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jurisdição e compentencia

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Semana 8 – Jurisdição Penal e Competência Jurisdicional
Jurisdição penal: conceito, classificação e características 
Princípios da Jurisdição Penal
Competência Jurisdicional: conceito e natureza jurídica
Competência absoluta e competência relativa
Regras de Fixação de Competência: ratione materiae
Competência interna: originária dos tribunais, das justiças especiais, da Justiça Federal
Professora Dra. Adriana Geisler
2016.2
Jurisdição penal: conceito, classificação e características 
• Da associação do conceito de jurisdição ao de poder-dever (de realização da Justiça Estatal, por órgão especializado do Estado).
• Incidência do princípio da necessidade (jurisdição cognitiva)
• Jurisdição cognitiva: conhecer da pretensão acusatória a fim de exercer o poder de penar que detém o Estado-juiz.
• Definição que exige a coexistência de conceitos: além de ser um poder é uma garantia constitucional do cidadão, de ser julgado por um juiz natural e imparcial.
Competência: é a medida da jurisdição:
• Conjunto de regras que definem o limite ao poder jurisdicional, condicionando seu exercício.
Cria condições de eficácia para a garantia da jurisdição (juiz natural e imparcial). 
• Perigo que representaria o exercício da jurisdição penal através de uma multiplicidade de órgãos (que repartem as tarefas judiciárias) se não fossem previstos rígidos mecanismos de identificação prévia do juiz competente.
• Princípios da Jurisdição: a) inércia; b) imparcialidade; c) juiz natural; d) indeclinabilidade.
Inércia: 
A jurisdição somente se põe em marcha quando houver uma prévia invocação – declaração petitória – feita por parte legítima.
 O poder somente poderá ser exercido pelo juiz mediante prévia invocação. Vedada está a atuação ex officio do juiz (daí o significado do adágio ne procedat iudex ex officio).
No que tange ao processo penal, a jurisdição somente pode ser exercida quando houver o exercício da pretensão acusatória, através de queixa-crime (se a iniciativa da ação penal for privada), ou da denúncia oferecida pelo Ministério Público, nos termos do art. 129, I, da Constituição (nos delitos cuja ação penal é de iniciativa pública).
d) Indeclinabilidade: o juiz natural não pode declinar ou delegar a outro o exercício da sua jurisdição, até porque existe uma exclusividade desse poder, de modo a excluir a de todos os demais.
 
Competência em matéria Penal:
• É regida por critérios de matéria, pessoa e lugar. 
• O senso comum teórico e a importação do regramento do processo civil: competência absoluta (em razão da matéria e pessoa); competência relativa (no que se refere ao lugar)
• Competência absoluta e relativa: 
a) absoluta: não se convalida jamais, não haverá preclusão ou prorrogação e poderá ser reconhecida de ofício pelo juiz ou tribunal em qualquer fase do processo;
b) relativa: deve ser arguida pelo réu (não pode ser reconhecida de ofício) no primeiro momento em que falar no processo (resposta à acusação, como regra), sob pena de preclusão e prorrogação da competência. 
• Doutrina minoritária: jurisdição é garantia e que não pode ser esvaziada por critérios importados do processo civil. Ademais, o art. 109 do CPP não faz nenhuma ressalva quanto a isso.
II – Concretização da competência:
• Ocorre em diversas etapas, iniciando pelo nível mais amplo de abstração até chegar a um único e específico órgão jurisdicional concreto.
• Exige a conjugação de dois fatores: 1) a análise da estrutura orgânica do poder judiciário; 2) a análise do fluxo do processo entre os diversos órgãos
II.1 Questões definidoras da competência penal :
A competência é dos órgãos de sobreposição (STF/ STJ)?
2) Qual é a Justiça e qual o órgão competente? (responde à chamada “competência de jurisdição”)
Ver CRFB/88
Da definição da justiça competente: analisar a “matéria”, começando pela mais restrita das justiças especiais (justiça militar federal, depois estadual e, por fim, a eleitoral) para, por exclusão, chegar às justiças comuns (primeiro a federal e, finalmente, a estadual (mais residual de todas)). 
- Da competência de cada uma das justiças: sempre uma análise que parte do mais restrito para o mais residual (Justiça comum residual). Assim, nesta ordem:
1º) Campo mais restrito: O crime é da competência da Justiça Especial Militar
2º) Se não, Justiça Eleitoral
3º) Com a negativa a ambas as perguntas: Justiça Comum (federal ou estadual, sendo esta a mais residual)
Justiças Especiais:
Justiça Militar: 
1.a) Justiça Militar Federal (art. 124 da CRFB/88)  Crimes militares(*)
	Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. (grifo meu)
(*) Requisitos exigidos (somente quando concorrerem todos esses elementos teremos um crime de competência da Justiça Militar Federal)
– conduta tipificada no Código Penal Militar (CPM)
– situação do art. 9º do CPM
– situação de interesse militar (construção jurisprudencial): “efetiva violação de dever mulitar ou afetação direta de bens jurídicos das Forças Armadas” (Duclerc, E.) 
Exemplo: Caio chegando em casa com surpreende sua esposa com o amante e, utilizando artefatos militares, causa lesões corporais em ambos. O agente é militar, estava fardado, reside numa “vila militar”, utilizou equipamento militar e praticou uma conduta prevista no Código Penal Militar (lesões corporais dolosas). Qual a justiça competente para julgar o militar?
Resposta: Caio será julgado na Justiça Comum, e não na especial militar. Isso porque falta o real “interesse militar”, pois o crime não foi praticado em razão de seu ofício ou em atividade inerente ao trabalho militar.
Em síntese: Quando não estiver presente o interesse militar ou não for a conduta inerente à função militar, a competência da Justiça Militar (Federal ou Estadual) será afastada.
Exemplo 2 (Pode um civil ser julgado pela Justiça Militar Federal?): Há alguns anos um grupo de pescadores foi surpreendido dentro de uma área militar (exército). Foram julgados e condenados pela Justiça Militar Federal pela prática do delito de ingresso clandestino em área de manobras militares (art. 302 do CPM). Pergunta-se: poderiam os agentes, como civis, serem ser julgado pela Justiça Militar Federal? 
Resposta: Sim. O art. 124 da Constituição remete para “crimes militares definidos em lei”, acaba por transferir para o art. 9º do Código Penal Militar a definição da matéria e pessoa. Assim, desde que presentes as situações previstas no art. 9º do CPM - e este artigo prevê essa possibilidade de um civil cometer um crime militar - pode um civil ser julgado na Justiça Militar Federal. Não se exige mais que o agente seja militar e tenha praticado um crime militar (situação anterior a CRFB/88, adoção desse critério objetivo e subjetivo)
1.b) Justiça Militar Estadual (art. 125, § 4º, da CRFB/88): Crimes militares(*) + ser o agente “militar do Estado”.
	Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.
(...)
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar
e julgar os demais crimes militares.
Situação 1) Observar ainda Súmula n. 06 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de atividade. 
Lesões corporais culposas ou mesmo homicídio culposo, quando decorrentes de acidente de trânsito, não são inerentes e peculiares à atividade militar.
A súmula restringe a competência da Justiça Militar aos casos em que ambos, autor e vítima, são militares em situação de atividade.
Se a vítima do acidente de trânsito for um civil, situação bastante comum, a competência será da Justiça Comum Estadual.
Situação 2) Quanto à possibilidade de o civil ser julgado na Justiça Militar Estadual:
Somente quando concorrerem esses dois elementos (militar do Estado + crime militar), poderemos ter um crime de competência da Justiça Militar Estadual: ao contrário da federal, aqui a CRFB/88 adotou um critério objetivo-subjetivo, descartando completamente a possibilidade de um civil ser julgado na Justiça Militar Estadual. 
Situação 3) Crime de abuso de autoridade (Lei n. 4.898)
- Somente os “crimes militares”, devidamente previstos no Código Penal Militar, serão julgados nessa Justiça. Logo, o crime de abuso de autoridade (Lei n. 4.898), não será julgado na Justiça Militar (seja ela federal ou estadual), ainda que praticado por militar, em situação de atividade, pois não está previsto no CPM, mas apenas em lei especial.
Situação 4) Policial militar (estadual) que comete um crime doloso contra a vida de civil, tentado ou consumado: 
Apesar de crime militar (previsto no CPM), será julgado na Justiça Comum (federal, se presente alguma das circunstâncias do art. 109 da CRFB/88; ou estadual, nos demais casos) pelo Tribunal do Júri. 
A Lei n. 9.299/96 deslocou a competência para o Tribunal do Júri, com a assumida intenção de subtrair do julgamento da Justiça Militar Estadual. Essa regra foi recepcionada e incluída no texto constitucional. Apenas quando cometido por militar contra militar é que o crime doloso contra a vida será julgado na Justiça Militar Estadual.
OBS.: E se, no plenário do júri, operar-se uma desclassificação própria, com o afastamento da figura dolosa. 
Não poderá o juiz presidente proferir decisão, pois, se o homicídio doloso contra a vida de um civil não é de competência da Justiça Militar, o crime culposo permanece sendo. Logo, deverá ele redistribuir o processo para a Justiça Militar Estadual, a quem competirá o processo e julgamento do militar que pratique um crime culposo contra a vida de um civil (se presente, é claro, o interesse militar e demais circunstâncias do art. 109 do CPM). 
Quanto à sua estrutura:
Em primeiro grau os crimes serão julgados pelos juízes de direito do juízo militar, desde que praticados contra civis. 
a.1) Quando for crime militar praticado contra militar, caberá a competência ao 
Conselho de Justiça, presidido pelo juiz de direito (militar).
b) Em segundo grau, o julgamento caberá aos Tribunais de Justiça Militar ou, na sua falta, aos Tribunais de Justiça dos estados.
2) Justiça Eleitoral: julga os crimes eleitorais previstos em lei, art. 121 da CRFB/88 + Código Eleitoral. 
- Não existe uma hierarquia entre a Justiça Militar e a Eleitoral, pois elas atuam em esferas distintas. 
- Já na relação da Justiça Eleitoral com as Justiças Comuns (Federal e Estadual) existe uma prevalência da Especial sobre a Comum (art. 78, IV, do CPP).
IPC.: o art. 78, IV, deve sempre ser lido junto com o art. 79, I, do CPP, para compreender-se que a Justiça Especial Eleitoral prevalece sobre as Justiças Comuns, mas que a Militar (art. 79, I) não prevalece, ela cinde (separa).
Sempre que tivermos um crime eleitoral conexo com um crime comum, previsto no Código Penal, a competência para julgamento de ambos (reunião por força da conexão) será da Justiça Eleitoral (art. 78, IV).
- Problema: crime eleitoral conexo com crime doloso contra vida. Neste caso, prevalece o entendimento de que haverá cisão, o crime eleitoral será julgado na JE e o crime contra a vida, no Tribunal do Júri. Isso porque a competência do júri é Constitucional, prevalecendo sobre o disposto em leis ordinárias (como o Código Eleitoral e o CPP).
Estrutura: 
Em primeiro grau, a Justiça Eleitoral é composta pelos juízes eleitorais, que são, na verdade, juízes estaduais investidos temporariamente dessa função. 
Em segundo grau estão os Tribunais Regionais Eleitorais e, acima deles, o Tribunal Superior Eleitoral.
Justiças Comuns
Justiça Federal: 
Excluídas as contravenções e respeitada a prevalência das duas Justiças Especiais, incumbe à Justiça Federal o julgamento dos crimes que se encaixem nos casos previstos no art. 109 da Constituição. 
• situações previstas no art. 109 (inciso IV e seguintes) da CRFB/88.
• Prevalece sobre a justiça comum estadual (art. 78, III, do CPP + Súmula n. 122 do STJ).
• Nunca julga contravenções: Súmula n. 38 do STJ.
• Crimes praticados em detrimento de empresas de economia mista: Justiça Estadual (Súmula n. 42 do STJ). 
Art.. 109, IV, da CRFB/88: o crime será de competência da Justiça Federal quando for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. (grifo meu) 
- O dispositivo não pode ser ampliado não para alcançar as empresas de economia mista. A interpretação não pode ser extensiva ou por analogia, diante do princípio da reserva legal e a garantia do juiz natural. 
- Súmula n. 42 do STJ:
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Assim, crimes praticados:
Em detrimento da Caixa Econômica Federal: serão julgados na Justiça Federal. 
Contra o Banco do Brasil, será julgado na Justiça Estadual, pois se trata de empresa de
economia mista.
- Em detrimento da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos: competência da Justiça Federal. Contudo, quando estivermos diante de uma loja franqueada dos correios: Justiça Estadual o processo e julgamento, pois não há prejuízo efetivo da União, mas do particular que adquiriu a franquia
. 
XIV EXAME DE ORDEM UNIFICADO Daniel, Ana Paula, Leonardo e Mariana, participantes da quadrilha "X", e Carolina, Roberta, Cristiano, Juliana, Flavia e Ralph, participantes da quadrilha "Y", fazem parte de grupos criminosos especializados em assaltar agências bancárias. Após intensos estudos sobre divisão de tarefas, locais, armas, bancos etc., ambos os grupos, sem ciência um do outro, planejaram viajar até a pacata cidade de Arroizinho com o intuito de ali realizarem o roubo. Cumpre ressaltar que, na cidade de Arroizinho, havia apenas duas únicas agências bancárias, a saber: uma agência do Banco do Brasil, sociedade de economia mista, e outra da Caixa Econômica Federal, empresa pública federal. No dia marcado, os integrantes da quadrilha "X" praticaram o crime objetivado contra o Banco do Brasil; os integrantes da quadrilha "Y" o fizeram contra a Caixa Econômica Federal. Cada grupo, com sua conduta, conseguiu auferir a vultosa quantia de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Nesse caso, atento tão somente aos dados contidos no enunciado, responda fundamentadamente de acordo com a Constituição: A) Qual a justiça competente para o processo e julgamento do crime cometido pela quadrilha "Y"? (Valor: 0,65) B) Qual a justiça competente para o processo e julgamento do crime cometido pela quadrilha "X"?
Resposta: A Constituição da República, em seu artigo 109, IV, estabelece que compete à Justiça Federal o julgamento das as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Trata-se de competência determinada ratione personae. Assim, para se estabelecer a competência de julgamento dos crimes mencionados no enunciado, o examinando
deverá, em primeiro lugar, levar em consideração a natureza jurídica da pessoa lesada. Destarte, no caso do item "A", a competência para julgamento do crime em que foi lesada a CEF é da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV da CRFB/88. Relativamente ao item "B", levando-se em conta que o lesado foi o Banco do Brasil, a competência para o julgamento do crime praticado é da Justiça Estadual, pois, como visto anteriormente, referida instituição está fora do alcance da regra insculpida no artigo 109, IV da CF, sendo certo que a competência da Justiça Estadual é residual. Além disso, há também o verbete 42 da Súmula do STJ sobre o tema: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento."
• Servidor público federal: quando for vítima ou autor (desde que propter officium) é Justiça Federal (Súmula n. 147 do STJ).
• Tráfico de entorpecentes: Lei n. 11.343. Tráfico internacional = Justiça Federal. Tráfico interno = Justiça Estadual.
• Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves: competência da Justiça Federal, exceto se for de competência da Justiça Militar (art. 109, IX, da CB).
• Crime ambiental: regra geral = Justiça Estadual. Exceção: quando presente uma das situações do art. 109 da CB (cuidado, não se aplica o inciso XI, que é para jurisdição cível!), como, por exemplo, os crimes ambientais praticados no interior de áreas de preservação ambiental, parques e/ou reservas nacionais, bem como nos casos do art. 225, § 4º, da CB). Mas a matéria é controvertida.
• Índio: matéria também controvertida, mas prevalece a aplicação da Súmula n. 140 do STJ.
• Crimes praticados fora do território nacional: desde que presente uma situação de extraterritorialidade da lei penal (art. 7º do CP), como
regra, será julgado na Justiça Estadual, aplicando-se o art. 88 do CPP para definir o lugar. Será de competência da Justiça Federal
quando presente alguma das situações do art. 109 da CB (cuidado: o inciso II não se aplica na jurisdição penal!).
• Tribunal do Júri: art. 74 do CPP + situação do art. 109 da CB.
• JECrim Federal: desde que presente uma das situações do art. 109 da CB e o crime seja de menor potencial ofensivo nos termos da Lei n. 9.099/95.
2) Justiça Estadual: é a mais residual de todas, somente julgando quando não for de competência de nenhuma das outras justiças.

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