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Pensamento e linguagem skinner x chomsky

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ISSN 1982-3541 
Campinas-SP 
2010 Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 
 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a 
geratividade da linguagemgeratividade da linguagemgeratividade da linguagemgeratividade da linguagem1 
 
 Chomsky and Skinner and the controversy over the Chomsky and Skinner and the controversy over the Chomsky and Skinner and the controversy over the Chomsky and Skinner and the controversy over the 
generativity of languagegenerativity of languagegenerativity of languagegenerativity of language 
 
Carmen Silvia Motta Bandini2 
Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e 
 Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino 
Júlio César C. de Rose3 
Universidade Federal de São Carlos e 
 Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino 
 
Resumo 
O Verbal Behavior é considerado a obra mais importante de B. F. Skinner. Pela sua importância 
este livro foi amplamente discutido e criticado. Uma das críticas mais importantes foi a Resenha 
(Review) de N. Chomsky, a qual tinha como um de seus argumentos basilares a idéia de que o 
Verbal Behavior não trataria do caráter gerativo da linguagem humana. Neste contexto, o objetivo 
deste trabalho foi apresentar a Resenha, sistematizando seus argumentos e sinalizando como 
Chomsky considerou que a visão behaviorista seria incapaz de explicar a geratividade da linguagem 
para, em seguida, apresentar como o Verbal Behavior de Skinner possui argumentos que podem 
contemplar esse caráter gerativo. Como pano de fundo da discussão, uma breve análise histórica 
das duas obras foi realizada para que o contexto das publicações pudesse ser compreendido. 
Palavras-chave: Geratividade verbal; Comportamento verbal; Chomsky; Skinner. 
 
Abstract 
Verbal Behavior is considered to be B. F. Skinner’s most important work. On account of its 
importance, this book has been widely discussed and critiqued. One criticism came in the Review 
by N. Chomsky, which had, as one of its fundamental arguments, the idea that Verbal Behavior 
would not address the generative nature of human language. Set against this context, the objective 
here was to present the Review, by systematizing the arguments and signaling how Chomsky 
 
1 Baseado em parte da tese de doutorado da primeira autora, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade 
Federal de São Carlos, sob orientação do segundo autor. Carmen Bandini contou com bolsa de doutorado da FAPESP (Processo No. 
04/05482-4) e conta atualmente com Bolsa de Desenvolvimento Científico Regional do CNPq/FAPEAL (Processo No. 2007.09.024). 
Julio de Rose é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. A preparação deste manuscrito contou com auxílio do CNPq 
(Processo No. 573972/2008-7) e da FAPESP (Processo No. 2008/57705-8), referentes ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia 
sobre Comportamento, Cognição e Ensino. Os autores agradecem aos membros das bancas de qualificação e defesa da tese, os quais 
contribuíram para a elaboração da versão final da tese e, conseqüentemente, para a elaboração deste trabalho. 
2 Doutora em Filosofia (UFSCar) e bolsista de Desenvolvimento Científico Regional/CNPq. Email: cbandini@superig.com.br 
3 Doutor em Psicologia Experimental (USP/SP) e professor titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São 
Carlos. E-mai: juliocderose@yahoo.com.br 
 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 21 
considered the behaviorist view would be unable to account for the generativity of language, and 
then to demonstrate how Skinner's Verbal Behavior has arguments that can address this generative 
character. As a backdrop to the discussion, a brief historical analysis of the two works was 
performed in order to better understand the context of the publications. 
 
Keywords: Verbal generativity; Verbal behavior; Chomsky; Skinner. 
 
 
 
 
 
O Verbal Behavior (Skinner, 
1957) é considerado uma das obras mais 
importantes de B. F. Skinner, senão a 
mais importante. Desde sua publicação 
em 1957 até os dias de hoje, esta obra vem 
sendo amplamente comentada, utilizada e 
criticada por especialistas da área da 
linguagem, psicólogos e filósofos. 
Devido à forma de escrita de 
Skinner, que geralmente requer um 
conhecimento refinado de Análise do 
Comportamento por parte do leitor, o 
Verbal Behavior é geralmente 
considerado uma obra difícil. Como 
conseqüência desta dificuldade, muitos 
mal entendidos em relação ao seu 
conteúdo foram cometidos. Por exemplo, 
muitos dos leitores menos familiarizados 
com a Análise do Comportamento e com 
o Behaviorismo Radical entenderam que 
as análises contidas no Verbal Behavior 
eram uma tentativa de enquadrar o 
fenômeno da linguagem em um modelo 
do tipo Estímulo-Resposta (S-R), 
característico de outras correntes do 
behaviorismo. Por este motivo, esta obra 
movimentou muitas discussões da 
Psicologia na segunda metade do Século 
XX e recebeu inúmeras críticas, 
principalmente de lingüistas e psicólogos 
envolvidos no movimento que estava 
ganhando força naquela época, 
denominado Revolução Cognitiva. 
Dentre as críticas mais relevantes 
ao Verbal Behavior está uma resenha 
(Review), a qual será denominada 
Resenha para facilitar a compreensão 
deste texto, publicada na revista 
Language por N. Chomsky (1959), um 
dos mais importantes lingüistas do Século 
XX. Embora a abordagem de Chomsky 
seja lingüística, seu impacto na Psicologia 
Cognitiva foi tanto que muitos a tomaram 
como sinal do fim da abordagem 
behaviorista do comportamento verbal. 
Um de seus argumentos basilares foi o de 
que Skinner não conseguiria tratar da 
geratividade verbal. Esta seria uma falha 
irremediável, visto que, para Chomsky, a 
própria diferenciação entre os seres 
humanos e os demais animais ou 
máquinas residiria na possibilidade de 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 22 
produção gerativa da linguagem humana. 
Contudo, trabalhos atuais vêm mostrando 
a existência de uma proposta skinneriana 
da geratividade verbal, contrariando os 
argumentos chomskyanos. Trabalhos 
conceituais como os de Bandini e de Rose 
(2006) e Ferreira (2010), por exemplo, 
empreenderam uma análise sobre a 
explicação skinneriana do 
comportamento verbal gerativo e 
identificaram importantes aspectos 
relativos à geratividade presentes no texto 
skinneriano4. 
Um fato curioso na história do 
Behaviorismo é que a Resenha sempre foi 
pouco comentada pelos próprios 
behavioristas apesar do amplo destaque 
que teve na Psicologia do Século XX. A 
primeira resposta ao texto de Chomsky 
chegou apenas cerca de dez anos depois 
da publicação da Resenha, segundo 
Palmer (2006) com uma publicação de 
Wiest (1967, citado em Palmer, 2006) e 
posteriormente em 1970 com a 
publicação de MacCorquodale (1970). A 
 
4
 O presente texto não abordará o fenômeno da equivalência 
de estímulos, considerado pelos analistas do 
comportamento, como sendo outro processo gerativo típico 
do comportamento verbal, porque este fenômeno não é 
mencionado no texto skinneriano. Caso o leitor tenha 
interesse nesta área, sugere-se ver Sidman e Tailby (1982) e 
Almeida-Verdu; Huziwara, de Souza, de Rose, Bevilacqua; 
Lopes, Alves e McIlvane (2008). Além disso, alguns 
processos de geração de comportamentos novos, que se 
aplicam ao comportamento não verbal (embora possam seaplicar também ao comportamento verbal), como o 
condicionamento operante da variabilidade e as análises 
acerca de resolução de problemas (insights), também não 
farão parte de nossa análise. Para uma análise do 
condicionamento operante da variabilidade, ver Miller e 
Neuringer (2000), Neuringer (2004), e Pryor, Haag, e 
O´Reilly, (1969) e para análise do surgimento de respostas 
de solução em resolução de problemas, ver Delage (2006) e 
Epstein (1987). 
tal silêncio atribui-se o fortalecimento dos 
argumentos de Chomsky perante a 
comunidade científica da época (Richelle, 
2003). O próprio Skinner, ao comentar a 
Resenha em 1971, considerou que o fato 
de não ter dado atenção devida ao texto 
de Chomsky foi um equívoco que 
implicou em uma repercussão de tal texto 
muito maior que a do próprio Verbal 
Behavior (Skinner, 1971, citado por 
Richelle, 2003). 
Atualmente, outros textos 
comentam a famosa Resenha, contudo 
estes ainda são poucos. Exemplos destas 
discussões podem ser encontrados em 
Andresen (1990; 1992), Carrara (2005), 
Justi e Araújo (2004), Palmer (2006), 
Richelle (2003), Shahan e Chase (2002), 
Virués-Ortega (2006) e Zuriff (1985). 
Estes textos indicam problemas 
fundamentais nos argumentos de 
Chomsky frente ao Behaviorismo Radical 
e indicam dimensões importantes do 
alcance da crítica de Chomsky no 
panorama da ciência na atualidade. 
Contudo, apenas em Shahan e Chase 
(2002) o problema colocado por 
Chomsky de que a filosofia skinneriana 
seria incapaz de lidar com a geratividade 
da linguagem é tratado mais a fundo. 
Todavia, os autores se concentram apenas 
na apresentação de uma resposta a crítica 
de Chomsky e não em uma apresentação 
detalhada de seus argumentos. 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 23 
 
Considerando a importância do 
Verbal Behavior no cenário histórico e 
atual da Psicologia e a igual importância 
da Resenha, este trabalho teve como 
objetivo apresentar a Resenha de 
Chomsky, sistematizando seus 
argumentos e sinalizando como o autor 
considerou que a visão behaviorista seria 
incapaz de explicar a geratividade da 
linguagem para, em seguida, apresentar 
como o Verbal Behavior de Skinner 
possui argumentos que podem 
contemplar esse caráter gerativo. Como 
pano de fundo da discussão, uma breve 
análise histórica das duas obras foi 
realizada para que o contexto das 
publicações pudesse ser compreendido. 
 
Uma breve análise do contexto 
histórico da Resenha de Chomsky e 
do Verbal Behavior de Skinner 
A Resenha e o Verbal Behavior 
são textos contemporâneos. Foram 
publicados no final da década de 1950 
com apenas dois anos de diferença: o 
Verbal Behavior, apesar de parcialmente 
pronto já no início da década de 1950, foi 
publicado em 1957 e a Resenha em 1959. 
Contudo, os pressupostos que 
fundamentam as argumentações dos dois 
autores são bastante diferentes. O Verbal 
Behavior foi publicado como fruto do 
modelo científico behaviorista, de 
tradição empirista, o qual empreendia 
uma tentativa de estabelecer que 
qualquer fenômeno complexo humano, 
inclusive a linguagem, poderia ser 
explicado tendo-se como objeto científico 
o comportamento. Em contrapartida, a 
Resenha surgiu como uma tentativa de 
reascender a polêmica discussão acerca 
da natureza humana, de cunho 
racionalista, baseada na idéia de que o 
conceito de representação, enquanto uma 
atividade mental, seria perfeitamente 
cabível para um modelo científico de 
explicação dos fenômenos humanos. 
Assim, apesar de historicamente 
contemporâneos, conceitualmente os 
textos partem de pressupostos bastante 
díspares. Vejamos como observar estas 
noções mais de perto. 
O movimento behaviorista foi um 
movimento engendrado cerca de 30 anos 
depois do surgimento dos primeiros 
laboratórios experimentais de Psicologia 
e poucos anos após Freud esboçar seu 
Projeto de uma Psicologia (Freud, 
1895/1950). Isso significa dizer que seu 
surgimento se deu em uma época em que 
a Psicologia era ainda uma ciência que 
engatinhava. Grande parte dos estudos 
fazia parte da escola baseada na filosofia 
de W. Wundt, conhecida comumente 
como Introspeccionismo ou 
Estruturalismo, e da escola psicanalítica 
derivada dos trabalhos freudianos. Para 
os estruturalistas, o principal objetivo era 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 24 
formular as leis que norteavam a 
experiência humana por meio de um 
método denominado introspecção 
(Gardner, 2003; Rosenfeld, 2003), que 
consistia na aplicação da atenção 
meticulosa do pesquisador às suas 
próprias sensações, as quais deveriam ser 
relatadas da forma mais objetiva possível. 
No caso de Freud (1895/1950), o projeto 
para a Psicologia tinha o propósito de 
apresentar uma psicologia nos moldes de 
uma ciência natural, identificando os 
processos psíquicos como estados 
quantitativamente comandados de 
estruturas materiais comprováveis e 
fazendo-o de modo que estes processos se 
tornassem intuitivos e isentos de 
contradição. Um intricado aparelho 
neuronal foi, então, desenvolvido pelo 
autor na tentativa de explicar como 
funcionavam as representações. Estas 
tinham características peculiares na 
medida em que não eram 
necessariamente conscientes e não eram 
projetadas no cérebro como cópias das 
experiências que as causaram. 
O fato era que, em relação às duas 
vertentes citadas, a introspeccionista e a 
freudiana, ambas guardavam uma forte 
dose de subjetivismo, incompatível com a 
visão de ciência natural que desejavam 
empreender: a introspecção foi 
claramente um método subjetivo de 
resultados dependentes de fatores 
relativos ao observador que a executava, 
assim como os argumentos freudianos 
acerca do funcionamento neuronal, os 
quais embasavam sua idéia de 
representação, foram formulados sem 
que quase nada do sistema nervoso 
humano, dos neurônios e das próprias 
células fosse conhecido na época de seu 
Projeto de uma Psicologia. 
Köhler (1947/1980), então, relata 
que o Behaviorismo Metodológico surgiu 
como um novo e poderoso modelo. Ele 
também tinha como proposta constituir-
se como uma Psicologia que se utilizasse 
do mesmo método objetivo das ciências 
naturais. Contudo, em vez de observar e 
descrever a experiência direta pela 
introspecção, os behavioristas 
procuraram estabelecer um objeto que 
pudesse ser observado de acordo com o 
método dessas ciências, qual seja, a 
observação objetiva. Além disso, os 
behavioristas metodológicos 
fundamentaram suas explicações 
baseando-se em acordo intersubjetivo, 
eliminando os problemas gerados por 
uma análise de eventos privados e/ou 
inconscientes (Zuriff, 1985). 
Assim, Köhler (1947/1980) e 
Zuriff (1985) comentam que o 
Behaviorismo Metodológico tentou 
apresentar uma Psicologia nos moldes 
das ciências naturais, tais como a Física e 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 25 
a Biologia. E foi um modelo de longo 
alcance. Segundo Gardner (2003), por 
exemplo, rapidamente as idéias 
behavioristas foram estendidas para 
outras disciplinas que não apenas a 
Psicologia, como por exemplo, a 
Lingüística de Bloomfield, a filosofia de 
W. V. Quine e a Antropologia do início do 
Século XX. Assim, em alguns 
seguimentos da Psicologia a ordem 
daquela época passou a ser atacar o 
estudo introspectivo da experiência 
humana e as análises das representações 
inconscientes e utilizar observação direta 
para explicar os comportamentos. 
Para que estes princípios fossem 
seguidos, um modelo de interação entre 
comportamento eambiente foi cunhado e 
o conceito de reflexo deu conta, 
inicialmente, desta tarefa. Foi nesta 
época de mudanças e promessas de um 
avanço mais sistemático e científico da 
Psicologia, voltado para um objeto 
declarado como observável e físico, que 
Skinner iniciou seus estudos e realizou as 
primeiras pesquisas na área. 
Segundo Zuriff (1985), o modelo 
reflexo dos behavioristas metodológicos 
poderia ser descrito da seguinte forma: 
“todo comportamento consiste de 
respostas eliciadas por estímulos” (p. 
100), ou seja, todo comportamento é 
reflexo. Contudo, mesmo no início do 
Behaviorismo, o reflexo não se resumia a 
apenas uma definição. Diferentes 
modelos de comportamento reflexo foram 
cunhados. No entanto, todos os modelos 
continham uma similaridade, qual seja a 
de que um reflexo, visto sob o ponto de 
vista behaviorista, sempre consistiria em 
uma relação de eliciação de uma resposta 
por um estímulo. Neste sentido, um 
estímulo deveria ser condição necessária 
e suficiente para a emissão de uma 
resposta. Daí o nome comumente 
utilizado “Psicologia Estímulo-Resposta” 
(S-R) para designar o Behaviorismo. 
O famoso jargão psicologia S-R, 
contudo, não pode ser considerado 
adequado quando o assunto é o 
Behaviorismo skinneriano. O fato é, 
como comenta Zuriff (1985), que a teoria 
do reflexo se desdobrou em outras 
teorias, as quais perderam de longe o 
vínculo de eliciação estrito acima 
descrito. Em outras palavras, ao longo do 
tempo o Behaviorismo não se tornou um 
corpo único de idéias, ou seja, o 
Behaviorismo foi, na verdade, se 
constituindo por muitas espécies de 
behaviorismos diferentes. Sendo assim, 
depois do lançamento das bases 
behavioristas no início do século XX, a 
que nos referimos até aqui, outros autores 
que participavam deste movimento e que 
compartilhavam de muitas de suas idéias, 
mas não todas, começaram a desenvolver 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 26 
alternativas, buscando agregar o modelo 
objetivo-observável S-R da ciência 
watsoniana a outros conceitos por ele 
renegados. E. C. Tolman, C. L. Hull e B. 
F. Skinner foram expoentes dessas 
correntes neo-behavioristas. 
Skinner (1974/1976), apesar de 
admirador do texto de Watson, 
considerou que este autor cometeu 
muitos erros quando propôs que o 
Behaviorismo se constituísse como a nova 
ordem científica para toda a Psicologia. 
Skinner comentou que o fato de Watson 
ter reivindicado que a Psicologia fosse 
redefinida de acordo com seu novo 
método e objeto fez com que, de início, 
muitos discordassem dos pressupostos 
behavioristas. Além disso, na concepção 
skinneriana, Watson sabia muito pouco 
acerca do comportamento e muitas 
informações sobre o funcionamento 
humano precisaram ser supostas ou 
inferidas. Como conseqüência, algumas 
afirmações acabaram se mostrando 
exageradas e ao mesmo tempo ingênuas. 
Neste sentido, o Behaviorismo 
Metodológico, para Skinner, surgiu como 
um movimento precoce com bases pouco 
sólidas. 
Das várias mudanças importantes 
realizadas pela teoria skinneriana, duas 
merecem ser comentadas: 1) a 
“descoberta” do modelo operante e 2) o 
abandono da noção de acordo 
intersubjetivo. Em relação ao surgimento 
do conceito de operante, Zuriff (1985) 
afirma que pouco sobrou do modelo S-R 
original na noção de operante. Apesar de 
o operante manter a idéia de que uma 
resposta também se relaciona com um 
evento antecedente, a definição de causa 
não é a mesma. Isso porque o operante é 
uma resposta funcionalmente definida, 
ou seja, é emitida e não eliciada. Ela pode 
(ou não) acontecer dependendo tanto das 
condições antecedentes, quanto dos 
eventos que são conseqüentes a ela. 
Assim, as suas conseqüências, os 
denominados reforçadores, são 
importantes definidores da probabilidade 
de que as respostas poderão acontecer no 
futuro. Os estímulos antecedentes 
passaram, então, a estabelecer ocasiões 
para a emissão das respostas e não mais a 
eliciar inexoravelmente a sua emissão, 
assim como os eventos conseqüentes 
passaram a ser variáveis independentes, 
determinantes da ocorrência daquela 
resposta em uma nova ocasião. 
Como uma segunda mudança 
importante que diferencia Behaviorismo 
Metodológico e Behaviorismo Radical 
está o abandono da noção de acordo 
intersubjetivo na ciência. Segundo Zuriff 
(1985), a questão da verdade na ciência 
para Skinner não depende de um acordo 
entre os observadores. Nas palavras de 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 27 
Zuriff: “Contrastando o ‘Behaviorismo 
Radical’ com o mais convencional 
‘Behaviorismo Metodológico’, [...] 
Skinner rejeitou o acordo intersubjetivo 
como um critério para a objetividade. Ele 
argumentou que o consenso social sobre 
um relato não garante a verdade do 
relato” (p. 27). Rejeitando tal concepção, 
Skinner pôde recuperar conceitos 
esquecidos na ciência dos behavioristas 
metodológicos, tais como os eventos 
privados. Isso decorre do fato de que, 
dispensada a noção de acordo 
intersubjetivo, o objeto de estudo 
behaviorista não precisou ser mais, 
necessariamente, limitado aos eventos 
públicos. Isso não significa, em hipótese 
alguma, que Skinner concordou com o 
modelo introspeccionista ou com o 
modelo das representações inconscientes. 
Contudo, Skinner afirmou que deveria 
haver um lugar para que eventos privados 
pudessem ser mencionados em uma 
ciência do comportamento. Desde que a 
comunidade verbal possa treinar os 
falantes para descreverem eventos 
privados, ou seja, para que os falantes 
possam discriminar eventos internos, há 
possibilidade de que tais eventos sejam 
relatados, mesmo que exista a chance de 
imprecisão do relato. O fato é que para 
Skinner (1953/1965; 1957; 1974/1976) o 
relato dos eventos privados apenas se 
torna possível mediante o ensino público 
de tais descrições. Neste sentido, a 
ciência skinneriana propôs que o acesso 
ao que é interno é apenas possível 
mediante acesso inicial ao que é externo. 
Em resumo, o Behaviorismo 
Radical skinneriano nasceu dentro do 
movimento behaviorista metodológico: 
preservou a idéia de que a Psicologia 
deveria ser vista como uma ciência 
natural e objetiva, mas, ao mesmo tempo, 
se distanciou do modelo S-R com a 
inserção do operante e com a re-inserção 
da possibilidade de acesso aos eventos 
privados. Foi, portanto, inserido neste 
percurso do pensamento psicológico que 
a obra Verbal Behavior foi escrita por 
Skinner, ou seja, em uma época em que 
apesar de criticado, o Behaviorismo 
estava ainda no auge de sua expansão. 
Já o movimento cognitivista, do 
qual Chomsky fez parte, teve início um 
pouco mais tarde na década de 1930. 
Naquela época, como vimos, os 
“Behaviorismos” eram importantes na 
cena da ciência norte americana, contudo 
não conquistaram unanimidade entre os 
cientistas e da mesma forma que 
angariavam seguidores, causavam certo 
desconforto no meio científico. Esse 
desconforto, segundo Chomsky 
(1968/2006) e Gardner (2003) se devia 
ao fato de que o conceito clássico de 
mente foi deixado de lado pelos cientistas 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 28 
comportamentais. Gardner (2003) 
comenta que apesar do Behaviorismo se 
enquadrar bem nas necessidades 
científicas da Psicologia do início do 
Século XX, pela necessidade de que um 
método melhor que a introspecção fosse 
desenvolvido e pela urgência de que os 
termos científicos pudessem ser mais 
bem definidos, o movimento acabou com 
as esperanças de quea mente, como os 
cognitivistas a concebiam, pudesse ser 
estudada. Isso porque, o estudo do 
comportamento não aceitava que crenças, 
representações mentais ou idéias 
pudessem ser entendidas como causas 
dos comportamentos: as causas dos 
comportamentos, como vimos, deveriam 
estar localizadas no ambiente do 
organismo e deveriam ser físicas. 
Assim, segundo Gardner (2003), 
os cognitivistas formaram um movimento 
com algumas características comuns 
básicas. Para os objetivos deste texto, 
três delas são de especial importância 
porque apontam aspectos importantes do 
pensamento de Chomsky. A primeira 
delas era a necessidade de que a ciência 
pudesse lidar com o fenômeno da 
representação, ou seja, com um nível de 
símbolos, regras e imagens mentais. Esse 
nível deveria ser compreendido como 
existindo entre os inputs recebidos do 
meio, comumente considerados como 
equivalentes (para os cognitivistas) aos 
estímulos da teoria behaviorista, e os 
outputs emitidos pelo organismo, 
reconhecidos como as respostas do 
modelo S-R. Neste sentido, o mero estudo 
do comportamento era inviável para a 
compreensão da natureza humana. A 
segunda característica, não 
compartilhada por Chomsky, era a forte 
influência dos computadores como um 
modelo do pensamento humano. Os 
cognitivistas, em geral, compartilhavam 
da idéia de que o computador poderia 
servir como uma metáfora adequada para 
a compreensão da mente humana. Por 
fim, a terceira característica do 
movimento era a de que a cognição 
humana só seria compreendida com a 
realização de um trabalho conjunto de 
diversas áreas. Isso porque, na explicação 
do funcionamento da mente humana, 
deveriam ser incluídos os aspectos 
biológicos do funcionamento do sistema 
nervoso, principalmente do cérebro. 
Foi em meio ao frisson dessa 
época que Chomsky começou a 
desenvolver seu trabalho. Como um ativo 
militante da nova Ciência Cognitiva, 
Chomsky escreveu seus primeiros 
trabalhos na década de 1950 e, 
caminhando no clima inovador, 
empreendeu uma resenha do Verbal 
Behavior como uma forte crítica ao 
Behaviorismo de Skinner. Chomsky 
(1957/2002; 1968/2006) considerava que 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 29 
era impossível entender o 
comportamento humano, principalmente 
comportamento lingüístico, sem entender 
quais as regras primordiais que regiam o 
processamento mental de uma 
proposição. Isso significa dizer que, para 
Chomsky, era imprescindível que se 
descobrisse como as representações 
mentais poderiam gerar proposições 
lingüísticas. Mais que isso, o autor 
compartilhava da idéia cognitivista da 
época de que o processamento biológico 
deveria ser um fator importante na 
compreensão da linguagem, visto que, em 
sua concepção, parte das regras 
responsáveis pelo comportamento 
humano lingüístico era inata, ou seja, 
figurava de alguma forma dentro do 
aparato biológico do ser humano. 
Contudo, Chomsky não era um 
admirador das metáforas computacionais 
da mente. O crescente entusiasmo do 
final da década de 1940 e início dos anos 
1950, que indicava a possibilidade de que 
os computadores pudessem dar uma 
explicação do comportamento e do 
funcionamento humano ou que 
pudessem, pelo menos, ser programados 
para desempenhar tarefas humanas, era 
para o autor infundado. Isso porque 
Chomsky era um entusiasta de algumas 
idéias cartesianas, das quais a mais 
importante era a de que existia uma 
diferença de natureza entre o homem e os 
demais animais ou as máquinas. Vejamos 
isso mais de perto. 
Para Chomsky (1968/2006), o 
rumo da pesquisa pós-behaviorista 
deveria incluir as discussões acerca da 
natureza humana lançadas pelos 
pensadores racionalistas do século XVII. 
Compreender o ser humano deveria levar 
em consideração que este era dotado de 
um poder gerativo do pensamento, o qual 
o distinguia dos demais animais e de 
qualquer máquina que pudesse ser 
construída. Essa capacidade geradora 
infinita deveria ser entendida como 
qualitativamente diferente das 
capacidades dos animais/máquinas e não 
como uma questão de maior e menor 
complexidade de espécies. Ou seja, 
Chomsky acreditava ser lícito postular 
uma capacidade inata exclusiva ao ser 
humano de produzir pensamento e 
linguagem em um nível altamente 
complexo e criativo, a qual nunca poderia 
ser exibida por outro animal ou por 
qualquer máquina que pudesse ser criada 
pelo homem. O fato era que se tal 
capacidade fosse aprendida, então outros 
animais poderiam adquiri-la e poderiam, 
assim, serem dotados da mesma 
capacidade de pensamento, o que nunca 
havia sido observado. 
Desta forma, para Chomsky 
(1968/2006), era a geratividade do 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 30 
 
pensamento humano o aspecto mais 
importante a ser considerado no estudo 
da linguagem. O homem disporia de um 
poder de criar infinitas sentenças 
diferentes partindo de um conjunto finito 
de regras e de dados do meio ambiente. A 
questão principal para o autor era que tal 
capacidade não poderia nunca ser 
aprendida pelo simples contato com o 
ambiente. Isso porque o número de 
sentenças produzidas por uma criança, 
por exemplo, parecia ser muito maior que 
o número de sentenças a ela ensinadas. 
Dito de outra forma, para Chomsky, os 
dados disponíveis no ambiente de uma 
criança seriam deveras degenerados para 
que esta pudesse vir a aprender a ampla 
gama de sentenças que produz. Sua teoria 
lingüística, então, deveria explicar como a 
criança realizava tal feito, sem buscar 
causas apenas no ambiente lingüístico em 
que ela está inserida. 
Dito isso é possível que se 
compreenda porque as idéias de Chomsky 
não coadunam com as idéias de Skinner. 
Partindo de pressupostos tão diversos os 
autores buscaram as causas do 
comportamento lingüístico em variáveis 
completamente diferentes. Enquanto 
Chomsky procurou causas internas da 
linguagem, calcadas principalmente no 
conceito de representação mental e em 
regras de processamento internas, 
Skinner buscou explicar o 
comportamento verbal baseando-se no 
ambiente do sujeito, ou seja, em sua 
história de reforçamento e na estimulação 
presente quando uma resposta é emitida. 
 
A estrutura da Resenha de 
Chomsky 
Em um panorama geral, a 
Resenha (Chomsky, 1959) pode ser 
compreendida como baseada em três 
alicerces fundamentais: 1) Uma crítica 
direcionada ao caráter objetivo-
observável de ciência e ao método, 
baseado tanto no estudo do 
comportamento de animais não 
humanos, quanto no rígido controle do 
laboratório; 2) Uma crítica direcionada 
aos conceitos basilares do Behaviorismo 
Radical, tais como estímulo, resposta, 
privação, etc. e, por fim, 3) Uma crítica, 
na qual Chomsky considerou impossível 
diante do modelo científico, do método 
apresentado e dos conceitos utilizados 
por Skinner, a compreensão da 
geratividade do comportamento verbal, 
por meio da filosofia Behaviorista 
Radical. Para os objetivos deste texto, a 
partir de agora, será necessário 
sistematizar os mais importantes 
argumentos de Chomsky direcionando 
nossa análise à abordagem behaviorista 
do comportamento verbal e, 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 31 
 
consequentemente, de sua possibilidade 
de explicação da geratividade verbal. 
 
A crítica da Resenha à ciência 
skinneriana 
A ciência behaviorista 
skinneriana teve como objeto de estudo o 
comportamento humano. No caso do 
modelo operante, o comportamento foi 
concebido como uma relação entre o 
ambiente antecedente,em que uma 
resposta acontecia, a própria resposta e as 
conseqüências que tal resposta produz. 
Como método científico Skinner 
considerou o uso da experimentação, 
geralmente realizada em situações 
controladas de laboratório, a qual poderia 
ser realizada tanto com animais infra-
humanos, como pombos e ratos, por 
exemplo, quanto com humanos. Para 
Skinner (1953/1965; 1957; 1974/1976), o 
uso de animais foi considerado lícito por 
dois motivos principais: 1) Por possuir 
muitas vantagens, como o controle das 
histórias genética e de reforçamento dos 
sujeitos e 2) Porque o comportamento 
seria regido por leis, em princípio, livres 
de restrição de espécies, permitindo 
generalização dos resultados para o 
comportamento humano. Sobre este 
segundo aspecto, Skinner (1957) afirmou 
sua crença de que a própria 
experimentação deveria gerar os dados 
necessários para uma decisão sobre a 
legitimidade da generalização entre 
espécies: se não era possível a afirmação 
de uma total semelhança entre os 
princípios do comportamento para as 
espécies, também não era possível a 
afirmação de uma total diferença entre 
tais princípios. 
Contudo, para Chomsky (1959), a 
proposta de Skinner (1957) para a 
explicação do comportamento verbal foi 
considerada muito limitada. Em sua 
Resenha o autor afirmou que Skinner 
seria notado por suas contribuições ao 
estudo do comportamento animal, 
contudo, no estudo do comportamento 
humano, principalmente no caso do 
comportamento verbal, seu método e, 
consequentemente, seu modelo 
explicativo não seriam capazes de 
alcançar todas as complexidades do 
comportamento humano. Para Chomsky, 
Skinner em nada se diferenciava dos 
seguidores do modelo S-R: se as variáveis 
estudadas figuravam exclusivamente no 
ambiente do organismo, o sujeito não 
teria qualquer tipo de contribuição na 
emissão de suas próprias respostas, o que 
deveria ser considerado como um contra-
senso. Neste sentido, Chomsky 
considerou que deveriam existir 
processos mentais que estavam inseridos 
entre os inputs ambientais (termo usado 
pelo autor como equivalente ao termo 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 32 
skinneriano estímulo) e os outputs 
(equivalente ao termo skinneriano 
resposta) por eles produzidos. 
Além disso, Chomsky (1959) 
apontou dois problemas cruciais: 1) Os 
resultados obtidos em pesquisas 
conduzidas no laboratório não poderiam 
ser considerados fora desse controle 
rígido e 2) Os resultados obtidos com 
animais não humanos não deveriam ser 
considerados, como fez Skinner, como 
sendo “livres de restrição de espécies” 
(Skinner, 1957, p.3). Mais que isso, para 
Chomsky, o uso dos resultados obtidos 
com o estudo do comportamento animal 
apenas demonstraria que a análise 
skinneriana careceria de um maior 
conhecimento do comportamento 
humano complexo. Se os processos 
mentais, que transformam os inputs 
ambientais em outputs comportamentais, 
fossem conhecidos, então, ficaria claro 
que estes são diferentes entre humanos e 
outras espécies. Como apresentado 
anteriormente, para Chomsky havia 
uma diferença crucial entre os 
processos mentais humanos e de outras 
espécies animais (ou máquinas que 
pudessem ser construídas pelos 
humanos), calcada, principalmente, na 
geratividade do pensamento e da 
linguagem humana. 
Assim, Chomsky (1959) enfatizou 
que o enfoque da ciência behaviorista era 
incorreto. Os conceitos criados com os 
resultados obtidos em laboratório tais 
como, estímulo, resposta, reforço, 
privação e etc., não poderiam dar conta 
da complexidade humana. Para cada um 
destes conceitos o autor articulou uma 
série de argumentos desfavoráveis; 
contudo para o foco central deste trabalho 
o argumento crítico chomskyano, que 
afirmava a inviabilidade do estudo do 
comportamento operante, deve ser o mais 
importante. Vejamos por quê. 
Segundo Chomsky (1959), 
estudar o comportamento verbal, por 
meio de experimentação tão controlada e 
por conceitos que não levavam em conta 
os processos do pensamento humano, 
seria simplificar o uso da linguagem ao 
extremo. Se o autor considerou que a 
ciência skinneriana falhou na promessa 
de explicação do comportamento 
humano, falhou mais ainda, quando o 
comportamento humano em questão era 
verbal. Isso porque “desde que o sistema 
(behaviorista) foi baseado nas noções de 
estímulo, resposta e reforço, conclui-se 
pelas seções anteriores a ela (a descrição 
do comportamento verbal) seria vaga e 
arbitrária” (p. 44). Ou seja, para 
Chomsky, não haveria possibilidade do 
Behaviorismo Radical e da Análise do 
Comportamento empreender uma análise 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 33 
efetiva sobre o comportamento verbal 
humano, baseando-se nos conceitos 
oriundos da experimentação em 
laboratório. 
Chomsky (1959) também não 
concordou com a definição skinneriana 
de que comportamento verbal seria todo 
comportamento mantido por 
consequências mediadas por outro 
indivíduo. Mais que isso, Chomsky 
considerou que a definição de 
comportamento verbal, apresentada por 
Skinner (1957) no Verbal Behavior, trazia 
inúmeras complicações para a teoria. 
Skinner restringiu a definição de 
comportamento verbal ao 
comportamento mediado pela ação de 
outro, sendo este outro devidamente 
condicionado a responder 
adequadamente, fornecendo a 
conseqüência reforçadora ao 
comportamento do falante. Nestes 
termos, Chomsky acreditou que o 
comportamento do ouvinte deveria ser 
fruto de treino, ou seja, o ouvinte deveria 
ser devidamente exposto a um número de 
situações para responder ao 
comportamento do falante, de forma 
eficaz. Se esta afirmação fosse 
verdadeira, então como poderia ser 
possível que o ouvinte respondesse 
adequadamente ao comportamento do 
falante em novas situações, nas quais não 
existisse qualquer espécie de treino? 
Desta forma, grande parte dos 
comportamentos lingüísticos das 
situações cotidianas não poderia ser 
contemplada pela definição restrita de 
comportamento verbal, pois em inúmeras 
situações novas, comportamento verbal é 
emitido sem qualquer treino prévio. 
Mais que isso, o argumento 
central nesses casos poderia ser assim 
resumido: se um operante foi definido 
por ser uma classe de respostas, as quais 
são mantidas pelas suas conseqüências, 
como Skinner pretenderia explicar o fato 
de que as respostas deveriam ser emitidas 
antes de serem reforçadas pela primeira 
vez? É visível a mutabilidade e 
geratividade verbal nos seres humanos 
como um fenômeno que, na opinião de 
Chomsky (1968/2006) não poderia ser 
encontrado em nenhuma outra espécie. 
Assim, seria nítido que respostas novas 
são emitidas a todo o momento e são 
emitidas, em muitos dos casos, pela 
primeira vez, ainda sem serem parte de 
qualquer classe operante de 
comportamento. Como, então, 
poderíamos discutir esta questão, dentro 
da teoria operante do Behaviorismo 
Radical? 
Responder a estas críticas de 
Chomsky exige um trabalho de “garimpo” 
do Verbal Behavior (Skinner, 1957). 
Bandini e de Rose (2006) tentaram 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 34 
 
empreender esta tarefa sistematizando os 
processos e procedimentos responsáveis 
pelo surgimento de novas respostas 
verbais contidos naquela obra, assim 
como Shahan e Chase (2002) também 
abordaram alguns aspectos essenciais do 
Verbal Behavior. Sendo assim, o 
trabalho realizado por estes autores será 
utilizado para discutir a geratividade 
verbal apresentada na obra de Skinnera 
para fundamentar parte do debate entre 
Chomsky e Skinner. 
 
Skinner e a geratividade verbal 
Segundo Shahan e Chase (2002), 
o comportamento novo para o 
behaviorismo deveria ser definido pela 
observação de variações importantes em 
três níveis relacionados: 1) O contexto de 
uma resposta (eventos antecedentes, ou 
seja, no controle de estímulos), 2) A 
topografia da resposta e/ou 3) As 
consequências destas respostas. Dentre 
os conceitos citados pelos autores como 
relevantes, no primeiro nível, estariam à 
discriminação e generalização de 
estímulos, o comportamento conceitual 
(formação de conceitos), as extensões dos 
tactos, a abstração, os repertórios 
mínimos e os autoclíticos. No segundo 
nível, estariam os comportamentos de 
solução de problemas verbal e não verbal. 
Por fim, no terceiro nível estariam as 
variações nas consequências do 
comportamento. 
Já segundo Bandini e de Rose 
(2006), a “novidade” comportamental 
poderia ser definida de duas formas, de 
acordo com o próprio Skinner 
(1968/2003): 1) Resultado da dotação 
genética ou história de reforçamento do 
indivíduo (surgimento de novas 
respostas no repertório do indivíduo 
quando a topografia da resposta já 
existisse, mas a resposta fosse agora 
emitida sob novos controles e 2) 
Comportamentos novos em um 
“sentido” especial, por serem emitidos 
pela primeira vez (comportamento 
novo para a comunidade verbal como 
um todo). Neste segundo caso, os 
autores indicaram que Skinner estaria 
tratando diretamente com a tentativa 
de garantir uma explicação para a 
primeira emissão de uma resposta e, 
sendo assim, consideraram que 
poderíamos encontrar o uso dos termos 
original e criativo mais freqüentemente 
por Skinner. A partir desta definição, 
Bandini e de Rose (2006) indicaram a 
generalização de controle de estímulos, a 
recombinação de unidades mínimas, a 
recombinação de fragmentos de 
respostas, os autoclíticos e a modelagem 
de respostas operantes, como sendo os 
processos básicos envolvidos no 
surgimento de novas respostas verbais. 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 35 
 
Como os processos citados por 
Bandini e de Rose (2006) abarcam, em 
certo sentido5, os citados em Shahan e 
Chase (2002), estes serão melhor 
analisados nas próximas sessões deste 
texto. 
 
A generalização do controle de 
estímulos 
De acordo com Bandini e de Rose 
(2006), a generalização do controle de 
estímulos seria responsável pelo que 
Skinner (1957) denominou extensões de 
mandos e tactos6. No caso dos mandos, 
segundo estes autores, Skinner 
considerou que as extensões de mandos 
ocorreriam quando: 1) O mando fosse 
emitido a “ouvintes” que não se 
caracterizam, de fato, como tal, por não 
estarem preparados para mediar o reforço 
da resposta do falante ou 2) Quando 
mandos fossem criados em analogia a 
outros mandos antigos. Nesse último 
caso, os mandos foram denominados por 
Skinner, mandos mágicos. Em uma 
 
5
 Shahan e Chase (2002) comentam alguns tipos de processos 
ou procedimentos envolvidos no surgimento da 
variabilidade que não estão presentes no texto skinneriano, 
como a equivalência de estímulos, a ressurgência e o 
condicionamento operante da variabilidade, mas que são, na 
atualidade, processos bastante estudados da Análise do 
Comportamento. 
6
 É importante salientar que Shahan e Chase (2002) 
consideraram, ao contrário do que afirmou o próprio 
Skinner (1957), que a extensão de tactos e a generalização do 
controle de estímulos seriam processos diferentes. No 
primeiro, a resposta seria ocasionada por propriedades de 
um estímulo que estavam presentes quando o 
comportamento foi anteriormente reforçado, mas agora 
aparecem em um contexto novo. No segundo, a resposta 
ocorreria na presença de uma variação de uma propriedade 
relevante do estímulo. 
resposta deste tipo, um determinado 
mando especificaria um reforçador 
adequado ao ser emitido sob controle de 
um dado estado de privação ou de 
estimulação aversiva, porém a resposta 
emitida nunca teria sido emitida sob esse 
tipo de controle e faria parte do repertório 
do indivíduo, como um outro tipo de 
operante verbal. 
Para Skinner (1957), os mandos 
mágicos seriam típicos na literatura, 
principalmente na forma do que 
conhecemos como desejos. Tanto na 
prosa quanto na poesia, escreveu o autor, 
os mandos mágicos teriam um papel de 
destaque, pois o escritor, em geral, 
escreve sob forte privação ou estimulação 
aversiva. Em geral, os autores descrevem 
situações em que perderam a pessoa 
amada ou que desejam encontrar uma 
pessoa para amar, por exemplo. É ainda 
possível que os textos literários estejam 
relacionados a situações fortemente 
aversivas como, por exemplo, nos casos 
em que existe descontentamento com 
formas de governo, com estruturas 
sociais, etc. Nestes casos, é provável que o 
autor escreva desejando o retorno da 
pessoa amada ou uma mudança político-
social, sem que essa consequência tenha 
sido especificada dessa forma 
anteriormente e sem que o leitor possa 
fornecer tais conseqüências ao escritor. 
Skinner considerou nesta ocasião, que na 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 36 
 
maioria das vezes em que mandos fossem 
utilizados em uma obra literária, eles 
poderiam ser considerados como mágicos 
devido à fraca, ou quase inexistente, 
relação entre o escritor e seu leitor. 
Já no caso dos tactos, o número 
de extensões descritas por Skinner (1957) 
foi maior que no caso dos mandos e sua 
categorização dependeu da propriedade 
do estímulo que passaria a controlar a 
nova resposta. Tais extensões foram 
consideradas: 1) Genéricas, quando a 
propriedade que torna o novo estímulo 
um estímulo efetivo é uma propriedade 
comumente determinante de reforço pela 
comunidade verbal, ou seja, quando “um 
falante chama uma nova espécie de 
cadeira de cadeira” (p. 91); 2) 
Metonímicas, quando um estímulo novo 
adquire o controle da resposta por estar 
sempre acompanhando o estímulo no 
qual o reforço é contingente, por 
exemplo, “a Casa Branca negou os 
rumores, embora tenha sido o presidente 
quem falou” (p.100); 3) Solecísticas, 
quando o novo estímulo está relacionado 
de uma forma muito distante ou 
irrelevante ao estímulo sob o qual a 
resposta era antes reforçada, ou seja, são 
espécies de enganos do tipo dizer que 
“alguém tem um dilema, embora a 
situação seja meramente uma 
dificuldade” (p. 102); 4) Nomeações, 
quando, por exemplo, crianças recebem 
nomes porque se parecem com outras 
pessoas conhecidas ou em homenagem a 
grandes amigos ou parentes, sendo, 
nestes casos, encontrados os mesmos 
controles que atuam nas demais 
extensões apresentadas aqui, inclusive 
nas extensões 5) Metafóricas, definidas 
por Skinner (1957) como as respostas 
emitidas sob controle de propriedades 
que, em geral, não são as propriedades 
comumente reforçadas pela comunidade 
verbal, mas que apenas coexistem nas 
situações de reforço padrão. A extensão 
metafórica foi considerada como a 
extensão mais relacionada à novidade no 
comportamento, uma vez que com o 
tempo ela passa a ser reforçada como 
tacto padrão, isolando assim uma 
determinada propriedade do estímulo ou 
um grupo de propriedades deste, que 
possivelmente não haviam sido antes 
identificadas pela comunidade verbal. 
 
As recombinações de unidades de 
respostas verbais ou de fragmentos 
de respostas 
Outro processo, apontado por 
Bandini e de Rose (2006) como 
responsável pelo surgimento de novas 
respostas, considerado no Verbal 
Behavior por Skinner (1957), foi a 
recombinação. Esta poderia dar-sede 
duas formas: 1) Sobre as unidades de 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 37 
 
respostas verbais ou 2) Sobre fragmentos 
de respostas. 
Para o primeiro caso, a 
recombinação de unidades de respostas 
verbais, Skinner (1957) comentou que as 
menores unidades dos operantes verbais 
teriam um papel importante na emissão 
de respostas maiores. Segundo o autor, 
uma resposta de tamanho maior poderia 
ser ela mesma uma unidade ou poderia 
ser uma combinação de respostas 
menores existentes no repertório do 
indivíduo. Assim, uma pessoa que 
aprendesse a ler certa quantidade de 
sílabas poderia ser capaz de recombiná-
las e, assim, poderia ser capaz de ler 
novas palavras formadas pelas sílabas 
previamente aprendidas. Nestes casos, a 
pessoa poderia, agora, emitir novas 
respostas ao ler novas sentenças e 
palavras. 
Já a recombinação de fragmentos 
de respostas, teria outra espécie de causa. 
Segundo Bandini e de Rose (2006), 
Skinner (1957) afirmou que o que 
acontecia nestes casos seria a junção de 
dois operantes que teriam 
aproximadamente a mesma força 
simultaneamente e que, portanto, 
acabariam se fundindo em uma nova 
resposta, em geral, de forma distorcida. 
Em recombinações deste tipo, a nova 
resposta poderia conter extensões iguais 
ou diferentes de cada uma das respostas e 
a combinação poderia ocorrer entre 
palavras, frases ou mesmo entre sílabas 
ou fonemas. Como apresentado por 
Skinner, em tais recombinações poderia 
surgir novas respostas como “Você está 
provavelmente verdadeiro”, como 
resultado de “Você está provavelmente 
certo” e “Isso é provavelmente 
verdadeiro” (Skinner, 1957, p. 296). 
Bandini e de Rose (2006), 
baseando-se em Skinner (1957), 
indicaram que os resultados das duas 
formas de recombinação seriam 
comumente distintos. Enquanto a 
combinação de pequenas unidades 
verbais do repertório do falante 
geralmente resultaria em outras novas 
palavras e frases úteis e, até mesmo 
originais, a recombinação de fragmentos 
de respostas resultaria, geralmente, em 
alguma forma estranha e pouco aceita 
pela comunidade verbal. Todavia, tais 
recombinações também poderiam 
produzir comportamento útil e novo em 
um sentido original e, desta forma, 
neologismos interessantes para a 
comunidade verbal poderiam passar a ser 
reforçadas pelo ouvinte. 
 
Os processos autoclíticos 
Os autoclíticos também fariam 
parte dos processos responsáveis pelo 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
 38 
surgimento de novas respostas verbais na 
concepção skinneriana, como apontaram 
Bandini e de Rose (2006) e Shahan e 
Chase (2002). Isso aconteceria porque o 
comportamento verbal seria emitido sob 
controle de variáveis ambientais, 
correspondendo a ordens específicas de 
agrupamento da resposta. No caso em 
que o falante emite um mando, como um 
pedido de água, por exemplo, ele poderia 
pedir “Água!” e ser atendido. Todavia, 
provavelmente ele aumentaria a 
probabilidade de ser atendido, se pedisse 
“Água, por favor” ou “Um copo de água, 
por favor”, ou seja, se sua resposta fosse 
formada também por autoclíticos. Nesse 
caso, a ordem da emissão da resposta 
corresponderia a uma ordem reforçada 
pela comunidade verbal, como 
“gramaticalmente correta”. Caso o 
pedido de água não fosse ordenado, como 
por exemplo, “Água um favor copo por”, 
este poderia ser inefetivo, pois o ouvinte 
poderia não tomar uma ação prática 
adequada, ou seja, não estaria apto a 
mediar o reforço para a resposta do 
falante. Como afirmou o autor, “as 
respostas evocadas por uma situação são 
essencialmente não gramaticais, até 
terem sido manipuladas 
autocliticamente” (p. 346). 
Sendo assim, novas respostas 
verbais poderiam aparecer com o uso dos 
autoclíticos porque a ordem da reposta 
emitida poderia ser diferente da forma 
padrão reforçada pela comunidade 
verbal. Uma audiência não punitiva, 
por exemplo, poderia permitir o uso de 
autoclíticos que transgredissem de 
forma criativa as formas triviais de 
comportamento verbal: a ordem 
tradicional ou padrão reforçada por 
uma comunidade verbal poderia ser 
reforçada ao ser alterada em uma 
comunidade literária, por exemplo, 
produzindo um resultado novo para o 
indivíduo e, em alguns casos, para a 
comunidade como um todo. 
Além disso, existiria ainda a 
possibilidade de recombinação de 
unidades do comportamento verbal e 
autoclíticos, como no seguinte 
exemplo: quando o falante adquire uma 
série de respostas tais como, “A arma 
do garoto”, “O sapato do garoto” e “O 
chapéu do garoto”, a forma verbal “A 
(o) x do garoto” torna-se disponível 
para ser recombinada com outras 
respostas, como, por exemplo, “A 
bicicleta do garoto”, quando o garoto 
adquire uma bicicleta. Em um caso 
como esse, Skinner (1957) considerou 
que os aspectos relacionais da situação 
fortaleceriam a forma verbal a ser 
recombinada, assim como os aspectos 
da situação fortaleceriam a nova 
resposta (p. 336). 
Carmen Silvia Motta Bandini - Júlio César C. de Rose 
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 20-42 
 
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Por fim, Skinner (1957) comentou 
que algumas respostas são novas 
simplesmente por resultarem da junção 
de autoclíticos a outros operantes verbais 
disponíveis no repertório do falante, ou 
seja, por resultarem da recombinação de 
unidades disponíveis no repertório do 
indivíduo acrescidas de autoclíticos, como 
afirmações, negações, qualificações, entre 
outros. Os casos mais complexos dessa 
combinação poderiam ser encontrados no 
que Skinner denominou de composição, 
que por se constituir de uma grande 
quantidade de comportamento, 
permitiria uma grande quantidade, da 
mesma forma, de manipulação e, sendo 
assim, aumentaria a possibilidade de 
formação de novas respostas. 
 
A modelagem ou reforçamento por 
aproximação sucessiva 
Por fim, Bandini e de Rose 
(2006) comentaram a modelagem, 
enquanto processo, como a última forma 
apresentada por Skinner de processo 
envolvido no surgimento de novas 
respostas verbais. Segundo estes autores, 
a modelagem poderia ser definida como 
uma forma natural de seleção por 
consequências: o ambiente selecionaria 
variações comportamentais e tais 
variações, na maioria dos casos, 
constituiriam mudanças em pequena 
escala dos comportamentos em questão. 
Como indicou Skinner (1968/2003), os 
comportamentos não apareceram no 
repertório dos indivíduos, tal como os 
conhecemos atualmente e versões menos 
complexas devem ter feito parte do 
repertório de nossos ancestrais. Da 
mesma forma, no nível ontogenético, 
comportamento é selecionado e modelado 
no repertório do indivíduo por meio de 
aproximação sucessiva, ou seja, de 
modelagem. Uma criança pequena que 
aprende a falar, por exemplo, aprende 
geralmente por meio de aproximações 
sucessivas: seus pais acabam reforçando, 
inicialmente, qualquer forma de resposta 
vocal da criança e, a partir daí, passam a 
reforçar apenas as que se aproximam das 
formas mais corretas de palavras, até que 
a criança esteja falando corretamente. 
 
Considerações finais 
Após a análise das críticas 
apresentadas por Chomsky (1959) e da 
proposta skinneriana de análise da 
geratividade verbal, é possível considerar 
que os argumentos contidos na Resenha 
de Chomsky não foram capazes de 
derrubar a proposta skinneriana de 
explicação da geratividade verbal. O que 
pode ser verificado é que os pontos de 
vista de Skinner e Chomsky são 
fundamentalmente diferentes e, sendo 
Chomsky e Skinner e a polêmica sobre a geratividade da linguagem 
 
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assim, Chomsky não poderia, sob 
nenhuma hipótese, considerar como 
coerente a explicação skinneriana da 
capacidade humana gerativa da 
linguagem. 
Contudo, muito do trabalho de 
Chomsky ainda pode ser discutido. Por 
exemplo, análises mais profundas podem 
ser úteis para verificar-se se o rígido 
controle das pesquisas em laboratório ou 
a pesquisa com animais podem ser, de 
fato, úteis no estudo do comportamento 
verbal. O fato é que, como o próprio 
Skinner apresentou, algumas afirmações 
presentes no Verbal Behavior eram de 
caráter exploratório ou especulativo e 
pesquisas na área deveriam ser realizadas 
para que pudessem ser confirmadas. O 
trabalho de verificação das críticas feitas 
ao trabalho de Skinner pode ajudar na 
empreitada de validar (ou não) as 
afirmações do autor, contribuindo assim 
para o avanço das pesquisas na área. 
Conclui-se que críticas deveriam 
ser encaradas como uma possibilidade 
salutar de se encarar o trabalho 
científico de uma perspectiva diferente. 
Como resultado, elas podem favorecer o 
esclarecimento dos alicerces da análise 
skinneriana e dos fundamentos, nos 
quais seus pressupostos estão 
embasados. 
 
 
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Recebido em: 31/10/2007 
Aceito para publicação em: 09/09/2009

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