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apostila direito civil 4

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DIREITO CIVIL IV - CCJ0015 
Semana Aula: 1 
DIREITO CIVIL IV - DIREITO DAS COISAS 
 
1.1. Conceito 
Nas palavras de Orlando Gomes, ?O Direito das Coisas regula o poder dos 
homens sobre os bens e os modos de sua utilização econômica?. (GOMES, 
Orlando. Direitos reais. 14ª ed., atualizada por Humberto Theodoro Júnior. p. 1. 
Rio de Janeiro: Forense, 1999). É de se frisar que bem consiste na coisa útil e 
rara, suscetível de apropriação pelo homem. 
 
Surge aí um primeiro aspecto dos Direitos Reais, que os distingue dos Direitos 
Pessoais: estes têm por objeto uma prestação humana, enquanto aqueles 
possuem por objeto um bem. 
 
Duas doutrinas buscam a primazia na compreensão dos Direitos Reais. A realista, 
que considera o Direito Real como o poder imediato na pessoa sobre a coisa, e a 
personalista, que prega existir nos Direitos Reais uma relação jurídica entre 
pessoas, como nos Direitos Pessoais. 
 
A primeira teoria causa perplexidade se considerarmos que o Direito existe 
sempre para disciplinar condutas intersubjetivas, ou seja, entre pessoas. Assim, 
como explicar uma relação direta homem-objeto tutelada pela norma jurídica? 
 
Por seu turno, a teoria personalista parece um pouco artificial, pois advoga a 
existência de um sujeito passivo universal nos Direitos Reais, ou seja, todos 
estaríamos obrigados a respeitar os Direitos Reais de outrem. 
 
Orlando Gomes sugere um retorno à teoria realista, com ênfase no estudo da 
estrutura dos Direitos Reais. Assim, ao invés de se prender ao aspecto externo de 
tais direitos, deve-se levar em consideração a sua estrutura interna, salientando 
que o poder de utilização da coisa, sem intermediário, é o que caracteriza os 
Direitos Reais (GOMES, Orlando, ob. cit., p. 5.). 
 
Nelson Rosenvald e Cristiano Farias formulam proposta de cunho híbrido. Os 
autores diferenciam direito subjetivo de pretensão, para concluir que a relação de 
direito real, enquanto situação estática, é absoluta, apresenta sujeitos 
indeterminados (porém determináveis) e representa a posição de domínio de 
alguém sobre uma coisa, pois o sujeito ativo titulariza direito subjetivo; por outro 
lado, uma violado o direito subjetivo e, conseqüentemente originada a pretensão, 
a relação jurídica de direito real passa a apresentar sujeito determinado, tendo o 
lesado a faculdade de reclamar o exercício do conteúdo do direito subjetivo em 
face do sujeito que o desrespeitou (Direitos reais. 6.ed. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2009. p. 16). 
 
1.2. Características 
Apesar de inexistir consenso na doutrina, podemos apontar as seguintes 
características geralmente enumeradas: a) a oponibilidade erga omnes; b) o 
direito de seqüela; c) a exclusividade; d) a preferência; a taxatividade. 
 
Para Sílvio Rodrigues, ?o direito real é oponível contra todos, isto é, vale erga 
omnes, pois representa uma prerrogativa de seu titular, que deve ser respeitada? 
(RODRIGUES, Sílvio. Direito civil ? direito das coisas. p.7). Daí a dita 
oponibilidade erga omnes. 
 
O direito de seqüela consiste na prerrogativa concedida ao titular de direito real de 
seguir a coisa nas mãos de quem quer que a detenha, de apreendê-la para sobre 
ela exercer o seu direito real. Seu direito real dá-lhe legitimação para perseguir a 
coisa, onde quer que ela se encontre, pois o vínculo se prende de maneira 
indelével à coisa e dela não se desliga pelo mero fato de ocorrerem alienações 
subseqüentes (RODRIGUES, Sílvio, ob. e loc. cit). 
 
É justamente em função do direito de seqüela que se exige ampla publicidade na 
constituição de direitos reais. Assim, os bens móveis demandam a tradição para 
serem onerados, enquanto os bens imóveis exigem o registro público dos ônus 
reais. 
 
Pela exclusividade diz-se não poder existir dois direitos reais, de igual conteúdo, 
sobre a mesma coisa. 
 
A preferência consiste no privilégio de obter o pagamento de uma dívida com o 
valor de bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Em caso de 
inadimplemento tem o credor o direito de se satisfazer sobre o valor do bem objeto 
de direito real, afastando outros credores que tenham apenas direito pessoal 
contra o devedor, ou mesmo direito real de inscrição posterior (GOMES, Orlando, 
ob. cit., p. 9). 
 
Em função das características da seqüela e da preferência, os direitos reais de 
garantia são os mais utilizados no trato econômico, principalmente nas operações 
de crédito e financiamento. Os bancos e empresas de financiamento preferem a 
garantia de tais direitos a outras, de natureza pessoal, pois estas últimas são 
menos eficazes. 
 
Esse panorama, contudo, vem mudando, principalmente na Europa e nos Estados 
Unidos. Mais e mais são utilizados os chamados negócios fiduciários, com o 
retraimento do campo de incidência dos direitos reais de garantia. 
 
Por fim, como decorrência óbvia das características já mencionadas, que tornam 
os direitos reais extremamente robustos, sua criação não se encontra no âmbito 
da liberdade negocial. Em outras palavras, direitos reais são apenas os 
enumerados pela lei (característica da tipicidade ou numerus clausus). Não é lícito 
às partes, no exercício da liberdade contratual, corolário do princípio da autonomia 
privada, criar direitos reais não previstos em lei. 
 
Nos termos do artigo 1.225 do Código Civil de 2002, são direitos reais a 
propriedade, a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do 
promitente comprador do imóvel, o penhor, a hipoteca, a anticrese, a concessão 
de uso especial para fins de moradia e a concessão de direito real de uso. Frise-
se, contudo, que o direito real deve estar previsto em lei, mas não 
necessariamente no corpo do Código Civil, podendo estar regulado por leis 
esparsas. Encontramos um exemplo na concessão de uso, direito real criado pela 
Lei nº. 271, de 28.02.1967. 
 
1.3. Classificação 
 
Os direitos reais podem ser classificados em: 
 
A) Quanto à propriedade do bem 
 
- Direitos reais sobre coisa própria: apenas a propriedade. 
- Direitos reais sobre coisa alheia: incidem sobre bem de propriedade de outrem. 
Ex: hipoteca, penhor, servidão etc. 
 
 
O direitos reais sobre coisa alheia podem ser: - direitos reais de gozo ou 
fruição 
 - direitos reais de garantia 
 - direito real de aquisição 
 
B) Quanto aos poderes do titular do direito real 
 
- Direitos reais limitados: o proprietário reúne apenas algumas das faculdades 
inerentes à propriedade; 
- Direitos reais ilimitados: o proprietário reúne todas as faculdades inerentes à 
propriedade (uso, gozo, disposição e reivindicação). 
 
A propriedade é denominada jus in re propria, enquanto os demais direitos reais 
são também chamados jura in re aliena, ou limitados. A propriedade consiste no 
direito real mais amplo, derivando os demais da criação de direitos sobre uma ou 
mais das faculdades da propriedade (usar, gozar, fruir e dispor do bem). Assim, o 
usufruto, por exemplo, consiste no direito real de usar e fruir do bem. 
 
 
É importante frisar que a limitação aqui se refere a não concentração dos poderes 
inerentes à propriedade nas mãos do titular. Sob o ponto de vista de exercício de 
direitos, todos os direitos, mesmo a propriedade plena, sofrem limitações. 
 
1.4. Diferença entre direitos reais e obrigacionais 
 
 
 
 
Teorias negativistas (Thon, Schlossmann, Demogue): não há diferença entre 
direitos pessoais e direitos reais. Os direitos reais não passam de técnica jurídica 
para restringir comportamentos. Esta teoria não é mais aceita pela doutrina 
moderna. 
Teoria personalista (clássica): o direito real é uma projeção da personalidade 
sobre a coisa. A relação jurídica que envolve direito real é estabelecidaentre 
pessoas: no pólo ativo está o titular do direito real e no pólo passivo há o que a 
doutrina chama de sujeição passiva universal. O exercício do direito real feito 
diretamente sobre a coisa, sem intermediários (relação direta entre o titular e o 
objeto). 
Críticas: falar em sujeição passiva universal é artificial e implica em um 
individualismo não mais aceito pelo Estado do Bem Estar Social; há a criação de 
um vínculo jurídico para pessoas que não manifestaram vontade em participar da 
relação jurídica; a sujeição passiva universal nada mais é do que uma regra de 
conduta traduzida principalmente em um non facere, o que esvaziaria a distinção 
entre direitos reais e direitos pessoais. 
Teoria realista: é o poder imediato da pessoa sobre a coisa, sem qualquer tipo de 
intermediação. Não há que se falar em sujeição passiva universal, pois significaria 
transpor um vínculo jurídico a pessoas estranhas à relação. Há um direito 
subjetivo oponível erga omnes, sem que haja, em abstrato, um sujeito passivo 
determinado. 
Críticas: não há relação senão entre duas pessoas; a oponibilidade erga omnes 
não é característica exclusiva dos direitos reais, mas de qualquer direito absoluto, 
como os direitos de personalidade. 
A teoria personalista, apesar das críticas, é a que tem maior receptividade na 
doutrina. Contudo, mesmo os defensores da teoria personalista revelam que há 
forte tendência em que a diferença entre direitos reais e direitos pessoais 
desapareçam. Nelson Rosenvald e Cristiano Farias apontam para a chamada 
obrigacionalização do direito das coisas, na medida em que todos os direitos reais, 
sem exceção, abrigam em sua estrutura uma relação jurídica de direito real e uma 
outra relação jurídica, de direito obrigacional. A primeira, pautada pela situação de 
domínio do titular sobre a coisa;e a segunda, na relação jurídica de conteúdo 
intersubjetivo, envolvendo uma necessária cooperação entre o titular do direito 
real e a coletividade (op.cit. p. 17). 
 
Direitos Pessoais Direitos Reais 
Relativos (eficácia entre as partes) Absolutos (eficácia erga omnes) 
Vincula a pessoa do credor à pessoa 
do devedor 
Vincula o titular à coisa 
Possuem sujeito passivo determinado: 
devedor 
Possuem sujeito passivo indeterminado 
Conteúdo positivo Conteúdo negativo 
A coisa é objeto mediato da relação A coisa é objeto imediato da relação 
O exercício se dá pelo intermédio de 
outro sujeito 
O exercício se dá sem intermediários 
Relação transitória Relação permanente 
Atipicidade Tipicidade 
 
 
1.5. Objeto do direito das coisas 
 
Objeto de direito real tanto podem ser as coisas corpóreas, móveis ou 
imóveis, quanto as incorpóreas. Assim, podem existir direitos sobre direitos, que 
são bens incorpóreos. 
O direito real pode também ter por objeto as produções do espírito 
humano nos domínios das letras, das artes, das ciências ou da indústria. Fala-se 
então em propriedade literária, artística, científica e industrial. É importante frisar 
que os direitos de propriedade intelectual têm sido entendidos atualmente como 
direitos sui generis, pois envolvem conteúdo patrimonial (com fortes 
características de direito real) e conteúdo extrapatrimonial. 
 
Clóvis Beviláqua: O direito das coisas, ramo do direito civil que se ocupa dos 
direitos reais, consiste no conjunto das normas que regem as relações jurídicas 
referentes à apropriação dos bens corpóreos pelo homem (apud GOMES, 
Orlando. Direitos reais. p. 2). 
Silvio Venosa: Como o direito subjetivo, o direito de senhoria é poder outorgado a 
um titular; requer, portanto, um objeto. O objeto é a base sobre a qual se assenta 
o direito subjetivo, desenvolvendo o poder de fruição da pessoa com o contato das 
coisas que nos cercam no mundo exterior. Nesse raciocínio, o objeto do direito 
pode recair sobre coisas corpóreas ou incorpóreas, como um imóvel, no primeiro 
caso, e os produtos do intelecto (direitos de autor, de invenção, por exemplo), no 
segundo. O direito das coisas estuda precipuamente essa relação de senhoria, de 
poder, de titularidade, esse direito subjetivo que liga a pessoa às coisas (...) Os 
direitos reais regulam as relações jurídicas relativas às coisas apropriáveis pelos 
sujeitos de direito 
 
1.6. Sujeitos 
 
Sujeito ativo: titular do direito subjetivo absoluto sobre o bem. Pode exercer o 
direito de seqüela e será sempre possuidor (ainda que, dependendo do 
desdobramento da relação possessória, seja possuidor indireto). 
 
Sujeito passivo: sobre quem recai o dever de respeito ao exercício do direito pelo 
sujeito ativo. Conforme já visto anteriormente, diz-se que na relação de direito real 
há sujeição passiva universal. 
 
 
1.7. Obrigação propter rem 
 
Obrigações propter rem: obrigações decorrentes de um direito real. Decorrem da 
lei (ex lege) e não da vontade do titular do direito (ex voluntate). Podem constituir 
obrigações positivas ou obrigações negativas. 
 
Ônus reais: limitações impostas ao exercício de um direito real. 
 
Obrigações com eficácia real: relações obrigacionais que produzem eficácia erga 
omnes. Ex: compromisso de compra e venda de imóvel, registrado do cartório 
imobiliário. 
 
 
Semana Aula: 2 
DIREITO CIVIL IV - POSSE 
 
2.1. Evolução histórica, conceito e características 
 
Em uma primeira abordagem, a posse pode ser encarada como um fato, enquanto 
a propriedade consiste num direito. Em outras palavras, a posse é uma situação 
de fato, enquanto a propriedade é uma situação de direito. Como veremos 
adiante, em geral ambas coincidem na mesma pessoa, mas nem sempre isso 
ocorre. 
O legislador civil usou da seguinte sistemática no trato da matéria: reservou a 
disciplina dos direitos reais para o Livro III da Parte Especial, sob a epígrafe ?Do 
Direito das Coisas?. Em seguida, inaugurou o referido Livro com o Título I, ?Da 
Posse?. Finalmente, no Título II, regulamentou os direitos reais em espécie. 
O estudo da opção sistêmica do legislador é fundamental, pois revela a sua 
intenção. Podemos assim afirmar que se optou por isolar o estudo da posse, como 
um título preliminar àquele reservado aos direitos reais, por dois motivos: primeiro, 
a posse não é direito real; segundo, a posse informa o regime jurídico de todos os 
demais direitos reais. 
Por outro lado, a posse pode ser considerada a exteriorização da propriedade, seu 
aspecto visível e palpável no mundo fenomênico (falamos da posse direta). 
Voltemos ao exemplo dado: por ter me visto com o telefone celular, o observador 
supôs que eu seria o proprietário do mesmo. E isso se dá, repita-se, porque 
geralmente posse e propriedade encontram-se enfeixadas nas mãos da mesma 
pessoa, apesar da coincidência não ser necessária. 
A posse, em outras palavras, cria uma espécie presunção de propriedade. E é por 
esse motivo que tutela-se com veemência aquela, por vezes em detrimento desta: 
como o que possui presume-se proprietário, em um primeiro momento é de se 
garantir tal situação fática, até mesmo por razões de segurança jurídica e 
pacificação social. 
Aqui desponta uma outra questão: enquanto a propriedade de certo modo teve 
seu âmbito de incidência reduzido ou conformado pela Constituição de 1988 (cf. 
arts. 5º, inc. XXIII; 182, §§ 2º e 4º; 184 e 186, dentre outros, todos da CR/88) 
cedendo para a chamada ?função social da propriedade? (alguns autores falam 
em uma nova espécie de propriedade, a propriedade social), a posse saiu 
fortalecida, principalmente através da previsão constitucional expressa da 
usucapião (cf. arts. 183 e 191 da CF/88). 
 
Propriedade estado de direito 
Posse estado de aparência protegido pelo direito 
 
Conceito de posse 
Pluralidade semântica do vocábulo posse: posse como propriedade (fulano 
possui uma casa); posse como instituto de direito público(os EUA têm a posse 
da base de Manta, no Equador); posse como exercício do direito de família (posse 
do estado de casados); posse como instituto de direito administrativo; posse como 
elemento de tipo penal (posse sexual mediante fraude) etc. 
 
A posse no direito das coisas: 
A posse (tanto de coisa móvel como de coisa imóvel) é situação 
jurídica de fato apta a, atendidas certas exigências legais, 
transformar o possuidor em proprietário (situação de direito real) 
(NERY, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil comentado: e 
legislação extravagante. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 608). 
A posse é o exercício de fato, em nome próprio, de um dos poderes inerentes ao 
domínio. 
Objeto da posse: A posse pode incidir tanto sobre bens corpóreos quanto sobre 
bens incorpóreos (quase-posse). A chamada posse de direitos é admitida, desde 
que tais direitos possam ser apropriáveis e exteriorizáveis (direitos reais). Ex: 
direitos do autor, propriedade intelectual, passe atlético, direito real de uso sobre 
linha telefônica. 
Sujeitos da posse: São as pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas, de direito 
público ou de direito privado. 
 
2.1.1. Teoria subjetiva 
A natureza da posse gerou muito dissenso doutrinário. Basicamente, duas 
principais teorias e seus autores disputaram a hegemonia da matéria: a teoria 
subjetiva, de Savigny, e a teoria objetiva, de Ihering. 
A Teoria de Savigny: 
Savigny expôs suas idéias no Tratado da Posse, de 1803. Segundo o autor, a 
posse resultaria da conjunção de dois elementos: o corpus e o animus. O primeiro 
seria o elemento material, traduzindo-se no poder físico da pessoa sobre a coisa. 
O animus, por seu turno, representaria o elemento intelectual, a vontade de ter 
essa coisa como sua. Ambos os elementos são necessários para a configuração 
da posse. 
O corpus, sendo o poder de fato sobre a coisa, supõe a apreensão, sendo 
fundamental a relação exterior da pessoa com a coisa. No que diz respeito ao 
animus, configura-se como a vontade de ter a coisa como própria. É justamente 
pelo destaque conferido por Savigny ao elemento intencional que sua teoria é 
qualificada de subjetiva. E esse é justamente o ?calcanhar de Aquiles? de sua 
teoria: é extremamente difícil precisar um estado íntimo concretamente. 
Ao exigir o elemento subjetivo (animus domini) como requisito fundamental para a 
caracterização da posse, a doutrina subjetiva considera simples detentores o 
locatário, o comodatário, o depositário, o mandatário e outros que possuiriam 
apenas o poder físico sobre a coisa. Não é admitido o desdobramento da relação 
possessória, pois não se admite a posse por outrem. 
 
2.1.2. Teoria objetiva da posse 
 
A teoria de Ihering foi desenvolvida em obras como O Fundamento dos Interditos 
Possessórios e O Papel da Vontade na Posse. Posteriormente o autor 
empreendeu um esforço simplificador de suas teorias. 
 
A posse é a exteriorização da propriedade e, por isso, para caracterizar a posse 
basta o exercício em nome próprio do poder de fato sobre a coisa. É dizer, para 
que exista a posse, é necessário somente o corpus. Silvio Venosa afirma que, 
ainda na teoria objetiva, há o animus, mas, neste caso, o elemento volitivo 
consiste na utilização da coisa tal qual faria o proprietário (anumus tenendi). 
 
Teorias da posse e o Código Civil 
 
O Código Civil de 2002, repetindo o que já fora feito pelo Código de 1916, ao 
definir o possuidor consagra a teoria objetiva da posse, como revela a leitura do 
art. 1.196: 
 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o 
exercício, pleno ou não, de alguns dos poderes inerentes à 
propriedade. 
 
Obs: Enunciado n° 236, III Jornada de Direito Civil: considera-se possuidor, para 
todos os efeitos legais, também a coletividade desprovida de personalidade 
jurídica. 
2.2. Distinção entre propriedade, posse e detenção 
 
Posse: exercício do poder de fato em nome próprio, exteriorizando a propriedade 
e fazendo uso econômico da coisa (animus tenendi ? intenção de usar a coisa tal 
qual o proprietário). 
 
Detenção (posse natural ? possessio naturalis): exercício do poder de fato sobre a 
coisa em nome alheio. O fâmulo da posse ou detentor é servo da posse, pois 
mantém uma relação de dependência com o verdadeiro possuidor, obedecendo às 
suas ordens e orientações. A detenção é também chamada de posse degradada 
pela lei. O art. 1.198, CC, define o detentor aquele que, achando-se em relação de 
dependência para com o outro, conserva-se a posse em nome deste e em 
cumprimento de ordens ou instruções suas. 
 
Obs: aquele que adquire a posse de modo contrário ao direito também é 
considerado detentor. 
 
Enunciado n° 301, Jornada de Direito Civil, STJ: É possível a conversão da 
detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício 
em nome próprio dos atos possessórios. 
 
Para facilitar a caraterização da simples detenção, é interessante utilizarmos os 
critérios do Código Civil Português, Art. 1.253: 
São havidos como detentores ou possuidores precários: 
a) os que exercem o poder de facto sem intenção de agir como beneficiários do 
direito; 
b) os que simplesmente se aproveitam da tolerância do titular do direito; 
c) os representantes ou mandatários do possuidor e, de um modo geral, todos os 
que possuem. 
 
 
2.3. Classificação da posse e suas características 
 
A) Posse direta e indireta 
 
Quanto ao desdobramento da relação possessória, a posse classifica-se em 
posse direta e posse indireta. 
 
Art. 1.197, CC/2002. A posse direta, de pessoa que tem a coisa 
em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou 
real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o 
possuidor direto defender a sua posse contra o possuidor 
indireto. 
 
Posse direta (imediata): exercício direto e imediato do poder sobre a coisa 
(corpus), decorrente de contrato. O possuidor direto pode defender sua posse 
contra o possuidor indireto. 
 
Posse indireta (mediata): apenas o animus (entendido esse como a vontade de 
utilizar a coisa como faria o proprietário). O possuidor indireto pode defender sua 
posse perante terceiros. 
 
A distinção entre posse direta e indireta surge do desdobramento da posse plena, 
podendo haver desdobramentos sucessivos. Quem tem a possibilidade de utilizar 
economicamente a coisa, o exercício de fato de algum dos direitos inerentes à 
propriedade, é possuidor dela, ainda que não a tenha sob sua dominação direta. 
 
O proprietário pode exercer sobre a coisa todos os poderes que informam seu 
direito. Nesse caso, se confundem nele a posse direta e indireta. Pode acontecer, 
contudo, que por negócio jurídico transfira a outrem o direito de usar a coisa, 
dando-a em usufruto, comodato, penhor, superfície, compra e venda com reserva 
de domínio, alienação fiduciária, compromisso de compra e venda etc. Nesses 
casos, a posse se dissocia: o titular do direito real fica com a posse indireta (ou 
mediata), enquanto que o terceiro fica com a posse direta (ou imediata), 
 
Nesta classificação, não se discute a qualificação da posse, pois ambas (direta e 
indireta) são jurídicas e têm o mesmo valor (jus possidendi, ou posses causais). O 
problema da qualificação se põe na distinção entre posse justa e injusta. 
 
A relação possessória, no caso, desdobra-se. O proprietário exerce a posse 
indireta, em função do seu domínio; o titular do direito real ou pessoal (por 
exemplo, o locatário) exerce a posse direta. Uma não anula a outra. Ambas 
coexistem no tempo e no espaço e são posses jurídicas. 
 
Ambos (possuidor direto e indireto) podem invocar proteção possessória contra 
terceiro. Por outro lado, cada possuidor ? direto e indireto ? pode se socorrer dos 
interditos possessórios contra o outro, para defendera sua posse, quando se 
encontre por ele ameaçado. 
 
Os desdobramentos da posse podem ser sucessivos. Feito o primeiro 
desdobramento da posse, poderá o possuidor direto efetivar novo desdobramento, 
tornando-se possuidor indireto. Havendo desdobramentos sucessivos, terá a 
posse direta apenas aquele que tiver a coisa consigo; o último integrante da 
cadeia de desdobramentos sucessivos. Os demais terão posse indireta. 
 
Um exemplo seria a do proprietário, que constitui usufruto sobre a coisa, 
transferindo a posse direta e permanecendo com a indireta; em seguida, o 
usufrutuário aluga a coisa, transferindo a posse direta e permanecendo com a 
indireta; posteriormente, o locatário subloca a coisa, transferindo a posse direta ao 
sublocatário e ficando com a indireta. 
 
B) Posse justa e injusta 
 
Quanto aos vícios, a posse pode ser justa ou injusta. 
 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou 
precária. 
 
Posse justa: posse desprovida dos vícios específicos do art. 1.200, CC (não 
confundir esse conceito de vícios com o conceito da teoria geral do direito civil). A 
posse justa é mansa, pacífica, pública e adquirida sem violência. 
 
Posse injusta: posse maculada por pelo menos um dos vícios da posse (violência, 
clandestinidade ou precariedade). 
 
 Posse violenta: adquirida através do emprego de violência contra a 
pessoa. 
 Posse clandestina: adquirida às escondidas. 
 Posse precária: decorrente da violação de uma obrigação de restituir 
(abuso de confiança). 
 
A posse injusta não deve ser considerada posse jurídica, não produzindo efeitos 
contra o legítimo possuidor (para quem esta situação jurídica não passa de 
detenção), muito embora o possuidor injusto possa fazer manejo dos interditos 
possessórios contra atos de terceiros. 
 
Injusta, no entanto, não deve ser tida como posse jurídica. Pois a 
posse jurídica é a posse que está em harmonia com o direito. 
Injusta é a situação de fato que se assemelha à posse, mas trata-
se de detenção. É a antítese do direito (PUGLIESE, Roberto J. 
Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 58) 
 
Continuidade do caráter da posse (art. 1.203, CC): a posse que se inicia justa 
permanece justa; a posse que se inicia injusta, permanece injusta ao longo do 
tempo, a menos que se opere a interversão do caráter da posse. 
 
Inversão do título da posse: Violência e clandestinidade são vícios relativos, 
enquanto que a precariedade é vício absoluto. Isso implica que a interversão do 
caráter da posse pode ocorrer quando a posse for violenta ou clandestina. Nestes 
casos, cessada a violência ou a clandestinidade a posse deixa de ser injusta e 
passa a ser justa. A jurisprudência anterior ao CC/02 fixou mais uma exigência: 
que fossem passados ano e dia após a cessação do vício para que ficasse 
caracterizada a interversão do caráter da posse. Com a eliminação da 
classificação de posse nova e posse velha pelo CC/02, prevalece o entendimento 
de que essa exigência temporal não mais subsiste. 
 
Quanto ao convalescimento da posse precária, a doutrina moderna, superando o 
entendimento do que antes era majoritário, aceita. Todavia, ainda não foram 
definidos critérios objetivos para determinar o momento da interversão (Nelson 
Rosenvald, por exemplo, fala em mudança do ânimo da posse; Flávio Tartuce 
admite o convalescimento da precariedade em casos, por exemplo, de novação). 
 
Enunciado 237, da III Jornada de Direito Civil: Art. 1.203: É cabível a modificação do 
título da posse ? interversio possessionis ? na hipótese em que o até então possuidor 
direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, 
tendo por efeito a caracterização do animus domini. 
 
C) Posse de boa-fé e de má-fé 
 
Quanto à subjetividade, a posse pode ser de boa-fé ou de má-fé. 
 
No âmbito do direito das coisas, a posse de boa-fé, aliada a outros relevantes 
elementos, segundo a lição de Caio Mário da Silva Pereira, cria o domínio; confere 
ao possuidor, não-proprietário, os frutos provenientes da coisa possuída; exime-o 
de indenizar a perda ou deterioração do bem em sua posse; regulamenta a 
hipótese de quem, com material próprio, edifica ou planta em terreno alheio; e, 
ainda, outorga direito de ressarcimento ao possuidor pelos melhoramentos 
realizados. 
 
A análise da boa-fé em sede de posse leva em consideração não a sua 
caracterização objetiva, como um princípio, ou uma regra de conduta, mas 
principalmente em seu sentido subjetivo. 
 
O CC conceitua posse de boa-fé em seu art. 1.201: é de boa-fé a posse, se o 
possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Decorre 
da consciência de ter adquirido a coisa por meios legítimos. O seu conceito, 
portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo. 
 
É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do 
possuidor de se encontrar em uma situação legítima. Se ignora a existência de 
vício na aquisição da posse, ela é de boa-fé; se o vício é de seu conhecimento, a 
posse é de má-fé. Contudo, não se pode considerar de boa-fé a posse de quem, 
por erro inescusável ou ignorância grosseira, desconhece o vício que macula a 
sua posse. Assim, para que se caracteriza a boa-fé, o possuidor não pode ter 
incorrido em erro inescusável, pelo contrário, deve ter agido com a diligência 
normal exigida pela situação. 
 
Para verificar se a posse é justa ou injusta, entretanto, o critério é objetivo: 
perquire-se acerca da existência ou não de algum dos vícios apontados (violência, 
clandestinidade ou precariedade). 
 
Se o possuidor tem consciência do vício que impede a aquisição da coisa e, não 
obstante, a adquire, torna-se possuidor de má-fé. O erro, de que resulta a boa-fé, 
deve ser invencível, sendo evidente que erro oriundo de culpa não tem escusa. 
 
Deste modo, a culpa, a negligência ou a falta de diligência são enfocadas como 
excludentes da boa-fé. A jurisprudência tem enfatizado a necessidade de a 
ignorância derivar de um erro escusável. 
 
A boa-fé não é essencial para o uso das ações possessórias. Basta que a posse 
seja justa. A boa-fé é relevante, em tema de posse, para a usucapião, a disputa 
dos frutos e benfeitorias da coisa possuída ou para a definição da 
responsabilidade pela sua perda ou deterioração. 
 
O CC estabelece presunção de boa-fé em favor de quem tem justo título, salvo 
prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção 
(art. 1.201, parágrafo único). 
 
A posse de boa-fé pode se transfigurar em posse de má-fé. Nos termos do art. 
1.202 do CC, a posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento 
em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui 
indevidamente. 
 
Sobre o momento da transmudação da natureza da posse, a jurisprudência tem 
considerado que a citação para a ação é uma das circunstâncias que transformam 
a posse de boa-fé, pois recebendo a cópia da inicial o possuidor toma 
conhecimento dos vícios de sua posse. 
 
Por igual modo, quando o possuidor é turbado na sua posse e propõe ação, pode 
vir a tomar conhecimento do melhor direito do réu na contestação deste, passando 
a se caracterizar como possuidor de má-fé. 
 
Nada impede, entretanto, que o interessado prove outro fato que demonstre que a 
parte contrária, mesmo antes da citação, já sabia que possuía indevidamente. 
 
Em síntese: 
 
Posse de boa-fé: é aquela cujo possuidor está convicto de que o exercício de sua 
posse encontra fundamento na ordem jurídica. A boa-fé, aqui, é tomada em seu 
aspecto subjetivo. 
 
Via de regra, a posse de boa-fé decorre de justo título. Por este motivo, a posse 
fundada em justo título gera presunção relativa (juris tantum) de boa-fé. 
 
Justo título: diz-se justo o título hábil, em tese, para transferir a propriedade(PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direitos reais. 18.ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 31). Justo título seria todo ato formalmente 
adequado a transferir o domínio ou o direito real de que trata, mas que deixa de 
produzir tal efeito (e aqui a enumeração é meramente exemplificativa) em virtude 
de não ser o transmitente senhor da coisa ou do direito, ou de faltar-lhe o poder de 
alienar (Lenine Nequete). 
 
Enunciado n° 302, STJ (IV Jornada de Direito Civil): Pode ser considerado justo 
título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad 
usucapionem, observado o disposto no art. 113 do Código Civil. 
 
Enunciado n° 303, STJ (IV Jornada de Direito Civil): Considera-se justo título para 
presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a 
aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público 
ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse. 
 
Posse de má-fé: o possuidor tem conhecimento do vício que macula a posse. 
Assim como na posse injusta, a posse de má-fé não pode ser considerada posse 
jurídica e não goza de proteção contra o legítimo possuidor, para quem o 
possuidor de má-fé não passa de fâmulo da posse. 
 
D) Posse originária e posse derivada 
 
A posse é tida como originária quando não há vínculo entre o sucessor e o 
antecessor da posse, de modo que a causa da posse não é negocial. 
 
A posse é derivada quando há um ato de transferência (da posse, e não 
necessariamente da propriedade) entre o antecessor e o sucessor. Na posse 
derivada haverá sempre tradição. 
 
 
E) Posse ad interdicta e ad usucapionem 
 
Ad interdicta: posse que pode ser protegida através dos interditos possessórios. 
 
Ad usucapionem: posse que pode ser pressuposto de usucapião. 
 
2.4. Natureza da posse: controvérsias 
 
Os autores divergem quanto à definição da natureza jurídica da posse: 
 
Clóvis Beviláqua: a posse é um estado de fato. 
Caio Mário da Silva Pereira: a posse é um direito real. 
Luiz Guilherme Loureiro: a posse é um direito pessoal (princípio da tipicidade) 
 
 
2.5. Composse. 
 
Posse exclusiva é aquela de um único possuidor, pessoa física ou jurídica, que 
possui sobre a coisa posse direta ou indireta. A posse exclusiva se contrapõe à 
composse, quando vários possuidores têm, sobre a coisa, posse direta ou posse 
indireta. 
 
Composse é, assim, a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, 
simultaneamente, poderes possessórios sobre a coisa. Nos termos do art. 1.199 
do CC: 
 
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, 
poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto 
que não excluam os dos outros compossuidores. 
 
Configurada a composse, a situação que se apresenta é, na realidade, a de que 
cada compossuidor possui apenas a sua parte in abstracto, e não a dos outros. 
Contudo, cada possuidor pode exercer seu direito sobre a coisa como um todo, 
valendo-se das ações possessórias, desde que não excluía a posse dos outros 
compossuidores. Inclusive pode valer-se do interdito possessório ou da legítima 
defesa para impedir que outro compossuidor exerça uma posse exclusiva sobre 
qualquer fração da comunhão. 
 
A composse é estado excepcional da posse, pois foge à regra da exclusividade da 
posse. Composse é a posse compartilhada: mais de uma pessoa exerce poder de 
fato sobre a mesma coisa. 
 
A composse pode ser: pro diviso: composse de direito. 
 pro indiviso: composse de direito e fato. 
 
 
Semana Aula: 3 
DIREITO CIVIL IV - EFEITOS DA POSSE 
 
UNIDADE 2: POSSE (continuação) 
 
2.6. Efeitos da posse 
 
Dentre os efeitos da posse, destacam-se: 
a) percepção de frutos; 
b) indenização e retenção por benfeitorias; 
c) indenização por prejuízos sofridos; 
d) defesa da posse (interditos possessórios); 
e) usucapião. 
 
A) Direito aos frutos 
 
O direito à percepção dos frutos varia conforme a classificação da posse quanto 
à subjetividade e está disciplinado nos arts. 1.214 a 1.216, CC (os quais 
recomenda-se a leitura atenta): 
 
POSSE 
 
 FRUTOS 
COLHIDOS PENDENTES 
PERCIPIENDO
S 
BOA-FÉ 
Direito do 
possuidor 
Restituição
, com 
direito à 
dedução 
das 
despesas. 
----- 
MÁ-FÉ 
Indenizaçã
o ao 
possuidor 
legítimo, 
com direito 
à dedução 
das 
despesas. 
Só lhe 
assiste o 
direito às 
despesas. 
Indenização 
ao possuidor 
legítimo. 
 
O pagamento feito ao possuidor de má-fé pelas despesas de produção e custeio é 
devido tendo em vista o princípio do direito civil que proíbe o enriquecimento sem 
causa: 
 
Em que pese a existência de posse de má-fé, terá o possuidor 
direito às despesas que despendeu, necessárias à produção e ao 
custeio dos frutos. Trata-se de aplicação do princípio de vedação 
ao enriquecimento sem causa, não sendo dado ao proprietário ou 
legítimo possuidor gozar dos frutos oriundos da coisa sem 
devolver ao possuidor de má-fé as quantias gastas para dar 
produtividade à coisa. 
 
Obs: os frutos colhidos por antecipação devem ser devolvidos. 
 
Os frutos civis, por tratarem-se de rendimentos, reputam-se colhidos a cada dia. 
 
As normas contidas nos art.s 1.214 a 1.216, CC são supletivas, podendo, 
portanto, ser afastadas através do regular exercício da autonomia privada. 
 
B) Direito às benfeitorias 
 
Assim como ocorre com os frutos, a indenização pelas benfeitorias depende da 
classificação da posse quanto à sua subjetividade (vide arts. 1.219 e 1.220, CC): 
 
POSSE 
 
 BENFEITORIA 
 
NECESSÁ
RIA 
ÚTIL 
VOLUPTUÁ
RIA 
BOA-FÉ 
Indeniza
ção + 
Retençã
o 
Indeniza
ção + 
Retençã
o 
Jus 
tollendi, 
sem 
direito de 
retenção 
MÁ-FÉ 
Apenas 
restituiçã
o do 
valor 
gasto 
pelo 
possuido
r. 
---- ---- 
 
Obs: as benfeitorias são compensadas com os danos. 
 
Enunciado n° 81, I Jornada de Direito Civil: O direito de retenção previsto no CC 
1219, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se 
aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias. 
 
Súmula n° 158 do STF: Salvo estipulação contratual averbada no registro 
imobiliário, não responde o adquirente pelas benfeitorias do locador. 
 
As normas contidas nos art.s 1.219 e 1.220, CC são supletivas, podendo, 
portanto, ser afastadas através do regular exercício da autonomia privada. 
 
C) Interditos possessórios 
O art. 1.210, CC, prevê a tutela da posse através dos interditos possessórios: 
 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se 
tiver justo receio de ser molestado. 
 
Interdito possessório é a denominação genérica que se dá às ações possessórias 
que visam combater as seguintes agressões à posse: 
 
Esbulho: agressão que culmina da perda da posse. Interdito adequado: 
reintegração de posse (efeito restaurador). CPC, arts. 926 a 931. 
 
Turbação: agressão que embaraça o exercício normal da posse. Interdito 
adequado: manutenção de posse (efeito normalizador). CPC, arts. 926 a 931. 
 
Ameaça: risco de esbulho ou de turbação. Interdito adequado: interdito 
proibitório. CPC, 932 e 933. 
 
O fato de o limite entre as formas de agressão da posse serem muito tênues, 
associado à velocidade com que uma agressão pode se transformar em outra, fez 
com que a legislação estabelecesse a fungibilidade entre as ações possessórias 
(art. 920, CPC). É importante nesse ponto definir a abrangência da expressão 
?ações possessórias? para fins de aplicação da regra dafungibilidade. Entende a 
maioria da doutrina e jurisprudência que a fungibilidade a que se refere o CPC só 
existe entre as ações de reintegração de posse, manutenção de posse e interdito 
proibitório (ações possessórias em sentido estrito). Assim, ainda que as ações 
como a de nunciação de obra nova (art. 934, CPC) e a ação de dano infecto (art. 
1.280, CC) possam ser utilizadas na defesa da posse, somente as ações 
possessórias em sentido estrito estão sujeitas à regra da fungibilidade. 
 
Condições das ações possessórias: 
 
- Possibilidade jurídica do pedido: No campo possessório, a possibilidade jurídica 
do pedido assume papel relevante, principalmente pela confusão relativamente 
habitual entre o âmbito petitório e possessório. Muitas vezes o autor do pedido 
nunca foi possuidor e não obteve qualquer transmissão ou sucessão na posse. 
Poderá ter pretensão e legitimidade para ingressar com ação reivindicatória. 
Entretanto, não terá pretensão possessória. Seu pedido será juridicamente 
impossível sob o prisma possessório (MEDINA, Miguel Garcia et.al. 
Procedimentos cautelares e especiais. 2.ed. São Paulo: RT, 2010. pp. 266-
267). 
 
- Interesse de agir; 
 
- Legitimidade: possuidor, seja direto, seja indireto. O detentor não tem 
legitimidade ativa nem passiva. Se houver agressão à posse de bem sob sua 
apreensão, somente lhe é deferida a autotutela imediata e proporcional da posse; 
se ele for indicado como réu em ação possessória, deverá valer-se da nomeação 
à autoria (art. 62, CPC). 
 
Cumulação de pedidos: a cumulação de pedidos de indenização, multa pela não 
cessação imediata à agressão da posse, bem como demolição não desnaturam a 
natureza da ação possessória, que continuará a seguir o procedimento especial 
previsto pelo CPC (marcantemente diferenciado pela audiência de justificação). 
 
Exceptio domini: por expressa determinação legal (art. 923, CPC), não é possível, 
regra geral, no juízo possessório, discutir o domínio. A decisão acerca de uma 
ação possessória será tomada com base na ?melhor posse?, e nesse aspecto a 
função social da posse assume papel relevante. Exceções: a usucapião pode ser 
utilizada como matéria de defesa e, consoante a Súmula 487, STF, será deferida a 
posse a quem, evidentemente, tiver o domínio se com base neste ela for 
disputada. 
 
Da questão da tutela antecipada nas ações possessórias 
A tutela de urgência é permitida no âmbito das ações possessórias pelo art. 928, 
CPC. Ela terá caráter satisfativo e estará pautada em cognição sumária. 
O art. 928 c/c art. 924, CPC, exige requisitos especiais para a concessão da 
medida liminar (que poderá ser deferida com ou sem audiência da parte contrária, 
lembrando que quando o réu for ente de direito público, não é possível a 
concessão de liminar inaudita altera parte): 
- prova da posse; 
- caracterização detalhada da agressão à posse, inclusive com indicação da data 
em que houve o esbulho ou a turbação; 
- que a agressão tenha ocorrido a menos de ano e dia (esbulho ou turbação novo). 
É importante ressaltar que, quanto ao terceiro requisito, a concessão da tutela de 
urgência não se limita ao esbulho ou à turbação nova. A interpretação sistemática 
do CPC conduz à conclusão de que caso a agressão tenha ocorrido há menos de 
ano e dia, a liminar concedendo antecipação de tutela seguirá o procedimento 
especial previsto no art. 928, CPC. Caso, porém, a agressão tenha ocorrido há 
mais de ano e dia, o direito fundamental de acesso à justiça e o princípio da 
inafastabilidade da jurisdição implicam na necessidade de tutela jurisdicional 
adequada à solução das crises de direito material, de modo que a tutela de 
urgência poderá ser concedida, mas na forma do art. 273, CPC (aplicação do art. 
924, CPC). 
Desforço possessório 
 
Desforço incontinenti: defesa imediata da posse pelo possuidor agredido. Deve 
estar assentado no binômio imediatismo-proporcionalidade. O art. 1.210, § 1° 
tem que ser entendido em harmonia com o art. 188, também do Código Civil. 
O desforço próprio, como ação exclusiva do possuidor, deve ser 
promovido logo e limita-se a trazer a situação ao fato anterior à 
violência. Ou não permiti-lo que se perpetre. Logo, é prazo 
contínuo e ininterrupto. É decadencial, de modo que não permite 
um intervalo, pois se este se der, caberá ao interessado buscar 
as vias ordinárias, ou seja, procurar a Justiça, como órgão 
estatal, a disposição dos jurisdicionados (PUGLIESE, Roberto J. 
Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 195). 
A doutrina costuma classificar a autotutela da posse em duas espécies: 
- desforço imediato: ocorre nos casos de esbulho, em que o possuidor recupera 
o bem perdido. 
- legítima defesa da posse: ocorre nos casos de turbação, em que o possuidor 
normaliza o exercício de sua posse. 
 
 
 
Semana Aula: 4 
DIREITO CIVIL IV - AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE 
 
2.7. Aquisição da posse 
2.7.1 ? Momento de início da posse 
 
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se 
torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos 
poderes inerentes à propriedade. 
 
O art. 1.204, CC, como visto, reforça a teoria objetiva da posse. 
 
2.7.2 ? Espécies de aquisição 
 
A posse é adquirida por qualquer ato através do qual seja possível a visibilidade e 
o uso econômico da propriedade. O Código de 1916 trazia um rol exemplificativo 
dos meios de aquisição da posse; no entanto, a opção metodológica do CC/2002 
de prestigiar cláusulas gerais e consagrar o princípio da operabilidade, fez com 
que a aquisição da posse fosse tratada de forma aberta, contemplando, assim, 
não apenas as formas elencadas pelo CC/1916, mas também quaisquer outras 
que se encaixem na dicção legal. 
 
Dessa forma, todos os meios juridicamente possíveis para a aquisição de direitos 
são válidos para a aquisição da posse. Como os direitos são adquiridos através de 
fatos jurídicos, cumpre ressaltar que os requisitos de validade da parte geral do 
Código Civil aplicam-se à aquisição da posse (art. 104, CC/2002). 
 
Daí, a posse se adquire pela simples aparência do ter para si e 
revelação do estado de proprietário. Não se vislumbra qualquer 
necessidade de justificar o status, pois trata-se de fato 
reconhecido juridicamente. Daí, descarta-se o registro público da 
posse no Cartório de Registro Imobiliário (PUGLIESE, Roberto J. 
Direito das coisas. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de 
Direito, 2005. p. 73) 
 
Aquisição originária: não há relação jurídica com o antecessor da posse. A 
aquisição se dá por ato unilateral. Nos modos originários de aquisição, não há 
relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. Segundo Orlando Gomes, 
adquire-se a posse por modo originário quando não há consentimento de 
possuidor precedente. 
 
Se o modo de aquisição é originário, a posse apresenta-se livre dos vícios que 
anteriormente a contaminavam. Assim, se o antigo possuidor era titular de uma 
posse injusta, tais vícios desaparecem ao ser esbulhado. 
 
Aquisição derivada: Caracteriza-se a aquisição derivada ou bilateral quando a 
posse decorre de um negócio jurídico. Neste caso, existe relação de causalidade 
entre a posse atual e a anterior. O adquirente recebe a posse adquirida com os 
mesmos vícios que a inquinavam nas mãos do alienante. Se a posse anterior era 
violenta, clandestina ou precária, conservará, em regra, o mesmo caráter nas 
mãos do novo possuidor. A aquisição derivada pode ocorrer pela tradição e pela 
sucessão inter vivos e mortis causa. A tradição é a forma, por excelência, de 
aquisição derivada da posse. 
 
2.7.3 ? Meios de tradição da posse 
 
Podendo a posse ser adquirida por qualquer ato jurídico, também o será pela 
tradição, que pressupõe um acordo de vontades, um negócio jurídico de 
alienação, quer seja a título gratuito (e.g., doação),quer a título oneroso (e.g., 
compra e venda). Existem três espécies de tradição: real, simbólica e consensual. 
 
A tradição real envolve a entrega efetiva e material da coisa. Pressupõe sempre 
uma causa negocial. Para Serpa Lopes, a tradição real exige os seguintes 
requisitos: a) a entrega da coisa (corpus); b) a intenção das partes em efetuar a 
tradição, isto é, a intenção do tradens em transferir à outra parte a posse da coisa 
entregue e em relação ao accipiens a intenção de adquirir-lhe a posse; c) a justa 
causa, requisito a ser compreendido como a presença de um negócio jurídico 
precedente, que a fundamenta. 
 
A tradição caracteriza-se como simbólica quando traduzida por atitudes, gestos, 
condutas indicativas da intenção de transferir a posse. Exemplos clássicos são os 
atos de entrega das chaves de imóveis ou automóveis. A coisa não é efetivamente 
entregue, mas o simbolismo do ato é indicativo do propósito de transmitir a posse. 
 
A tradição pode ser também consensual (alguns autores chamam de tradição ficta. 
Preferimos não adotar essa denominação porque há dissenso entre a doutrina 
quanto ao sinônimo de tradição ficta: se tradição simbólica ou tradição 
consensual), quando decorrer exclusivamente de um ato de vontade, 
independente de atos simbólicos de transferência da posse, como ocorre, por 
exemplo, no constituto possessório. 
 
Ocorre tradição consensual nas hipóteses do constituto possessório e da traditio 
brevi manu. Há constituto, p.ex., quando o vendedor, transferindo a outrem o 
domínio da coisa, conserva-a em seu poder, mas agora na condição ou qualidade 
de locatário. A cláusula constituti não se presume. Deve constar inequivocamente 
do ato ou resultar da estipulação que a pressuponha. 
 
Já a traditio brevi manu é exatamente o inverso do constituto possessório, pois se 
configura quando o possuidor de uma coisa alheia passa a possuí-la como 
própria. Seria o exemplo do locatário que adquire o bem. 
 
Em ambas as hipóteses (constituto e traditio) não ocorre exteriorização da 
tradição. Existe pura e simplesmente inversão no animus do sujeito. Há uma 
modificação subjetiva na compreensão da posse pelos sujeitos envolvidos. 
Aplicam-se tanto aos móveis quanto aos imóveis. 
 
 
2.7.4 ? Acessão de posses 
A posse pode também ser adquirida em virtude de sucessão inter vivos ou mortis 
causa, tanto a título singular quanto universal. É de se observar os seguintes 
artigos do CC: 
 
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários 
do possuidor com os mesmos caracteres. 
 
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse 
do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir 
sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. 
 
A segunda parte do artigo 1.207 traz uma exceção à regra de que a posse 
mantém o caráter com que foi adquirida, prevista no art. 1.203 do CC. 
 
A transmissão da posse pela sucessão apresenta duplo aspecto. Na que opera 
mortis causa pode haver sucessão universal e a título singular. Dá-se a primeira 
quando o herdeiro é chamado a suceder na totalidade da herança, fração ou 
parte-alíquota (porcentagem) dela. Pode ocorrer tanto na sucessão legítima como 
na testamentária. Na sucessão mortis causa a título singular, o testador deixa ao 
beneficiário um bem certo e determinado, denominado legado, como p.ex. um 
imóvel. A sucessão legítima é sempre universal; a testamentária pode ser 
universal ou singular. 
 
A transmissão da posse por ato causa mortis é regida pelo princípio da saisine, 
segundo o qual os herdeiros entram na posse da herança no instante do 
falecimento do de cujus. Essa transmissão se opera sem solução de continuidade 
e de forma cogente, independentemente da manifestação de vontade do 
interessado. 
 
A sucessão inter vivos geralmente se dá a título singular, como p.ex. quando 
alguém adquire um bem certo e determinado (um imóvel), mas também pode 
ocorrer a título universal, como quando alguém adquire uma universalidade (um 
estabelecimento comercial, por exemplo). 
 
Nos termos do já referido art. 1.207, o sucessor a título singular pode unir sua 
posse à do antecessor, quando a mesma permanecerá eivada dos eventuais 
vícios da posse anterior. Caso resolva desligar sua posse da do antecessor, 
estarão expurgados os vícios que a maculavam, iniciando com a posse nova 
prazo para eventual usucapião. 
 
Em síntese: 
 
A posse do sucessor pode somar-se à posse de seu antecessor para todos os 
efeitos legais. No entanto, na hipótese de haver essa junção, o sucessor recebe a 
posse antiga com todos os seus vícios (continuidade do caráter da posse). 
 
Sucessor a título universal: há obrigatoriamente a soma das posses (a doutrina 
denomina essa modalidade de sucessão de posses ? sucessio possessionis). 
 
Sucessor a título singular: pode escolher se inicia uma posse nova ou se soma a 
sua posse com a de seu antecessor (a doutrina chama essa modalidade de 
acessão de posses - acessio possessionis). 
 
 
Quanto ao legatário, há uma pequena polêmica da doutrina. Com efeito, a 
corrente majoritária defenda que o art. 1.206, CC trata da sucessão mortis causa e 
o art. 1.207, CC aplica-se somente à sucessão inter vivos. Dessa forma, tanto no 
caso dos herdeiros quanto no dos legatários ocorre a sucessio possessionis. Essa 
é a posição, por exemplo, de Silvio Venosa: O art. 1.206, (antigo, art. 495) estende 
os mesmos efeitos aos herdeiros e legatários, embora estes últimos sucedam a 
título singular. Preferiu o legislador tratar ambos da mesma forma, talvez porque a 
origem comum seja a transmissão mortis causa (Direito civil: direitos reais. 3.ed. 
São Paulo: Atlas, 2003. p. 93). Entretanto, uma outra corrente entende que há 
conflito aparente entre os art.s 1.206 e 1.207, CC, e que o legatário, por ser 
sucessor a título singular, pode escolher se irá ou não aceder sua posse a do 
antecessor. Nesse sentido, Arnaldo Rizzardo, ao comentar o art. 1.207, CC, 
leciona que o dispositivo acima não se refere apenas à sucessão mortis causa, 
mas envolve qualquer transmissão. Sua redação coincide com a do art. 496, do 
Código de 1916, mantendo-se a exegese que outrora se dava (Direito das 
coisas. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 81). 
 
2.8. Extinção da Posse 
 
Sendo a posse jurídica, no sistema brasileiro de direito positivo, inspirado na teoria 
objetiva de Jhering, a conjugação dos elementos corpus e animus (com a ressalva 
de que deve ser entendido como a vontade de utilizar a coisa como faria o 
proprietário, o que é bem diferente do elemento volitivo da teoria subjetiva de 
Savigny), a perda da posse requer o desaparecimento de ao menos um desses 
elementos. Assim é que a posse pode ser perdida por: 
 
a) perda da coisa; 
Com a perda da coisa, o possuidor se vê privado da posse sem querer. Na 
hipótese de abandono, ao contrário, a privação se dá por ato intencional, 
deliberado. 
 
b) perecimento da coisa; 
A destruição pode resultar de: a) acontecimento natural ou fortuito, como a morte 
de um animal; b) por fato do próprio possuidor, como no exemplo do acidente com 
um veículo causado por direção imprudente ou c) por fato de terceiro, em ato 
atentatório à propriedade. 
 
Perde-se a posse também quando a coisa deixa de ter as qualidades essenciais à 
sua utilização ou valor econômico, como sucede, por exemplo, com o campo 
invadido pelo mar e submerso permanentemente; e ainda quando impossível se 
torna distinguir uma coisa da outra, como nos casos de confusão, comistão, 
adjunção e avulsão. 
 
c) abandono (derrelição); 
 
d) transmissão da posse para outra pessoa; 
 
e) tomada da posse por outrem (v. art. 1.224); 
 
f) classificação da coisa como bem fora do comércio. 
 
Nesta hipótese a coisa se tornou inaproveitável ou inalienável. Pode alguém 
possuir bem que, por razões de ordem pública, moralidade,higiene ou segurança 
coletiva, passe à categoria das res extra commercium, verificando-se, então, a 
perda da posse pela impossibilidade, daí por diante, de ter o possuidor poder 
físico sobre o objeto da posse. 
Tal conseqüência, todavia, é limitada às coisas tornadas insuscetíveis de 
apropriação, uma vez que a só inalienabilidade é frequentemente compatível com 
a cessão de uso ou posse alheia. 
 
Importante destacar os parâmetros legais de perda da posse: 
 
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a 
vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o 
art. 1.196. 
 
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não 
presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de 
retornar a coisa, ou, tentando recupera-la, é violentamente 
repelido. 
 
Semana Aula: 5 
DIREITO CIVIL IV - PROPRIEDADE 
Unidade 3 
Propriedade em Geral 
3.1. Propriedade em geral. 3.2. Evolução histórica, conceito e características. 
 
O código civil não definiu a propriedade, informando tão-somente suas 
características essenciais, quais sejam, uso (ius utendi), gozo (jus fruendi), 
disposição (jus abutendi) e reivindicação (rei vindicatio), fundada, esta última, no 
direito de seqüela (art. 1.228, caput). Todavia, a doutrina procura definir a 
propriedade: 
 
- Maria Helena Diniz: direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites 
normativos, de usar, gozar e dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como 
de reivindica-lo de quem injustamente o detenha (Curso de Direito Civil: direito das 
coisas. 22.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. pp. 113-114). 
 
- San Tiago Dantas: direito em que a vontade do titular é decisiva em relação à 
coisa, sobre todos os aspectos. Pode ele decidir tudo a respeito dela: pode, por 
conseguinte, usa-la, pode aproveitar suas utilidades, pode até mesmo, destruí-la e 
pode dar um fim ao seu direito, transferindo-o ao patrimônio de outrem. Por isso, a 
propriedade é o direito em que a vontade do titular é decisiva para a coisa, sobre 
todos os seus aspectos (apud Pedro Elias Avvad. Direito imobiliário: teoria geral 
e negócios imobiliários. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 55). 
 
Para Carlos Roberto Gonçalves, o direito de propriedade pode ser definido como 
?o poder jurídico atribuído a uma pessoa de usar, gozar e dispor de um bem, 
corpóreo ou incorpóreo, em sua plenitude e dentro dos limites estabelecidos na 
lei, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha? (GONÇALVES, 
Carlos Roberto. Direito civil brasileiro ? vol. V ? direito das coisas. pp. 206-207). 
 
Quando todos os elementos estão nas mãos de uma mesma pessoa, diz-se que a 
propriedade é plena; se ocorrer o desmembramento, passando um ou algum deles 
para as mãos de outra pessoa, diz-se a propriedade limitada (exemplo do 
usufruto). 
 
Poder de reivindicação: a ação reivindicatória 
 
O proprietário tem o poder de reaver a coisa das mãos daquele que injustamente 
a possua ou detenha. É a ação reivindicatória, tutela específica da propriedade, 
que possui fundamento no direito de seqüela. A ação de imissão de posse, por 
exemplo, tem natureza reivindicatória. 
 
Os pressupostos da ação reivindicatória são três: a) a titularidade do domínio, pelo 
autor, da área reivindicada, que deve ser devidamente provada; b) a individuação 
da coisa, com a descrição atualizada do bem, seus limites e confrontações; c) a 
posse ilegítima do réu. 
 
No que diz respeito ao requisito c, carece da ação o titular do domínio se a posse 
do terceiro (réu) for justa, como aquela fundada em contrato não rescindido. O art. 
1.228 do CC/2002 fala em posse injusta, mas a expressão deve ser compreendida 
no sentido de posse sem título, sem causa jurídica. Não há necessidade que a 
posse ou detenção tenha sido obtida através de violência, clandestinidade ou 
precariedade. 
 
A ação reivindicatória é imprescritível, uma vez que a sua pretensão versa sobre o 
domínio, que é perpétuo, somente se extinguindo nos casos previstos em lei 
(usucapião, desapropriação etc.). 
 
Embora imprescritível, a reivindicatória pode esbarrar na usucapião, matéria que 
pode ser alegada pelo réu em sua defesa (v. Súmula 237 do STF). Acolhida a 
alegação de usucapião, a sentença afastará a pretensão do reivindicante, mas 
não produzirá efeitos erga omnes. Para tanto, é necessária a propositura de ação 
de usucapião, com citação de todos os interessados. 
 
Podem ser objeto da ação reivindicatória todos os bens objeto da propriedade, ou 
seja, coisas corpóreas que se acham no comércio, sejam móveis ou imóveis, 
singulares ou coletivas, singulares ou compostas, mesmo as universalidades de 
fato. 
 
A legitimado ativo é o proprietário, seja a propriedade plena ou limitada, 
irrevogável ou resolúvel. Quando se tratar de ação real imobiliária, há necessidade 
de outorga uxória para o seu ajuizamento, bem como a citação de ambos os 
cônjuges se o réu for casado (CPC, art. 10). 
 
Quanto à legitimidade passiva, a ação deve ser movida contra quem está na 
posse ou detém a coisa, sem título ou causa jurídica. A boa-fé do possuidor não 
impede a propositura da reivindicatória. Aquele que detém a coisa em nome de 
terceiro deve nomear este a autoria (CPC, 62). Pode a ação ser proposta contra 
aquele que deixou de possuir a coisa com dolo, no intuito de dificultar a 
reivindicação. 
 
A função social da propriedade 
 
É importante observar que a palavra propriedade é dotada de pluralidade 
semântica, podendo ter, pelo menos, três significados distintos: 
 
A) Propriedade enquanto bem móvel ou imóvel; 
B) Propriedade enquanto direito que recai sobre um bem corpóreo ou incorpóreo; 
C) Propriedade enquanto instituição. 
 
A função social da propriedade, já estudada na unidade referente à posse, refere-
se aos três significados de propriedade, pois: 
 
a) A locução ?função social da propriedade? está relacionada à utilidade 
conferida ao bem (propriedade enquanto bem), seja ele móvel, imóvel, corpóreo 
ou incorpóreo. Essa utilidade se dá através do exercício da posse. 
 
b) Por outro lado, o direito de propriedade, assegurado constitucionalmente como 
um direito fundamental, apresenta a função social como elemento estrutural 
(propriedade enquanto direito), de modo que não há proteção constitucional à 
propriedade exercida em desconformidade com sua função social. Em outras 
palavras, é essencial que o direito de propriedade seja exercido funcionalizado 
pela socialidade. 
 
c) Por fim, a função social impõe uma série de limitações que devem ser 
respeitadas pelo proprietário. As normas que asseguram o cumprimento da 
função social, bem como as que reprimem seu descumprimento integram o 
conjunto que representa a instituição propriedade no direito brasileiro 
(propriedade enquanto instituição). 
 
A concepção da funcionalização do Direito é adjetivada pela socialidade. A função 
por si só poderia também incorrer em um indesejável egoísmo. Dessa forma, o 
adjetivo social acompanha a locução para consagrar a leitura conglobante do 
Direito, atrelando a pessoa ao ambiente social em que coexiste com as demais 
pessoas, iguais em dignidade e, por isso, o estabelecimento de qualquer relação 
deve levar em consideração os interesses particulares dos sujeitos envolvidos, 
conformando-os aos interesses socialmente relevantes. 
 
A função social, como a própria etimologia da expressão revela, considera que o 
Direito tem um compromisso inafastável com a sociedade da qual emana e para 
qual serve, devendo suas normas guardar coesão com a socialidade. 
 
Assim, o fenômeno da funcionalização do Direito está arrimado nos princípios da 
solidariedade, da justiça social e, evidentemente, na dignidade da pessoa 
humana, porquanto o Direito, enquanto experiência da cultura humana, não pode 
permanecer indiferente ao social (Luiz Edson Fachin.Estatuto jurídico do 
patrimônio mínimo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 45). Guilherme Calmon 
Nogueira da Gama e Caroline Dias Andriotti, ao tratarem da funcionalização do 
direito, revelam que ela advém da necessidade do Estado em intervir nas relações 
econômicas e participar ativamente da vida social, garantindo o equilíbrio das 
relações, sobretudo na tentativa de harmonizar interesses meramente individuais 
e as necessidades coletivas e sociais (Breves notas históricas da função social 
no Direito Civil. In: Guilherme Calmon Nogueira da Gama (org). Função social no 
direito civil. São Paulo: Atlas, 2007. p. 2). 
 
A função social da propriedade no direito brasileiro não é novidade do Código Civil 
de 2002, muito menos da Constituição Federal de 1988. Desde a Carta de 1934, a 
função social da propriedade vinha, timidamente, ganhando seus primeiros 
contornos no cenário constitucional nacional, suprindo uma deficiência sociológica 
do tratamento conferido à propriedade pela codificação civil de 1916, de cunho 
notadamente individualista, típico das codificações oitocentistas. 
 
Na Constituição de 1967, a expressão função social da propriedade foi enfim 
textualmente consolidada, mas somente na Constituição de 1988 a função social 
da propriedade foi elevada à categoria dos direitos fundamentais, traçando, assim, 
contornos até então inéditos ao direito de propriedade rumo à concretização de 
um princípio até então insurgente, qual seja, o da solidariedade social. 
 
A nova concepção constitucional repercutiu no Código Civil, que, em razões de 
naturezas diversas, estava obsoleto, cuja ab-rogação já estava fatalmente 
destinada a acontecer diante da tramitação do projeto do Novo Código Civil, desde 
1975. A propriedade não mais poderia apresentar resquícios de individualismo. 
Não significa, com isso, propugnar pela extinção da propriedade privada e 
instauração de um regime exclusivamente de propriedade coletiva. A propriedade 
privada existe e é constitucionalmente elencada como direito fundamental; 
todavia, tão importante quanto o próprio reconhecimento de um direito à 
propriedade privada, é a garantia de que este direito de propriedade será exercido 
conforme as exigências da função social que ele deve desempenhar, exigências 
essas que impõem limites negativos e positivos. 
 
É com esta ideologia que surge o Código Civil de 2002, que, apoiado em suas 
diretrizes de eticidade, socialidade e operabilidade, mesmo sem fazer referência à 
textualidade da expressão, consolida a função social da propriedade nos 
parágrafos do art. 1.228: 
 
 § 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas 
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de 
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas 
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como 
evitada a poluição do ar e das águas. 
§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, 
ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. 
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por 
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de 
requisição, em caso de perigo público iminente. 
§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado 
consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco 
anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em 
conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de 
interesse social e econômico relevante. 
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida 
ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do 
imóvel em nome dos possuidores. 
 
Os dois primeiros parágrafos trazem importantes padrões de utilização da 
propriedade conforme referenciais que transcendem os interesses meramente 
individuais do proprietário. 
 
O §§ 4º e 5º inovaram ao introduzir no ordenamento brasileiro instituto semelhante 
à usucapião, mas que com ela não se confunde: a desapropriação judicial pela 
posse-trabalho. Esses dois dispositivos, apesar da excelente intenção do 
legislador em criar novos instrumentos de implementação da função social, vem 
sendo alvo de várias críticas doutrinárias, sobretudo pelas dúvidas que surgem 
para sua aplicação. Em primeiro lugar, ainda que a posição majoritária seja a de 
que a natureza jurídica é de desapropriação, autores há que entendem tratar-se 
de usucapião. Por outro lado, questões como a possibilidade ou não de incidir 
sobre bens públicos; a espécie de propriedade que surgirá após a desapropriação 
(se condomínio necessário ou facultativo, ou mesmo se propriedade individual); se 
o Poder Público deve arcar subsidiariamente com o valor da indenização a que se 
refere o § 5º; a que boa-fé se refere o § 4º, fazem com que surja a necessidade de 
lei para regulamentar o instituto. Ademais, os conceitos indeterminados existentes 
(?considerável número de pessoas?, ?obras e serviços de interesse social e 
econômico relevante?, ?extensa área?) exigem do intérprete muito cuidado na 
aplicação. 
 
 
Em se tratando da propriedade rural, a Constituição da República, em seu art. 
186, fornece os parâmetros cumulativos da função social: 
a) aproveitamento racional e adequado; 
b) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio 
ambiente; 
c) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
d) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
 
O art. 2° do Estatuto da Terra também fornece os requisitos cumulativos da função 
social da propriedade: 
 
Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da 
terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. 
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função 
social quando, simultaneamente: 
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela 
labutam, assim como de suas famílias; 
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; 
c) assegura a conservação dos recursos naturais; 
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de 
trabalho entre os que a possuem e a cultivem. 
 
A função social está atrelada à utilização do bem, utilização esta que somente é 
possível através da posse. Assim, em se tratando da propriedade rural, a função 
social da posse agrária é o elemento distintivo que garante a proteção 
constitucional e legal do imóvel (ressalte-se que muitas das vezes a posse é 
desvinculada do direito de propriedade ? ius possessionis x ius possidendi). 
 
 
Características da propriedade 
 
As características da propriedade estão indicadas no art. 1.231, CC: a plenitude e 
a exclusividade. A essas características a doutrina soma outras três: perpetuidade, 
elasticidade e oponibilidade erga omnes. 
 
A propriedade é considerada plena quando se encontrarem nas mãos do 
proprietário todas as faculdades que lhe são inerentes (usar, gozar, dispor e 
reivindicar), estando o mesmo sujeito apenas às limitações impostas no interesse 
público. 
 
Contrapondo-se a noção de propriedade plena, acima abordada, temos a 
propriedade limitada, que se caracteriza: a) quando estiver sujeita a algum ônus 
real; b) quando for resolúvel. 
 
A exclusividade significa que a mesma coisa não pode pertencer com 
exclusividade e simultaneamente a duas ou mais pessoas. O direito de um sobre 
determinada coisa exclui o direito de outro sobre a mesma coisa. Isso não se 
choca com a idéia de condomínio, pois cada condômino é proprietário, com 
exclusividade, de sua parte ideal. 
 
A propriedade é perpétua, pois não se extingue pelo não-uso. Não estará perdida 
enquanto o proprietário não aalienar ou ocorrer algum dos modos de perda 
previstos em lei, como a usucapião, a desapropriação, o perecimento etc. 
Ademais, é transmissível aos herdeiros. 
 
A característica da elasticidade decorre da possibilidade de serem transferidos 
alguns dos poderes a terceiros. O fenômeno inverso chama-se retração. 
 
Por fim, a oponibilidade erga omnes já foi oportunamente estudada quando da 
análise das características dos direitos reais. Em tempo, é importante lembrar que 
a propriedade, por ser direito real por excelência, apresenta as mesmas 
características comuns a essa categoria de direitos. 
 
Extensão do direito de propriedade: 
 
A) propriedade móvel: recai sobre a coisa por inteiro, delimitada espacialmente 
pelos próprios limites materiais da coisa. 
 
B) propriedade imóvel (arts. 1.229 e 1.230, CC): abrange o solo e o subsolo, em 
altura e profundidade úteis ao proprietário. Não se incluem as jazidas, minas, 
recursos minerais, energia hidráulica e monumentos arqueológicos (propriedade 
da União). 
 
 
3.3. Restrições legais de interesse particular e público 
 
Na verdade, é mais correto falar em delimitações ao direito de propriedade, pois 
tais limites acabam por lhe conferir os seus contornos. São várias as restrições, 
impostas pela Constituição Federal, pelo Código de Mineração, Florestal, Lei de 
Proteção ao Meio Ambiente etc. 
 
Há ainda limitações que decorrem dos direitos de vizinhança e de cláusulas 
impostas voluntariamente nas liberalidades, como inalienabilidade, 
impenhorabilidade e incomunicabilidade. 
 
Todo esse conjunto traça o perfil da propriedade no direito brasileiro, afastando 
em parte a idéia de propriedade como direito absoluto e enfatizando o seu viés 
social. 
 
As limitações de interesse público serão estudadas nas respectivas disciplinas. 
 
Alguns exemplos de limitações de interesse público: 
 
- Servidão administrativa; 
- Art. 176, CR: propriedade da União das jazidas e recursos minerais e os 
potenciais de energia elétrica; 
- Tombamento; 
- Art. 5º, XXIV, CR: possibilidade de desapropriação por utilidade ou 
necessidade pública ou por interesse social; 
- Art. 1º, Código Florestal: as florestas existentes no território nacional e as 
demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que 
revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, 
exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação 
em geral e especialmente esta lei estabelecerem; 
- Art. 5º, XXV, CR: requisição de bens particulares. 
 
Limitações de interesse privado: estão contidas principalmente no Código Civil, 
especialmente o art. 1.228 c/c disposições acerca do direito de vizinhança. Há 
várias outras limitações dispostas no Código e na legislação esparsa, além de 
sempre haver a possibilidade de as partes, no exercício da autonomia privada, 
estipularem limitação específica (como ocorre, p.ex., nas cláusulas de 
inalienabilidade e incomunicabilidade). 
 
Direitos de vizinhança 
 
O Código Civil, nos arts. 1.277 ao 1.313, estabelece importantes limitações ao 
direito de propriedade, relativos ao direito de vizinhança. Para Nelson Rosenvald e 
Cristiano Farias, nos direitos de vizinhança a norma jurídica limita a extensão das 
faculdades de usar e gozar por parte de proprietários e possuidores de prédios 
vizinhos, impondo-lhes um sacrifício que precisa ser suportado para que a 
convivência social seja possível e para que a propriedade de cada um seja 
respeitada (Direitos reais. 6.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 435). 
 
Importante observar que a noção de vizinhança remete à proximidade dos 
imóveis, independente de relação de contigüidade entre eles. 
 
As normas referentes ao direito de vizinhança estabelecem regras para: 
a) controle e vedação do uso anormal da propriedade (arts.1.277 a 1.281, CC); 
b) propriedade das árvores limítrofes e seus frutos (arts. 1.282 a 1.284, CC); 
c) criação de passagem forçada (art. 1.285, CC); 
d) servidão para passagem de cabos e tubulações (arts. 1.286 e 1.287, CC); 
e) águas (arts. 1.288 a 1.296, CC); 
f) estabelecer limites entre prédios e regular o direito de tapagem (arts. 1.297 e 
1.298, CC); 
g) regulamentar o direito de construir (arts. 1.299 a 1.313, CC). 
 
Semana Aula: 6 
DIREITO CIVIL IV - AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL 
3.4. Modos de aquisição da propriedade imobiliária 
 
3.4.1 Registro de título 
 
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante 
registro do título translativo no Registro de Imóveis. 
§1°. Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante 
continua a ser havido como dono do imóvel. 
§2°. Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a 
decretação de invalidade do registro, e o respectivo 
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do 
imóvel. 
 
Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se 
apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no 
protocolo. 
 
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o 
interessado reclamar que se retifique ou anule. 
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário 
reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do 
terceiro adquirente. 
 
No sistema imobiliário brasileiro, o registro tem natureza aquisitiva do domínio 
(forma derivada de aquisição da propriedade imóvel). Sem registro, o direito do 
adquirente não é direito real, e sim direito pessoal de eficácia relativa entre os 
negociantes (adquirente e alienante), não produzindo efeitos, pois, contra 
terceiros. A eficácia erga omnes da propriedade imóvel só é atingida pelo registro, 
que confere a publicidade necessária à relação dominial. 
 
A publicidade das situações jurídicas que afetem terceiros é 
instituto jurídico inserido no âmago do direito civil. A necessidade 
de se tornar cognoscíveis as relações jurídicas que produzam, ou 
devam produzir efeitos perante terceiros, sejam de caráter real, 
sejam de caráter pessoal, é uma realidade jurídica e que 
encontrou diferentes respostas ao longo da evolução do Direito 
(...) Os direitos reais, somente serão efetivamente direitos reais, 
dotados da característica da oponibilidade erga omnes, se o 
direito fornecer algum instrumento adequado de publicidade que 
permita à coletividade tomar conhecimento da existência de tal 
direito, sem o que, não poderá afetar a terceiros de boa fé, sob 
pena de haver afronta ao princípio da segurança jurídica, da boa 
fé objetiva, e até mesmo da justiça. Assim, sem um meio eficaz 
de publicidade, não se terá um efetivo direito real, oponível a 
terceiros, uma vez que estes o desconhecerão; poder-se-á 
chamar de direito real, mas em verdade não o será, ou não o 
será em sua plenitude por encontrar sérias restrições jurídicas 
decorrentes da ignorância de sua existência por terceiros. O 
mesmo se diga a respeito dos direitos puramente obrigacionais 
que devam ser oponíveis em relação a terceiros, como certos 
direitos de preempção, por exemplo: se não forem publicizados, 
sua oponibilidade esvai-se (...) Inegável a tendência civilista e 
registral mundial de se levar ao registro imobiliário todos as 
situações jurídicas imobiliárias, reais e pessoais, que tenham 
vocação para atingir terceiros. Sem o registro, os terceiros de boa 
fé não pode ser atingidos porque não se lhes pode exigir o 
conhecimento da situação jurídica sobre a qual não se lhe deu 
cognoscibilidade (a não ser que se prove que a conhecia de fato, 
embora a não-publicidade). (Leonardo Brandelli. Justificativa do enunciado 
apresentado na Comissão de Direito das Coisas da IV Jornada de Direito Civil, 
realizada em Brasília entre os dias 24 e 26 de Outubro de 2006, promovida pelo 
Conselho da Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça.) 
 
Legislação pertinente: Lei de Registros

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