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Penal Av2

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Penas privativas de liberdade: 
aqui se alocam as penas de reclusão, detenção e prisão simples (a prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas e a limitação de fim de semana, de certa forma, também são privativas de liberdade, ainda que assim não sejam classificadas pelo Código Penal).
1.5 Punibilidade da participação
Para que a participação em sentido estrito seja punível, é necessário que a conduta principal (autoria) também o seja. Isto é, como a conduta do autor só passa a ser punível após seu ingresso nos atos executórios, disso também dependerá a participação. É o que consta expressamente no art. 31 do CP. Contudo, serão autores e partícipes punidos pelo mesmo delito ou por delitos diferentes? Em regra, pelo mesmo delito. Isso decorre da adoção da teoria monista pelo art. 29 do CP. Não que a teoria monista seja a única existente, embora seja aquela adotada em regra pelo CP. Há outras, como a teoria dualista (autores respondem por um crime e partícipes por outro) e a teoria pluralística (há um crime diferente para cada um dos participantes na infração penal). Nosso ordenamento, inclusive, por vezes estabelece exceções pluralísticas à teoria monista, como ocorre nos crimes de abortamento: o crime de consentimento para o aborto (art. 124, 2ª parte, CP), consiste em uma autorização que a gestante dá para que outrem realize a intervenção abortiva em seu corpo. Já a pessoa que executa as manobras abortivas – contando com o consentimento da gestante – comete o crime do artigo 126 do CP. Nesse caso, ainda que tenhamos duas pessoas subjetivamente ligadas intervindo para um mesmo resultado criminoso, cada qual responderá por seu próprio delito. Atos de participação, no complexo de condutas que culminam no crime, podem ser extremamente relevantes, como a organização das tarefas criminosas, mas também podem ser de menor importância, como o empréstimo de um pé de cabra para o rompimento de certa fechadura e consequente violação de domicílio. Reconhecida a participação de diminuída relevância, é obrigatória a redução da pena do partícipe em um sexto a um terço, consoante o disposto no art. 29, § 1º.
2.5.5 Punibilidade no crime continuado
Assim como o concurso formal perfeito, o crime continuado tem a natureza jurídica de causa de aumento da pena, uma vez que a sanção penal é imposta pelo sistema da exasperação. Portanto, escolhe-se a pena de um dos crimes – a mais grave ou, se forem de igual gravidade, qualquer uma delas – e, sobre ela, aplica-se uma majorante, que irá variar de 1/6 a 2/3 (aqui há uma diferença em relação ao crime formal perfeito, pois lá a majoração alcança, no máximo, 1/2). Os crimes cujas penas são descartadas poderão ser usados para determinar o patamar do aumento a ser fixado. Importa consignar que esta é a regra geral, que não será adotada em duas hipóteses: (a) no crime continuado específico (art. 71, parágrafo único, CP), que possui uma regulamentação própria, como será visto; (b) na hipótese de concurso material benéfico, isto é, as penas serão somadas caso o resultado do cúmulo material fique aquém do resultado da exasperação. 
7.2 Causas de extinção da punibilidade
7.2.1 Morte A morte, diz o ditado, tudo resolve. E isso se aplica também à punibilidade. Afinal, se a pena é intranscendente, como punir o morto? Assim, e com esteio nos arts. 107, I, do CP, e 62 do CPP, com a morte, comprovada através da certidão de óbito, dá-se a extinção da punibilidade. E se a certidão de óbito juntada aos autos, que embasa a decisão transitada em julgado, é falsa? Isto é, e se o réu ou condenado não morreu? Há duas orientações: (a) ele não poderá mais ser julgado pelo crime em que se deu a extinção de sua punibilidade, pois não há possibilidade de revisão criminal pro societate, de modo que apenas poderá ser punido por falsidade documental; e (b) como a decisão judicial é baseada em fato juridicamente inexistente, e sendo certo que ninguém pode se beneficiar de sua própria torpeza, ela não faz coisa julgada (STF, C 31234/MG). 7.2.2 Anistia, graça e indulto Anistia, graça e indulto são formas de clemência estatal, que se diferenciam em alguns aspectos, como a abrangência, a competência para decretação e seus efeitos. 136 • capítulo 7 A anistia é ato do Congresso Nacional, que a concede através de uma lei, a qual deve ser sancionada pelo Presidente da República. Tratando-se de lei penal benéfica, é retroativa. Pode abranger crimes políticos (para alguns, os crimes da Lei de Segurança Nacional – Lei n. 7.17º, de 1983) ou demais crimes, inclusive militares e eleitorais. Apenas não poderá versar sobre crimes hediondos e equiparados (art. 5º, XLIII, CF). Todos os efeitos penais da sentença condenatória são extintos pela anistia, mantendo-se os efeitos civis. Isso não significa que ela dependa de uma sentença condenatória transitada em julgado: a anistia própria é anterior a ela; apenas a imprópria é posterior. Aliás, a anistia ainda pode ser parcial (não abrange a totalidade das pessoas em uma mesma situação jurídica) ou geral (alcança a todos); condicional (seus efeitos dependem do implemento de uma condição, como a deposição de armas, por exemplo) ou incondicional (não se exige qualquer condição, ocasião em que a anistia será unilateral, produzindo seus efeitos independentemente de aceitação do beneficiário, ao passo em que a condicional é ato bilateral); restrita (exclui crimes conexos) ou irrestrita (não os exclui). Indulto e graça, ao contrário da anistia, não são atos do Congresso Nacional, mas do Presidente da República, por meio de decreto. Mas há diferença entre ambos, no que tange à formalização: a graça deve ser requerida, ao passo em que o indulto pode ser concedido de ofício; a graça tramita perante o Ministério da Justiça, aguardando decreto presidencial, ao passo em que o indulto pode ser conferido por pessoa delegada (Ministro de Estado, Procurador-geral da República ou Advogado-geral da União). Indulto e graça, ainda, se diferem em relação à abrangência. Ao passo em que o indulto é coletivo, a graça é individual (razão pela qual também é denominada indulto individual). Qualquer que seja a hipótese, impõe-se a existência de uma sentença condenatória irrecorrível (ao contrário do que ocorre na anistia). Ambos, ainda, podem ser totais (plenos), extinguindo a pena por completo; ou parciais, apenas comutando a sanção penal (substituição de uma pena por outra). Quanto aos efeitos, afetam apenas a execução da pena. Permanecem íntegros os demais efeitos da sentença condenatória, como a possibilidade de reincidência. Cabe, por fim, indagar quais são os crimes atingidos pelo indulto e pela graça. Decerto, os crimes comuns são afetados. E os crimes hediondos e capítulo 7 • 137 equiparados? Acerca destes, há vedação constitucional para a incidência da graça (art. 5º, XLIII, CF). Mas a Constituição Federal não proíbe o indulto, embora o art. 2º da Lei n. 8.072 estabeleça a proibição. Essa vedação é constitucional? Há duas orientações: (a) a liberdade é um direito fundamental e eventuais restrições a ela devem ser constitucionalmente previstas, razão pela qual a proibição de indulto, se inserida apenas em lei ordinária, é inconstitucional; (b) embora a CF não tenha vedado expressamente o indulto, também não proibiu que lei ordinária o faça; além disso a graça nada mais é do que uma espécie de indulto (individual), de modo que, quando a CF fala em graça, está igualmente tratando do indulto. ANISTIA GRAÇA INDULTO •  Crimes políticos e demais delitos •  Quem concede? Congresso Nacional •  Meio: por lei •  Crimes comuns •  Quem concede? Presidente da República •  Meio: por decreto •  Crimes comuns •  Quem concede? Presidente da República (delegável) •  Meio: por decreto 7.2.3 Abolitio criminis Quando uma lei nova deixa de considerar crime (infração penal) uma conduta anteriormente criminalizada, ocorre a abolitio criminis. Por exemplo, a Lei n. 11.106, em 2005, revogou o art. 240 do CP, que previa o crime de adultério, em virtude do que ocorreu a extinção da punibilidade
de quem respondia por este delito. Não se pode confundir a abolitio criminis com a revogação meramente formal de um artigo de lei. A extinção da punibilidade só acontece quando revogado também o conteúdo normativo, consoante o princípio da continuidade típico-normativa. Foi o que ocorreu no antigo crime de atentado violento ao pudor, por exemplo. Embora o art. 214 do CP tenha sido revogado, seu conteúdo normativo foi transportado para o art. 213 do CP (estupro). Assim, não houve abolitio criminis. Aqui, há a extinção de todos os efeitos criminais da sentença condenatória, persistindo apenas os efeitos civis (quando aos efeitos do art. 92 do CP, ocorre 138 • capítulo 7 algo semelhante à reabilitação, vedada a reintegração na situação anterior). É bom lembrar que, sendo a lei descriminalizante uma lei nova mais benéfica, ela terá efeitos retroativos, inclusive alcançando penas em execução. 7.2.4 Decadência e perempção Embora o inciso IV, além da decadência e da perempção, traga também a prescrição em seu bojo, optamos por estudar a matéria ao final deste capítulo, em virtude do nível de detalhamento necessário à sua compreensão. Portanto, por ora, ficaremos apenas na decadência e na perempção. 7.2.4.1 Decadência Em que pese o direito à queixa, na ação privada, e o direito de representação ou requisição, na ação pública condicionada, serem regidos pela conveniência ou oportunidade, eles não são vitalícios. Ao contrário, devem ser exercidos dentro de certo prazo, sob pena de perda do direito. Esse prazo é denominado decadencial. A decadência atinge o direito de ação e, por via reflexa, a pretensão punitiva. Todavia, ela não produz efeitos sobre a ação pública incondicionada (ou sobre a ação condicionada, se já satisfeita a condição de procedibilidade), pois o princípio da obrigatoriedade impõe a atuação do Ministério Público mesmo após expirado o prazo para oferecimento da denúncia. O prazo decadencial é de 6 meses (nada impede, contudo, que lei especial disponha de forma diversa). Essa é a redação do art. 103 do CP, reproduzida no art. 38 do CPP, que, ainda estipulam o temo inicial para a contagem do prazo: o dia em que o ofendido teve ciência da autoria do crime, ou, no caso de ação privada subsidiária, o dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. Aliás, a ação privada subsidiária é um caso à parte. Como dito anteriormente, embora privada na forma, ela é pública em essência. Assim, imaginemos o seguinte cenário: ao receber os autos de um inquérito policial, em que há prova do crime de ação pública e indícios de autoria, o membro do Ministério Público nada faz, quedando-se inerte. Expirado o prazo para a denúncia, surge a possibilidade de o ofendido oferecer queixa-crime, com vistas à instauração de ação subsidiária. Nesse mesmo momento, contudo, começa a correr o prazo decadencial. Caso o ofendido – ou seu representante legal – não ofereça a queixa capítulo 7 • 139 dentro do prazo de seis meses, esse direito decairá. Isso, contudo, não opera a extinção da punibilidade do autor. E qual é a razão? Porque o fato de o MP não ter oferecido a denúncia no prazo não o desobriga de oferecê-la, ainda que expirado. Vamos lembrar que a decadência não afeta a denúncia, mas somente os direitos de queixa e representação/requisição. Destarte, o único prazo que afetará a ação pública (desde que respeitadas as condições de procedibilidade) é o prescricional. O prazo decadencial, ainda, não pode ser interrompido ou suspenso. Ele flui sem intercorrências do início ao fim. 7.2.4.2 Perempção A perempção pressupõe uma ação privada em curso (ou seja, ela não resvala no direito de queixa, já exercitado), todavia abandonada ou negligenciada pelo querelante. Como, na ação penal privada, vigora o princípio da disponibilidade, a perempção implica a morte do direito. Ela não tem incidência sobre a ação pública – condicionada ou incondicionada – porque aqui o que vale é o princípio da indisponibilidade. Portanto, o Ministério Público não pode ficar inerte ou ser negligente em sua condução. As hipóteses de perempção estão previstas no art. 60 do CPP. São elas: (a) quando, iniciada da ação penal, o querelante deixar de promover seu andamento por 30 dias seguidos; (b) quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo para sucedê-lo na ação, no prazo de 60 dias, cônjuge ou companheiro, ascendente, descendente ou irmão (nesta ordem); (c) quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente (por exemplo, oitiva do querelante); (d) quando o querelante deixa de formular pedido de condenação em suas alegações finais; (e) quando o querelante é pessoa jurídica que se extingue, sem deixar sucessor; (f) quando ocorre a morte do querelante, na ação penal privada personalíssima (esta hipótese não está no art. 60 do CPP, mas sim no art. 236 do CP). 140 • capítulo 7 7.2.5 Renúncia ao direito de queixa e perdão do ofendido O inciso V do art. 107 traz duas causas de extinção da punibilidade. A primeira delas é a renúncia ao direito de queixa. Pode-se perceber, sem dificuldades, que esta causa de extinção da punibilidade só existe (em regra) nos crimes de ação privada, pressupondo o não oferecimento da queixa-crime. Isto é, renuncia-se ao direito que ainda não foi exercitado, operando-se a extinção da punibilidade do suspeito. A renúncia, outrossim, é nítida decorrência do princípio da conveniência ou oportunidade. Mas e o direito de representação (ação pública condicionada), que é regido pelo mesmo princípio? Não admite a renúncia? Nos crimes de menor potencial ofensivo, a renúncia é possível, mas com esteio no art. 74, p. único, da Lei n. 9.099 de 1995, que trata da homologação do acordo de composição civil. A renúncia é ato unilateral, independendo de aceitação por parte do beneficiado. Pode, ainda, ser expressa (formalmente declarada) ou tácita (conduta incompatível com a vontade de ver o autor processado). No entanto, nas hipó- teses de violência doméstica ou familiar contra a mulher (por exemplo, a representação do crime de ameaça, que é hipótese de violência psicológica prevista na Lei n. 11.340, de 2006), a renúncia somente pode se dar perante um juiz (art. 16). A segunda causa é o perdão do ofendido, que, ao contrário da renúncia, pressupõe ação privada em curso. Ele é posterior à instauração do processo, podendo ser exercitado até o trânsito em julgado da sentença condenatória, e não existe na ação pública. Da mesma forma que ocorre com a renúncia, o perdão pode ser expresso ou tácito. Todavia, é bilateral, ou seja, depende de aceitação (que também poderá ser expressa ou tácita, inclusive quando não se manifesta sobre ela no prazo de 3 dias, a contar da ciência) por parte do beneficiário. Não abrangerá, necessariamente, todos os crimes. Por exemplo, se o autor for processado por injúria (art. 140, CP) e dano (art. 163 do CP), ambos crimes de ação privada, o perdão poderá recair somente sobre a injúria, mantendo-se o processo acerca do dano. Em virtude do princípio da indisponibilidade, a renúncia ou o perdão oferecido a um dos participantes do delito, aproveita a todos. Caso haja pluralidade de vítimas, a renúncia ou perdão exercitado por uma delas não afeta o direito das demais, que mantêm o direito à queixa ou poderão prosseguir no processo. capítulo 7 • 141 7.2.6 Retratação Retratação é o ato de se desdizer, ou seja, de reformular uma manifestação anterior. Por exemplo, no crime de calúnia (art. 138, CP), se o autor se retrata, desmentindo a imputação ofensiva por ele realizada, sua punibilidade é extinta. Somente existe a retratação quando a lei expressamente permite o ato, seja o crime de ação pública ou privada. Em outras palavras: apenas quando o tipo penal aceita a retratação é que esta produzirá seus efeitos. Temos a retratação, por exemplo, nos crimes de calúnia e difamação (art. 143 do CP), de falso testemunho ou falsa perícia (art. 342, § 2º, CP) etc. Por outro lado, o crime de denunciação caluniosa (art.
339 do CP), embora se assemelhe à calúnia em alguns aspectos, não admite retratação, por ausência de previsão legal. A retratação realizada por um dos participantes do crime não aproveita os demais. Apenas aquele que se retratou tem a punibilidade extinta. O ato precisa de aceitação por parte do ofendido? Não, ele é unilateral. 7.2.7 Perdão judicial Baseado no princípio da necessidade concreta da pena, que enuncia ser a pena dispensável quando desnecessária, o perdão judicial é o poder conferido ao magistrado de impedir, no caso concreto, a incidência da sanção penal, isentando o réu. Todavia, não se trata de uma discricionariedade judicial: para que o perdão judicial seja regularmente aplicado, deve existir autorização legal. Em outras palavras, tal qual ocorre com a retratação, o perdão judicial exige previsão expressa para cada tipo penal. Por exemplo, há perdão judicial para o homicídio culposo (art. 121, § 5º, do CP), mas não para o abandono de incapaz com resultado morte culposo (art. 133, § 2º, CP). A expressa autorização para reconhecimento da causa extintiva da punibilidade trará os requisitos para sua aplicabilidade. Ou seja, se o art. 121, § 5º, prevê o perdão judicial para o homicídio culposo, isso não significa que todos os homicídios culposos serão perdoados. Apenas aqueles em que as consequências do crime atingem o próprio agente de forma grave, tornando desnecessária a pena, é que terão sua punibilidade extinta, pois o § 5º restringe o perdão a essa hipótese. No entanto, uma vez que o autor do delito se insira na situação descrita em lei, o perdão passa a ser um direito subjetivo seu, fazendo com que o magistrado não possa negá-lo. 142 • capítulo 7 Considerando que o perdão judicial exige expressa previsão legal, um questionamento se impõe: ele é possível nos arts. 302 e 303 da Lei n. 9.503, de 1997 (respectivamente homicídio culposo e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor)? Explica-se o foco do problema: existe o perdão tanto no caso do homicídio culposo (como já visto), quanto na lesão corporal culposa (art. 129, § 8º, CP) do Código Penal; todavia, essas previsões expressas não foram repetidas no Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503), embora os crimes aqui existentes sejam praticamente idênticos aos seus correspondentes no CP. Aliás, os motivos que ensejam o perdão no CP poderiam tranquilamente ser reconhecidos nos crimes do CTB. Se um pai, ao transportar seu filho de bicicleta, deixa-o cair, provocando sua morte e intensa dor emocional ao próprio autor, pode ele ser perdoado (art. 121, § 5º, CP). Por que a solução seria diferente para o pai que deixa cair o filho ao transportá-lo em uma motocicleta, provocando sua morte (art. 302 do CTB)? Nesse ponto, doutrina e jurisprudência praticamente uníssonas também admitem o perdão judicial, ainda que sem previsão expressa, mas por analogia in bonam partem. Discute-se qual é a natureza da sentença concessiva do perdão judicial. Ela é condenatória ou absolutória. Aqueles que sustentam a natureza condenatória, partem do seguinte raciocínio: só pode ser perdoado quem faz alguma coisa, ou seja, quem é culpado; portanto, o réu deve ser condenado para depois lhe ser aplicado o perdão judicial. Mas esta não é a posição que prevalece. Majoritariamente, entende-se que a sentença é declaratória de extinção da punibilidade (absolutória), inclusive com entendimento sumulado do STJ a respeito do tema (Enunciado n. 18). Isso implica que a concessão do perdão judicial impede a produção dos efeitos criminais da sentença, inclusive no que concerne à possibilidade de reincidência (art. 120 do CP).
excludentes de ilicitude (por exemplo, na legítima defesa, a ilicitude só é afastada quando o sujeito ativo age sabendo-se amparado por uma causa de justificação 
a) Estado de necessidade 
b) Legítima Defesa 
c) Estrito cumprimento do dever legal
d) Exercício regular do direito
Excludente Da Punibilidade
A extinção da punibilidade é a perda do direito do Estado de punir o agente autor de fato típico e ilícito, ou seja, é a perda do direito de impor sanção penal. As causas de extinção da punibilidade estão espalhadas no ordenamento jurídico brasileiro.
Do que se vê, não é apenas o artigo 107 do Código Penal que trata da matéria.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
(...) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
Como exemplos de causas de extinção da punibilidade fora do artigo 107 , CP , é possível citar o artigo 312 , parágrafo 3º , CP e a Lei 9.099 /95, que trata dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.
3.4.2 Penas restritivas de direitos
São penas autônomas que visam a evitar a imposição de uma pena privativa de liberdade, substituindo-a. Embora, como se vê, a regra geral seja o caráter substitutivo das penas restritivas de direito, eventualmente podem surgir cominadas de forma independente a um tipo penal, conforme verificamos, por exemplo, no art. 28 da Lei n. 11.343, de 2006. Passemos, então, às espécies de penas restritivas de direitos previstas no Código Penal (é possível que haja outras, regulamentadas em lei especial), seguindo a ordem ditada pelo art. 43 do CP. 
5.3 Suspensão condicional da pena (sursis) A suspensão condicional da pena, também chamada de sursis, consiste no sobrestamento, por certo período, de pena privativa de liberdade fixada em sentença condenatória, durante o qual o condenado ficará obrigado a cumprir certas condições para alcançar a extinção da sanção penal. O objetivo da medida é evitar a prisão. Assim, a medida não poderá ser aplicada a penas restritivas de direitos ou à pena de multa. O sursis é regulado pelos arts. 77 e seguintes do Código Penal e diferenciase do livramento condicional porque este pressupõe cumprimento de parte da pena, requisito inexistente no livramento condicional. A medida, ainda, é distinta da suspensão condicional do processo, que se encontra prevista no art. 89 da Lei n. 9.099, de 1995. A suspensão do processo é um instituto despenalizador que impõe o sobrestamento da própria ação penal. Ou seja, diferentemente do que ocorre no sursis, não há sentença condenatória e, consequentemente, pena. 5.3.1 Requisitos para concessão Cuida-se, a suspensão condicional da pena, de um direito subjetivo do condenado. Isso significa que, se o condenado fizer jus a ele, o benefício não poderá ser negado. Para sua concessão, alguns requisitos devem estar presentes, os capítulo 5 • 105 quais se encontram arrolados no art. 77 do CP. São eles: (a) pena privativa de liberdade igual ou inferior a 2 anos; (b) não reincidência em crime doloso; (c) análise da culpabilidade, dos antecedentes, da conduta social e da personalidade do agente, bem como dos motivos e circunstâncias do crime, de modo a averiguar a viabilidade da concessão (valoração positiva); (d) impossibilidade de substituição da pena de prisão por pena restritiva de direitos (caráter subsidiário do sursis). Quanto ao requisito da reincidência, já observamos que há quem considere o instituto inconstitucional. Além disso, somente a reincidência específica em crimes dolosos é proibitiva do sursis. Se a condenação anterior for apenas a pena de multa, ainda que haja reincidência em crimes dolosos, nada obsta o benefício (art. 77, § 1º). 5.3.2 Espécies de sursis Os requisitos enumerados são aplicáveis ao chamado sursis comum. No entanto, há outras espécies de suspensão condicional da pena, que admitirão pequenas alterações. Nesse diapasão, encontramos o sursis etário, que exige tenha o condenado, na data da sentença, idade superior a 70 anos (art. 77, § 2º, CP). Para sua concessão, a pena, ao invés de igual ou inferior a 2 anos, será igual ou inferior a 4 anos. É o que acontece também com o sursis
humanitário, também previsto no art. 77, § 2º. Todavia, aqui não se observa a idade do condenado, pois o benefí- cio é justificado em virtude de razões de saúde. A quarta espécie de sursis é o especial. Praticamente idêntico ao sursis comum, exige, além dos requisitos formulados para este, reparação do dano – salvo impossibilidade de fazê-lo – e circunstâncias judiciais inteiramente favoráveis. A diferença entre sursis simples e especial é que neste as condições a cumprir durante o período de prova serão menos severas. 5.3.3 Condições do sursis Quais são as condições que o condenado deve cumprir durante o período de prova do sursis? Sim, porque estamos falando de um instituto condicional, ou seja, sua concessão, a par de conferir bônus, também impõe ônus ao condenado. 106 • capítulo 5 O art. 78 do CP é vago ao tratar do tema. Diz apenas que o condenado “ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz”. Em seguida, em seu § 1º, afirma que, no primeiro ano do período de prova, o condenado deverá prestar serviços à comunidade ou sujeitar-se à limitação de fim de semana. Em seguida, o art. 79 informa que outras condições poderão ser especificadas na sentença condenatória, “desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado”. Em caso de sursis especial, a prestação de serviços à comunidade e a limitação de final de semana são substituídas, cumulativamente, por proibição de frequentar determinados lugares, proibição de ausentar-se da comarca onde reside sem autorização do juiz, e comparecimento mensal e obrigatório a juízo para informar e justificar suas atividades. Período de prova é aquele espaço de tempo durante o qual deverão ser cumpridas as condições do sursis. No simples e no especial, vai de 2 a 4 anos; e no etário e no humanitário, de 4 a 6 anos. Em regra, o período é fixado no mínimo, devendo ser motivada, com base na culpabilidade do condenado, a sentença que exasperá-lo. 5.3.4 Revogação do sursis Uma vez estabelecido, nada impede que o sursis seja revogado. Essa revogação poderá ser obrigatória ou facultativa. Nos termos do art. 81 do CP, será obrigatória quando o beneficiário for condenado irrecorrivelmente por outro crime doloso (I); quando frustrar, embora solvente, a execução da pena de multa, ou quando não efetuar, sem motivo justo, a reparação do dano (II); ou quando descumprir a prestação de serviços à comunidade ou a limitação de fim de semana (III). A cláusula que trata da pena de multa é duvidosa, pois impõe à sanção pecuniária uma conversibilidade indireta em pena de prisão, característica nela vedada. Já a revogação facultativa existe quando o condenado descumprir qualquer outra condição ou for condenado por crime culposo ou contravenção penal a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos (art. 81, § 1º). Importa assinalar que, caso o juiz não opte pela revogação facultativa, ele poderá prorrogar o período de prova até o máximo (art. 81, § 3º). Caso o condenado seja processado, em ação penal diversa, por outro crime ou contravenção (art. 81, § 2º), o período de prova poderá ser prorrogado até o julgamento definitivo. capítulo 5 • 107 Seja a revogação obrigatória ou facultativa, ela deverá ser precedida de procedimento judicial, garantido ao condenado o direito à ampla defesa. Considerando que sursis não é pena, uma vez revogado o benefício e restabelecida a pena privativa de liberdade, o tempo decorrido durante o período de prova não será descontado da sanção penal a cumprir. Caso cumpridas regularmente as condições estabelecidas até o fim do período de prova, sem que haja revogação do sursis, considera-se extinta a pena. 5.3.5 Sursis e Lei de Drogas (Lei n. 11.343, de 2006) O art. 44 da Lei n. 11.343, de 2006, estabelece a vedação do sursis aos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º; e 34 a 37, todos do mesmo diploma. Há questionamento sobre a constitucionalidade da norma, pois restrições ao direito à liberdade são reservadas ao texto constitucional e a CF não se pronuncia sobre o tema. Instado a se manifestar sobre o tema, o STJ confirmou a vedação ao sursis3. No mesmo sentido vem se pronunciando o STF4.
Concurso de Pessoas
Os requisitos para o concurso de pessoas são Pluralidade de pessoas e de condutas; Relevância causal de cada conduta; Unidade 
de infração penal; Liame Subjetivo entre os agentes. 
A dosimetria
 (cálculo) da pena é o momento em que o Estado – detentor do direito de punir (jus puniendi) – através do Poder Judiciário, comina ao indivíduo que delinque a sanção que reflete a reprovação estatal do crime cometido.
O Código Penal Brasileiro, em sua parte especial, estabelece a chamada pena em abstrato, que nada mais é do que um limite mínimo e um limite máximo para a pena de um crime (Exemplo: Artigo 121. Matar Alguém: Pena: Reclusão de seis a vinte anos).
A dosimetria da pena se dá somente mediante sentença condenatória.
A dosimetria atende ao sistema trifásico estabelecido no artigo 68 do Código Penal, ou seja, atendendo a três fases:
	Fixação da Pena Base;
	Análise das circunstâncias atenuantes e agravantes;
	Análise das causas de diminuição e de aumento;
A primeira fase consiste na fixação da pena base; Isso se dá pela análise e valoração subjetiva de oito circunstâncias judiciais. São elas:
	Culpabilidade (valoração da culpa ou dolo do agente);
	Antecedentes criminais ( Análise da vida regressa do indivíduo- se ele já possui uma condenação com trânsito em julgado - Esta análise é feita através da Certidão de antecedentes criminais, emitida pelo juiz; ou pela Folha de antecedentes criminais, emitida pela Polícia civil);
	Conduta social (Relacionamento do indivíduo com a família, trabalho e sociedade . Pode –se presumir pela FAC ou pela CAC);
	Personalidade do agente (Se o indivíduo possui personalidade voltada para o crime);
	Motivos (Motivo mediato);
	Circunstâncias do crime (modo pelo qual o crime se deu);
	Consequências (além do fato contido na lei);
	Comportamento da vítima (Esta nem sempre é valorada, pois na maioria das vezes a vítima não contribui para o crime).
Nesta análise, quanto maior o número de circunstâncias judiciais desfavoráveis ao réu, mais a pena se afasta do mínimo. O juiz irá estabelecer uma pena base, para que nela se possa atenuar, agravar, aumentar ou diminuir (Próximas etapas da dosimetria).
Na segunda fase da dosimetria se analisa as circunstâncias atenuantes e agravantes. Atenuantes são circunstâncias que sempre atenuam a pena, o artigo 65 do CP elenca as circunstâncias atenuantes (Ex: Artigo 65, I: Ser o agente menor de vinte e um, na data do fato, ou maior de setenta, na data da sentença.).
Agravantes são circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualifiquem o crime. As circunstâncias agravantes são de aplicação obrigatória, e estão previstas nos artigos 61 e 62 do Código Penal. São de aplicação restritiva, não admitindo aplicação por analogia. O legislador não prevê o percentual a ser descontado ou aumentado na pena em função dos agravantes e dos atenuantes.
A terceira fase da dosimetria consiste nas causas especiais de diminuição ou aumento de pena, aplicadas sobre o resultado a que se chegou na segunda fase, estas ora vêm elencadas na parte especial, ora na parte geral.
Ação Penal
6.1 Conceito Leciona Nucci1 que “o monopólio de distribuição de justiça e o direito de punir cabem, como regra, ao Estado, vedada a autodefesa e a autocomposição”. Evidentemente que não se trata de uma verdade absoluta, pois há, em nossa legislação, hipóteses de autodefesa (legítima defesa, por exemplo) e de autocomposição (medidas da Lei n. 9.099, de 1995) admitidas. O poder-dever de punir (jus puniendi), no entanto, é indelegável. E não pode ser satisfeito sem um pronunciamento judicial, dada a garantia do devido processo legal. Portanto, o Estado tem uma pretensão punitiva, a ser deduzida em juízo, através de uma ação penal. A ação penal, portanto, é o direito que o Estado – ou, eventualmente, o ofendido – tem
de ir a juízo para obtenção um provimento jurisdicional. 6.2 Espécies Como vimos, embora o poder-dever de punir pertença ao Estado, a legitimação para a propositura da ação penal, eventualmente, pode ser conferida ao ofendido ou ao seu representante legal. A depender da legitimação para sua propositura, a ação se divide em pública e privada. Na ação pública, o legitimado para a propositura é o Ministério Público, que o fará através do oferecimento de uma peça processual denominada denúncia. Na privada, a legitimação pertence ao ofendido, ou ao seu representante legal, que a promoverá através da queixa-crime. A ação pública, ao seu turno, se divide em incondicionada e condicionada. Ela é incondicionada quando, existindo indícios de autoria e prova da materialidade, o Ministério Público pode desde logo agir, oferecendo a denúncia. É condicionada, obviamente, quando a atuação do Ministério Público fica jungida ao implemento de uma condição, que pode ser a representação do ofendido ou de seu representante legal, ou a requisição do Ministro da Justiça. Essa classificação é encontrada no art. 24 do Código de Processo Penal. Representação do ofendido e requisição do Ministro da Justiça são condi- ções de procedibilidade para o oferecimento da ação penal. Não há formalidades na representação, bastando que o ofendido – ou seu representante legal 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 186. 120 • capítulo 6 – reduza a termo seu desejo de representar contra o autor, ou, de outra forma, deixe esse propósito evidente. A regra é que os crimes sejam processados mediante ação pública incondicionada. É o que encontramos no art. 100 do CP. Para que haja ação condicionada, impõe-se expressa previsão legal (arts. 24 do CPP e 100, § 1º, do CP). Por exemplo, art. 147, p. único, do CP (crime de ameaça). Na ação privada é o próprio ofendido quem promove a ação penal, ou, caso este seja incapaz, falecido ou declarado ausente (art. 100, § 4º), por quem tenha qualidade para representá-lo (art. 100, § 2º). Em casos excepcionalíssimos, apenas o ofendido poderá promover a ação privada, sem que o mesmo direito seja conferido ao seu representante legal. Nessa hipótese, há a chamada ação penal personalíssima, cujo único exemplo encontrado no Código Penal está no art. 236, p. único. Além da ação privada propriamente dita, existe ainda a ação privada subsidiária, encontrada no art. 100, § 3º, do CP. Em verdade, aqui temos uma ação pública em essência, formalmente travestida de ação privada. Explica-se: Em um crime de ação pública, quando o Ministério Público tem em suas mãos as peças de uma investigação, há algumas alternativas que podem ser adotadas: caso a investigação esteja incompleta, ela pode retornar à origem, para que novas providências investigativas sejam adotadas; esgotadas as diligências sem arrecadação de indícios de autoria ou prova da materialidade do crime, o MP pode pedir em juízo o arquivamento dos autos; ou então, existindo prova da materialidade e indícios de autoria, o MP deve oferecer denúncia. E se o Ministério Público nada faz durante o prazo para sua manifestação? Ou seja, e se o órgão se mantém inerte? Nesse caso, esgotado o prazo para o MP se manifestar, existindo prova da materialidade e indícios de autoria, pode o ofendido, ou quem tenha a qualidade para representá-lo, oferecer queixa. Se esta for recebida pelo magistrado, origina-se a ação privada subsidiária. Deve ser ressaltado, contudo, que essa ação só é privada no nome, pois mantém as características de uma ação pública, como veremos adiante. capítulo 6 • 121 Esquematizando aquilo que foi estudado: PÚBLICA INCONDICIONADA Legitimado: Ministério Público Propositura: através de denúncia Condicionamento: não há PÚBLICA CONDICIONADA Legitimado: Ministério Público Propositura: através de denúncia Condicionamento: representação ou requisição PRIVADA Legitimado: ofendido ou seu representante Propositura: através de queixa-crime Subespécie: personalíssima PRIVADA SUBSIDIÁRIA Legitimado: ofendido ou seu representante Propositura: através de queixa-crime Em essência: é uma ação pública Ação Penal 6.3 Princípios Para um correto estudo dos princípios atinentes à ação penal, devemos observar a dicotomia ação pública/privada, pois, dependendo da espécie, as considerações tecidas são diferentes. Em outras palavras, há princípios que se referem apenas à ação pública, outros, unicamente à ação privada, e ainda há aqueles que encampam ambas as espécies. Vamos a eles. 6.3.1 Princípio do ne procedat judex ex ofício ou da iniciativa das partes Como decorrência do sistema acusatório, que, para garantir um julgamento justo, determina sejam separados os órgãos de acusação e julgador, o magistrado não pode iniciar um processo criminal de ofício, tarefa que incumbe, via de regra, ao MP e, excepcionalmente, ao ofendido ou seu representante legal. O juiz só pode atuar depois de provocado pelas partes. Esse princípio é atinente a todas as espécies de ação penal, públicas ou privadas. 122 • capítulo 6 6.3.2 Princípio do ne bis in idem Não é possível que alguém venha a ser processado duas ou mais vezes pelo mesmo crime. Em outras palavras, não é possível que seja imputado o mesmo fato criminoso à mesma pessoa em dois ou mais processos. Assim, se, em uma determinada ação, o réu for absolvido por sentença transitada em julgado, nova ação penal não poderá ser oferecida, ainda que surjam novas provas. O princí- pio em comento é aplicável tanto à ação pública, como à privada. 6.3.3 Princípio da obrigatoriedade ou compulsoriedade Aplicável à ação penal pública, seja ela incondicionada ou condicionada. Pela obrigatoriedade, a Polícia Judiciária não pode deixar de investigar crimes que pressuponham ação desta natureza, assim como o Ministério Público não pode deixar de oferecer denúncia em virtude dos mesmos crimes, caso haja prova de fato que, em tese, constitua crime, e indícios de autoria (art. 24 do CPP). Em suma, não há discricionariedade quanto à investigação ou quanto à conveniência da denúncia. Isso significa que Polícia Judiciária e Ministério Público devem agir mesmo na ausência de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça, nos crimes de ação condicionada? Não. Imprescindível a condição de procedibilidade. Todavia, uma vez satisfeita esta condição, ficam os órgãos pú- blicos obrigados a agir. Há exceções ao princípio em apreço: transação penal, termo de ajustamento de conduta (TAC), acordo de leniência e colaboração premiada. A transação penal, prevista do art. 76 da Lei n. 9.099, de 1995, aplicável às infrações de menor potencial ofensivo, autoriza o MP a propor medidas alternativas (análogas às penas restritivas) e multa ao suspeito, contra o qual recaiam indícios de autoria, dispensando a denúncia (embora esta possa ser oferecida em caso de descumprimento da transação), no que a doutrina chama de obrigatoriedade mitigada. Já o termo de ajustamento de conduta é a celebração de um compromisso em que o infrator ajusta seu proceder às exigências legais, mediante cominações. Esse termo tem caráter de título executivo extrajudicial e é encontrado nos arts. 5º, § 6º, da Lei n. 7.347, de 1985, e 79-A da Lei n. 9.605, de 19982. 2 Entendendo que o TAC não obsta o prosseguimento da ação penal, STJ (HC n. 187.043/RS, julg. em 22/03/2011). capítulo 6 • 123 O acordo de leniência, previsto nos arts. 86 e 87 da Lei n. 12.529, de 2011, é celebrado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e consiste em uma espécie de delação premiada, sendo aplicável aos crimes previstos nas leis 8.137, de 1990, e 8.666, de 1993, bem como ao crime do art. 288 do CP. No caso da colaboração premiada, aquela que afeta o princípio da obrigatoriedade é a prevista no art. 4º, § 4º, da Lei n. 12.850, de 2013 (OrganizaçõesCriminosas). 6.3.4 Princípio da conveniência ou oportunidade Temos aqui a contraparte do princípio da obrigatoriedade. O princípio da conveniência ou oportunidade existe
na ação penal de iniciativa privada, não na pú- blica. A queixa-crime não é de oferecimento obrigatório, mesmo que eventual investigação tenha carreado aos autos prova da materialidade criminosa e indí- cios de autoria. Ao ofendido ou ao seu representante legal se confere discricionariedade. Ou seja, o oferecimento da exordial implica juízo de conveniência. A representação do ofendido e a requisição do Ministro da Justiça, na ação pública condicionada, também são regidas pela conveniência ou oportunidade. Contudo, uma vez implementada a condição de procedibilidade, passa a valer o princípio da obrigatoriedade. 6.3.5 Princípio da indisponibilidade Decorrência óbvia do princípio da obrigatoriedade, o princípio da indisponibilidade, aplicável exclusivamente à ação pública, diz que, uma vez iniciada a ação penal, o Ministério Público dela não pode dispor, abandonando-a ou dela desistindo (art. 42, CPP). Ainda que se convença da inocência do réu ou da inexistência do crime, deverá o órgão ministerial prosseguir na ação até o fim, opinando, se for o caso, pela absolvição em alegações finais. O princípio também é aplicado a recursos eventualmente interpostos pelo MP (art. 576, CPP), embora não seja ele obrigado a recorrer (art. 574, CPP). O princípio é excepcionado pelo instituto da suspensão condicional do processo, previsto no art. 89 da Lei n. 9.099, de 1995, e aplicável aos crimes com pena mínima de até 1 ano. Na suspensão condicional, após instaurada a ação penal, o MP propõe ao réu seu sobrestamento, pelo prazo de 2 a 4 anos, exigindo o cumprimento de certas condições como contrapartida. 124 • capítulo 6 Mesmo na ação privada subsidiária reconhecemos a incidência do princí- pio da indisponibilidade. Isso porque a ação, como dito, é em essência pública. Assim, se o ofendido abandona a ação subsidiária, fica o MP obrigado a assumi -la, dela não podendo desistir. 6.3.6 Princípio da disponibilidade Da mesma forma que o princípio da indisponibilidade é uma decorrência da obrigatoriedade, a disponibilidade é uma extensão da conveniência ou oportunidade. Por conseguinte, só incidente sobre a ação privada. Se o ofendido – ou representante – pode decidir pela conveniência no oferecimento da queixa-crime, igualmente pode desistir da ação já instaurada, ou abandoná-la a qualquer tempo. 6.3.7 Princípio da indivisibilidade Existindo coparticipação em um evento delitivo (coautoria ou participação em sentido estrito), o processo penal promovido contra um deles obriga ao processo contra todos. Não se pode selecionar quem será processado e quem ver--se-á livre da imputação. Não há dúvidas quanto à incidência deste princípio na ação privada: uma vez decidindo pela conveniência da queixa-crime, o ofendido – ou seu representante – deverá oferecê-la contra todos os participantes identificados. Evidentemente que, caso não haja a identificação de todos os envolvidos, ou exista sobre um deles mera suspeita, não respaldada por indícios de autoria, o ofendido não ficará tolhido em seu direito de queixa, podendo exercê-lo apenas em face daquele contra o qual exista justa causa para a ação. Se futuramente forem descobertos indícios de autoria contra os demais, o ofendido deverá ser intimado para aditar a queixa-crime. Quanto à presença do princípio da indivisibilidade na ação pública, a maté- ria é controversa. Parte da doutrina entende que a indivisibilidade é corolário da obrigatoriedade. Se o Ministério Público é obrigado a oferecer denúncia em face de prova do crime e indícios de materialidade, deve fazê-lo em relação a todos contra quem existam indícios. Outra corrente, no entanto, defende que o MP pode denunciar apenas alguns envolvidos e determinar ao delegado de polícia o prosseguimento das investigações em face de outros, a fim de robustecer os indícios. capítulo 6 • 125 PRINCÍPIOS RELATIVOS ÀS AÇÕES EM GERAL PRINCÍPIOS RELATIVOS À AÇÃO PÚBLICA PRINCÍPIOS RELATIVOS À AÇÃO PRIVADA •  Ne procedat judex ex officio •  Ne bis in idem •  Obrigatoriedade •  Indisponibilidade •  Indivisibilidade (discutível) •  Conveniência ou oportuni dade •  Disponibilidade •  Indivisibilidade 6.4 Condições da ação Dizemos condições gerais da ação aquelas ligadas ao regular exercício do direito de agir e que devem estar presentes em todos os tipos de ação penal, sem que se confundam com o direito material a ser discutido. Além das condições gerais, cujo estudo iniciaremos adiante, alguns tipos de ação penal pressupõem condições específicas. Estas somente são exigidas por lei em determinados casos: por exemplo, na ação penal pública condicionada, que requer representação do ofendido (condição de procedibilidade), entre outras. 6.4.1 Interesse de agir Interesse de agir, primeira das condições genéricas da ação, é necessidade, adequação e utilidade para a ação penal. Como só é possível a imposição de uma pena através do devido processo legal, a necessidade sempre se fará presente. Quanto à adequação, a obediência às normas processuais a indica. No que concerne à utilidade, para o reconhecimento do interesse de agir é necessário que existam indícios de autoria e materialidade para ensejar a propositura da ação penal, e que não esteja extinta a punibilidade do fato pela prescrição ou outra causa. Ou seja, só há interesse de agir, no processo penal, quando existe o fumus boni iuris, a convencer o juiz de que há elementos para acusação, e quando há punibilidade, pois somente assim é possível a aplicação da sanção penal. 6.4.2 Possibilidade jurídica do pedido Segunda das condições gerais da ação. Para que haja possibilidade jurídica do pedido, é necessário que o direito material reclamado no pedido de presta- 126 • capítulo 6 ção jurisdicional penal seja admissível, em tese (possibilidade teórica de obter uma condenação). Por exemplo, se o fato narrado na denúncia evidentemente não constitui crime, não se pode pedir que se imponha uma pena para tal. Para a ação ser regularmente exercida, o fato descrito na denúncia ou queixa-crime deve ser típico, descrito em norma penal incriminadora (ou, para alguns, típico, antijurídico e culpável, excetuando a inimputabilidade por doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou desenvolvimento mental retardado, pois a aplicação de medida de segurança exige ação penal). Não se trata aqui de analisar se existe ou não o jus puniendi, pois isso é matéria de mérito e será decidido na sentença, mas de saber se os fatos enunciados no pedido são típicos ou não. A possibilidade jurídica do pedido tem estreita ligação com o princípio da legalidade, previsto no art. 5º, inciso XXXIX, da CRFB, pois se não há fato típico, inexiste a condição. 6.4.3 Legitimidade da parte Diz respeito à pertinência subjetiva do direito de agir, ou seja, as partes devem ser legitimadas pela lei para pleitearem em juízo aquilo que lhes é devido. Existe no Código Penal, uma divisão dos crimes sob o aspecto da legitimidade: caso seja de ação penal pública, o legitimado para propor a ação penal é o Ministério Público, que luta pelo restabelecimento da ordem jurídica violada. Caso seja de ação penal privada, o legitimado é o particular, ou seja, o ofendido ou seu representante legal. No processo penal, há o entendimento majoritário de que pessoa jurídica não pode figurar no polo passivo da relação jurídico-processual. Ou seja, em relação à legitimidade passiva, somente pessoa física pode ser réu em processo criminal. Porém, com a Constituição Federal, passou-se a admitir a responsabilidade penal das pessoas jurídicas por crimes ambientais e delitos contra a ordem econômica, ou seja, excepcionalmente as pessoas jurídicas podem figurar no polo passivo da relação jurídico-processual. 6.4.4 Justa causa A quarta condição da ação diz respeito ao suporte probatório mínimo que deve ter a ação penal, com lastros probatórios mínimos de autoria, existência ma- capítulo 6 • 127 terial de uma conduta típica e sua antijuridicidade e culpabilidade. Caso uma ação penal sem justa causa seja proposta, caberá habeas corpus, conforme art. 648, I do CPP. Desta
forma, a verificação da configuração, ou não, de justa causa na persecução penal se dá de forma rasa, a ser constatada em primeiro plano e por prova pré-constituída. Ou seja, se há fundada suspeita de crime e elementos de informação idôneos que permitam uma investigação criminal do episódio delituoso, faz-se legítima a instauração da ação penal. Esta condição da ação penal decorre da reforma processual penal ocorrida no ano de 2008, pela Lei nº 11.719, que deu nova redação ao art. 395 do CPP e introduziu a justa causa como uma das condições para o não recebimento da denúncia pelo juiz, ou seja, a possibilidade de rejeição da denúncia pelo juiz por conta da ausência de justa causa. 6.5 Ação penal nos crimes complexos O art. 101 do CP trata da ação penal nos crimes complexos, com uma redação um tanto hermética: “Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público”. Inicialmente, há se compreender o que é um crime complexo: é aquele resultante da fusão entre dois ou mais tipos penais. Por exemplo, o roubo (art. 157), é um furto praticado mediante constrangimento ilegal (art. 155 + art. 146), portanto, um crime complexo. Há ainda quem defenda que os crimes complexos podem ser considerados em sentido estrito (exemplo acima) ou em sentido amplo (crime + elemento especializante = novo crime). Isso se daria, por exemplo, no peculato (art. 168 + condição de funcionário público e objeto material específico = art. 312), classificado como crime complexo em sentido amplo. Em breve estudaremos enunciado do STF defendendo essa posição, embora ela não seja encampada pela doutrina majoritária. Pois bem, consoante o art. 101, se entre os crimes que, fundidos, formam o crime complexo há algum que seja de ação pública, o crime complexo também o será. Vejamos o caso da injúria real (art. 140, § 2º, CP). O crime nada mais é do que a fusão entre a injúria (art. 140, CP) e, em alguns casos, o crime 128 • capítulo 6 de lesão corporal (art. 129, CP). A injúria é crime de ação privada (art. 145, CP). A lesão corporal é de iniciativa pública. Assim, a injúria real será processada mediante ação penal de iniciativa pública (art. 140 + art. 129 = art. 140, § 2º / art. 129 = ação pública / art. 140, § 2º = ação pública). 6.6 Ação penal nos crimes sexuais O art. 225 do Código Penal estabelece as hipóteses de ação penal reservadas aos crimes contra a liberdade sexual e contra vulneráveis (arts. 213 a 218-B do Código Penal). A regra é a ação pública condicionada à representação do ofendido ou de seu representante legal. O condicionamento da ação visa a evitar o chamado strepitus judicii, isto é, o alarde processual sobre fatos que envolvem a intimidade das vítimas de crimes sexuais. Argumenta-se que a exposição suportada pela vítima pode lhe causar constrangimento mais severo que o próprio crime, o que é uma assertiva de difícil aceitação, ainda mais quando confrontada com a reprovabilidade de certos crimes, como o estupro. Excepcionalmente, como veremos, a ação será pública incondicionada (sempre que a vítima do crime for pessoa menor de dezoito anos ou vulnerável). Anteriormente à Lei nº 12.015/09, a regra era a ação privada, pelo mesmo motivo atualmente defendido para o condicionamento da ação. O art. 225, entretanto, admitia expressamente ação pública condicionada ou incondicionada: (a) aquela, quando a vítima ou seus pais não podiam prover às despesas do processo sem privação de recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família; e (b) esta, em caso de crime cometido mediante abuso do poder familiar, ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador da vítima. Ainda havia duas hipóteses em que os crimes sexuais eram processados mediante ação pública incondicionada: delito qualificado pelos resultados lesão corporal grave ou morte (art. 223 do Código Penal, hoje revogado); e estupro praticado mediante violência real (Súmula nº 608 do STF). Importa o estudo dessas exceções para perfeita compreensão das regras atuais sobre a ação penal. Nos crimes qualificados, como o estupro com resultado lesão corporal grave ou o atentado violento ao pudor com resultado morte, o art. 223 do Código Penal estava inserido no Capítulo IV (Disposições Gerais) do Título IV (Crimes Contra os Costumes) da Parte Especial, mesma posição topológica do art. 225, que tratava (e ainda trata) da ação penal. Este, ao seu turno, falava que “nos capítulo 6 • 129 crimes definidos nos capítulos anteriores” a ação era privada. Ou seja, sua abrangência não alcançava o art. 223 do CP. Além disso, os delitos sexuais qualificados pelo resultado constituem crimes complexos, impondo-se a aplicação do artigo 101 do Código Penal, cujo teor já foi estudado. Se os resultados qualificadores (morte e lesão), se autônomos, são crimes de ação pública (homicídio e lesão corporal), quando parcelas de um crime complexo determinam a mesma natureza da ação para este delito. O art. 101 também serviu de justificativa para a edição da Súmula 608 do STF. Diz o enunciado, verbis: “No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada”. O texto defende a dicotomia entre crimes complexos em sentido estrito e em sentido amplo, igualmente já estudada. O estupro, para o STF, seria um crime complexo em sentido amplo (ato sexual + constrangimento ilegal). A posição adotada pelo STF sempre foi duramente criticada pela doutrina, por se prender mais a razões de política criminal do que à boa técnica jurídica. Na atual redação do art. 225, a primeira hipótese de ação incondicionada trata do ofendido menor de dezoito anos. A segunda hipótese trata dos demais casos de vulnerabilidade, excetuada a hipótese da menoridade da vítima. Percebe-se que o legislador, ao cuidar da questão etária no artigo em apreço, fixando-a em dezoito anos, pretendeu dar à expressão “vulnerável” acepção ampla, abrangendo todas as situações legalmente previstas, ou seja, aquelas situações em que o ofendido é portador de enfermidade ou deficiência mental, sem capacidade de discernimento, ou de pessoa que, qualquer que seja o motivo, não pode oferecer resistência. Mas é justamente este último ponto do dispositivo que merece ressalvas. Consoante GILABERTE, “deve ser vislumbrado que a impossibilidade de resistência pode ser prolongada (como na hipó- tese de uma pessoa em estado comatoso profundo) ou breve (por exemplo, na embriaguez completa, que causa desfalecimento temporário). Em sendo breve, parece-nos razoável a manutenção da regra geral, ou seja, ação pública condicionada. Afinal, ainda que se critique a opção legislativa pela supervalorização do strepitus judicii, qual seria a razão para se negar proteção semelhante à intimidade da vítima? Ainda que esta tenha por um período tênue sua capacidade cognitiva obnubilada, em curto espaço de tempo já se torna apta a avaliar a conveniência de suprir a condição de procedibilidade. Portanto, fica claro que a exceção legal somente tem aplicação aos casos de incapacidade prolongada”. Essa foi a posição também adotada pelo STJ. 130 • capítulo 6 Mas e o caso dos crimes qualificados pelo resultado e da Súmula 608 do STF? Como ficaram na legislação atual? No estupro qualificado pelos resultados lesão corporal grave ou morte, o delito continua complexo, de modo que a regra do art. 101 do Código Penal se mantém aplicável, determinando a natureza pública incondicionada da ação penal. No tocante à Súmula 608 do STF, embora se possa discutir a técnica que levou à edição (ela é equivocada), sua motivação também permanece íntegra, já que igualmente calcada no art. 101 do CP. Ainda que se vislumbre que as razões político-criminais que levaram ao enunciado do STF cessaram quando a Lei nº 12.015/09 expressamente passou a determinar ação pública para o crime de estupro, ainda que condicionada, a argumentação esposada à época, concordese ou não, se mantém. É nesse
sentido a orientação que exsurge de julgados recentes do STJ3. 6.7 Ação penal e Lei n. 11.340, de 2006 Em regra, a Lei 11.340, de 2006 (Lei de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher), não interfere na natureza da ação penal concernente aos crimes nela especificados. Isso muda apenas quando tratamos da lesão corporal de natureza leve. Para os crimes de lesão corporal leve ou culposa, normalmente, a ação é pú- blica condicionada. É o que dispõe o art. 88 da Lei n. 9.099, de 1995. Aliás, na lesão corporal, o legislador adotou uma postura diferente daquela que é usual na maioria dos crimes: exigência de representação ou queixa no próprio artigo de lei que traz a descrição do comportamento ou logo depois deste. Na ameaça, por exemplo, a representação é exigida pelo próprio art. 147 (p. único); para a calúnia, prevista do art. 138, a queixa-crime vem prevista no art. 145. Já na lesão corporal, que originalmente era um crime de ação pública incondicionada em todas as suas modalidades, a exigência de representação está em lei especial. E isso fará toda a diferença naquilo que iremos estudar. A Lei 11.340, em seu art. 41, estabelece que, às hipóteses nela previstas, independentemente da quantidade de pena aplicada, não se aplica a Lei 9.099. 3 STJ, HC 232.064/TO, rel. Ministro Marco Aurelio Bellizze, julg. em 21/03/2013; STJ, RHC 26.455/BA, rel. Ministro Felix Fischer, julg. em 16/03/2010. capítulo 6 • 131 Suponhamos, então, que a esposa ameace o marido: ela responderá pelo crime do art. 147 do CP, e a ação será condicionada à representação. E se o marido ameaça a mulher? Dá no mesmo. Nesse caso, incide a Lei n. 11.340, com todas as suas medidas protetivas. Todavia, como dito anteriormente, a lei quase não produz interferências sobre a natureza da ação penal. Assim, continua ela sendo pública condicionada. Agora, e se a esposa agride fisicamente o marido? Temos o crime de violência doméstica (art. 129, § 9º, CP). A lesão corporal, na violência doméstica, é sempre de natureza leve. Consequentemente, consoante o disposto no art. 88 da Lei n. 9.099, a ação é pública condicionada. E se o marido é o agressor? Aí temos a Lei 11.340, que, em seu art. 41, refuta a aplicação da Lei 9.099; como a exigência de representação na lesão leve está no art. 88 da Lei 9.099, o dispositivo se torna inaplicável. Não há, portanto, qualquer artigo indicando a natureza da ação penal. E, quando a lei é omissa, a ação é pública incondicionada.
Reincidência – E reincidente após transito em julgado em sentença. Nao Precisa ser o mesmo crime. C x C reicidente – Cont x Crime Nao Reincidente
Concurso de crimes
 concurso de crimes é o nome que se dá quando a mesma pessoa pratica mais de um crime, com uma só ação ou com várias ações. 
Concurso Material 2 ou mais crimes para cada condulta – penas sera somadas
Concurso Formal Proprio: 1 só conduta pratica dois ou mais delitos - aumentar a pena ate 1/6 a ½
Concurso Formal Improprio: 1 ou mais crimes dolosos – Penas Somadas 
Crime Continuado: Mais de uma ação ou omissao. Condição de tempo, lugar, maneira de execução, 
Uma só pena com aumento de 1/6 a 2/3.
4.2.6 Progressão e regressão de regime prisional 4.2.6.1 Progressão de regime prisional A pena privativa de liberdade, no Brasil, é executada de forma progressiva, com ingresso do apenado em um regime mais restritivo, passando por um regime intermediário e chegando até um com restrição mínima da liberdade (sistema progressivo irlandês). Em outras palavras, o condenado, pouco a pouco e de acordo com seu mérito, vai conquistando a suavização das restrições a ele impostas. O art. 33, § 2º, do CP, menciona brevemente o sistema progressivo, mas sem tecer maiores considerações. Será na Lei de Execução Penal que encontraremos a sistematização da matéria. Segundo o art. 112 da Lei n. 7.210, de 1984 (LEP), são requisitos para a progressão de regime: a) cumprimento de parte da pena privativa de liberdade no regime imediatamente anterior. A quantidade de pena a ser cumprida depende da natureza do crime. Em regra, exige-se 1/6 do tempo total de pena. Assim, se o agente foi condenado a uma pena de 12 anos de reclusão, deve cumprir 2 anos para passar do regime fechado para o semiaberto. No entanto, nos crimes hediondos e equiparados, a regra é diferente: de acordo com o art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072, de 1990, a progressão de regime em tais delitos pressupõe cumprimento de 2/5 da pena, caso o condenado seja primário, ou 3/5, em caso de reincidência. Mas nem sempre foi desta forma, pois, em sua redação original, a Lei dos Crimes Hediondos estabelecia o regime integralmente fechado. Isto é, o condenado começava a cumprir sua pena em regime fechado e não tinha direito à progressão. A regra começou a ser flexibilizada a partir da Lei n. 9.455, de 1997, que define o crime de tortura. A tortura é um delito equiparado a hediondo, tal qual o tráfico de drogas e o terrorismo, e, na referida lei, a ela foi abolido o 7 HC n. 111840. capítulo 4 • 91 regime integralmente fechado, passando a valer o regime inicialmente fechado (art. 1º, § 7º). Na época, houve protestos pela extensão da regra aos demais crimes hediondos e equiparados, sob o argumento da isonomia. Entretanto, o STF abraçou entendimento diverso na Súmula n. 698: “Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura”. Em 2006, no entanto, no julgamento do habeas corpus n. 82.959/SP, o STF julgou inconstitucional, em um caso concreto (incidenter tantum), o regime integralmente fechado, sob o argumento da violação ao princípio da individualização da pena (o mesmo usado hoje para contestar o regime inicialmente fechado). Verificando que o regime integral seria de fato abolido, o Congresso Nacional aprovou a Lei n. 11.464, de 28 de março de 2007 (com vigência na data da publicação), em que, através da alteração do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072, se passou a admitir a progressão de regimes nos crimes hediondos e equiparados (todavia após o cumprimento de parcela maior da pena do que aquela prevista no art. 112 da LEP, isto é, 2/5 ou 3/5). Com a mudança na legislação, surgiu a dúvida: a nova regra seria aplicável aos delitos anteriores à vigência da Lei n. 11.464? Prevaleceu a opinião segundo a qual, nos crimes hediondos e equiparados praticados anteriormente a ela, em virtude da inconstitucionalidade do regime integralmente fechado, valeria a regra geral da Lei de Execução Penal, com progressão após o cumprimento de 1/6 da pena. Como a lei nova, nesse ponto, impõe uma regra mais severa de progressão (2/5 ou 3/5), ela seria irretroativa. Esse entendimento acabou sumulado pelo STJ (Súmula 471: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no artigo 112 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional”), bem como foi objeto de súmula vinculante editada pelo STF (Súmula Vinculante n. 26: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico”). Resumidamente: João, primário, cometeu crime de estupro em 2005, razão pela qual, se condenado, estaria sujeito ao regime integralmente fechado, o qual, contudo, foi declarado inconstitucional pelo STF; assim, João pode progredir de regime após cumprir 1/6 da pena que lhe foi imposta, e não 2/5 ou 3/5, que importariam tratamento 92 • capítulo 4 mais severo e, portanto, irretroativo; no entanto, se praticasse o crime após a vigência da Lei n. 11.464/2007, precisaria cumprir 2/5 da pena. OBS.: de acordo com a Súmula 715 do STF, para fins de progressão de regime não se considera a pena unificada – para atender ao limite
de 30 anos – mas sim a pena total. b) Apresentação de bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional. Para a progressão de regime, o cumprimento de parcela da pena não é suficiente. Mister se verifique o mérito do condenado. Mesmo com a certificação, em caso de dúvida, pode o juiz exigir um exame criminológico para embasar sua decisão? O exame criminológico é mencionado no art. 8º da LEP e consiste em uma avaliação realizada por psicó- logos, psiquiatras e assistentes sociais. Antigamente, o parágrafo único do art. 112 da LEP estabelecia que, quando necessário, a progressão de regime deveria ser precedida de parecer da Comissão Técnica de Classificação e do exame. Entretanto, a norma foi revogada pela Lei n. 10.792, de 2003, que, ainda, trouxe à baila a certificação pelo diretor do estabelecimento prisional. Isso não significa, contudo, que o exame criminológico não possa acontecer, embora o tema não seja pacífico. Basta que o magistrado fundamente sua exigência. A Súmula Vinculante n. 26, acima transcrita, já deixa clara a posição do STF sobre o tema. Nesse sentido também é a orientação do STJ, sintetizada na Súmula n. 439: “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”. c) Em caso de condenado por crime contra a administração pública, fica a progressão de regime condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. Embora a norma não ressalve o dano de impossível reparação, também nesse caso o agente pode progredir de regime. Para tanto, faz-se uma analogia com os arts. 78, § 2º e 83, IV, ambos do CP. A progressão sempre se dará do regime imediatamente anterior para o subsequente, o que impede a progressão per saltum (ou seja, do regime fechado para o aberto, sem passagem pelo semiaberto). Esse é o teor da Súmula n. 491 do STJ: “É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional”. Nesse ponto, uma pergunta se faz pertinente: o que é a prisão albergue domiciliar? Consiste na imposição de prisão domiciliar àquele que deveria estar capítulo 4 • 93 em casa de albergado, cumprindo regime aberto, seja porque este foi o regime inicial fixado na sentença condenatória, seja porque o condenado já faz jus à progressão de regime, mas no Estado inexiste casa de albergado, ou nesta não há vagas. O condenado não pode sofrer uma privação de liberdade mais intensa do que a necessária, por ineficiência do poder público, invocando-se, destarte, os princípios da humanidade e da individualização das penas. Ainda que o art. 117 da LEP, que trata da prisão domiciliar, não contemple a hipótese de ineficiência estatal6, este dispositivo é aplicado de forma analógica, em benefício do apenado.
Concurso de Pessoas (agentes)
Os requisitos para o concurso de pessoas são Pluralidade de pessoas e de condutas; Relevância causal de cada conduta; Unidade 
de infração penal; Liame Subjetivo entre os agentes. 
7.3 Prescrição Com a criação da norma penal incriminadora e o início de sua vigência, esta passa a ser oponível a todos os cidadãos. Ou seja, todos devem respeitá-la. Uma vez alguém a viole, surge, para o Estado, o jus puniendi, que é o poder-dever de punir. A satisfação deste poder deve ser buscada em juízo, pois ninguém pode ser penalmente sancionado sem o devido processo legal. Com a sentença pena condenatória irrecorrível, o jus puniendi é satisfeito e, simultaneamente, surge capítulo 7 • 143 para o Estado um segundo poder-dever: o de executar a sanção penal, chamado de jus executionis. Nenhum desses poderes é temporalmente ilimitado – ou normalmente não o são –, o que faz com que o Estado deva exercitá-los em certo prazo. Esse prazo é denominado prescricional, razão pela qual podemos falar em extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva, ou pela prescrição da pretensão executória, caso haja o decurso do lapso temporal sem o seu exercício. 7.3.1 Por que existe a prescrição? A prescrição, como causa de extinção da punibilidade, se justifica por vários motivos. Primeiramente, devemos conjugar o instituto com as finalidades da pena: uma punição temporalmente distanciada do evento que a determinou não tem eficácia preventiva, seja geral ou específica, positiva ou negativa; e mesmo a função retributiva perde grande parte de sua força. Também serve a prescrição como uma forma de punição ao Estado por sua ineficiência. Ainda, a prescrição tem um lado humanitário, porque ninguém pode viver eternamente tolhido em sua liberdade individual, sob ameaça de uma punição. Por fim, podemos elencar uma justificativa processual: o tempo torna mais difícil a colheita de provas sobre o crime, o que atrapalha, senão impede, a instrução da ação penal. 7.3.2 Prescrição da pretensão punitiva pela pena em abstrato O prazo prescricional é determinado pela gravidade da infração penal: quanto mais grave o crime, maior o prazo. E a gravidade do crime é revelada pela pena a ele cominada. Portanto, há nítida relação entre o tamanho da pena e a extensão do prazo prescricional. Todavia, logo depois o cometimento da infração – ou mesmo durante a investigação ou a ação penal –, ainda não se sabe qual será a pena fixada para aquele delito, ou seja, não há uma pena concretizada para balizar o prazo prescricional. Assim, o prazo prescricional, que em regra come- ça a correr desde o momento em que se consuma a infração, precisa de outro parâmetro para sua determinação. Esse parâmetro será a pena em abstrato. Todavia, a pena em abstrato é estabelecida através de margens penais: limites mínimo e máximo de pena (1 a 4 anos no furto; 4 a 10 anos no roubo; 12 a 30 anos no homicídio qualificado). Assim, qual desses limites servirá para 144 • capítulo 7 determinar o prazo prescricional? Em tema de prescrição pela pena em abstrato, adotamos a técnica da pior situação possível para o autor do crime, isto é, sempre consideraremos a pena mais elevada, que corresponde ao limite máximo. Mas não se pense que o prazo prescricional será idêntico à pena. Se a pena máxima do roubo é de 10 anos, isso não significa que o prazo será de iguais 10 anos. A sanção penal máxima é a base para a verificação do tempo da prescri- ção, que será ditado pelo art. 109 do CP. De acordo com o dispositivo, penas superiores a 12 anos prescrevem em 20 anos; penas superiores a 8 anos, mas que não excedam 12, prescrevem em 16 anos; penas superiores a 4, que não excedam 8, em 12; penas superiores a 2, que não excedam 4, em 8; penas iguais ou superiores a 1, que não excedam 2, em 4; e penas inferiores a 1 ano prescrevem em 3 anos. Portanto, voltando ao exemplo do roubo, se a pena máxima cominada abstratamente ao crime é de 10 anos, isso significa que seu prazo prescricional será de 16 anos. É evidente que a coisa não é tão simples assim: há fatores que alterarão o quadro acima explicitado. E o primeiro deles se refere à incidência das causas de aumento e de diminuição da pena. Estas devem ser consideradas no momento da seleção da pena que ditará o prazo prescricional. Voltemos ao roubo e suponhamos que este crime seja tentado: incidirá sobre a pena uma causa de diminuição de 1/3 a 2/3, consoante art. 14, II, do CP. Mas que redução deverá ser aplicada? 1/3, 1/2, 2/3? Considerando que sempre adotaremos a pior situação possível para o agente, a causa de diminuição deverá ser aplicada no mínimo. No exemplo dado, 1/3. Assim, a pena em abstrato do roubo fica em 7 anos e 8 meses, o que, consoante o art. 109 do CP, imporá prazo prescricional de 12 anos. O mesmo raciocínio deve ser aplicado às causas de aumento da pena, que, para traduzirem a pior situação possível ao agente, serão consideradas em seu máximo. Assim, no roubo majorado, em que a pena é aumentada de 1/3 até 1/2, tomemos 1/2 como acréscimo. A pena, que era de 10 anos, passará a ser de 15. De acordo com o art. 109 do CP, prazo prescricional de 20 anos. Nesse ponto, importa consignar que as causas de aumento da pena referentes ao concurso de crimes não serão aplicadas
para fim de prescrição. Isso porque cada crime prescreve isoladamente, não havendo se falar em concurso. Suponhamos que haja concurso formal perfeito entre um homicídio culposo (art. 121, § 3º, CP) e uma lesão corporal culposa (art. 129, § 6º, CP). Ao invés de capítulo 7 • 145 tomarmos apenas a pena do homicídio culposo, com aumento decorrente do concurso, a prescrição incidirá separadamente sobre ambos os delitos. E as agravantes e atenuantes? Interferem no prazo prescricional? Não, pois o legislador não atribui a elas um patamar certo de incremente ou suavização da pena. Outro fator que altera o prazo prescricional é a idade do agente. Se ele for menor de 21 anos à época do fato, ou maior de 70 à data da sentença, o prazo prescricional é contado pela metade. Assim, um prazo de 16 anos, por exemplo, passa a ser de 8 anos. Isso é determinado pelo disposto no art. 115 do CP. A reincidência também altera o prazo prescricional, de acordo com o disposto no art. 110 do CP. Nesse caso, a pena é aumentada em 1/3. Mas cabe um alerta: esse acrescimento somente se dará sobre o prazo de prescrição da pretensão executória, não interferindo na pretensão punitiva (Súmula 220 do STJ). Nesse ponto do estudo, cabe o questionamento: os atos infracionais prescrevem? Se sim, qual é seu prazo prescricional? Apenas para relembrarmos, atos infracionais são as condutas típicas e antijurídicas praticadas por adolescentes-infratores. E eles prescrevem. Teremos, nessas hipóteses, que tomar por base o tempo máximo em abstrato de internação a eles aplicável, qual seja, 3 anos. Pelo art. 109 do CP, o prazo prescricional seria de 8 anos. No entanto, como invariavelmente os adolescentes-infratores são menores de 21 anos à época do fato, o prazo passa a ser de 4 anos. Caso a pena seja de multa, cominada ou aplicada de forma isolada, o prazo prescricional é de dois anos (art. 114, I, CP). Se a pena de multa for aplicada em conjunto com outra pena, prescreverá no mesmo tempo desta (art. 114, II, CP). No caso do art. 28 da Lei 11.343, de 2006, o diploma especial indica prazo prescricional de 2 anos. Por ser norma especial, tal especificação prevalece sobre a regra geral do CP (art. 30 da Lei n. 11.343, de 2006). 7.3.2.1 Termo inicial Se estamos falando em prazo, este deverá ter um termo inicial, ou seja, um dia em que começará a ser computado. E, em tema de prescrição, o termo inicial do prazo é determinado pelo art. 111 do CP. A regra geral é: o prazo prescricional da pretensão punitiva pela pena em abstrato tem início com a consumação do crime (inciso I). Assim, se, em um homicídio, a vítima é atingida pelo disparo de arma de fogo no dia 2 de fevereiro, mas só vem a falecer no dia 9 do mesmo 146 • capítulo 7 mês, depois de passar uma semana internada no hospital, apenas no dia nove terá início a contagem do prazo. Evidentemente que, em caso de crime tentado, a consumação não poderá ser usada, pois ela inexiste. Destarte, o termo inicial será a data em que cessou a atividade criminosa (inciso II). O art. 111 do CP ainda prevê três exceções. A primeira delas diz respeito aos crimes permanentes. Nestes, o prazo só tem início quando cessada a permanência (inciso III). Tomemos como exemplo o crime de ter em depósito drogas para finalidade de tráfico (art. 33 da Lei n. 11.343, de 2006), que é conduta permanente: se o sujeito ativo constituiu o depósito no dia 19 de março, o crime já está consumado; todavia, se a manutenção da droga em depósito perdurou até o dia 31 de março, ocasião em que a substância foi apreendida pela polícia, apenas nesta data teremos o início do prazo prescricional. Há quem defenda, outrossim, a aplicação da mesma regra aos crimes habituais. A próxima exceção (inciso IV) versa sobre o crime de bigamia (art. 235 do CP), bem como sobre a falsificação ou alteração de assentamento do registro civil (por exemplo, arts. 241 e 242 do CP). Nesses casos, o prazo prescricional só começa a correr quando o fato se torna conhecido. Por exemplo, na bigamia, se o sujeito ativo contraiu o segundo vínculo matrimonial em abril de 2003, mas apenas em outubro de 2015 o fato foi descoberto por uma autoridade policial, pois até então era mantido em segredo, somente nessa segunda data o prazo se iniciará. A última hipótese, prevista no inciso V, não constava na redação original da reforma da Parte Geral, sendo incluída no art. 111 pela Lei n. 12.650, de 2012. Diz o dispositivo que o prazo começa a fluir, nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. Aqui, temos duas regras: (a) o prazo começa a correr quando a vítima completa 18 anos (dia de seu aniversário); (b) se proposta ação penal antes desse momento (18 anos da vítima), o termo inicial passa a ser outro, surgindo três posições distintas na doutrina: b.1. o termo inicial é a data da consumação do crime, com esteio no inciso I; b.2. é a data da propositura da ação; b.3. é a data do recebimento da denúncia, em analogia ao disposto no art. 117, I, do CP. capítulo 7 • 147 7.3.2.2 Causas interruptivas Uma vez iniciado o fluxo do prazo prescricional, pode ele ser interrompido. Quando isso ocorre, ele é “zerado”, reiniciando-se a sua contagem. O art. 117 do CP traz as causas interruptivas da prescrição da pretensão punitiva em seus incisos I a IV. São elas: a) Recebimento da denúncia ou da queixa. Apenas a decisão judicial sobre o recebimento da denúncia ou da queixa tem o condão de interromper o prazo prescricional. O simples oferecimento não o interrompe. b) Decisão de pronúncia. Causa interruptiva que existe apenas nos procedimentos do Tribunal do Júri. c) Decisão confirmatória de pronúncia. Refere-se à decisão tomada em segundo grau de jurisdição, existente apenas nos procedimentos do Tribunal do Júri. d) Pela publicação de sentença ou acórdão condenatórios recorríveis. A publicação se dá com a entrega dos autos em cartório. Apenas a sentença e o acórdão condenatórios, ou seja, aqueles que condenam pela primeira vez, ou que majoram a pena, interrompem a prescrição. Decisões absolutórias ou meramente confirmatórias não produzem esse efeito. Deve ser lembrado que o art. 117 contempla outras duas causas interruptivas da prescrição (incisos V e VI), mas estas somente se aplicam à pretensão executória, como veremos. Como as causas interruptivas determinam o reinício do prazo prescricional, a verificação da causa extintiva da punibilidade se dará “por trechos”. Imaginemos um crime de autoaborto (art. 124 do CP), cujo prazo prescricional pela pena em abstrato é de 8 anos: primeiramente, verifica-se o decurso desse prazo entre a data da consumação do crime e o recebimento da denúncia; não ocorrendo a prescrição, da data do recebimento da denúncia até a sentença de pronúncia, e assim por diante. Em suma, o tempo não é contado da consuma- ção até a sentença condenatória, mas sim separando o lapso temporal em trechos, determinados pelos marcos interruptivos. À pena de multa se aplicam as causas interruptivas da prescrição concernentes à legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública (art. 51 do CP). 148 • capítulo 7 7.3.2.3 Causas impeditivas ou suspensivas Além das causas interruptivas da prescrição, também existem causas suspensivas ou impeditivas do prazo. Estas causas determinam o seu sobrestamento por certo período. Cessando a causa que ensejou a suspensão, o prazo volta a correr normalmente. O art. 116 do CP traz algumas das causas suspensivas da prescrição. Não podemos falar em enumeração taxativa porque há várias causas suspensivas fora do âmbito do mencionado dispositivo. Por exemplo, o art. 366 do CPP (acusado citado por edital que não comparece, nem constitui advogado, o que acarreta a suspensão processual), é uma causa suspensiva da prescrição. Também é causa suspensiva da prescrição a suspensão condicional do processo (art. 89, § 6º, Lei n. 9.099, de 1995). As causas previstas no art. 116 são: (a) pendência

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