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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 Aula 11 Direito de Família �Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→ DIREITO DE FAMÍLIA. Casamento. Relações de parentesco. Regime de bens entre os cônjuges. Usufruto e administração dos bens de filhos menores. Alimentos. Bem de família. União estável. Concubinato. Tutela. Curatela. Subitens →→→ 1) Direito Matrimonial. Casamento: classificação, habilitação, requisitos formais, impedimentos, forma e prova. Anulação e efeitos jurídicos. Regimes de bens entre os cônjuges. Separação e Divórcio. 2) Direito convivencial. União Estável: caracterização, efeitos alimentícios e sucessórios, dissolução. 3) Direito Parental. Relação de parentesco. Filiação. Adoção. Poder Familiar. Alimentos. Bem de Família. 4) Direito Assistencial. Guarda. Tutela. Curatela. Ausência. �Legislação a ser consultada →→→ Emenda Constitucional n° 66/2010 (nova redação do §6°, art. 226, CF/88, que dispõe sobre a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia separação judicial por mais de um ano ou de comprovada separação de fato por mais de dois anos). Código Civil: Casamento (arts. 1.511 a 1.590), Relações de Parentesco (arts. 1.591 a 1.638), Regime de Bens (arts. 1.639 a 1.688), usufruto e administração dos bens dos menores (arts. 1.689 a 1.693), Alimentos (arts. 1.694 a 1.710), Bem de Família (arts. 1.711 a 1.722), União Estável (arts. 1.723 a 1.727) e Tutela e Curatela (arts. 1.728 a 1.766). Lei n° 8.069/1990 (ECA), com suas alterações. Lei n° 11.441/2007 (possibilita a realização da separação consensual e divórcio consensual por via administrativa). Índice Conceito de Direito de Família ........................................................ 03 Contéudo .................................................................................. 04 DIREITO MATRIMONIAL ................................................................. 05 Casamento ................................................................................ 05 Impedimentos e causas suspensivas ........................................ 11 Regime de bens ........................................................................ 16 Término da sociedade conjugal e do casamento ....................... 24 Sistemas de nulidades .............................................................. 24 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 Separação judicial e divórcio. EC 66/2010 ............................... 30 DIREITO CONVIVENCIAL ................................................................ 40 União Estável ............................................................................ 40 DIREITO PARENTAL ........................................................................ 46 Espécies de parentesco ............................................................. 49 Filiação ..................................................................................... 50 Adoção ...................................................................................... 56 Poder familiar ........................................................................... 60 Alimentos ................................................................................. 63 Bem de Família ......................................................................... 68 DIREITO ASSISTENCIAL ................................................................. 68 Guarda, tutela e curatela .......................................................... 68 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ................................................... 74 Bibliografia Básica .......................................................................... 80 EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE/UnB) ...................................... 81 Meus Amigos e Alunos Iniciamos hoje mais uma etapa em nossos estudos. Marchamos para a parte final de nosso curso. Recapitulando. Nas primeiras aulas falamos sobre a Parte Geral do Código Civil. Passamos pelo Direito das Obrigações e os Contratos. Depois o Direito das Coisas. Hoje veremos o Direito de Família. Falaremos sobre o Direito Matrimonial, Convivencial, Parental e Assistencial. Na próxima e derradeira aula, falaremos sobre o Direito das Sucessões. Como esta é a nossa penúltima aula, recebam todos, antecipadamente, um grande abraço, como se eu estivesse aí com vocês. Desejo tudo de bom para vocês. Muitas ALEGRIAS e SUCESSO nesta empreitada que vocês se propuseram. Inicialmente, antes de começar esta aula propriamente dita, gostaria de dar alguns avisos importantes: o Direito de Família (assim como o Direito das Sucessões, que veremos na próxima aula) mudou muito do Código Civil anterior para o atual. Muita coisa, mas muita coisa mesmo, mudou. Talvez seja o capítulo que mais tenha sofrido alterações. E continua sofrendo... como é o caso da adoção e a da emenda do divórcio. Como veremos durante a aula, há quem entenda que não existe mais a separação (seja judicial, seja extrajudicial). Mas se observarmos, os editais atuais, veremos que muitos deles ainda mencionam a expressão “separação judicial”. Portanto, neste momento, para fins de concurso, ainda é interessante falar na separação. Outra coisa. Apesar desta aula ser considerada “leve”, por tratar de um tema que sentimos de perto e estarmos diante de casos que vivenciamos em nosso dia-a-dia, nunca é demais lembrar que este é um curso preparatório para concursos. Assim, não devemos nos perder em detalhes, em episódios que podem ocorrer em nossas vidas e em casos particulares, mas que não DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 33 trazem nenhuma repercussão para a nossa prova. O importante agora é conhecer os institutos e suas peculiaridades. Finalizando: cuidado ao estudar por algum livro antigo... ou fazer algum exercício antigo... muitos estão superados. No entanto esta aula está totalmente atualizada, inclusive quanto aos exercícios, que são periodicamente revisados. Comecemos então... DIREITO DE FAMÍLIA: CONCEITO E INTRODUÇÃO. Direito de Família é o complexo de normas de ordem pública (que são normas impositivas, não podem ser revogadas por uma simples convenção entre particulares), que regulam a celebração do casamento, sua validade, seus efeitos, relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, união estável, dissolução, relação entre pais e filhos, vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela, curatela e ausência. Para o Estado esta parte do Direito Civil apresenta grande importância, pois se conseguirmos organizar bem uma família, consequentemente teremos condições de ter uma sociedade também organizada, já que a família é a base de uma sociedade. Trata-se, portanto, de direito personalíssimo, sendo intransferível, irrenunciável e que não se transmite por herança. Até pouco tempo atrás utilizava-se a expressão família. Atualmente é preferível usar a expressão “entidade familiar”, que é mais abrangente, devendo-se entender como sendo toda e qualquer espécie de união capaz de acolher as afeições dos seres humanos. A doutrina divide a entidade familiar em: a) explícitas: casamento, união estável, família monoparental (formada por um dos pais e os filhos; situações dos viúvos, pais/mães solteiros ou divorciados, biológicos ou não, etc.); b) implícitas: são aquelas que não possuem previsão constitucional/legal, mas que existem na realidadesocial e reclamam idêntica proteção das explícitas, como as uniões homoafetivas, famílias recompostas (ex.: um casal se une por meio de uma união estável, cada um trazendo filhos de relacionamentos anteriores e possuindo também filhos comuns), família solidária (membros de núcleos familiares menores se unem para formar uma família maior, composta de irmãos, tios e sobrinhos, etc.). Só para dar um exemplo, que aprofundaremos mais adiante, o Supremo Tribuna Federal, pela ADI 4277, reconheceu a união homoafetiva, formada por pessoas do mesmo sexo, aplicando-lhes a regra da união estável. ��� Seja a lei, seja por decisões judiciais, há uma tendência de expansão do que se considera como entidade familiar, posto que isso já ocorre na vida prática. Se estiverem presentes os requisitos da afetividade, estabilidade e ostensividade, haverá a proteção legal da entidade familiar, tutelando-se os efeitos jurídicos pelo Direito de Família (e não mais pelo Direito da Obrigações como era feito até pouco tempo atrás). Portanto, a atual DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 44 Constituição suprimiu a chamada cláusula de exclusão, que apenas admitia a constituição de uma família pelo casamento, adotando agora um conceito aberto, abrangente e de inclusão, de pluralismo de entidades familiares. O pensamento atual é de que as formas de constituição de família não é taxativa, pois não é a lei que escolhe o modo de se constituir uma família, mas sim as próprias pessoas. Existe uma “dinâmica familiar”, ainda que não se enquadre especificamente à hipótese de casamento e união estável entre um homem e uma mulher como previsto constitucionalmente. Vigora atualmente um sistema em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo entre marido e mulher (ou entre os conviventes). Observem, também, que não se usa mais a expressão “pátrio poder”, mas sim poder familiar. E principalmente, não se faz mais distinção entre filho matrimonial, não- matrimonial ou adotivo, conforme veremos adiante de forma mais profunda adiante. ESTADO DE FAMÍLIA É a posição e a qualidade que uma pessoa ocupa na entidade familiar. Características • Intransferível: não se transfere por ato jurídico (nem em vida e nem na morte). • Irrenunciável: o estado depende exclusivamente da posição familiar que ocupa, independentemente da vontade da própria pessoa. • Imprescritível: por ser personalíssimo, não prescreve. • Universal: compreende todas as relações jurídicas que envolvem a família. • Indivisível: o mesmo estado familiar é ostentado em relações com a família e com terceiros (Ex.: uma pessoa solteira é assim considerada dentro e fora da família; a pessoa casada também assim é considerada tanto para a família, como para a sociedade em geral, etc.). • Correlatividade: ou seja, trata-se de um direito recíproco (Ex.: tio e sobrinho; avô e neto, etc.). Bem, iniciando a aula, vamos fornecer um “esqueleto” do que iremos desenvolver durante esta aula. CONTEÚDO DA AULA SOBRE DIREITO DE FAMÍLIA 1) Direito Matrimonial 2) Direito Convivencial 3) Direito Parental • Filiação • Adoção • Poder Familiar • Alimentos • Relações de Parentesco DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 55 4) Direito Assistencial • Guarda • Tutela • Curatela • Ausência Vamos abordar item por item de todos estes mencionados acima. Comecemos pelo Direito Matrimonial. DIREITO MATRIMONIAL O casamento é um direito fundamental que está previsto na Declaração Universal dos Direito Humanos. Trata-se não apenas da formalização ou legalização da união sexual, mas a conjunção de matéria e espírito entre dois seres de sexo diferente para atingirem a plenitude do desenvolvimento de sua personalidade, através do companheirismo e do amor (cf. Domingos Sávio Brandão Lima). Cada cônjuge reconhece e pratica a necessidade de vida em comum para ajudar-se mutuamente, suportar o peso da vida, compartilhar o mesmo destino e perpetuar sua espécie. O art. 226, caput da Constituição Federal afirma que a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. E a própria Constituição de 1988 reconhece expressamente três modelos de entidades familiares: a) Casamento (art. 226, §1° e §2°, CF/88) →→→ conjunto de pessoas unidas pelo casamento (cônjuges e filhos). b) União estável (art. 226, §3°, CF/88) →→→ trata-se da chamada entidade familiar. c) Famílias monoparentais (art. 226, §4°, CF/88) →→→ conjunto de pessoas formado por um só dos pais e sua prole (descendentes), também chamadas de famílias unilineares. CASAMENTO É a união legal, o vínculo jurídico, entre homem e mulher que visa o auxílio mútuo, material e espiritual, criando a família legítima. Trata-se de um negócio jurídico gerador de direitos e deveres entre o homem e a mulher como veremos adiante. É vinculado a normas de ordem pública e a observância das formalidades legais. Trata-se de um ato complexo (depende de celebração e inúmeras formalidades que veremos, previstas na lei, como o processo de habilitação, publicidade, etc.), intuitu personae, dissolúvel, realizado entre pessoas de sexo diferente exigindo a livre manifestação de vontade. É um ato privativo do representante do Estado (juiz de casamento), sendo que a falta de competência da autoridade celebrante pode ser causa de anulação, conforme veremos adiante (art. 1.550, VI, CC). O casamento civil no Brasil somente foi criado pelo Decreto n° 181, de 24 de janeiro de 1.890, isto com o advento da República e separação entre o Estado e a Igreja (anteriormente existia apenas o casamento religioso). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 66 NATUREZA JURÍDICA A doutrina diverge sobre a natureza jurídica do casamento. a) Teoria Contratualista: trata-se de um contrato civil, regido pelas normas comuns a todos os contratos, aperfeiçoando-se com algumas regras específicas, em relação à capacidade das partes (nubentes), impedimentos para realização do ato, vícios de consentimento, teoria das nulidades, etc. b) Teoria Institucionalista: o casamento é uma instituição social, refletindo uma situação jurídica que surge da vontade dos contraentes, mas cujas normas, efeitos e forma encontram-se pré-estabelecidos em lei. c) Teoria Eclética: autores mais modernos têm unido as duas outras correntes afirmando que o casamento é um ato complexo: trata-se de contrato específico do direito de família (na formação), mas de natureza institucional (uma vez que inicialmente depende da livre manifestação dos contraentes, mas que se completa com a celebração, que é um ato privativo do representante do Estado, conferindo direitos e deveres fixados em lei). CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO 1. Finalidade. Dentre os principais fins do casamento, temos: a) Instituição da família matrimonial. b) Satisfação do desejo sexual: integração fisiopsíquica. c) Legalização das relações sexuais (ligado também ao dever de fidelidade) ou do estado de fato. d) Procriação (não é essencial), proteção e educação dos filhos. e) Prestação de auxílio mútuo. f) Estabelecimento de deveres entre os cônjuges. 2. Direitos e Deveres de ambos os consortes (art. 1.566, CC) a) Fidelidade recíproca. b) Vida em comum, no domicílio conjugal: lembrando que a coabitação pode ser relativa; o que caracteriza o abandono é a intenção de não mais retornar ao lar. E não um afastamento temporário por motivode serviço. c) Mútua assistência (material, moral e espiritual), respeito e consideração. d) Proteção da prole: sustento, guarda e educação dos filhos. 3. Igualdade de Direitos e Deveres. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher (art. 226, 5°, CF). O art. 1.511, CC prevê que: “O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. a) ambos podem exercer a direção da sociedade conjugal, fixando o domicílio, representando a família, etc. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 77 b) qualquer um pode adotar, se quiser, o sobrenome do consorte – bem como conservar seu nome de solteiro, consignando-se na certidão de casamento. c) ambos devem proteger o consorte física e moralmente. d) ambos devem colaborar nos encargos da família. e) ambos podem exercer livremente profissão lucrativa. 4. Proibições. Nenhum dos cônjuges pode, sem autorização (escrita e expressa) do outro, exceto no regime da separação total de bens (art. 1.647, CC): a) Alienar, hipotecar ou gravar de ônus real os bens imóveis, ou direitos reais sobre imóveis alheios – trata-se de falta de legitimação (e não de incapacidade); concedida a anuência o cônjuge fica legitimado a praticar tais atos. b) Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens e direitos. c) Prestar fiança ou aval: procura-se evitar o comprometimento dos bens do casal. d) Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens ou rendimentos comuns ou dos que possam integrar futura meação. Observação: quando um dos cônjuges nega a outorga sem que haja um justo motivo, o Juiz pode suprir esta outorga. O mesmo ocorre quando não for possível para um cônjuge conceder a outorga (Ex.: doença). No entanto se um cônjuge vender o bem sem a outorga do outro e sem que haja suprimento do Juiz, a venda é anulável (prazo para anulação: até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal). 5. Princípios do Casamento a) Livre união incondicional dos futuros cônjuges. b) Monogamia (união exclusiva): só se permite casar validamente uma vez; para contrair novo casamento, é necessário dissolver o anterior. c) Solenidade do ato nupcial: presença de normas de ordem pública, sendo que sua inobservância impede a sua celebração e até mesmo a declaração de invalidade. Observação: a união estável entre homem e mulher, reconhecida pela Constituição como entidade familiar pode ser chamada de família natural (art. 226, §3°). Quando formada somente por um dos pais e seus filhos, denomina-se família monoparental ou unilinear (art. 226, §4°). 6. Condições legais. Há duas espécies: de existência do casamento e de sua validade. Vejamos: a) Existência jurídica do casamento: no Brasil exige-se a diversidade de sexos, além da celebração na forma da lei (não há casamento por instrumento particular) e do consentimento (não há casamento na ausência absoluta de consenso). Havendo transgressões a estas DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 88 exigências mínimas, o casamento é considerado inexistente; ou seja, simplesmente não houve matrimônio algum. b) Validade do ato nupcial: exige-se a aptidão física (puberdade, potência, sanidade) e intelectual (grau de maturidade e consentimento íntegro). Veremos isso com mais detalhes adiante. ESPONSAIS (ou promessa de casamento) O termo provém de sponsalia (Direito Romano), relativo à promessa que o sponsor (promitente – esposo) faz à sponsa (prometida – esposa). Trata-se de um compromisso de casamento entre duas pessoas desimpedidas, de sexo diferente, para melhor se conhecerem e aquilatar suas afinidades e gostos. É o que conhecemos por “noivado”. Não há qualquer obrigação legal de se cumprirem os esponsais, até porque é impossível obrigar alguém a declarar sua vontade de contrair núpcias, pois o consentimento livre é requisito essencial do casamento. No entanto o não cumprimento pode acarretar responsabilidade extracontratual, dando lugar a ação de indenização por ruptura injustificada. O dano pode ser patrimonial (Ex.: prejuízo com gastos do preparo de documentos, cerimônia, festa, viagem de núpcias, etc.) ou moral (Ex.: noiva abandonada no altar com declarações ofensivas, obrigada a demitir-se do emprego, etc.). Conheço um caso em que a noiva recusou uma promoção, que implicaria em mudança de residência para o exterior somente porque iria se casar em data próxima. O casamento acabou não se realizando por rompimento de seu noivo. A noiva ingressou com ação e ganhou uma boa indenização. Além disso, pode haver a obrigação de devolver determinados bens (Ex.: presentes de casamento, jóias, cartas, fotografias, etc.). No entanto devemos ter em mente que na realidade um casamento deve ter suas bases na afetividade, sem qualquer conotação de ganho ou vantagem. FORMALIDADES PARA O CASAMENTO O casamento é cercado de um ritual, exigindo diversas formalidades. O primeiro passo é requerer a instauração do processo de habilitação no Cartório de Registro Civil para constatar a existência ou não de impedimentos matrimonias e dar publicidade ao ato. Trata-se de uma atitude preventiva, a fim de se evitar que pessoas impedidas se casem. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do Ministério Público. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação será submetida ao Juiz. Os proclamas (edital que comunica ao público em geral a intenção dos noivos de contrair núpcias) são afixados nos Cartórios de ambos os nubentes. Decorridos 15 dias, o oficial entrega aos nubentes uma certidão de que estão habilitados a se casar dentro de 90 dias, sob pena de decadência. Se não houver casamento neste prazo, deve-se renovar todo o processo de habilitação. Em casos excepcionais pode haver dispensa da publicação (art. 1.527, parágrafo único, CC). Exemplos: grave enfermidade, parto iminente, viagem inadiável, etc. Na verdade é o Juiz quem irá apreciar o “motivo urgente”. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 99 Capacidade para o Casamento: Idade Núbil Capacidade nupcial é a aptidão para casar; é a autoridade conferida pela lei para quem deseja casar. Fica evidente que a capacidade para o casamento não se confunde com a capacidade civil. Dispõe o art. 1.517. CC que tanto o homem como a mulher atingem a idade núbil aos 16 anos. Todavia os menores púberes (maiores de 16 e menores de 18 anos), para casar, devem ser autorizados por seus pais ou representantes legais. Caso os pais não consintam com o casamento ou em havendo divergência entre eles, quando a razão para a denegação for injusta, poderá a autorização ser suprida pelo Juiz (art. 1.631, parágrafo único, CC). Dispõe o art. 1518, CC que até a celebração do casamento os pais, tutores e curadores podem revogar a autorização. Pergunto: Há alguma exceção à regra da capacidade matrimonial? Uma pessoa pode se casar antes dos 16 anos? Sim!! Mas é bom que se diga que são hipóteses excepcionais! A regra é que não pode! Vejamos. O art. 1.520, CC permite a autorização judicial do casamento do menor que ainda não atingiu a idade núbil em caso de gravidez ou para evitar o cumprimento de condenação criminal. Quanto à hipótese de gravidez, entendo que não há problema algum. Tenho certeza que muitos de vocês já ouviram falar de algum caso de uma adolescente que se casou antes dos16 anos porque estava grávida. Mas quanto à segunda hipótese (evitar cumprimento de pena), há um problema técnico. Esse dispositivo estava de acordo com o art. 107 do Código Penal, que previa, em seu inciso VII, que nos crimes contra os costumes (ex.: estupro), se a ofendida se casasse com o ofensor seria extinta a punibilidade deste. Ou seja, o Código Penal previa que se o homem se casasse com a ofendida, “o dano estaria reparado” e assim extinguia-se a sua punibilidade. Na prática isto significava que o processo criminal seria arquivado sem uma decisão de mérito. No entanto a Lei n° 11.106/05 revogou esse dispositivo penal. Não existe mais esta forma de extinção de punibilidade. Assim, mesmo que haja o casamento da menor (de 16 anos) com o ofensor, não se extingue mais a sua punibilidade; ou seja, o processo criminal continua seus trâmites normais. Portanto perdeu-se a finalidade do dispositivo no Direito Civil, uma vez que não mais existe a hipótese correlata no Direito Penal. Casamento Religioso com Efeitos Civis A Constituição Federal estatui (art. 226, §§ 1° e 2°) que o casamento é civil e gratuita a sua celebração, sendo que o religioso tem efeito civil. Melhor explicando. O art. 1.515, CC determina que o casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, produzindo efeitos a partir da data da celebração. Pode ser feito de dois modos: A) Habilitação prévia: os nubentes se apresentam previamente ao oficial do registro civil, que fornece aos noivos uma certidão válida por 90 dias para se casaram perante o ministro religioso. Após isso devem retornar e registrar o casamento religioso realizado. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1100 B) Habilitação posterior: após o casamento religioso os nubentes apresentam prova do ato religioso, além de todos os documentos exigidos no art. 1.525, CC, sendo que uma vez inscrito retroagirá seus efeitos à data da realização da cerimônia. Neste caso o registro funciona como uma convalidação. Em qualquer das hipóteses exige-se o processo de habilitação. Também é necessário que a cerimônia seja realizada por ministro de confissão religiosa oficialmente reconhecida (caso contrário a situação será de apenas uma união estável). Na prática isto não é utilizado. Exigem-se tantas formalidades para esta conversão, que fica mais fácil casar com as formalidades legais. Até porque a lei não dispensa os trâmites cartorários que antecedem a cerimônia nupcial; o que pode ser dispensada é a celebração das duas cerimônias (civil e religiosa). Documentos Necessários para o Casamento O requerimento de habilitação do casamento será preenchido de próprio punho por ambos os nubentes ou por terceiro (um procurador ou mandatário, com poderes específicos para o ato), dirigido ao oficial do Registro Civil, devendo ser instruído com os seguintes documentos: • Certidão de Nascimento (recente): com ela é que se prova a idade núbil (data e local de nascimento), filiação (comprovando parentesco e obstando eventuais infrações impeditivas), etc. Trata-se de um pressuposto de validade para o ato. • Memorial: trata-se da identificação dos nubentes, com declaração do estado civil, domicílio e residência atual dos nubentes e dos pais – define a competência para o casamento e os locais onde serão publicados os editais. • Autorização das pessoas sob cuja dependência legal estiverem (ambos os pais, tutor ou curador) ou suprimento judicial. Neste caso o procedimento é o previsto para a jurisdição voluntária (arts. 1.103 e seguintes do Código de Processo Civil). O termo jurisdição voluntária é usado para indicar quando não há uma disputa entre as partes, porém a intervenção do Juiz é necessária, exercendo-se a jurisdição no sentido de simples administração (contrapõe-se com a jurisdição contenciosa, caracterizada pela disputa entre duas ou mais partes, que pleiteiam providências opostas ao Juiz). Na aula 01 (Pessoa Naturais – Interdição) fizemos um “quadrinho comparativo”. Na dúvida, releiam. O suprimento judicial também é chamado, por alguns autores de suplementação da idade núbil. • Declaração de duas pessoas maiores (parentes ou estranhos), que atestem conhecer os nubentes e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar (são as testemunhas). • Certidão de óbito do cônjuge falecido, da anulação do casamento anterior ou do registro de sentença de divórcio. Evita-se com isso, o risco de eventual casamento de pessoas já são casadas. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1111 IMPEDIMENTOS E CAUSAS SUSPENSIVAS DO CASAMENTO Pode ocorrer que uma pessoa tenha capacidade para o casamento, mas seja impedida de se casar. Portanto, os chamados impedimentos matrimoniais se diferem da incapacidade matrimonial (art. 1.517 a 1.520, CC), que é dirigida à vontade e à idade núbil. Ex.: dois irmãos estão impedidos de se casar entre si em razão do laço de parentesco; porém eles têm capacidade para contrair núpcias com outra pessoa. Assim, além da capacidade, outros requisitos devem ser observados (decorrem da lei) para a validade e regularidade do casamento. O Código Civil estabelece duas classes de impedimentos ao casamento: A) Impedimentos Absolutamente Dirimentes (também chamados de impedimentos propriamente ditos ou impedimentos públicos). Eles estão previstos nos arts. 1.521 e 1.522, CC. Impedem a realização do casamento. Se, por um acaso, o casamento for celebrado nessas condições, ele será considerado inválido (casamento nulo: art. 1.548, II, CC), não sendo possível a sua ratificação ou convalidação. Os impedimentos dizem respeito à pessoa, ou seja, a lei obsta o casamento entre determinadas pessoas. B) Causas Suspensivas (anteriormente chamados de impedimentos impedientes). Estão previstas nos arts. 1.523 e 1.524, CC – Impedem a realização do casamento, mas se o casamento porventura ocorrer, o mesmo será considerado válido. No entanto os cônjuges sofrerão algumas sanções indiretas, como veremos adiante. Na verdade estas hipóteses apenas suspendem a capacidade nupcial (daí o nome: causas suspensivas); cessado o impedimento, pode haver casamento normalmente. Observação. O atual Código não trata mais dos impedimentos relativamente dirimentes, preferindo discipliná-los agora como causas de invalidade do casamento, conforme veremos no item “sistema de nulidades do casamento”. A) IMPEDIMENTOS DIRIMENTES ABSOLUTOS (OU PÚBLICOS) Estão previstos taxativamente no art. 1.521, I a VII, CC. São circunstâncias de fato ou de direito que proíbem o casamento e acarretam, caso desrespeitados, a nulidade do casamento (art. 1.548, caput e inciso II, CC). Podem ser classificados em: 1. Impedimentos em razão de Parentesco (art. 1.521, I a V, CC) a) Consanguinidade b) Afinidade c) Adoção 2. Impedimento em razão de Vínculo (art. 1.521, VI, CC) 3. Impedimento em razão de Crime (art. 1.521, VII, CC) Vamos agora analisar cada uma dessas hipóteses. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1122 1. Impedimentos Resultantes de Parentesco (art. 1.521, I a V, CC) a) Consanguinidade. Estão proibidos de se casar: • Os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural (Ex.: pai com filha, na linha matrimonial ou extramatrimonial) ou civil (adoção) – inciso I. Evitam a constituição de relações incestuosas, por questões morais e biológicas. Não há limite de graus para a existênciadeste impedimento. Lembrando que parentesco civil é o decorrente de adoção. • Os irmãos, bilaterais (germanos) ou unilaterais (mesmo pai → consanguíneos; mesma mãe → uterinos) e os demais colaterais, até o terceiro grau, inclusive. Ainda na aula de hoje (Direito Parental) e também na próxima (Direito das Sucessões) veremos o quadro completo dos colaterais. Adiantando um pouco a matéria: colaterais são parentes que descendentes de um tronco comum, sem descenderem uns dos outros. Exemplos: irmãos (segundo grau), tios e sobrinhos (terceiro grau), primos (quarto grau), etc. Há certa divergência quanto à possibilidade do casamento de colaterais em terceiro grau (Ex.: tio e sobrinha ou tia e sobrinho), conhecido como casamento avuncular. Alguns autores entendem que o Dec. Lei n° 3.200/41 e a Lei n° 5.891/73 ainda estão em vigor e que as mesmas permitiriam o casamento, desde que precedido de exame médico. Isto porque a Lei Geral (Código Civil) não revogou a Lei Especial (Dec. Lei n° 3.200/41). Já outros autores entendem que o Código Civil, por ser lei mais nova, revogou tais dispositivos (bem mais antigos), impedindo tal casamento. Costumo dar a seguinte orientação aos meus alunos: para questões objetivas deve-se adotar o disposto no Código Civil, que não permite o casamento entre colaterais até terceiro grau, inclusive; já para questões dissertativas devemos indicar as duas posições doutrinárias. A jurisprudência começa a se inclinar pela possibilidade do casamento, desde que precedido do exame médico (laudo apresentado por dois médicos de confiança do juízo atestando que o ato nupcial não será prejudicial à prole). No entanto os primos podem se casar, pois são colaterais de 4° grau, não havendo proibição legal alguma em relação a eles. b) Afinidade. Estão proibidos de se casar: • Os afins em linha reta. A afinidade é o vínculo que se estabelece entre um cônjuge ou companheiro e alguns parentes do outro. Uma vez estabelecida a afinidade em linha reta (ex.: sogro e nora, sogra e genro, padrasto ou madrasta com enteada ou enteado) não se extingue nem mesmo pela dissolução do casamento ou união estável que a originou. Logo, é proibido o casamento do sogro com a viúva de seu filho. Não há limites de graus na linha reta. Na linha colateral não há qualquer impedimento, permitindo-se o casamento de uma pessoa com seu ex-cunhado. c) Adoção. Estão proibidos de se casar: • O adotante com adotada – inciso I. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1133 • O adotante com quem foi o cônjuge do adotado e o adotado com quem foi o cônjuge do adotante – inciso III. • O adotado com outro filho (natural ou adotado) do adotante (pois neste caso eles passariam a ser considerados como irmãos) – inciso V. 2. Impedimentos em razão de Vínculo (art. 1.521, VI, CC) • As pessoas casadas – proibindo, assim a bigamia (ou até a poligamia) e prestigiando a monogamia – inciso VI. Não há proibição em se tratando de casamento religioso não inscrito no Registro Civil. A existência de casamento no exterior, ainda que não registrado no Brasil, é motivo para gerar impedimento (jurisprudência STJ – RDR 24/266). 3. Impedimento em razão de Crime (art. 1.521, VII, CC) • O cônjuge sobrevivente com o condenado como delinquente no homicídio ou tentativa de homicídio, contra o seu consorte - inciso VII. Trata-se da conivência moral com o crime. Não há necessidade de cumplicidade entre o delinquente e o cônjuge sobrevivente. No entanto deve haver a condenação criminal. Se houver absolvição ou extinção de punibilidade (Ex.: prescrição), não haverá o impedimento. Só há impedimento no homicídio doloso, pois no culposo não houve intenção de matar um para casar com o outro. O casamento realizado em qualquer das hipóteses acima o torna nulo (art. 1.548, CC). Os impedimentos matrimoniais podem ser alegados por qualquer pessoa maior e capaz, até o momento da celebração do casamento. Deve haver declaração escrita com provas do fato alegado (art. 1.523, CC). Se o juiz ou o oficial de registro tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo. Em qualquer caso, os nubentes podem fazer prova contrária e promover ações cíveis e criminais contra o oponente de má-fé (art. 1.530, parágrafo único, CC). Após o casamento, a alegação deve ser feita por meio de ação de nulidade de casamento, a ser promovida por qualquer interessado ou pelo Ministério Público. B) CAUSAS SUSPENSIVAS (arts. 1.523/1.524, CC) Anteriormente também eram usados os termos “impedimentos impedientes” ou “impedimentos proibitivos”. Como estes itens não são tratados como impedimentos (pois não proíbem de forma definitiva o casamento), modernamente usa-se apenas o termo “causas suspensivas”. Podemos conceituá-las como sendo as circunstâncias que obstam à realização do casamento até que sejam tomadas certas providências, ou até que se cumpra determinado prazo, ou que acarretam a imposição do regime de separação de bens. A infração a esse dispositivo não desfaz o casamento (não é caso de anulação ou nulidade). Apenas, pela irregularidade, sofrem os nubentes certas sanções previstas em lei. Esses impedimentos são DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1144 estabelecidos no interesse dos filhos do casamento anterior; no intuito de se evitar a confusão de sangue e/ou do patrimônio dos filhos com o da nova sociedade conjugal. São eles (art. 1.523, CC): • O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros (a não ser que prove a inexistência de prejuízo para os herdeiros) - evita confusão do patrimônio do bínubo – inciso I. Neste caso há dupla sanção: a) imposição de regime de separação obrigatória de bens (art. 1.641, I, CC); b) hipoteca legal de seus imóveis em favor dos filhos (art. 1.489, II, CC). • A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal, salvo se antes de findo esse prazo der à luz algum filho ou provar a inexistência de gravidez (costumamos dizer em latim: cessante causa, tollitur effectus), sob pena de casar sob regime da separação obrigatória de bens – inciso II e parágrafo único. Evita dúvida sobre a paternidade de filhos (chamamos de turbatio sanguinis - confusão sanguínea). • O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal, sob pena de imposição do regime de separação de bens – inciso III. Evita a confusão dos patrimônios. A sanção é a separação obrigatória de bens, exceto se for provado que não houve prejuízo para o outro cônjuge. • O tutor ou curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados, ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, se não estiverem saldadas as respectivas contas (inciso IV). Trata-se de impedimento destinado a afastar a coação moral que possa ser exercida por pessoa que tem ascendência e autoridade sobre o ânimo do incapaz, resultando em um casamento por interesse. A sanção é a separação obrigatória de bens, exceto se for provado que não houve prejuízo para o tutelado ou curatelado. Observações 01) Como vimos, nas hipóteses previstas nos incisos I, III e IV é permitido aos nubentes solicitar ao Juiz que não sejam aplicadas as causas suspensivas, desde que provada a inexistência de prejuízo (art. 1.523, parágrafo único, CC), ou seja, desde que provada a inexistência ou impossibilidade de confusão patrimonial ou de filiação.02) Por interessar exclusivamente à família, as causas suspensivas só poderão ser suscitadas pelos (art. 1.524, CC): a) ascendentes e descendentes (em linha reta), consanguíneos ou afins; b) colaterais em segundo grau (irmãos ou concunhados). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1155 CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO Celebra-se o casamento perante o juiz de casamentos, com toda a publicidade, de portas abertas. Também é valida a celebração realizada perante ministro de qualquer confissão religiosa que não contrarie a ordem pública ou os bons costumes. Os nubentes, munidos da certidão de habilitação devem entrar em contato com a autoridade que presidirá a cerimônia, requerendo a designação do dia (qualquer dia, inclusive domingo e feriado), hora (dia ou noite) e local da celebração (art. 1.533, CC). A lei exige a presença de duas testemunhas que podem ser parentes ou não dos noivos. Se for em casa particular ou se um dos nubentes não souber ou não puder escrever, o número de testemunhas sobe para quatro (art. 1.534, CC). O presidente do ato, ouvindo dos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento nos seguintes termos: “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”. Estes termos sacramentais estão previstos no art. 1.535, CC. Logo depois do casamento será lavrado o respectivo assento no livro de registro. É interessante acrescentar que a celebração será imediatamente suspensa se um dos contraentes: recusar a solene afirmação de sua vontade; declarar que sua manifestação não é livre e espontânea; manifestar-se arrependido. Se houver a suspensão não é possível a retratação do arrependimento no mesmo dia. Ainda que seja por pura “brincadeira” (de mau gosto, diga-se de passagem), suspende-se a celebração para o dia seguinte (art. 1.538, CC). CASAMENTO POR PROCURAÇÃO (art. 1.542, CC) Embora seja imprescindível a presença real e simultânea dos contraentes, o Código Civil permite o casamento por procuração, desde que um dos nubentes não possa estar presente. A procuração deve ser por instrumento público, com poderes especiais para contrair casamento, mencionando o regime de bens. Se ambos não puderem comparecer, deverão nomear procuradores diversos. O prazo do mandato não poderá exceder a 90 dias. A procuração pode ser revogada a qualquer tempo antes da celebração do casamento, mas também será exigido o instrumento público para a revogação (princípio da atração das formas – a mesma forma exigida para o ato deverá ser usada para a revogação). PROVAS DO CASAMENTO Prova-se o casamento no Brasil pela sua certidão do registro civil (prova direta específica), segundo o art. 1.543, CC. Sendo justificada a perda ou a falta de certidão, o casamento é provado por qualquer outra espécie de prova lícita. É a chamada posse de estado de casados:, que um meio de prova indireto. É indispensável a demonstração da impossibilidade de se obter a prova específica pela perda ou falta do registro. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1166 CASAMENTO NUNCUPATIVO (ou in extremis vitae momentis, ou in articulo mortis) Nuncupativo (do latim nuncupare, ou seja, dizer de viva voz), ocorre quando um dos contraentes nubentes se encontra em iminente risco de vida ou à beira da morte (art. 1.540, CC), não estando presente a autoridade competente para presidir o ato. Por esse motivo, dispensam-se as formalidades legais do ato (processo de habilitação, proclamas e até mesmo a presença da autoridade competente, pois os contraentes não a localizaram). Basta que os contraentes manifestem o propósito de se casar e, de viva voz, recebam um ao outro por marido e mulher. É necessária a presença de seis testemunhas sem parentesco (na linha reta e colateral até 2° grau) e posterior habilitação e homologação judicial. Após a morte do enfermo devem comparecer diante da autoridade judicial competente, declarando por termo que foram convocadas pela pessoa que corria perigo de morte, mas estava consciente da sua vontade e que os contraentes, de forma livre e espontânea, aceitaram o casamento. Se a pessoa convalescer, basta que ratifique o casamento na presença da autoridade competente (não é necessário um novo casamento). Se não for ratificado o casamento não terá valor algum. REGIME PATRIMONIAL DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES Um casamento resulta em comunidade de vidas, em uma sociedade conjugal. Por ser uma “sociedade” há regras disciplinadoras das relações econômicas das pessoas envolvidas. Daí a importância da escolha do regime de bens. Seu objetivo é disciplinar o patrimônio dos cônjuges antes e na vigência do casamento, de acordo com a sua vontade, mas dentro dos limites legais. Trata-se do conjunto de normas que regem as relações patrimoniais entre marido e mulher na constância do casamento, quer entre marido e mulher, quer perante terceiros. Em síntese, é o estatuto patrimonial dos cônjuges. Como regra os cônjuges têm liberdade para escolher qual o regime de bens vigorará entre eles desde que não desrespeite a lei. Na habilitação de casamento, os nubentes podem optar por um dos regimes previstos em lei, que começa a vigorar na data da celebração do casamento. PRINCÍPIOS a) Variedade de Regime de Bens. Tem por objetivo colocar à disposição dos interessados regimes de bens, oferecendo quatro espécies de regimes: comunhão universal, comunhão parcial (ou regime legal), separação e participação final dos aquestos (que substituiu o regime dotal). Lembrando que em algumas situações a lei impõe o regime de bens. Portanto faz-se a distinção entre separação total de bens convencional e a separação total de bens legal. Além disso, os contraentes podem combinar as regras do regimes entre si, criando um sistema misto. Analisaremos, logo adiante, cada um destes regimes que pode ser adotado pelos cônjuges. b) Liberdade dos Pactos Antenupciais. Pacto antenupcial é um contrato solene, realizado antes do casamento, por meio do qual os nubentes escolhem o regime de bens que vigorará durante o matrimônio. Tem o objetivo DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1177 de dar aos nubentes a opção de “estipular, quanto a seus bens, o que lhes aprouver”, desde que seja antes da celebração do casamento (art. 1.639, CC) e não contrarie a lei. Os nubentes podem estipular cláusulas, atinentes às relações econômicas, desde que respeitados os princípios da ordem pública; devem ser feitos por escritura pública e deve ser seguido ao casamento (art. 1.653, CC). Resumindo: é nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento. Se os nubentes nada convencionarem ou sendo nula a convenção, vigorará o regime da comunhão parcial (regime legal – art. 1.640, CC). Se optarem por qualquer outro regime, será obrigatório o pacto antenupcial por escritura pública. O pacto só produz efeitos a partir do casamento. Para que produza efeitos perante terceiros é necessário o registro no Cartório de Registro de Imóveis do domicílio do casal. O pacto antenupcial não admite cláusula que desrespeite disposição absoluta de lei (art. 1.655, CC), sendo nula eventual disposição que prejudique eventuais direitos conjugais (ex.: cláusula que dispense o cônjuge do dever de fidelidade) ou paternos (ex.: cláusula que prive um dos cônjugesdo poder familiar). Por tal motivo se costuma dizer que o princípio da livre estipulação não é absoluto, admitindo algumas restrições. Ainda sobre este tema a doutrina afirma que há a possibilidade do futuro casal criar o seu próprio regime de bens, híbrido e distinto dos regimes disciplinados pelo Código. Assim, nosso sistema faculta que o casal gere um regime de bens exclusivo, que pode ser misto e combinado, desde que observadas as situações previstas no art. 1.641, CC. c) Mutabilidade Justificada do Regime Adotado. Atualmente a lei permite a mutabilidade do regime adotado, desde que haja autorização judicial, atendendo a pedido motivado de ambos os cônjuges, após apuração de procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros (art. 1.639, §2°, CC). Portanto, a alteração do regime não pode ser obtida unilateralmente, nem em um processo litigioso, promovido por apenas um cônjuge. Alguns autores entendem que a exigência de expor os motivos do pedido de alteração do regime e comprovar a veracidade das razões estaria em desacordo com a lei; seria contra o princípio não-intervencionista, pois trata-se de assunto íntimo e privado que somente diz respeito ao casal (ferem as garantias constitucionais da personalidade, da intimidade e da privacidade – art. 5°, inciso X, CF/88). No entanto trata-se de uma corrente doutrinária (na qual me filio), mas que não deve ser aceita em um concurso público. Outro problema: pessoas que contraíram núpcias antes do atual Código poderão alterar seu regime de bens (o Código anterior não previa tal possibilidade) ou esta regra aplica-se apenas aos casamentos contraídos após a vigência do atual Código Civil? Há duas correntes doutrinárias sobre o tema. No entanto entendo que a tendência é permitir esta prerrogativa em ambas as situações, até mesmo em homenagem ao princípio constitucional da igualdade. Aguardemos as decisões definitivas sobre o tema em nosso direito vivo. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1188 Resumindo os requisitos: a) pedido formulado por ambos os cônjuges; b) autorização judicial; c) razões relevantes; d) ressalva dos direitos de terceiros. Disposições Gerais O art. 226, §5° da Constituição Federal consagrou a isonomia entre os cônjuges. Atualmente o sustento da família é da responsabilidade da entidade conjugal. Os arts 1.642 e 1.643, CC estabelecem quais os atos que podem ser praticados livremente pelo marido ou pela mulher, qualquer que seja o regime de bens. Por outro lado o art. 1.647, CC estabelece quais os atos que o cônjuge não pode praticar sem a autorização do outro (salvo na separação absoluta de bens). Trata-se de falta de legitimação da pessoa casada para realizar determinados negócios: • alienar (vender, doar, etc.) ou gravar de ônus real (hipotecar, constituir usufruto, etc.) os bens imóveis; • pleitear como autor ou réu acerca desses bens ou direitos; • prestar fiança ou aval; • fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. Essa limitação tem o fim de evitar o comprometimento dos bens do casal. A autorização do cônjuge pode ser suprida judicialmente quando negada sem justo motivo por um dos cônjuges, ou quando for impossível sua concessão. A falta de autorização, não suprida pelo Juiz, quando necessária, tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear a anulação até 02 anos depois de terminada a sociedade conjugal. CLASSIFICAÇÃO DOS REGIMES Antes de analisarmos as espécies de regimes de bens, vamos fazer uma pequena classificação. Os regimes podem ser divididos em: 1. Regimes Legais: são os impostos pela lei. a) Comunhão Parcial de Bens (arts. 1.640 e 1.658 até 1.666, CC): fixado diante do silêncio das partes (embora possa ser também escolhido pelos cônjuges). b) Separação Obrigatória de Bens (arts. 1.641, I a III, 1.667 até 1.671, CC): fixado pela lei, pois se encaixa em uma situação em que não é dada aos contraentes a opção de escolha. 2. Regimes Convencionais: vigoram por livre escolha dos nubentes, com obrigatoriedade do pacto antenupcial. a) Comunhão Universal de Bens (arts. 1.667 até 1.671, CC). b) Separação Parcial de Bens (arts. 1.640 e 1.658 até 1.666, CC). c) Participação Final nos Aquestos (arts. 1.672 a 1.686, CC). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1199 Vejamos agora cada um dos regimes patrimoniais de bens de forma pormenorizada. A) REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL (LEGAL OU LIMITADA). Arts. 1.658 a 1.666, CC. O regime legal da comunhão parcial de bens é também chamado de comunhão de aquestos. Aquestos são os bens adquiridos a título oneroso pelos cônjuges na constância do casamento. Este regime é o que vigora no silêncio das partes (que não realizaram o pacto antenupcial) ou no caso de nulidade do pacto antenupcial (neste caso o regime da comunhão parcial também é chamado de supletivo). Compreende, em princípio, três patrimônios distintos: um só do marido antes do casamento; outro só da mulher antes do casamento e um terceiro de ambos, adquiridos a título oneroso durante o casamento. A administração destes cabe a qualquer um dos cônjuges (art. 1.663, CC). Após o casamento, os bens adquiridos se comunicam entre os cônjuges. Também se comunicam as benfeitorias realizadas em bens particulares de cada cônjuge. Exemplo: marido tinha uma casa; após o casamento reformou esta casa, construindo piscina, garagem, etc. Também se comunicam os frutos percebidos na constância do casamento, mesmo que o bem seja particular. Exemplo: esposa possui uma casa que está alugada; após o casamento os valores dos aluguéis se comunicam entre os cônjuges. Presumem-se (presunção relativa, pois permite prova em contrário) que os bens móveis foram adquiridos na constância do casamento, se não se provar que o foram em data anterior (art. 1.662, CC). No entanto, ficam excluídos da comunhão de bens que cada cônjuge possuía antes de casar, bem como os que vierem depois, por doação ou sucessão (e os sub-rogados em seu lugar). Exemplo: Duas pessoas se casam sob o regime da comunhão parcial. Eles nada tinham antes de se casar. Após alguns anos, o pai da mulher, muito rico, falece. Os bens que ela receberá pela herança (sucessão) serão somente dela, não se comunicando ao marido. Se os bens possuídos antes do casamento pertencem a um dos cônjuges, é óbvio que não se comunicam os adquiridos com o produto da venda deles (chamamos isso de sub-rogação). Também não se comunicam os bens de uso pessoal, os instrumentos de profissão e os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge. Por outro lado cada consorte responde pelos próprios débitos anteriores ao casamento. Exemplo: antes do casamento o marido praticou um ato ilícito qualquer. Após isso ele se casa. Na constância do casamento ele é condenado a reparar o dano. Ele deve fazer isso com o patrimônio que tinha antes do casamento. O patrimônio adquirido pelo casal, em tese, não responderá pela dívida. Se um cônjuge ganhar na loteria, apesar de não ter sido adquirido a título oneroso (trata-se de um fato eventual), haverá a comunicação entre ambos. Da mesma forma, as doações e a herança em favor de ambos os cônjuges (Ex.: pai da noiva doa uma casa para ambos). Uma última observação, apenas para reforçar o que já ficou consignado mais acima. Digamos que uma mulher seja proprietária de um bem DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2200imóvel e se case pelo regime da comunhão parcial. Passados alguns anos ela deseja vender este imóvel particular. Indaga-se: ela necessita da outorga marital para esta venda? Resposta: embora o bem seja somente dela, ela necessitará desta outorga nos termos do art. 1.647, CC que trata sobre as disposições gerais dos regimes de bens entre os cônjuges. No entanto se o marido não puder ou não quiser fornecer sem um motivo plausível, o juiz pode suprir tal outorga, nos termos do art. 1.648, CC. B) REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL. Arts. 1.667 a 1.671, CC. Neste regime os nubentes podem estipular a comunicação de todos os seus bens, presentes ou futuros, adquiridos antes ou depois do casamento, ainda que adquiridos em nome de um só deles, bem como as dívidas posteriores ao casamento. Em princípio só há um patrimônio. Instaura-se o estado de indivisão, passando a ter cada cônjuge o direito à metade ideal do patrimônio comum, constituindo uma só massa. Os noivos devem celebrar pacto antenupcial para adotar este regime matrimonial. O art. 1.668, CC enumera os bens que ficam excluídos da comunhão, mesmo que universal. Exemplo: os bens doados ou legados com cláusula de incomunicabilidade, dívidas anteriores ao casamento (exceto aquelas contraídas para os preparativos do casamento e os reverteram para ambos após o casamento), os bens de uso pessoal, os livros e os instrumentos de trabalho, os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge, etc. C) REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS. Arts. 1.672/1.686, CC. Trata-se de uma nova espécie de regime de bens, estabelecido pelo atual Código Civil. É próprio para cônjuges que exercem atividades empresariais distintas, para que possam ter maior liberdade de alienação de seus pertences dando maior agilidade a seus negócios. Os noivos devem celebrar pacto antenupcial. Costuma-se dizer que é um regime híbrido, ou seja, um misto de dois regimes: durante a constância do casamento vigoram as regras semelhantes ao regime da separação total de bens; dissolvida a sociedade conjugal, em tese, vigoram as regras da comunhão parcial. Nesse regime há formação de massa de bens particulares incomunicáveis durante o casamento, mas que se tornam comuns quando da dissolução do matrimônio. Há dois patrimônios: a) Inicial – Trata-se do conjunto de bens que cada cônjuge possuía antes de se casar e os que foram por ele adquiridos, a qualquer título, durante o casamento. A administração dos bens é exclusiva de cada cônjuge, podendo aliená-los livremente se forem móveis (art. 1.673, parágrafo único, CC). Em se tratando de bens imóveis um não poderá sem a autorização do outro realizar os atos previstos no art. 1.647, CC (alienar, hipotecar, prestar fiança, etc.). No Antes da partilha não se fala em meação, mas de parte ideal. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2211 entanto, no pacto antenupcial pode-se convencionar a livre disposição também dos bens imóveis, desde que particulares (art. 1.656, CC). Observem que na constância do casamento há apenas uma expectativa de eventual e futuro direito à meação. b) Final – Com a dissolução da sociedade conjugal apura-se o montante dos aquestos (já vimos que aquestos são os bens adquiridos a título oneroso pelos cônjuges na constância do casamento), excluindo-se da soma o patrimônio próprio (Ex.: bens anteriores ao casamento e os sub-rogados em seu lugar, obtidos por herança, legado ou doação, etc.), efetuando-se a partilha e conferindo a cada consorte, metade dos bens amealhados pelo casal. Se os bens forem adquiridos pelo trabalho conjunto, cada um dos cônjuges terá direito a uma quota igual no condomínio. Acrescente-se que neste regime, se houver o evento “morte”, o cônjuge sobrevivente, além da meação terá direito à herança. Este tema será analisado com maior profundidade na próxima aula. O direito à meação não é renunciável, cessível ou penhorável na vigência do regime matrimonial (art 1.682, CC). Participação final nos Aquestos X Comunhão Parcial Na comunhão parcial comunicam-se todos os bens adquiridos onerosamente durante o casamento. Na participação, em princípio, não há comunicação dos bens durante o casamento (salvo se forem advindos do trabalho comum). Isso só ocorre após a dissolução da sociedade conjugal. D) REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS. Arts. 1.687/1.688, CC. Por esse regime cada consorte conserva, com exclusividade, o domínio, posse e administração de seus bens, presentes e futuros, havendo incomunicabilidade dos mesmos, não só dos que cada um possuía ao se casar, mas também dos que vierem a adquirir na constância do casamento. Não se comunicam, outrossim, os débitos anteriores ou posteriores ao casamento. Existem dois patrimônios distintos: o do marido e o da mulher. Qualquer um dos cônjuges tem patrimônio próprio e pode, sem autorização do outro, livremente administrar, alienar ou gravar seus bens, sejam eles móveis ou imóveis. Além disso, pode pleitear como autor ou réu acerca de bens e direitos imobiliários, prestar fiança ou aval e fazer doações. Trata-se de uma liberdade inerente ao próprio estilo de vida em comum, sem a ligação patrimonial, não havendo sentido permanecer a necessidade de autorização do outro cônjuge para atos que não seriam de sua competência. No entanto os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal, salvo disposição diversa em pacto antenupcial, onde podem estabelecer a quota de cada um. Podem até mesmo estabelecer a dispensa de um deles nas despesas do casal e fixar regras sobre a administração dos bens. Espécies a) Convencional – é aquele que os nubentes adotam, por convenção antenupcial; podem estipular a comunicabilidade de alguns bens, normas sobre a administração, colaboração da mulher, etc. Pode ser dividido em: DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2222 • Pura ou Absoluta – incomunicabilidade de todos os bens adquiridos antes e depois do matrimônio, inclusive frutos e rendimentos. • Limitada ou Relativa – incomunicabilidade dos bens, mas comunicam os frutos e rendimentos futuros. b) Legal (ou obrigatório) – é aquele que a lei impõe, por razões de ordem pública ou como sanção, não havendo a comunhão de aquestos (art. 1.641, CC). Por ser imposto pela lei não há necessidade de pacto antenupcial. São suas hipóteses: • Pessoa que contraiu casamento com inobservância das causas de suspensão (art. 1.523, CC). • Pessoa (ambos os sexos) maior de 70 anos (redação dada pela Lei no 12.344/10). Particularmente acho uma “bobagem” este dispositivo. Trata-se de uma evidente capitis diminutio (esta expressão é traduzido como “diminuição de autoridade”, geralmente humilhante ou vexatória) imposta pelo Estado. O dispositivo, em tese, visa impedir o famoso “golpe do baú”, ou seja, obstar o casamento realizado exclusivamente por interesses econômicos (Ex.: pessoa maior de 70 anos se casa com jovem de 30 anos). E daí? Por que o Estado quer se intrometer nesta situação? As duas pessoas são maiores, capazes, e têm maturidade suficiente para entender o que estão fazendo. Entendo que se trata de uma norma restritiva de direitos, ferindo a Constituição em relação à dignidade da pessoa humana, intimidade e igualdade, presumindo, indevida e indistintamente, a incapacidade das pessoas maiores de 70 anos. No entanto, se cair algo na prova, coloquem como está na lei. No entanto há uma mitigação na regra: se o casamento foi realizado após uma união estável de mais de dez anos consecutivos ou da qual tenham nascido filhos, não se aplica esta regra. • Aqueleque depender de suprimento judicial para casar. Mesmo havendo a autorização do Juiz, a lei determina que o casamento deva ser com separação de bens. Observação: A jurisprudência tem admitido a comunicação dos bens adquiridos na constância do casamento pelo esforço comum do casal, comprovada a existência da sociedade de fato. Além disso, temos a Súmula 377 do Supremo Tribunal Federal – “No regime da separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”. Atualmente esta Súmula tem prevalecido apenas em relação aos bens adquiridos pelo esforço comum dos cônjuges, na separação legal de bens. No entanto, em relação ao regime da separação total convencional de bens este regime continua intocado, pois ele foi escolhido de forma voluntária pelos nubentes, sendo de seu interesse (e não imposto pelo Estado). A Súmula, aparentemente estranha, foi editada para corrigir uma injustiça. Exemplo clássico: Digamos que uma jovem de 15 anos, com pouco ou nenhum recurso financeiro tenha engravidado. O Juiz permitiu o DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2233 casamento, mas com a ressalva da separação legal de bens. Passados muitos anos o casal, com esforço comum, passou a adquirir vários bens. Mas, como geralmente acontecia na ocasião, os bens eram colocados somente no nome do marido (lembrem-se antigamente o divórcio não existia e que até antes da edição do atual Código, o homem era o “chefe da sociedade conjugal”). Chegando ao fim da vida a mulher está pobre, sem bem algum em seu nome; enquanto isso o marido está “rico”, pois todos os bens foram colocados em seu nome. Se houvesse divórcio, tudo ficaria com o marido (o casamento era por separação total e tudo em seu nome). Assim, por vezes a mulher se submetia a caprichos do marido, pela total dependência econômica. Com a Súmula, passou-se a entender que mesmo no regime de separação legal de bens haveria a comunicação dos bens adquiridos na constância do casamento. Portanto até hoje a doutrina entende que no caso de separação legal (ou obrigatória) de bens aplica-se o regime da comunhão parcial. Assim, comprovada a conjunção de esforços para a aquisição de bens, estes devem ser partilhados quando da dissolução do casamento. Outra indagação: é possível a alteração do regime de bens no caso de pessoas casadas sob o regime de separação legal de bens? Não há uma resposta definitiva. Há quem entenda que é proibido. Pessoalmente entendo que em algumas situações é possível. Ex.: pessoa se casou com autorização judicial, pois ainda não tinha a chamada “idade núbil”. Passada esta idade, qual a justificativa de impedir os cônjuges de alterar o regime de bens, anteriormente imposto pela lei. Entendo que neste caso não haveria problema. Obs: Havendo a morte de um dos cônjuges, não haverá meação entre eles. No entanto, se o regime for de separação convencional o cônjuge será considerado herdeiro. Veremos esse tema melhor na próxima aula (Direito das Sucessões). DOAÇÕES ANTENUPCIAIS Nossa lei admite as doações recíprocas, ou de um ao outro nubente, ou mesmo por terceiro, feitas por pacto antenupcial, mediante escritura pública, desde que não excedam à metade dos bens do doador, exceto nos casos de separação obrigatória (arts. 546 e 1.668, IV, CC). A eficácia das doações antenupciais subordina-se à realização de evento futuro e incerto (condição suspensiva – casamento). No entanto não pode haver doações entre cônjuges se: o regime for o da separação obrigatória, o regime for o da comunhão universal (os bens já integram o patrimônio comum) ou se a doação ferir a legítima dos herdeiros necessários. Observação: atualmente, em face da igualdade entre homem e mulher, não se fala mais em bens reservados da mulher que seriam os adquiridos exclusivamente com o produto de seu trabalho. Eles eram excluídos da comunhão, independentemente do regime de bens adotado. O atual Código não se refere mais a esses bens. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2244 • Comunhão Parcial • Comunhão Universal REGIME 1) Convencional a) Plena (total) DE BENS • Separação b) Limitada (parcial) 2) Legal • Participação Final nos Aquestos TÉRMINO DA SOCIEDADE CONJUGAL E DO CASAMENTO Observem, inicialmente, que há uma diferença sutil entre sociedade conjugal e casamento. Sociedade Conjugal é um instituto menor que o casamento, apontando apenas o regime patrimonial de bens e os frutos civis do trabalho; é o complexo de direitos e deveres dos cônjuges. As causas terminativas da sociedade conjugal são (art. 1.571, CC): • Morte (real ou presumida – art. 1.571, §1°, parte final, CC – na dúvida, revejam aula sobre Pessoas) de um dos cônjuges. • Nulidade ou Anulação do casamento. • Separação Judicial (este instituto se tornou polêmico, após a edição da EC n° 66/2010, conforme veremos adiante). • Divórcio. Já o Casamento (ou vínculo matrimonial) é um instituto mais amplo que a sociedade conjugal, regulando a vida dos consortes, suas relações e obrigações recíprocas (materiais e morais) e os deveres para com a família e a prole. Sua dissolução apenas se dá com: • Morte (real ou presumida) de um dos cônjuges. • Nulidade ou Anulação do casamento. • Divórcio. CUIDADO!! Às vezes o examinador pode fazer perguntas parecidas. Vejam como é sutil: a) Como se dissolve um casamento? Resposta: Pela nulidade ou anulabilidade, morte ou divórcio! b) Como se dissolve um casamento válido? Resposta: Pela morte e pelo divórcio! Ora, se o casamento é válido, não poderia ser dissolvido por eventual nulidade ou anulabilidade! SISTEMA DE NULIDADES DO CASAMENTO O casamento realizado com observância dos requisitos legais gera os efeitos previstos na lei, que geralmente também são os desejados pelos contraentes. Porém, é possível que o casamento possua algum vício de maior DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2255 ou menor gravidade, capaz de gerar a nulidade absoluta do matrimônio, ou possibilitar a declaração de sua anulabilidade. Como já vimos, são três os elementos indispensáveis para a existência do casamento: Diversidade de sexos (um homem e uma mulher). Consentimento de ambos os nubentes (art. 1.538, CC). Celebração por autoridade competente. Ausente um desses elementos o casamento não existe juridicamente (casamento inexististe), não resultando efeitos. Segundo a doutrina, nestes casos, o casamento sequer é nulo, pois não chegou a existir. Se o fato alegado depender de provas, será necessário um processo judicial para declarar o casamento inexistente. Por outro lado temos as invalidades matrimoniais. O termo “invalidade” abrange a nulidade e a anulabilidade do casamento. O casamento existe. Mas pode ser considerado nulo ou anulável, dependendo da hipótese. Veremos melhor mais abaixo que quando um casamento se realiza com infração de impedimento imposto pela ordem pública, em virtude de sua ameaça à estrutura da sociedade ou pelo fato de ferir os princípios básicos em que ela se assenta, o casamento será nulo. Já em outros casos a infração se revela mais branda e não atenta contra a ordem pública, e neste caso o legislador apenas disponibiliza aos interessados, a possibilidade de anulação do matrimônio. Assim, verificamos que o sistema de nulidades adotado no direito familiar, embora não adote na íntegra os princípios e critérios do regimede nulidades dos negócios jurídicos, também distingue os atos em nulos ou anuláveis. A declaração de nulidade do casamento torna-o sem validade desde o instante de sua celebração, tendo, portanto, o efeito ex tunc, não produzindo os efeitos civis do matrimônio perante os contraentes (salvo nos casos de boa-fé dos nubentes). Já a declaração de anulação do matrimônio tem efeito ex nunc, ou seja, mesmo anulado produz efeitos até a data da declaração da anulação, salvo algumas exceções previstas. Vejamos. São peculiaridades de uma invalidade do casamento: a) O casamento só será nulo se houver previsão legal expressa determinando a nulidade. b) A nulidade só pode ser reconhecida por meio de ação própria, julgada por Juiz de Direito. Neste caso não se exige mais a presença do curador do vínculo; por se tratar de ação de estado a revelia não induz presunção de veracidade; não há mais o reexame necessário da sentença que anula o casamento. c) O casamento, mesmo considerado nulo, em algumas circunstâncias pode gerar efeitos (ao contrário do que acontece com os atos jurídicos em geral em que o ato nulo não gera qualquer efeito). Exemplos: reconhecimento dos filhos advindos do casamento, independentemente de boa ou má-fé dos DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2266 pais; retorno dos bens que se haviam comunicado pelo casamento ao antigo proprietário (especialmente na comunhão universal de bens); devolução das doações propter nuptias (em razão do casamento), etc. O casamento possui normas próprias em relação às nulidades, diferenciando-se quanto a elas, dos demais negócios jurídicos. Desta forma, como já dissemos, não se pode aplicar ao casamento o regramento total das invalidades em geral do negócio jurídico. Não podemos tratar o casamento como sendo um mero contrato de locação ou de compra e venda. Mesmo para aqueles que o consideram como um contrato, reconhecem o aspecto institucional do matrimônio, uma vez que é celebrado por um representante do Estado e gera efeitos determinados pela lei (ao contrário de um contrato, cujos efeitos são os desejados pelas partes). Vejamos, resumidamente, os principais motivos para não se tratar o casamento exatamente como um negócio jurídico comum: a) ainda que o casamento seja nulo, pode acarretar efeitos (ex.: filiação). b) a nulidade absoluta não pode ser declarada de ofício pelo juiz. c) permite-se que, além dos interessados, também que terceiros promovam a ação de anulação do casamento. Vejamos agora os defeitos que um casamento pode ter e quais são os seus efeitos: A) CASAMENTO NULO (ou nulidade absoluta) → decorre de vício essencial. Embora costumamos dizer que um ato nulo não gera efeito algum, o mesmo não se pode dizer do casamento. Assim, mesmo um casamento nulo pode gerar efeitos, tais como: comprovação de filiação, manutenção do impedimento por afinidade, alimentos provisionais, enquanto se aguarda a decisão judicial, etc. A ação de nulidade pode ser promovida por qualquer interessado ou pelo Ministério Público (art. 1549, CC). O casamento nulo não pode ser ratificado (isso porque não se pode ratificar um ato nulo). A ação para o reconhecimento de nulidade absoluta de um casamento é imprescritível. A sentença que reconhece a nulidade absoluta tem cunho declaratório e seus efeitos retroagem à data da celebração (ex tunc), resguardados os direitos de terceiros de boa-fé. Finalmente, mesmo declarado nulo, é causa suspensiva para que a mulher contraia novo casamento nos 300 dias subsequentes ao término da coabitação (art. 1.523, II, CC). É nulo o casamento contraído (art. 1.548, CC): Pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil (ainda não tenha sofrido processo de interdição). Por infração de impedimento absolutamente dirimente: art. 1.521, I a VII, CC, já analisados. Ex.: ascendentes com descendentes, irmãos entre si, sogro e nora, pessoas que já são casadas, etc. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2277 B) CASAMENTO ANULÁVEL (ou nulidade relativa) → decorre de vícios que podem determinar a ineficácia do ato, mas que poderão ser eliminados, restabelecendo a sua normalidade. Também pode ser convalidado caso a anulação não seja requerida dentro do prazo previsto em lei. O casamento anulado produz efeitos ex nunc (ou seja, os efeitos não retroagem), não apagando os efeitos já produzidos. Possuem legitimidade para propor ação de anulação: o próprio menor, no prazo decadencial de 180 dias contados a partir do momento em que perfez a idade; seus representantes legais ou seus ascendentes, no mesmo prazo, contado da celebração do casamento. É anulável o casamento (art. 1.550, CC): De quem não completou a idade mínima para o casamento (16 anos para homens e mulheres: idade núbil). Vamos supor que uma adolescente com 15 anos se casou com um rapaz de 17 anos. É lógico que na prática eu nunca vi isto acontecer, pois os cartórios são minuciosos quanto à idade. Mas em um concurso tudo pode cair. Devemos tomar muito cuidado com esta hipótese. Lembrem-se que os atos em geral praticados pelo menor de 16 anos são considerados nulos. Mas se um menor de 15 conseguiu se casar seu casamento é anulável. E mais: depois de completar os 16 anos o menor poderá confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes legais ou suprimento judicial. Se for requerida a anulação do casamento o prazo decadencial para tanto é de 180 dias contados: a) da data do casamento para os ascendentes e representantes legais; b) da data em que completou os 16 anos para o menor. É interessante acrescentar que por defeito de idade não se anulará o casamento de que resultou gravidez, mesmo que a criança não venha a nascer (art. 1.551, CC). Vamos supor que no exemplo acima os menores se casaram, pois a jovem estava grávida. Neste caso, apesar do vício, não poderá ser requerida a anulação do casamento. Lembrem-se também: os menores de 16 anos poderão casar, dependendo de autorização judicial, quando resultar de gravidez ou para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal para o outro consorte, maior de idade (neste caso, como já salientamos, para alguns autores, esta hipótese está eliminada, tendo-se em vista a alteração havida no Código Penal). Na hipótese de suprimento judicial, ordena-se o regime da separação obrigatória (ou legal) de bens. Do menor em idade núbil (de 16 a 18 anos), quando não autorizado por seu representante legal. Nesta hipótese, os jovens já são maiores de 16 anos (diferente da situação anterior, pois pelo menos um dos cônjuges sequer tinha 16 anos). Porém o casamento não foi autorizado por seus representantes legais. No entanto, se o representante do menor presenciou a celebração do casamento, ou se manifestou de outro modo sua aprovação, não poderá requerer a anulação. O prazo decadencial de 180 dias é contado: a) para o menor, da data em que completou 18 anos; b) para os representantes legais da data do casamento; c) para os seus herdeiros da data da morte. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2288 Por vício de vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558, CC: Erro Essencial sobre a pessoa do outro cônjuge (arts. 1.556 e 1.557, CC). Dois são os requisitos para se alegar o erro essencial: a) defeito ignorado pelo outro cônjuge e já existente antes do casamento; b) a descoberta posterior tornou insuportável a vida em comum para o cônjuge enganado. Exemplos:
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