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B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 09 Espécies de Contratos �Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ ESPÉCIES DE CONTRATOS. Espécies de contratos regulados no Código Civil. Lei n° 8.245/1991 e alterações (locação de imóveis urbanos). Locação em geral, sublocações, aluguel, deveres do locador e do locatário, direito de preferência, benfeitorias, garantias locatícias, penalidades civis, nulidades, locação residencial, locação para temporada, locação não residencial. � SUBITENS. Todas as Espécies de Contratos Regulados pelo Código Civil: Compra e Venda. Troca ou Permuta. Contrato Estimatório. Doação. Locação de coisa móvel e imóvel. Empréstimo: comodato e mútuo. Prestação de serviços. Empreitada. Depósito. Mandato. Comissão. Agência e Distribuição. Corretagem. Transporte. Seguro. Constituição de Renda. Jogo e Aposta. Fiança. Transação. Compromisso. Lei Especial: Lei das Locações ou do Inquilinato: (Lei n° 8.245/91). �Legislação a ser Consultada →→→→ Código Civil: Compra e Venda (arts. 481 a 532). Troca ou Permuta (art. 533). Estimatório (arts. 534 a 537). Doação (arts. 538 a 564). Locação de coisa móvel e imóvel (arts. 565 a 578). Lei das Locações (Lei n° 8.245/91). Empréstimo: a) Comodato (arts. 579 a 585); b) Mútuo (arts. 586 a 592). Prestação de serviços (arts. 593 a 609). Empreitada (arts. 610 a 626). Depósito (arts. 627 a 652). Mandato (arts. 653 a 692). Comissão (arts. 693 a 709). Agência e Distribuição (arts. 710 a 721). Corretagem (arts. 722 a 729). Transporte (arts. 730 a 756). Seguro (arts. 757 a 802). Constituição de Renda (arts. 803 a 813). Jogo e Aposta (arts. 818 a 817). Fiança (arts. 818 a 839). Transação (arts. 840 a 850). Compromisso (arts. 851 a 853). B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2 Índice Compra e Venda ...................................................................... 02 Troca ou Permuta .................................................................... 11 Estimatório ............................................................................. 12 Doação .................................................................................... 13 Locação: Código Civil e Lei Especial ......................................... 19 Empréstimo ............................................................................. 34 Comodato ........................................................................... 35 Mútuo ................................................................................. 37 Prestação de Serviço ............................................................... 39 Empreitada .............................................................................. 42 Depósito .................................................................................. 46 Mandato .................................................................................. 50 Comissão ................................................................................. 59 Agência e Distribuição ............................................................. 60 Corretagem ............................................................................. 61 Transporte .............................................................................. 61 Seguro .................................................................................... 67 Constituição de Renda ............................................................. 73 Jogo e Aposta .......................................................................... 73 Fiança ..................................................................................... 75 Transação ............................................................................... 80 Compromisso .......................................................................... 81 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ............................................ 83 Bibliografia Básica .................................................................. 89 EXERCÍCIOS COMENTADOS ..................................................... 90 Meus Amigos e Alunos Nosso edital, quanto ao tema “Espécies de Contratos” foi muito genérico. Ao invés de apontar, um a um os contratos que entendia serem pertinentes ao concurso, preferiu, em uma frase curta, afirmar: “Espécies de contratos regulados no Código Civil”. Portanto, precisaremos abordar todas as espécies de contratos estabelecidas no Código. Sabemos que muitas dessas espécies de contratos são vistas muito raramente na prática. Muitas delas o cocursando nunca verá em sua vida, seja funcional ou particular. Mas não tem jeito. Se está previsto no edital precisamos estudar, pois pode ser objeto de alguma questão. Além disso, ainda precisamos falar sobre a Lei n° 8.245/91, que trata sobre as locações urbanas, também especificamente mencionada no edital. Vamos a eles... B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3 COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532, CC) Contrato de compra e venda é aquele pelo qual um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro lhe pagar o preço em dinheiro (art. 481, CC). É importante deixar uma coisa bem clara: o contrato de compra e venda não transfere o domínio (ou seja, a propriedade). A propriedade é transferida pela tradição (em relação aos bens móveis: art. 1.267, CC) ou pelo registro do título aquisitivo no cartório de Registro de Imóveis (em relação aos bens imóveis: art. 1.245, CC). O contrato de compra e venda dá aos contratantes tão somente um direito pessoal, gerando ao vendedor a obrigação de transferir o domínio (obrigação de dar). Caso o vendedor não entregue a coisa vendida, o contrato será resolvido nos termos do inadimplemento das obrigações de dar (que vimos na aula anterior). NATUREZA JURÍDICA • Bilateral ou sinalagmático: cria obrigações para ambos os contratantes, que serão ao mesmo tempo credores e devedores, uns dos outros. • Oneroso: ambas as partes auferem vantagens e ônus patrimoniais de suas prestações. • Típico: previsto do Código. • Comutativo: em regra possui objeto certo com equivalência das prestações e contraprestações. Admite-se, em algumas hipóteses, que seja Aleatório, quando dependente de um evento incerto. • Consensual: o contrato de compra e venda é consensual, pois ele se aperfeiçoa com o simples consenso ou manifestação de vontade dos contraentes, principalmente no que toca os bens móveis. Pode ter a forma solene em algumas situações (ex.: escritura pública para a compra de bens imóveis). • Translativo do domínio: embora a propriedade só seja transferida com a tradição (para bens móveis) ou com o registro (para bens imóveis), serve como título adquirendi, isto é, serve como fato gerador da transmissão da propriedade. No entanto, o contrato apenas cria a obrigação para a transferência da coisa. ELEMENTOS ESSENCIAIS São elementos dos contratos de compra e venda, além dos comuns a todos os negócios jurídicos e os contratos: a) coisa; b) preço ec) consentimento. Art. 482, CC: A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. Vejamos cada um deles. A) COISA OU OBJETO (res) é o objeto da compra e venda. Segundo a doutrina deve ser corpórea (móveis ou imóveis). Isto porque os bens incorpóreos (direitos de invenção, de propriedade literária, científica ou artística) somente poderiam ser objeto de contrato de cessão de direitos. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4 Características • Disponibilidade: a coisa deve ser disponível (estar in commercium); as coisas insuscetíveis de apropriação (indisponibilidade natural), legalmente inalienáveis (indisponibilidade legal) e gravadas com cláusula de inalienabilidade (indisponibilidade voluntária) não podem ser objeto de contrato. As coisas litigiosas podem ser objeto, desde que o adquirente assuma o risco da evicção (art. 457, CC). • Existência potencial: segundo o art. 483, CC, o contrato pode se referir a coisas atuais (já existem) ou futuras (irão existir), embora devam ser individualizadas no momento da execução do contrato (coisa determinada ou determinável). No caso de coisas futuras, o contrato fica sem efeito se a coisa não vier a existir, salvo se a intenção das partes era a de pactuar um contrato aleatório (ex.: frutos de uma colheita esperada). B) PREÇO (pretium) é a quantia que o comprador é obrigado a pagar pela coisa; é o valor da compra e venda. Se não houver preço, estaríamos diante de uma doação. A lei diz que deve ser pago em dinheiro (art. 481, CC), todavia, nada impede que o valor expresso em dinheiro seja pago por coisas representativas de dinheiro (cheque, nota promissória, cartão de crédito, etc.). Se a contraprestação for realizada de forma diversa da de dinheiro não haverá compra e venda. Ex.: se o objeto de um contrato for pago com outra coisa, haverá troca ou permuta; se for em prestação de serviço será um contrato inominado. Mas se no contrato houver um misto entre dinheiro e coisa e prevalecer o dinheiro como maior parte do pagamento, será admissível a compra e venda. O preço deve ser certo e fixado de comum acordo pelas partes. É NULO o contrato em que o preço pode ser fixado ao livre arbítrio de uma das partes (art. 489, CC). Todavia, pode ser fixado: No futuro, ao arbítrio de terceiro (art. 485, CC) que os contratantes designarem no contrato ou prometerem designar. Neste caso, se o terceiro não aceitar a incumbência, o contrato será considerado sem efeito (nulo), salvo se as partes concordarem, no contrato, em designar outra pessoa. À taxa de mercado ou da bolsa, em certo e determinado dia e lugar (art. 486, CC). Também é lícita a fixação do preço em função de índices ou parâmetros, desde que suscetíveis de determinação objetiva (art. 487, CC). Não sendo a venda à crédito (ou seja, a compra e venda foi instantânea), o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço (art. 491, CC). Nesse caso há uma simultaneidade das prestações. Segundo jurisprudência do STF, “não pode exigir entrega da coisa quem não satisfez o preço, na forma estipulada no contrato”. C) CONSENTIMENTO (consensus) é o acordo de vontade entre os contratantes sobre a coisa, o preço e as demais condições do negócio. EFEITOS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA A) Tradição: obrigação do vendedor de entregar a coisa com todos os seus acessórios, transferindo ao adquirente a propriedade. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5 Geralmente a tradição é efetiva ou real. Mas em certos casos pode ser simbólica, como a entrega de algo que represente a coisa (ex.: as chaves do carro). B) Garantia: o vendedor deve garantir a qualidade e o bom funcionamento da coisa alienada (garantia quanto aos vícios redibitórios – art. 441 a 446, CC; garantia contra os vícios do produto – art. 18 e 26, do CDC - Lei n° 8.078/90). O vendedor também deve assegurar ao comprador a propriedade da coisa (garantia contra a evicção – arts. 447 a 457, CC). Os vícios aparentes poderão ser reclamados dentro do prazo decadencial de 30 (produtos não duráveis) ou 90 dias (produtos duráveis), contados da entrega do produto. Se o vício for oculto o prazo computa-se no instante em que o defeito se evidenciar. C) Riscos (perigo que a coisa está sujeita): relacionam-se com a responsabilidade, caso a coisa ou preço não seja pago. Determina o art. 492, CC que até o momento da tradição os riscos da coisa correm por conta do vendedor e os do preço por conta do comprador. Assim, temos como regras: • risco da coisa: se o bem vier a se perder ou a se deteriorar, por caso fortuito ou força maior, até o momento da entrega (antes da tradição), o vendedor sofrerá as consequências, devendo restituir o preço, se já o havia recebido; se o fato se der após a tradição, sem culpa do vendedor, este terá direito ao preço. • risco do preço: se o preço se perder ou se degradar antes da tradição, o comprador sofrerá o risco; se isso ocorrer após o pagamento, o vendedor arcará com o prejuízo. Exceções • Se a coisa, para ser entregue, necessitar de ser contada, pesada, medida ou assinalada, desde o momento em que tiver sido colocada à disposição do comprador, por sua conta correm os riscos. • Correm por conta do comprador os riscos das coisas que já tiverem sido colocadas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados, se o comprador estiver em mora para recebê-las. D) Despesas: aquilo que se gasta para a transferência do bem. Segundo o art. 490, CC, temos como regra (admite-se disposição contratual em contrário): • despesas da tradição: correm por conta do vendedor (ex.: de transporte ou carreto, frete, corretagem, comissão, etc.). • despesas da escritura: correm por conta do comprador (além dos impostos sobre transmissão da propriedade, registro, etc.). E) Defeito oculto na venda de coisas conjuntas (art. 503, CC): o atual Código optou pela redibição parcial, ou seja, ainda que o preço da venda tenha sigo global, se as coisas não formarem um todo inseparável, somente a coisa defeituosa será devolvida, deduzindo-se o seu valor do preço, e mantendo as demais que estejam em ordem. Ex.: pessoa compra 100 sacas de arroz, percebendo depois que 10 sacas estavam estragadas; o comprador pode rejeitar as 10 sacas estragadas, abatendo-se o valor destas no preço B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6 final, mas o negócio fica mantido em relação às outras 90 sacas. Portanto, o defeito de uma coisa não autoriza a rejeição das que estejam em ordem. F) Complemento de Área: um contrato de venda de terras pode ser feito de duas maneiras: ad mensuram e ad corpus. A venda ad mensuram ou por medida (art. 500, CC) é aquela em que no contrato se fixa área determinada e estipula o preço por medida de extensão (a área é requisito essencial do contrato). O comprador adquire uma determinada metragem de terreno e o vendedor deve entregar a quantidade vendida (há uma tolerância em favor do vendedor de até menos de 1/20 da área total enunciada).Se a medida for menor, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo possível, o de reclamar a rescisão do contrato ou abatimento proporcional do preço. Se a área encontrada for maior do que a declarada no título, o vendedor tem direito, por escolha do comprador, de receber a complementação do preço ou a devolução do excesso, desde que o vendedor possa provar que tinha motivo suficiente para ignorar a medida exata da área vendida. Tanto o vendedor quanto o comprador têm o prazo de um ano (decadencial) para ingressaram com as ações correspondentes (art. 501, CC). Considera-se ad corpus (art. 500, §3°, CC) a compra e venda de uma gleba determinada de terra, com limites e confrontações conhecidas por ambos os contratantes e colocados na descrição no título. As partes não estão interessadas em medidas, mas no todo que compõe a gleba (compro a Fazenda Cara Feliz). Neste caso não haverá complementação da área e nem devolução do excesso. G) Certidões Negativas de Impostos: a lei determina que em toda escritura de imóveis devam ser transcritas as certidões de se acharem eles quites com a Fazenda Federal, Estadual e Municipal, de quaisquer impostos a que possam estar sujeitos. Isto é, quando se compra um imóvel deve ser apresentado, no momento do registro, uma certidão de que aquele imóvel está quite de todo e qualquer imposto. Chamamos este documento de Certidão Negativa de Impostos. Por outro lado, existe a regra de que os ônus dos impostos sobre prédios se transmitem aos adquirentes, exceto se constarem da escritura pública as certidões de recebimento, pelo fisco, dos impostos devidos. Desta forma, o adquirente do imóvel pode ser exonerado de exibir certidão negativa de débito fiscal a que possa estar sujeito o bem adquirido, de responsabilidade por dívida anterior do imóvel por impostos. Resumindo. Obrigações do comprador: pagar o preço e receber a coisa. Obrigações do vendedor: transferir a coisa (tradição ou escritura) e responder pela evicção e pelos vícios redibitórios. PROIBIÇÃO DE VENDA • A lei proíbe que os ascendentes vendam aos descendentes quaisquer bens, sem que haja o consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante, salvo se casado sob o regime de separação obrigatória de bens (art. 496 e seu parágrafo único, do CC), sob pena de anulação do ato. Isto porque essa venda poderia simular uma doação em prejuízo dos B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7 demais herdeiros. Pergunto: Um pai pode vender um imóvel para um de seus filhos? Resposta: pode, mas com o consentimento de todos os outros filhos e também da esposa do pai (que é o alienante), sob pena de anulação posterior da venda. • Uma pessoa casada (exceto no regime de separação absoluta de bens) não poderá alienar ou gravar de ônus (ex.: hipotecar) os bens imóveis do seu domínio sem a autorização do outro cônjuge (art. 1.647, CC). Trata-se da outorga: a) uxória (a mulher autoriza a venda feita pelo marido); b) marital (o marido autoriza a venda realizada pela esposa). • Os consortes (marido e mulher) não poderão, em regra, fazer contrato entre si, com relação aos bens incluídos na comunhão (nulidade absoluta). Observem que se isto for realizado no regime da comunhão universal teremos uma venda fictícia, pois os bens do casal já são comuns e ninguém pode comprar o que já lhe pertence. No entanto se a compra e venda tem por objeto bem excluído da comunhão (ex.: regime da separação total de bens), o negócio pode ser realizado. �Observação: para que haja a venda de bens (especialmente imóveis) de pessoas absolutamente incapazes é indispensável que eles sejam representados por seus pais, tutores ou curadores que deverão solicitar autorização judicial para tanto, com prévia avaliação do bem que se pretende vender, e ainda a demonstração da necessidade da venda ou o benefício econômico desta. Já os relativamente podem alienar seus bens, desde que assistidos por seus representantes legais neste ato. PROIBIÇÃO DA COMPRA Não podem ser comprados, ainda que em hasta pública (art. 497, CC): • Pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração. A lei receia que estas pessoas se façam prevalecer de sua posição especial para lograrem vantagem em detrimento dos titulares dos bens que guardam ou administram. • Pelos servidores públicos, os bens da União, dos Estados e dos Municípios, que estiverem sob sua administração direta ou indireta, aplicando-se a mesma disposição aos juízes, arbitradores, ou peritos que, de qualquer modo, possam influir no ato ou no preço da venda. • Pelos juízes, empregados da Fazenda, secretários de tribunais, escrivães e outros oficiais da Justiça, os bens ou direitos, sobre os quais se litigam em tribunal, juízo, ou conselho, no lugar onde esses funcionários servirem ou a que se estender sua autoridade. • Pelos leiloeiros e seus prepostos quanto aos bens de cuja venda estejam encarregados e os corretores das Bolsas quanto aos bens a eles confiados. • O proprietário de coisa alugada, para vendê-la deverá dar conhecimento do fato ao inquilino, que terá direito de preferência (veremos isso melhor ainda na aula de hoje) para adquiri-la em igualdade de condições com terceiros. • O condômino, enquanto pender o estado de indivisão, não poderá vender a sua parte a estranho, se o outro condômino a quiser (art. 504, 1a parte, CC). Trata-se do chamado direito de preferência do condômino sobre a B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8 venda de bem indivisível. O condômino a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, no prazo de seis meses. Um condomínio pode ser classificado em: a) pro indiviso: quando o bem se encontra indiviso (não foi dividido) entre os vários proprietários, de modo que cada um apenas possui parte ou fração ideal) ou b) pro diviso: quando apesar de possuírem em condomínio, cada condômino já tem a sua parte delimitada e determinada. Nesta última hipótese, cada condômino pode vender sua parte a terceiro sem oferecer aos outros condôminos. No caso do condomínio ser pro indiviso, e o bem for indivisível, cada condômino só pode vender sua parte a estranhos se antes oferecer aos outros condôminos (como dissemos, há o direito de preferência). CLÁUSULAS ESPECIAIS À COMPRA E VENDA Um contrato de compra e venda, desde que os contraentes consintam, pode vir acompanhado de cláusulas especiais, que não retiram sua essência, mas alteram um pouco sua “fisionomia”, inserindo uma obrigação acessória. A doutrina costuma chamar estas cláusulas especiais de pactos adjetos à compra e venda. São eles: a retrovenda; a venda a contento; a preempção; a venda com reserva de domínio e a venda sobre documentos. Vejamos. 1) Retrovenda (arts. 505 a 508, CC) Retrovenda (ou direito de retrato) é o direito que tem o vendedor de readquirir o imóvel que vendeu, dentro de certo prazo, restituindo ao comprador o preço recebido, mais as despesas feitas pelo comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias (art. 505, CC). A retrovenda é uma cláusula acessória da compra e venda, caracterizando-se como uma condiçãoresolutiva expressa, tendo como consequência o desfazimento da venda. Ela não é considerada como uma nova venda, mas sim como consequência da venda anterior. Ex.: estou passando por necessidades financeiras e não desejo perder um imóvel. Desta forma eu vendo este imóvel para você. No entanto estabeleço uma cláusula que posteriormente você deverá revender o imóvel para mim pelo mesmo preço que pagou (acrescidos dos dispêndios feitos como escritura, impostos, etc.). Na prática ela não é usada, por trazer certa insegurança nos negócios jurídicos. Esta cláusula tem que ser expressa no contrato. A propriedade resolúvel se extinguirá no instante em que o alienante exercer seu direito de reaver o bem. As partes podem pactuar o prazo de retrovenda, mas o máximo é de 03 (três) anos. Trata-se de prazo decadencial. Este prazo é improrrogável, ininterrupto e insuscetível de suspensão. No caso de não se estipular o prazo, este será considerado como sendo de três anos. Na hipótese de se estipular prazo maior, este será considerado não escrito e ficam valendo os três anos. Vencido o prazo e não exercido o direito, a venda se torna irretratável. Se o direito de retrato couber a duas ou mais pessoas sobre o mesmo imóvel, e só uma o exercer, poderá o comprador intimar as outras para nele B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9 acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja efetuado o depósito, contanto que seja integral (art. 508, CC). 2) Venda a contento e Venda sujeita a prova (arts. 509 a 512, CC) Venda a contento consiste na hipótese de venda feita sob condição suspensiva, em que o negócio não se aperfeiçoa enquanto o comprador não se declarar por satisfeito. Ex.: A vende para B certa quantidade de vinho e a entrega. No entanto a conclusão do negócio fica na dependência de B manifestar sua aceitação, após provar o produto. Enquanto o comprador não manifestar sua vontade, suas obrigações são de mero comodatário. Até esse ato a coisa pertence ao vendedor. Pode haver uma cláusula de manifestação de aceitação tácita. Ex.: se você não se manifestar em 30 dias, estamos entendendo que você está satisfeito e não poderá mais reclamar. Não havendo prazo estipulado para a manifestação do comprador, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável. Ocorre a venda sujeita a prova quando o vendedor apresenta ao comprador amostras que indiquem a qualidade do produto a ser vendido. Neste caso, entende-se que o vendedor assegura ter a coisa vendida as qualidades por ele apresentadas. Ex.: você prova um copo de vinho e o acha excelente. Compra uma caixa deste produto. Mas as demais garrafas não são tão boas quanto àquela que você provou. Na hipótese da coisa não apresentar as qualidades explicitadas pelo vendedor, ela poderá ser enjeitada, aplicando- se as regras do vício redibitório (art. 510, CC). 3) Preempção, preferência ou prelação (arts. 513 a 520, CC) O contrato de compra e venda pode conter a cláusula segundo a qual o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa objeto do contrato (móvel ou imóvel), se caso o comprador for vendê-la a terceiro ou dá-la em pagamento, para que o comprador use de seu direito de prelação (preferência) na compra. O preço será "tanto por tanto", isto é, o valor que seria pago pelo terceiro. ����Cuidado para não confundir o direito de preempção (preferência) com a retrovenda. Nesta última a pessoa é obrigada (num prazo de até três anos) revender a coisa para quem lhe vendeu inicialmente, sendo que o preço é o mesmo que ela pagou (mais despesas de transferência). No direito de preempção, quando eu for revender a coisa (se um dia eu for revendê-la), devo oferecer primeiro ao primeiro vendedor. E o preço será o de mercado, ou seja, o mesmo valor que o terceiro interessado pagaria se ele fosse comprar a coisa. É muito parecido. Mas existem diferenças. E o examinador gosta de confundir tais institutos. O direito de preferência é intransmissível, isto é, não se pode ceder a terceiros e nem passar aos seus herdeiros, sendo personalíssimo (art. 520, CC). Prazo máximo para o exercício da preempção: a) se a coisa for móvel, não poderá exceder 180 dias; b) se for imóvel, não poderá exceder 02 anos. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10 Observação: não sendo fixado um prazo determinado, o direito de preempção caducará em 03 dias se for móvel, ou 60 dias se for imóvel. Se o comprador alienar a coisa sem ter dado ciência ao vendedor do preço e das vantagens que por ela lhe ofereceram, responderá por perdas e danos. Se o adquirente também estiver de má-fé, responde solidariamente (art. 518, CC). Como regra o direito de preferência decorre do contrato. Mas em algumas situações é a lei que o prevê. Assim, têm direito de prelação (ou preferência) legal: • o dono de bem desapropriado (trata-se do direito de retrocessão, previsto no art. 519, CC); ou seja, se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriando o direito de preferência, pelo preço atual da coisa. • o condômino de bem indivisível – um condômino só pode vender sua parte a estranhos, se oferecer primeiro a outro condômino, nas mesmas condições. O condômino preterido poderá, depositando o preço, requerer para si a coisa vendida a estranhos, se o fizer no prazo (decadencial) de 180 dias. • o locatário em relação ao bem locado – o art. 27, da Lei n° 8.245/91 prevê que o locatário tem preferência para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros, nos casos de venda ou promessa de venda. O locatário deverá exercer este direito no prazo (decadencial) de 30 dias. Se o locador não respeitar o direito de preferência, há duas opções para o locatário preterido: reclamar perdas e danos ou depositar o preço (e demais despesas do ato de transferência) e haver para si o imóvel locado. Nesta última hipótese deve requerer no prazo de 06 (seis) meses, a contar do registro do ato no cartório de imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado pelo menos 30 dias antes da alienação, junto à matrícula do imóvel. 4) Reserva de domínio (arts. 521 a 528, CC) Ocorre quando se estipula em contrato de compra e venda de coisa móvel infungível (regra), que o vendedor reserve para si a propriedade do bem, até o momento em que se realize o pagamento integral do preço, quando então o negócio terá eficácia plena. O vendedor transfere ao comprador a posse da coisa, mas conserva a propriedade até o pagamento (art. 521, CC). Ex.: eu vendo um carro para você em dez prestações; transfiro a posse para você. Mas a propriedade continua sendo minha. Quando você me pagar o preço integralmente, somente aí eu irei transferir a propriedade para você em definitivo. Trata-se de um contrato formal, que deve ser feito sempre por escrito. Para valer contra terceiros (erga omnes) deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos. A doutrina predominante o considera como sendo uma venda sob condição suspensiva, em que o evento futuro e incerto é o B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 05 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 pagamento integral do preço; suspende-se a transmissão da propriedade até que se tenha o implemento da condição, isto é, o pagamento integral do preço ajustado. Efetuado o pagamento, a transferência do domínio opera-se automaticamente. Se o comprador não pagar as prestações no vencimento, poderá o vendedor: • Pleitear a rescisão do contrato, reintegração de posse da coisa, devolvendo as prestações pagas (deduzidas as despesas); • Mover ação pleiteando a cobrança das prestações vencidas e vincendas, pois o atraso de uma prestação acarreta no vencimento antecipado das demais. Observem os arts. 1.070 e 1.071 (especialmente o seu §3o), do Código de Processo Civil. Observação: o comprador somente poderá dispor ou alienar esse bem se houver a expressa autorização do vendedor. 5) Venda sobre documentos (arts. 529 a 532, CC) Esta prática vem sendo usada em negócios de importação e exportação, ligando-se à técnica de pagamento denominada crédito documentado (trust receipt). Isso porque os encontram-se em lugares diversos de onde está a mercadoria no ato da conclusão do contrato. Substitui-se a tradição da coisa, pela entrega de seu título representativo ou outros documentos exigidos no contrato. O vendedor, entregando os documentos, se libera da obrigação e tem direito ao preço; o comprador, na posse justificada de tais documentos, pode exigir do transportador a entrega da mercadoria. 6) Pacto Comissório É a cláusula por força da qual se opera a extinção (resolução) dos direitos contratuais da parte contratante que não cumpre a sua prestação. Era um dispositivo expresso no Código Civil anterior. O atual não cuida mais de tal cláusula nos contratos em geral. Tal cláusula não é contrária à lei, nem à ordem pública e nem aos bons costumes, como também não está proibida a sua utilização em nenhum dispositivo da lei. Portanto, entendo que o simples fato de o novo Código não mais se referir, de modo expresso, à cláusula “pacto comissório” não excluiu a possibilidade dela vir a ser adotada, principalmente nos negócios jurídicos bilaterais. Quando expressamente previsto no contrato de compra e venda, pelas partes intervenientes, ele funciona como condição resolutiva expressa. TROCA OU PERMUTA (art. 533, CC) O contrato de troca ou permuta é aquele pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra coisa que não seja dinheiro. Operam-se, ao mesmo tempo, duas vendas, servindo as coisas trocadas de compensação recíproca. Este contrato também é chamado de escambo. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12 NATUREZA JURÍDICA Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, comutativo e translativo de propriedade (há duas tradições, duas entregas). OBJETO O objeto da permuta há de ser dois bens. Se um dos contraentes der dinheiro ou prestar serviços, não haverá a troca ou permuta. Podem ser trocados todos os bens que puderem ser vendidos, mesmo sendo de espécies diversas e valores diferentes. Assim como na compra e venda, gera para cada contratante a obrigação de transferir para o outro o domínio da coisa objeto de sua prestação. RELAÇÃO COM A COMPRA E VENDA Há uma grande analogia entre os dois institutos. Por isso o legislador (art. 533, CC) determina que se apliquem à permuta as mesmas disposições relativas à compra e venda (em relação às garantias, vícios redibitórios, evicção, etc.). No entanto, ressaltamos as seguintes diferenças: na troca, ambas as prestações são em espécie; na venda, a prestação de um dos contratantes é em dinheiro. o vendedor, uma vez entregue a coisa vendida, não poderá pedir-lhe a devolução no caso de não ter recebido o preço; já o permutante terá o direito de repetir o que deu, se a outra parte não lhe entregar o objeto permutado. (lembrando que repetir é devolver coisa ou dinheiro; ou seja, restituir o que foi entregue). EFEITOS • a permuta encerra uma dupla venda. • cada um dos permutantes pagará metade das despesas da troca, além de pagar, cada um, o imposto sobre o valor do bem adquirido. • é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem o expresso consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante; se os valores forem iguais a troca é válida. CONTRATO ESTIMATÓRIO (arts. 534 a 537, CC) Contrato estimatório ou venda em consignação é o negócio jurídico em que alguém (consignatário) recebe de outrem (consignante) bens móveis, ficando autorizado a vendê-los, obrigando-se a pagar um preço estimado previamente, se não restituir as coisas consignadas, dentro do prazo ajustado (art. 534, CC). É considerado com sendo um contrato real, pois há necessidade da entrega do objeto. Exemplo: Digamos que em minha residência eu fabrique, manualmente, alguns brinquedos ou enfeites, doces ou salgados, etc. Desejo vender esses bens. Mas não tenho um ponto de venda. Assim, eu deixo esses bens na padaria de um amigo ou no salão de beleza de outra amiga. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13 Esses bens ficam expostos para à venda. Entrego os bens a meus amigos e eles podem vender os bens. Posteriormente eles vendem e devem prestar contas comigo. Também usamos a expressão “venda em consignação”. PARTES • Consignante: é aquele que entrega a coisa; no exemplo fornecido acima, sou eu. • Consignatário: é aquele que recebe a coisa para vendê-la; no nosso exemplo, são os meus amigos: o do dono da padaria, a dona do salão de beleza, etc. NATUREZA JURÍDICA Trata-se de um contrato bilateral ou sinalagmático (obrigações para ambas as partes), oneroso (envolve sacrifício patrimonial), real (exige a entrega), comutativo (as partes têm conhecimento prévio acerca de suas prestações), informal (não exige forma solene, podendo ser verbal) e temporário. EFEITOS • o consignante não perderá o domínio (a propriedade) da coisa consignada, até que o consignatário a negocie com terceiros. • o consignante não poderá dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição. • a coisa consignada não poderá ser objeto de penhora pelos credores do consignatário, enquanto não for pago integralmente o seu preço. • o consignatário deverá pagar as despesas de custódia e venda. • o consignatário não se libertará da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa consignada, em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável. Venda em Consignação X Pagamento em Consignação É muito comum o aluno confundir o contrato de venda em consignação (contrato estimatório) com o pagamento em consignação. Já vimos este último instituto na aula sobre Obrigações – Parte Geral. Este é uma forma especial de pagamento e extinção da obrigação. Trata-se do depósito da coisa devida (judicial ou extrajudicialmente) feito pelo devedor, com o objetivo de liberar-se da obrigação líquida e certa. O exemplo clássico é o do credor que, sem justa causa, se recusa a receber a coisa (ou dar a quitação); neste caso o devedor deposita a coisa e se libera da obrigação. DOAÇÃO (arts. 538 a 564, CC) Doação é o contratopelo qual uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita. Exige-se, B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14 para tanto, dois elementos: a) subjetivo: o animus donandi, ou seja, a vontade de se fazer uma liberalidade espontânea; b) objetiva: transferência da propriedade de bens ou direitos do patrimônio de uma pessoa para outra. Da mesma forma que a compra e venda, a doação apenas gera a obrigação de transferir os bens e direitos e não a propriedade (esta se transmite com a tradição ou o registro). PARTES • Doador: é a pessoa que doa. • Donatário: é a pessoa que recebe o bem objeto da doação. NATUREZA JURÍDICA • Contrato unilateral e gratuito: requer intervenção de duas partes contratantes. No entanto, apenas o doador assume a obrigação de transferir bens ao donatário (apenas uma é devedora), não havendo contraprestação por parte do donatário. A doação é ato de liberalidade. Todavia, pode ser estipulado um encargo, caso o doador vincule o donatário a determinado ônus. Ex.: dou-lhe um terreno, desde que você plante determinada cultura, ou construa uma casa, etc. • Consensual: aperfeiçoa-se com a manifestação de vontade das partes. • Supõe a aceitação: o contrato de doação só se aperfeiçoa com a aceitação do bem por parte do donatário. Portanto trata-se de um negócio receptício (quer dizer, exige a manifestação de vontade da outra parte: ou seja, a aceitação). Referida aceitação pode ser expressa ou tácita. Neste último caso o doador marca um prazo para que o donatário recuse a doação. Se ele não se manifestar neste prazo, o silêncio acarreta em aceitação tácita da doação, desde que seja “pura”: presume-se que ele aceitou a doação. Se a doação for com encargos, exige-se a forma expressa. • Forma: em regra, trata-se de um contrato solene, pois o art. 541, CC impõe uma forma que deverá ser respeitada, sob pena de não valer o contrato. É obrigatória a forma escrita, uma vez que se exige instrumento público ou particular. Admite-se a forma verbal (seguida de tradição) para os bens móveis de pequeno valor (é chamada de “doação manual” – art. 541, parágrafo único, CC). É necessária a forma de escritura pública para imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no País (art. 108, CC), sujeita à posterior transcrição no Registro Imobiliário. • Ato inter vivos: Não existe doação para após a morte (caso contrário estaríamos diante de uma cláusula testamentária e não de uma doação). CAPACIDADE ATIVA PARA DOAR Para que a doação seja válida, além dos elementos genéricos e comuns a todos os negócios jurídicos, ainda é imprescindível observar os seguintes requisitos: • Os absoluta ou relativamente incapazes em regra não podem doar, nem mesmo por meio de representantes legais, visto que tais liberalidades não B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 15 são feitas no interesse do representado. O pródigo (pessoa que dissipa seus bens; dilapida seu patrimônio) pode doar, desde que assistido por seu curador, que dará ou não sua anuência para o ato. • Os cônjuges, sem a devida outorga (exceto no regime da separação absoluta), estão impedidos de fazer doação, não sendo remuneratória, com os bens e rendimentos comuns, ou dos que possam integrar futura meação. • O cônjuge adúltero não pode fazer doação a seu cúmplice, sob pena de anulabilidade (pleiteada pelo cônjuge inocente ou seus herdeiros necessários, no prazo decadencial de até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal: art. 550, CC). • Os consortes (marido e mulher) não podem fazer doações entre si se o regime for da comunhão universal; se outro for o regime, não havendo disposição em contrário, nada obsta a doação, importando em adiantamento do que lhes couber por herança (art. 544, CC). • As pessoas jurídicas de direito privado podem fazer e receber doações. • O falido não pode fazer doações porque perdeu a administração de seus bens e isso lesaria seus credores. REQUISITOS OBJETIVOS PARA A DOAÇÃO Inicialmente é necessário que a coisa esteja in commercium. Esta coisa pode se referir a bem móvel ou imóvel; corpóreo ou incorpóreo; presente ou futuro; etc. Além disso, deve ser observado: • Uma pessoa não pode doar todos os seus bens (doação universal), sem reserva de parte ou renda suficiente para sua subsistência (art. 548, CC). Nula será tal doação. Mas a proibição será eliminada se o doador se reservar o usufruto dos bens. Ex.: uma pessoa, já com 80 anos, deseja doar todos os seus bens em vida, para evitar “futuras desavenças familiares” após a sua morte. Ele não pode fazer a doação pura e simples. Qual a solução? Ele doa os bens e no mesmo instrumento se reserva no direito de usufruto. Desta forma ele perde a propriedade dos bens, mas continua a usufruir (morar ou alugar) o mesmo. • Se com a doação o doador ficar insolvente (passivo maior que o ativo – em outras palavras tem mais dívidas do que patrimônio), os credores prejudicados poderão anulá-la, pois neste caso pode ter ocorrido a fraude contra credores (caso tenha ficado com alguma dúvida, releia este ponto na aula referente aos Fatos e Atos Jurídicos). • Nula também será a doação da parte excedente do que poderia dispor o doador em testamento (doação inoficiosa, que veremos logo adiante). DOAÇÃO A INCAPAZES As pessoas que não podem contratar (os incapazes, relativa e absolutamente) podem aceitar doações puras (isto é, sem encargos art. 543, CC). A doação feita ao nascituro é válida, desde que aceita pelos pais (art. 542, CC). Trata-se de caso de ato jurídico sujeito a condição suspensiva, pois a doação somente se efetivará se houver o nascimento com vida do B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16 nascituro. Caso ele nasça morto (natimorto), o contrato será considerado ineficaz. Igualmente válida será a doação feita em contemplação de casamento futuro e referente aos filhos futuros do casal. ESPÉCIE DE DOAÇÃO • Pura e simples ou típica: é aquela feita por mera liberalidade; quando não se impõe nenhum ônus, nenhuma restrição ao donatário, que desfrutará amplamente do bem recebido, sem qualquer limitação. • Condicional: quando surte efeitos somente a partir de determinado momento ou ao findar uma determinada situação (lembrem-se que condição se subordina a ocorrência de um acontecimento futuro e incerto). Exemplo: doação feita subordinando-se a realização de um casamento (chamamos de doação propter nuptias). Neste caso há uma condição suspensiva: a doação só terá efeito se o casamento se realizar. A doação também pode ser condicionada aos futuros filhos do casal (art. 546, CC). Se houver dúvidas sobre o tema, retorne à aula sobre Fatos e Atos Jurídicos. • A termo: quando contém um termo inicial ou final (lembrem-se que o termo se subordina à ocorrência de um evento futuro e certo). Ex.: doei um sítio a João, que terá o direito de usá-lo durante dez anos; após esta data o direito de usar passará a ser de Antônio. • Contemplativa: ocorre quando a pessoadoa e declara o motivo da doação. Ex.: doo uma casa a uma fundação séria, em razão dos excelentes trabalhos prestados com crianças carentes e sabendo que a doação será revertida para suas finalidades (art. 540, 1ª parte, CC). • Subvenção periódica: o doador estipula rendas ao donatário em periodicidade (semanal, quinzenal, mensal, etc.). Ao invés de haver apenas um ato na doação, esta é feita por meio de vários atos, daí ser uma modalidade de contrato de “trato sucessivo”. Obs.: este tipo de doação extingue com a morte do doador, salvo se houver previsão no contrato sobre a transferência da obrigação para os herdeiros (hipótese em que ficará limitada ao valor da herança). No entanto o prazo máximo é a vida do donatário, que não poderá estendê-la a seus herdeiros (art. 545, CC). • Com encargo ou modal ou onerosa: quando o doador impõe ao donatário alguma incumbência em seu benefício, em proveito de terceiro ou de interesse geral. Ex.: doei um terreno com a obrigação de o donatário ali construir uma escola; doei uma casa com a obrigação de se colocar os impostos em dia, etc. Com esse encargo a doação passa a ser onerosa, aplicando-se as regras referentes aos vícios redibitórios (art. 441, parágrafo único, CC), além de surgir a possibilidade de revogação da doação por inexecução do encargo. Têm legitimidade para exigir o cumprimento do encargo o próprio doador, o terceiro por ele beneficiado, ou mesmo o Ministério Público (após a morte do doador), se o encargo for em benefício de interesse geral (art. 533, CC). Caso a doação não estabeleça um prazo para o cumprimento do encargo, pode o beneficiário conceder um “prazo razoável”, devendo constituir o donatário em mora por B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17 meio de uma interpelação judicial ou notificação (art. 562, 2ª parte, CC). O não cumprimento do encargo é causa de resolução da doação. • Remuneratória: é aquela que tem por finalidade recompensar ou agradecer um serviço ou favor prestado pelo donatário ao doador (art. 540, 2ª parte, CC). Esta doação não é tida como gratuita, mas onerosa. Ex.: doação de um leitão ao médico que tratou do doador sem nada cobrar. Na verdade a parte que corresponde à retribuição do serviço prestado é pagamento; só será doação, propriamente dita, quanto à parte que exceder o valor desse serviço. • Com cláusula de reversão (resolutiva): o doador estipula que se o donatário morrer antes dele, os bens doados retornarão ao patrimônio do doador, gerando, assim, uma sucessão anômala (isto porque não segue o caminho natural de uma sucessão, que seria rumo ao patrimônio dos sucessores do donatário). Não prevalece a cláusula de reversão em favor de terceiro; apenas é permitida em favor do próprio doador (art. 547 e seu parágrafo único, CC), ou seja, o doador não pode, por exemplo, estipular que caso João (donatário) morra este bem vá para o patrimônio de José. Se isso fosse admitido, ainda que de forma indireta, estaríamos diante de um caso de pacto sucessório (pacta corvina), expressamente proibido por nosso Direito (art. 426, CC). Tem efeitos retroativos, anulando eventuais alienações feitas pelo donatário, fazendo os bens reverterem livres de quaisquer ônus ao doador. • Doação conjuntiva: é aquela feita em comum a mais de uma pessoa, sendo distribuída por igual entre os diversos donatários, exceto se o contrato estipulou o contrário (art. 551, CC). Caso os beneficiários sejam marido e mulher, falecendo um deles, terá o cônjuge sobrevivente o direito de acrescer à sua parte a do falecido. • Doação inoficiosa: segundo o dicionário jurídico “De Plácido e Silva”, inoficioso é o “ato que se pratica, injustamente, em detrimento de outrem, privando-o do que lhe deveria competir”. Portanto doação inoficiosa é a ocorre quando uma pessoa doa a um filho bens que deveriam pertencer à legítima do outro, ou seja, é a que excede a parte do patrimônio que poderia ser incluída no testamento. Assim, havendo herdeiros necessários (art. 1.845, CC: descendentes, ascendentes ou cônjuge) o doador não pode ultrapassar metade dos bens da herança (art. 1.846, CC); aquilo que ultrapassar deve ser desconsiderado, nulo (art. 549, CC). • Doação a entidade futura (art. 554, CC): é aquela cujo donatário é uma pessoa jurídica que ainda não foi criada, mas que será constituída. Se isso não ocorrer no prazo de dois anos, haverá a caducidade do ato (trata-se de uma doação sob condição suspensiva: a criação da pessoa jurídica). ����IMPORTANTE ���� DOAÇÃO A DESCENDENTES É permitida a doação de bens dos pais aos filhos. E não é imprescindível a autorização dos outros filhos para esta doação. No entanto, "a doação de ascendente a descendente, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança" (art. 544, CC). Exemplo: Um homem viúvo B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18 possui três imóveis do mesmo valor e três filhos. Pergunto: ele pode doar em vida um imóvel a um dos filhos? Necessita de autorização dos outros filhos? Resposta: o pai pode fazer a doação do bem sem autorização dos demais filhos. No entanto, quando esse pai falecer, esta situação será levada em consideração no inventário. Aquele filho que recebeu a doação, em tese, não terá mais direito à herança. Houve o que chamamos de adiantamento da parte que lhe era cabível, ou seja, adiantamento da legítima. Ele terá que prestar contas desta doação no inventário, trazendo aquele bem à colação, para um “acerto de contas”. Portanto os dois imóveis restantes serão divididos entre os outros dois filhos. Vamos dar outro exemplo em cifras. Um pai (viúvo) tinha três filhos e um patrimônio de 150. Em vida doou 30 para um dos filhos. Patrimônio restante: 120. Logo depois o pai faleceu. Não basta simplesmente dividir o que restou por três. No inventário a quantia doada deve ser “colada” ao que restou, totalizando os 150. Somente após a colação o patrimônio será dividido. Assim os outros dois filhos receberão 50 cada um e o que recebeu a doação inicial receberá somente 20, pois já havia recebido 30 antes. Outra pergunta: E se o pai, que tinha três imóveis, doar dois deles a um dos filhos? Resposta: neste caso a doação de um dos imóveis será válida, pois está dentro de sua parte disponível. Mas o outro não. Nesse caso, a doação que ultrapassou a parte disponível é considerada nula. Isto porque qualquer cláusula que altere normas de ordem pública de direito sucessório é considerada nula. Por ocasião da morte do doador, se faz necessário que os bens recebidos pelos filhos sejam arrecadados no inventário, para nova conferência, por meio da colação. Colação consiste na arrecadação dos bens recebidos pelos herdeiros do de cujus, quando este ainda vivia, trazendo-os todos para o processo de inventário, a fim de serem submetidos a uma conferência e divisão no juízo do inventário. Todavia, pode ocorrer que a doação tenha sido feita saindo os bens da parte disponível de seu patrimônio, dispensando-se expressamente o donatário da colação. Neste caso, a doação não importa em adiantamento da legítima. REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO A doação é um contrato e, como tal, uma vez aperfeiçoado (com a aceitação do donatário), só pode ser rescindido pela vontade de ambas as partes ou pela presença de algum vício, gerando nulidade ou anulabilidade (ex.: coação,estado de perigo, não se respeitar a forma adequada, etc.). Todavia, excepcionalmente a doação poderá ser revogada por ingratidão do donatário ou por inexecução do encargo (art. 555, CC). Vejamos. A) Ingratidão do donatário. Isto ocorrerá se o donatário: • atentar contra a vida do doador. • cometer alguma ofensa física contra o doador. • injuriar ou caluniar o doador. • recusar alimentos ao doador, desde que pudesse ministrá-los. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19 A revogação deve ser pleiteada dentro do prazo decadencial de um ano, a partir do conhecimento do fato que a autorizar pelo doador, mediante ação judicial. Trata-se deu um direito personalíssimo (art. 560, CC), ou seja, somente o próprio doador pode revogar uma doação. No entanto, se a ingratidão consistiu em homicídio doloso contra o doador, a ação caberá aos seus herdeiros (art. 561, CC). Além disso, nas outras hipóteses, se o doador requereu a revogação judicialmente e depois faleceu, seus herdeiros podem continuar com a ação. Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário (art. 556, CC), sendo nula disposição neste sentido. A revogação não prejudica os direitos adquiridos de terceiros (art. 563, CC). Isto é, revogada a doação, os bens voltam ao patrimônio do doador, respeitados, porém, os direitos dos terceiros. Se o donatário já vendeu um bem, o terceiro não fica prejudicado. Porém o preço recebido pelo donatário na venda deve retornar ao doador. Não se revogam por ingratidão as doações • puramente remuneratórias. • oneradas com encargo. • que se fizerem em cumprimento de obrigação natural (dívidas de jogo ou prescritas). • feitas para determinado casamento. B) Descumprimento do encargo imposto (se houver): a doação onerosa poderá ser revogada pela inexecução de um encargo, desde que o donatário incorra em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinalando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida (art. 562, CC). LOCAÇÃO A locação é o contrato pelo qual uma das partes, mediante remuneração paga pela outra, se compromete a fornecer-lhe, durante certo lapso de tempo, o uso e gozo de uma coisa infungível, a prestação de um serviço apreciável economicamente ou a execução de alguma obra determinada. Levando-se em consideração este conceito, podemos estabelecer três espécies de locação: a) Locação de Coisas (locatio rei) – uso e gozo de bem infungível. b) Locação de Serviços (locatio operarum) – prestação de serviços economicamente apreciável. c) Locação de Obras ou empreitada (locatio operis faciendi) – execução de obra ou trabalho. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 20 ����OBSERVAÇÕES ���� 01) Essa era a forma que o Código anterior classificava a locação. Pela disposição atual no Código Civil, a prestação de serviços e a empreitada não são mais espécies de locação, até porque o legislador as colocou no Código após o contrato de empréstimo, fazendo questão de separar esses contratos (prestação de serviços e empreitada) da locação de coisas. E reservou a expressão “locação” apenas para as coisas. 02) É conveniente também esclarecer que as expressões “locação” e “arrendamento” são usadas como sinônimas. No entanto, na prática, se costuma usar o termo arrendamento para se designar o aluguel de imóveis rústicos (ou rurais) e locação para bens (móveis ou imóveis) urbanos. Trata-se apenas de uma questão de terminologia da doutrina, não estando expressa na lei. CARACTERÍSTICAS COMUNS As três modalidades de contrato acima mencionadas apresentam as seguintes características comuns: • Cessão temporária do uso e gozo da coisa, sem haver a transmissão da propriedade. • Termos usados para a Remuneração: a) na locação de coisas →→→→ aluguel b) na prestação (locação) de serviços →→→→ salário c) na empreitada (locação de obras) →→→→ preço LOCAÇÃO DE COISAS (arts. 565 a 578, CC) É o contrato pelo qual uma das partes (locador, senhorio) se obriga a ceder à outra (locatário, inquilino), por tempo determinado, ou não, o uso e gozo de coisa não fungível (ou infungível: que não pode ser substituído por outro igual), mediante certa remuneração (art. 565, CC). Portanto é oneroso. Se houver mais de um locador ou locatário, entende-se que são solidários, se o contrato não estipulou o contrário. Caso se referisse a bem fungível, teríamos o mútuo (que veremos mais adiante) e não a locação. No entanto, em certas hipóteses, os bens fungíveis podem ser alugados. Isto quando o seu uso e gozo for concedido ad pompam vel ostentationem. Ex.: ceder ao locatário garrafas de vinho, ou cestas de frutas, para que sirvam apenas de ornamentação em uma festa, sendo que estes bens serão devolvidos depois da festa. Por outro lado, se a coisa fosse infungível, porém gratuita, teríamos não uma locação, mas sim o comodato (que também será analisado mais adiante). B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 21 NATUREZA JURÍDICA • Bilateral ou sinalagmático: cria obrigações para ambos os contratantes. • Oneroso: ambas as partes auferem vantagens e ônus patrimoniais de suas prestações. Se fosse gratuito, seria um comodato. • Tipico: previsto do Código Civil. • Comutativo: em regra possui objeto certo com equivalência das prestações e contraprestações. • Consensual: o contrato de compra e venda é consensual, pois ele se aperfeiçoa com o simples consenso ou manifestação de vontade dos contraentes, não se exigindo a entrega da coisa pelo locador para que ocorre seu aperfeiçoamento. • Não solene: em regra a forma é livre, celebrado por escrito ou até verbalmente, no entanto a forma escrita é exigida em algumas situações. Em caso de alienação do bem o locatário somente estará protegido se o contrato for celebrado por escrito e for registrado (registro de títulos e documentos: bens móveis; registro de imóveis: imóveis). • Trato sucessivo (ou execução continuada): a execução do contrato de locação se prolonga no tempo e o pagamento do aluguel, em regra, corresponde a uma obrigação periódica. PARTES • Locador (senhorio ou arrendador): é quem oferece a coisa em locação, transmitindo a posse direta ao locatário, reservando para si a posse indireta. Em regra o locador é o proprietário da coisa. No entanto isso nem sempre ocorre, pois em algumas situações o locador pode não ser o titular do domínio. Ex.: no usufruto o nu proprietário possui o título de propriedade e o usufrutuário tem o direito de usar a coisa alheia (morar) ou retirar os frutos por ela produzidos, sem alterar-lhe a substância (alugar); portanto, o usufrutuário, embora não seja proprietário, pode ser locador. O mesmo ocorre na sublocação (desde que expressamente permitida no contrato) e com o inventariante, que pode alugar os bens do espólio. • Locatário (inquilino ou arrendatário): é o que recebe a coisa em locação e que por sua vez, deve pagar o aluguel. ELEMENTOS Sendoa locação um contrato, e, portanto, um negócio jurídico, será sempre um ato jurídico bilateral. Portanto, seus elementos serão os mesmos previstos para um negócio jurídico em geral, acrescentando-se: a coisa (res), o preço (pretium) e o consenso (consensus): • COISA (objeto): como vimos, o bem a ser locado pode ser móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo, divisível ou indivisível. Por outro lado ele deve ser infungível (regra), inconsumível e suscetível de gozo. Além disso, deve ser sempre lícito e possível. É conveniente ressaltar que mesmo um bem inalienável (ex.: bem gravado com cláusula de inalienabilidade, bem de família) pode ser locado. Se o contrato nada dispuser, como regra, a B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 locação do principal abrange os acessórios (a locação de uma fazenda abrange as casas, as pertenças, as benfeitorias, etc.). �Obs.: é possível a locação de coisa alheia, enquanto durar a posse do locador (ex.: um bem imóvel foi entregue a um credor para garantir uma dívida; se houver previsão expressa é possível que este credor alugue a coisa do devedor, inclusive para abater o recebido da dívida). • PREÇO (remuneração, aluguel ou renda): é a importância que o locatário paga pelo uso da coisa. Em regra esse valor é periódico (prestação sucessiva). No entanto admite-se que o valor seja pago de uma só vez (aluguéis para temporada). O valor do aluguel pode ser estipulado livremente pelas partes, sendo proibida a imposição exclusiva de uma das partes. Em algumas hipóteses especiais o valor pode ser feito por arbitramento administrativo ou judicial ou até imposto por ato governamental. Pode também decorrer de concorrência pública (locações de bens da União). Ele deve ser certo, podendo ser em dinheiro ou qualquer outro bem. Deve também ser sério; se for irrisório será um empréstimo da coisa de forma dissimulada. Como vimos na aula sobre o Direito das Obrigações, é proibida qualquer forma de vinculação ao salário mínimo, moedas estrangeiras e metais preciosos (art. 318, CC). Os reajustes devem seguir o disposto em lei específica. Se o locatário não pagar o preço, sua cobrança poderá ser feita judicialmente, havendo motivo para rescisão contratual. • CONSENTIMENTO VÁLIDO: é o acordo de vontades, que pode ser expresso ou tácito. No entanto, para que o negócio seja válido o consentimento deve ser dado de forma livre, consciente e de boa-fé. Os incapazes só poderão alugar se forem representados (para os absolutamente incapazes) ou assistidos (para os relativamente incapazes) por seus representantes legais (pais, tutores ou curadores). FORMA E PRAZO A forma do contrato de locação pode ser qualquer uma, inclusive a verbal, posto que é um contrato consensual. O prazo é sempre temporário. Poderá até ser vitalício, mas nunca perpétuo. O prazo pode ser determinado ou indeterminado, dependendo do que se pactuar no contrato. O Código Civil não estabelece um prazo máximo para a vigência da locação. Se não for estipulado um prazo exato, ele será indeterminado. A Lei do Inquilinato (LI) estabelece uma restrição para contratos celebrados com prazo igual ou superior a 10 anos: depende de autorização ou vênia conjugal (outorga marital ou uxória), na hipótese de apenas um dos consortes ser o locador. Se não houver esta vênia, o cônjuge não estará obrigado a observar o prazo excedente. Se o contrato de locação for pactuado com prazo fixo o locador não poderá reaver a coisa alugada antes do seu vencimento (salvo se rescindir o contrato e indenizar o locatário pelas perdas e danos resultantes desta quebra de contrato; neste caso o locatário terá direito de retenção do bem até o pagamento da indenização). Por outro lado o locatário poderá B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 23 devolver a coisa pagando a multa prevista no contrato de forma proporcional ao tempo que resta para o fim da locação (art. 571, CC). Se este valor for excessivo, o Juiz pode reduzir este valor para “bases razoáveis” (art. 572, CC). Tal dispositivo está em sintonia com o art. 413, CC que permite ao Juiz “reduzir equitativamente” o valor da cláusula penal, quando a obrigação principal tiver sido cumprida em parte ou se o seu montante for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Nota-se, mais uma vez, a presença da “função social do contrato” (art. 421, CC) e a proibição do enriquecimento indevido. ESPÉCIES De uma forma geral a locação pode ser de: 1) Coisa a) Móvel: rege-se pelo Código Civil (ex.: locação de um carro). b) Imóvel: rege-se pelo Código Civil (ex.: locação de um terreno, de uma garagem autônoma, etc.). 2) Prédios Urbanos (neste caso aplica-se a Lei n° 8.245/91) a) Residenciais urbanos b) Não residenciais: • comerciais ou industriais urbanos e rústicos (art. 51). • hospitais, unidades sanitárias oficiais, asilos, estabelecimentos de saúde e de ensino autorizados e fiscalizados pelo Poder Público (art. 53). • lojistas e empreendedores de shopping center (art. 54). • não comerciais urbanos (ex.: prédio para rede de associação). 3) Prédios Rústicos (destinados à atividade rural) neste caso aplica-se o Dec. 59.566/66 e o Estatuto da Terra. LOCAÇÃO NO CÓDIGO CIVIL As regras do Código Civil aplicam-se à locação de objetos (móveis e imóveis), que não se enquadram como prédios urbanos com fins residenciais e comerciais (pois nestes casos aplica-se a Lei 8.245/91). Assim continuam sendo regulados pelo Código Civil: 1) Locações • de imóveis de propriedade da União, dos Estados, dos Municípios. • de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamentos de veículos. • de espaços destinados à publicidade. • de apart-hotéis, hotéis-residência ou equiparados 2) Arrendamento Mercantil. B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 24 LOCAÇÃO DE COISAS MÓVEIS E IMÓVEIS a) Pode ela ser por tempo determinado ou indeterminado. Se por prazo determinado, ela cessa de pleno direito, findo o prazo estipulado, independente de notificação ou aviso (art. 573, CC). b) Findo o prazo da locação, se o locatário continuar na posse da coisa alugada, sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada sem prazo determinado (art. 574, CC): presunção de prorrogação da locação por continuação na posse. c) A qualquer tempo, vencido o prazo do contrato, pode o locador notificar o locatário para restituir a coisa. Se notificado, o locatário não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer, ainda que proveniente de caso fortuito. Mas se o aluguel arbitrado for manifestamente excessivo, o juiz pode reduzi-lo equitativamente, mas sempre tendo em conta o se caráter de penalidade. d) Se a coisa foi alienada durante a locação, o novo proprietário não é obrigado a respeitar o contrato, salvo se o contrato contiver “cláusula de vigência no caso de alienação”, e conste do Registro de Imóveis (art. 576, CC). e) Morrendo o locador ou locatário transfere-se alocação a seus herdeiros (art. 577, CC), por esse motivo a doutrina afirma que o contrato de locação não é personalíssimo. f) O art. 578, CC trata do direito de retenção. Salvo disposição em contrário, o locatário goza do direito de retenção, no caso de benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas houverem sido feitas com expresso consentimento do locador. g) Na dúvida quanto à interpretação do contrato, deve ser entendida a que mais favorecer o locatário. Direitos do locador • Receber pagamento do aluguel. • Exigir algumas garantias do locatário, como a fiança (veremos isso mais adiante de forma minuciosa). • Mover ação de despejo nos casos em que a lei permitir. • Autorizar (ou não) a sublocação ou a cessão de locação. • Pedir revisão judicial do aluguel. Obrigações do locador (arts. 566 a 568, CC) • Entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de servir ao uso a que se destina. • Manter a coisa alugada neste estado pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa. • Garantir ao locatário o uso pacífico da coisa, durante o prazo do contrato. • Resguardar o locatário dos embaraços e turbações de terceiros (tanto o locador, como o locatário possuem legitimidade para ingressar com as B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 25 ações possessórias), bem como responder pelos seus vícios ou defeitos anteriores à locação. • Indenizar benfeitorias úteis e necessárias feitas pelo locatário de boa-fé • Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatário, a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava. Direitos do locatário • Exigir a entrega da coisa e recibo de aluguel. • Reter o bem no caso de benfeitorias necessárias ou úteis feitas com o consentimento por escrito do locador enquanto não receba indenização relativa a elas. • Preferência na aquisição no caso de alienação do imóvel locado. • Purgar a mora. Trata-se do ato que repara ou corrige a falta cometida. No caso é o pagamento da dívida, ou seja, os eventuais aluguéis vencidos, para evitar a rescisão do contrato. Obrigações do locatário (arts. 569 a 570, CC) • Servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse. Se o locatário empregar a coisa em uso diverso do ajustado, ou do a que se destina, ou se ela se danificar por abuso do locatário, poderá o locador, além de rescindir o contrato, exigir perdas e danos. • Pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar. • Levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito. • Restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvo as deteriorações naturais ao uso regular. LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO Lei n° 8.245/91 com as alterações da Lei n° 12.112/09 Estas leis regulam a locação de imóveis urbanos residenciais e não residenciais. O Código Civil, apesar de ser uma lei posterior, não afastou a aplicação da Lei 8.245/91 para as locações de imóveis urbanos. É o que dispõe o art. 2.036, CC, que dispõe: “a locação de prédio urbano, que esteja sujeita à lei especial, por esta continua a ser regida”. O art. 1o da Lei de Locações afirma que ela não terá incidência: a) Na locação de: • imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas; o fundamento para esta não B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 26 incidência é o interesse público, que não permite que tais locações se sujeitem ao regime privado; • vagas autônomas de garagem ou espaços para estacionamentos de veículos, desde que não haja vinculação com o imóvel locado; • espaços destinados à publicidade (neste caso aplicam-se as regras do poder de polícia concedidas às autoridades municipais, na regulação do interesse local); • apart-hotéis, hotéis-residências ou equiparados (flats); entende-se que esta hipótese se refere mais a um contrato de hospedagem do que de locação, pois o pagamento é feito na forma de diárias e não de aluguel e não há ação de despejo. b) No arrendamento mercantil (leasing); o fundamento de sua exclusão reside no fato de que o pagamento que se faz nestes casos não é de aluguel, pois ele pode servir de pagamento parcial do bem arrendado, sendo regulado por lei própria; c) Em imóveis rurais, entendidos conforme a sua destinação e não de acordo com sua localidade. CLASSIFICAÇÃO a) Locação residencial • prazo certo igual ou superior a 30 meses. • com prazo indeterminado ou inferior a 30 meses. b) Locação não residencial • Locação comercial com direito à renovatória. • Outras locações livres. c) Locação especial ou por temporada CARACTERÍSTICAS GERAIS • A locação pode ser fixada por qualquer prazo. Sendo igual ou superior a dez anos, é necessária a outorga (ou vênia) conjugal (art. 3°, LI). • Havendo prazo determinado, o locador não pode reaver o imóvel. Já o locatário pode devolvê-lo, desde que pague a multa, caso pactuada, proporcional ao período de cumprimento do contrato ou, na sua falta, a que for judicialmente estipulada (art. 4°, 2a parte, LI, com redação dada pela Lei n° 12.112/09). Entende-se que o caráter da multa é compensatório. Embora a lei use a expressão “multa”, trata-se, na verdade, de uma prefixação de indenização por perdas e danos, estimada de acordo com a natureza e o vulto do contrato. Por tal motivo, não se pode cumular essa multa com eventuais perdas e danos, nos termos do artigo 413 do Código Civil. Eventual indenização suplementar somente será devida se o contrato permitir e houver provas de efetivo prejuízo. Não havendo prazo determinado o locatário poderá rescindir B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 B R U N O R A P H A E L I P A I V A D E O 0 5 0 0 0 0 0 2 4 7 4 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 27 a locação, mediante aviso por escrito ao locador, com antecedência mínima de 30 dias. • O locatário pode ser exonerado da multa pela resilição antecipada da locação no caso de transferência do seu local de trabalho, determinada pelo empregador (art. 4°, parágrafo único, LI). Para ter este direito deve notificar o locador por escrito, com antecedência mínima de 30 dias, sob pena de incorrer na multa. Este benefício não se aplica quando o pedido de transferência é de iniciativa do próprio locatário. É admissível quando a mudança do local de trabalho se dá de um bairro para outro nos grandes centros urbanos, dada a dificuldade de locomoção do empregado. • É livre a convenção do preço do aluguel, podendo as partes fixar novo valor para o aluguel, bem como inserir ou modificar cláusula de reajuste (art. 18, LI). No entanto é vedada a sua estipulação em moeda estrangeira e a sua vinculação à variação cambial ou ao salário-mínimo (art. 17 e 85, LI). • O aluguel não pode ser cobrado adiantado, salvo se a locação for por temporada (art. 49, LI) e nos casos em que o contrato foi
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