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NP1 - Inteligencia_-_Resultado_da_Genetica_do_Ambiente_ou_de_Ambos_-_Cap_2

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lnteligencia como a habilidade para aprender
Uma demanda ininterrupta e infatigavel de nossa vida e aprender, isto e,
processar nova informacao suficientemente bern para entende-la, relem-
bra-la e efetivamente usa-laoIsto ocorre comumente nos contextos da edu-
cacao e do treinamento, mas e tambern 0 caso ao enfrentar os desafios que
encontramos em nossa vida diaria, desde aprender a usar urn novo equipa-
mento (por exemplo, urn fomo de microondas) ate aprender os sutis senti-
mentos e as emocoes de urn amigo ou da pessoa amada.
o nivel do QI e correlacionado com a velocidade, a amplitude e a
profundidade da aprendizagem quando esta requer pensamento; especifi-
camente, quando ela e intencional (demanda esforco mental consciente),
envolvediscemimento (requercaptura)e e relacionadaa idade, isto e, quando
as criancas mais velhas dominam 0 material mais facilmente que as crian-
cas mais jovens (porque elas sao mentalmente mais maturas) e quando 0
material a ser aprendido e significativo e hierarquico (dominar elementos
-basicos e essencial para aprender aqueles mais complexos, como na mate-
matica). A aprendizagem esta tambem envoivida com 0 nivel de inteligen-
cia em geral quando a tarefa de aprendizagem permite usar 0 conhecimento
anterior para solucionar novos problemas, a quantidade de tempo e fixada e
o material a ser aprendido nao e, razoavelmente, diffcil ou complexo (0 que
poderia motivar alguern a retomar a aprendizagem por ensaio e erro). Em
resumo, inteligencia e a habilidade para aprender quando 0 material a ser
aprendido e moderadamente complexo (abstrato, multifacetado, e assim
por diante), como distinta da aprendizagem dirigida (passo a passo) ou da
mera memorizacao.
As pessoas aprendemem diferentes taxas, ritmos. Na escola, as razoes
entre as taxas de aprendizagem sao frequentemente quatro ou cinco para
urn, e estas podem sermuito mais altas dependendo do material a ser apren-
dido. Os militares tern similarmente encontrado que os recrutas diferem
substancialmente em quao bern eles aprendem, 0 que eles chamam "treina-
bilidade". Dados obtidos de estudos realizados nas Forcas Armadas Ameri-
canas revelararn, por exernplo, que os recrutas situados no quinto inferior
(ver Figura 1.1) da distribuicao das habilidades necessitam de duas a seis
vezes mais tentativas de ensino e treino que seus pares com maior habilida-
de para atingirem urn minimo de proficiencia na montagem de rifles, no
monitoramento de sinais, na projecao de combates, e em outras tarefas ba-
sicas exigidas nos quarteis (Ree & Earles, 1991; Ree & Earles, 1992; Car-
retta & Ree, 1996; Ree, Carretta, & Green, 2003). Isto indica que para
pessoas com QIs sucessivamente abaixo da media, os treinamentos devem
ser feitos sucessivamente menos abstratos, mais diretamente supervisiona-
dos e limitados as tarefas mais simples. Niveis baixos de treinabilidade
15INTELIGlONCIA EM GERAL
lnteligencia como a habilidade para evitar erros cognitivos comuns
Inteligencia em geral tambern pode ser concebida, para propositos praticos,
como a probabilidade de nao cometer erros cognitivos comuns. A nocao e
que todas as pessoas fazem erros cognitivos, mas aquelas mais brilhantes
cometem pouco deles em situacoes comparaveis. Elas cometem poucos er-
ros em aprendizagem, por exemplo, porque aprendem de forma mais rapida
e completa. E, alem disso, elas fazem poucos erros de julgamentos em situ-
acoes novas e inesperadas, pois sao mais habeis para ver adiante, avaliar as
provaveis consequencias de diferentes acoes e eventos, apontar imediata-
mente incongruencias e problemas, decompor mais informacoes em suas
tomadas de decisoes e para perceber outras formas alternativas para atuar
(Gordon, 1997).
Da mesma maneira que os itens dos testes de inteligencia sao escora-
dos como certos versus errados ou, melhores versus piores, assim, tambern,
muitas decisoes tomadas na vida diaria podem ser classificadas desta ma-
neira. E, exatamente, como os testes de inteligencia precisam usar muitos
itens para avaliar 0 nivel de inteligencia acuradamente, assim tambem 0
significado de inteligencia na vida diaria manifesta-se na acumulacao de
boas e mas decisoes, grandes e pequenas, ao longo de toda a vida de uma
pessoa. Em resumo, a inteligencia tarnbem pode ser descrita como a habiIi-
dade para evitar cometimento de erros grosseiros de julgamento e de acu-
mular urn recorde prejudicial deles.
Essas tres definicoes praticas e cotidianas da inteligencia em geral nos
fornecem urn sentido intuitivo, 0 que significa no nivel da experiencia pes-
soal ser mais versus menos inteligente. Os estudiosos da inteligencia, en-
tretanto, procuram entender as diferencas em inteligencia em seu sentido
mais fundamental, abaixo da superficie das observacoes cotidianas. Como
descreveremos no proximo capitulo, urn grande mimero de pesquisadores
tern adotado uma nova definicao funcional de inteligencia com 0 proposito
de alcancar aquele objetivo. Esperancosamente eles fizeram a transicao de
urn conceito confuso de inteligencia em geral, QI, para 0 desenvolvimento
de uma medida objetiva de inteligencia geral, 'g'.
limitam, nao apenas 0 quao muito pode ser aprendido numa dada quantida-
de de tempo, mas tambem a complexidade do material que pode ser domi-
nado com tempo ilimitado.
INTELIGENCIA: RESUL1i\DO DA GENETICA, DO AMBIENTE au DE AMBOS?16
17-
o constructo de inteligencia geral, ou 'g', concebido, em 1904, por Spear-
man (urn estudante de Galton), e conceitualmente bastante diferente daque-
Ie conhecido como inteligencia em geral, (como urn constructo psico16gi-
co) e do QI (como urn particular indicador deste constructo, usualmente
refletido atraves de urn escore padronizado num particular teste mental).
Ele nao e derivado da mera soma dos escores de varies testes, mas extraido
de todas as correlacoes entre eles e representa apenas a variancia que eles
tern em comum. Ele e estatisticamente independente de outras fontes de
variancia que os particulares tipos de testes podem ter em comum (isto e,
fatores de grupo) e da variancia que e unica a cada teste. Em outras pala-
vras, 'g' e urn destilado, mais do que uma mistura. A enfase de Spearman
(1904; 1927, pp. 70-71) sobre essa diferenca entre "inteligencia em geral",
como uma rnistura dos escores de diversos testes, e "inteligencia geral,"
como 0 fator comum (ou fonte de diferencas individuais) entre todos os
variados testes, e uma das distincoes mais importantes na psicometria con-
temporanea, desde 0 desenvolvimento da teoria do trace latente. Nao tern
sido suficientemente reconhecido que 0 's' de Spearman foi 0 primeiro
trace latente a ser identificado na hist6ria da psicologia (Jensen, 2000).
Cern anos depois da descoberta de Spearman, 0 'g' tern estado pre-
sente de forma absolutamente inequivoca, em certo grau, em cada tipo de
tarefa mental. Todos os tipos de desempenho cognitivo, ainda que muito
diferentes, sao positivamente correlacionados urn com 0 outro em prati-
camente todas as amostras da populacao estudadas. Isto nao e uma teoria,
mas urn fato empfrico. Aqueles que, por alguma razao, nao apreciam esse
fato nunca foram habeis em desaprova-lo, ainda que isso possa parecer
muito facil de ser feito, se ele fosse real mente falso. Tambem tern sido
encontrado que as diferencas em todas as habilidades mentais, entre pes-
soas amostradas aleatoriamente da populacao total, sao mais atribuiveis
as suas diferencas em 'gO do que a qualquer habilidade mental especifica,
independente de 'g'.
Inteligencia Geral
2
CAPITULO
Destacando a importancia de 'g', Meehl (1990) declarou que, "quase
todas as disposicoes para 0 desempenho humano (competencia para 0 traba-
lho), se cuidadosamente estudadas, sao saturadas em algum grau pelo fator
de inteligencia geral, 'g', 0 qual por razoes ideol6gicas e psicodinamicas tern
sido de alguma forma negligenciado nos iiltimos anos, mas merece voltar a
condicaoanterior" (p. 124). Thorndike (1994) tambem, enfatizou, "a grande
preponderancia da predicao que e possivel de qualquer conjunto de testes
cognitivos e atribuivel a habilidade geral que eles compartilham ... 0 'g' empi-
rico nao e meramente urn interessante fenomeno psicometrico, mas esta no
coracao da predicao dos desempenhos na vida real." Do mesmo modo, ap6s
revisar tres decadas de pesquisa sobre as interacoes entre aptidao e tratamento,
Snow (1989) concluiu, "face as novas evidencias e reconsideracao das antigas,
'g' pode realmente ser interpretado como a 'habilidade para aprender', contan-
to que seja claro que estes termos referem-se a processos e habilidades comple-
xos e que de algum modo diferentes misturas desses constituintes podem ser
requeridas em diferentes contextos e tarefas de aprendizagem. A antiga visao
de que os testes mentais e as tarefas de aprendizagem medem distintamente
diferentes habilidades deve se descartada" (p. 22). E, finalmente, Campbell
(1990), aplicando este constructo ao desempenho no mundo do trabalho afir-
mou "Habilidade mental geral e urn determinante substantivamente signifi-
cante das diferencas individuais no desempenho no emprego, para qualquer
emprego que incluia tarefas de processamento de informacao" (p. 56).
Entretanto, apesar de esse renovado interesse pela inteligencia geral
(g), nenhuma teoria real tern sido ainda desenvolvida para explicar os fatos
pelos quais ela e responsavel e determina. A formulacao nascente conheci-
da como "teoria do 'g'" esta em processo de continua descoberta e revisao,
Isto tambem e verdadeiro e ocorre com a teoria geral da gravitacao, urn
constructo igualmente central na fisica. Mas, ao lado da teoria, a existencia
psicometrica de 'g' e urn dos fatos mais bern estabelecido em toda a psico-
logia. Analogamente, a lei de gravitacao de Newton nao e uma teoria ou
uma explicacao da gravitacao, mas, ao contrario, e urn fato observado sobre
a gravitacao. 0 mesmo e verdadeiro para a inteligencia psicometrica 'g';
ela e urn fato empirico, mas nao e uma explanacao daquele fato. 0pequeno
'g' da psicologia eo grande 'G' da ffsica tern muitas outras coisas em co-
mum: ambos sao conceitos centrais em seus respectivos campos cientifi-
cos; seus efeitos sao objetivamente observaveis e mensuraveis; muitas ge-
neralizacoes empiricas e fatos importantes tern sido descobertos e podem
ser preditos a partir deles; ha ainda varias teorias e controversias sobre a
teoria explanat6ria e causal, tanto de 'g' quanto de 'G'. Pesquisas que bus-
cam teorias cientificamente compreensivas, tanto de 'g' quanta de 'G', es-
tao correntemente em progresso (Jensen, 1998; Detterman, 2002; Sternberg
& Grigorenko, 2002; Nyborg, 2003).
INTELlGENClA: REsULlADO DA GENETICA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?18
A abordagem psicometrica para mensurar inteligencia nada nos diz sobre as
bases da inteligencia, digarnos, fisiclogicas e neurologicas. Entretanto, ela
tern substancialmente reduzido as possibilidades. Mais importante, essa
A INTELlGENCIA PSICOMETRICA 'g' (NAO, 0 QI) COMO
A DEFINI<;AO OPERACIONAL DE INTELIGENCIA
Spearman sugeriu tres grandes leis de raciocinio que cobririam todos
os usos do pensamento abstrato. A primeira foi a Lei de Apreensao, isto e, 0
fato de que uma pessoa aborda a estimulacao que recebe de todas as fontes
intemas e extemas, via os nervos ascendentes. Simples tempos de reacao e
de inspecao podem medir este aspecto elementar do funcionamento mental
e a discriminacao sensorial tambem parece se enquadrar neste campo. Spear-
man presumiu que quanta maior a esfera de experiencias com a qual urn
individuo esta envolvido, tanto mais complexa e a solucao de problemas
que ele pode empreender. Em seguida vern a Lei de Deducao de Relacoes.
Por exemplo, dado dois estfrnulos, ideias ou impress6es, nos podemos ime-
diatamente descobrir quaisquer relacoes existentes entre eles - urn e maior,
mais simples, mais forte ou qualquer coisa em relacao ao outr~. Ela indica a
extracao de relacoes logicas entre dois estimulos. E, finalmente, temos a
Lei de Deducao de Correlatos. Exemplificando, dado dois estimulos, agru-
pados por uma dada relacao, e urn terceiro estimulo, nos podemos produzir
urn quarto estimulo que man tern a mesma relacao com 0 terceiro, tal como
aquela que 0 segundo mantem com 0 primeiro. Por exemplo: 0 vocabulo
"alto" e diretamente apreendido. As palavras: "alto" e "baixo" dao origem a
uma relacao antagonica, isto e, de oposicao. E dado "alto" e "baixo", e
"grande" como 0 terceiro estimulo, nos podemos usar 0 fundamento, "gran-
de", e a relacao de oposicao, para chegar ao correlato, "pequeno." Este
processo envolve a extracao de semelhancas entre dois ou mais estimulos.
Supondo que Spearman esteja correto, entao os testes construidos sob
aqueles principios, isto e, usando apreensao, deducao de relacoes e dedu-
<;aode correlatos, gerariam as melhores medidas de 'g'; isto e, correlacio-
nar-se-iam melhor com todos os outros testes. De fato, entre os testes en-
volvendo matrizes progressivas de raciocinio, por exemplo, aquele mundi-
almente conhecido como Teste das Matrizes Progressivas de Raven foi cons-
truido seguindo explicitamente as ideias de Spearman. Certamente por cau-
sa disso ele tern sido considerado 0 teste que fomece a medida mais pura de
'g' e e, provavelmente, aquele mais bem-sucedido e amplamente usado quan-
do comparado a qualquer outro teste de grupos. Jensen (1980) uma vez
disse que "0Teste de Raven aparentemente mede 'g' e alguma coisa a mais"
(p.646).
19INTELlG~NCIA GERAL
Desde os primordios da testagem mental, os pesquisadores observaram que
as pessoas que fazem bem um teste fazem bem todos os outros testes. Isto e,
todos os testes mentais sao, em certo grau, intercorrelacionados. Dito de
outra forma, todos os testes mentais ordenam os individuos de forma muito
similar. Isto e, embora os testes mentais sejam frequenternente designados
para medir dominios especfficos da cognicao - fluencia verbal, digamos,
ou habilidade mental, visualizacao espacial ou memoria - as pessoas que
desempenham bem um dado tipo de teste tendem a fazer 0 mesmo em ou-
tros, e as pessoas que desernpenham-no fracamente, geralmente fazem 0
mesmo em outros testes. Esta interseccao, ou intercorrelacao, sugere que
todos os testes mentais medem algum elemento global de habilidade inte-
lectual, bem como habilidades cognitivas especificas.
Este fato prontamente levou Spearman, um dos primeiros teoricos da
inteligencia, a inventar a tecnica estatistica conhecida como analise fatori-
aI, para isolar aquele componente comum revelado por qualquer conjunto
de testes mentais. Uma vez que 0 fator comum, 'g', tenha sido estatistica-
mente extraido de um grande e variado conjunto de testes, a posicao indivi-
dual neste conjunto (0 nivel 'g' de cada pessoa) pode entao ser calculada.
Assim, inversamente, pode tambem a habilidade subjacente aos diferentes
testes medir 'g' (sua saturacao em 'g'). Dentre os mais diversos e variados
testes mentais, os testes de QI fornecem as medidas mais acuradas de 'g'.
Os escores de uma grande variedade de testes de QI sao altamente satura-
EXTRAINDO 'g'
abordagem tern mostrado que inteligencia e uma habilidade altamente ge-
ral, e 0 pilar ou, por nao dizer, 0 alicerce para as demais habilidades mentais
mais especificas. Este resultado gira em torno da descoberta de urn sim-
ples, comum e replica vel meio de isolar para estudo aquela habilidade que a
maioria das pessoas entende por inteligencia. Como mencionamos, esta
habilidade nao e 0 QI (uma mistura de escores), mas 'g' (0 fator comum
entre urn grande mimero de diversos testes cognitivos), 0 qual simboliza 0
fator de habilidade mental geral, ou habilidade cognitiva geral como muitos
preferem denomina-la na literatura especializada. 0 ultimo tem substituido
o primeiro como a metrica-padrao para medir inteligencia, Spearman (1904)
considerou 'g' como0 "elemento comum e essencial da inteligencia" (p.126).
Porem, os pesquisadores ainda nao conhecem exatamente qual aspecto da
mente ou do cerebro 'g' representa, mas 'g' tem se tornado a definicao de
fato de inteligencia para a maioria daqueles que estudam-na, alguns dos
quais, inclusive, eliminaram totalmente 0 termo "inteligencia" de seu voca-
bulario ou dicionario cientifico. Em outras palavras, muitos especialistas no
estudo da inteligencia, agora, usam 'g' como a sua definicao operacional.
INTELlGtNClA: RESULTADO DA GENETICA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?20
-0 fator geral 'g' explica a maioria das diferencas entre os individuos no
desempenho em diversos testes mentais. Isto e verdade a despeito de qual
habilidade especifica urn teste supostamente avalia; e independente do con-
teiido manifesto do teste (se palavras, letras, mirneros, formas, blocos ou
figuras) e e tarnbem independente do modo como 0 teste e administrado (na
forma oral ou escrita, individual ou em grupo). Testes de habilidades men-
tais especificas medem estas habilidades, mas todos tambem refletem 'g',
embora em graus variados. ConseqUentemente,0 fator 'g' pode ser extrai-
do dos escores de qualquer teste que compoe essa bateria de testes. Alern
disso, 0mesmo fator 'g' caracteriza todos os grupos dernograficos estuda-
dos. Virtualmente identicos fatores 'g' tern sido extraidos de todas e das
mais variadas baterias de testes mentais, independentes de qual metoda de
analise fatorial tern sido usado, e tambem a despeito da idade, sexo ou gru-
po etnico dos examinandos. 0 mesmo 'g' e revelado por testes que reque-
rem muito conhecimento cultural bern como por aqueles que nao exigem
conhecimento algum. Este fenomeno foi denominado por Spearman de in-
diferenca do indicador.
Na maioria das vezes, os testes mentais medem aptidoes mais especi-
ficas em adicao a 'g' (digamos, habilidade verbal ou espacial), mas 'g' e a
espinha dorsal de todos os testesmentais. Esforcos para criarem testes men-
tais uteis, mas que nao medem 'g' (por exemplo, testes de aptidao verbal
que nao reflitam 'g') tern todos redundados em fracassos. 0 principio da
indiferenca do indicador esta indubitavelmente correto, pois, na verdade,
todos os testes cognitivos sao veiculos de 'g', quaisquer que sejam as ou-
VEICULOS DE 'g' E A INDIFEREN<;A DO INDICADOR
dos de 'g', isto e, todos eles se correlacionam altamente com 'g' (valores
entre 0,80 e 0,90, sendo tipicos para testes similares aqueles que compoem
a Escala de Wechsler). Esta alta correlacao significa que, para muitos pro-
positos praticos, os escores de QI sao bastante adequados; portanto, esco-
res de 'g', na realidade, sao geralmente calculados apenas para objetivos de
pesquisa. E importante notar, todavia, que nenhum fator geral tern sido ob-
tido na analise dos testes de personalidade. De fato, em vez disso, a analise
fatorial usualmente produz pelo menos cinco dimensoes (neuroticismo,
extraversao, conscientizacao, conformidade e abertura a ideias), cada uma
se relacionando a urn diferente conjunto de testes. Mas, como Spearman
observou, urn fator geral emerge somente a partir da analise dos testes de
habilidades mentais, indicando uma fonte de variancia comum em todos
eles. Portanto, a ausencia de urn fator geral de personalidade ilustra que a
habilidade mental geral, ou fator 'g', nao emeramente urn artefato da ana-
lise fatorial, mas urn fenomeno real, robusto, e inquestionavel.
21INTELlG~NCIA GERAL
tras fontes de variancia que estes possam ter; e tern sido provado impossivel
construir urn teste de habilidade mental que nao esteja, em certo grau, sam-
rado de 'g'. De fato, a robustez, a replicabilidade e a generalidade de 'g'
torna-o urn dos fenomenos mais marcantes da psicologia moderna. Durante
as ultimas decadas, incontaveis analises fatoriais levadas a cabo com mais
de 120diferentes testes padronizados de inteligencia e de aptidao escolasti-
ca (listados no Buros Mental Measurements Yearbook)tern, sem excecao,
revelado que urn e sempre 0mesmo fator 'g' eo componente predominante
da variancia em todas as medidas de habilidades cognitivas complexas, das
quais varias, quando agrupadas, constituem os testes padronizados que sao
rotulados como inteligencia (QI), aptidao geral, aptidao escolastica, aptidao
vocacional, potencial para aprendizagem, aptidoes diferenciais, habilidades
cognitivas e bateria de avaliacao, Os escores totais em todos esses testes difi-
cilmente diferemmuito em sua saturacao de 'g' e, certamente por essa razao
todos tipicamente ordenam as pessoas do mesmo modo, apesar de eles se-
rem extremamente diferentes tanto na forma com que carregam a informa-
c;aoquanta no conteiido e no tipo de resposta requerido.
Devido ao fato de que cada teste mental e "contaminado" pelos efei-
tos da habilidade mental especffica que ele proprio mensura, nenhum sim-
ples teste mede apenas 'g'. Mesmo os escores de testes de QI, os quais,
usualmente, combinam os escores de quase uma diizia de testes (ou subtes-
tes) de habilidades cognitivas especfficas,contem algumas "impurezas" que
refletem aquelas habilidades mais estritas. Para a maioria dos propositos,
essas impurezas nao fazem qualquer diferenca pratica, e 'g' e QI podem ser
usados indistintamente. Mas, se necessario, os pesquisadores da inteligen-
cia podem estatisticamente separar 0 componente 'g' do QI. A capacidade
para isolar 'g' tern revolucionado a pesquisa em inteligencia geral, permi-
tindo aos pesquisadores mostrarem que 0 valor preditivo dos testes mentais
deve-se inteiramente a este fator global, mais do que as aptidoes mais espe-
cificas mensuradas pelos testes de inteligencia comuns, refletidos nos es-
cores compostos de QI. A proposito, a generalidade da inteligencia torna-
se menos clara quando os pesquisadores baseiam-se no QI como a defini-
c;aofuncional de inteligencia. Obviamente, a razao e exatamente porque
todos os testes de QI sao medidas imperfeitas de 'g' e cada urn deles fre-
quentemente captura uma fragrancia de alguma habilidade especializada
ou mesmo de conhecimento, em adicao a 'g'.
As tentativas para entender inteligencia partindo dos escores de QI
tern sido similares aquelas dos quimicos tentando decompor as proprieda-
des de urn elemento quimico qualquer, em que eles analisam amostras que
sao impuras em diferentes graus e com diferentes aditivos. Em contraste, 0
fator 'g' e urn fen6meno estavel e replicavel. Quando os pesquisadores
estudam 'g', eles estao confidentes que estao estudando a mesma coisa,
INTELIG~NCIA: REsULTADO DA GENETICA, DO AMBIENTE OU DE AMBos?22
Alem de quantificar as diferencas individuais, os testes de habilidades men-
tais tern tambem possibilitado uma compreensao do significado de inteli-
gencia na vida diaria, Alguns testes e os itens que os cornpoem sao conheci-
dos por se correlacionarem muito mais com 'g' do que outros testes.Nesses
itens ou testes, 0 ingredienteativo que demanda 0 exercfciode 'g' parece ser
a complexidade. Tarefasmais complexas requeremmais manipulacaomen-
tal, e estamanipulacaode informacao- discemir sirnilaridadese inconsisten-
cias, fazer inferencias, capturar novos conceitos, e assim por diante - consti-
tui a inteligencia em acao, Realmente, inteligencia pode ser mais bern des-
crita como a habilidade para lidar com a complexidade cognitiva.
Esta descricao coincide bern com as percepcoes ingenuas de inteligen-
cia. 0 fator 'g' e especialmente importante e tern sido exatamente nos tipos
de comportamentos que as pessoas usualmente 0 associam com "agucado":
raciocfnio, solucao de problema, pensamento abstrato e rapido em aprender.
E porque 0 proprio 'g' descreve aptidao mental mais do que conhecimento
acumulado, 0 estoque acumulado de conhecimento de uma pessoa tende a
corresponder com 0 seu nivel de 'g' muito provavelmente porque aquela
acumulacao representa uma previa prontidao para aprender e entender nova
informacao. 0 fator'g' e tambem 0 iinico atributo que melhor distingue
entre pessoas consideradas talentosas, medianas ou retardadas (Simonton,
2003; Spitz, 2003; ver especialmente, 0 mimero especial da revista Lear-
ning and Individual Differences, 2002 (13), organizado por Buckhalt que
trata do papel e a impo:rtan ia de 'g' dentro da psicologia escolar).
INTELIGENCIA GERAL (g) E A COMPLEXIDADE DAS TAREFAS
mesmo quando os 'g' que eles usam foram extraidos de diferentes conjun-
tos de testes. Alem disso e, talvez, 0 aspecto mais importante, e que 'g' tern
uma vantagem em relacao ao QI pelo fato de que ele nao se confunde com
os atributos ou conteiidos de qualquer teste particular, porque 'g' e sempre
extraido a partir de algum, variado e rnisto, conjunto deles. Em resumo,
devemos olhar mais abaixo da superffcie das caracterfsticas dos testes de
QI, ou seja, ao 'g', para explicar 0 amago dos fenomenos que testes medem.
Nao obstante, a existencia de 'g' pode ser camuflada pela testagem
inapropriada (por exemplo, quando alguns examinandosnao conhecembern
a linguagem) e por uma amostra restrita (quando todos os exarninandos sao
similares em inteligencia). Porem, quando permitido manifestar-se, 0 fator
's' claramente mostra-se transcender a cultura e 0 conteiido particulares.
Isto nao implica que a cultura nao possa afetar 0 desenvolvimento de 'g' ou
sua significancia social, mas apenas que a cultura nao deterrnina sua natu-
reza fundamental. Pois a natureza de 'g' parece ser surpreendentemente
independente da cultura.
23INTELIGJ'.NCIA GERAL
Figura 2.1. Exemplo hipotetico de um modelo hierarquico das habilidades mentais
humanas. Na base da hierarquia (Nlvel 1) estao os itens dos testes. No nfvel 2 estao os
testes; no ruvel 3, os fatores de primeira ordern: no nfvel 4, 0 fator de segunda ordern
e, finalmente, no ruvel 5 esta 0 fator de terceira ordem, ou 0 fator geral ou inteligencia
geral (g).
2
1 111111111 111111111 111111111 111111111 111111111 111111111 111111111 111111111 111111111
4
5
3
Centenas de analises fatoriais, realizadas sobre varias baterias de diversos
testes mentais mensurando uma grande variedade de habilidades cognitivas
humanas, tern invariavelmente confirmado aquela que tern sido denomina-
da de estrutura hierarquica das habilidades mentais (Carroll, 1993). Essa
estrutura psicometrica das habilidades emais bern representada pelo mode-
10 hierarquico apresentado na Figura 2.1. Na base da hierarquia (Nivel 1)
estao os simples itens de urn teste, cada qual medindo alguma capacidade
particular. Exemplos: definir a palavra "terrorismo", repetir uma serie de
oito digitos ou dar sequencia a uma serie de mimeros 1,4,9,16,25, _, _. Os
itens podem requerer qualquer tipo particular de manipulacao mental, des-
de que eles possam ser mensurados ou escorados objetivamente em funcao
de sua exatidao ou qualidade de resposta (como nos exemplos precedentes).
o numero de diferentes tipos de itens e teoricamente ilimitado e restrito
apenas pela inventividade dos constructores de testes. A camada seguinte
na hierarquia (Nivel Z)representa os varies testes, cada urn deles composto
de urnmimero de itens noNivel l que saomais altamente intercorrelaciona-
dos urn com 0 outro do que 0 sao com outros itens no Nivel l , Tambemnao
M virtualmente qualquer limite ao possivel mimero de diferentes testes. Os
fatores de primeira ordem (Nivel 3) sao derivados da analise fatorial envol-
venda todas as correlacoes entre os varies testes no Nivel 2. Uma analise
fatorial das correlacoes entre os fatores de primeira ordem produz urnmi-
mere muito menor de fatores de segunda ordem no Nivel 4. Finalmente,
uma analise fatorial efetuada sobre as correlacoes entreos fatores de segun-
da ordem gera urn simples fator de terceira ordem, 'g', no apice da hierar-
A HIERARQUIA DAS HABILIDADES MENTAIS HUMANAS
INTELIGENCIA: REsULTADO DA GEl\1.TICA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?24
1. Os elementos de cada nivel sucessivamente mais elevado na hierarquia
representam urn maior grau de generalidade do fator habilidade sendo
ide~tificado do que os elementos nos niveis inferiores da hierarquia. Em
outras palavras, ela e uma hierarquia de generalidade.
2. Os fatores de cada nivel mais elevado na hierarquia tambem sao mais
destilados do que os fatores nos niveis inferiores, isto porque a variancia
que os elementos no nivel inferior tern em comum e movida em direcao
ao nivel seguinte mais elevado. A analise fatorial hierarquica identifica
todas as fontes de variancia estatisticamente independentes (isto e, nao
correlacionadas) representadas na bateria de testes que tern sido subme-
tida a analise fatorial.
3. Em cada nivel sucessivamente mais alto na hierarquia, sao removidas as
caracteristicas especificas eo contetido informativo dos testes originais a
partir dos quais os fatores sao extraidos, Portanto, qualquer que seja 0 que
representa urn dado fator em cada ordem mais elevada, torna-se mais difi-
cil descreve-lo em termos do conteiido informativo dos testes ou mesmo
em termos do processamento cognitivo que ele supostamente reflete ou
requer. Os fatores de primeira ordem, sendo razoavelmente proximos aos
testes dos quais eles foram extraidos, podem ser usualmente descritos como
representando, por exemplo, ou habilidade verbal, ou numerica, ou espa-
cial, ou memoria a curto prazo, ou outras habilidades que sao reconheci-
das refletirem urn conteiido informativo particular, ou de habilidades re-
queridas por aqueles testes com as maiores saturacoes num dado fator.
4. Porque 's esta no apice da hierarquia ele e, consequentemente, 0 fator
mais altamente destilado dentre todos os demais fatores. E, portanto,
realmente impossivel descrever 'g' em termos de qualquer caracteristica
dos proprios e aria os testes utilizados na analise fatorial. Como Spear-
man (1927) afirmou, -nos podemos definir 'g' pelo local, mas nao por
Os seguintes pontos importantes podem ser depreendidos deste modelo hi-
erarquico representando as imimeras habilidades mentais humanas:
PORMENORIZANDO
quia (Nivel S), Assim, 'g' pode ser definido como 0 fator comum de ordem
mais elevada numa grande bateria de diversos testes de habilidades cogniti-
vas. Se 0mimero e a diversidade dos testes (NfveI2) nao forem muito gran-
des, 'g' emerge no Nfvel4 como urn simples fator de segunda ordem. Nun-
ca e demais enfatizar que, nas centenas de analises fatoriais que foram re-
gistradas na literatura, 'g' sempre emerge, ou como urn fator de segunda
ordem ou como urn fator de terceira ordem (Carroll, 1992, 1993, 1997,
2003).
25iNTELlGENClA GERAL
Quando 'g' e estatisticamente removido dos escores dos testes, a va-
lidade pratica destes testes e as suas correlacoes com criterios significativos
sua natureza, significando que enquanto podemos identificar os testes
particulares que refletem 'g', em maior ou menor grau, n6s nao pode-
mos dizer exatamente 0 que esta sendo refletido" (pp. 75-76). Assim,
'g' nao e realmente uma habilidade qualquer, ele e urn resultado de algu-
rna coisa que causa as varias habilidades serem positivamente correlaci-
onadas urna com a outra. Ele nao e essencialmente uma variavel psicolo-
gica, mas alguma propriedade (ou propriedades) do cerebro que tern ma-
nifestacoes cognitivas que resultam no aparecimento de 'g'. Talvez, 0
melhor que podemos dizer acerca de 'g' e que ele reflete a velocidade e
a eficiencia do processamento de informacao. Essencialmente, esta ca-
racterizacao e a mesma concepcao original de Galton para habilidade
mental geral.
S. A analise fatorial tambem mostra 0 grau em que cada urn dos testes na
analise esta correlacionado com cada urn dos fatores independentes pro-
duzidos por esta analise. A correlacao entre urn teste e urn fator e rotula-
da de saturacao do fat or.
6. A partir dos resultados de uma analise fatorial e de posse dos escores
individuais nos testes, urn algoritmo pode estimar 0 escore-fatordo indi-
viduo para cada urn dos fatores. Por consequencia, a posicao de urn indi-
vfduo num dado fator (relativo a alguma populacao especificada) pode
ser estimada independentemente daquela posicao do individuo no 'g',
ou de qualquer dos fatores de grupo e especificidade do teste.
7. A validade preditiva pratica dos testes mentais depende substancial-
mente de suas saturacoes com 'g'. Isto tern sido comprovado para tes-
tes us ados como preditores da capacidade para aprender (Ceci, 2000;
Gottfredson, 2003a), das realizacoes educacionais (Ceci, 1991; 1996;
Ackerman & Lohman, 2003; Kuncel, Hezlett, & Ones, 2004), da esco-
lha vocacional e do nivel ocupacional (Gottredson, 1997a, 1997b), do
desempenho no emprego (Gottfredson, 2002; Hunter & Schimdt, 1996;
Dierdorff & Wilson, 2003; Ree, Carretta & Green, 2003; Schmidt &
Hunter, 2004), do rendimento pessoal (Gottfredson, 2003b; Murray,
1997), comportamentos de avaliacao de risco e na saude (Gottfredson
& Deary, 2004; Taylor,Frier, Gold & Deary, 2003; Hart, Deary et al.,
2003; Lubinski & Hemphreys, 1997; Deary, Whiteman, Starr, Whal-
ley & Fox, 2004), da qualidade de vida e longevidade (Gottfredson,
2004; Hart, Taylor et ai., 2003; Deary, Whalley & Starr, 2003; Whal-
ley & Deary, 2001), ou de muitas outras variaveis socialmente rele-
vantes (Gottfredson, 1997a,1997b; Gordon, 1997; Deary, 2000, 2001;
Lubinski,2004).
INTEL[G~NCIA: RESULTADO DA GEN~TICA. DO AMBIENTE OU DE AMBOS?26
1. Vocahultirio:Dizer ao exarninando 0 significado de algumas palavras.
Por exemplo: cadeira (facil), hesitante (medic), suposicao (dificil).
Composicao final: 33 itens.
2. Semelhancas: Dizer 0 que duas palavras tern em comum. Por exem-
pIo: Emque gato e horro sao semelhantes? Em que basquete e fute-
bol sao sirnilares? Composicao final: 19 itens.
A cornposicao da escala
Resurnidamente os testes que comp6em a Escala WAIS-III podem ser des-
cri tos como segue:
Recentemente a Psychological Corporation, uma grande companhia inter-
nacional que desenvolve e comercializa testes psicologicos, empreendeu
grandes esforcos para revisar 0 seu mais famoso e compreensivo teste de
inteligencia, conhecido como Escala Wechsler de Inteligencia de Adultos
(WAIS-III). Para isso foram recrutadas e testadas 2.450 pessoas oriundas
de 29 cidades norte-americanas, com igual mimero de homens e mulheres e
com grupos representativos entre 16 e 89 anos de idade. Cada pessoa foi
testada em cada urn dos 13 testes (sub-testes) mentais que comp6em a esca-
la total.
A ESTRUTURA HIERARQUICA DO WAIS-III: UM EXEMPlO
da vida real sao quase total mente eliminadas. Isto ocorre porque QI e
altamente saturado de 'g', que, por sua vez, e, significativamente correlacio-
nado com todos esses resultados. De fato, hri uma relacao direta entre a
magnitude de saturacao de 'g' dos varies testes e suas respectivas utilidades
praticas nas escolas, nos colegios, nas indiistrias e nas forcas armadas. Ou-
tros fatores, alem de 'g', sao preditores iiteis de certas realizacoes especiali-
zadas, dado urn nivel adequado de 'g', mas 'g' e ainda 0 mais simples e 0
melhor preditor de sucesso em todos os empregos. Usualmente entende-se
que 'g' opera quase que exclusivamente nos contextos educacionais e voca-
cionais, contudo ele satura quase tudo 0 que fazemos. Outros fatores, habi-
lidades e traces de personalidade, usados em cornbinacao com 'g' podem
produzir uma melhor predicao em alguns cas os isolados. As predorninantes
e inequivocas correlacoes de 'g' com tantas variaveis de significancia edu-
cacional, economic a e social, nao deixam diividas de que ele e urn dos indi-
cad ores mais importantes da capacidade humana. Naturalmente, ele nao e 0
iinico indicador e, para ter valor, para 0 individuo ou para a sociedade, ele
deve ser acompanhado por outras qualidades desejaveis, entre as quais
Galton especialmente mencionou: energia, dinarnismo e persistencia.
27INTELIGJONCIA GERAL
3. Informaciio: Questoes de conhecimento geral cobrindo pessoas, luga-
res e eventos. Por exemplo: Quantos dias tern uma semana? Qual e
capital dos Estados Unidos? Diga os nomes de tres planetas. Quem
escreveu Os Lusiadas'l Composicao final: 28 itens.
4. Compreensiio: Questoes sobre problemas cotidianos, aspectos da soci-
edade, proverbios, POl'exemplo: Liste alguns dos motivos pelos quais
as pessoas guardam alimentos na geladeira? Por que as pessoas fazem
segura saiide? 0 que significa dizer: "melhor urn passaro na mao do
que dois voando"? Composicao final: 18 questoes,
5. Completar figuras: Apontar 0 elemento ausente numa serie de dese-
nhos coloridos. POl' exemplo: que os raios estao faltando na roda de
uma figura de bicicleta; quantos botoes estao faltando num paleto de
uma figura humana. As questoes tornam-se progressivamente mais di-
ficeis. Composicao final: 25 itens.
6. Blocos: Apos observar padroes bidimensionais configurando quadra-
dos e retangulos vermelhos e brancos, 0 exarninando tern de reproduzir
esses padroes usando cubos com faces vermelhas e brancas. Cornposi-
9ao final: 14 padroes.
7. Arranjo defiguras: Dada uma serie de desenhos animados, 0 exarni-
nando deve coloca-los numa ordem contando uma historia logica. Com-
posicao final: 14 itens.
8. Matri; de raciocinio: Achar 0 elemento ausente ~um padrao de figuras
que esta construido de maneira logica. Veja 0 exemplo na Figura 2.2(a).
Cornposicao final: 26 itens.
9. Aritmetica: Problemas de aritmetica mental. Composicao final: 20 itens.
10. Sequencia de numeros: Repetir uma sequencia de mimeros ao exami-
nador. Os comprimentos das seqiiencias variam de 2 a 9 mimeros. Urn
exemplo muito facil e repetir 3 - 7 - 4; um muito diffcil e 3 - 9 - 1 - 7
- 4 - 5 - 3 - 9. Na segunda parte deste teste as sequencias devem ser
repetidas na ordem inversa. Veja 0 exemplo na Figura 2.2(b). Compo-
sicao final: maximo de 16 sequencias diretas e 14 inversas.
11. Sequencia de letras - numeros: 0 examinador dita uma serie de letras e
mimeros altemados. 0 exarninando deve repeti-la, colocando primeira-
mente os mimeros em ordem numerica, seguidos pelas letras em ordem
alfabetica, POl'exemplo, 0 examinando deve repetir "W - 4 - G - 8 - L -
3" como "3 - 4 - 8 - G - L - W". Composicao final: maximo de 21 itens.
12. C6digos: 0 examinando deve escrever 0 niimero que corresponde a
urn dado sfrnbolo. Por exemplo, apos associar cada sfrnbolo dado numa
sequencia aleatoria a urn mimero, 0 exarninando deve em seguida es-
crever cada simbolo imediatamente abaixo de cada mimero aleatoria-
mente listado numa serie de varies mimeros, Composicao final: a quan-
tidade que 0 exarninando pode fazer em 90 segundos.
INTELlG~NCIA: RESULTADO DA GEmncA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?28
Figura 2.2. Exemplos de itens que cornpoern urna bateria de testes de 01. Em (a) esta
representado urn item numa matriz de raciocfnio e em (b) estao representados itens
de sequencia de mirneros.
- (A) Matriz de raciodnio
• ~ D
~ 0 ~
~ • ?.
• ~ 0 ® Qua/ dessas formascorretamentecomp/eta 0 padriio
~ • ~ ~ acima
(8) Sequencia de mirneros
1}2-4-6-8-_-_ Comp/etar a sequencia
2) 3 - 6 - 3 - 6 - _ - _ preenchendo 05 dois
3}1 - 5 - 4 - 2 - 6 - 5 - _ - _ proximos numetos da serie
4}2 - 4 - 5 - 9 - 4 - 16 - _ - _
Como se pode verificar a partir da breve descricao destes testes, alguns
deles envoi vern conhecimento adquirido durante a educacao e outros nao.
Alguns envoi vern linguagem, mimeros, formas e outros sao muito mais
abstratos. Alguns exigem rapidez, dentro de certos limites, e outros nao,
Alguns requerem mem6ria e outros nao. Alguns exigem raciocinio com a
informacao dada pelo examinador; alguns envol vern descobrir regras; al-
guns envoi vern articularprincipios abstratos; alguns envolvem conhecimento
pratico, Os testes refletem uma grande variedade de funcoes mentais: veri-
ficar semelhancas e diferencas, fazer inferencias, elaborar e aplicar regras,
AS RElAC;OES ENTRE asTESTES
13. Identificaciio de simbolos: 0 examinando deve identificar, de uma lista
de sfrnbolos abstratos, qual simbolo num dado par esta contido na
lista. Composicao final: a quantidade que 0 examinando pode fazer em
2 minutos.
INTELlG~NCIA GERAL 29
relembrar e manipular material mental, elaborar como construir formas,
processar informacao velozmente, articular 0 significado das palavras, recu-
perar conhecimento geral, explicar acoes praticas da vida diaria, trabalhar
com mimeros, prestar atencao aos detalhes, e assim por diante. Estes testes
sao razoavelmente representativos da grande variedade de conteiidos amos-
trados pelos habituais testes de QI. Importante notar que apenas 3 dos 13
testes requerem que 0 exarninando escreva alguma coisa, e nenhum requer
sequer escrever palavras. Em essencia, parece-nos que 0 ingrediente ativo (0
fermento) desses diferentes testes e a complexidade. Alem disso, muitos itens
desses testes sao simples e outros bastante complexos. Em outras palavras,
tanto os itens quanta os testes que comp6em a Escala de Wechsler de men-
suracao da inteligencia de adultos variam consideravelmente em complexi-
dade e, por consequencia, em funcao da saturacao de 'g'.
Antes de sumariar os principais resultados em termos da hierarquia
das habilidades mentais previamente discutida, talvez seja importante for-
mular duas quest6es centrais para nortear nossa discussao: 1.As pessoas
que desempenham bern em alguns testes desernpenham pessimamente em
outros? ou, 2. As pessoas sao geralmente boas ou ruins nos testes men-
tais? Os resultados dessa grande aplicacao, na realidade, comprovam aque-
le que tern sido urn dos achados mais robustos e mais bern reproduzido da
psicologia. Isto e, os dados revelam 0 fator 'g', a inteligencia geral. Se-
nao vejamos!
o primeiro fato principal que imediatamente emerge dessa grande tes-
tag em e que cada teste dentre os 13 testes da Escala WAIS-Ill tern uma
correlacao positiva urn com 0 outro. Isto indica que as pessoas que sao
muito boas num teste tendem tarnbem a ser muito boas nos outros testes.
Houve 78 correlacoes quando todos os 13 testes foram emparelhados dois a
dois. Cad a uma dessa simples correlacao e positiva, isto e, urn born escore
num dos testes conduz a urn born escore nos outros. Nao ha teste que nao
esteja correlacionado com os demais. Nao ha testes que sejam negativa-
mente correlacionados com os outros. Mesmo a menor correlacao entre
quaisquer dos testes e ainda de valor moderado (por exemplo, a correlacao
de 0,30 entre completar figuras e sequencia de mimeros), A mais alta, a
correlacao entre vocabulario e informacao e cerca de 0,80. A correlacao
media e 0,50. Assim, mesmo a correlacao media entre dois testes mentais
aparentemente muito diferentes e bastante reveladora.
Deste modo, este fato substancial indica que todos estes diferentes
testes mostram associacoes positivas. E, portanto, as quest6es inicialmente
formuladas podem ter uma resposta unica: as pessoas que sao boas num
teste tendem a ser tarnbem boas em todos os outros. Mas nunca e demais
relembrar que estamos falando de tendencias dentro de uma grande popula-
~ao; ha sempre excecoes a regra.
INTELIG~NClA: REsULThDO DA GENETICA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?30
o segundo fato importante que pode ser extrafdo dessa grande testa-
gem e que alguns grupos de testes na Escala WAIS-III associam-se de for-
ma mais elevada entre si do que com outros. Por exemplo, os testes de
vocabulario, informacao, sernelhancas e compreensao tern, todos, especial-
mente, altas correlacoes urn com 0 outro. Assim, embora estejam razoavel-
mente relacionados com cada urn dos testes da escala, eles formam um pe-
queno agrupamento de testes dentro do qual estao altamente relacionados
entre si. A mesma coisa ocorre com os testes de sequencia de mimeros,
aritmetica e sequencia Ietra-rnimero.Eles se relacionam positivamente com
todos os demais testes da escala, mas estao especialmente correlacionados
urn com 0 outro.
Este padrao de resultados nao nos surpreende. Os quatros primeiros
testes envoi vern linguagem, aprendizagem e entendimento. Os tres iiltimos
testes envoi vern mimeros e habilidade para reter fatos na mem6ria enquan-
to.manipulando-os. Dentro da Escala WAIS-III ha quatro de tais agrupa-
mentos de testes que tern especialmente estreitas associacoes entre si, em-
bora eles possam estar ainda positivamente correlacionados com todos os
demais. Estes agrupamentos de testes estao representados na Figura 2.3, na
qual os testes estao representados por retangulos e os agrupamentos por
cfrculos. Devido a grande associacao entre os testes que compoem este
agrupamento, 0 mesmo pode ser hipoteticamente rotulado de "compreen-
sao verbal". Isto indica que estes quatro testes dentro desse grupo tern uma
maior associacao entre si do que com os demais testes. Nao ha qualquer
teste chamado de "compreensao verbal" e, como mencionamos, este grupo
e uma destilacao estatistica desses quatro testes individuais. Ela reconhece
especial mente as estreitas correlacoes existentes entre estes testes.
Ha tres outros agrupamentos de testes dentro da Escala WAIS-III que
foram gerados a partir da proxirnidade das correlacoes existentes entre eles,
mas nao com os demais. Podemos ver na Figura 2.3 que os testes completar
figuras, blocos, arranjo de figuras e matriz de raciocinio estao agrupados
dentro do grupo rotulado de "organizacao perceptual"; urn r6tulo que cap-
tura razoavelmente os tipos de pensamento necessaries para desempenhar
bern em todos eles. Os tres testes envolvendo mimeros estao agrupados sob
o r6tulo de "mem6ria funcional". Mem6ria funcional e uma denominacao
utilizada para descrever a habilidade para manter informacao na mem6ria e
manipula-Ia ao mesmo tempo. Finalmente, ha dois testes que tern alta asso-
ciacao e ambos envolvem trabalhar rapido para fazer comparacoes com
simbolos visuais. Eles tern sido agrupados sob 0 r6tulo "velocidade de pro-
cessamento".
A Figura 2.3 ilustra as relacoes entre os testes e representa os diferen-
tes agrupamentos derivados da Escala Wechsler de inteligencia. Lembre-
mos que os r6tulos dos agrupamentos (ou grupos), sintetizam, na verdade,
31INTELIGIl.NCIA GERAL
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Figura 2.3. Estrutura hierarquica dos testes que comp6em a EscalaWechsler de Inteligencia de Adultos (WAIS-III). as testes estao representa-
dos par retangulos, as cfrculos maiores representam as fatores de grupo, e a cfrculo menor indica a componente principal da hierarquia, isto
e, a inteligencia geral (g).
Matriz
de raciocfnio
Completar
figuras
Sequencia
letre-numero
Semelhanr;as
vocebulerlo Sfmbolos
os tipos de habilidades mentais que sao comuns aos testes. De fato, 0 nome
comum para esses agrupamentos e "fatores de grupos". Esses fatores de
grupo referem-se a certos dominios de desempenho cognitivo que podem
estar, em certo grau, separados. Os metodos estatisticos utilizados para exa-
minar esses dados podem fomecer os escores das pessoas para cada urn dos
fatores de grupo em que os diferentes testes foram agrupados: compreensao
verbal, organizacao perceptual, memoria funcional e velocidade de proces-
samento.
Do mesmo modo que foi feito com os escores individuais dos 13 tes-
tes, podemos ir rnais adiante e medir as correlacoes entre aqueles quatro
fatores de grupos. Isto e, podemos perguntar se alguem que e born num
destes fatores de grupo de habilidades mentais tende a ser born tambem em
todos os outros. Por exemplo, as pessoas que tern urn born escore em "me-
moria funcional" tern tarnbem urn born escore em "compreensao verbal",
em "organizacao perceptual" e uma rapida "velocidade de processamen-
to"? A resposta e urn enfatico sim: esses fatores de grupo tern correlacoes
entre 0,60 e 0,80. Ha grandes associacoes, e elesrevelam 0 fato de que as
pessoas que sao habilidosas num desses fatores de grupo tendem a ser habi-
lidosas em todos os demais. As pessoas geralmente tendem a ser boas ou
mas em todos os testes e em todos os fatores de grupo. Isto e indicado na
Figura 2.3 agrupando-se todos os fatores de grupo num simples grupo rotu-
lade de 'g', 0 qual, como vimos, representa a inteligencia geral ou habilida-
de mental geral, ou habilidade cognitiva geral. 0 circulo que representa 'g'
e 0 apice dessa hierarquia das habilidades mentais humanas mensuradas
por meio dos diferentes testes que comp6em a Escala WAIS-III. Para ele
convergem todos os fatores de grupo e todos os testes que comp6em a esca-
lao Como Blaha e Wallbrown (1982) observaram, 0 fator 'g' derivado da
Escala Wechsler explica aproximadamente tres vezes mais da variancia do
que todos os outros fatores de habilidades mentais colocados juntos. Nova-
mente, a inteligencia geral (g) e uma destilacao estatistica que descreve urn
resultado de pesquisa que e bastante solido, robusto e altamente replicavel:
de que ha alguma coisa compartilhada por todos os testes em termos de
tendencias das pessoas para fazerem bern, modesta, ou pessimamente em
todos eles. Assim, parece que nao so a natureza tern hierarquia mas a mente
tambem.
Esta maneira de descrever as habilidades mentais humanas, como ilus-
trada na Figura 2.1 (hipoteticamente) e na Figura 2.3. (concretamente), e
denominada de estrutura hierarquica das habilidades. Ela representa 0 fato
de que as habilidades mentais, como mensuradas por seus respectivos tes-
tes, tern estreitas associacoes entre si e, por isso, tendem a se juntar em
agrupamentos. Por sua vez, estes grupos sao tambem altamente relaciona-
dos entre si, gerando urn faror geral que pode explicar uma grande porcao
33INTELIG~NCIA GERAL
A abordagem cognitiva entende que as diferencas no desempenho cogniti-
vo originam-se do melhor ou pior usa da mesma arquitetura cerebral, por
exemplo, 0 usa das melhores estrategias ou algoritmos para usar informa-
<;aoe solucionar problemas. Essas habilidades metacognitivas podem in-
cluir uma melhor alocacao de tempo para aos diferentes componentes de
urn problema, para 0monitoramento do progresso ou para responder afee-
dback e a qualquer outra coisa que controla muito melhor como os diferen-
INTELIGENCIA GERAL (g) EAS TAREFASCOGNITIVAS ELEMENTARES
Se, de urn lado, a abordagem psicometrica revela que.'g' e uma habilidade
mental geral de processamento de informacao, a abordagem experimental,
de outro lado, ternprocurado decornpo-lo em seus componentes ou elemen-
tos estruturais (Eysenck, 1995). 0 debate entre os experimentadores tern
sido centrado em verificar e analisar se as diferencas individuais na inteli-
gencia geral sao mais estruturais (mecanismos cerebrais basicos - hardwa-
re) ou mais cognitivos ou estrategicos (estrategias para usar informacao ou
solucionar problemas - software).Ambas, todavia, percebem as diferencas
em 'g' ou QI como diferencas individuais na velocidade e na qualidade do
processamento de informacao. Mas, diferentemente, a abordagem experi-
mental faz uso das tecnicas e conceitos da psicologia cognitiva para estudar
as diferencas individuais nos processos cognitivos.
ABORDAGEM EXPERIMENTAL DA INTELIGENCIA GERAL (g)
das diferencas individuais encontradas nas habilidades mentais. Isto e, uma
grande porcao da variabilidade nas habilidades mentais humanas pode ser
atribuivel aquilo que e requerido para desempenhar todos os testes mentais,
ou seja, 'g', ou inteligencia geral. Portanto, falar de uma simples e unica
inteligencia geral faz sentido e e veridico.
A este proposito, Brody (1992), numa vasta revisao da literatura tanto
das teorias da inteligencia quanta dos correlatos das medidas do QI, con-
cluiu: "A primeira teoria sistematica da inteligencia apresentada por Spear-
man em 1904esta viva e bern.No centro do artigo de Spearman (1904) esta
uma crenca que existem conexoes entre a habilidade de raciocinio abstrato,
habilidades basicas de processamento de informacao, e desempenho aca-
demico. 0 conhecimento contemporaneo e congruente com esta crenca"
(p. 349). Tambem Carroll (1993), apos terminar a mais completa e robusta
analise fatorial sobre a literatura dos testes mentais que se tern noticia, atri-
buiu a 'g' uma posicao singular no apice de uma hierarquia de habilidades
(pp. 636-637). De fato, a inteligencia geral (g) supera todos os outros fato-
res derivados de uma bateria de testes.
INTELlG~NCIA: REsUL1i\l)() DA GENETlCA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?34
tes componentes de uma tarefa sao executados. Tais estudos podem centra-
lizar-se, por exemplo, nos tipos de planejamento que os sujeitos utilizam
em solucionar analogias verbais ou nosmeios que eles usam seu tempo para
compreender uma passagem num texto. Nesta abordagem, 0 fator geral 'g'
reflete nao uma habilidade geral subjacente, mas 0maior uso consciente de
estrategias de valor geral para controle e planejamento separado, em todas
as quais 0 individuo pode presumivelmente ser treinado.
A abordagem cognitiva tambem entende que os estudos que fazem
uso das Tarefas Cognitivas Elementares (ECT, em ingles) podem preencher
a lacuna entre os aspectos psicol6gicos e fisiol6gicos de 'g'. Essas tarefas
mentais nao tern qualquer conteiido intelectual 6bvio e sao tao simples que
tanto adultos quanta a maioria das criancas podem faze-las apuradamente
em menos que urn segundo. Como mencionamos (ver Capitulo 1), varies
indicadores (TR, TI, TM, TD, TRDP) tern sido mensurados e correlaciona-
dos tanto com 'g' quanta com escores de QI derivados de testes mentais
altamente saturados de 'g', como 0 Teste das Matrizes Progressivas de Ra-
ven e a Escala Wechsler de Inteligencia de Adultos (WAIS-III). Imimeros
estudos mosttam que as correlacoes entre TI e 'g' variam entre -0,25 e-
0,50, enquanto aquelas entre TR e 'g' variam entre --0,20e -0,30 (Vernon,
1987; Jensen, 1993a; 1998; Mackintosh, 1998; Deary, 2003; Nettelbeck,
2003). Vernon (1990) sumariou imimeros estudos nos quais as medidas de
'g' foram correlacionadas com as respostas mensuradas como tempos de
reacao derivados das tarefas cognitivas elementares.Varias combinacoes de
TR explicaram de 22 a 56% da variancia dos escores de QI dos sujeitos.Do
mesmo modo, Kranzler e Jensen (1991) foram habeis em explicar 54% da
variancia dos escores de QI usando uma bateria de tarefas de tempo de rea-
9aO.Uma metanalise recentemente realizada por Grudnik e Kranzler (2001)
mostrou que 0TI correlaciona-seem --0,51com escores de QI para adultos e
em --0,44,com escores de QI para criancas. Estes resultados indicam clara-
mente que qualquer que seja 0 tempo de resposta, TR ou TI, os sujeitos com
QIs mais alto sao razoavelmentemais rapidos que aqueles com QIs menores
(ver Tabelas 1.1, 1.2e 1.3).Quando as tarefas se tornammais complexas, as
correlacoesentre os tempos de respostas (TI ouTR) e 0QI ou 'g', aumentam.
Estes resultados, portanto, suportam a nocao de que inteligencia equipa os
individuos para lidarem com a complexidade e que esta influencia e muito
maior em tarefas complexas do que nas mais simples (ver, tambem, 0 inte-
ressante estudo de Deary, Simonotto,A. Marshall, 1.Marshall, Goddard, &
Wardlaw, 2001, relacionando fMRI e tempo de inspecao).
As correlacoes entreECT e QI (ou 'g') sao comparaveis para todas as
idades, sexos e grupos etnicos estudados. No caso das correlacoes entre
ECT e QI, 0 fator 'g', que carrega ou satura os escores de QI, eo maior
responsavel por esta relacao, pois ele e 0 fator comum nas duas medidas.
35INTELIG~NClA GERAL
Alguns criticos da pesquisa em inteligencia mantem que a nocao de inteli-
gencia geral e ilus6ria: que nao existe tal capacidade mental global e que a
"aparente" inteligencia e na realidade urn produto derivado das oportuni-
dades de uma pessoa para aprender habilidades e informacoes valorizadas
num particularcontexto cultural. Verdade. 0 conceito de inteligencia e 0
modo pelo qual os individuos sao ordenados de acordo com este criterio
podem ser meros artefatos sociais. Mas 0 fato de que 'g' nao e especifico a
qualquer dorninio particular de conhecimento ou habilidade mental, sugere
que ele e independente do conteiido cultural, incluindo crencas sobre 0 que
e inteligencia. E testes de diferentes grupos sociais revelam 0 mesmo con-
tinuo de inteligencia geral. Esta observacao sugere que nem as culturas
constroem 'g' e que nem elas constroem 0 mesmo 'g'. Ambas as conclu-
s6es rninam a hip6tese de que a inteligencia e urn mero artefato social.
Ademais, pesquisas sobre as bases fisiol6gicas do 'g' tern descoberto
correlatos biol6gicos desse fenomeno psicol6gico. Muitas dessas pesqui-
sas postulam que diferencas na velocidade e na qualidade do processamen-
to de informacao originam-se de diferencas na fisiologia basica do cerebra,
como a velocidade de conducao nervosa (NeV, em ingles), a qual correlaci-
ona-se aproximadamente em 0,40 com 0 QI (ou, g) numa escala de 0 a 1
(Reed & Jensen, 1991, 1992). Jensen e Reed (1992), num estudo envolven-
do 200 estudantes universitarios, encontraram que a velocidade de condu-
~ao nervosa mensurada no trato visual (isto e, a distancia entre a retina e 0
nervo 6tico) correlacionou-se em - 0,38 com escores doTeste dasMatrizes
Progressivas de Raven, urn teste considerado altamente saturado de 'g'. As
respostas pupilares, como urn Indice de alocacao de atencao, tern tambem
CORRELATOS BIOLOGICOS DA INTELIGENCIA GERAL (g)
Estas respostas, de tempo de reacao ou de tempo de inspecao, nao refletem
diferencas em motivacao ou na estrategia, ou mesmo na tendencia de al-
guns individuos investirem nos testes e tarefas cotidianas cujas origens
podem estar num trace de personalidade. Estas respostas realmente pare-
cem medir a velocidade com que 0 cerebro apreende, integra e avalia infor-
macae (Jensen, 1993a).A inteligencia geral (g) e a iinica habilidade mental
com a qual os escores das tarefas cognitivas elementares se correlacionam.
Nao obstante, as pesquisas envolvendo estas tarefas e a fisiologia do cere-
bro nao identificaram ainda os determinantes biol6gicos deste processa-
mento de velocidade, mas elas sugerem que 'g' e um fenomeno tao global e
confiavel ao nivel neural quanta 0 e ao nivel de processamento de informa-
~ao complexo, requerido tanto por testes de QI quanto pOl'afazeres da vida
diaria (vel',Nyborg 2003, para uma analise exaustiva do estudo cientifico
da inteligencia geral).
INTELIG~NClA: RESULlADO DA GENETICA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?36
side correlacionadas (- 0,46) com os escores do Teste de Aptidao Escolas-
tica (Scholastic Aptitude Test - SA1) (Verney, Granholm, &Marshall, 2004).
Outras pesquisas tern re elado conex6es entre alguns atributos (estru-
turas) do cerebro e a inteligencia geral. Por exemplo, Anderson (2003),
analisando a relacao entre 0 tamanho do cerebra e 'g', usando tecnicas de
neuroimageamento in vivo, encontrou uma correlacao razoavel entre estas
duas variaveis. Suas analises revelam que tecnicas de imageamento meta-
b6lica e anatomica usando a tecnologia de ressonancia magnetica funcio-
nal (jMRI, em ingles) sugerem uma correlacao de aproximadamente 0,35
entre 0 tamanho do cerebra e 'g' (QI), urn resultado que e consistente entre
varies grupos experimentais (Jensen, 1994, 1998; Egan, Wickett, & Ver-
non, 1995). Uma outra importante conclusao que se depreende de seus es-
tudos e que a maioria da variacao individual na inteligencia nao e explicada
pela variacao no volume cerebral. Finalmente, uma terceira conclusao e
que n6s ainda nao conhecemos se regi6es especificas do cerebro ou com-
partimentos constituem a base principal para a correlacao entre tamanho
cerebral e QI (g). Realizando estudos semelhantes, Gignac, Vernon e Wi-
cket (2003) encontraram que 0 volume cerebral correlaciona-se aproxima-
damente em 0,40 com QI, ou 'g', e esta correlacao nao parece ser limitada
aos adultos. Eles tarnbem discutem 0 papel do volume da substancia cin-
zenta (correlacao ponderada de 0,27 com QI) versus volume da substancia
branca (correlacao de 0,31 com 0 QI) como urn substrato para as bases
biol6gicas do QI, uma questao conduzindo a resultados mistos. Alem dis-
so, eles registram estudos sugerindo que entre 80 a 90% do volume do
cerebro e hereditario, e que a correlacao genetica entre 0 volume do cere-
bro e 0 QI e 0,48. Este resultado precisa ser melhor comprovado e, portan-
to, de muitos estudos adicionais (Thompson, Cannon e colaboradores, 2001).
Haier (2003), pioneiramente, usou a tecnica de tomografia por ernis-
sao de p6sitrons (PET, em Ingles), para medir 0 consumo de glicose en-
quanta sujeitos simultaneamente resolviam problemas num Teste de Ra-
ven. 0 primeiro estudo tentou responder a seguinte questao: Onde, no cere-
bra, esta a inteligencia", e PET produziu imagens de quais partes do cere-
bra estavam ativas em termos do metabolismo de glicose, tomadas como
urn proxy do disparo neural. 0 resultado foi simplesmente surpreendente:
quanta mais intensamente uma dada area cerebral trabalha (funciona), tan-
to menor e 0 consumo de metabolismo de glicose. E ao testar se treinamen-
to diminui a atividade cerebral, Haier encontrou que os sujeitos aprendem
quais areas cerebrais nao devem usar, resultando em menor consumo de
glicose. Em adicao, ele tambern mostrou que sujeitos mais brilhantes tor-
nam 0 cerebro mais eficiente com a aprendizagem. Em outro estudo, Haier
(1993) registrou uma correlacao media de -0,79 entre os escores dos testes
da Escala Wechsler e a taxa metab6lica de glicose (GMR, em ingles).
37INTELIGJ'.NCIA GERAL
Quao importantes sao as diferencas em inteligencia geral?
Embora as evidencias de correlatos cognitivos e fisiol6gicos fortemente
sustentam a existencia de uma inteligencia geral (g), muitos argumentam
que mesmo que exista este fator global, ele nao tern valor intrfnseco funci-
onal e torna-se importante apenas na medida em que as pessoas conside-
ram-no como tal: por exemplo, usando escores de QI para selecionar, classi-
ficar e alocar estudantes e empregados. Neste caso estamos falando da vali-
dade pratica da inteligencia gera!. Identificar a importancia pratica de 'g' e
crucial para aceita-lo como urn conceito explicativo em psicologia. Mas, ao
discutirmos a validade pratica da inteligencia geral, varias questoes podem
ser levantadas: Qual 0 papel que a inteligencia geral (refietida pelo QI)
desempenha em nos sa vida pessoal e coletiva? Pode a inteligencia geral
tambem ser definida como a capacidade de Iidar com a complexidade?
Na realidade, essa problematic a referente a importancia pratica da in-
teligencia geral e refietida na seguinte questao fundamental: Quao impor-
tantes sao as diferencas em inteligencia geral? Para determinar quao
importante elas sao, devemos dividir esta questao em tres outras: primeiro,
CORRElATOS SOCIAlS, EDUCACIONAIS E PRATICOS DA
INTELIGENCIA GERAl (g) .
Tornados juntos, estes resultados sugerem que 0 cerebro de pessoas
brilhantes usa menos energia durante a solucao de problemas do que aque-
les das pessoas menos brilhantes e, alem disso, 0 cerebro responde mais
pronta e consistentemente a simples estimulos sensoriais. Similarmente,
Eysenk e Barrett (1985) encontraram uma correlacao de ordem de 0,9
entre as saturacoes de 'g' da Escala Wechsler e as correlacoes dos testes
com uma medida composta do potencial evocado medic (AEP, em ingles),
Estas observacoes tern levado muitos pesquisadores a posicionarem que as
diferencas em 'g' resultam de diferencas na velocidade e na eficiencia do
processamento neural. Se esta teoria for verdadeira, as condicoes ambien-
rais podem influenciar 'g' modificando de algum modo a fisiologia do ce-
rebra (Garlick, 2002; 2003).
Assim, a abordagem experimental da inteligencia geral (g) tern, por-
tanto, levado os pesquisadoresa argumentarem que a inteligencia pode nao
ser uma habilidade per se, mas, talvez, seja uma propriedade qufrnica, ou
eletrica, ou metab6lica do cerebro. Aptidoes especificas, como a verbal e a
espacial, parecem residir em regi6es particulares do cerebro, mas 'g' pode
representar uma proprledade global permeando todas as regi6es. Como afir-
maram Vernon e Mori (1990), os dados parecem indicar que 'g' e funda-
mentado numa variedade de processos fisiol6gicos e biol6gicos.
INTELlG~NCIA: REsULTADO DA GENETICA, DO AMBIENTE au DE ~38
perguntar para que elas sao importantes (educacao, emprego, vida famili-
ar); segundo, para quem (individuos, grupos, sociedades) e, terceiro, relati-
vo a que (personalidade, classe social, habilidades fisicas). As respostas a
estas questoes tern sido dadas primariamente a partir da analise das correla-
<;oesentre os escores individuais dos testes mentais (como os testes de QI)
e os varies exitos pessoais (como realizacoes educacionais, ocupacionais,
desempenho no emprego, bem-estar subjetivo, boa saude, longevidade). As
pesquisas invariavelmente confirmam, ao lado de destacar a importancia da
inteligencia geral (do QI), que a vantagem pratica de possuir urn alto nivel
de QI depende da natureza das tarefas desempenhadas. Nesse sentido, a
vida e igual a uma bateria de testes mentais compostos de testes com maior
ou men or saturacao do fator 'g', ou seja, exigindo escores maiores ou me-
nores de QI (Gordon, 1997; Gottfredson, 1997b, 2002, 2003b).
Ha urn grande corpo de evidencias empiricas indicando a importancia
pratica da inteligencia gera!. Estas evidencias resultam de imimeros estu-
dos envolvendo muitas disciplinas, e realizados, em grande parte, nas iilti-
mas tres decadas, Estes estudos revelam que embora os testes de QI possam
ser algumas vezes inadequadamente usados, eles certamente medem uma
capacidade que de fato afeta muitos tipos de desempenho e muitas realiza-
<;oesnas arenas da vida, independente das interpretacoes ou aplicacoes dos
testes. Muitos dos estudos foram pesquisas aplicadas em educacao, treina-
mento e selecao de pessoal, alguns dos quais experimentais, e grande parte
deles em ambientes nao-academicos (militares, setor privado, governo fe-
deral). Outras evidencias derivam-se de pesquisas realizadas no ambiente
academico tentando explicar problemas sociais (crime e delinqiiencia, pa-
tologias familiares) ou processos (desigualdades de rendimentos, desen-
volvimento infantil). A propos ito, no entender de Lubinski e Humphreys
(1997), poucas (se algumas) variaveis nas ciencias sociais podem competir
com 0 constructo de inteligencia geral em sua capacidade para predizer urn
conjunto de atributos e exitos socialmente valorizados. Devido a isso, eles
fortemente propoem que a inteligencia geral seja imediatamente incorpora-
da nas ciencias sociais e na epidemiologia, com 0 proposito de examinar
como fenomenos comportamentais, sociais e medicos se relacionam com a
inteligencia, visando intervencoes e politic as publicas preventivas.
As pesquisas apontam dois fatos fundamentais acerca da relacao da
inteligencia geral (g) com 0 sucesso e 0 bem-estar dos individuos. Primei-
ro, baixa inteligencia raramente garante fracas so, e alta inteligencia nunc a
garante sucesso. Ao contrario, inteligencia geral afeta as vantagens para
obter exitos particu1ares. Quanto mais alto 0 nivel de inteligencia geral,
tanto mais favoraveis sao as vantagens. Contrario a crenca popular, parece
nao haver qualquer limiar acima do qual adicional inteligencia cessa de ser
iitil. 0 segundo fato e que as diferencas nas vantagens associadas com
39INTELIG~NClA GERAL
Analises profissiograficas detalhadas dos diferentes empregos (ou ocupa-
coes) mostram que a principal distincao entre eles reside na dependencia de
'g', e a principal distincao entre empregos mais ou menos saturados de 'g'
esta na complexidade cognitiva de suas tarefas constituintes, como indica-
da pelos requerimentos de raciocinio, tomada de decisao e julgamentos,
identificar e reagir rapidamente as situacoes problemas, e continuamente
aprender informacoes relacionadas ao emprego. 0 que essas saturacoes
concomitantemente implicam e que, "outras coisas" sao mais importantes
que a inteligencia geral (g) para alcancar certos resultados (cometer urn
crime, desempenhar bern urn trabalho semi-especializado), mas muito me-
nos que 'g' para obter outros (alcancar sucesso academico ou urn trabalho
professional). Por exemplo, uma grande metanalise realizada por Schmidt,
Ones e Hunter (1992) revela que 'g' eo preditor primario do sucesso ocu-
pacional nos Estados Unidos, sendo fundamentalmente responsavel pelas
causas da promocao entre ocupacoes nos setores publico e privado. Seus
resultados indicaram que 's' eo fator principal oferecendo qualquer vali-
dade preditiva. Os resultados tambem revelaram que muitos empregos es-
pecializados e profissionais requerem, de fato, urnminimo de 'g' para obte-
los. Abaixo de certos niveis de 'g', e virtualmente impossivel para urn indi-
viduo progredir em algumas ocupacoes (por exernplo: advogado, profes-
sor, medico). Portanto, em grande parte, 's' esta relacionado ao sucesso
INTELIGENCIA GERAl (g) E EMPREGO
diferentes niveis de QI parecem se ampliar ou se estreitar dependendo da
natureza das tarefas e exitos considerados. Dito de outra forma, urn alto QI
e muito mais vantajoso em algumas arenas da vida do que em outras. Tais
variacoes nos exitos especificos na importancia da inteligencia geral sao
freqlientemente quantificadas calculando-se correlacoes com 0QI. Quanto
mais urn dado exito correlaciona-se com inteligencia geral, tanto mais satu-
rado ele e (isto e, mais 'g' ele exige). Por exemplo, a saturacao media de
'g' e aproximadamente 0,20 (numa escala de 0 a 1) para comportamentos
anti-sociais (Moffitt & Silva, 1988;Yoshikawa, 1994),0,40 para desempe-
nho no emprego (Thorndike, 1986),0,60 para anos de escolaridade alcan-
cada (Ceci, 1991), 0,80 para realizacoes academicas padronizadas (Got-
tfredson, 1996;Ceci, 2000) e 0,40 para rendimentos pessoais, onde as cor-
relacoes aumentam com a idade. Embora, em media, moderadamente satu-
rado de 'g', os empregos diferem em saturacao dependendo da natureza e
variedade de suas tarefas, variando de aproximadamente 0,20 para empre-
gos simples ate 0,80 para ocupacoes altamente complexas. Aprender al-
guns empregos e mais saturado de 'g' do que desernpenha-los apos eles
terem sido aprendidos (Gottfredson, 1986,2002, 2003b; Nyborg, 2003).
INTELIG~NCIA: RESULTADO DA GENETICA, DO AMBIENTE OU DE AMBOS?40
Psic6logos que militam em selecao e colocacao de pessoal tern tentado, nos
iiltimos anos, reduzir a importancia da inteligencia geral no processo de
selecao e treinamento de pessoal. Seus esforcos tern side pouco frutfferos,
mas tern, entretanto, gerado muitos dados sobre a importancia de 'g' em
relacao a outros fatores. Metanalises confirmam que as baterias de aptidoes
especiais raramente predizem 0 desempenho e 0 treinamento no emprego
de forma muito melhor do que 'g' sozinho; 0 ultimo carregando "0 frete da
predicao'' em todos, exceto os empregos mais simples (onde capacidades
fisicas sao mais importantes). Experimentacao intensiva com preditores
menos saturados de 'g', tanto antigos (testes de personalidade) quanto no-
vos (inventarios biograficos), demonstra que embora eles sejam preditores
freqUentemente iiteis do desempenho global, contudo raramente se igualam
em utilidade aos testes mentais. Com excecao do trace de personalidade
"conscientizacao", os preditores menos saturados de 'g' (tais como apti-
does especificas) sao mais uteis dentro de uma amplitude muito limitada de
empregos (digamos, comercios ou trabalhos manuais) do que 'g' (Thorndi-
ke, 1986; Hawk, 1986). Esforcos recentes realizados para map ear dimen-
soes separadas do desempenho no emprego (entre soldados) mostram que
'g' prediz proficienciatecnica (tanto geral quanto especifica) muito melhor
do que fazem os traces de personalidade e temperamento, embora os iilti-
mos tendem a ser melhores preditores de alguns aspectos do desempenho
(autodisciplina, relacoes profissionais). Alem disso, melhor treinamento e
maior tempo de experiencia podem enriquecer 0 desempenho no trabalho,
mas ambos nao igualam 0 desempenho dos trabalhadores melhores e piores
(Ree, Carretta & Green, 2003; Ree, Earles & Teachout, 1994; Olea & Ree,
1994; Ree, Carretta, & Reachout, 1995; Hunter & Schmidt, 1996; Schmidt
& Hunter, 1998). De fato, varies desses autores relatam que pessoas com
QI equivalente a 115-120 (que inclui aproximadamente 10 a 15% da popu-
lacao, vel' Figura 1.1) podem basicamente se autotreinar; aquelas no meio
da distribuicao do QI (QI 91-110) podem rapidamente aprenderrotinas com
alguma combinacao de materiais escritos, experiencia e dominic de apren-
dizagem; mas as pessoas com QI abaixo de 80 (10% da populacao) reque-
rem urn treinamento lento (pas so a passo), concreto, altamente supervisio-
nado e frequentemente individualizado. Como mencionamos alhures, usu-
almente estas pessoas exigem de duas a seis vezes mais tentativas de treino
INTEliGENCIA GERAL (g) E SELEC;AO E TREINAMENTO DE PESSOAL
pessoal e a prosperidade economic a (ver os mirneros especiais das revistas
Journal of VocationalBehavior, 1986, e Human Performance, 2002, orga-
nizados por Linda Gottfredson, dedicados a analise da importancia da inte-
ligencia geral no emprego e no desempenho profissional).
41INTELIGtNCIA GERAL
Como esperado, a importancia da inteligencia geral (g) emais evidente no
contexto educacional. Urna vasta pesquisa em educacao e psicologia revela
que os niveis de inteligencia geral das criancas ditam osmetodos instrucio-
nais mais apropriados. Criancas escolares com niveis mais altos de 'g'
depreendem conteiidos mais rapidamente e sao mais habeis para generali-
zar alem do contexto imediato (Ackerman & Lohman, 2003). Em outras
palavras, as diferencas individuais na inteligencia geral explicam a maior
parte da variacao nas diferencas individuais no desempenho escolar do que
quaisquer outras combinacoes de variaveis, excluindo 'g'.
De fato, Ackerman e Lohman (2003), revisando a relacao entre inteli-
gencia geral (g) e educacao, sumariam varies dados mostrando que na in-
fancia e na adolescencia os testes de QI (saturados de 'g') predizem muito
bern 0 sucesso escolar na idade de entrarem na escola. Testes de QI aplica-
dos antes das criancas adentrarem na escola foram especialmente eficazes
em predizer 0 sucesso (insucesso) das criancas menos habeis, embora esti-
mativas acuradas do QI de criancas entre 4 e 5 anos de idade tenham menor
validade e fidedignidade do que aquelas das criancas mais velhas. Segun-
do os autores, se a inteligencia geral (g) e conceituada como 0 fator de
ordem mais elevada numa bateria de testes verbais e nao-verbais, e e virtu-
almente 0mesmo que QI, entao ela e altamente preditiva do sucesso inicial
na escola. Tambem, as medidas de QI foram habeis em predizer a idade de
deixar a escola, incluindo a evasao escolar. Na educacao adulta, testes de
QI e medidas nao-verbais de inteligencia geral saomoderadamente correla-
cionados com 0 sucesso inicial na universidade. 0conteiido dos testes (ge-
ral versus nao-verbal) tende a emparelhar-se razoavelmente bern com 0
conterido do curriculo, Por exemplo, testes de raciocinio nao-verbal ten-
dem a ser mais altamente correlacionados com as notas obtidas em mate-
matica e menos bem-correlacionadas com as notas obtidas em literatura e
ciencias sociais. Ceci (1991), num vasto artigo em que analisa a relacao
entre QI e escolaridade, descreveu varies tipos de evidencias mostrando
como a educacao influencia 0 QI, embora muitas delas tambem podem ser
interpretadas como sugerindoque QI influencia0 sucessoescolar.Por exem-
INTELIGENCIA GERAl (g) EEDUCAc;AO
e ensaios do que seus pares com escores mais altos para alcancarem urn
nivel minimo de proficiencia em tarefas envolvendo montagem de rifles,
monitoramento de sinais, projecao de combates e outras tarefas militares
basicas. Por exemplo, nas forcas armadas americanas e proibido por lei
alistar pessoas abaixo deste nivel devido ao treinamento inadequado, de
forma que os padr6es atualmente aceitaveis excluem qualquer urn abaixo
do QI equivalente a 85.
INTEUG~NCIA: REsULTADO DA GENETICA, DO AMBlENTE OU DE AMBOS?42
A vida, de urn lado, e igual a uma bateria de testes mentais no sentido de
que as vantagens de urn QI alto nao sao uniformes, pois dependem da com-
plexidade das tarefas que enfrentamos nas diferentes arenas da vida (traba-
lho, familia, saiide, educacao), De outro lado, a vida e diferente de uma
bateria de testes mentais no sentido de que, de algum modo, nos submete-
mos a diferentes baterias, isto e, estamos sujeitos a diferentes conjuntos de
tarefas demandando diferentes complexidades que, por sua vez, requerem,
em media, diferentes esc ores de QI. POl'exemplo, nos tornamos especial i-
zados em algumas arenas da vida (ocupacoes, vocacoes etc.) nas quais ou-
tras pessoas nao alcancam sucesso. Estas diferencas em nossas realizacoes
permitem-nos erial' nichos mais compativeis com 0 nos so talento e interes-
ses, mas elas tambem dificultam comparar 0 impacto real do QI em nossas
vidas. Ao lade disso, diferente da testagem do QI, a vida nos oferece algu-
mas escolhas nos testes que enfrentamos (por exemplo: podemos optar por
cuidar ou nao das criancas, ten tar obter sucesso como professor ou como
jogador de futebol, ser urn caixa de banco ou urn caminhoneiro). Nos temos
alguma liberdade para perseguir tarefas dentro de nos sa competencia e tam-
bern para evitar aquelas que sao muito faceis ou muito diffceis.
Nosso mundo social tambem, de alguma maneira, partilha oportuni-
dades e obrigacoes de acordo com nossa habilidade para manipula-las, De
fato, as pessoas frequentemente escolhem ou sao designadas para diferen-
INTELIGENCIA GERAL (g), TESTESDE QI EA VIDA COMO UM TESTE
plo, as correlacoes entre QI e 0 mimero de anos completados na escola
variam entre 0,60 e 0,80, mesmo quando 0 nivel socio-econornico e exclu-
Ido da analise. Em geral, os dados mostram que quando estudantes sao
comparados em QI, os que en tram mais cedo na escola tern nitidamente
escores de QI mais altos, pelo menos dentro dos primeiros anos de escola-
ridade (para detalhes ver, tambem, Da Silva, 2003).
Em resumo, QI (g) e altamente correlacionado com varies exitos pes-
soais, como alta educacao, emprego de maior status e maior rendimento
(salario) na carreira. Considerando que os mundos, educacional e ocupaci-
onal, sao altamente saturados em 'g', nao e surpreendente encontrar que QI
seja urn precursor importante destes exitos pessoais. QI e, de fato, 0melhor
preditor do ultimo nivel educacional obtido, e ajuda a predizer 0 status
ocupacional e 0 crescimento da renda, mesmo apos controlar 0 background
familiar e educacional. Dito de outro modo, inteligencia geral e 0 fator
mais importante em predizer as realizacoes ocupacionais e escolasticas,
bern como urn conjunto de comportamentos sociais desejaveis e indeseja-
veis. Ela e 0melhor preditor da progressiva mobilidade social e do sucesso
ocupacional, especialmente em ocupacoes de certa complexidade.
43INTELIG~NCIA GERAL
Quais as evidencias que demonstram que a vida e igual a uma bateria de
testes mentais e, em particular, como a vida depende da inteligencia geral
ou do QI? Alguns tern afirmado, por exemplo, que a inteligencia geral e
apenas uma infima parte e ate mesmo sem importancia no grande espectro
mental e que, alem disso, ela aplica-se mais, embora nao exclusivamente,
as tarefas do tipo acadernico. Ora, isto nao e verdade. As analises das ocu-
pacoes, dos empregos e dos progressos na carreira, demonstram, direta ou
indiretamente, que as diferencas em inteligencia geral (ou

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