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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 Aula 03 Dos Bens � Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ BENS. Diferentes classes de bens. Subitens →→→→ Bens: diferentes classes de bens. Conceito. Espécies. Classificação Geral: considerados em si mesmos; reciprocamente considerados; considerados em relação ao titular da propriedade; considerados quanto à possibilidade de comercialização. Bem de família legal e bem de família convencional. �Legislação a ser consultada →→→→ Código Civil: arts. 79 até 103. Lei n° 8.009/90: da impenhorabilidade do bem de família. Índice INTRODUÇÃO ........................................................................................ 02 A problemática da conceituação ........................................................ 02 Classificação Supralegal: bens corpóreos e incorpóreos ........................ 03 Classificação legal ................................................................................ 04 Bens considerados em si mesmos ...................................................... 04 Bens reciprocamente considerados ................................................... 16 Bens considerados em relação ao titular do domínio ......................... 21 Bens considerados em relação à possibilidade de negociação ........... 25 Bens de família ................................................................................. 26 Bens gravados com cláusula de inalienabilidade ................................ 31 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA .......................................................... 31 Bibliografia Básica ................................................................................. 36 EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE/UNB) ............................................. 36 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 INTRODUÇÃO Como já sabemos, uma relação jurídica envolve três elementos: as pessoas, os bens e o vínculo. Enquanto no tema “pessoas” nós estudamos os sujeitos de direito, ou seja, quem pode ser considerado sujeito de direitos e deveres na ordem civil, no tema de hoje analisaremos o quê pode ser objeto do Direito. Assim, a relação jurídica entre dois sujeitos tem por objeto os bens sobre os quais recaem direitos e obrigações. ����Atenção ���� Há muita divergência doutrinária acerca da utilização das expressões coisa e bem. Alguns autores conceituam coisa como tudo o que existe objetivamente no Universo (com a exclusão da pessoa natural) e que pode satisfazer a uma necessidade humana. Já bem é designado para a conceituação de uma coisa útil ao homem, economicamente apreciável ou valorável e suscetível de apropriação. Desta forma coisa seria o gênero (tudo que existe na natureza) e bem a espécie (que proporciona ao homem uma utilidade, sendo apreciável economicamente e suscetível de apropriação). No entanto outros autores fornecem conceitos completamente inversos de bem e coisa. Para eles bem seria um gênero que se divide em bens imateriais e bens materiais, estes sim, considerados como coisa. Finalmente há os que entendem que entre bens e coisas há uma sinonímia. De fato, o próprio Código não é uniforme, pois utiliza a expressão “bem” na Parte Geral e passa a utilizar “coisa” na Parte Especial, quando trata da propriedade. ����Atenção! Isso já caiu em concurso ���� Apesar de toda essa discussão doutrinária, a ESAF, na prova para MDIC (Analista de Comércio Exterior), realizada em 2012, considerou como correta a seguinte afirmação: “Coisas e bens são conceitos que não se confundem, embora a coisa represente espécie da qual o bem é gênero. A honra, a liberdade, a vida, entre outros, representam bens sem, no entanto, serem considerados coisas”. Houve recurso, porém a questão foi mantida... Como já caiu e a questão não foi anulada, é prudente seguir o que as bancas estão pedindo: “bem é gênero; coisa é espécie de bem". Em relação especificamente à nossa Banca (CESPE/UnB), não vi cair questões específicas desse tema. ����Vamos então ficar com a expressão BENS, mais ampla e genérica, conceituando como sendo valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de direito. CLASSIFICAÇÃO Definida a expressão que vamos usar e o seu conceito, vamos agora falar sobre a classificação dos bens, que é feita segundo critérios de importância científica, pois a inclusão de um bem de determinada categoria implica a aplicação de regras próprias e específicas, uma que não se pode aplicar as mesmas regras a todos os bens. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 33 CLASSIFICAÇÃO SUPRALEGAL (doutrinária) A primeira classificação que é feita não está prevista expressamente no Código Civil, mas é plenamente aceita pela doutrina (e também tem grande incidência em concursos). Vejamos. Bens Corpóreos (sinônimos: materiais, tangíveis ou concretos): são aqueles que possuem existência física ou material; podem ser tocados e são visíveis, percebidos pelos sentidos (ex.: terrenos, edificações, joias, veículos, dinheiro, livros, etc.). Bens Incorpóreos (sinônimos: imateriais, intangíveis ou abstratos): aqueles que não existem fisicamente, pois possuem uma existência abstrata. No entanto podem ser traduzidos em dinheiro, possuindo valor econômico e sendo objeto de direito. Ex.: no caso de um programa de computador (software), o importante não é o CD ou o meio que o contém, mas sim a produção intelectual de quem elaborou o programa. Outro exemplo: ainda que dois produtos sejam idênticos, um consumidor pode decidir comprar de acordo com a marca do produto, pois esta lhe transmite maior sensação de confiança no produto. Muitas vezes o importante não é a característica material ou física do produto, mas sim a própria marca. Por isso é que as empresas investem na criação e desenvolvimento de uma marca, que pode ajudá-la a conquistar o consumidor e aumentar seus lucros. O mesmo ocorre com o nome de uma empresa. Outros exemplos: propriedade literária e/ou científica, direitos autorais, propriedade industrial (marcas de propaganda, logotipos, patentes de fabricação), concessões obtidas para a exploração de serviços públicos, fundo de comércio (ponto comercial), etc. Na prática os bens corpóreos são objetos de contrato de compra e venda, enquanto os bens incorpóreos são objetos de contratos de cessão (transferência a outrem). Mas ambos podem integrar o patrimônio de uma pessoa. PATRIMÔNIO JURÍDICO Anteriormente dizia-se que patrimônio era a representação econômica da pessoa. Atualmente afirma-se que é uma universalidade de direitos e obrigações (cada pessoa possui apenas um patrimônio). Trata-se, portanto, do conjunto das relações jurídicas ativas e passivas (abrange bens, direitos e obrigações) de uma pessoa (natural ou jurídica), apreciável economicamente. Não se incluem aqui as qualidade pessoais, como a capacidade física ou técnica, conhecimento ou a força de trabalho, porque estes são considerados simples fatores de obtenção de receitas). No entanto, Incluem-se a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes. O patrimônio é composto de elementos ativos ou positivos (bens e direitos) e passivos ou negativos (obrigações). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br44 Patrimônio positivo é aquele em que o ativo é maior que passivo (falamos em solvente). O patrimônio do devedor responde por suas dívidas e constitui garantia geral dos credores. Patrimônio negativo (insolvente) é aquele em que as dívidas superam os bens e direitos. PATRIMÔNIO Bens e Direitos (a receber) Obrigações (a serem pagas) Só para completar o tema: alguns autores admitem a existência do chamado “patrimônio moral”, que seria o conjunto de direitos da personalidade. Outros se referem ao chamado “patrimônio mínimo”, que, em respeito ao princípio da dignidade, cada pessoa deve ter resguardado pela lei civil um mínimo de patrimônio. CLASSIFICAÇÃO LEGAL DOS BENS Bens considerados em si mesmos: móveis ou imóveis; fungíveis ou infungíveis, consumíveis ou inconsumíveis, divisíveis ou indivisíveis; singulares ou coletivos. Bens reciprocamente considerados: principais ou acessórios (frutos, produtos, pertenças e benfeitorias). Bens considerados em relação ao titular do domínio: públicos (uso comum do povo, uso especial e dominicais), particulares e res nullius. Bens considerados quanto à possibilidade de alienação: bens que estão fora do comércio. Vejamos agora cada uma dessas espécies de forma minuciosa. I. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS I.1 – BENS QUANTO À MOBILIDADE (arts. 79/84, CC) A) BENS IMÓVEIS (arts. 79/81, CC) São aqueles que não podem ser removidos ou transportados de um lugar para o outro sem a sua destruição ou alteração em sua substância. Ocorre que com avanço da engenharia e da ciência em geral esse conceito perdeu parte de sua força. Atualmente há modalidades de imóveis que não se amoldam perfeitamente a este conceito (ex.: edificações que, separadas do solo, conservam sua unidade, podendo ser removida para outro local – arts. 81, I e 83, CC). Os bens imóveis também são chamados de “bens de raiz” e podem ser divididos em: DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 55 1. Por Natureza (ou por essência): é o solo (terreno) e tudo quanto se lhe incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes, etc.), mais adjacências (espaço aéreo e subsolo). Alguns autores entendem que apenas o solo seria bem imóvel por natureza. Os acessórios e as adjacências seriam bens imóveis por acessão natural. O art. 1.229, CC dispõe que a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e a do subsolo correspondente em altura e profundidade úteis ao seu exercício. Quem compra um sítio é o proprietário do subsolo? Resposta para o Direito Civil: SIM!! O proprietário do solo é também proprietário do subsolo (e do espaço aéreo), especialmente para construção de passagens, garagens subterrâneas, porões, adegas, etc. No entanto esta regra pode sofrer algumas limitações. Pelo art. 176, CF/88, as jazidas, os recursos minerais e hídricos, embora sejam considerados como bens imóveis, constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o domínio (propriedade) da União. Lógico que é difícil alguém comprar um terreno e nele “achar” uma mina de ouro ou de diamantes ou mesmo um lençol petrolífero. No entanto se isso ocorrer, esta pessoa não será o “dono” deste recurso mineral. 2. Por Acessão Física, industrial ou artificial (acessão quer dizer aumento, acréscimo ou aderência de uma coisa a outra): trata-se de tudo quanto o homem incorporar permanentemente (o que não significa eternamente) ao solo, não podendo removê-lo sem destruição, modificação ou dano. Abrange os bens móveis que, incorporados ao solo pelo trabalho do homem, passam a ser bens imóveis. Exemplos clássicos genéricos: construções e plantações. Ex.: um caminhão de tijolos, cimento, caibros, etc. são considerados bens móveis. No entanto quando esses bens são usados para se realizar uma construção qualquer (casa, edifício, ponte, viaduto, etc.), esses bens são incorporados ao solo pela aderência física, passando a ser imóveis, pois não podem ser retirados sem causar dano à construção onde estão. Da mesma forma os seus acessórios (garagem, piscina, etc.). Outro exemplo: sementes lançadas ao solo ou as plantações (café, cana, etc.). Cuidado apenas com exemplo que já vi cair: uma árvore geralmente é um imóvel; no entanto se ela for destinada ao corte será considerada móvel por antecipação (veremos isso logo adiante) e se plantada em um vaso (ex.: bonsai) também será considerada bem móvel, porque é removível. 3. Por Acessão Intelectual (ou por destinação do proprietário): são os bens móveis que aderem a um bem imóvel pela vontade do dono, para dar maior utilidade ao imóvel (a coisa deve ser colocada a serviço do imóvel e não da pessoa). Trata-se de uma ficção jurídica. Ex.: um trator destinado a uma melhor exploração de propriedade agrícola, máquinas de uma fábrica têxtil, para aumentar a produtividade da empresa, veículos, animais e até objetos de decoração de uma residência. O Código Civil atual não acolhe mais essa DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 66 classificação em relação a bens imóveis. Seguindo a doutrina moderna sobre o tema, o Código qualifica esses bens como pertenças, onde a coisa deve ser colocada a serviço do imóvel e não da pessoa, constituindo, portanto, a categoria de bens acessórios (que veremos mais adiante). Vejam que a imobilização não é definitiva neste caso; o bem poderá voltar a ser móvel, por mera declaração de vontade quando não for mais usá-lo para fim a que se destinava. ����Atenção���� Embora o atual Código não use mais o termo acessão intelectual (mas sim pertença) o aluno deve ficar “ligado” na forma como foi redigida a questão. Como alguns autores ainda a mencionam, é possível que em uma questão, estando todas as demais alternativas errada, por exclusão, a resposta certa seja “acessão intelectual”. 4. Por Disposição Legal: são bens que são considerados imóveis somente porque o legislador assim resolveu enquadrá-los (ficção jurídica), possibilitando, como regra, receber maior segurança e proteção jurídica nas relações que os envolve. São eles: • Direito à sucessão aberta. Falecendo uma pessoa, mesmo que a herança seja formada apenas por bens móveis, o direito à sucessão será considerado como um bem imóvel. Ex.: uma pessoa faleceu e deixou um carro, uma joia e dez mil reais em uma conta-poupança. É aberto o processo de inventário. O conjunto dos bens deixados pelo falecido (de cujus) é chamado de espólio. E este tem a natureza de bem imóvel por força de lei. Assim, o que se considera imóvel não é o direito aos bens que compõe a herança, mas sim o direito à herança como uma unidade. Somente após a partilha é que os bens serão considerados de forma individual. • Direitos reais sobre os imóveis (ex.: direito de propriedade, de usufruto, uso, superfície, habitação, servidão predial, enfiteuse, etc.). A lei, para dar maior segurança às relações jurídicas, trata os direitos reais sobre bens imóveis com se imóveis fossem. Encaixam aqui também as ações que asseguram os bens imóveis, como uma ação reivindicatória da propriedade, hipotecária, etc. • Penhor agrícola e as ações que o asseguram. • Jazidas e as quedas d’água com aproveitamento para energia hidráulica são consideradas bens distintos do solo onde se encontram (arts. 20, inciso IX e 176, CF/88). 5. Regras Especiais: nos termos do art. 81, CC, não perdem o caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis): • Edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local (ex.: “casa pré-fabricada” transportada de uma localidadepara outra). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 77 • Materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem (telhas retiradas de uma casa para reforma do telhado, sendo reempregadas posteriormente). B) BENS MÓVEIS (arts. 82/84, CC) São aqueles que podem ser removidos, transportados, de um lugar para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Podemos classificá-los em: 1) Móveis por Natureza: são os bens que podem ser transportados de um local para outro sem a sua destruição por força alheia ou que possuem movimento próprio. Força alheia: são os bens móveis propriamente ditos (carro, cadeira, livro, joias, etc.). Força própria (suscetíveis de movimento próprio): são os semoventes, ou seja, os animais de uma forma geral (bois, cavalos, carneiros, etc.). 2) Móveis por Antecipação: a vontade humana pode mobilizar bens imóveis em função da sua finalidade econômica. Ex.: uma árvore é um bem imóvel; no entanto ela pode ser plantada especialmente para corte futuro (fábrica de papel, transformação em lenha, etc.). Portanto, embora seja fisicamente um imóvel ela tem uma finalidade última como bem móvel. Outros exemplos: os frutos de um pomar que ainda estão no pé, as pedras e os metais aderentes ao imóvel, são considerados bem imóveis, mas se destinados à venda (ex.: safra futura) tornam-se bens móveis. 3) Móveis por Determinação Legal (art. 83, CC): consideram-se bens móveis para efeitos legais: a) as energias que tenham valor econômico: a energia elétrica, embora não seja um bem corpóreo, é considerada pela lei como sendo um bem móvel. Observem que o art. 155, §3° do Código Penal também a equipara com um bem móvel, podendo ser objeto do crime de furto (ex.: desvio do medidor, quando a corrente passa do fornecedor ao consumidor – trata-se do famoso “gato” ou “gambiarra”). Notem que a lei menciona “energias”, pois não existe apenas a energia elétrica. Ex.: o sêmen de um touro reprodutor premiado é considerado energia biológica. b) direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes (ex.: direito de propriedade e de usufruto sobre bens móveis, etc.). c) direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações. d) ainda incluem-se: direitos autorais (art. 3° da Lei n° 9.610/98), propriedade industrial (direitos oriundos do poder de criação e invenção da pessoa), quotas e ações de capital em sociedades, etc. 4) Regra Especial (art. 84, CC): os materiais destinados à construção enquanto não forem empregados nesta construção, ainda são considerados como bens móveis. Materiais provenientes de demolição e que não serão DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 88 reempregados, perdem a qualidade de imóvel e passam a ser bens móveis. Ex.: comprei um “milheiro de tijolos”; enquanto eu não empregar estes tijolos na obra eles são bens móveis. Após a construção passam a ser imóveis. Caso ocorra uma demolição e eles não sejam reempregados em outra construção voltam a ser móveis. Se a intenção é reempregá-los a seguir em outra construção, não perdem o caráter de imóveis. ����Atenção ���� Os navios e aeronaves são bens móveis ou imóveis? A doutrina os classifica como bens móveis especiais ou sui generis. Apesar de pela sua natureza e essência serem fisicamente bens móveis (pois podem ser transportados de um local para outro), são tratados pela lei como se fossem imóveis, pois necessitam de registro especial e admitem hipoteca. O navio tem nome e o avião marca, possuindo identificação e individualização próprias. Ambos têm nacionalidade. Podem ter projeção territorial no mar e no ar (território ficto). Alguns autores os consideram como quase pessoa jurídica, no sentido de se constituírem num centro de relações e interesses, como se fossem sujeitos de direitos, embora não tenham personalidade jurídica. Portanto, cuidado com a forma como a questão foi elaborada. Importância prática na distinção entre Imóveis X Móveis Os bens imóveis se distinguem dos móveis pela: forma de aquisição da propriedade, necessidade ou não de outorga, prazos de usucapião e os direitos reais. Vejamos: 1) Formas de aquisição da propriedade A principal forma de se adquirir a propriedade dos bens móveis é com a tradição. Ou seja, em uma compra e venda de bens móveis, somente com a entrega destes é que se adquire a sua propriedade. Já os bens imóveis são adquiridos com o Registro ou transcrição do título da escritura pública no Registro de Imóveis (art. 1.245, CC). Enquanto não houver o registro do título, o vendedor continua sendo o proprietário do imóvel. 2) Outorga Os bens imóveis não podem ser vendidos, doados ou hipotecados por pessoa casada sem a outorga do outro cônjuge, exceto se o regime de bens escolhido pelo casal for o da separação absoluta de bens (art. 1.647, CC). Já os bens móveis não necessitam dessa outorga. A outorga pode ser: • Marital: o marido concede à mulher, ou seja, o bem pertence à mulher e o marido assina também os documentos anuindo na venda do imóvel. • Uxória: a mulher concede ao homem, ou seja, a mulher assina a documentação para a venda do imóvel, que pertence ao marido (uxor – em latim quer dizer mulher casada). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 99 ����Concluindo. Um bem será vendido. Trata-se de um bem imóvel? –Sim! Trata-se de proprietário casado em regime de bens que não seja separação total de bens? –Sim! Logo essa pessoa irá necessitar da outorga (ou vênia) conjugal (uxória ou marital). 3) Usucapião Tanto os bens imóveis quanto os móveis podem ser objeto de usucapião. O que vai diferenciar é o prazo para que isso ocorra. Os prazos para se adquirir a propriedade imóvel por usucapião são, em regra, maiores. Exemplificando: A) Bens Imóveis 1) Usucapião Extraordinária • 15 anos: sem justo título, sem boa-fé. • 10 anos: sem justo título, desde que resida no local ou tenha realizado obras produtivas. 2) Usucapião Ordinária • 10 anos: com título e boa-fé. • 05 anos: com título, boa-fé, adquirido onerosamente, desde que resida no local ou tenha realizado investimento de interesse social e econômico. • 02 anos: propriedade dividida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar (ver abaixo). B) Bens Móveis 1) Usucapião Extraordinária: sem justo título →→→→ 05 anos. 2) Usucapião Ordinária: com justo título e boa-fé →→→→ 03 anos. Lembrando que justo título é definido como sendo o ato jurídico destinado a habilitar uma pessoa a adquirir o domínio de uma coisa, mas que por algum motivo acabou não produzindo efeito. Na boa-fé o possuidor está convicto que a sua posse não prejudica ninguém e desconhece eventuais vícios que lhe impedem a aquisição do domínio. A Constituição Federal (e o próprio Código Civil) estabelecem outras formas de usucapião de bens imóveis. Confiram: arts. 183 e 191, CF/88. 4) Direitos Reais sobre coisa alheia •••• Bens imóveis. Regra →→→→ hipoteca (ex.: você recebe uma quantia em dinheiro emprestada e oferece um bem imóvel como garantia desse empréstimo, não havendo a entrega do bem). • Bens móveis. Regra → penhor (ex.: você recebe uma quantia dinheiro em empréstimo e entrega um bem móvel como garantia deste empréstimo). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br1100 5) Contratos • Comodato. Regra →→→→ imóveis. • Mútuo. Regra →→→→ móveis. • Locação. Imóveis ou móveis. IMÓVEIS MÓVEIS Solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente (art. 79, CC). Suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social (art. 82, CC). • Direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram. • Direito à sucessão aberta (direito hereditário). • Edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local. • Materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem. • Energias que tenham valor econômico. • Direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes. • Direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. • Materiais destinados a construção, enquanto não forme empregados. • Materiais de demolição de um prédio. Adquiridos por escritura pública e registro e dependem de outorga. Adquiridos por tradição, sem necessidade de outorga conjugal. Objeto de Hipoteca. Usucapião de 02, 05, 10 e 15 anos. Objeto de Penhor. Usucapião de 03 e 05 anos. I.2 – BENS QUANTO À FUNGIBILIDADE (art. 85, CC) A) INFUNGÍVEIS São os bens que possuem alguma característica especial, que os tornam distintos dos demais, não podendo ser substituídos por outros, mesmo que da mesma espécie, qualidade e quantidade. São bens considerados em sua específica individualidade, pois, de alguma forma, estão devidamente personalizados. Ex.: imóveis de uma forma geral, veículos, um quadro famoso, etc. B) FUNGÍVEIS São os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. São as coisas que se contam, se medem ou se pesam e não se consideram objetivamente como individualidades. Ex.: uma saca de arroz, uma resma de papel, gêneros alimentícios de uma forma geral, etc. Lembrando que o dinheiro é o bem fungível por excelência. Trata-se do mais constante objeto nas obrigações de dar. ����Atenção ���� - Os bens imóveis são infungíveis. - Os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1111 Explicando. Os bens imóveis são personalizados (há uma escritura, possuem um registro, um número, etc.), daí serem eles infungíveis, pois estão individualizados. Excepcionalmente é possível que sejam tratados como fungíveis. Ex.: devedor se obriga a fazer o pagamento por meio de três lotes de terreno, sem que haja a precisa individualização deles; o imóvel nesse caso não integra o negócio pela sua essência, mas pelo seu valor econômico. Já os bens móveis, como regra, são fungíveis, mas em alguns casos podem ser considerados como infungíveis. Ex.: um selo de carta, como regra é fungível. Mas um “selo raro” é infungível, pois se destina a colecionadores. Outros: uma moeda rara, o cavalo de corrida Furacão, um quadro pintado por Renoir, etc. Um veículo automotor é considerado como um bem infungível, pois possui número de chassis, número de motor, etc., personalizando e diferenciando dos demais. A fungibilidade pode ser da própria natureza do bem ou da vontade manifestada pelas partes. Portanto, um bem fungível pode se tornar infungível por ato de vontade. Ex.: uma cesta de frutas é um bem fungível, mas pode se tornar infungível se ela for emprestada apenas para ornamento de uma festa (chamamos esta hipótese de: comodatum ad pompam vel ostentationem) para ser devolvida posteriormente, intacta. Outro: como regra um livro pode ser um bem fungível. Mas se nele contiver uma dedicatória ou estiver autografado pelo autor, este fato faz com que ele se torne único. Uma obrigação de fazer também pode ser infungível ou fungível. Ex.: contrato o famoso pintor “Z”, para pintar um quadro; percebam que a atuação de “Z”, neste caso, é personalíssima, pois ele foi contratado tendo-se em vista suas habilidades especiais. Portanto trata-se de uma obrigação infungível. Já a pintura de um muro que foi pichado, ou a troca da resistência de um chuveiro elétrico são exemplos de obrigações fungíveis, pois não requer uma habilidade excepcional para o seu cumprimento, podendo ser realizada por qualquer pessoa. Consequências práticas da fungibilidade • A diferença básica entre a locação, o comodato e o mútuo (que são espécies de contratos de empréstimo) está na sua fungibilidade. Enquanto o mútuo é um contrato que se refere ao empréstimo apenas de coisas fungíveis, ou seja, o devedor pode devolver outra coisa, desde que seja igual, o comodato é um contrato de empréstimo (gratuito) de coisas infungíveis. E a locação também é um empréstimo de bens infungíveis, só que oneroso. Nestes dois últimos contratos a pessoa deve devolver o mesmo bem. • Outra consequência: o credor de coisa infungível não pode ser obrigado a receber outra coisa, mesmo que esta seja mais valiosa (art. 313, CC). Isto é o credor tem o direito de receber a coisa exata que foi pactuada. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1122 • Outro efeito: a compensação legal (isto é, “A” deve para “B”, mas “B” também deve para “A”) efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis entre si. Ou seja, dinheiro se compensa com dinheiro; café se compensa com café; feijão se compensa com feijão, etc. I.3 – BENS QUANTO À CONSUNTIBILIDADE (art. 86, CC) A) CONSUMÍVEIS São bens móveis, cujo uso normal importa na destruição imediata da própria coisa. Admitem um uso apenas. Ex.: gêneros alimentícios, bebidas, lenha, cigarro, giz, dinheiro, gasolina, etc. ����Observação. Há bens que são consumíveis, conforme a destinação que o homem lhes dá. Ex.: os livros, em princípio, são bens inconsumíveis, pois permitem usos reiterados. Mas expostos numa livraria são considerados como consumíveis, pois a destinação é a venda (e o vendedor não pode vender a mesma coisa para duas pessoas). Observem que o art. 86, CC possui a seguinte redação: são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação (consumíveis de direito). B) INCONSUMÍVEIS São os que proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade. Ex.: roupas de uma forma geral, automóvel, casa, etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição em decorrência do tempo. Quando alguém empresta algo (ex.: frutas) para uma exibição, devendo restituir o objeto, o bem permanece inconsumível até a sua devolução (a doutrina chama isso de ad pompam vel ostentationem). A consuntibilidade não decorre propriamente da natureza do bem, mas sim da sua destinação econômico-jurídica. Assim, o usufruto somente pode recair sobre bens inconsumíveis. Se for instituído sobre bens fungíveis, é chamado pela doutrina de quase-usufruto ou usufruto impróprio. Não confundir fungibilidade com consuntibilidade. Em geral um bem fungível é também consumível (ex.: gêneros alimentícios). No entanto um bem pode ser consumível e ao mesmo tempo infungível (ex.: partitura de um compositor famoso colocada à venda; uma garrafa de um vinho famoso e raro). Por outro lado, um bem pode ser também inconsumível e fungível (ex.: uma ferramenta ou um talher). I.4 – BENS QUANTO À SUA DIVISIBILIDADE (arts. 87/88, CC) A) DIVISÍVEIS São os bens que podem se fracionar em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito: a) sem alteração em sua substância; b) sem diminuição considerável devalor; c) sem prejuízo do uso a que se DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1133 destinam. Ex.: uma folha de papel, uma quantidade de arroz, milho, etc. Se repartirmos uma saca de arroz, cada metade conservará as mesmas qualidades do produto. Quanto à expressão “diminuição considerável de valor” é interessante notar o seguinte exemplo: 05 pessoas herdaram um diamante de 50 quilates. Esta pedra preciosa pode ser dividida em 05 partes iguais (05 diamantes de 10 quilates cada). No entanto esta divisão fará com que haja uma diminuição considerável no valor do bem, ou seja, o brilhante inteiro terá muito mais valor do que os cinco pedaços reunidos. Por isso esse bem é considerado indivisível (ao menos em tese). B) INDIVISÍVEIS São os bens que não podem ser fracionados em porções, pois deixariam de formar um todo perfeito. Ex.: uma joia, um anel, um par de sapatos, etc. No entanto a indivisibilidade pode ser subclassificada em: • por natureza se o bem for dividido perde a característica do todo. Ex.: um cavalo, um relógio, um quadro, etc. • por determinação legal alguns bens podem ser divididos fisicamente. No entanto a lei que os torna indivisíveis. O exemplo clássico é o da herança. Antes da partilha ela é indivisível por determinação legal. O art. 1.791, CC determina que a herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. E continua o parágrafo único: até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. Outros exemplos: o módulo rural (art. 65 do Estatuto da Terra), os lotes urbanos, a hipoteca, etc. • por vontade das partes (convencional) um bem fisicamente é divisível, mas pode se tornar indivisível por força de um contrato. Ex.: entregar 100 sacas de café. Em tese é uma obrigação divisível (eu poderia entregar 50 sacas hoje e 50 na semana que vem). Mas pode ser pactuado no contrato a indivisibilidade da prestação: ou seja, todas as 100 sacas devem ser entregues hoje. I.5 – BENS QUANTO À INDIVIDUALIDADE (arts. 89/91, CC) A) BENS SINGULARES São singulares (ou individuais) os bens que, embora possam estar reunidos, são considerados de modo individual, independentemente dos demais. Ex.: um cavalo, uma casa, um carro, uma joia, um livro, etc. Os bens singulares podem ser classificados em: a) singulares simples formam um todo homogêneo, cujas partes componentes estão unidas em virtude da própria natureza ou da ação humana, sem que seja necessária qualquer regulamentação (pedra, cavalo, árvore, folha de papel, etc.); b) singulares compostos são os que as partes heterogêneas estão ligadas artificialmente pelo engenho humano; na realidade são vários objetos independentes que se DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1144 unem em um só todo, sem que desapareça a condição jurídica de cada uma das partes. Ex.: materiais de construção. Uma porta ou uma janela, embora estejam ligados à edificação de uma casa, continuarão assim a ser chamados. Quando vendemos a casa é obvio que está subentendido que a porta e a janela acompanharão a venda. Outros exemplos: navio ou avião, carro, relógio, computador, etc. B) BENS COLETIVOS OU UNIVERSAIS Universalidade é a pluralidade de bens singulares autônomos que, embora ainda conservem sua identidade, são consideradas em seu conjunto, formando um todo único (universitas rerum), passando a ter individualidade própria, distinta da dos seus objetos componentes. Trata-se de um gênero e que tem como espécies: a) Universalidade de Fato (art. 90, CC) é a pluralidade de bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade humana, para um determinado fim. Devem pertencer à mesma pessoa e ter destinação unitária (fim específico). Ex.: biblioteca (livros), pinacoteca (quadros), rebanho (bovino, ovino, suíno, caprino, etc.), hemeroteca (jornais e revistas), alcateia (lobos), cáfila (camelos), panapaná (borboletas), cambada (porção de objetos enfiados; por extensão passou a significar o coletivo de caranguejos), etc. ����Observação. Os bens reunidos para a formação da universalidade de fato não perdem a sua autonomia e podem ser objeto de relações jurídicas próprias. Ou seja, cada bem pode ser objeto de relação jurídica individualizada ou, a critério do proprietário, ser negociado coletivamente. Ex.: pode-se vender uma vaca do rebanho ou o rebanho inteiro. b) Universalidade de Direito (art. 91, CC) é a pluralidade de bens singulares, corpóreos (ou incorpóreos) e heterogêneos, a que a norma jurídica dá unidade, com o intuito de produzir certos efeitos; é o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico. Ex.: patrimônio, que é o conjunto de relações ativas e passivas (bens, direitos, obrigações) de uma pessoa (natural ou jurídica), incluindo a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes. Outros exemplos: herança (ou espólio) que é uma universalidade de bens que passa do falecido aos seus sucessores no exato momento de sua morte, massa falida, etc. Observações 01) Na universalidade de fato a destinação é dada pela vontade humana; na universalidade de direito a destinação é dada pela norma jurídica. 02) Nas coisas coletivas, se houver o desaparecimento de todos os indivíduos, menos um, ter-se-á a extinção da coletividade, mas não o direito sobre o que sobrou. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1155 ���� Atenção ���� ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL O art. 1.142, CC conceitua estabelecimento como sendo “todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. A doutrina amplia e melhora o conceito afirmando ser um conjunto de bens corpóreos e/ou incorpóreos organizado de forma racional para exercício da empresa, entendida esta como atividade economicamente organizada para a produção de bens e serviços, visando torná-la mais eficiente para a obtenção de lucros. Alguns autores também o chamam de fundo de comércio, azienda, negócio empresarial, fundo de empresa, etc. Possui valor patrimonial e pode ser realizado em dinheiro. Seus elementos podem ser vendidos em conjunto ou isoladamente. Possui as seguintes características: conjunto de bens; ligados por força da vontade humana; pertencentes à mesma pessoa; destinação unitária, que é o exercício da empresa (atividade empresarial). A doutrina majoritária entende que: A) Para fins de alienação, o estabelecimento é considerado um bem móvel. Isso já caiu em algumas provas (principalmente na FGV)!! Pode ser transferido por escritura pública ou particular, não se exigindo outorga conjugal (art. 978, CC). O estabelecimento não é sujeito de direitos e não tem personalidade jurídica. B) O estabelecimento empresarial é exemplo de universalidade de fato (e não de direito), na medida em que sua unidade não decorre da lei (como ocorre na massa falida e na herança), mas da vontade do empresário para uma finalidade específica, que também teria liberdade para reduzir ou aumentar o estabelecimento, alterar o seu destino, etc., não se confundindo com o patrimônio pessoal do empresário. Recentemente a Fundação Carlos Chagas, em um concurso para o ISS/SP elaborou uma questão assim: “O estabelecimento é definido como o complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. A partir dessa definição,extrai-se que a natureza jurídica do estabelecimento é a de: (resposta dada como correta): (A) universalidade de fato, entendida como conjunto de bens pertencentes à mesma pessoa, com destinação unitária”. No entanto a professora Maria Helena Diniz, muito consultada para elaboração de questões concursos, entende que se trata de uma universalidade de direito, em face do art. 1.143, CC: “Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com sua natureza” (Curso de Direito Civil Brasileiro, Ed. Saraiva, 26ª edição, 2009, pág. 356). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1166 II. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Esta forma de classificação é feita a partir de uma comparação entre os bens (arts. 92/97, CC). O que um bem é em relação a outro bem. Segundo esta classificação os bens podem ser principais ou acessórios. A) PRINCIPAIS São os que existem por si, abstrata ou concretamente, independentemente de outros; exercem função e finalidades autônomas. Ex.: o solo, um crédito, uma joia, etc. B) ACESSÓRIOS São aqueles cuja existência pressupõe a existência de outro bem; sua existência e finalidade dependem de um bem principal. Ex.: um fruto em relação à árvore, uma árvore em relação ao solo, um prédio em relação ao solo, os juros, etc. Regra →→→→ o bem acessório segue o principal (salvo disposição especial em contrário): acessorium sequitur suum principale. Observações 01) Esta regra estava prevista no art. 59 do Código anterior e não foi reproduzida no atual. Trata-se de um princípio geral do Direito Civil, reconhecido de forma unânime pela doutrina, tendo aplicação direta em nosso ordenamento, retirada de forma presumida da análise de vários dispositivos da atual codificação (ex.: art. 92, CC). A regra é conhecida como princípio da gravitação jurídica (um bem atrai o outro para sua órbita, comunicando-lhe seu próprio regime jurídico: o principal atrai o acessório; o acessório segue o principal). Por essa razão, quem for o proprietário do principal, em regra, será também o do acessório. Outro efeito: a natureza do principal será também a do acessório. Ex.: se o solo é imóvel, a árvore nele plantada também o será. 02) Esta regra também se aplica aos contratos. Ex.: a fiança somente existe como forma de garantia se houver outro contrato principal, como a locação. Desta forma, se o contrato principal (locação) for considerado nulo, nula também será considerado acessório (fiança); já o inverso não é verdadeiro, ou seja, se a fiança for considerada nula, o contrato principal pode continuar a produzir efeitos. Outro exemplo: a multa contratual em relação ao contrato em si. São bens acessórios: 1) Frutos são as utilidades que a coisa principal produz periodicamente; nascem e renascem da coisa e sua percepção mantém intacta a substância do bem que as gera. Os frutos podem ser classificados em: DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1177 a) Naturais: são os que se renovam periodicamente pela própria força orgânica da coisa (ex.: frutas, crias de animais, ovos, etc.). b) Industriais: são os que surgem em razão da atividade humana (ex.: produção de uma fábrica). c) Civis: são os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude sua utilização por outrem que não o proprietário; é a cessão remunerada da coisa (ex.: juros de caderneta de poupança, aluguéis, dividendos ou bonificações de ações, etc.). Os frutos ainda podem ser classificados, quanto ao seu estado em: pendentes (ainda estão ligados fisicamente à coisa que os produziu, mas podem ser destacados, sem nenhum risco para a inteireza da coisa); percebidos ou colhidos (são os já separados ou destacados da coisa principal da qual se origina); estantes (colhidos e armazenados em depósitos; acondicionados para a venda); percipiendos (já deveriam ter sido colhidos ao tempo da safra, mas ainda não o foram) e consumidos (já colhidos e que não existem mais: utilizados ou alienados). 2) Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, alterando a sua substância, com a diminuição da quantidade até o seu esgotamento. E isto é assim porque eles não se reproduzem. Ex.: pedras de uma pedreira, minerais de uma jazida, carvão mineral, lençol petrolífero, etc. ����Atenção ���� Os frutos e os produtos, mesmo que não separados do bem principal, já podem ser objeto de negócio jurídico (art. 95, CC). Ex.: posso vender uma possível safra de laranjas que ainda estão ligadas ao principal, por ser prematura a sua colheita no momento do contrato. Frutos X Produtos Os frutos se renovam quando são utilizados ou separados da coisa, não alterando a substância da coisa principal. Ex.: colhendo as frutas de um pomar, as árvores não diminuem e continuam produzindo nas próximas safras. Já os produtos se exaurem com o uso, sendo que a extração do produto determina a progressiva diminuição da coisa principal. Ex.: a extração do minério de ferro de uma mina faz com que a mesma vá diminuindo a produção, até o seu esgotamento. 3) Rendimentos na verdade eles são os próprios frutos civis ou prestações periódicas em dinheiro, decorrentes da concessão do uso e gozo de um bem (ex.: aluguel). 4) Produtos orgânicos da superfície da terra (ex.: vegetais, animais, etc.). 5) Obras de aderência obras que são realizadas acima ou abaixo da superfície da terra (ex.: uma casa, um prédio de apartamentos, o metrô, pontes, túneis, viadutos, etc.). 6) Pertenças segundo o art. 93, CC, são os bens que, não constituindo partes integrantes (como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1188 modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Exemplos que costumam cair nas provas: moldura de um quadro que ornamenta uma casa de eventos, máquinas agrícolas (trator), animais ou materiais destinados a melhor explorar o cultivo de uma propriedade agrícola, máquinas e instalações de uma fábrica, geradores de energia, escadas de emergência e outros equipamentos contra incêndio, aparelho de ar- condicionado em um escritório, órgão de uma igreja, etc. ����ATENÇÃO!! ����Esse tema é muito exigido em concursos, dada a sua peculiaridade. Vamos então aprofundá-lo. Pertença vem do latim pertinere (pertencer, fazer parte de). Trata-se de um bem acessório, pois depende economicamente de outra coisa. Mas, apesar de ser acessório, conserva sua individualidade e autonomia, tendo com a principal apenas uma subordinação econômico-jurídica. É necessário, para caracterizá-la, o vínculo intencional duradouro (estável), estabelecido por quem faz uso da coisa e colocado a serviço da utilidade do principal. Segundo a regra do art. 94, CC os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei ou da vontade das partes. Assim, em relação às pertenças, nem sempre pode se usar o adágio de que “o acessório segue o principal”. Por isso, quando se tratar de negócio que envolva transferência de propriedade que contenha uma pertença é conveniente que as partes se manifestem expressamente sobre os acessórios (se eles acompanham ou não o bem principal), evitando situações dúbias posteriores. Ex.: quando se vende um carro deve o vendedor mencionar se o equipamento de som está incluso ou não no negócio; quando se vende uma casa, os bens móveisnão acompanham, salvo disposição em contrário. Só são pertenças os bens que não forem partes integrantes, isto é, aqueles que, se forem retirados do principal não afetam a sua estrutura. Ex.: uma casa é composta por diversas partes integrantes. Uma porta ou uma janela são fundamentais para a existência desta casa, portanto são consideradas como partes integrantes. Já o ar-condicionado ou um quadro desta casa podem ser considerados como pertenças (eles pertencem a casa, mas não são partes integrantes). Quando se vende uma casa, as portas e as janelas (partes integrantes) acompanham a venda. Já o ar-condicionado e o quadro (pertenças) podem ser vendidos juntos ou podem ser retirados da casa pelo vendedor, não fazendo parte do negócio. Tudo vai depender do que for estabelecido no contrato. Da mesma forma os instrumentos agrícolas e os animais em relação a uma fazenda. 7) Acessões (de forma implícita) aumento do valor ou do volume da propriedade devido a forças externas (fatos fortuitos, como formação de ilhas, aluvião, avulsão, abandono de álveo, além das construções e plantações). Em regra não são indenizáveis. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1199 ����ATENÇÃO ����O tema a seguir também é muito exigido em concursos! 8) BENFEITORIAS são obras ou despesas que se fazem em um bem móvel ou imóvel, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. As benfeitorias são bens acessórios, introduzidos no principal pelo homem. Se for realizado pela natureza não é considerado como benfeitoria. O art. 97, CC prevê que não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindo ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. Dividem-se as benfeitorias em (art. 96, CC): a) Necessárias são as que têm por finalidade conservar ou evitar que o bem se deteriore (art. 96, §3°, CC); se não forem feitas a coisa pode perecer. Ex.: reforços em alicerces, reforma de telhados, substituição de vigamento podre, desinfecção de pomar, etc. b) Úteis são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa (art. 96, §2°, CC); não são indispensáveis, mas se forem feitas darão um maior aproveitamento à coisa. Ex.: construção de uma garagem, de um lavabo dentro da casa, instalação de aparelho hidráulico moderno, etc. c) Voluptuárias são as de mero embelezamento, recreio ou deleite, que não aumentam o uso habitual do bem, mas o torna mais agradável, aumentando o seu valor comercial (art. 96, §1°, CC). Ex.: construção de uma piscina, uma churrasqueira, uma pintura artística, um jardim com flores exóticas, etc. ����Atenção���� A classificação acima não é absoluta, pois uma mesma benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou outra espécie, dependendo de uma circunstância concreta. Ex.: uma pintura pode ser necessária em uma casa de praia para evitar uma infiltração ou voluptuária se for apenas para embelezá- la. Relevância jurídica da distinção das benfeitorias Se o possuidor estiver de boa-fé (isto é, desconhecia eventuais vícios que esta posse tinha) ele tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis. Caso elas não sejam indenizadas, o possuidor tem o direito de retenção pelo valor das mesmas. Isto é, ele pode reter o bem até que seja indenizado pelas benfeitorias feitas. Já as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas, mas elas poderão ser levantadas (isto é, retiradas do bem – a doutrina chama isso de jus tollendi), desde que não haja danificação da coisa. Tais direitos estão previstos no art. 1.219, CC. Por outro lado, se o possuidor estiver de má-fé (ele sabia que aquele bem não era seu; conhecia os defeitos de sua posse) serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias. Este possuidor não será indenizado pelas benfeitorias úteis e nem pelas voluptuárias. Além disso, não poderá levantar nenhuma das benfeitorias realizadas e também não terá direito de retenção DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2200 sobre nenhuma delas. Nem mesmo sobre as necessárias. Isto está previsto no art. 1.220, CC. É o preço que se paga por estar de má-fé. Vejam o quadrinho abaixo que retrata bem o que foi dito agora sobre as indenizações das benfeitorias. Benfeitorias Posse de Boa-fé Posse de Má-fé Necessárias Indeniza Indeniza Úteis Indeniza Não indeniza Voluptuárias Não indeniza, mas podem ser levantadas Não indeniza É interessante acrescentar que a Lei do Inquilinato (Lei n° 8.245/91), dispõe de forma um pouco diferente, pois permite disposições contratuais em contrário. Vejamos: Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel. Acessão artificial X Benfeitoria • Acessão artificial: obra que cria uma coisa nova, como as construções e plantações (ex.: edificação de uma casa em um terreno). • Benfeitoria: obra ou despesa realizada em bem já existente, sem modificar a sua substância. É apenas uma reforma levada a efeito pelo homem (artificial) na coisa e que não aumenta o volume. Benfeitoria X Pertença • Benfeitorias: obras realizadas diretamente no bem para conservá-lo (necessária), melhorá-lo (útil) ou embelezá-lo (voluptuária). Assim que realizadas, estas obras se tornam parte do próprio bem; elas se incorporam ao principal. Por isso, como regra, elas não possuem autonomia e existência própria. Quando se vende uma casa e o contrato nada fala, a piscina e a garagem (benfeitorias) acompanham o negócio. • Pertenças: bens que se destinam de modo duradouro ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro bem, sem perder a sua autonomia. O bem está a serviço da finalidade econômica de outro bem, não havendo incorporação. Quando se vende uma fazenda e o contrato nada fala, o trator (pertença) não acompanha o negócio. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2211 ����Atenção���� Alguns bens deixam de ser acessórios e passam a ser principais. Estas exceções se justificam para valorizar um trabalho artístico, daí a inversão. Ex.: a pintura em relação à tela, a escultura em relação à matéria- prima, a escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, etc. III. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO TITULAR DO DOMÍNIO Na realidade esta classificação é feita não sob o ponto de vista dos proprietários, mas sim pelo modo como se exerce o domínio sobre os bens. Neste sentido eles podem ser divididos em particulares, públicos ou coisas de ninguém. Vejamos: A) BENS PARTICULARES (ou privados) São os que pertencem às pessoas naturais (físicas) ou às pessoas jurídicas de direito privado. Não vemos necessidade de aprofundar o tema. B) RES NULLIUS São as chamadas “coisas de ninguém”. Existem no Universo, mas não são públicas nem particulares, pois não têm dono. Ex.: animais selvagens em liberdade, pérolas de ostras que estão no fundo do mar, peixes no mar, conchas na praia, etc. As coisas abandonadas (também chamadas de res derelictae) são espécies do gênero ‘coisas de ninguém’; já pertenceram a alguém, mas foram abandonadas. C) BENS PÚBLICOS (res publicae) Estabelece o art. 98, CC que são públicosos bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno (União, Estados, Distrito Federal, Territórios, Municípios, Autarquias e Fundações de Direito Público). Os demais bens são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. No entanto é interessante ressaltar o Enunciado 287 da IV Jornada de Direito Civil do STJ: “O critério da classificação de bens indicado no art. 98, CC não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente à pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos”. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS Quanto à titularidade (natureza da pessoa titular) os bens públicos podem ser federais, estaduais, distritais ou municipais, conforme pertençam, respectivamente, à União, aos Estados, ao Distrito Federal ou aos Municípios, ou as suas autarquias ou fundações de direito público. Quanto à disponibilidade eles se classificam em: a) indisponíveis por natureza: são os que sequer possuem natureza patrimonial, e, por tal motivo, DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2222 não podem ser alienados ou onerados pelas entidades a que pertencem (ex.: mares, rios, etc.); b) patrimoniais indisponíveis: apesar de terem natureza patrimonial não podem ser alienados, pois são utilizados pelo Estado para uma finalidade pública (ex.: escolas, hospitais, etc.); c) patrimoniais disponíveis: são os que possuem natureza patrimonial e como não estão afetados a determinada finalidade pública, podem ser alienados (ex.: bens dominicais, que veremos mais adiante). Para o Direito Civil, a classificação mais importante é quanto à sua destinação. Vejamos: 1. USO COMUM (OU GERAL) DO POVO: são os destinados à utilização do público em geral; podem ser usados sem restrições e em igualdade de condições por todos, sem necessidade de permissão especial. Também são chamados de bens de domínio público. O Código Civil fornece uma enumeração exemplificativa (art. 99, I, CC): praças, jardins, ruas, estradas, mares, rios navegáveis, praias, etc. Não perdem a característica de uso comum se o Estado regulamentar seu uso, restringi-lo (ex.: fechamento de uma praça à noite por questão de segurança) ou exigir uma contraprestação (ex.: pedágio nas rodovias). Art. 103, CC: O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. É franqueado o uso e não a propriedade, pois esta pertence à entidade de Direito Público, estando presente o poder de polícia do Estado, enquanto o povo é o usuário do bem. 2. USO ESPECIAL: são bens destinados ao funcionamento e aprimoramento dos serviços realizados pelo Estado; em regra são os edifícios ou terrenos utilizados pelo próprio poder público para a execução de serviço público (federal, estadual, territorial ou municipal). Ex.: Prefeituras, Secretarias, Ministérios, prédios onde funcionam Tribunais, Assembleias Legislativas, Quartéis, Escolas Públicas, Hospitais Públicos, Bibliotecas, Museus, etc. Podem também ser móveis, como os veículos oficiais. Incluem-se, também, os bens das autarquias. O Direito Administrativo se refere a todos estes bens públicos como sendo afetados. Afetação quer dizer que há a imposição de um encargo, um ônus a um bem público. Isto é, indica ou determina que um bem está sendo utilizado para uma determinada finalidade pública. Assim, uma praça (uso comum do povo) que estiver sendo usada pela população como tal, é um bem afetado; da mesma forma um prédio em que funcione uma repartição pública (uso especial). De forma contrária, um bem que não esteja sendo utilizado para qualquer finalidade pública é considerado desafetado. 3. DOMICAIS (ou dominiais – do latim: dominus relativo ao domínio, senhorio): são os bens que constituem o patrimônio disponível da pessoa jurídica de direito público. Abrange os bens imóveis e também os móveis. Na verdade são os demais bens públicos, por exclusão (ou residual), pois eles não DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2233 são de uso comum do povo e nem têm uma destinação pública especial definida; não possuem afetação. São eles (apenas exemplificativamente): • Terrenos de marinha (e acrescidos): terrenos banhados por mar, lagoas e rios (públicos) onde se faça sentir a influência das marés. Estão compreendidos na faixa de 33 metros para dentro da terra medidos à linha de preamar média (mediação realizada em 1831 e até hoje válida). Pertencem à União, por questão de segurança nacional (art. 20, VII, CF/88). • Mar territorial: compreende a faixa de 12 milhas marítimas de largura, de propriedade da União. Além disso, há a zona econômica exclusiva (de 12 a 200 milhas), onde o Brasil tem direitos de soberania exclusivos, para fins de exploração econômica, preservação ambiental e investigação científica. • Terras devolutas: são terras que, embora não destinadas a um uso público específico, ainda se encontram sob o domínio público. São terras não aproveitadas. As terras devolutas se forem indispensáveis à segurança nacional (fronteiras, fortificações militares, preservação ambiental) são consideradas da União (art. 20, II, CF/88). As demais pertencem aos Estados-membros (art. 26, IV, CF/88), sendo que podem ser transferidas aos Municípios. • Outros bens considerados (pela doutrina) como dominicais: prédios públicos desativados, móveis inservíveis, estradas de ferro (se forem públicas, pois algumas são privadas); títulos da dívida pública; quedas d’água, jazidas e minérios; sítios arqueológicos, etc. Quanto às ilhas, há uma divisão: em regra as marítimas pertencem à União. Já as fluviais e lacustres pertencem aos Estados-membros, exceto se localizadas na fronteira com outro País ou em rios que banham mais de um Estado. Quanto às terras indígenas (arts. 231, §1° e 20, XI, CF/88), há quem diga que são bens de uso especial e outros que são dominicais. Questão interessante Meio Ambiente. Para alguns autores o art. 225, CF/88 criou uma nova espécie de bem, que foge da tradicional classificação público/particular: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O bem ambiental, assim, seria um bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida. No entanto tal bem não é classificado como público, propriamente dito e muito menos como particular, posto que não se refere a uma pessoa (física ou jurídica, de direito público ou privado), mas sim a toda uma coletividade de pessoas. Portanto é chamado de bem coletivo. Este direito ganhou definição legal infraconstitucional com o advento da Lei n° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que estabeleceu em seu art. 81, parágrafo único, inciso I que são interesses difusos os direitos DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2244 transindividuais (isto é, que transcendem, ultrapassam a figura do indivíduo), de natureza indivisível, pertencendo a toda uma coletividade simultaneamente (pessoas indeterminadas) e não a esta ou aquela pessoa ou um grupo específico de pessoas. Características dos Bens Públicos • Inalienabilidade os bens públicos não podem ser vendidos, doados ou trocados, desde que destinados ao uso comum do povo e uso especial,ou seja, enquanto tiverem afetação pública (art. 100, CC: Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar). Já os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências legais previstas para a alienação de bens da administração (art. 101, CC). Conclusão: a inalienabilidade dos bens públicos não é absoluta. • Impenhorabilidade penhora é um instituto de Direito Processual Civil; trata-se de um ato judicial pelo qual se apreendem os bens de um devedor para saldar uma dívida que não foi paga. Geralmente o bem penhorado é vendido judicialmente e com o produto da venda paga-se o credor, satisfazendo seu crédito. No entanto isso não é possível em relação aos bens públicos, posto que estes não se sujeitam ao regime da penhora. Isso porque a Constituição Federal estabeleceu regra diferenciada para a satisfação dos créditos de terceiros, chamada de “precatórios” (art. 100, CF/88). Impede- se, assim, que um bem público passe do devedor ao credor, ou seja, vendido, mesmo que por força de uma execução judicial. A doutrina costuma citar apenas uma exceção prevista na Constituição Federal (art. 100, §6°), uma vez que nesta hipótese admite-se o sequestro (ou seja, a apreensão) de dinheiro para assegurar o pagamento do precatório em caso de ser preterido o seu direito. • Imprescritibilidade trata-se da impossibilidade total de aquisição da propriedade dos bens públicos por usucapião (também chamada de prescrição aquisitiva). A Constituição Federal proíbe a aquisição da propriedade, por usucapião de bens públicos (confiram os arts. 183, §3° e 191, parágrafo único da CF/88). Estabelece o art. 102, CC: Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. Prevê a Súmula 340 do Supremo Tribunal Federal: “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”. Assim, ainda que uma pessoa tenha a posse de um imóvel por tempo muito além do que o necessário para a sua aquisição por usucapião, não nascerá para ele qualquer direito diante da expressa vedação constitucional. Interessante acrescentar que a Constituição somente faz menção aos bens imóveis, mas há unanimidade no sentido de que o dispositivo também se aplica também aos bens móveis. Até porque o art. 102, CC foi genérico, não fazendo qualquer distinção entre os bens. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2255 •••• Não-onerabilidade onerar um bem significa deixá-lo em garantia, caso haja o descumprimento de uma obrigação (ex.: penhor e hipoteca). Os bens públicos não podem ser gravados com qualquer tipo de garantia em favor de terceiros. • Conversão os bens públicos dominicais podem ser convertidos em bens de uso comum ou de uso especial. Por meio da afetação o bem passa da categoria de bem do domínio privado do Estado para a categoria de bem do domínio público. Já a desafetação permite que um bem de uso comum do povo ou de uso especial seja reclassificado como sendo um bem dominical; retira-se do bem a finalidade pública à qual ele se liga. Esta classificação afetação/desafetação tem vital importância para se possibilitar a alienação do bem. Isso porque os bens afetados, enquanto permanecerem nesta situação, não podem ser alienados. IV. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO À NEGOCIAÇÃO O atual Código Civil não trata mais desta categoria de bens de forma explícita. No entanto ela continua existindo e a doutrina se refere a ela normalmente. Ela é relativa à possibilidade de comercialização dos bens. Lembrando que comércio (em sentido técnico) é possibilidade de compra e venda, doação, ou seja, é liberdade de circulação e transferência de bens. Vejamos: 1. Bens que integram o comércio são os negociáveis, disponíveis; podem ser adquiridos e alienados. Estão livres de quaisquer restrições que impossibilitem sua apropriação ou transferência, podendo passar, gratuita ou onerosamente de um patrimônio para outro. 2. Bens que estão fora do comércio são os que não podem ser transferidos de um acervo patrimonial a outro. Espécies: a) insuscetíveis de apropriação (inalienáveis por natureza): são bens de uso inexaurível (ex.: ar, luz solar, água do alto-mar, etc.); como não são raros, não despertam interesse econômico. São também chamados de “coisas comuns a todos” (res communes omnium). No entanto, se atender a determinadas finalidades, pode ser objeto de comércio (captação do ar ou da água do mar para a extração de determinados elementos). b) personalíssimos: são os preservados em respeito à dignidade humana (ex.: vida, honra, liberdade, nome, órgãos do corpo humano, cuja comercialização é expressamente proibida pela lei, etc.). c) legalmente inalienáveis: apesar de suscetíveis de apropriação, têm sua comercialidade excluída pela lei para atender a interesses econômicos-sociais, defesa social e proteção de certas pessoas. Só DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2266 excepcionalmente podem ser alienados, exigindo uma lei específica ou uma decisão judicial (alvará). Alguns exemplos: • bens públicos (uso comum do povo e uso especial: art. 100, CC). • bens das fundações (arts. 62 a 69, CC). • terras ocupadas pelos índios (art. 231, §4°, CF). • bens de menores (art. 1.691, CC). • terreno onde foi construído edifício de condomínio por andares, enquanto persistir o regime condominial (art.1.331, §2°, CC). • bens de família (veremos melhor adiante). • bens gravados com cláusula de inalienabilidade (veremos melhor adiante). BEM DE FAMÍLIA (Arts. 1.711 a 1.722, CC) No Brasil a regra é que o devedor, para o cumprimento de suas obrigações, responde com todos os seus bens, presentes ou futuros (art. 391, CC). Uma das exceções é o bem de família, que teve origem nos EUA. O governo da então República do Texas promulgou um ato em 1839, garantindo a cada cidadão determinada área de terra, isentas de penhora (Homestead Exemption Act). O objetivo era incentivar o povoamento do vasto oeste americano, concedendo o benefício e lá fixando as famílias, sob a condição de nela residir, cultivar o solo ou usá-la como um meio de se sustentar. No Brasil é o instituto pelo qual se vincula o destino de um prédio para ser domicílio ou residência de sua família, sendo mais uma forma de se proteger a família (em sentido amplo) reforçando o art. 6°, CF/88, que determina: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Como veremos, há duas espécies de bem de família: voluntária (Código Civil) e legal (Lei n° 8.009/90). No concurso como eu faço? Se no cabeçalho da questão o examinador não se referir expressamente a uma das modalidades, o candidato deve optar pela forma voluntária, pois foi essa a estabelecida pelo Código Civil. Vejamos. A) CÓDIGO CIVIL – Forma Voluntária Nos termos do art. 1.711, CC podem os cônjuges (entidade familiar) ou terceiros, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio (desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido) DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2277 para instituir o bem de família. Completa o art. 1.712, CC prevendo que o bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertençase acessórios, destinando-se a domicílio familiar. No entanto o próprio dispositivo prevê que pode abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família. Lógico que só pode instituir o bem de família voluntário quem for solvente. Como a lei fala em “entidade familiar”, é interessante aprofundar um pouco mais o tema. A doutrina a conceitua como “toda e qualquer espécie de união capaz de servir de acolhedouro das emoções e das afeições dos seres humanos”, estando expressamente prevista no art. 226, §3° e §4°, CF/88. Portanto, entende-se como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, bem como a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (familia monoparental). E recentemente o Supremo Tribunal Federal estendeu a expressão também para as uniões homoafetivas. Vale acrescentar que terceiros também podem ser instituidores do bem de família, por doação ou testamento, contanto que esse ato seja devidamente aceito pela entidade familiar beneficiada (art. 1.711, parágrafo único, CC). Consequências. Com a instituição do bem de família, surgem, basicamente, dois efeitos: a) Impenhorabilidade limitada. Isso porque o bem se torna isento de dívidas futuras à instituição, salvo as tributárias referentes ao bem (ex.: IPTU) e despesas de condomínio (se for prédio de apartamento), nos termos do art. 1.715, CC. Portanto, impostos como o Imposto de Renda, ISS, etc., não autorizam a Fazenda Pública solicitar a penhora do bem de família. b) Inalienabilidade relativa. Isso porque uma vez instituído só poderá ser alienado com a autorização de todos os interessados, cabendo ao Ministério Público intervir quando houver a participação de incapaz (art. 1.717, CC). Para se constituir um bem de família, é necessária a escritura pública ou testamento (art. 1.711, CC) e o seu respectivo registro no Registro de Imóveis (art. 1.714, CC), além de publicação na imprensa local, para ciência de terceiros. A condição para que se faça esta instituição é que inexistam ônus (dívidas) sobre o imóvel bem como dívidas anteriores. Não terá validade a instituição se for feita com fraude contra credores (trata-se de um vício do negócio jurídico que veremos em aula mais adiante). A duração da instituição é até que ambos os cônjuges faleçam, sendo que, se restarem filhos menores de 18 anos, mesmo falecendo os pais, a instituição perdura até que todos os filhos atinjam a maioridade. Falecendo um dos consortes o imóvel não entrará em inventário e nem será partilhado enquanto viver o outro. Se este também falecer, deve-se esperar a maioridade de todos os filhos. O prédio entrará em inventário para ser partilhado somente quando a cláusula for eliminada. Desta forma, a dissolução da sociedade DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2288 conjugal (separação judicial ou divórcio), por si só, não extingue o bem de família. No entanto o art. 1.721, CC faz a ressalva de que dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal. Somente haverá a alienação (venda, doação, etc.) do bem de família instituído quando houver anuência dos dois consortes e de seus filhos, quando houver. Havendo a participação de incapazes o Juiz irá designar um curador especial e irá consultar o Ministério Público. A cláusula somente poderá ser levantada por mandado judicial (também chamado de mandado de liberação), justificado o motivo relevante. Se foi solenemente instituído pela família como domicílio desta, não pode ter outro destino. Se houver menores impúberes (menores de 16 anos) a situação ainda fica mais complicada: a cláusula não poderá ser eliminada, salvo se houver sub-rogação (substituição da coisa por outra; transferência das qualidades de uma coisa para outra) em outro imóvel para a moradia da família. B) LEI Nº 8.009/90 – Forma Legal Atualmente a Lei n° 8.009/90 dispõe sobre a impenhorabilidade (observem que a lei não fala em inalienabilidade) do bem de família, que passou a ser o imóvel residencial (rural ou urbano) próprio do casal ou da entidade familiar, independentemente de inscrição no Registro de Imóveis. A impenhorabilidade compreende, além do imóvel em si, as construções, plantações, benfeitorias de qualquer natureza, equipamentos de uso profissional, mas também os bens móveis que guarnecem a casa. Não só aqueles indispensáveis à habitabilidade de uma residência, mas também aqueles usualmente mantidos em um lar comum (necessários para uma vida sem luxos, porém digna). Ressalvam-se os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Essa lei não revogou as regras do bem de família voluntário e vice-versa. Ou seja, Código Civil e Lei n° 8.009/90 coexistem. Observações 01) O STJ tem admitido, para efeito de bem de família, que a renda proveniente de imóvel locado também seja considerada impenhorável. Exemplo clássico: um casal possui uma casa muito grande. No entanto, devido às altas despesas que esta casa exige, resolve alugá-la, sendo que com o dinheiro alugam um apartamento pequeno. Como ainda sobra um “dinheirinho”, para a jurisprudência esta sobra também é impenhorável, pois mesmo não morando na casa, esta é o único bem residencial de propriedade da família. 02) Em decisão recente (junho de 2013) o STJ considerou possível que a impenhorabilidade do bem de família atinja simultaneamente dois imóveis do devedor: aquele onde ele mora com sua esposa e outro no qual vivem suas filhas menores (e a mãe delas), nascidas de relação extraconjugal. Isso DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2299 porque, a impenhorabilidade do bem de família visa resguardar não somente o casal, mas o sentido amplo de entidade familiar. Portanto, a jurisprudência do STJ vem reforçando o entendimento de que a impenhorabilidade prevista na lei 8.009/90 não se destina a proteger somente a família em sentido estrito, mas, sim, a resguardar o direito fundamental à moradia, com base no princípio da dignidade da pessoa humana. 03) No caso da pessoa não ter imóvel próprio (ex.: locação, usufruto), a impenhorabilidade recai sobre os bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam da propriedade do locatário (geladeira, fogão, televisão, etc.). Se o casal ou entidade familiar for possuidor de vários imóveis, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor (salvo se outro tiver sido registrado). EXCEÇÕES Vimos que o bem de família do Código Civil (voluntário) só pode ser penhorado em duas hipóteses: tributos devidos em relação ao próprio bem imóvel ou condomínio. Já os bens de que trata a Lei n° 8.009/90 tem um número maior de exceções, ou seja, de hipóteses em que o bem será vendido para pagar a dívida. Assim esses bens (apontados na lei especial), não responderão por dívidas civis, mercantis, fiscais trabalhistas, etc., salvo se o processo de execução for movido em razão de (art. 3°): • crédito de trabalhadores da própria residência (ex.: empregada doméstica, cozinheira, “babá”, jardineiro, etc.). • execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia. • crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel. • cobrança de impostos (ex.: IPTU ou ITR) taxas e contribuições devidas em função do imóvel. • dívidas de condomínio também referente ao próprio imóvel. • credor de pensão alimentícia. • bem adquirido com produto de crime. • obrigação decorrente de fiança nos contratos de locação. ����Cuidado com o último
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