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Universidade Federal de Juiz de Fora Instituto de Ciências Biológicas Departamento de Botânica Disciplina de Recursos Vegetais na Alimentação Humana Prof. Dr. Henrique Guilhon de Castro ÓLEOS ESSENCIAIS • Óleos essenciais são compostos voláteis extraídos das plantas por processos de destilação, compressão de cascas e nozes, assim como extração por solventes; e são os principais componentes bioquímicos de ação terapêutica das plantas aromáticas e medicinais. São quimicamente bem diversificados, assim como possuem diferentes atuações. • A ISSO (International Organization for Standardization) define óleos voláteis como produtos obtidos de partes de plantas através de destilação por arraste com vapor d'água. De forma geral, são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas. Também podem ser chamados de óleos essenciais, óleos etéreos ou essências. Essas denominações derivam de algumas de suas características físico-químicas, como, por exemplo, a de serem geralmente líquidos de aparência oleosa à temperatura ambiente, advindo, daí, a designação de óleo. Entretanto, sua principal característica é a volatilidade, diferindo-se, assim, dos óleos fixos, mistura de substâncias lipídicas, obtidos geralmente de sementes. Outra característica importante é o aroma agradável e intenso da maioria dos óleos voláteis, sendo, por isso, também chamados de essências. Eles também são solúveis em solventes orgânicos apolares, como éter, recebendo, por isso, a denominação de óleos etéricos ou, em latim, aetheroleum. Em água, os óleos voláteis apresentam solubilidade limitada, mas suficiente para aromatizar as soluções aquosas, que são denominadas hidrolatos. • Além dos óleos voláteis obtidos de plantas (fitogênicos), produtos sintéticos são encontrados no mercado. Esses óleos sintéticos podem ser imitações dos naturais ou composições de fantasia, e costumam ser muitas vezes denominados de "essências". Para uso farmacêutico, somente os naturais são permitidos pelas farmacopeias e, no emprego, dentro da aromaterapia, jamais devemos fazer uso de criações sintéticas. Exceções são aqueles óleos que contêm somente uma substância, como o óleo volátil de baunilha (que contém vanilina). Nesses casos, algumas farmacopeias permitem também os equivalentes sintéticos e sua ação limita-se puramente à sua química. • Não é de hoje que se conhece a capacidade dos óleos essenciais de promover efeitos fisiológicos, psicológicos e energéticos no ser humano, o que torna esse produto tão valorizado no mercado mundial e também em todo o Brasil. Os óleos essenciais são encontrados em folhas, frutos, sementes ou raízes. • Essas características físico-químicas, típicas dos óleos essenciais, decorrem da presença de mais de 100 constituintes químicos diferentes que, entretanto, em comum, contêm carbono, oxigênio e hidrogênio, e, ocasionalmente, nitrogênio e enxofre, elementos que, combinados de diferentes formas e proporções, são responsáveis, em parte, pelo odor e sabor das plantas. E, é claro, pelos efeitos terapêuticos que esses óleos podem oferecer ao ser humano. • Entretanto, é preciso diferenciar os óleos essenciais de outros tipos de óleos, como, por exemplo, os óleos carreadores, os quais são extraídos a partir da prensagem de sementes de diversas plantas. Esses óleos não têm as mesmas características dos óleos essenciais. São usados, sim, como veículos para os óleos essenciais, quando de seu emprego em massagens, para facilitar a absorção pela pele, e o próprio ato de massagear, funcionando como lubrificante. Funções dos óleos essenciais • Nos vegetais, os óleos essenciais atuam de formas muito variadas. Podem, por exemplo, nas flores, promover a atração de insetos polinizadores, aumentando a eficiência da reprodução, com maior produção de sementes. Por outro lado, ao contrário, podem ter uma função repelente contra insetos que sejam seus inimigos naturais, e que possam lhes causar danos. Essa ação se multiplica pelo organismo vegetal, protegendo seus tecidos contra o ataque de fungos e bactérias que possam danificá-las de alguma maneira, reduzindo as chances de doenças causadas por esses microrganismos. Os óleos essenciais também agem como substancias que atuam em processos alelopáticos, ou seja, na inibição da germinação de sementes e do crescimento de outras plantas competidoras a sua volta. • Os efeitos no ser humano são ainda mais variados, dependendo da composição de cada óleo. As propriedades mais conhecidas são: antibióticas, anti-inflamatórias, antifúngicas, analgésicas e sedativas, entre outras de ordem fisiológica. Também são muitos conhecidos os efeitos psicológicos desses produtos, sobre a mente e as emoções humanas, graças a estímulos proporcionados por diferentes aromas. Daí o uso cada vez mais intenso da aromaterapia nos cuidados com a saúde das pessoas. Esses aromas; além de tudo isso, exercem amplos efeitos positivos sobre a energia do corpo humano, afetando mental, física e emocionalmente, de forma intensa a grande maioria dos que conhecem a aromaterapia. • Aromaterapia é uma palavra que foi criada em 1920 por um químico francês especialista na área de cosmética. Enquanto trabalhava em seu laboratório, ele sofreu um acidente que resultou em uma queimadura de terceiro grau em sua mão e antebraço. Ele mergulhou seu braço em uma tina contendo óleo de lavanda, crendo que era água. Para sua surpresa, a dor da queimadura rapidamente diminuiu e durante um curto espaço de tempo, com o contínuo emprego do óleo de lavanda, a queimadura cicatrizou completamente, sem a presença de qualquer tipo de cicatriz. • O químico francês analisou o óleo essencial de lavanda e descobriu que ele continha uma série de substâncias químicas com extraordinárias propriedades terapêuticas. Assim, com esse resultado, ele dedicou-se profundamente ao estudo do poder curativo dos óleos essenciais. • Posteriormente um médico francês teria desenvolvido o primeiro sistema de terapia através dos óleos essenciais. Durante a segunda guerra mundial, onde serviu como médico na frente armada francesa nas muralhas da China, tratando das vítimas, o Dr. Valnet ficou sem antibióticos, então resolveu tentar fazer uso dos óleos essenciais. Para seu espanto, eles possuíam um poderoso efeito em reduzir e parar com os processos infecciosos. • A aromaterapia faz uso dos “aromas” presentes nos óleos essenciais para tratar corpo e mente e se espalhou por todo o mundo. Atualmente a aromaterapia é uma forma de tratamento reconhecida em diferentes países e pela Organização Mundial da Saúde. Formas de uso dos óleos essenciais • Os óleos essenciais podem ser usados de três formas distintas: por ingestão, inalação ou absorção pela pele. • Uso oral ou ingestão: é a forma de utilização que permite uma ação mais rápida, mas que também oferece maiores riscos de intoxicações, sendo indispensável, nesse caso, a recomendação de um especialista, para se evitar afeitos e reações indesejáveis. • Inalação: é considerada uma forma mais segura de utilização dos óleos essenciais. Isso porque há menor absorção do óleo, de forma menos acelerada, com uma ação mais lenta. Para inalação, utiliza-se um aromatizador de ambiente ou um vaporizador. • Absorção pela pele: a aplicação geralmente é feita por massagens, utilizando-se como veículo um óleo carreador, ou diretamente sobre ferimentos, sendo necessário conhecimento sobre os efeitos do óleo como cicatrizante. Um mercado crescente • Por causa dos conhecidos efeitos terapêuticos naturais que oferecem, os óleos essenciais, cadavez mais, têm conquistado o mercado brasileiro e mundial. O aumento da demanda pelo produto fez crescer o número de produtores, aumentar a variedade de produtos e, em consequência, permitiu um desenvolvimento acelerado dos canais de comercialização. • A produção anual de óleos essenciais de eucaliptos, no Brasil, já passa de mil toneladas, numa atividade econômica que emprega mais de 10 mil brasileiros e gera cerca de quatro milhões de dólares em recursos, metade dos quais devido à exportação. Outros óleos são produzidos em quantidade bem menor, mas a tendência de crescimento do mercado tem mostrado que a diversificação é um excelente caminho para empreendedores que pretendem investir no setor. Ainda com relação ao óleo de eucalipto, a China é o maior produtor mundial, extraindo três mil toneladas por ano. Características dos empreendimentos voltados à produção • Devemos considerar que a maior parte das empresas envolvidas na produção desses óleos, especialmente o de eucaliptos, é de porte pequeno ou médio, em número crescente. Algumas delas se dedicam apenas ao cultivo das plantas, vendendo folhas, frutos e raízes para indústrias extratoras especializadas. • A maior parte, entretanto, está envolvida direta ou indiretamente na extração do óleo. São empresas que verticalizaram suas atividades, produzindo a matéria-prima (folhas, raízes e frutos) e extraindo o óleo, especialmente pela técnica de destilação por arraste de vapor. Destilação • Os métodos de extração variam conforme a localização do óleo volátil na planta e com a proposta de utilização do mesmo. Sendo que os métodos mais comuns são: destilação por arraste de vapor d'água; extração com solvente orgânico; e extração por CO2 supercrítico. Princípios da extração de óleo por destilação por arraste de vapor • A destilação é o método de separação baseado no fenômeno de equilíbrio líquido-vapor de misturas. Em termos práticos, quando temos duas ou mais substâncias formando uma mistura líquida, a destilação pode ser um método adequado para purificá-las: basta que tenham volatilidades razoavelmente diferentes entre si. • Os óleos essenciais são muito voláteis, ou seja, eles se vaporizam rapidamente sob efeito do aumento da temperatura. Por isso, o uso da técnica de extração por destilação se disseminou tanto para boa parte das plantas produtoras, especialmente quando o óleo é extraído das folhas. • Esta é uma técnica relativamente simples, e se resume em alguns passos básicos: 1- O material a ser destilado é aquecido no interior de um recipiente, sob a presença de um fluxo de vapor de água, que se mistura aos óleos voláteis. 2- Essa mistura de vapores, para ser recuperada, deve passar por um sistema de resfriamento, quando ocorre a sua condensação, de forma que todos os vapores, de água ou óleo, retornem ao estado líquido. 3- O óleo essencial terá de ser separado da água, e isso é feito por decantação, quando o óleo, que é menos denso e por isso mais leve, se separa da água, ficando na superfície do recipiente onde a mistura se encontra. • Esse processo, portanto, depende da existência de um fluxo de vapor d'água, que carrega os óleos volatilizados. Por causa dessa forma de extração, é que se dá a esse processo o nome de destilação por arraste de vapor. Destiladores • O equipamento utilizado nesse processo de extração por arraste de vapor é chamado de destilador. O destilador é um equipamento que conta com algumas estruturas indispensáveis à sua operação: cuba de destilação (recipiente onde as folhas serão colocadas para receberem o vapor de destilação. Em função da ação corrosiva do óleo, ela deve ser, preferencialmente, construída em aço inoxidável), mangueiras de condução do vapor, condensador, mangueiras de condução dos líquidos condensados, e o decantador. • No processo de destilação, a água é mantida em um depósito, sendo submetida a uma fonte de calor, para que ocorra seu aquecimento, o que causa a sua vaporização. A água pode estar dentro da própria cuba de destilação (mas o material a ser destilado não poderá estar mergulhado nela), ou o arraste poderá ser feito por vapor proveniente de uma caldeira (estrutura que tem em seu interior um conjunto de tubulações por onde ocorre o deslocamento e o aquecimento da água até o estado de vapor). • Depois de passar pelo material a ser destilado, carregando consigo os óleos voláteis, o vapor deve ser conduzido até o condensador, por meio de uma tubulação que recolhe essa mistura de vapores e a encaminha a uma outra seção do destilador, chamada de condensador, onde ocorrerá o resfriamento, e a passagem para estado líquido. O condensador é composto por uma serpentina, que é um longo tubo fino em espiral, o qual atravessa o espaço interno de um compartimento que contém água resfriada. Com isso, o calor das paredes da serpentina é eliminado, havendo seu resfriamento, e o seu conteúdo. Isso faz com que os vapores, ao passarem pela serpentina acabem se condensando. O resfriamento da serpentina pode ser promovido pela circulação de água fria no interior do condensador, por meio de mangueiras. Essa água pode ser obtida direto de uma torneira, sendo descartada posteriormente, ou poderá ser reutilizada após resfriamento. Operação de um destilador • A operação de um destilador de pequeno a médio porte é relativamente simples. O material a ser destilado, no caso dos exemplos deste curso, que são folhas, depois de selecionadas e livres de impurezas, são colocadas no destilador, que é fechado como se fosse uma panela de pressão, cuidando-se para que o vapor não escape por pequenas frestas, causando perda de rendimento do processo de destilação. • O vapor deverá ser totalmente direcionado para o condensador, para que o máximo de óleo possa ser condensado e depois decantado. • Após o início do fluxo de vapor, proveniente de uma caldeira ou da ebulição de água no interior da própria cuba de destilação, em poucos minutos o vapor envolve as folhas, iniciando- se a extração do óleo. • O vapor produzido então passa pela serpentina, no interior do condensador, onde volta ao estado líquido, sendo drenado até o sistema de separação, por meio de uma mangueira. A mistura de óleo e água então chega ao decantador, onde pouco a pouco as gotículas de óleo essencial acumuladas vão subindo para a superfície da água, dada a sua menor densidade, até que se forme uma camada sobrenadante. Essa separação não é muito demorada. Geralmente, após duas horas de decantação, esse processo se completa. Mas, vale descartar, quanto maior o tempo de descanso, maior o rendimento da decantação. • Depois disso, a água deverá ser drenada por um registro que deverá estar situado na base do decantador, até que fique apenas a camada de óleo, a qual será drenada, posteriormente, para um segundo recipiente. • Apesar da grande importância dos destiladores no processo de produção, é preciso destacar que eles fazem parte de uma estrutura ainda maior, necessária à produção de óleos essenciais, que conta com instalações e equipamentos apropriados para sua operação, projetados de acordo com as necessidades específicas de porte, da matéria-prima utilizada e do tipo de óleo produzido. Referências bibliográficas CASTRO, H.G.; FERREIRA, F.A.; SILVA, D.J.H.; MOSQUIM, P.R. Contribuição ao estudo das plantas medicinais: metabólitos secundários. Viçosa, MG: Suprema, 2004. 113p. MANN, J. Secondary metabolism. 2 ed. Oxford: Clarendon Press, 1995. 374p. PINHEIRO, A.L.; LOPES, D.A.G. Produção de óleos essenciais. Viçosa, MG: CPT, 2008. 188p.
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