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Tentativa (DPII e III)0112.doc

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL II e III 
MATERIAL DE APOIO E ORIENTAÇÃO SOBRE 
TENTATIVA E CONSUMAÇÃO 
 
 
 
Professor Fábio Freitas Dias 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Maria, março de 2012 
 
 
 
 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DIREITO PENAL II e III 
MATERIAL DE APOIO E ORIENTAÇÃO SOBRE 
TENTATIVA E CONSUMAÇÃO 
 
 
 
 
 
Material disponibilizado aos alunos das disciplinas de Direito Penal II e III que 
compõe a grade curricular do Curso de Direito do Centro Universitário 
Franciscano, Santa Maria, RS, para servir de apóio ao entendimento do tipo 
penal. 
 
 
 
Professor Fábio Freitas Dias 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Maria, março de 2012 
TENTATIVA E CONSUMAÇÃO (CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA, ELEMENTOS E PUNIBILIDADE DA 
TENTATIVA; CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA, FORMAS DA TENTATIVA) 
 
1. Considerações iniciais: todo crime se desenvolve numa sucessão temporal de atos, 
que pode variar quanto a sua duração. O crime possui um “caminho” a que denominamos 
iter criminis. Esse caminho, portanto, é um conjunto de etapas que se sucedem 
cronologicamente até a configuração final do crime. 
 Segundo a doutrina, no iter criminis é possível distinguir as seguintes fases ou 
estágios de desenvolvimento do crime: a COGITAÇÃO (idealização + decisão), a 
PREPARAÇÃO (meios + modos de execução), a EXECUÇÃO e a CONSUMAÇÃO. 
 Como regra geral, podemos afirmar inicialmente que o iter criminis começa a ser 
punível, quando o agente começa a atividade executiva. Daí concluir que toda e qualquer 
etapa desenvolvida no foro íntimo do agente não pode ser punida, pois, o tipo penal não 
os alcança. Também é possível afirmar que os atos preparatórios são atípicos. Se o 
agente realiza atos preparatórios para realização de um homicídio, por exemplo, não 
poderá ser punido à título de tentativa. Tal regra, no entanto, costuma ser afastada pelo 
legislador por duas maneiras: 
a) equiparação entre tentativa e consumação para determinados crimes. Dessa forma, 
com tal equiparação, o legislador define a mesma punição para o crime tentado ou 
consumado. É o caso do art. 352 do CP, define o crime de evasão mediante violência 
contra a pessoa. Dispõe: Evadir-se ou tentar evadir-se o preso... Pena – detenção de 3 
meses a 1 ano. 
b) a independente tipificação de certos atos preparatórios é outra forma de excepcionar a 
regra inicial. É exemplo o art. 25 da Lei de Contravenções Penais. Nesse caso, o 
legislador optou em tipificar um delito autônomo do crime de furto. Basta que o agente 
possua em seu poder utensílios próprios ao cometimento de furto, para que seja punido. 
Ocorrido o fato, responde pela consumação do crime previsto nesse artigo e não por 
tentativa de furto. Outros exemplos: arts. 253 (possuir substâncias ou engenhos 
explosivos, etc); arts. 291 e 294 (aparelhos para falsificação de moeda); 
 
 
 Idéia de cometer o crime 
 Fase interna (cogitação) 
 Deliberação (decisão) 
ITER CRIMINIS1 
 Atos preparatórios 
 Fase externa Atos executórios 
 Consumação 
 
 
1 Conforme JESUS, Damásio E. de, Direito Penal. Parte Geral, vol. 1, São Paulo: Saraiva, 2001, p. 334. 
 Prof. Fábio Frei ta s Dias 
 
 4 
2. Conceito e natureza da tentativa: o crime tentado é definido legalmente pelo art. 14, 
II do CP. A tentativa ocorrerá, quando iniciada a execução, o crime não se consuma por 
circunstância alheias à vontade do agente. Segundo WESSELS, «É a manifestação da 
resolução para cometimento de um fato punível através de ações que se põem em 
relação direita com a realização do tipo legal, mas que não tenham conduzido à sua 
consumação».2 
 DAMÁSIO afirma que a natureza jurídica da tentativa «constitui ampliação temporal 
da figura típica».3 Ela nada mais é do que uma ampliação da tipicidade proibida, 
abrangente de parte da conduta imediatamente anterior à consumação. Já tivemos 
oportunidade de referir, quando do estudo da tipicidade, que a adequação típica pode ser 
indireta, ou seja, necessita de outro dispositivo legal para haver a adequação do fato 
concreto. É o caso da tentativa. Não há tipos legais que definam os crimes tentados em 
espécie. Há uma norma geral (art. 14, II) que se agrega à outros tipos para propiciar a 
punição à título de tentativa. Podemos citar como exemplo o crime de homicídio tentado. 
Imaginemos que o agente tenha disparado dois tiros no peito da vítima, mas essa é salva 
pela habilidade do médico cirurgião. Do exemplo podemos extrair que: 
a) o agente realizou atos de execução, pois disparou contra a vítima; 
b) o crime não se consumou, já que, um médico impediu o resultado morte; 
c) o agente iniciou um ato de execução e o resultado não ocorreu por circunstâncias 
alheias à sua vontade; 
d) a adequação típica é dita indireta, porque ao caput do art. 121, agrega-se o art. 14, II, 
ambos do Código penal. 
 
3. Fundamento da punição da tentativa no Direito brasileiro: o Direito penal no 
sistema jurídico brasileiro tem por missão fundamental a proteção de bens jurídicos. 
Sempre tendo por paradigma a noção de Estado Social e Democrático de Direito, o 
direito punitivo, orientado a buscar o maior bem-estar com o menor custo social, deve ser 
visto como um último e legítimo instrumento positivado que, através da pena, visa 
conservar a estrutura valorativa da sociedade, jurídico constitucionalmente consagrada, 
frente a fatos da mais alta nocividade. Sua função, não pode ser outra, senão a de tutelar 
os bens e valores fundamentais, imprescindíveis ao desenvolvimento das potencialidades 
humanas no meio social, frente a condutas agressivas graves e intoleráveis. 
 Nesse sentido, não pode ser outro o fundamento da tentativa. Como afirmam 
ZAFFARONI e PIERANGELI, «nosso código funda a punibilidade da tentativa na impressão 
que produz no Direito, por ser ameaçadora para o bem jurídico, o que já representa uma 
 
2 WESSELS, Johannes, Direito penal. Aspectos fundamentais, tradução do original alemão e notas por 
Juarez Tavares, Porto Alegre: Fabris, 1976, p. 133. 
3 JESUS, Damásio E. de, ob. cit., p. 335. 
 Direi to penal III 
 
 5 
forma de ofendê-los».4 
 A punibilidade da tentativa é proporcional a atitude desvaliosa contra o bem 
jurídico. Em comparação à consumação, ela é menos grave e intolerável, por isso, é 
apenada mais brandamente. Segundo o parágrafo único do art. 14 do CP: Salvo 
disposição em contrário, pune-se a tentativa com pena correspondente ao crime 
consumado, diminuída de um a dois terços. Há exceções, todavia, como no caso do art. 
352, já citado. 
 
4. Elementos da tentativa: pelo que já dissemos, é possível concluir que, no iter 
criminis, a tentativa encontra-se na execução da conduta. Desse modo, podemos afirmar 
que seus elementos são: dolo por parte do agente, que visa à consumação do delito, 
início de execução do crime e inocorrência de consumação do crime por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. Vamos analisar esses elementos. 
4.1 Dolo do agente dirigido à consumação do delito: o dolo requerido no crime 
tentado é o mesmo dolo que compõe a tipicidade subjetiva do crime consumado. Não há 
um dolo de tentativa, há tão-somente dolo do
crime que se objetiva consumar. Por outras, 
o dolo exigido requer conhecimento da situação que embasa o tipo objetivo e vontade de 
realizá-lo. 
 Essa identidade entre o tipo subjetivo da tentativa e do delito consumado põe a 
descoberto a própria estrutura da tentativa. Como afirmam ZAFFARONI e PIERANGELI, o 
delito tentado configura-se num «delito incompleto, de uma tipicidade subjetiva completa, 
com um defeito na tipicidade objetiva».5 Isso porque o aspecto subjetivo que domina a 
conduta se perfaz com o querer consumar o delito, materializado no iniciar a execução, 
mas que não se consuma por circunstância alheia à vontade do agente. 
4.2 Início de execução: é fácil afirmar que a tentativa é diretamente ligada à execução 
do crime, àquele momento que se estende desde o começo da execução até à 
consumação. Em verdade, a tentativa depende de uma conduta que se realiza entre a 
preparação e a consumação. Todavia, essa afirmação não é composta de elementos 
suficientes capazes de estabelecer uma diferença entre atos de preparação e atos de 
execução. A grande questão na tentativa é definir o conceito de início de execução, que 
estabelece o limite inicial da punibilidade da ação típica e fixa o ponto de separação dos 
atos preparatórios impuníveis. 
 Vamos nos utilizar de um quadro comparativo entre o homicídio e o furto para 
exemplificar a dificuldade apontada: 
 
4 ZAFFARONI, Eugênio Raúl/PIERANGELI, José Henrique, Da tentativa, 4.ª ed., São Paulo : RT, 1995, p. 39. 
Mais adiante afirmam: «atos de tentativa só podem ser aqueles que se mostram como ameaçadores, como 
capazes de infundir temor e de perturbar, por conseqüência, a relação de disponibilidade do ente que o 
Direito considera que o homem necessita para a sua auto-realização». Idem, p. 52. 
5 Idem, p. 42. 
 Prof. Fábio Frei ta s Dias 
 
 6 
Etapas criminosas Homicídio qualificado Furto qualificado 
A quer matar B A quer subtrair bem de B 1. Cogitação 
A decide fazê-lo A decide fazê-lo 
A pega a arma e munição A apanha chave falsa (gazua) 2. Preparação 
A prepara emboscada A vai até a casa de B 
A aponta arma para B A entra na casa 3. Execução (zona cinzenta) 
A aciona o gatilho A pega as jóias 
4. Consumação A mata B A sai da casa com as jóias 
 
 Três teorias procuram estabelecer o divisor de águas entre atos preparatórios e 
atos de execução. 
1.ª) Teoria objetiva: se a missão do Direito penal é a tutela ou proteção de bens jurídicos 
fundamentais com repercussão constitucional, o critério para definir aquela separação 
deve ser o perigo para o bem jurídico. Ainda mais que, segundo essa concepção, o dolo 
– o mesmo elemento subjetivo que perpassa todo o iter criminis –, é incapaz de servir de 
parâmetro a tal tarefa diferenciadora. A teoria objetiva possui duas vertentes: a objetiva 
formal e a objetiva material. 
 A teoria objetivo-formal define como ato de execução o começo de realização 
da ação do tipo, aquela capaz de produzir uma afetação ao bem jurídico protegido, de 
modo que «ações anteriores são preparatórias; ações posteriores são executivas».6 Ação 
executória é, portanto, ação típica, aquela representada pelo verbo do tipo. Observem 
que o grande problema dessa teoria é a eliminação do dolo como critério coexistente ou, 
ao menos, auxiliar nessa tarefa. Como diferenciar, por exemplo, uma lesão corporal 
consumada de uma tentativa de homicídio, sem recorrer ao dolo do agente? 
 Já a teoria objetivo-material define como ato de execução todo o ato que 
representa perigo direto para o bem jurídico protegido, «consistente na elevada 
probabilidade de produção do resultado, caracterizada em atividade imediatamente 
anterior à ação do tipo, mas pertencente à ação típica conforme um juízo material».7 
Veja-se que aqui também corre-se um risco enorme: o de ampliar demasiadamente o 
âmbito da tentativa. O empunhar uma faca ou uma arma de fogo carregada, apontando-
as para alguém, seriam considerados atos de tentativa de homicídio, pois, representariam 
um perigo à vida.8 Mais uma vez, o grande problema está na exclusão do dolo como 
critério capaz de, ao menos, auxiliar na tarefa diferenciadora. 
 
2.ª) Teoria subjetiva: para essa teoria o ato de execução deve ser fundamentado 
 
6 SANTOS, Juarez Cirino dos, A moderna teoria do fato punível, Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos 
Editora, 2002, p. 306. 
7 Idem, p. 307. 
8 Segundo Frank, inclui-se na tentativa: ações que, por sua vinculação necessária com a ação típica, 
aparecem com parte integrante dela segundo uma concepção natural. Por outras, de acordo com uma 
percepção geral da realidade é possível que sacar ou apontar uma arma de fogo carregada representa iniciar 
a conduta de matar, que encaixa-se no verbo nuclear do tipo de homicídio. Nos trazem essa informação 
sobre Frank, WELZEL, Hans, Derecho Penal Alemán (Parte General), 4.ª ed., por Juan Bustos Ramírez y 
Sérgio Yánez Pérez, Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1997, p. 191. 
 Direi to penal III 
 
 7 
exclusivamente na vontade do autor contrária ou hostil ao Direito, é dizer, no dolo do 
crime que o agente pretende consumar.9 A teoria subjetiva fixa a tentativa no plano do 
autor de modo que os atos representados como preparatórios não caracterizam a 
tentativa, enquanto atos representados pelo autor como executórios identificam-se com 
ela.10 
 A recorrência ao puro subjetivismo do autor do fato é recurso com o qual não 
podemos concordar. A grande conseqüência disso é a admissão da punibilidade da 
tentativa inidônea. Observe-se o seguinte exemplo: se um sujeito, compra uma arma e 
munição, decide matar um inimigo seu, segue-o até uma loja de departamentos, saca da 
arma e atira num manequim pensando ter atingido sua vítima, segundo a teoria subjetiva, 
haveria o crime de tentativa de homicídio, apesar de não ter havido qualquer perigo para 
o bem jurídico vida. 
3.º) Teoria objetivo-subjetiva: também chamada de mista ou eclética, busca mesclar os 
critérios da teoria objetiva com os da subjetiva, para considerar como atos de execução 
e, portanto, de tentativa, aquela realização de vontade contrária ao Direito que, 
materializada, produz perigo para o bem jurídico protegido. 
 Hoje, a teoria objetivo-subjetiva se identifica com a chamada teoria objetiva 
individual, que parte da consideração «da conduta típica particular (teoria formal-
objetiva), introduzindo um elemento individualizador (subjetivo), como o é o plano do 
autor; porém, pela sua natureza, é suscetível de ser valorada por um terceiro elemento, 
que é a determinação da “proximidade imediata” à realização típica».11 
 De forma sintética, para essa concepção a tentativa começa com a atividade 
externada com a qual o autor, de acordo com sua idéia de delito, aplica-se imediatamente 
na realização do tipo do delito objetivado.12 Assim, vamos imaginar a seguinte situação: a 
esposa traída pelo marido com sua melhor amiga. No âmbito da cogitação, ela idealiza e 
decide que vai matá-lo. Já como atos preparatórios, de acordo com a fase anterior, ela 
compra o veneno e faz um lindo jantar. Nele adiciona a substância mortal. Esse último 
ato tanto poderá ser ato preparatório como de execução, dependerá daquilo que 
mentalmente foi estabelecido pela autora (representação ou plano). Se no seu plano ela 
deve servir o alimento ao marido, o ato de adicionar veneno da comida será ato 
preparatório, mas se o marido deve dele servir-se diretamente, o ato de envenenar a
comida será ato de execução. 
 A teoria objetiva individual apresenta critérios que auxiliam na definição da 
tentativa. A partir dessa teoria podemos fixar as seguintes orientações: 
• de acordo com o plano do autor, serão atos de execução aqueles imediatamente 
 
9 Nesse sentido, ZAFFARONI, Eugênio Raúl/PIERANGELI, José Henrique, ob. cit., p. 29. 
10 No mesmo sentido de SANTOS, Juarez Cirino dos, ob. cit., p. 308. 
11 Nesse sentido, ZAFFARONI, Eugênio Raúl/PIERANGELI, José Henrique, op. cit., p. 53. 
12 Cf. WELZEL, Hans, ob. cit., p. 190. 
 Prof. Fábio Frei ta s Dias 
 
 8 
anteriores ao começo de execução típica, que representem ao menos perigo para o bem 
jurídico; 
• as vezes, o ato de execução se identificará com o começo da conduta típica, ou seja, 
aquela que se encaixa no verbo do tipo; 
• um ato parcial será imediatamente precedente à realização da conduta típica, quando 
entre este e a conduta típica não existir outro ato parcial. Nesse caso, o ato parcial será 
um ato de execução, mas sempre teremos que observar o plano do autor; 
• devemos ressaltar com ZAFFARONI e PIERANGELI, «para se determinar se há ou não 
outro ato parcial intermediário dever-se-á tomar em conta o plano concreto do autor, e 
não o que possa imaginar um observador alheio».13 
4.3 Inocorrência de consumação: a própria lei ressalta que a inocorrência de 
consumação (a não-realização de todos os elementos do tipo objetivo) independe da 
vontade do agente. Como bem observa JUAREZ CIRINO, a consumação do fato punível 
«representa a transformação da tentativa de lesão do bem jurídico, como situação de 
perigo concreto, em resultado de lesão do bem jurídico».14 
 
5. Crimes que não admitem tentativa: 
5.1 Contravenções penais: as contravenções não admitem a forma tentada por 
disposição legal (art. 4.º, LCP). 
5.2 Crimes condicionados: em alguns casos a lei pune o agente somente quando 
ocorrer o resultado. É o caso do art. 122 que dispõe: Induzir, instigar ou auxiliar ao 
suicídio... Nesse caso, o crime é condicionado à ocorrência do resultado, é necessário 
que o suicídio ocorra. Tendo em vista o condicionamento desse crime ao resultado morte, 
não é admitida a forma tentada. 
5.3 Delitos unissubsistentes: delito unissubsistente é aquele que se realiza com um só 
ato e que, por conseqüência já produz a consumação.15 É exemplo, a injúria verbal. 
Nesse caso, também não há a possibilidade da forma tentada. De regra, os crimes 
formais e os de mera conduta são crimes unissubsistentes. 
5.4 Delitos culposos: na culpa o resultado não é desejado pelo agente, ele não quer o 
resultado, mas esse ocorre porque não cumpriu com um dever objetivo de cuidado. Já na 
tentativa, o agente tem dolo, ele quer a consumação do delito, que só não ocorre por 
circunstâncias alheias à sua vontade. Há, portanto, uma incompatibilidade lógica e 
conceitual entre culpa e tentativa, já que, o agente não pode tentar alcançar um resultado 
 
13 Op. cit., p. 56. 
14 Op. cit., p. 312. 
15 Crime unissubsistente é aquele que se constitui de ato único. «O processo executivo unitário, que não 
admite fracionamento, coincide temporalmente com a consumação, sendo impossível, conseqüentemente, a 
tentativa (injúria verbal)» (BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal. Parte geral, vol. 1, 3.ª ed., 
São Paulo : Saraiva, 2003, p. 149) 
 Direi to penal III 
 
 9 
que não quer16. 
6. Tentativa e algumas controvérsias: 
6.1 Crimes habituais: crimes habituais são aqueles que dependem da reiteração da 
mesma conduta reprovável, de forma a constituir-se em hábito de vida. Exemplos 
clássicos são os crimes de exercício ilegal da medicina (art. 282), curandeirismo (art. 
284) e o rufianismo (art. 230). Esses não admitem tentativa, pois, se consumam quando 
se verifica a reiteração da conduta criminosa, por isso, não possuem um iter criminis, não 
podendo falar-se em início de execução. Alguns, todavia, admitem tal possibilidade.17 
6.2 Omissivos próprios: os crimes omissivos próprios, que possuem tipificação própria 
e representam a abstenção de um dever de agir, como é o caso da omissão de socorro 
(art. 135), não admitem tentativa, porque são crimes de mera conduta que não possuem 
iter criminis.18 Por exemplo, ninguém tenta omitir-se de prestar socorro, omite-se ou não. 
Ver apêndice 1, anexado ao final deste trabalho. 
6.3 Delitos preterdolosos: naqueles delitos em que no antecedente há dolo e no 
conseqüente há culpa, como por exemplo na lesão corporal seguida de morte, em tese 
não é admissível a forma tentada. Todavia, é possível imaginar a forma tentada na teoria, 
ainda que na prática dificilmente poderá ser comprovada. Por exemplo o aborto 
qualificado por lesões ou morte da gestante, art. 127, do CP, é um crime preterdoloso. 
Para falar-se em tentativa, deve-se levar em conta a existência desta quanto ao delito 
doloso, ocorrendo apenas o resultado culposo. Nesse caso, para haver tentativa, o 
médico teria de tentar o aborto sem consumá-lo, resultando desta lesões graves na 
gestante. 
6.4 Tentativa e crimes complexos: crimes complexos são aqueles que contêm em si 
duas ou mais figuras penais, seja como elementar seja como qualificadora. Exemplos: 
extorsão mediante seqüestro (art. 159), em que a extorsão (art. 158) e o seqüestro fazem 
 
16 É possível admitir a tentativa numa omissão imprópria culposa: Imaginemos o exemplo do hábil nadador 
que convida alguém a acompanhá-lo em um longo nado e, a certa altura, percebendo que o companheiro 
perde forças, não o acode, deixando-o perecer afogado, o que não ocorre porque um barco de pescador 
passava por perto e salva o agonizante. 
17 De regra, o crime habitual não admite a tentativa, mas é aceitável a tentativa no crime do art. 282. 
(MIRABETE, Júlio Fabrini,Manual de direito penal, São Paulo: Atlas, 1994, p. 154). No mesmo sentido 
ZAFFARONI e PIERANGELI . «...haverá tentativa de curandeirismo (art. 284, I) na conduta de quem, havendo 
instalado um consultório médico – sem diploma e sem licença – está examinando um paciente, sem lhe haver 
receitado algum medicamente e nem aplicado qualquer tratamento, e que tem mais pacientes na sala de 
espera (Ob.cit, pp. 59-60). Apesar desse posicionamento dos referidos autores, desconhecemos casos 
julgados que tenham consagrado condenações por tentativa dos crimes habituais citados. 
18ZAFFARONI e PIERANGELI, admitem a tentativa nas omissões próprias. Segundo eles, «se se encontra alguém 
que se acha dentro de um poço e não se lhe presta auxílio quando já se passara meio hora, estando o 
acidentado ileso e sendo o único perigo que possa morrer de sede se no poço ficar vários dias (o que pode 
suceder se é um lugar isolado), veremos que não se consuma, ainda, a omissão de socorro. O ato é de 
tentativa, pois já estarão presentes todos os requisitos típicos e o perigo para o bem jurídico (se o agente 
segue em frente talvez outro não o veja senão depois de muitos dias). Acreditamos que o caso constitui uma 
tentativa inacabada de omissão de socorro. Aqui, os atos de tentativa existem desde que o agente, com o 
dolo de omitir o auxílio, realiza uma ação diferente, enquanto que o delito está consumado quando o 
transcurso do tempo aumenta o perigo e diminui as possibilidades de auxiliar». Idem, p. 123. Também 
desconhecemos julgados que consagrem a tentativa nesses tipos de crime.
Prof. Fábio Frei ta s Dias 
 
 10 
parte daquele como elementares ou elementos constitutivos; o chamado latrocínio (art. 
157, § 3.º, in fine), em que o homicídio deixa de ser autônomo para qualificar o roubo. 
Em termos gerais há três posições acerca do assunto, mas devemos observar 
que a solução da tentativa para o crime complexo, poderá variar conforme o crime. 
Vejamos as três posições jurisprudenciais existentes e exemplifiquemos com o crime de 
roubo próprio: 
1.ª) A primeira posição é de algumas câmaras criminais do TJSP. Para os seus 
defensores, se a tentativa acontece em relação ao crime-meio e ao crime-fim, há 
tentativa. Se, porém, o crime-fim se consuma, não mais se poderia falar em tentativa de 
crime complexo (TJSP). Façamos breve análise do roubo para compreender quando ele 
seria tentado ou consumado em face dessa primeira posição jurisprudencial. 
 O crime-fim no roubo é a subtração enquanto que o crime-meio é a violência. 
Portanto, para a posição em análise, se o crime-meio e o crime-fim, portanto, a subtração 
e a violência, estiverem na forma tentada, teremos o roubo tentado. Se a subtração está 
consumada e o crime-meio fica na forma tentada, teremos o roubo consumado. 
2.ª) A segunda posição também é de algumas câmaras do TJSP. Segundo elas, se um 
ou outro dos crimes elementares se consumou, não mais se poderia falar em tentativa de 
crime complexo. 
 Portanto, teríamos o roubo na forma consumada caso uma das elementares se 
consumasse e a outra estivesse na forma tentada, não importando se a consumação ou 
a tentativa seja quanto ao crime-fim ou ao crime-meio. Nesse sentido, só teríamos a 
forma tentada do roubo se dos dois crimes elementares estivessem na forma tentada. 
3.ª) A terceira posição é defendida pelo TJRS (ver decisões do desembargador Eládio 
Lecey). No crime complexo haverá tentativa desde que iniciada um de seus delitos 
elementares, sem que tenha se consumado, ou tendo sido consumado um dos delitos 
elementares, o outro não venha ocorrer (TJRS, ver decisões do desembargador Eládio 
Lecey). Tal posição se justifica e parece ser a mais acertada, pois, para que ocorra a 
consumação a realização da descrição típica deve ser completa. 
 Digamos que alguém subtrai coisa alheia móvel mediante violência, é perseguido 
pela polícia imediatamente após, resiste contra seus perseguidores, mas acaba sendo 
preso. O roubo não se consumou, porque o agente não conseguiu a posse tranqüila da 
coisa. Nesse caso, não há divergência, temos um roubo próprio19 na forma tentada, pois 
a violência a pessoa se consumou e a subtração permaneceu na forma tentada. 
 Todavia, o roubo pode ser impróprio, ou seja, aquele em que, efetuada a 
subtração, a tentativa da violência sobrevém para garanti-la. Nesse caso: 
a) segundo DAMÁSIO DE JESUS, não há tentativa de roubo, pois a natureza da subtração é 
outra, podendo subsistir o furto tentado ou consumado. 
 
19 Roubo próprio é aquele em que o agente realiza a violência para depois realizar a subtração. 
 Direi to penal III 
 
 11 
b) há quem entenda, acertadamente, que havendo a subtração e a tentativa da violência, 
ter-se-ia o roubo impróprio na forma tentada, nesse sentido, é perfeitamente aplicável a 
posição jurisprudencial do TJRS. 
 Outra questão relevante é em relação ao chamado latrocínio, que nada mais é do 
que um roubo seguido de morte. Se o agente mata mas não consegue subtrair a coisa, 
baseado na posição “b”, haveria, a tentativa de latrocínio. Todavia, através da súmula 
610, o STF decidiu que o caso é de latrocínio consumado.20 
 
7. Formas da tentativa: segundo a doutrina, há duas formas de tentativa, as chamadas 
tentativa perfeita ou acabada e a tentativa imperfeita ou inacabada. 
7.1 Tentativa perfeita ou acabada: é a forma clássica da tentativa, aquela em que o 
agente conclui toda a execução da conduta capaz de produzir o resultado, mas que por 
circunstância alheia à sua vontade, não produz o resultado. Exemplos: agente dispara 
todas as balas da arma de fogo, mas não consegue acertar a vítima; o agente dá uma 
facada na região do coração da vítima, mas essa é salva por uma cirurgia bem sucedida. 
7.2 Tentativa imperfeita ou inacabada: nessa hipótese, o agente quer a consumação 
do delito, inicia a execução, mas é interrompido por circunstância alheia à sua vontade. 
Exemplo: o agente atira uma vez e é repelido pela ação de um policial. Observe-se que, 
enquanto na tentativa acaba a produção do resultado é interrompida ou impedida, na 
tentativa inacabada a execução é impedida e, por conseqüência, a produção do 
resultado. 
 Ressalte-se, todavia, que o nosso código não faz qualquer diferença entre 
tentativa perfeita ou imperfeita no artigo 14, II. Mas, tal diferenciação, teoricamente, será 
exigida pelo art. 15 que estabelece a desistência voluntária e o arrependimento eficaz, já 
que a primeira coaduna-se com a tentativa imperfeita e o segundo, com a tentativa 
perfeita.21 
 
 
20 No chamado latrocínio, o roubo seguido de morte, se o agente mata mas não consegue subtrair a coisa, 
haveria tentativa de latrocínio, todavia, por motivos de política criminal, o STF decidiu por várias vezes que se 
tratava de latrocínio consumado. Hoje, matéria está hoje sumulada (Súmula 610): «Há crime de latrocínio, 
quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima». 
21 Tentativa irreal: consiste na conduta de que, acreditando numa relação causal não admitida pela ciência – 
bruxaria, magia negra, parapsicologia - , efetua certos atos tendo em vista a obtenção de algum resultado 
ilícito. Ver ZAFFARONI, Eugênio Raúl/PIERANGELI, José Henrique, op. cit., p. 84.

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