lei n° 7.565, de 19 de dezembro de 1986. Código Brasileiro de Aeronáutica. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7565.htm. Acesso em: 15 abr. 2009. 
33
 AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. Disponível em: 
http://www.anac.gov.br/biblioteca/iac/IAC2504.pdf. Acesso em: 15 abr. 2009. 
deter o passageiro inconveniente, em camarote ou alojamento, se necessário com algemas, 
textualmente: 
Art. 10. O comandante, no exercício de suas funções e para garantia da 
segurança das pessoas, da embarcação e da carga transportada, pode: 
[...] 
III – ordenar a detenção de pessoa em camarote ou alojamento, se necessário 
com algemas, quando imprescindível para a manutenção da integridade 
física de terceiros, da embarcação ou da carga.34 
Assim, as leis que cuidam da segurança do ar e da água conferem aos 
comandantes das aeronaves e das embarcações poder de polícia, por meio do qual é possível 
se determinar o algemamento daquele que colocar em risco a segurança desses meios de 
transporte. Tanto o Código Brasileiro de Aeronáutica como a Lei nº 9.537/97, preconizam, de 
forma implícita e explícita respectivamente, que algemar o passageiro inconveniente 
prevenirá luta corporal com a tripulação ou com os demais passageiros e danos às aeronaves e 
embarcações com possíveis desfechos trágicos para a segurança do vôo ou da navegação.35 
2.6 As Normas do Estado de São Paulo 
Ante a ausência de uma lei que uniformize o uso de algemas nacionalmente, 
São Paulo serve de parâmetro para as demais regiões do país, pois foi o primeiro Estado a 
regulamentar, em nível local, o emprego do equipamento em estudo. O Decreto Estadual nº 
19.903, de 30 de outubro de 1950, ainda em vigor, traz em seu artigo 1° as hipóteses de 
utilização de algemas: 
Art. 1°. O emprego de algemas far-se-á na Polícia do Estado, de regra, nas 
seguintes diligências: 
1°. Condução à presença da autoridade dos delinqüentes detidos em 
flagrante, em virtude de pronúncia ou nos demais casos previstos em lei, 
desde que ofereçam resistência ou tentem a fuga; 
2°. Condução à presença da autoridade dos ébrios, viciosos e turbulentos, 
recolhidos na prática de infração e que devam ser postos em custódia, nos 
termos do Regulamento Policial do Estado, desde que o seu estado externo 
de exaltação torne indispensável o emprego de força; 
3°. Transporte, de uma para outra dependência, ou remoção, de um para 
outro presídio, dos presos que, pela sua conhecida periculosidade, possam 
tentar a fuga, durante diligência, ou a tenham tentado, ou oferecido 
resistência quando de sua detenção.36 
 
34
 BRASIL. Lei n° 9.537, de 11 de dezembro de 1997. Dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas 
sob jurisdição nacional e dá outras providências. Disponível em:. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9537.htm. Acesso em: 15 abr. 2009. 
35
 HERBELLA, Fernanda. Algemas e a dignidade da pessoa humana: fundamentos jurídicos do uso de 
algemas. São Paulo: Lex, 2008, p. 81. 
36
 ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Disponível em: 
http://www.al.sp.gov.br/portal/site/Internet/BuscaDdiLei?vgnextoid=82ea0b9198067110VgnVCM100000590
014acRCRD&status=P&texto=Decreto+Estadual+n%C2%BA+19.903. Acesso em: 15 abr. 2009. 
 Buscando garantir o estrito cumprimento deste Decreto, a Secretaria de 
Segurança Paulista baixou a Resolução n° 41, de 05 de maio de 1983, a qual estabelece em 
seu artigo 3° que “o emprego de algemas far-se-á somente nos casos expressamente previstos 
no Decreto nº 19.903, de 30 de outubro de 1950, observadas as cautelas e as disposições 
regulamentares ali mencionadas”.37 
Além disso, a Lei Estadual Paulista n° 12.906, de 14 de abril de 2008,38 
prevê o uso de algemas e tornozeleiras eletrônicas para monitorar presos que cumprem pena 
em regime aberto ou semi-aberto. Os principais objetivos dessa Lei são tornar a fiscalização 
dos presos mais efetiva, garantir que retornem após as saídas temporárias autorizadas e 
reduzir os custos de manutenção do custodiado. Desse modo, o Estado de São Paulo tem 
regramento próprio dispondo sobre a contenção de pessoas por meio das pulseiras de metal. 
2.7 As Regras Mínimas para Tratamento de Presos no Brasil 
A Resolução n° 14, de 11 de novembro de 1994, editada pelo Conselho 
Nacional de Política Criminal e Penitenciária, órgão do Ministério da Justiça, criou em nível 
federal, as Regras Mínimas para Tratamento do Preso no Brasil. Desta Resolução interessa 
destacar os seguintes dispositivos: 
Art. 25. Não serão utilizados como instrumentos de punição: correntes, 
algemas e camisa-de-força. 
Art. 29. Os meios de coerção, tais como algemas e camisas-de-força, só 
poderão ser utilizados nos seguintes casos: 
I – como medida de precaução contra fuga, durante o deslocamento do 
preso, devendo ser retirados quando do comparecimento em audiência 
perante autoridade judiciária ou administrativa; 
II – por motivo de saúde, segundo recomendação médica; 
III – em circunstâncias excepcionais, quando for indispensável utilizá-los; 
IV – em razão de perigo iminente para a vida do preso, de servidor, ou de 
terceiros. 39 
Com toda razão, essa norma não admite que as algemas sejam utilizadas 
como forma de punição ou de humilhação de pessoas, servindo apenas para a contenção 
momentânea daquele que está sendo detido. As Regras Mínimas para Tratamento do Preso no 
Brasil trazem ainda as hipóteses que ensejam a aposição de algemas em âmbito federal. 
 
37
 ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Disponível em: 
http://www.al.sp.gov.br/portal/site/Internet/BuscaDdiLei?vgnextoid=82ea0b9198067110VgnVCM100000590
014acRCRD&status=P&texto=Decreto+Estadual+n%C2%BA+19.903. Acesso em: 15 abr. 2009. 
38
 Ibidem. 
39
 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Disponível em: 
http://www.mj.gov.br/cnpcp/main.asp?ViewID=%7BC7BBEEA7%2DFF56%2D4874%2D870D%2D244D26
9A8716%7D&params=itemID=%7B84434F13%2DFF18%2D4546%2D87BB%2DBC18F9365596%7D;&UI
PartUID=%7B183ACEAD%2DEEF8%2D4BD1%2D9B10%2DC12459181A73%7D. Acesso em: 15 abr. 
2009. 
3. O USO DE ALGEMAS E SUA PROBLEMÁTICA 
3.1 O abuso de autoridade e o constrangimento ilegal 
Importa analisar se o mau uso das algemas acarreta o crime de abuso de 
autoridade. A Lei n° 4.898, de 09 de dezembro de 1965, regula o direito de representação e o 
processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade. 
“A responsabilidade administrativa será apurada por meio de procedimento administrativo 
próprio (sindicância ou processo), de acordo com o Estatuto ou Lei Orgânica a que estiver 
sujeito o funcionário que praticou o abuso”.40 Tratando-se de responsabilidade civil o 
funcionário responderá ação civil indenizatória, nos termos do Código de Processo Civil. Na 
esfera penal, a responsabilidade do funcionário será apurada com supedâneo nos artigos 3° e 
4° da Lei de Abuso de Autoridade. 
Rômulo de Andrade Moreira assevera que a Lei de Abuso de Autoridade 
tem dois objetivos primordiais: 
que a função pública seja exercida na mais absoluta normalidade 
democrática, no sentido que os representantes da administração pública 
tenham um comportamento legal, portanto, sem abusos de qualquer ordem; 
de outro modo, a lei também visa a proteger as garantias individuais 
inerentes à pessoa, aquelas mesmas postas na Constituição Federal.41 
A primeira consideração a ser feita é que, para a aplicação dessa lei, o abuso 
deve ser praticado pela autoridade no exercício de suas funções. Em segundo lugar, é 
importante deixar claro o conceito de autoridade.O artigo 5° da Lei considera autoridade 
qualquer pessoa que exerça função pública, ainda que transitoriamente e sem remuneração.42 
Como as algemas não são restritas aos agentes estatais, ao contrário, são de 
livre comercialização e podem ser encontradas em casas de esportes, ferragens, armas e até 
em sex shops, é possível que um particular se utilize desse instrumento para a contenção de 
vítimas seqüestradas, para a prática de tortura e maus tratos, dentre outros fins ilícitos. 
Entretanto, não havendo vínculo profissional da pessoa que fez mau uso das algemas com o 
Estado, esta poderá responder por outros crimes, como o de constrangimento ilegal, mas não 
pelo abuso de autoridade. 
 
40
 SILVA, José Geraldo da; LAVORENTI, Wilson; GENOFRE, Fabiano. Leis Penais Especiais Anotadas. 8. 
ed. São Paulo: Millennium, 2005, p. 349. 
41
 MOREIRA, Rômulo de Andrade. Algemas pra quem precisa. Disponível em: 
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7830. Acesso em:.30 abr. 2009. 
42
 BRASIL. Lei n° 4.898, de 09 de dezembro de 1965. Regula o direito de representação e o processo de 
responsabilidade Administrativa, Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l4898.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
O artigo 3°, alínea a, da Lei,43 apregoa que constitui crime de abuso de 
autoridade qualquer atentado à liberdade de locomoção. O direito à liberdade de locomoção 
engloba quatro situações: direito de ingressar, sair, permanecer e deslocar no território 
nacional.44 Desse modo, se as algemas forem utilizadas para obstarem ilegalmente o direito de 
locomoção de uma pessoa estará configurado o crime do mencionado dispositivo legal. 
Ademais, o artigo 3°, alínea i, da mesma Lei,45 prevê que qualquer atentado 
à incolumidade física do indivíduo também enseja abuso de autoridade. Assim, se houver 
excesso na colocação de algemas, seja pela desnecessidade do seu uso, seja pelo 
ocasionamento de ferimentos nos punhos do preso, o agente do Estado responderá pelo crime 
de abuso de autoridade em concurso material com o delito que tenha provocado dano à 
integridade física, como, por exemplo, a lesão corporal. Além disso, o artigo 4°, alínea b, da 
Lei de Abuso de Autoridade,46 tipifica como abusiva a conduta da autoridade que submeter 
pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei. 
Portanto, o que a lei repudia é a violação da integridade física e/ou moral do 
preso, bem como a sua indevida exposição e humilhação pública quando estiver algemado. A 
finalidade das algemas deve ser a de contenção e de transporte do preso, garantindo a 
segurança dele próprio e de terceiros. “O simples ato de algemar, por si só, desde que 
necessário, justificado e moderado, decorrendo de uma prisão legalmente imposta, nenhum 
abuso perfaz”.47 
3.2 Algemas e os direitos fundamentais 
3.2.1 O princípio da dignidade da pessoa humana 
O primeiro problema que envolve o tema algemas consiste em saber se o 
uso desse instrumento fere a dignidade humana. Proclamada como fundamento da República 
 
43
 BRASIL. Lei n° 4.898, de 09 de dezembro de 1965. Regula o direito de representação e o processo de 
responsabilidade Administrativa, Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l4898.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
44
 MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação Penal Especial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 
2000, p. 30. 
45
 BRASIL. Lei n° 4.898, de 09 de dezembro de 1965. Regula o direito de representação e o processo de 
responsabilidade Administrativa, Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l4898.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
46
 Ibidem. 
47
 HERBELLA, Fernanda. Algemas e a dignidade da pessoa humana: fundamentos jurídicos do uso de 
algemas. São Paulo: Lex, 2008, p.122. 
Federativa do Brasil no artigo 1°, inciso III, da Constituição,48 a dignidade da pessoa humana, 
é definida por Alexandre de Moraes como 
um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta 
singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida 
e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, 
constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve 
assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas 
limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem 
menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto 
seres humanos.49 
Assim, a personalidade humana é o único requisito para a titularidade de 
direitos. “Isto porque todo ser humano tem uma dignidade que lhe é inerente, sendo 
incondicionada, não dependendo de nenhum outro critério, senão ser humano.50 É o princípio 
da dignidade que concede unidade aos direitos fundamentais expressos na Constituição de 
1988, ou seja, “sem que se reconheçam à pessoa humana os direitos fundamentais que lhe são 
inerentes, em verdade estar-se-á lhe negando a própria dignidade”.51 
A positivação no texto constitucional da dignidade da pessoa humana 
representa a consagração de uma ordem social justa, consubstanciando o respeito à 
integridade moral de todo ser humano, independentemente de credo, raça, cor, origem ou 
status social. O acatamento a esse princípio significa o triunfo da igualdade sobre a 
intolerância, o preconceito, a exclusão social, a ignorância e a opressão.52 
Tendo em vista o conteúdo do princípio da dignidade da pessoa humana, a 
utilização de algemas pelos profissionais da área de segurança pública com o fim de 
contenção daquele que transgrediu uma norma do ordenamento jurídico e para se preservar os 
direitos dos demais integrantes da sociedade, é legítimo e, por si só, não avilta a dignidade. 
Seguindo esse entendimento Herotides da Silva Lima ensina que 
se as algemas [...] atentam contra a dignidade do homem pacto, legitimam-se 
contra o preso insubmisso; e a insurreição e a violência do preso atentam 
também contra a autoridade e a lei; a si mesmo ele deve imputar as 
conseqüências dos seus excessos; já não há a preservar nenhuma dignidade 
quando a lei já esta sendo ofendida e desprezada a decisão de autoridades, 
incentivando a desordem generalizada.53 
 
48
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
49
 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 50. 
50
 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o princípio da dignidade humana. Revista dos advogados, ano 23, n° 
70, São Paulo: s.e., jul. 2003, p. 38. 
51
 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2001, p. 87. 
52
 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.392. 
53
 LIMA, Herotides da Silva. O emprego de algemas. Revista do Departamento de Investigações, ano I, São 
Paulo: s.e., fev. 1949, p.41. 
Não sendo usada como forma de impor sofrimento, castigo, humilhação ou 
de antecipação de pena a quem quer que seja e demonstrando-se a necessidade de sua 
utilização, as algemas desempenham uma função meramente instrumental, não tendo o 
condão de atentar contra a dignidade humana. Magalhães Noronha finaliza esse debate ao 
sustentar que “não há de se falar em humilhação ou ofensa à dignidade humana, visto não se 
tratar de ‘castigo’, mas de medida acauteladora dos interesses sociais e do próprio detento”.54 
3.2.2 O princípio da presunção de inocência 
 Importa ainda esclarecer se o uso dealgemas conflita com o princípio da 
presunção de inocência. Por força do artigo 5°, inciso LVII, da Constituição, “ninguém será 
considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.55 Esse 
princípio impede, portanto, que o investigado ou denunciado sofra as conseqüências jurídicas 
da condenação antes do trânsito em julgado da sentença criminal. Trata-se de garantia 
processual penal que tem por fim tutelar a liberdade do indivíduo, que é presumido inocente, 
cabendo ao Estado (no caso de ação penal pública) ou à parte acusadora (na hipótese de ação 
penal privada) comprovar a sua culpabilidade.56 
Todavia, a fim de permitir o êxito da persecução criminal, admite-se a 
decretação de prisão cautelar e de medidas restritivas de liberdade, como o uso de algemas, 
mesmo antes da condenação, desde que se mostre necessário e que estas não tenham qualquer 
propósito de antecipação de pena ou da execução penal. Do mesmo modo, aceitam-se como 
legítimas as medidas cautelares concernentes ao processo, com a adoção de determinadas 
medidas de caráter investigatório, tais como a interceptação telefônica.57 
Assim, o princípio da presunção de inocência não obsta a adoção de 
determinadas medidas de caráter cautelar, seja em relação à própria liberdade do eventual 
investigado ou denunciado, seja em relação aos seus bens. O que não se admite é a que a 
providência a ser tomada importe em antecipação da condenação ou de sua execução. 
3.2.3 A proibição à tortura e ao tratamento desumano ou degradante 
A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu artigo 5° uma série de 
direitos e garantias fundamentais que devem ser observados pelos agentes estatais no manejo 
 
54
 DIÁRIO DE SÃO PAULO. Notícias forenses. São Paulo: s.e., 26 nov. 1950. 
55
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
56
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 626. 
57
 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; Branco, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito 
Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 632. 
de algemas. Dentre esses direitos do artigo 5°, o inciso III garante que “ninguém será 
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”58 e o inciso XLIII prevê que a 
lei considerará crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia a prática da tortura, por 
essa respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-la, se omitirem.59 
Por se tratar de norma constitucional de eficácia limitada, o artigo 5°, inciso 
XLIII depende da atuação do legislador infraconstitucional para produzir efeitos no mundo 
jurídico. Em razão disso, quanto à inafiançabilidade e insuscetibilidade de graça ou anistia, foi 
editada a Lei n° 8.072, de 25 de julho de 1990, a conhecida lei dos crimes hediondos.60 Ainda 
em atenção à determinação constitucional, foi necessária a edição de uma lei 
infraconstitucional, de competência da União,61 para tipificar os crimes de tortura, surgindo 
assim a Lei n° 9.455, de 07 de abril de 1997.62 
Tortura é um conjunto de procedimentos destinados a forçar, a constranger 
alguém, mediante coerção física e moral, causando-lhe dor, pavor e sofrimento. “Tal 
expediente caracteriza-se pela sua finalidade torpe: obter informação, declaração ou confissão 
da vítima ou de terceira pessoa, com o objetivo de provocar ação ou omissão criminosa, em 
razão de discriminação racial ou religiosa”.63 Por isso mesmo é considerado um crime 
inafiançável.64 
 
58
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
59
 Ibidem. Embora não esteja expresso no texto constitucional, os crimes insuscetíveis de graça também no 
admitem indulto, pois este é uma espécie de graça. Na definição de Maria Helena Diniz graça “é o ato de 
clemência do poder Executivo, favorecendo um condenado por crime comum ou por contravenção, 
extinguindo ou diminuindo-lhe a pena imposta. Ter-se-á perdão, se a graça for individual, e o indulto, se 
coletiva. É o perdão concedido pelo Presidente da República, em relevação da pena”. Já a anistia “é um perdão 
concedido, mediante lei, aplicável a crimes coletivos, em geral políticos, que produz efeitos retroativos, ou 
seja, desfaz todos os efeitos penais da condenação (mas não eventual ação civil de indenização por danos 
eventualmente causados pelo anistiado). PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional 
descomplicado. 2. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 156. 
60
 BRASIL. Lei n° 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso 
XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L8072.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
61
 Diz a Constituição Federal em seu artigo. 22 que “compete privativamente à União legislar sobre: I - direito 
civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”. BRASIL. 
Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
62
 BRASIL. Lei nº 9.455, de 07 de abril de 1997. Define os crimes de tortura e dá outras providências. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9455.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
63
 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.427. 
64
 Prevê a Constituição em seu artigo 5º, inciso XLIII que “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis 
de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os 
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-
los, se omitirem”. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
José Afonso da Silva salienta que “a tortura não é só um crime contra o 
direito à vida. É uma crueldade que atinge a pessoa em todas as suas dimensões, e a 
humanidade como um todo”.65 E Uadi Lammêgo Bulos complementa: 
a tortura constitui a negação arbitrária dos direitos humanos, pois reflete – 
enquanto prática ilegítima, imoral e abusiva – um inaceitável ensaio de 
atuação estatal tendente a asfixiar e, até mesmo, suprimir a dignidade, a 
autonomia e a liberdade com que o indivíduo foi dotado, de maneira 
indisponível, pelo ordenamento positivo.66 
Nesse sentido a tortura seria um tipo agravado de tratamento desumano, 
atribuído a alguém com finalidade específica (ex: conseguir uma confissão). Já o tratamento 
desumano “é o tratamento degradante que provoca grande sofrimento mental ou físico e que 
na situação específica é injustificável, impondo esforços que vão além dos limites razoáveis 
(humanos) exigíveis. Assim, o tratamento desumano, engloba o degradante”.67 Por sua vez, o 
tratamento degradante “ocorre quando há humilhação de alguém perante si mesmo e perante 
os outros, ou leva a pessoa a agir contra sua vontade ou consciência”.68 
Nesse ponto também, desde que devidamente colocadas para que nenhuma 
lesão seja ocasionada ao detido ou ao preso, as algemas não constituem instrumento de tortura 
ou de tratamento desumano ou degradante. Ao contrário, as algemas servem como forma de 
acautelamento do preso. 
3.2.4 O direito à integridade física e moral 
Outra questão a ser investigada é se o uso de algemas viola o direito 
fundamental à integridade físicae moral daquele que está sendo preso, amparado pelo artigo 
5°, inciso XLIX, da Constituição.69 No âmbito legal, esse mesmo direito encontra proteção no 
artigo 40 da Lei de Execução Penal ao dispor que “impõe-se a todas as autoridades o respeito 
à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios”70. 
A integridade física consiste, como o próprio nome indica, o direito de o 
cidadão não ter o seu corpo violado fisicamente, danificado, agredido ou ferido. Vale frisar 
 
65
 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 
201. 
66
 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.394. 
67
 VIEIRA, Adriana Dias. Significado de penas e tratamentos desumanos. Análise histórico-jurisprudencial 
comparativa em três sistemas jurídicos: Brasil, Europa e Estados Unidos. Disponível em: 
http://www.altrodiritto.unifi.it/latina/dias/index.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
68
 Ibidem. 
69
 “Art. 5º. XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. BRASIL. Constituição da 
República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
70
 BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivl 03/Leis/L7210.htm. Acesso em: 25 mar. 2009. 
que esse direito é inclusive tutelado pelo Direito Penal, que tipificou criminalmente como 
lesão corporal leve (artigo 88 da Lei 9099/95)71, grave ou gravíssima (artigo 129 do Código 
Penal)72. Já a integridade moral é o direito de o preso ter resguardada a sua incolumidade 
psíquica, sem ser humilhado, insultado ou menosprezado. Caso esse direito seja desrespeitado 
a Constituição garante à vítima o direito de resposta proporcional ao agravo, cumulado ou não 
com uma indenização por dano moral, nos termos do artigo 5°, inciso V.73 
Desse modo, impõe-se ao Estado o dever constitucional e legal de vigilância 
para evitar que qualquer preso que esteja sob sua custódia venha a sofrer danos pessoais. É 
incumbência dos agentes públicos resguardar as pessoas recolhidas a prisões, buscando evitar 
que auto-lesões ou agressões praticadas por terceiros venham a ocorrer. Em decorrência desse 
direito Julio Fabbrini Mirabete assevera que 
estão proibidos os maus-tratos e castigos que, por sua crueldade ou conteúdo 
desumano, degradante, vexatório e humilhante, atentam contra a dignidade 
da pessoa, sua vida, sua integridade física e moral. Ainda que seja difícil 
desligar esses direitos dos demais, pois dada sua natureza eles se encontram 
compreendidos entre os restantes, é possível admiti-los isoladamente, 
estabelecendo, como faz a lei, as condições para que não sejam afetados. Em 
todas as dependências penitenciárias, e em todos os momentos e situações, 
devem ser satisfeitas as necessidades de higiene e segurança de ordem 
material, bem como as relativas ao tratamento digno da pessoa humana que é 
o preso. 74 
Entretanto, Gilmar Ferreira Mendes observa que “a exigência de respeito à 
integridade física e moral do preso não impede o padecimento moral ou físico experimentado 
pelo condenado, inerentes às penas supressivas da liberdade”.75 De igual modo, o preso deve 
se submeter como consectário natural da prisão ao uso de algemas, havendo necessidade de 
contê-lo ou de transportá-lo, sem que isso ofenda a sua integridade. 
 
71
 “Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação 
penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.” BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de 
setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
72
 “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 1º 
Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - 
debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco 
anos. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou 
inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois 
a oito anos.” BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
73
 “Art. 5º. V - V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano 
material, moral ou à imagem”. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
74
 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 119. 
75
 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; Branco, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito 
Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 603. 
3.2.5 O direito à imagem versus o direito de informação 
A principal discussão sobre algemas paira não sobre o seu uso 
propriamente, mas sobre o vexame causado pela exibição na mídia da pessoa algemada. A 
Constituição reservou dois incisos do artigo 5° para conferir proteção ao direito à imagem. O 
inciso V diz que é “assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem”76 e o inciso X prevê que “são invioláveis 
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.77 
A Constituição protege tanto a imagem social como a imagem retrato. A 
primeira constitui os atributos exteriores da pessoa, com base naquilo que ela própria 
transmite na vida em sociedade, e, em regra, os agentes causadores dos danos à imagem social 
são os meios de comunicação em massa, tais como televisão, rádio, internet, jornais, revistas, 
boletins, etc. Por seu turno, a imagem retrato representa o físico do indivíduo, ou seja, 
fisionomia, partes do corpo, gestos, expressões, atitudes, traços fisionômicos, sorrisos, aura, 
fama, dentre outros, captada pelos recursos tecnológicos e artificiais, normalmente 
fotografias, filmagens, pinturas, gravuras, esculturas, desenhos, caricaturas, manequins, 
máscaras.78 
Além da cobertura constitucional do direito à imagem, o preso conta com a 
Lei de Execução Penal, que no artigo 41, inciso VIII, o protege contra qualquer forma de 
sensacionalismo79, e no artigo 198 diz que “é defesa ao integrante dos órgãos da execução 
penal, e ao servidor, a divulgação de ocorrência que perturbe a segurança e a disciplina dos 
estabelecimentos, bem como exponha o preso a inconveniente notoriedade, durante o 
cumprimento da pena”.80 
Há ainda a Resolução n° 14, de 11 de novembro de 1994, do Conselho 
Nacional de Política Criminal e Penitenciária, que trouxe as Regras Mínimas para o 
tratamento do prisioneiro no Brasil, reiterando a necessidade de preservação da imagem da 
pessoa presa em seu artigo 47, in verbis: 
 
76
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
77
 Ibidem. 
78
 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.432 e 433. 
79
 “Art. 41. Constituem direitos do preso. VIII – proteção contra qualquer forma de sensacionalismo.” BRASIL. 
Lei n° 7.210, de 11de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivl 03/Leis/L7210.htm. Acesso em: 25 mar. 2009. 
80
 BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivl 03/Leis/L7210.htm. Acesso em: 25 mar. 2009. 
Art. 47 O preso não será constrangido a participar, ativa ou passivamente, de 
ato de divulgação de informações aos meios de comunicação social, 
especialmente no que tange à sua exposição compulsória à fotografia ou 
filmagem. 
Parágrafo Único – A autoridade responsável pela custódia do preso 
providenciará, tanto quanto consinta a lei, para que informações sobre a vida 
privada e a intimidade do preso sejam mantidas em sigilo, especialmente 
aquelas que não tenham relação com sua prisão.81 
O dano à imagem “é toda investida, proveniente dos Poderes Públicos, 
pessoas físicas ou jurídicas, que atenta contra a expressão sensível da personalidade”.82 O 
direito à imagem é inalienável e intransmissível, uma vez que não há como dissociá-lo de seu 
titular, mas não é indisponível, tendo em vista que a pessoa pode dispor ou não da própria 
imagem para que outros a utilizem para diversos fins. Em regra, exige-se a autorização 
expressa do titular da imagem para a sua utilização, sob pena de o responsável pelo manuseio 
indevido ter que reparar os danos daí decorrentes.83 
A violação ao direito de imagem ocorre em três situações distintas. Quanto 
ao consentimento ocorre quando a pessoa “tem a própria imagem usada sem que tenha dado 
qualquer consentimento para tal”.84 Quanto ao uso, há o consentimento, “mas o uso feito da 
imagem ultrapassa os limites da autorização”.85 Por fim, quanto à ausência de finalidades que 
justifiquem a exceção, “é o caso das fotografias de interesse público, ou de pessoas célebres, 
cujo uso leva à inexistência de finalidade que se exige para a limitação do direito da imagem. 
Acontece quando o uso dessas imagens não tem um caráter cultural ou informativo”.86 
Excepcionalmente, o direito à imagem poderá se restringido, o que significa 
que mesmo sem autorização do titular a utilização da imagem não será considerada ilícita. 
Regina Ferretto D’Azevedo explica que 
há limitações impostas que restringem o exercício do direito à própria 
imagem. Essas restrições são baseadas na prevalência do interesse social, e, 
portanto, o direito coletivo sobrepõe o direito individual. Se o retratado tiver 
notoriedade, é livre a utilização de sua imagem para fins informativos que 
não tenham objetivos comerciais, e desde que não haja intromissão em sua 
vida privada. Com as ressalvas feitas no caso anterior, é livre também a 
fixação da imagem realizada com objetivo cultural, porque a informação 
 
81
 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Disponível em: 
http://www.mj.gov.br/cnpcp/main.asp?ViewID=%7BC7BBEEA7%2DFF56%2D4874%2D870D%2D244D26
9A8716%7D&params=itemID=%7B84434F13%2DFF18%2D4546%2D87BB%2DBC18F9365596%7D;&UI
PartUID=%7B183ACEAD%2DEEF8%2D4BD1%2D9B10%2DC12459181A73%7D. Acesso em: 15 abr. 
2009. 
82
 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.436. 
83
 HERBELLA, Fernanda. Algemas e a dignidade da pessoa humana: fundamentos jurídicos do uso de 
algemas. São Paulo: Lex, 2008, p.101. 
84
 D’AZEVEDO, Regina Ferretto. Direito à imagem. Disponível em: 
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2306. Acesso em: 30 abr. 2009. 
85
 Ibidem. 
86
 Ibidem. 
cultural prevalece sobre o indivíduo e sua imagem desde que respeitadas as 
finalidades da informação ou notícia. Há também os casos de limitação 
relacionada à ordem pública, como a reprodução e difusão de um retrato 
falado por exigências de polícia. Obviamente, não teria lógica um criminoso 
se opor à esta exposição de sua imagem. Há ainda o caso do indivíduo 
retratado em cenário público, ou durante acontecimentos sociais, pois ao 
permanecer em lugar público, o indivíduo, implicitamente, autorizou a 
veiculação de sua imagem, dentro do liame notícia-imagem. Esse indivíduo 
só poderá alegar ofensa a seu direito à própria imagem se a utilização da 
fixação da imagem for de cunho comercial.87 
Fora dessas hipóteses excepcionais, o uso da imagem alheia exige a devida e 
expressa autorização do titular. Em razão do progresso tecnológico dos meios de 
comunicação, tanto na facilidade de captação, como de reprodução e de divulgação da 
imagem, aumentou a preocupação em se encontrar meios de proteção ao direito à imagem. 
Dessa maneira, hodiernamente, a violação à imagem pode tomar grandes e irreparáveis 
proporções, pois por meio da internet, em segundos, uma imagem circula todo o mundo. 
Se de um lado o detido ou o preso tem o direito de não ser exposto 
algemado publicamente, os órgãos de comunicação têm o direito de informação. O texto 
constitucional dispõe no artigo 5°, inciso IV, que “é livre a manifestação do pensamento, 
sendo vedado o anonimato”88 e no artigo 220 que “a manifestação do pensamento, a criação, a 
expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer 
restrição, observado o disposto nesta Constituição.89 
Assim, a manifestação da liberdade de pensamento é assegurada “tanto sob 
o aspecto positivo, ou seja, proteção da exteriorização da opinião, como sob o aspecto 
negativo, referente à proibição de censura”.90 O exercício do direito à informação é de 
extrema relevância para o Estado Democrático de Direito, mas o que não pode ser tolerado é o 
abuso desse direito. Sob esse prisma, Ricardo Chimenti expõe que 
a existência de opinião pública livre é um dos primeiros pressupostos da 
democracia de um país. Só é possível cogitar de opinião pública livre onde 
existe liberdade de expressão jornalística. Por isso entende-se que esta é 
mais do que um direito, uma garantia constitucional. A liberdade de informar 
só existe diante de fatos cujo conhecimento seja importante para que o 
indivíduo possa participar do mundo em que vive, não se incluindo, 
portanto, os fatos sem importância, geralmente relacionados à vida íntima de 
uma pessoa.91 
 
87
 D’AZEVEDO, Regina Ferretto. Direito à imagem. Disponível em: 
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2306. Acesso em: 30 abr. 2009. 
88
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
89
 Ibidem. 
90
 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 72. 
91
 CHIMENTI, Ricardo et al. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 77. 
Nesse sentido, o que deve ser coibido com veemência é a espetacularização 
das diligências policiais– e isso serve tanto para a criminalidade de colarinho branco quanto 
para a criminalidade dos menos favorecidos economicamente – promovida por alguns órgãos 
de comunicação e por algumas operações policiais. As Forças Policiais devem utilizar 
algemas como instrumento de trabalho, com o objetivo de conter ou de transportar o detido ou 
o preso, independentemente do seu status social ou econômico. Não é papel do policial 
convocar a imprensa para acompanhar o desempenho de suas atividades e também não cabe 
aos órgãos de comunicação abusar do seu direito de informar explorando imagens de réus 
algemados que não têm qualquer fim informativo. O direito de informar pode ser exercido, 
mas desde que não viole os direitos da personalidade do preso. 
Em 09 de julho de 2008, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta estampou a 
capa do jornal O Estado de São Paulo, tentando esconder as algemas, que usava quando de 
sua prisão pela Polícia Federal, por meio de uma malha de lã jogada sobre elas. Para piorar a 
situação foi exposto trajandopijamas. Do mesmo modo, a execução das prisões dos senadores 
Luiz Estevão e Jader Barbalho, dos juízes Nicolau e Rocha Mattos, da cantora Glória Trevi, 
do jogador argentino Desábato, da proprietária da grife Daslu, do advogado Ricardo Tosto e 
do banqueiro Daniel Dantas, são casos emblemáticos de pessoas expostas algemadas na mídia 
e que tiveram repercussão nacional. 
A figura da pessoa algemada, mesmo que legalmente presa, é degradante e 
tem o condão de constranger e de provocar, inclusive, a sua morte social. Nessa direção são as 
lições de Julio Fabbrini Mirabete: 
Prejudicial tanto para o preso como para a sociedade é o sensacionalismo 
que marca a atividade de certos meios de comunicação de massa (jornais, 
revistas, rádio, televisão, etc). Noticiários e entrevistas que visam não à 
simples informação, mas que têm caráter espetaculoso não só atentam contra 
a condição da dignidade humana do preso, como também podem dificultar 
sua ressocialização após o cumprimento da pena. Pode ainda o 
sensacionalismo produzir efeitos nocivos sobre a personalidade do preso. A 
divulgação e, principalmente, a exploração, em tom espalhafatoso, de 
acontecimentos relacionados ao preso, que possam escandalizar ou atrair 
sobre ele as atenções da comunidade, retirando-o do anonimato, 
eventualmente o levarão a atitudes anti-sociais, com o fim de manter essa 
atenção pública em processo de egomania e egocentrismo inteiramente 
indesejável.92 
A imagem desnecessária e aviltante desrespeita não apenas os direitos à 
personalidade, Alexandre de Moraes também adverte que contraria a própria dignidade da 
pessoa humana 
 
92
 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 123. 
converter em instrumento de diversão ou entretenimento assuntos de 
natureza tão íntima quanto falecimentos, padecimentos ou quaisquer 
desgraças alheias, que não demonstrem nenhuma finalidade pública e caráter 
jornalístico em sua divulgação. Assim, não existe qualquer dúvida de que a 
divulgação de fotos, imagens ou notícias apelativas, injuriosas, 
desnecessárias para a informação objetiva e de interesse público, que 
acarretem injustificado dano à dignidade humana autoriza a ocorrência de 
indenização por danos materiais e morais, além do respectivo direito a 
resposta.93 
É preciso considerar que o preso continua titular de direitos fundamentais e 
só serão restringidos (e nunca suprimidos) aqueles direitos incompatíveis com o cumprimento 
da pena. Dispõe o artigo 38, do Código Penal, que “o preso conserva todos os direitos não 
atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à integridade 
física e moral”.94 Dessa forma, o preso tem o direito à imagem e deverá ser devidamente 
indenizado pelos danos causados pela sua exposição indevida e não autorizada. 
A orientação das instituições policiais é justamente atuar de modo a não 
expor o preso, todavia, como salienta o delegado Rodrigo Carneiro Gomes, “não será a polícia 
que impedirá o trabalho da imprensa que tem o direito constitucional de informar, incumbindo 
a toda a sociedade conscientizá-la de seu papel e do respeito à imagem dos investigados”.95 Já 
o promotor de justiça Humberto Ibiapina defende que a maneira de se coibir a exposição 
injusta e desnecessária do preso, em especial quando está algemado, incumbe também à 
polícia, mas não só a ela, e sim ao Estado como um todo: 
cabem aos agentes estatais, Delegados de Polícia, Policiais Militares, 
Ministério Público e Poder Judiciário o dever de preservar os direitos da 
personalidade do suspeito, pois como dito antes, o Estado assumiu o dever 
dessa preservação, quando legislou sobre a proteção à imagem, à honra e à 
intimidade, elevando tais direitos a nível constitucional, não podendo, esses 
mesmos agentes, serem desanteciosos neste trato, impedindo as ações 
previsíveis da mídia sedenta por algo, que lhe ponha no topo da audiência.96 
Assim, as algemas podem ser empregadas licitamente pelos agentes estatais 
como instrumento de constrição física, com a finalidade de garantir a segurança pública ou 
individual e para impedir a fuga do detido ou do preso. De modo algum, as algemas poderão 
ser utilizadas como instrumento de execração pública, com o propósito de humilhar ou de 
ridicularizar a pessoa. A compatibilização do direito à imagem com o direito de informar 
depende tão somente de uma postura adequada e responsável dos integrantes dos órgãos 
 
93
 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 80. 
94
 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm. Acesso em: 30 abr. 2009. 
95
 GOMES, Rodrigo Carneiro. A eficácia das decisões dos juízes criminais e as operações da polícia federal. 
Revista Jurídica Consulex, Brasília: Consulex, n° 277, 2008, p. 29-30. 
96
 IBIAPINA, Humberto. A mídia versus o direito à imagem, na investigação policial. Disponível em: 
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=151. Acesso em: 02 mai. 2009. 
públicos e dos meios de comunicação. “Se a liberdade de imprensa colide com os direitos 
individuais, urge alcançar o equilíbrio, de modo que nenhuma das garantias seja obrigada a 
suportar, sozinha, as conseqüências da indevida expansão da outra”.97 
3.2.6 O princípio da proporcionalidade como limite entre a legalidade e o abuso no 
uso de algemas 
A dogmática clássica estabeleceu três critérios para a solução de regras 
conflitantes. O primeiro é o critério hierárquico, segundo o qual a lei superior prevalece sobre 
a inferior. O segundo é o critério cronológico, pelo qual a lei posterior prevalece sobre a 
anterior. E o terceiro é o critério da especialização, que prega que a lei específica prevalece 
sobre lei geral.98 Ocorre que pela aplicação de qualquer um desses critérios, uma regra 
necessariamente exclui a outra, não servindo, portanto, para resolver conflitos entre princípios 
constitucionais. 
Como proceder então, diante de valores igualmente tutelados pela atual 
Constituição Brasileira que são potencialmente antagônicos, como, por exemplo, o direito à 
imagem resguardado pelo artigo 5º, inciso X,99 e a liberdade de comunicação, prevista no 
artigo 5º, inciso IX100? Pelo silogismo clássico, não seria possível saber qual desses bens deve 
prevalecer, uma vez que ambos são direitos fundamentais constantes de um único texto 
constitucional, estando, portanto, no mesmo plano hierárquico, criados pelo mesmo poder 
constituinte e um não é especial ao outro. 
É cediço que inexistem direitos fundamentais absolutos. A necessidade de 
coexistência de um direito com os outros direitos impõe forçosamente a admissibilidade de 
restrições. Previsto implicitamente na Constituição Federal de 1988 pelo artigo 5º, inciso 
LIV,101 como uma das vertentes do devido processo legal substantivo, e acolhido 
 
97
 FRANCO JÚNIOR, Raul de Mello. A imprensa, as ocorrências policiais e a dignidade humana. Disponível 
em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=158. Acesso em: 30 abr. 2009. 
98
 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 346. 
99
 “Art. 5º. X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito 
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. BRASIL. Constituição da República 
Federativa do Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 02 mai. 2009. 
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 “Art. 5º. IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença”. BRASIL. Constituição da República

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