Buscar

INTRODUÇÃO Á PSICOLOGIA COGNITIVA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1Introdução àPsicologia Cognitiva
DEFINIÇÃO DE PSICOLOGIA 
COGNITIVA
O que será estudado em um livro-texto so-
bre psicologia cognitiva?
 1. Cognição: As pessoas pensam.
 2. Psicologia cognitiva: Os cientistas pensam 
sobre como as pessoas pensam.
 3. Estudantes de psicologia cognitiva: As 
pessoas pensam sobre o que cientistas 
pensam em relação a como as pessoas 
pensam.
 4. Professores que lecionam para estudantes de 
psicologia cognitiva: Basta rever os itens 
anteriores.
Para sermos mais específi cos, a psicologia 
cognitiva é o estudo de como as pessoas perce-
bem, aprendem, lembram-se de algo e pensam 
sobre as informações. Um psicólogo cognitivo 
pode estudar o modo como as pessoas perce-
 1. O que é psicologia cognitiva?
 2. De que forma a psicologia desenvol-
veu-se como ciência?
 3. Como a psicologia cognitiva desenvol-
veu-se a partir da psicologia?
 4. Como outras disciplinas contribuíram 
para o desenvolvimento da teoria e da 
pesquisa em psicologia cognitiva?
 5. Quais métodos os psicólogos cogniti-
vos usam para estudar o modo como as 
pessoas pensam?
 6. Quais são as questões atuais e os vários 
campos de estudo da psicologia cogni-
tiva?
EXP LORANDO A P S I CO LOG IA COGN I T I VA
bem várias formas, por que elas se lembram 
de alguns fatos, mas se esquecem de outros, ou 
como aprendem a linguagem. Consideremos al-
guns exemplos:
 Por que, em dias com névoa, os objetos 
parecem estar mais distantes do que 
realmente estão? Essa discrepância pode 
ser perigosa, inclusive enganando moto-
ristas e envolvendo-os em acidentes.
 Por que muitas pessoas lembram-se 
de uma determinada experiência (por 
exemplo, um momento muito feliz ou 
um constrangimento na infância), mas 
esquecem os nomes de pessoas a quem 
elas conhecem há muitos anos?
 Por que muitas pessoas têm mais medo 
de viajar de avião do que de carro? Afi -
nal de contas, as chances de lesão ou 
morte são muito mais altas em um carro 
do que em um avião.
20 ROBERT J. STERNBERG
Estas são algumas perguntas que podemos 
responder por meio do estudo da psicologia 
cognitiva.
Este capítulo introduz o campo da psi-
cologia cognitiva, descrevendo um pouco do 
histórico intelectual do estudo do pensamento 
humano. Enfatizam-se especialmente algumas 
das questões e das preocupações que surgem 
quando pensamos sobre como as pessoas pen-
sam. A seguir, teremos um breve panorama dos 
principais métodos, das questões e das áreas 
de conteúdo da psicologia cognitiva. As idéias 
apresentadas neste capítulo proporcionarão um 
alicerce sobre o qual construir uma visão dos tó-
picos da psicologia cognitiva.
Por que estudar a história deste campo ou 
mesmo de qualquer outro? Para início de conver-
sa, se soubermos de onde viemos, poderemos ter 
uma compreensão melhor de para onde estamos 
indo. Além disso, pode-se aprender com erros 
do passado. Dessa forma, quando cometermos 
erros, eles serão erros novos, e não os mesmos 
de antes. Nossas formas de tratar questões fun-
damentais mudaram, mas algumas dessas ques-
tões permanecem praticamente as mesmas. Em 
última análise, pode-se aprender algo sobre o 
modo como as pessoas pensam estudando como 
as pessoas já pensaram sobre o pensar.
O avanço das idéias, muitas vezes, envol-
ve uma dialética. Uma dialética é um processo 
de desenvolvimento em que as idéias evoluem 
com o passar do tempo por meio de um padrão 
de transformações. Qual é esse padrão? Em 
uma dialética:
 Propõe-se uma tese. Uma tese é um 
enunciado de opinião. Por exemplo, al-
gumas pessoas são da opinião de que 
a natureza humana governa muitos as-
pectos do comportamento humano (por 
exemplo, a inteligência ou a personali-
dade; Sternberg, 1999). Contudo, depois 
de algum tempo, alguns indivíduos ob-
servam alguns problemas na tese.
 Mais cedo ou mais tarde ou talvez logo 
em seguida, surge uma antítese. Uma an-
títese é um enunciado que se contrapõe 
à opinião enunciada anteriormente. Por 
exemplo, uma visão alternativa é que o 
que adquirimos em nossa criação (o con-
texto ambiental em que somos criados) 
determina quase que por completo mui-
tos aspectos do comportamento humano.
 Mais cedo ou mais tarde, o debate entre a 
tese e a antítese leva a uma síntese. Uma 
síntese integra os aspectos mais críveis de 
cada uma de duas (ou mais) visões. Por 
exemplo, no debate sobre a relação entre 
inato e adquirido, a integração entre nossa 
natureza inata e o que adquirimos no am-
biente pode governar a natureza humana. 
Na verdade, a visão mais aceita atual-
mente é que tanto a visão sobre “inato” 
quanto a que se baseia no “adquirido” são 
incompletas. Ambos os fatores trabalham 
juntos em nosso desenvolvimento.
Se uma síntese parece fazer avançar nosso 
conhecimento acerca de um assunto, ela servirá 
como uma nova tese. Posteriormente, uma nova 
antítese se seguirá, depois uma nova síntese, e 
assim por diante. Georg Hegel (1770-1831) ob-
servou essa progressão dialética de idéias. Ele 
foi um fi lósofo alemão que chegou a suas idéias 
por meio de sua própria dialética, sintetizan-
do algumas das visões de seus predecessores e 
contemporâneos intelectuais.
ANTECEDENTES FILOSÓFICOS DA 
PSICOLOGIA: RACIONALISMO VERSUS 
EMPIRISMO
Onde e quando começou o estudo da psi-
cologia cognitiva? Os historiadores da psicolo-
gia, de modo geral, identifi cam suas primeiras 
raízes em duas abordagens à compreensão da 
mente humana:
A fi losofi a procura entender a natureza geral 
de muitos aspectos do mundo, basica-
mente por meio da introspecção – o exame 
das idéias e das experiências internas (in-
trospecção: “olhar para dentro”).
A fi siologia busca um estudo científi co de 
funções vitais na matéria viva, funda-
mentalmente por meio de métodos empí-
ricos (baseados em observação).
Dois fi lósofos gregos, Platão (428-348 a.C.) e 
seu aluno Aristóteles (384-322 a.C.), infl uencia-
ram profundamente o pensamento moderno na 
PSICOLOGIA COGNITIVA 21
psicologia e em muitos outros campos. Platão 
e Aristóteles discordavam com relação à forma 
de investigar idéias. O primeiro era um racio-
nalista, ou seja, acreditava que o caminho para 
o conhecimento se dá pela análise lógica. Por 
sua vez, Aristóteles (que era naturalista e biólo-
go, além de fi lósofo) era um empirista, alguém 
que acredita que adquirimos conhecimento por 
meio das evidências empíricas – ou seja, obte-
mos evidências por meio da experiência e da 
observação (Figura 1.1).
Portanto a visão de Aristóteles leva direta-
mente a investigações empíricas da psicologia. 
Em contrapartida, a visão de Platão prenuncia 
os vários usos do raciocínio no desenvolvimen-
to da teoria. As teorias racionalistas sem qual-
quer conexão com observações podem não ser 
válidas, mas grandes quantidades de dados de-
correntes de observação sem uma estrutura teó-
rica que as organize podem não ter relevância. 
Podemos considerar a visão de mundo raciona-
lista de Platão como uma tese e a visão empírica 
de Aristóteles, como uma antítese. A maioria 
dos psicólogos de hoje busca uma síntese de 
ambas. Eles baseiam as observações empíricas 
na teoria e usam-nas para revisar suas teorias.
Durante a Idade Média, grande parte da 
psicologia cognitiva conforme existia na época 
era uma tentativa de fazer formulações a par-
tir das idéias de Aristóteles (Kemp, 1996, 2000). 
Também foram feitas tentativas iniciais de loca-
lizar os processos cognitivos no cérebro. No sé-
culo XVII, as idéias confl itantes do racionalismo 
e do empirismo ressurgiram com o racionalista 
francês René Descartes (1596-1650) e com o em-
pirista inglês John Locke (1632-1704). Descartes 
concordava com Platão, considerando o método 
introspectivo e refl exivo superior aos métodos 
empíricos de encontrar a verdade. Locke, por 
sua vez, compartilhava o entusiasmode Aristó-
teles em relação à observação empírica (Leahey, 
2000; Manent, 1998; Smith, 1997).
Locke acreditava que os seres humanos 
nascem sem conhecimento e, por tal razão, de-
vem buscá-lo por meio da observação empírica. 
Seu termo para isso era tabula rasa (que signifi ca 
“tábua vazia” em latim). A idéia é que a vida 
e a experiência “escrevem” o conhecimento 
em nós. Sendo assim, para Locke o estudo da 
aprendizagem era fundamental para entender a 
mente humana. Ele acreditava que não existem 
idéias inatas. No século XVIII, o fi lósofo alemão 
Immanuel Kant (1724-1804) sintetizou dialetica-
mente a visão de Descartes e Locke, ao afi rmar 
que tanto o racionalismo quanto o empirismo 
têm seu lugar, devendo trabalhar juntos na bus-
ca da verdade. Atualmente a maioria dos psicó-
logos aceita a síntese de Kant.
FIGURA 1.1
 (a) Segundo o racionalista, o único caminho para a verdade é a refl exão contemplativa; (b) 
Segundo o empirista, o único caminho para a verdade é a observação meticulosa. A psicologia cognitiva, assim 
como outras ciências, depende do trabalho de racionalistas e empiristas.
(a) (b)
22 ROBERT J. STERNBERG
ANTECEDENTES PSICOLÓGICOS DA 
PSICOLOGIA COGNITIVA
As primeiras dialéticas na psicologia 
da cognição
O estruturalismo
Uma das primeiras dialéticas na história 
da psicologia ocorre entre o estruturalismo e o 
funcionalismo (Leahey, 1997; Morawski, 2000). 
O estruturalismo foi a primeira grande escola 
de pensamento na psicologia, a qual buscava 
entender a estrutura (a confi guração de ele-
mentos) da mente e suas percepções, anali-
sando-as em seus componentes constitutivos. 
Consideremos, por exemplo, a percepção de 
uma fl or. Os estruturalistas analisariam essa 
percepção em termos de cores, formas geomé-
tricas, relações de tamanho que a constituem, e 
assim por diante.
Um fi lósofo alemão cujas idéias mais tarde 
contribuiriam para o desenvolvimento do estru-
turalismo foi Wilhelm Wundt (1832-1920). Wun-
dt defendia o estudo das experiências sensoriais 
por meio da introspecção. A introspecção é um 
olhar interior para informações que passam 
pela consciência (Lyons, 2003). Um exemplo 
disso são as sensações experimentadas quando 
se olha para uma fl or. Com efeito, analisamos 
nossas próprias percepções.
Wundt teve muitos seguidores, e um deles 
foi o estudante americano Edward Titchener 
(1867-1927). Titchener (1910) ajudou a trazer o 
estruturalismo para os Estados Unidos. Outros 
entre os primeiros psicólogos criticaram tanto o 
método (introspecção) quanto o foco (estruturas 
elementares de sensação) do estruturalismo.
Funcionalismo: uma alternativa ao 
estruturalismo
Uma alternativa ao estruturalismo suge-
ri a que os psicólogos deveriam concentrar-
se nos processos de pensamento em lugar de 
concentrar-se em seus conteúdos. O funciona-
lismo busca entender o que as pessoas fazem e 
por que o fazem. Essa pergunta principal esta-
va em contraste com a do estruturalismo, que 
havia perguntado quais eram os conteúdos (as 
estruturas) elementares da mente humana. Os 
funcionalistas sustentavam que a chave para 
o entendimento da mente humana e dos com-
portamentos era estudar os processos de como 
e por que a mente funciona da maneira que fun-
ciona, em lugar de estudar seus conteúdos e os 
elementos estruturais.
Os funcionalistas estavam unifi cados pelos 
tipos de perguntas que faziam, mas não neces-
sariamente pelas respostas que encontravam ou 
pelos métodos que usavam para encontrá-las. 
Como os funcionalistas acreditavam no uso de 
quaisquer métodos que melhor respondessem 
às perguntas de um dado pesquisador, parece 
natural que o funcionalismo tenha levado ao 
pragmatismo. Os pragmatistas acreditam que 
o conhecimento é validado por sua utilidade: o 
que se pode fazer com isso? Estão interessados 
não apenas em saber o que as pessoas fazem, 
como também querem saber o que podemos 
fazer com nosso conhecimento sobre o que as 
pessoas fazem. Por exemplo, eles acreditam na 
importância da psicologia da aprendizagem e 
da memória. Por quê? Porque pode nos ajudar a 
melhorar o desempenho das crianças na escola.
Um líder na condução do funcionalismo 
em direção ao pragmatismo foi William James 
(1842-1910). Sua principal contribuição funcio-
Wilhelm Wundt não foi muito bem-sucedido na escola, 
sendo reprovado muitas vezes e ridicularizado pelos 
outros. Entretanto, Wundt mostrou posteriormente 
que o desempenho escolar nem sempre indica futuro 
sucesso profi ssional, pois ele é considerado um dos 
mais infl uentes psicólogos de todos os tempos.
Ar
qu
ivo
s d
e 
Th
e 
Hi
sto
ry
 o
f A
me
ric
an
 P
sy
ch
olo
gy
, U
niv
er
sit
y 
of
 A
kro
n
PSICOLOGIA COGNITIVA 23
nal ao campo da psicologia foi um único livro: 
Princípios de Psicologia (1890/1970). Ainda hoje, 
os psicólogos cognitivos apontam, muitas vezes, 
os escritos de James em discussões de tópicos 
fundamentais no campo, como atenção, cons-
ciência e percepção. John Dewey (1859-1952) foi 
mais um dos primeiros pragmaticistas que in-
fl uenciaram bastante o pensamento contempo-
râneo na psicologia cognitiva. Dewey é lembra-
do basicamente por sua abordagem pragmática 
do pensamento e da escola.
Associacionismo: uma síntese integradora
O associacionismo, assim como o funcio-
nalismo, foi menos uma escola rígida de psi-
cologia e mais uma forma infl uente de pensar. 
O associacionismo examina a forma como os 
eventos e as idéias podem tornar-se associados 
uns com os outros na mente, a fi m de resultar 
em uma forma de aprendizagem. Por exemplo, 
as associações podem resultar da contigüidade 
(associar informações que tendem a ocorrer jun-
tas mais ou menos ao mesmo tempo), da seme-
lhança (associar informações com características 
ou propriedades semelhantes) ou do contraste 
(associar informações que parecem apresentar 
polaridades, como quente/frio, claro/escuro, 
dia/noite).
No fi nal do século XIX, o associacionista 
Hermann Ebbinghaus (1850-1909) foi o primei-
ro pesquisador a aplicar os princípios associa-
cionistas de forma sistemática. Especifi camente, 
Ebbing haus estudou e observou seus próprios 
processos mentais. Contou seus erros e registrou 
seus tempos de resposta. Por meio de auto-ob-
servações, estudou como as pessoas aprendem 
e lembram-se de conteúdos por meio da repe-
tição consciente do conteúdo a ser aprendido. 
Entre outras conclusões, ele fez uma descoberta 
experimental revolucionária: a de que a repeti-
ção freqüente pode fi xar associações mentais de 
Ar
ch
ive
s o
f T
he
 H
ist
or
y 
of
 A
me
ric
an
 P
sy
ch
olo
gy
, U
niv
er
sid
ad
e 
de
 A
kro
n
Muitos psicólogos cognitivos consideram William Ja-
mes, médico, fi lósofo, psicólogo e irmão do autor Henry 
James, como um dos maiores psicólogos que jamais 
houve, embora ele próprio pareça ter rejeitado a psico-
logia mais tarde.
APLICAÇÕES 
PRÁTICAS DA 
PSICOLOGIA 
COGNITIVA
Agora, imagine-se colocando a idéia do pragmatismo em uso. Pense sobre 
as formas de tornar as informações que está aprendendo nesta disciplina 
mais úteis para você. Parte do trabalho já foi feito – observe que o capí-
tulo começa com perguntas que tornam as informações mais coerentes e 
úteis, e o resumo retorna a essas perguntas. O texto responde de maneira 
satisfatória às perguntas apresentadas no início do capítulo? Formule suas 
próprias perguntas e organize suas anotações na forma de respostas. Além 
disso, estabelecça uma relação desse material com outras disciplinas e ati-
vidades das quais você participa. Por exemplo, você pode ser chamado a 
explicar a um amigo como funciona um programa de computador. Uma 
boa maneira de começar seria perguntar a essa pessoa se ela tem alguma 
pergunta. Assim, as informaçõesque você oferece serão mais úteis a seu 
amigo, em lugar de forçá-lo a buscar a informação de que necessita em 
uma exposição longa e unilateral.
24 ROBERT J. STERNBERG
forma mais consistente na memória, ajudando a 
aprendizagem (ver Capítulo 6).
Outro associacionista infl uente, Edward Lee 
Thorndike (1874-1949), sustentava que o papel 
da “satisfação” é a chave para a formação de as-
sociações. Thorndike chamou esse princípio de 
lei do efeito (1905): um estímulo tenderá a produ-
zir uma determinada resposta se um organismo 
for recompensado por essa resposta. Thorndike 
acreditava que um organismo aprendia a res-
ponder de uma determinada maneira (o efeito) 
em uma dada situação se fosse recompensado 
repetidas vezes por isso (a satisfação, que serve 
como estímulo para futuras ações). Assim, uma 
criança que recebe agrados por resolver correta-
mente problemas de aritmética aprende a fazê-
lo porque estabelece associações entre soluções 
válidas e agrados.
Do associacionismo ao behaviorismo
Outros pesquisadores que foram contem-
porâneos de Thorndike usaram experimentos 
animais para investigar relações de estímulo e 
resposta de formas diferentes das de Thorn dike 
e seus colegas associacionistas. Os pesquisado-
res percorreram a linha entre o associacionismo 
e o campo emergente do behaviorismo. O beha-
viorismo é uma perspectiva teórica segundo a 
qual a psicologia deveria concentrar-se apenas 
na relação entre comportamento observável, 
por um lado, e eventos ou estímulos ambientais, 
por outro. A idéia era tornar físico o que quer 
que outros tivessem chamado de “mental” (Ly-
can, 2003). Alguns desses pesquisadores, como 
Thorndike e outros associacionistas, estudaram 
respostas voluntárias (embora, talvez, careces-
sem de qualquer pensamento consciente, como 
no trabalho de Thorndike). Outros estudaram 
respostas que foram desencadeadas involunta-
riamente, em reação ao que parece ser eventos 
externos não-relacionados.
Na Rússia, o fi siologista ganhador do Prê-
mio Nobel, Ivan Pavlov (1849-1936), estudou 
esse tipo de comportamento de aprendizagem 
involuntário, começando com a observação de 
que os cachorros salivavam em resposta à visão 
do técnico de laboratório que os alimentava. 
Essa resposta ocorria antes que os cachorros 
vissem se o técnico trazia comida. Para Pavlov, 
essa resposta indicava uma forma de aprendi-
zagem – aprendizagem classicamente condi-
cionada – sobre a qual os cachorros não tinham 
qualquer controle consciente. Na mente deles, 
algum tipo de aprendizagem involuntária liga-
va o técnico à comida (Pavlov, 1955). O trabalho 
fundamental de Pavlov abriu caminho para o 
desenvolvimento do behaviorismo. O condi-
cionamento clássico envolve mais do que uma 
associação baseada na contigüidade temporal 
(por exemplo, a comida e o estímulo condicio-
nado ocorriam mais ou menos ao mesmo tem-
po; Rescorla, 1967). O condicionamento efi caz 
exige contingência (por exemplo, a apresenta-
ção de comida sendo contingente com a apre-
sentação do estímulo condicionado; Rescorla e 
Wagner, 1972; Wagner e Rescorla, 1972).
O behaviorismo pode ser considerado uma 
versão extrema do associacionismo, que se 
concentra completamente na associação entre 
o ambiente e um comportamento observável. 
Segundo behavioristas rígidos e extremos (“ra-
dicais”), quaisquer hipóteses sobre pensamen-
tos e formas de pensar internos não passam de 
especulação.
Os proponentes do behaviorismo
O “pai” do behaviorismo radical é John 
Watson (1878-1958). Watson não via utilidade 
em conteúdos ou mecanismos mentais internos 
e acreditava que os psicólogos deveriam con-
centrar-se apenas no estudo do comportamen-
to observável (Doyle, 2000). Ele considerava o 
pensamento apenas como fala subvocalizada. 
O behaviorismo também diferia de movimen-
tos anteriores à psicologia por redirecionar a 
ênfase da pesquisa experimental, de participan-
tes humanos a animais. Historicamente, grande 
parte do trabalho behaviorista foi conduzida (e 
ainda o é) com animais de laboratório, como os 
ratos, porque possibilitam muito mais controle 
comportamental de relações entre o ambiente e 
o comportamento em relação a ele. Todavia, um 
problema do uso de animais é determinar se a 
pesquisa pode ser generalizada para seres hu-
manos (ou seja, aplicada de forma mais geral a 
seres humanos em lugar de apenas aos tipos de 
animais que foram estudados).
B. F. Skinner (1904-1990), um behaviorista 
radical, acreditava que quase todas as formas 
de comportamento humano, e não apenas a 
aprendizagem, podiam ser explicadas por com-
PSICOLOGIA COGNITIVA 25
portamentos em resposta ao ambiente. Skinner 
desenvolveu pesquisas basicamente com ani-
mais não-humanos. Ele rejeitava os mecanismos 
mentais, acreditando que o condicionamento 
operante – envolvendo fortalecimento ou enfra-
quecimento do comportamento, contingente à 
presença ou ausência de reforço (recompensas) 
ou punição – podia explicar todas as formas 
de comportamento humano. Skinner aplicou 
sua análise experimental de comportamento a 
muitos fenômenos psicológicos, como a apren-
dizagem, a aquisição da linguagem e a solução 
de problemas. Em grande parte, em função da 
presença muito intensa de Skinner, o behavio-
rismo dominou a disciplina da psicologia por 
muitas décadas.
Os behavioristas ousando espiar dentro da 
caixa preta
Alguns psicólogos rejeitaram o behavio-
rismo radical. Eles tinham curiosidade com 
relação aos conteúdos da caixa misteriosa. Por 
exemplo, Edward Tolman (1886-1959) achava 
que, para entender o comportamento, era ne-
cessário levar em conta seu propósito e seu pla-
no. Tolman (1932) acreditava que todo o com-
portamento era dirigido a algum objetivo. Por 
exemplo, o objetivo de um rato em um labirinto 
de laboratório pode ser encontrar a comida que 
está ali. Tol man é considerado, por vezes, um 
precursor da psicologia cognitiva moderna.
Outra crítica ao behaviorismo (Bandura, 
1977b) é que a aprendizagem pode ser conse-
qüência não apenas de recompensas diretas 
para o comportamento, como também pode 
ser social, resultando de observações das re-
compensas ou das punições dadas a outros. 
Essa visão enfatiza a forma como observamos e 
modelamos nosso comportamento com relação 
ao de outros. Aprendemos pelo exemplo. Essa 
análise da aprendizagem social abre caminho 
para examinar o que está acontecendo na men-
te do indivíduo.
Psicologia da Gestalt
Entre os muitos críticos do behaviorismo, 
os psicólogos da Gestalt talvez tenham estado 
entre os mais ávidos. A psicologia da Gestalt 
diz que entendemos melhor os fenômenos psi-
cológicos quando os vimos como todos organi-
zados e estruturados. Segundo essa visão, não 
se pode entender totalmente o comportamento 
quando desmembramos os fenômenos em par-
tes menores.
A máxima “o todo é diferente da soma das 
partes” resume bem a perspectiva da Gestalt. 
Para entender a percepção de uma fl or, por 
exemplo, teríamos que levar em conta o todo da 
experiência. Não se poderia entender essa per-
cepção em termos de uma descrição de formas, 
cores, tamanhos, e assim por diante. Do mes-
mo modo, não se poderia entender a solução 
de problemas simplesmente examinando ele-
mentos isolados do comportamento observável 
(Köhler, 1927, 1940; Wertheimer, 1945, 1959).
O SURGIMENTO DA PSICOLOGIA 
COGNITIVA
Um enfoque mais recente é o do cognitivis-
mo, a idéia de que grande parte do comporta-
mento humano pode ser entendida em termos 
de como as pessoas pensam.
O iniciar da psicobiologia
Ironicamente, um dos ex-alunos de Watson, 
Karl Spencer Lashley (1890-1958), questionou de 
modo contundente a visão behaviorista de que o 
cérebro humano é um órgão passivo, o qual ape-
nas responde às contingências ambientais fora 
do indivíduo (Gardner, 1985). Em lugar disso, 
consideravaque o cérebro era um organizador 
ativo e dinâmico do comportamento. Lashley 
procurou entender de que maneira a macro-
organização do cérebro humano tornava possí-
veis as atividades complexas e planejadas, como 
apresentações musicais, jogos e uso da lingua-
gem. Nenhuma delas era, em sua visão, explicá-
vel em termos de simples condicionamento.
Na mesma linha, mas em um nível de análi-
se diferente, Donald Hebb (1949) propôs o con-
ceito de conjuntos de células como base para a 
aprendizagem no cérebro. Esses conjuntos são 
estruturas neurais coordenadas que se desen-
volvem por meio de estimulação freqüente. 
Elas se desenvolvem com o passar do tempo, à 
medida que aumenta a capacidade de um neu-
rônio (célula nervosa) de estimular um neurô-
26 ROBERT J. STERNBERG
nio conectado a disparar. Os behavioristas não 
aproveitaram a oportunidade rara de concordar 
com Lashley e Hebb. Na verdade, o behavioris-
ta B. F. Skinner (1957) escreveu um livro inteiro 
descrevendo de que forma a aquisição e o uso 
da linguagem poderiam ser explicados unica-
mente em termos de contingências ambientais. 
Esse trabalho levou a estrutura teórica de Skin-
ner longe demais, deixando-a susceptível a ata-
ques. E um ataque estava por vir. O lingüista 
Noam Chomsky (1959) fez uma análise rigorosa 
das idéias de Skinner. Em seu artigo, Chomsky 
enfatizava tanto a base biológica quanto o po-
tencial criativo da linguagem, apontando a infi -
nita quantidade de sentenças que podemos pro-
duzir com facilidade. Sendo assim, questionava 
as noções behavioristas de que aprendemos 
línguas por meio de reforço. Mesmo as crianças 
pequenas estão permanentemente produzindo 
novas sentenças para as quais não podem ter 
sido reforçadas no passado. Chomsky afi rmou 
que nosso entendimento da língua não é condi-
cionado tanto pelo que ouvimos, mas sim por 
um dispositivo de aquisição da linguagem (lan-
guage acquisition device – LAD) inato, o qual to-
dos os seres humanos possuem. Esse dispositi-
vo possibilita ao bebê utilizar o que escuta para 
inferir a gramática de seu ambiente lingüístico. 
Em termos objetivos, o LAD limita ativamente 
o número de construções gramaticais possíveis. 
Dessa forma, é a estrutura da mente, e não a es-
trutura das contingências ambientais, que guia 
nossa aquisição da linguagem.
Relações com a tecnologia: 
engenharia e computação
No fi nal da década de 1950, alguns psicó-
logos estavam intrigados pela noção incômoda 
de que as máquinas poderiam ser programadas 
para demonstrar o processamento inteligente 
da informação (Rychlak e Struckman, 2000). 
Turing (1950) sugeriu que em pouco tempo 
seria difícil distinguir a comunicação das má-
quinas da dos seres humanos. Ele sugeriu um 
teste, atualmente chamado de “Teste de Tu-
ring”, pelo qual um programa de computador 
seria considerado bem-sucedido na medida em 
que seu resultado fosse indistinguível, por se-
res humanos, do resultado de testes com seres 
humanos (Cummins e Cummins, 2000). Em 
outras palavras, suponha que você se comuni-
casse com um computador e não soubesse que 
era um computador: ele teria passado no Teste 
de Turing (Schonbein e Bechtel, 2003). Em 1956, 
uma nova expressão havia entrado em nosso 
vocabulário. A inteligência artifi cial (IA) é uma 
tentativa dos seres humanos de construir siste-
mas que demonstrem inteligência e em particu-
lar o processamento inteligente de informação. 
(Merriam-Webster’s Collegiate Dictionary, 1993). 
Programas que jogam xadrez e que conseguem 
ganhar da maioria dos seres humanos são exem-
plos de inteligência artifi cial hoje.
No início da década de 1960, os avanços na 
psicologia, na lingüística, na antropologia e na 
inteligência artifi cial, bem como as reações ao 
behaviorismo por parte de importantes psicó-
logos, convergiram a fi m de criar uma atmos-
fera madura para a revolução. Os primeiros 
cognitivistas afi rmavam (como Miller, Galanter 
e Pribram, 1960; Newell, Shaw e Simon, 1957b) 
que as visões behavioristas tradicionais do com-
portamento eram inadequadas precisamente 
porque nada diziam sobre como as pessoas 
pensam. O livro de Ulric Neisser, Psicologia Cog-
nitiva (Neisser, 1967), foi bastante importante 
por destacar o cognitivismo, ao informar estu-
dantes de graduação, de pós-graduação e aca-
dêmicos sobre o campo que estava em desen-
volvimento. Neisser defi niu a psicologia cognitiva 
como o estudo de como as pessoas aprendem, 
Ulric Neisser é professor de psicologia na Cornell 
University. Seu livro, Psicologia Cognitiva, foi im-
portante no lançamento da revolução cognitiva da psi-
cologia. Neisser também foi um dos grandes defensores 
de uma abordagem ecológica da cognição e demonstrou 
a importância de estudar o processamento cognitivo em 
contextos ecológicos válidos.
Co
rte
sia
 d
e 
Ul
ric
 N
eis
se
r
PSICOLOGIA COGNITIVA 27
estruturam, armazenam e usam o conhecimen-
to. Tempos depois, Allen Newell e Herbert Si-
mon (1972) propuseram modelos detalhados de 
pensamento humano e solução de problemas, 
dos níveis mais básicos aos mais complexos. 
Na década de 1970, a psicologia cognitiva já era 
amplamente reconhecida como um importante 
campo de estudos psicológicos, com um con-
junto específi co de métodos de pesquisa.
MÉTODOS DE PESQUISA EM 
PSICOLOGIA COGNITIVA
Objetivos de pesquisa
Para melhor entender os métodos específi -
cos usados por psicólogos cognitivos, deve-se, 
em primeiro lugar, compreender os objetivos da 
pesquisa em psicologia cognitiva, alguns dos 
quais destacamos aqui. De modo sucinto, esses 
objetivos são a coleta de dados, o desenvolvi-
mento de teoria, a formulação de hipóteses, a 
testagem de hipóteses e, talvez, a aplicação a 
ambientes fora da pesquisa. Os pesquisadores, 
muitas vezes, buscam apenas coletar a maior 
quantidade possível de informações sobre um 
determinado fenômeno, podendo ter ou não 
noções preconcebidas com relação ao que po-
dem encontrar ao coletar os dados. Sua pes-
quisa concentra-se na descrição de fenômenos 
determinados; por exemplo, a forma como as 
pessoas reconhecem rostos e como elas desen-
volvem a especialização.
A coleta de dados refl ete um aspecto empíri-
co do empreendimento científi co. Uma vez que 
haja dados sufi cientes sobre o fenômeno cogni-
tivo de interesse, os psicólogos cognitivos usam 
vários métodos para fazer inferências a partir 
deles. Em termos ideais, usam diversos tipos de 
evidências convergentes para dar sustentação a 
suas hipóteses. Às vezes, uma rápida observa-
ção dos dados leva a inferências intuitivas com 
relação dos padrões que surgem a partir deles. 
Contudo, é mais usual os pesquisadores usarem 
vários meios estatísticos para analisar os dados.
A coleta de dados e a análise estatística au-
xiliam os pesquisadores na descrição de fenô-
menos cognitivos. Nenhum empreendimento 
científi co iria muito longe sem essas descrições. 
Entretanto, a maioria dos psicólogos cognitivos 
quer entender mais do que o que da cognição, 
sendo que a maior parte deles também busca 
entender o como e o porquê do pensamento. Ou 
seja, os pesquisadores buscam formas de expli-
car a cognição, bem como de descrevê-la. Para 
ir além das descrições, os psicólogos cognitivos 
devem dar um salto, passando daquilo que se 
observa diretamente ao que pode ser inferido 
com relação às observações.
Suponhamos que se queira estudar um de-
terminado aspecto da cognição. Um exemplo 
seria a forma como as pessoas compreendem 
informações em livros-texto. Em geral, começa-
mos com uma teoria. Uma teoria é um corpo or-
ganizado de princípios explicativos gerais com 
relação a um fenômeno. Ela gera hipóteses, 
propostas experimentais acerca de conseqüên-
cias empíricas esperadas da teoria, tais como os 
resultados de pesquisa. A seguir, tenta-se testar 
a teoria e, assim, ver se ela temo poder de pre-
dizer certos aspectos do fenômeno em questão. 
Em outras palavras, nosso processo de pensa-
mento é: “se nossa teoria estiver correta, sempre 
que x ocorrer, o resultado deverá ser y”.
A seguir, testamos nossas hipóteses por 
meio da experimentação. Mesmo se certas 
conclusões parecerem confirmar uma dada 
hipótese, elas devem ser submetidas à análise 
estatística a fi m de determinar sua signifi cância 
Herbert A. Simon foi professor de ciência da compu-
tação e psicologia na Carnegie-Mellon University. É 
conhecido por seu trabalho pioneiro com Allen Newell 
e outros na construção e na testagem de modelos de 
computador que simulavam o pensamento humano e 
por seus testes experimentais desses modelos. Também 
foi um importante defensor dos protocolos “de pensar 
em voz alta” para o estudo do processamento cognitivo. 
Simon faleceu em 2001.
Co
rte
sia
 d
e 
He
rb
er
t A
. S
im
on
28 ROBERT J. STERNBERG
estatística. A signifi cância estatística indica a 
probabilidade de que um determinado conjun-
to de resultados venha a ser obtido se houver 
apenas fatores aleatórios em operação.
Uma vez que nossas predições hipotéticas 
tenham sido testadas experimentalmente e ana-
lisadas estatisticamente, as conclusões desses 
experimentos podem levar a outros trabalhos. 
Por exemplo, o psicólogo pode realizar mais 
coleta de dados, análise de dados, desenvolvi-
mento de teoria, formulação e testagem de hi-
póteses. Além disso, muitos psicólogos cogni-
tivos têm esperanças de usar os conhecimentos 
obtidos a partir da pesquisa para ajudar as pes-
soas a usar a cognição em situações reais. Al-
gumas pesquisas em psicologia cognitiva são 
aplicadas desde o seu início, buscando ajudar 
as pessoas a melhorar suas vidas e as condições 
Co
rte
sia
 d
e 
Lu
dy
 T.
 B
en
ja
mi
n 
Jr.
Psicologia Pop – está por 
toda parte! O público ado-
ra; os psicólogos detestam. 
É o material da televisão, 
dos fi lmes, dos livros, das 
peças de teatro e das re-
vistas. Penetrou fundo na 
vida dos Estados Unidos, 
e assim tem sido desde o 
século XIX, quando os frenologistas mediam as 
saliências nas cabeças das pessoas para orientá-
las com relação a suas escolhas profi ssionais, 
os fi sionomistas analisavam as características 
faciais (por exemplo, formato do queixo ou do 
nariz) para ajudar os executivos de empresas 
a decidir quem deveria ser contratado ou pro-
movido, ou os grafólogos estudavam amostras 
de escrita à mão para ajudar os indivíduos a 
encontrar parceiros compatíveis para o casa-
mento. Quando a psicologia científi ca chegou 
às universidades norte-americanas no fi nal do 
século XIX, esses novos psicólogos procuraram 
desalojar a velha psicologia, tentando conven-
cer o público da validade de sua abordagem e 
do caráter absurdo do que rotulavam de pseu-
dopsicologia.
Em nosso programa de pesquisa, estamos 
examinando as diferenças entre essas duas psi-
cologias, em uma tentativa de entender por que 
o público continuou a aceitar as afi rmações da 
psicologia não-científi ca. Nosso programa é his-
tórico, parte de uma atividade acadêmica cres-
cente em história social e história da ciência, a 
qual inclui a história da psicologia. Como pes-
quisa histórica, nosso trabalho é empírico, mas 
não experimental. Já estudamos a psicologia po-
pular de várias maneiras, incluindo a análise de 
artigos de enciclopédia do século XIX e do início 
do século XX (Benjamin et al., 1997) e o exame 
de muitos levantamentos sobre a imagem que o 
público tem da psicologia (Wood, Jones e Benja-
min, 1986). Hoje em dia, estamos nos dedicando 
às revistas norte-americanas de psicologia po-
pular (mais de 50 títulos diferentes) que foram 
publicadas entre 1900 e 1960. Essas revistas pro-
moveram a crença de que seus conteúdos aju-
dariam os leitores a adquirir saúde, felicidade e 
sucesso (Ben jamin e Bryant, 1997).
Até o momento, examinamos mais de mil 
dessas revistas, estudando seus artigos e suas 
propagandas. Estamos tentando identifi car te-
mas, como casamento, criação de fi lhos, sexo 
e satisfação no emprego, que sejam constantes 
entre as publicações do mesmo período, mas 
que possam mudar com o passar do tempo, e 
estamos comparando esses temas com o que 
estava sendo publicado ao mesmo tempo na 
psicologia científi ca e com o que eram os temas 
que permeavam a cultura dos Estados Unidos 
naquela época. Por exemplo, a década de 1920 
marcou uma virada na história norte-americana 
com relação às oportunidades para as mulhe-
res. Descobrimos que as revistas de psicologia 
popular falavam aos interesses dessas mulhe-
res; poucos psicólogos ou poucas publicações 
de psicologia demonstravam qualquer inte-
resse desse tipo. Essas diferenças, com certeza, 
poderiam ser parcialmente responsáveis pelo 
fato de o público aceitar as afi rmações da psi-
cologia popular e rejeitar as contraposições da 
psicologia científi ca. O tópico é interessante por 
si só, mas descobrir as razões para o apelo da 
psicologia popular tem mais importância. Esse 
entendimento é fundamental para que a ciência 
e a prática modernas da psicologia cheguem 
com efi cácia ao público.
NO LABORATÓRIO DE LUDY T. BENJAMIN, JR.
PSICOLOGIA COGNITIVA 29
sob as quais vivem. Sendo assim, a pesquisa 
básica pode levar a aplicações cotidianas. Para 
cada um desses propósitos, diferentes métodos 
de pesquisa oferecem vantagens e desvanta-
gens diferenciadas.
Diversos métodos de pesquisa
Os psicólogos cognitivos usam vários mé-
todos para explorar como os seres humanos 
pensam. Entre eles, estão (a) experimentos de 
laboratório e outros experimentos controlados, 
(b) pesquisa psicológica, (c) auto-avaliações, (d) 
estudos de caso, (e) observação naturalista e (f) 
simulações por computador e inteligência arti-
fi cial (ver Tabela 1.1 para descrições e exemplos 
de cada método). Como mostra a Tabela 1.1, 
cada método oferece vantagens e desvantagens 
que o diferenciam dos outros.
Experimentos com o comportamento humano
Nos desenhos experimentais controlados, 
o pesquisador realiza pesquisa geralmente em 
um ambiente de laboratório. Ele controla o 
maior número possível de aspectos da situação 
experimental. A seguir, manipula as variáveis 
independentes. Controla os efeitos das variá-
veis irrelevantes e observa os efeitos das variá-
veis dependentes (resultados).
Ao implementar o método experimental, o 
pesquisador deve usar uma amostra represen-
tativa da população de interesse, exercer con-
trole rigoroso sobre as condições experimentais 
e, além disso, atribuir aleatoriamente partici-
pantes às condições de tratamento e controle. 
Se esses requisitos para o método experimental 
forem cumpridos, o pesquisador pode ser capaz 
de inferir causalidade provável. Essa inferência 
se dá com relação aos efeitos da variável ou va-
riáveis independentes (o tratamento) sobre a 
variável dependente (o resultado).
Suponhamos que os resultados na condição 
de tratamento mostrem uma diferença estatisti-
camente signifi cativa em relação aos resultados 
na condição de controle. O pesquisador pode, 
então, inferir a probabilidade de um vínculo 
causal entre a(s) variável(is) independente(s) e a 
variável dependente. Como o pesquisador pode 
estabelecer um vínculo causal provável entre as 
variáveis independentes dadas e as variáveis 
dependentes, os experimentos de laboratório 
controlados oferecem um meio excelente de tes-
tar hipóteses.
Por exemplo, suponhamos que quiséssemos 
verifi car se ruídos altos e distrativos infl uen-
ciam a capacidade de desempenhar bem uma 
determinada tarefa cognitiva (por exemplo, ler 
uma passagem de um livro-texto e responder a 
questões de compreensão). Em termos ideais, a 
princípio, selecionaríamos uma amostra aleató-
ria de participantes entre o total de nossapopu-
lação de interesse. A seguir, atribuiríamos ale-
atoriamente cada participante a uma condição 
de tratamento ou a uma condição de controle. 
Apresentaríamos algum ruído distrativo aos 
participantes de nossa condição de tratamento, 
e os participantes de nossa condição de contro-
le não receberiam esse tratamento. Apresenta-
ríamos a tarefa cognitiva aos participantes das 
duas condições. A seguir, mediríamos seu de-
sempenho de algumas maneiras (por exemplo, 
velocidade e precisão de respostas a questões 
de compreensão). Por fi m, analisaríamos nossos 
resultados estatisticamente. Logo após, exami-
naríamos se a diferença entre os dois grupos 
alcança signifi cância estatística. Suponhamos 
que os participantes da condição de tratamento 
demonstrassem desempenho mais baixo do que 
os da condição de controle em um nível esta-
tisticamente signifi cativo. Nesse caso, podería-
mos inferir que ruídos altos distrativos de fato 
infl uenciaram a capacidade de ter bom desem-
penho nessa tarefa cognitiva específi ca.
Na pesquisa em psicologia cognitiva, as 
variáveis dependentes podem ser muito di-
versifi cadas, mas envolvem, com freqüência, 
várias medidas de resultados em termos de 
precisão (como a freqüência de erros), de tempo 
de resposta ou de ambos. Entre as muitas pos-
sibilidades de variáveis independentes estão 
as características da situação, da tarefa ou dos 
participantes. Por exemplo, as características 
da situação podem envolver a presença versus 
a ausência de determinados estímulos ou de 
certas pistas durante uma tarefa de solução de 
problemas. As características da tarefa podem 
envolver leitura versus escuta de uma série de 
palavras e depois a resposta a perguntas de 
compreensão. As características dos participan-
tes podem incluir diferenças etárias, diferenças 
na situação educacional ou diferenças baseadas 
em escores em testes.
30 ROBERT J. STERNBERG
TABELA 1.1 Métodos de pesquisa
Os psicólogos cognitivos usam experimentos controlados, pesquisa psicobiológica, auto-
avaliações, observação naturalista e simulações por computador e inteligência artifi cial para 
estudar fenômenos cognitivos.
MÉTODO
EXPERIMENTOS DE
LABORATÓRIO
CONTROLADOS
PESQUISA 
PSICOBIOLÓGICA
AUTO-AVALIAÇÕES, COMO 
PROTOCOLOS VERBAIS, 
AUTOCLASSIFICAÇÕES, DIÁRIOS 
Descrição do método Obter amostras de desempenho 
em tempo e lugar determinados 
Estudar os cérebros
humanos e animais,
usando estudos post-mortem e várias 
medidas
psicobiológicas ou
técnicas de imagem
(ver Capítulo 2)
Obter relatórios dos participantes 
sobre sua própria cognição em anda-
mento ou como lembrança
Validade de inferências 
causais: atribuição aleató-
ria de sujeitos
Geralmente Geralmente não Não se aplica
Validade de inferências 
causais: controle expe-
rimental de variáveis 
independentes
Geralmente Varia muito, dependendo da técnica 
específi ca
Provavelmente não
Amostras: tamanho Podem ser de qualquer tamanho Muitas vezes, são pequenas Provavelmente pequenas
Amostras: representati-
vidade
Podem ser representativas Muitas vezes, não são representa-
tivas
Podem ser representativas
Validade ecológica Não é improvável; depende da 
tarefa e do contexto a que está 
sendo aplicada
Improvável sob certas circunstâncias Talvez; ver pontos fortes e fracos
Informação sobre diferen-
ças individuais
Geralmente pouco enfatizadas Sim Sim
Pontos fortes Facilidade de administração, de 
contagem e de análise estatística 
torna relativamente fácil aplicar 
a amostras representativas de 
uma população; probabilidade 
relativamente alta de fazer infe-
rências causais válidas
Proporciona evidências “brutas” das 
funções cognitivas ao relacioná-las 
à atividade fi siológica; oferece uma 
visão alternativa do processo que 
não está disponível por outros meios; 
pode levar a possibilidades para o 
tratamento de pessoas com défi cits 
cognitivos sérios
Acesso aos insights introspectivos a 
partir do ponto de vista dos partici-
pantes, não podendo ser acessada por 
outros meios
Pontos fracos Incapacidade de relatar sobre proces-
so que ocorrem fora da consciência
Protocolos verbais e autoclassifi ca-
ções:
A coleta de dados pode infl uenciar os 
processos cognitivos sendo relatados.
Lembranças:
Possíveis discrepâncias entre cogni-
ção real e processos e produtos cogni-
tivos lembrados
Exemplos David Meyer e Roger Schvane-
veldt (1971) desenvolveram uma 
tarefa de laboratório na qual 
apresentavam muito brevemente 
duas seqüências de letras (pa-
lavras ou pseudopalavras) aos 
sujeitos e pediam-lhes que to-
massem uma decisão sobre cada 
seqüência de letras, tal como 
decidir se as letras formavam 
uma palavra legítima ou se uma 
palavra pertencia a uma catego-
ria indicada
Elizabeth Warrington e Tim Shallice 
(1972; Shallice e Warrington, 1970) 
observaram que as lesões no lobo 
parietal esquerdo do cérebro são as-
sociadas a défi cits sérios em memó-
ria de curto prazo (breve, ativa), mas 
a nenhum prejuízo da memória de 
longo prazo. No entanto, as pessoas 
com lesões nas regiões temporais 
(mediais) do cérebro apresentam me-
mória de curto prazo relativamente 
normal, mas graves défi cits na me-
mória de longo prazo (Shallice, 1979; 
Warrington, 1982)
PSICOLOGIA COGNITIVA 31
ESTUDOS DE CASO
OBSERVAÇÕES
NATURALISTAS
SIMULAÇÕES POR
COMPUTADOR E
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA)
Desenvolver estudos intensivos de indiví-
duos, tirando conclusões gerais sobre com-
portamento
Observar situações reais, como em 
salas de aula, ambientes de traba-
lho ou casas
Simulações: tentativas de fazer com que compu-
tadores simulem o desempenho cognitivo huma-
no em diversas tarefas
IA: tentativa de fazer com que computadores 
demonstrem desempenho cognitivo inteligente, 
independentemente de o processo se assemelhar 
ao processamento cognitivo humano.
Altamente improvável Não se aplica Não se aplica
Altamente improvável Não Controle total de variáveis de interesse
Quase certamente pequeno Provavelmente pequeno Não se aplica
Não é provável que seja representativo Pode ser representativo Não se aplica
Alta validade ecológica para casos indivi-
duais; capacidade de generalização mais baixa 
a outros
Sim Não se aplica
Sim; informações ricamente detalhadas com 
relação a indivíduos
É possível, mas a ênfase está nas 
distinções ambientais e não nas 
diferenças individuais
Não se aplica
Acesso a informações ricamente detalhadas 
com relação a indivíduos, incluindo infor-
mações sobre contextos históricos e atuais, 
que podem não estar disponíveis por outros 
meios; pode levar a aplicações especializadas 
para grupos de indivíduos excepcionais (como 
prodígios, pessoas com lesões cerebrais)
Acesso a ricas informações contex-
tuais, que podem não estar dispo-
níveis por outros meios.
Possibilita explorar uma ampla gama de possibi-
lidades para modelar processos cognitivos; possi-
bilita testar claramente se as hipóteses predizem 
com precisão os resultados; pode levar a uma 
ampla gama de aplicações práticas (por exemplo, 
robóticas, para realizar tarefas perigosas ou em 
ambientes de risco)
Aplicabilidade a outras pessoas; o tamanho 
pequeno e a não-representatividade da amos-
tra geralmente limita a capacidade de genera-
lização à população
Falta de controle experimental; 
possível infl uência no comporta-
mento naturalista devido à pre-
sença do observador
Limitações impostas pelos limites do hardware 
(por exemplo, hardware do computador) e do 
software (os programas escritos pelos pesquisa-
dores); distinções entre inteligência humana e 
inteligência de máquinas – mesmo em simulações 
envolvendo técnicas sofi sticadas de modelagem, 
as simulações podem modelar com imperfeição a 
forma como o cérebro humano pensa
Howard Gruber (1974/1981) conduziuum es-
tudo de caso sobre Charles Darwin, exploran-
do em profundidade o contexto psicológico da 
criatividade intelectual
Michael Cole (Cole, Gay, Glik & 
Sharp, 1971) investigaram mem-
bros da tribo Kpelle na África, 
comparando suas defi nições de 
inteligência com as ocidentais, 
examinando o modo como as 
defi nições culturais de inteligência 
infl uenciam o comportamento 
inteligente 
Simulações: Por meio de computações deta-
lhadas, David Marr (1982) tentou simular a 
perecepção visual humana e propôs uma teoria 
da percepção visual baseada em seus modelos de 
computadores.
IA: Vários programas de IA fora criados que 
podem demonstrar perícia (por exemplo, jogar 
xadrez), mas esses programas provavelmente re-
solvem problemas utilizando-se de processos dis-
tintos daqueles empregados por peritos humanos
32 ROBERT J. STERNBERG
Por um lado, as características da situação 
ou tarefa podem ser manipuladas por meio de 
atribuição aleatória dos participantes ao grupo 
de tratamento ou de controle; por outro, essas 
características não são facilmente manipuladas 
de forma experimental. Por exemplo, suponha 
que o investigador queira estudar os efeitos do 
envelhecimento sobre a velocidade e sobre a 
precisão da solução de problemas. O pesquisa-
dor não pode atribuir aleatoriamente os parti-
cipantes a vários grupos porque as idades das 
pessoas não podem ser manipuladas (embora 
participantes de vários grupos etários possam 
ser atribuídos de maneira aleatória a várias 
condições experimentais). Nessas situações, os 
pesquisadores, muitas vezes, usam outros tipos 
de estudos, como os que envolvem correlação 
(uma relação estatística entre dois ou mais atri-
butos, como características dos participantes ou 
da situação). As correlações são expressas como 
números em uma escala que começa em –1,00 
(uma correlação negativa), passa por 0 (sem 
correlação) e chega a 1,00 (correlação positiva). 
Por exemplo, pode-se esperar uma correlação 
negativa entre fadiga e vigilância. Provavel-
mente não haveria qualquer correlação entre 
inteligência e comprimento do lobo da orelha, 
e seria provável uma correlação entre tamanho 
do vocabulário e compreensão de leitura.
As conclusões das relações estatísticas são 
altamente informativas. Seu valor não deveria 
ser subestimado. Além disso, como os estudos 
correlacionais não exigem a atribuição aleató-
ria de participantes a condições de tratamento 
e controle, esses métodos podem ser aplicados 
com fl exibilidade. Entretanto, tais estudos ge-
ralmente não permitem inferências inequívo-
cas com relação à causalidade. Como resul-
tado, muitos psicólogos cognitivos preferem 
fortemente os dados experimentais aos dados 
correlacionais.
Pesquisa psicobiológica
Por meio da pesquisa psicobiológica, os inves-
tigadores estudam a relação entre desempenho 
cognitivo e eventos e estruturas cerebrais. O 
Capítulo 2 descreve várias técnicas específi cas 
usadas na pesquisa psicobiológica, as quais ge-
ralmente caem em três categorias. A primeira 
delas é a das técnicas para estudar o cérebro de 
um indivíduo post -mortem (depois de sua mor-
te), estabelecendo relações entre seu funciona-
mento cognitivo antes da morte e características 
observáveis no cérebro. A segunda categoria é 
a das técnicas para estudar imagens mostran-
do estruturas ou atividades no cérebro de um 
indivíduo que se sabe ter um determinado dé-
fi cit cognitivo. A terceira é a das técnicas para 
se obter informações sobre processos cerebrais 
durante o desempenho normal de uma ativida-
de cognitiva.
Os estudos post-mortem ofereceram algu-
mas das primeiras visões acerca de como lesões 
específi cas (em determinadas localizações cere-
brais) podem ser associadas com défi cits cog-
nitivos específi cos. Esses estudos continuam 
fornecendo visões úteis de como o cérebro in-
fl uencia o funcionamento cognitivo. Avanços 
tecnológicos recentes também têm possibilitado 
cada vez mais que os pesquisadores estudem 
indivíduos com défi cits cognitivos conhecidos 
in vivo (enquanto o indivíduo ainda está vivo). 
O estudo de indivíduos com funções cognitivas 
anormais vinculadas a lesões cerebrais, muitas 
vezes, melhora nosso entendimento das fun-
ções cognitivas normais.
Além disso, os pesquisadores da psicologia 
estudam alguns aspectos do funcionamento 
cognitivo normal estudando a atividade cere-
bral em participantes animais. Os pesquisado-
res, em geral, usam animais para experimentos 
envolvendo procedimentos neurocirúrgicos que 
não podem ser realizados em seres humanos, 
pois seriam difíceis, antiéticos ou impraticáveis. 
Por exemplo, estudos que mapeiem a atividade 
neural no córtex foram realizados em gatos ou 
macacos (como a pesquisa psicobiológica sobre 
como o cérebro responde a estímulos visuais; 
ver Capítulo 4).
O funcionamento cognitivo e cerebral de 
animais e de seres humanos anormais pode 
ser generalizado e aplicado ao funcionamento 
cognitivo de seres humanos normais? Os psicó-
logos responderam a essas perguntas de várias 
formas. A maioria delas ultrapassa os limites 
deste capítulo (ver Capítulo 2). Apenas como 
exemplo, para alguns tipos de atividade cog-
nitiva, a tecnologia disponível permite que os 
pesquisadores estudem a atividade cerebral di-
nâmica de participantes humanos normais du-
rante o processamento cognitivo (ver Técnicas 
de Imagem Cerebral descritas no Capítulo 2).
PSICOLOGIA COGNITIVA 33
Auto-avaliações, estudos de caso e 
observação naturalista
Experimentos individuais e estudos psico-
biológicos, na maior parte das vezes, se concen-
tram na especifi cação precisa de determinados 
aspectos da cognição nos indivíduos. Para se 
obter informações ricamente detalhadas so-
bre como determinados indivíduos pensam 
em uma ampla gama de contextos, os pesqui-
sadores podem usar outros métodos, os quais 
incluem auto-avaliações ou auto-relatos(a descri-
ção de processos cognitivos pelo próprio indi-
víduo), estudos de caso (estudos em profun-
didade de indivíduos) e observação naturalista 
(estudos detalhados do desempenho cognitivo 
em situações cotidianas e contextos fora de la-
boratório). Por um lado, a pesquisa experimen-
tal é mais útil para testar hipóteses. Por outro, 
a pesquisa baseada em auto-avaliações, estudos 
de caso e observação naturalista costuma ser 
bastante útil para formular hipóteses.
A confi abilidade de dados baseados em vá-
rios tipos de auto-avaliações depende da sin-
ceridade dos participantes que fornecem essas 
avaliações. Eles podem ser completamente ver-
dadeiros, mas as avaliações que envolvem infor-
mações da memória (como diários, descrições 
em retrospectiva, questionários e levantamentos) 
são, na verdade, menos confi áveis do que as for-
necidas durante o processamento cognitivo sob 
investigação. A razão é que os participantes, às 
vezes, se esquecem do que fi zeram. Ao estudar 
processos cognitivos complexos, como solução 
de problemas ou tomada de decisões, os pesqui-
sadores muitas vezes usam um protocolo verbal. 
Em um protocolo verbal, os participantes descre-
vem em voz alta todos os seus pensamentos e as 
suas idéias durante a realização de uma determi-
nada tarefa cognitiva (por exemplo, “gosto mais 
do apartamento com a piscina, mas não posso 
pagar, então tenho que escolher...”).
Uma alternativa a um protocolo verbal é 
os participantes relatarem informações espe-
cífi cas com relação a um determinado aspecto 
de seu processamento cognitivo. Considere-
mos, por exemplo, um estudo de solução de 
problemas por meio de insight (ver Capítulo 
11). Pediu-se que os participantes relatassem, 
em intervalos de 15 segundos, classifi cações 
numéricas indicando o quanto pensavam estar 
próximos de chegar a uma solução para um 
dado problema. Infelizmente, até mesmo esses 
métodos de auto-avaliação têm suas limita-
ções.Como exemplo, os processos cognitivos 
podem ser alterados pelo ato de apresentar o 
relatório (como processos envolvendo formas 
breves de memória; ver Capítulo 5). Outro 
exemplo: os processos cognitivos podem ocor-
rer fora da consciência (como os que não exi-
gem atenção consciente ou que acontecem de 
forma tão rápida, que não conseguimos notá-
los; ver Capítulo 3). Para entender algumas 
das difi culdades das auto-avaliações, faça as 
seguintes tarefas propostas na seção “Inves-
tigando a Psicologia Cognitiva”. Refl ita sobre 
suas experiências com auto-avaliações.
Individualmente, faça uma das seguintes 
séries de perguntas à metade de seus amigos, 
e à outra metade, a outra série. Peça-lhes que 
respondam o mais rápido que puderem:
INVESTIGANDO 
A PSICOLOGIA 
COGNITIVA
 1. Sem olhar para seus sapatos, tente relatar em voz alta os vários pas-
sos envolvidos no ato de amarrá-los.
 2. Recorde em voz alta o que você fez em seu último aniversário.
 3. Agora, amarre seus sapatos de verdade (ou outra coisa, como um 
barbante em torno da perna de uma mesa), relatando em voz alta os 
passos que realiza. Você observa alguma diferença entre a Tarefa 1 e 
a Tarefa 3?
 4. Relate em voz alta como você trouxe para a consciência os passos 
envolvidos em amarrar seus sapatos ou as memórias que tem de seu 
último aniversário. Você pode relatar com exatidão como trouxe as 
informações para a consciência? Consegue relatar qual parte de seu 
cérebro estava mais ativa durante cada uma dessas tarefas?
34 ROBERT J. STERNBERG
Conjunto 1:
 1. O que o bicho-da-seda tece?
 2. Qual é um material conhecido para fazer 
roupas que vem do bicho-da-seda?
 3. O que as vacas bebem?
Conjunto 2:
 1. O que as abelhas fazem?
 2. O que cresce nos campos que é poste-
riormente transformado em material 
para roupas?
 3. O que as vacas bebem?
Muitos de seus amigos, quando chegarem à 
pergunta 3, no Conjunto 1, dirão “leite”, quan-
do todos sabemos que as vacas bebem água. A 
maioria dos seus amigos que responderem ao 
Conjunto 2 dirá “água”, e não leite. Você aca-
ba de realizar um experimento. O método do 
experimento divide as pessoas em dois grupos 
iguais, muda um aspecto entre os dois grupos 
(em seu caso, você fez uma série de pergun-
tas antes de fazer uma pergunta importante) e 
mede a diferença entre os dois grupos. O nú-
mero de erros é o que você está medindo, e é 
provável que seus amigos do grupo 1 cometam 
mais erros do que os do grupo 2.
Os estudos de caso (por exemplo, o estudo 
de indivíduos excepcionalmente dotados) e as 
observações naturalistas (como a observação 
de indivíduos operando em usinas nucleares) 
podem ser usados para complementar con-
clusões de experimentos de laboratório. Os 
primeiros dois métodos de pesquisa cognitiva 
oferecem alta validade ecológica – o grau no 
qual conclusões específi cas em um contexto 
ambiental podem ser consideradas relevantes 
fora daquele contexto. Como você talvez saiba, 
a ecologia é o estudo do relacionamento inte-
rativo entre um organismo (ou organismos) e 
seu ambiente. Muitos psicólogos cognitivos 
buscam entender o relacionamento interativo 
entre processos de pensamento humano e os 
ambientes nos quais os seres humanos estão 
pensando. Às vezes, os processos cognitivos 
que são comumente observados em um am-
biente (por exemplo, em um laboratório) não 
são idênticos àqueles observados em outro 
(como em uma torre de controle de tráfego aé-
reo ou em uma sala de aula).
Simulações por computador e 
inteligência artifi cial
Os computadores digitais cumpriram um 
papel fundamental no surgimento do estudo 
da psicologia cognitiva. Um tipo de infl uência 
é a direta – por meio de modelos de cognição 
humana baseados na forma como os computa-
dores processam a informação. Outro tipo é di-
reto – por meio de simulações por computador 
e inteligência artifi cial.
Nas simulações, os pesquisadores progra-
mam os computadores para imitar uma deter-
minada função ou um processo humano. Entre 
os exemplos, estão o desempenho em tarefas 
cognitivas específi cas (como a manipulação de 
objetos no espaço tridimensional) e o desem-
penho de determinados processos cognitivos 
(como o reconhecimento de padrões). Alguns 
pesquisadores até já tentaram criar modelos de 
computador de toda a arquitetura cognitiva da 
mente humana. Seus modelos estimularam dis-
cussões acaloradas sobre como pode ser o fun-
cionamento da mente como um todo (ver Capí-
tulo 8). Por vezes, a distinção entre simulação e 
inteligência artifi cial não é clara. Um exemplo 
seria o de certos programas projetados para si-
mular o desempenho humano e maximizar o 
funcionamento ao mesmo tempo.
Juntando tudo
Os psicólogos cognitivos, muitas vezes, 
ampliam e aprofundam seu entendimento da 
cognição por meio da pesquisa na ciência cogni-
tiva. A ciência cognitiva é um campo transdis-
ciplinar que usa idéias e métodos da psicologia 
cognitiva, psicobiologia, inteligência artifi cial, 
fi losofi a, lingüística e antropologia (Nickerson, 
2003; Von Eckardt, 2003). Os cientistas da cog-
nição usam essas idéias e esses métodos a fi m 
de tratar do estudo de como os seres humanos 
adquirem e usam o conhecimento. Os psicólo-
gos cognitivos também fazem uso do trabalho 
conjunto com outros tipos de psicólogos. Entre 
os exemplos estão os psicólogos sociais (como 
no campo transdisciplinar da cognição social), 
os psicólogos que estudam a motivação e a emo-
ção, e os profi ssionais da chamada psicologia da 
engenharia (engineering psychologists, ou seja, os 
psicólogos que estudam a interação entre seres 
humanos e máquinas).
PSICOLOGIA COGNITIVA 35
QUESTÕES FUNDAMENTAIS E CAMPOS 
DA PSICOLOGIA COGNITIVA
No decorrer deste capítulo, fi zemos alusões 
a alguns dos temas fundamentais que surgem 
no estudo da psicologia cognitiva. Como esses 
sistemas aparecem repetidas vezes nos vários 
capítulos deste livro, segue-se um sumário. Al-
gumas dessas questões vão ao próprio âmago 
da natureza da mente humana.
Temas subjacentes ao estudo da 
psicologia cognitiva
Se revisarmos as principais idéias deste ca-
pítulo, descobriremos alguns dos temas centrais 
que são subjacentes a toda a psicologia cogniti-
va. Eis sete deles:
 1. Inato versus adquirido: Qual é mais in-
fl uente na cognição humana: aquilo que 
nos é inato ou o que adquirimos? Se acre-
ditarmos que as características inatas da 
cognição humana são mais importantes, 
poderemos concentrar nossa pesquisa no 
estudo dessas características. Se acreditar-
mos que o ambiente cumpre um papel im-
portante na cognição, poderemos realizar 
uma pesquisa explorando de que forma 
as características distintivas do ambiente 
parecem infl uenciar a cognição. Hoje em 
dia, a maioria dos estudiosos acredita que 
os fatores inatos e os adquiridos intera-
gem em quase tudo o que fazemos.
 2. Racionalismo versus empirismo: Como po-
demos descobrir a verdade sobre nós mes-
mos e sobre o mundo em que vivemos? 
Devemos fazê-lo tentando raciocinar logi-
camente, com base no que já sabemos? Ou 
devemos fazê-lo observando e testando 
nossas observações sobre o que percebe-
mos por meio de nossos sentidos?
 3. Estruturas versus processos: devemos es-
tudar as estruturas (conteúdos, atributos 
e produtos) da mente humana? Ou de-
vemos nos concentrar nos processos de 
pensamento humano?
 4. Generalidade de domínio versus especifi ci-
dade de domínio: Os processos que obser-
vamos são limitados a domínios únicos 
ou são gerais para uma série de domí-
nios? As observações em um domínio se 
aplicam a todos ou apenas aos domínios 
específi cos observados?
 5. Validade das inferências causais versus va-
lidade ecológica: Devemos estudar a cog-
nição usando experimentos altamente 
controlados que aumentam a probabili-
dade de inferências válidas comrelação 
à causalidade? Ou devemos usar técni-
cas mais naturalistas, que aumentam a 
probabilidade de se chegar a conclusões 
ecologicamente válidas, mas possivel-
mente à custa de controle experimental?
 6. Pesquisa aplicada versus pesquisa básica: 
Devemos realizar pesquisa sobre pro-
cessos cognitivos fundamentais? Ou de-
vemos estudar formas de ajudar as pes-
soas a usar a cognição de modo efi caz 
em situações práticas? Os dois tipos de 
pesquisa podem ser combinados dialeti-
camente, de forma que a pesquisa básica 
leve à pesquisa aplicada, que leva a mais 
pesquisa básica, e assim por diante?
 7. Métodos biológicos versus métodos comporta-
mentais: devemos estudar o cérebro e seu 
funcionamento diretamente, talvez, até 
mesmo, fazendo escaneamentos no cére-
bro enquanto as pessoas realizam tarefas 
cognitivas? Ou devemos estudar o com-
portamento das pessoas em tarefas cogni-
tivas, observando medidas como porcen-
tagem de acertos e tempo de reação?
Embora muitas dessas perguntas sejam apre-
sentadas na forma excludente “ou...ou”, lembre-
se de que, muitas vezes, uma síntese de visões 
ou métodos se mostra mais útil do que uma ou 
outra posição extrema. Por exemplo, nossas ca-
racterísticas inatas podem proporcionar uma 
estrutura herdada para nossas características e 
para nossos padrões distintivos de pensamento e 
ação, mas o que adquirimos pode moldar as ma-
neiras específi cas nas quais nós desenvolvemos 
essa estrutura. Podemos usar métodos empíricos 
para coletar dados e testar hipóteses, mas pode-
mos usar métodos racionalistas para interpretar 
os dados, construir teorias e formular hipóteses 
baseadas em teorias. Nosso entendimento da 
cognição se aprofunda quando consideramos 
a pesquisa básica sobre os processos cognitivos 
36 ROBERT J. STERNBERG
fundamentais e a pesquisa aplicada com relação 
aos usos efetivos da cognição em ambientes da 
vida real. As sínteses estão evoluindo de modo 
permanente. Aquilo que hoje pode ser visto 
como síntese, amanhã pode ser considerado 
como uma posição extrema, e vice-versa.
IDÉIAS FUNDAMENTAIS NA 
PSICOLOGIA COGNITIVA
Algumas idéias fundamentais parecem sur-
gir com freqüência na psicologia cognitiva, inde-
pendentemente dos fenômenos específi cos estu-
dados. A seguir, são apresentadas o que se pode 
considerar como cinco idéias fundamentais.
 1. Os dados na psicologia cognitiva só podem 
ser entendidos completamente no contexto 
de uma teoria explicativa, mas as teorias são 
vazias sem dados empíricos.
A ciência não é apenas um conjunto 
de fatos coletados de forma empírica. Em 
lugar disso, comporta fatos que são ex-
plicados e organizados por teorias cien-
tífi cas. As teorias dão sentido aos dados. 
Por exemplo, suponhamos que se saiba 
que a capacidade das pessoas de reco-
nhecer informações que já tenham visto 
é melhor que sua capacidade de recordar 
essas informações. Como exemplo, elas 
são melhores em reconhecer se ouviram 
uma palavra dita em uma lista do que 
em se lembrar da palavra sem que ela 
seja apresentada. Essa é uma generaliza-
ção empírica interessante; no entanto, a 
ciência exige que sejamos capazes não só 
de fazer a generalização, como também 
de entender por que a memória funciona 
assim. Um objetivo importante da ciên-
cia é a explicação. Na ausência de uma 
teoria, uma generalização empírica não 
oferece uma explicação. Outro aspecto 
importante é que a teoria nos ajuda a en-
tender as limitações das generalizações 
empíricas, além de quando e por que 
elas ocorrem. Por exemplo, uma teoria 
proposta por Tulving e Thomson (1973) 
sugeria que, na verdade, o reconheci-
mento nem sempre deveria ser melhor 
do que a recordação. Um objetivo im-
portante da ciência também é a predição. 
A teoria de Tulving e Thomson levou-os 
a predizer as circunstâncias sob as quais 
a recordação deveria ser melhor do que 
o reconhecimento. Uma coleta de dados 
posterior provou que eles estavam cer-
tos. Em determinadas circunstâncias, a 
recordação é até melhor do que o reco-
nhecimento. A teoria, assim, sugeriu em 
que circunstâncias, entre as muitas que 
se examinam, deve haver limitações à 
generalização. Sendo assim, a teoria nos 
ajuda na explicação e na predição.
Ao mesmo tempo, a teoria sem dados 
é vazia. Praticamente qualquer um pode 
sentar-se em uma poltrona e propor uma 
teoria – até mesmo uma que pareça plau-
sível – mas a ciência requer a testagem 
empírica dessas teorias. Sem essa testa-
gem, as teorias permanecem meramente 
especulativas, de forma que teorias e da-
dos dependem entre si. As teorias geram 
coleta de dados, os quais ajudam a cor-
rigir as teorias, o que, então, leva a mais 
coletas de dados, e assim por diante. É 
por meio dessa interação entre teoria e 
dados que aumentamos o conhecimento 
científi co.
 2. A cognição geralmente é adaptativa, mas não 
em todas as circunstâncias específi cas.
Ao pensarmos em todas as formas 
nas quais se podem cometer erros, é im-
pressionante o quanto nossos sistemas 
cognitivos operam bem. A evolução nos 
serviu muito bem na moldagem do de-
senvolvimento de um aparato cognitivo 
que é capaz de decodifi car com precisão 
os estímulos ambientais, além de enten-
der os estímulos internos que compõem 
a maior parte das informações disponí-
veis a nós. Podemos perceber, aprender, 
lembrar, raciocinar e resolver problemas 
com grande precisão. E o fazemos ainda 
que isso nos seja difi cultado constante-
mente por uma grande quantidade de 
estímulos. Qualquer estímulo poderia 
com facilidade nos distrair do processa-
mento adequado das informações, mas 
os mesmos processos que nos levam a 
perceber, lembrar e raciocinar com pre-
cisão, na maioria das situações, também 
PSICOLOGIA COGNITIVA 37
podem nos desviar. Nossas memórias 
e nossos processos de raciocínio, por 
exemplo, são suscetíveis a certos erros 
sistemáticos, bem identificados. Por 
exemplo, tendemos a supervalorizar a 
informação que está disponível a nós, e 
o fazemos mesmo quando essa informa-
ção não é totalmente relevante ao proble-
ma que temos em mãos. Em geral, todos 
os sistemas – naturais ou artifi ciais – são 
baseados em compensações. As mesmas 
características que os tornam bastante 
efi cientes em uma ampla variedade de 
circunstâncias podem torná-los inefi-
cientes em circunstâncias específicas. 
Um sistema que seria extremamente efi -
ciente em cada circunstância específi ca 
seria inefi ciente em uma ampla varieda-
de de circunstâncias, apenas porque se 
tornaria complicado e complexo demais. 
Portanto, os seres humanos representam 
uma adaptação efi ciente, mas imperfei-
ta, dos ambientes que enfrentam.
 3. Os processos cognitivos interagem uns com 
os outros e com processos não-cognitivos.
Embora tentem estudar e, muitas ve-
zes, isolar o funcionamento de proces-
sos cognitivos específi cos, os psicólogos 
cognitivos sabem como esses processos 
podem trabalhar juntos. Por exemplo, 
os processos de memória dependem de 
processos de percepção. O que lembra-
mos depende em parte do que percebe-
mos. Da mesma forma, os processos de 
pensamento dependem em parte dos 
processos de memória: não se pode re-
fl etir sobre aquilo que não é lembrado. 
Entretanto os processos não-cognitivos 
também interagem com os cognitivos. 
Por exemplo, aprendemos melhor quan-
do estamos motivados para aprender. 
Em contrapartida, nossa aprendizagem 
talvez seja reduzida se estivermos cha-
teados com alguma coisa e não conse-
guirmos nos concentrar na tarefa de 
aprendizagem em questão. Sendo assim, 
psicólogos cognitivos procuram estudar 
os processos cognitivos não apenas de 
forma isolada, como também em suas 
interações uns com os outros e com os 
processos não-cognitivos.
Uma das áreas mais interessantes da 
psicologia cognitiva hoje em dia é a inter-
face entre os níveis cognitivoe biológico 
de análise. Nos últimos anos, por exem-
plo, tornou-se possível localizar a ativi-
dade no cérebro associada a vários tipos 
de processos cognitivos; porém, é preci-
so ter cuidado com a conclusão de que a 
atividade biológica é causal em relação à 
atividade cognitiva. A pesquisa demons-
tra que a aprendizagem que causa mu-
danças no cérebro – em outras palavras, 
os processos cognitivos – pode afetar as 
estruturas biológicas da mesma maneira 
que elas podem afetar os processos cog-
nitivos. Dessa forma, as interações entre 
cognição e outros processos podem acon-
tecer em muitos níveis. O sistema cogniti-
vo não opera de maneira isolada; ele fun-
ciona em interação com outros sistemas.
 4. A cognição deve ser estudada por meio de 
uma série de métodos científi cos.
Não há uma forma certa de estudar 
a cognição. Pesquisadores ingênuos, às 
vezes, buscam o “melhor” método com 
o qual fazer esse estudo. Sua busca ine-
vitavelmente será em vão, pois todos os 
processos cognitivos precisam ser estu-
dados por meio de diversas operações 
convergentes, ou seja, de métodos varia-
dos de estudo que buscam um entendi-
mento comum. Quanto mais diferentes 
tipos de técnicas levarem à mesma con-
clusão, maior a confi ança que se pode ter 
nessa conclusão. Por exemplo, suponha-
mos que estudos de tempos de reação, 
taxas de erro e padrões de diferenças 
individuais levem, todos, à mesma con-
clusão. Assim, pode-se ter muito mais 
confi ança na conclusão do que se apenas 
um método levasse a essa conclusão.
Os psicólogos cognitivos precisam 
aprender uma série de diferentes tipos 
de técnicas para fazer bem seu trabalho. 
Contudo, todos esses métodos devem 
ser científi cos. Os métodos científi cos di-
ferem de outros no sentido de que ofere-
cem a base para a natureza autocorretiva 
da ciência. Com o passar do tempo, cor-
rigimos nossos erros. A razão para isso 
é que os métodos científi cos nos permi-
38 ROBERT J. STERNBERG
tem refutar nossas expectativas quan-
do elas estão equivocadas. Os métodos 
não-científi cos não apresentam essa ca-
racterística. Por exemplo, os métodos de 
investigação que dependem apenas da 
fé ou da autoridade para determinar a 
verdade podem ter valor em nossas vi-
das, mas não são científi cos e por isso 
não são autocorretivos. Na verdade, 
as palavras de uma autoridade podem 
ser substituídas pelas de outra amanhã, 
sem que se saiba qualquer coisa nova 
sobre o fenômeno a que as palavras se 
aplicam. Como o mundo aprendeu há 
muito tempo, o fato de que importantes 
dignitários digam que a Terra está no 
centro do universo não faz com que isso 
seja verdade.
 5. Toda a pesquisa básica em psicologia cogni-
tiva pode levar a aplicações e toda a pesquisa 
aplicada pode levar a conhecimentos básicos.
Os políticos e, às vezes, até mesmo 
os cientistas, gostam de fazer distinções 
claras entre a pesquisa básica e a aplica-
da, mas a verdade é que a distinção, em 
geral, não é nem um pouco clara. Pes-
quisas que pareciam ser básicas acabam 
levando a aplicações imediatas. Da mes-
ma forma, pesquisas que parecem que 
serão aplicadas, por vezes, levam rapida-
mente a conhecimentos básicos, haja ou 
não aplicações imediatas. Por exemplo, 
uma conclusão básica da pesquisa sobre 
aprendizagem e memória é que a apren-
dizagem é melhor quando distribuída no 
tempo do que quando é amontoada em 
um intervalo curto. Essa conclusão bási-
ca tem uma aplicação imediata a estraté-
gias de estudo. Ao mesmo tempo, as pes-
quisas sobre testemunhos oculares, que 
parecem, à primeira vista, ser bastante 
aplicadas, melhoraram nosso entendi-
mento dos sistemas de memória e de até 
onde os seres humanos constroem suas 
próprias memórias. Ela não reproduz 
apenas o que acontece no ambiente.
Antes de encerrar este capítulo, pense 
sobre alguns dos campos da psicologia 
cognitiva, descritos nos capítulos restan-
tes, aos quais esses temas e essas questões 
fundamentais possam ser aplicados.
Panorama dos capítulos
Os psicólogos cognitivos têm se envolvido 
no estudo de uma ampla gama de fenômenos 
psicológicos, o qual inclui não apenas a per-
cepção, a aprendizagem, a memória e o pen-
samento, como também fenômenos que apa-
rentemente são de orientação menos cognitiva, 
como emoção e motivação. Na verdade, quase 
qualquer tópico de interesse psicológico pode 
ser estudado de uma perspectiva cognitiva. 
Não obstante, há algumas áreas principais de 
interesse dos psicólogos cognitivos. Neste livro, 
tentamos descrever algumas das respostas pre-
liminares para as perguntas feitas pelos pesqui-
sadores nas principais áreas de interesse.
Capítulo 2 Neurociência cognitiva – Quais são 
as estruturas e os processos do cérebro 
humano que estão por trás das estruturas 
e dos processos da cognição humana?
Capítulo 3 Atenção e consciência – Quais são 
os processos mentais básicos que regem 
a forma como a informação entra em 
nossa mente, em nossa consciência e em 
nossos processos de alto nível para tratar 
a informação?
Capítulo 4 Percepção – Como a mente huma-
na percebe o que os sentidos recebem? 
Como a mente humana adquire distin-
tivamente a percepção de formas e pa-
drões?
Capítulo 5 Memória: modelos e métodos de pes-
quisa – De que forma tipos diferentes de 
informação (por exemplo, nossas expe-
riências relacionadas a um evento trau-
mático, os nomes dos presidentes dos 
Estados Unidos ou o procedimento para 
se andar de bicicleta) são representados 
na memória?
Capítulo 6 Processos de memória – Como le-
vamos a informação para a memória, 
como a mantemos lá e como a recupera-
mos da memória quando é necessário?
Capítulo 7 Representação do conhecimento na 
memória: imagens e proposições – Como re-
presentamos mentalmente as informações 
em nossas mentes? Fazemos isso com pa-
lavras, imagens ou com alguma outra for-
ma para representar sentido? Ou temos 
múltiplas formas de representação?
PSICOLOGIA COGNITIVA 39
Capítulo 8 Representação e organização de 
conhecimento na memória: conceitos, cate-
gorias, redes e esquemas – Como organiza-
mos mentalmente o que sabemos? Como 
manipulamos e operamos com relação ao 
conhecimento – fazemos isso por proces-
so em série, por meio de processamento 
paralelo ou por meio de alguma combi-
nação de processos?
Capítulo 9 Linguagem: natureza e aquisição – 
Como deduzimos e produzimos sentido 
por meio da linguagem? De que forma 
adquirimos a linguagem, tanto nossa 
primeira língua como outras?
Capítulo 10 Língua em contexto – De que 
forma o uso da linguagem interage com 
nossas formas de pensamento? Como 
nosso mundo social interage com nosso 
uso da linguagem?
Capítulo 11 Solução de problemas e criatividade 
– Como solucionamos problemas? Quais 
processos nos ajudam e quais nos impe-
dem de atingir soluções para problemas? 
Por que alguns de nós são mais criativos 
do que outros? Como nos tornamos e 
permanecemos criativos?
Capítulo 12 Tomada de decisões e raciocínio 
– De que forma chegamos a decisões 
importantes? Como tiramos conclusões 
razoáveis das informações que nos estão 
disponíveis? Por que e como, com tanta 
freqüência, tomamos decisões inadequa-
das e chegamos a conclusões incorretas?
Capítulo 13 Inteligência artifi cial e humana – 
Por que consideramos algumas pessoas 
mais inteligentes do que outras? Por que 
algumas pessoas parecem mais capazes 
de atingir o que querem nos campos que 
escolhem?
Neste livro, procuro enfatizar as idéias 
comuns e os temas organizadores de vários 
aspectos da psicologia cognitiva, em lugar de 
simplesmente apresentar os fatos. Segui esse 
caminho para ajudar o leitor a perceber pa-
drões consideraveis e signifi cativos no domí-
nio da psicologia cognitiva. Também tentei lhe 
oferecer alguma idéia de como os psicólogos 
cognitivos pensam e como estruturam seu

Outros materiais