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Teorias da Administração II Giselle Pavanelli Adaptada/Revisada por Luis Agune (junho/2012) É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Teorias da Administra- ção II, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autô- nomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO .............................................................................................................................................. 5 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 7 1 ABORDAGEM ESTRUTURALISTA DA ADMINISTRAÇÃO ...............................................11 1.1 Modelo Burocrático de Organização ......................................................................................................................... 11 1.2 Teoria Estruturalista da Administração ...................................................................................................................... 13 1.3 Resumo do Capítulo ......................................................................................................................................................... 25 1.4 Atividades Propostas ........................................................................................................................................................ 25 2 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL DA ADMINISTRAÇÃO .........................................27 2.1 Teoria Comportamental .................................................................................................................................................. 28 2.2 Teoria do Desenvolvimento Organizacional ........................................................................................................... 32 2.3 Resumo do Capítulo ......................................................................................................................................................... 36 2.4 Atividades Propostas ........................................................................................................................................................ 36 3 ABORDAGEM SISTÊMICA DA ADMINISTRAÇÃO ...............................................................37 3.1 Teoria Matemática da Administração ........................................................................................................................ 38 3.2 Teoria de Sistemas ............................................................................................................................................................. 41 3.3 Resumo do Capítulo ......................................................................................................................................................... 45 3.4 Atividades Propostas ........................................................................................................................................................ 46 4 ABORDAGEM CONTINGENCIAL DA ADMINISTRAÇÃO.................................................47 4.1 Teoria da Contingência .................................................................................................................................................... 47 4.2 Resumo do Capítulo ......................................................................................................................................................... 54 4.3 Atividades Propostas ........................................................................................................................................................ 54 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................55 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..........................................57 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................61 SUMÁRIO Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), As mudanças são cada vez mais rápidas e inesperadas, principalmente no campo do conhecimento e da explosão populacional. Tais mudanças impõem novas e crescentes necessidades. Nesse contexto, o crescimento das organizações as torna complexas e sem fronteiras. As abordagens estruturalista, com- portamental, sistêmica e contingencial serão estudadas no decorrer da nossa disciplina. Veremos suas contribuições e diferentes enfoques para a melhoria da gestão nas organizações. As organizações, enquanto culturas, são vistas como um lugar onde residem ideias, valores, nor- mas, rituais e crenças que as sustentam como realidades socialmente construídas. Esse enfoque tem recebido crescente atenção nos últimos anos, especialmente dos estudiosos em cultura organizacional, que defendem administrar e planejar organizações através de valores, crenças e outros padrões de signi- ficados compartilhados que orientam a vida nas organizações. As discussões sobre os modelos e metáforas organizacionais estão intimamente ligadas ao geren- ciamento ou gestão das organizações. Os trabalhos que estudam o processo gerencial são inúmeros e os argumentos, de diversas naturezas. Alguns autores defendem a ideia de que se trata de um processo es- sencialmente objetivo, por outro lado, há uma segunda vertente que defende a ideia da gerência como essencialmente dinâmica e subjetiva. Entendemos que o gerenciamento não pode ser inflexível a ponto de adotar uma das duas vertentes, excluindo a outra. Os autores parecem concordar que a organização é um organismo complexo, que precisa ser es- tudado com profundidade e competência e que simplificações exageradas da realidade prejudicam o entendimento e a aplicação de ferramentas para a condução das situações que envolvem as organiza- ções. A ferramenta da metáfora favorece o entendimento e as perspectivas do comportamento organi- zacional face aos diferentes ambientes e sistemas de organização, possibilitando transcender os modelos estereotipados das escolas da administração. Esta apostila, como um todo, busca apresentar todos esses aspectos na sua profundidade. Sejam bem-vindos ao mundo de Teorias da Administração. Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 Prezado(a) aluno(a), cada teoria surgiu em resposta a algum problema empresarial da sua época. As teorias atenderam e apresentaram so- luções às questões encontradas e, de certo modo, são aplicáveis às situações de hoje. No início do século XX, despontaram as pri- meiras teorias das organizações. As teorias são conhecimentos organizados, produzidos pela ex- periência e prática nas organizações. Organizações são grupos sociais deliberadamente orientados para a realização de objetivos ou finalidades. A or- ganização burocrática,sistema social dominante nas sociedades modernas, é uma estratégia de ad- ministração e de dominação, fruto e berço da bu- rocracia. Autores argumentam que o entendimento das organizações modernas baseia-se em leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que são racio- nais, isto é, definidas em função do interesse das próprias pessoas e não para satisfazer os caprichos arbitrários de um dirigente. As pessoas que inte- gram as organizações modernas também aceitam que algumas pessoas representem a autoridade da lei. A autoridade é a contrapartida da responsabili- dade que essas pessoas têm de zelar pelo cumpri- mento da lei. De acordo com Morgan (1996), Weber estava interessado nas consequências sociais da prolife- ração da burocracia e, assim, preocupou-se com o efeito que isso poderia ter sobre o lado humano da sociedade. O cientista alemão viu que o enfoque burocrático tinha potencial para rotinizar e me- canizar quase cada aspecto da vida humana, cor- roendo o espírito humano e a capacidade de ação espontânea, o que poderia ter graves consequên- cias políticas, ao minar o potencial de formas mais democráticas de organização. Em contraste com Weber, teóricos profis- sionais em administração da América do Norte e da Europa estabeleceram as bases daquilo que é agora conhecido como “a Teoria da Administração Clássica” e “Administração Científica”. As Teorias da Administração ganharam outros enfoques ao lon- go do tempo e procuraram oferecer soluções uni- versais para todos os problemas e situações vividos nas organizações. Os enfoques da produção em massa e da eficiência, a Escola do Humanismo e o foco comportamental das relações sociais no tra- balho, a Escola da Qualidade e do Processo Admi- nistrativo, o enfoque Sistêmico e Contingencial são algumas abordagens desenvolvidas e difundidas pela Administração moderna. A compreensão das organizações enquan- to corporações de trabalho é uma arte. Morgan (1996) caracteriza as organizações por metáforas, que podem ser utilizadas para entender os proces- sos organizacionais, enfatizando que é necessário lançar mão de várias delas e não de uma única para melhorar a nossa habilidade compreensiva de “ler e interpretar” os diferentes aspectos que coexistem e se complementam dentro da realidade organiza- cional, por mais paradoxal que esta possa parecer. Morgan (1996) interpreta as organizações a partir de metáforas, comparando-as a imagens INTRODUÇÃO DicionárioDicionário “Os cientistas políticos tendem a considerar buro- cracia como a administração de órgãos que têm as seguintes características: são grandes, constituí- dos por funcionários em tempo integral que têm carreiras dentro da empresa, e dependem de alo- cações de orçamentos, e não de receitas advindas de vendas, já que seus resultados não podem ser avaliados em um quid pro quo voluntário.” (COO- PER; ARGYRES, 2003). Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 que permitem vê-las enquanto máquinas, orga- nismos vivos, cérebros, culturas, sistemas políticos, prisões psíquicas, fluxos e transformações e, final- mente, enquanto instrumentos de dominação. O autor busca a integração das metáforas para a compreensão da realidade complexa, ambígua e repleta de paradoxos da organização. Segundo o autor, usando diferentes metáfo- ras para entender o caráter complexo e paradoxal da vida organizacional, somos capazes de admi- nistrar e planejar organizações de formas não pen- sadas como possíveis anteriormente. Para o autor, qualquer abordagem realista da análise organiza- cional deve ser iniciada a partir da premissa de que organizações podem ser muitas ao mesmo tempo. Alguns acreditam que há riscos em brincar com a ciência e em abstrair suas metáforas, por- que, depois de certo grau de distensão, as metá- foras perdem sua relação com as rigorosas teorias científicas que as originaram. Outros, no entanto, alegam que tudo na ciência é metáfora, uma des- crição hipotética de como refletir sobre uma reali- dade que nunca podemos conhecer plenamente. As metáforas de Morgan (1996) nos ajudam a ir além das teorias das organizações, facilitando a análise crítica e a interpretação das faces organiza- cionais, que não estão restritas a explicações aca- badas ou a um conjunto de referenciais definidos, mas transitam entre diferentes maneiras de pensar. Segundo a obra do autor, a metáfora da máquina ilustra como esse estilo de pensamento alicerçou o desenvolvimento da burocracia. Con- forme o autor, quando os administradores pen- sam nas organizações como máquinas, tendem a administrá-las e planejá-las como máquinas feitas de partes que se interligam, cada uma desempe- nhando um papel claramente definido no funcio- namento do todo. Enquanto algumas vezes isso pode comprovar-se eficaz, outras vezes pode ter muitos resultados desastrosos. Um dos problemas mais básicos da administração moderna é que a forma mecânica de pensar está tão arraigada nas nossas concepções diárias de organização que é frequentemente muito difícil organizá-la de outra forma. Há afirmações de que, à medida que deixa- mos para trás o modelo mecanicista das organiza- ções e a ideia de trabalhadores como engrenagens substituíveis do maquinário de produção, começa- mos a ver a nós mesmos em dimensões muito mais ricas, a apreciar a totalidade que somos e, quem sabe, planejar organizações que honrem e façam uso dessa grande dádiva que é aquilo que, na qua- lidade de seres humanos, todos nós somos. A metáfora dos organismos de Morgan (1996) corrobora esse pensamento, pois o foco da compa- ração é sua atenção em compreender e administrar necessidades organizacionais e as relações com o ambiente. Essa metáfora pressupõe que diferentes tipos de organizações pertencem a diferentes es- pécies, das quais a burocrática é apenas uma. Diferentes espécies são mais talhadas para lidar com as demandas de diferentes ambientes e, dessa forma, aumenta-se a capacidade de desen- volver interessantes teorias sobre as relações entre as organizações e os seus ambientes. A metáfora analisa as organizações como organismos que nas- cem, crescem, desenvolvem-se, declinam e mor- rem, além de possuir a capacidade de se adaptar a ambientes em mutação. Essa imagem está muito ligada às relações entre as espécies e os padrões de evolução encontrados na ecologia interorganiza- cional, e sua perspectiva contribuiu muito para o desenvolvimento da teoria da administração mo- derna. A metáfora do cérebro foca a importância do processamento de informações, aprendizagem e inteligência nas organizações, permitindo ao leitor uma forma de compreensão e avaliação das or- ganizações modernas sob essa perspectiva. Duas linhas de interpretação das organizações vistas como cérebro são enfatizadas: uma do tipo com- putador ou processador de informações e outra do tipo holograma. Segundo o autor, essas imagens, especialmente a do holograma, ressaltam princí- pios importantes de auto-organização para a con- cepção de organizações nas quais um alto grau de flexibilidade e inovação é necessário. Especialistas em cultura corporativa afirmam que não se pode construir um conceito comum se não houver concordância em como defini-lo, como Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 medi-lo, como estudá-lo e como aplicá-lo no mun- do real das organizações. Para eles, a cultura apre- senta aspectos como: estabilidade, compartilha- mento, padronização, dinâmica e vida em grupo; resultando em um padrão de suposições básicas, inventadas, descobertas ou desenvolvidas por um dado grupo que aprende a lidar com seus proble- mas de adaptação externa e integração interna, que foram suficientemente bem trabalhadas para serem consideradas válidas e, assim, devemser en- sinadas aos novos membros do grupo como a for- ma correta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. A cultura de um dado grupo refletirá o que aquele grupo aprendeu ao resolver os problemas ao longo de sua história. A adaptação externa é realizada com a definição da missão da empresa e suas funções, o estabelecimento das metas, os cri- térios para a mensuração dos resultados e os ajus- tes nas estratégias. A cultura nas organizações é um sistema de símbolos e significados compartilhados, que serve como mecanismo de controle. A ação simbólica necessita ser interpretada, lida ou decifrada para que seja entendida. É essa ação simbólica que ocorre em torno da oposição mais relevante num dado grupo, instituição ou sociedade. A metáfora da política, discutida por Morgan (1996), focaliza diferentes conjuntos de interesses, conflitos e jogos de poder que moldam as ativi- dades organizacionais. As organizações são vistas como sistemas de governo baseados em vários princípios políticos que legitimam diferentes tipos de regras, assim como fatores específicos que deli- neiam a política da vida organizacional. De acordo com Morgan (1996), os seres hu- manos possuem uma inclinação especial em cair nas armadilhas criadas por eles mesmos. Através de uma metáfora mais abstrata, o autor enxerga as organizações enquanto “prisões psíquicas”, nas quais pessoas caem nas armadilhas dos seus pró- prios pensamentos, ideias e crenças ou preocupa- ções que se originam na dimensão inconsciente da mente. A imagem da visão psíquica convida a examinar a vida organizacional para ver se e de que forma caímos na armadilha dos processos cons- cientes e inconscientes da nossa própria criação. Assim, a metáfora da “prisão psíquica” examina a psicodinâmica e a ideologia nas organizações. Em complemento à metáfora das “prisões psíquicas”, a metáfora das organizações como “ins- trumentos de dominação” é interpretada por Mor- gan (1996) sob a perspectiva dos aspectos poten- cialmente exploradores das organizações. O autor mostra como as organizações frequentemente usam os seus empregados, as comunidades hospe- deiras e o mundo econômico para atingir seus fins e como a essência da organização repousa sobre um processo de dominação, em que certas pessoas impõem os seus objetivos sobre as outras. Existe uma crise no processo de identificação dos indivíduos das sociedades modernas e essa crise é fator-chave na legitimação das organiza- ções atuais e, em especial, nas grandes empresas como fator social central. A crise de âmbito social é resultante de mudanças decorrentes das fragilida- des apresentadas pela desagregação da família; do fracasso do Estado como provedor de bens e servi- ços; da descrença na religião como meio para solu- cionar os problemas; da ausência de clareza sobre o papel da educação; da tecnologia, que deixa de ser um modo de fazer para transformar-se em um modo de ser; da presença feminina no mercado de trabalho; e da consolidação definitiva do capitalis- mo como o modo de produção global. Diante des- se contexto, que provoca desorientação, dúvida e confusão, e gerando um futuro incerto e crise de identidade, a organização apresenta-se como a “tá- bua de salvação”. Há autores que afirmam que a sedução e o carisma são formas de poder, que convidam as pes- soas a ter lugar em uma fantasia de rara beleza, que não se presta a provas da realidade cotidiana nem precisa se justificar. Esses elementos estão presen- tes nas organizações modernas e têm uma enorme capacidade de criar ou despertar um mundo de ilusões, de lidar com uma série de signos vazios e fortuitos, mas levam o indivíduo a defendê-las com grande fanatismo. A metáfora do “fluxo de transformação”, se- gundo Morgan (1996), requer uma mudança de concepção. Para o autor, o segredo de compreen- Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 der a organização a partir dessa perspectiva reside na compreensão lógica de mudança que dá forma à vida social. Três vertentes dessa metáfora são dis- cutidas pelo autor: uma enfatiza como as organi- zações são sistemas autoprodutores, que se criam nas suas próprias imagens; outra enfatiza como são produzidos enquanto resultado de fluxos circulan- tes de feedback positivo e negativo; e a terceira su- gere que sejam o produto de uma lógica dialética por meio da qual todos os fenômenos tendem a gerar o seu oposto. As descobertas daí decorrentes podem ajudar a compreender e administrar a mu- dança organizacional, bem como compreender as forças que moldam a natureza da organização em nível social. O nosso conceito de organização está se afastando das criações mecanicistas que floresce- ram da era da burocracia. Começamos a falar sério de estruturas mais fluidas e orgânicas e até de or- ganizações como sistemas inteiros, concebendo-as como organizações capazes de aprender, creditan- do-lhes algum tipo de capacidade de autorrenova- ção e percebendo que as pessoas têm a capacida- de de se organizar sozinhas. As metáforas ou imagens das organizações apresentadas por Morgan (1996) corroboram ou- tros autores e permitem enxergar as organizações de muitas formas ao mesmo tempo. Uma orga- nização do tipo máquina, concebida a partir de objetivos específicos, pode ser simultaneamente uma espécie de organismo capaz de sobreviver em determinados ambientes, mas não em outros; um sistema de processamento de informações que se revela especializado para certos tipos de aprendizagem, mas não para outros; um meio cul- tural caracterizado por valores, crenças e práticas sociais distintas ou uma prisão psíquica, em que várias lutas subconscientes ou ideológicas brigam pela dominação das pessoas; um sistema político no qual as pessoas lutam pelo poder, para garantir seus próprios fins; ou, ainda, a organização pode se apresentar como um sistema aberto e comple- xo, no qual as mudanças são constantes e sofrem interferência do ambiente em que estão inseridas, assim como interferem na ecologia social a que pertencem. A gerência contemporânea é uma atividade permeada por controvérsias; portanto, não há uma definição muito precisa do que é, de fato, ser um gerente, principalmente porque as variáveis do processo decisório gerencial estão em constante mutação. Isso faz da gerência uma atividade que requer um aprendizado constante. Há uma analogia entre uma organização e um grande monstro desconhecido que precisa ser dominado, evidenciando que, para que esse mons- tro seja de fato sobrepujado, é necessário que os grandes dirigentes sintam suas necessidades e in- diquem alguns caminhos a serem seguidos. Consi- deramos um dos caminhos para dominar o mons- tro da gestão nas organizações a aplicação dos princípios de liderança. Esta apostila foi elaborada para você com o objetivo de ajudá-lo(a) no entendimento das prin- cipais teorias que fizeram da Administração uma ciência em que devemos sempre aplicar os conhe- cimentos técnicos adquiridos com a experiência profissional que vamos adquirindo ao longo da nossa carreira profissional, com a fundamentação teórica de conceitos básicos que vários estudiosos das Teorias da Administração elaboraram ao longo de vários anos de experiência prática e científica, e que hoje são essenciais para entender a complexi- dade de administrar uma empresa com competên- cia no atual mercado competitivo e globalizado. Além do objetivo acima explicado, a apostila também o(a) ajudará a complementar seus estu- dos e servirá como base do conteúdo que será mi- nistrado durante o período em que durar o curso desta disciplina. Aproveite bastante e faça um bom uso desta apostila. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 Caro(a) aluno(a), neste capítulo, vamos tratar da abordagemestruturalista e como seus princí- pios foram determinantes para guiar várias organi- zações. A abordagem centrada na estrutura organi- zacional representa um avanço no estudo das or- ganizações, pois propicia uma elevada ampliação do objeto de estudo. Max Weber (1864-1920), sociólogo alemão, foi o criador da Sociologia da Burocracia. Foi profes- sor das Universidades de Friburgo e de Heidelberg e ficou famoso pela teoria das estruturas de autori- dade. Com a tradução de alguns de seus livros para a língua inglesa, por Talcott Parsons, tomou corpo nos Estados Unidos a Teoria da Burocracia em Ad- ministração. Sua obra é realmente muito vasta, seu principal livro, para o propósito deste estudo, é A ética protestante e o espírito de capitalismo (1967). A Teoria da Burocracia desenvolveu-se den- tro da Administração ao redor dos anos 1940, em função principalmente dos seguintes aspectos: a fragilidade e parcialidade tanto da Teoria Clássica quanto da Teoria das Re- lações Humanas, pois, embora ambas sejam oponentes e contraditórias entre si, as duas não possibilitam uma aborda- gem global, integrada e envolvente dos problemas organizacionais. Ambas reve- lam dois pontos de vista extremistas e in- completos sobre a organização, gerando a necessidade de um enfoque mais am- plo e completo, tanto da estrutura quan- to dos participantes da organização; tornou-se necessário um modelo de or- ganização racional capaz de caracterizar todas as variáveis envolvidas, bem como o comportamento dos membros dela participantes, aplicável não somente à fábrica, mas a todas as formas de orga- nização humana e, principalmente, às empresas; o crescimento e a complexidade das em- presas passaram a exigir modelos orga- nizacionais mais bem definidos. Alguns historiadores verificaram que a indústria em grande escala depende da sua orga- nização, da Administração e do grande número de pessoas com diferentes ha- bilidades. Milhares de homens e mulhe- res devem ser colocados em diferentes setores de produção e em diferentes 1.1 Modelo Burocrático de Organização Ênfase na estrutura Ênfase na estrutura, nas pessoas e no ambiente ABORDAGEM ESTRUTURALISTA DA ADMINISTRAÇÃO1 Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 níveis hierárquicos: os engenheiros e administradores no alto da pirâmide e os operários na base; devem executar tarefas específicas, devem ser dirigidos e controlados. Tanto a Teoria Clássica quanto a Teoria das Relações Humanas mostraram-se insuficientes para respon- der à nova situação, que se tornava mais complexa; o ressurgimento da Sociologia da Bu- rocracia, a partir da descoberta dos tra- balhos de Max Weber, o seu criador. Se- gundo essa teoria, um homem pode ser pago para agir e se comportar de certa maneira preestabelecida, a qual lhe deve ser explicada com exatidão, muito minu- ciosamente e em hipótese alguma per- mitindo que suas emoções interfiram no seu desempenho. A Sociologia da Buro- cracia propôs um modelo de organiza- ção e os administradores não tardaram em tentar aplicá-lo na prática em suas empresas. A partir daí, surge a Teoria da Burocracia na Administração; Weber (1967) notou a proliferação de organizações de grande porte, tanto no domínio religioso (a Igreja) quanto no educacional (a Universidade) ou no eco- nômico (as grandes empresas), que ado- taram o tipo burocrático de organização, concentrando os meios de administração no topo da hierarquia e utilizando regras racionais e impessoais, visando à máxima eficiência. Weber (1967) identifica três fatores principais que favorecem o desenvolvimento da moderna burocracia: 1. o desenvolvimento de uma economia monetária: a moeda não apenas facilita, mas racionaliza as transações econômi- cas. Na burocracia, a moeda assume o lugar da remuneração em espécie para os funcionários, permitindo a centraliza- ção da autoridade e o fortalecimento da administração burocrática; 2. o crescimento quantitativo e qualitati- vo das tarefas administrativas do Estado Moderno: apenas um tipo burocráti- co de organização poderia arcar com a enorme complexidade e o tamanho de tais tarefas; 3. a superioridade técnica – em termos de eficiência – do tipo burocrático de administração: serviu como uma força autônoma interna para impor sua pre- valência. Segundo Weber (1967), a razão decisiva da superioridade da organiza- ção burocrática sempre foi unicamente sua superioridade técnica sobre qual- quer outra forma de organização. A seguir, estão as características da Burocra- cia, segundo Weber (1967): caráter legal das normas e regulamentos, caráter formal das comunicações, caráter racional e divisão do trabalho, impessoali- dade nas relações, hierarquia da autoridade, rotina e procedimentos padronizados, competência téc- nica e meritocracia, especialização da administra- ção e profissionalização dos participantes. As disfunções são: internalização das normas, excesso de formalismo e papelório, resistência a mudanças, despersonalização do relacionamento, categorização do relacionamento, superconformi- dade, exibição de sinais de autoridade e dificulda- des com clientes. As causas das disfunções da burocracia resi- dem basicamente no fato de que a burocracia não Saiba maisSaiba mais O desenvolvimento tecnológico fez com que as tarefas da administração tendessem ao aperfeiçoamento. Assim, os sistemas sociais cresceram em demasia, as grandes empresas passaram a produzir em massa, sufocando as pequenas. Além disso, nas grandes empre- sas, há uma necessidade crescente de cada vez mais se obter um controle e uma maior previsibilidade do seu funcionamento. Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 leva em conta a chamada organização informal que existe fatalmente em qualquer tipo de orga- nização, nem se preocupa com a variabilidade humana (diferenças individuais entre as pessoas), que necessariamente introduz variações no de- sempenho das atividades organizacionais. Em face da exigência de controle que norteia toda a ativi- dade organizacional, surgem as consequências im- previstas da burocracia. 1.2 Teoria Estruturalista da Administração A teoria estruturalista foi desenvolvida a par- tir das limitações e rigidez do modelo burocrático, tem proposta de compatibilizar as contribuições clássicas e humanistas na teoria da administração e representa um avanço em termos da teoria, pois, pela primeira vez, as organizações são analisadas de forma mais ampla, contemplando-se aspectos formais e não formais. Nessa teoria, o ambiente externo recebeu um enfoque especial, sendo considerado uma variável a mais no estudo das organizações. Os objetivos organizacionais adquiriram significativo relevo e o conflito passou a ser considerado sinal de vitalida- de. É o período da administração por objetivos, da teoria da crise e da administração do conflito. As origens da Teoria Estruturalista na Admi- nistração foram as seguintes: a oposição surgida entre a Teoria Tradi- cional e a Teoria das Relações Humanas – incompatíveis entre si – tornou neces- sária uma posição mais ampla e com- preensiva, que integrasse os aspectos considerados por uma e omitidos pela outra e vice-versa. A Teoria Estruturalista pretende ser uma síntese delas, inspiran- do-se na abordagem de Max Weber; a necessidade de visualizar a organiza- ção como uma unidade social complexa na qual interagem grupos sociais, que compartilham alguns dos objetivos da organização (como a viabilidade eco- nômica da organização), mas podem se opor a outros (como a maneira de distri- buir os lucros). Seu maior diálogo foi com a Teoria das Relações Humanas; a influência do estruturalismo nas ciên-cias sociais e sua repercussão no estudo das organizações: o estruturalismo in- fluenciou a Filosofia, a Psicologia (com a Gestalt), a Antropologia (com Clau- de Lévi-Strauss), a Matemática (com N. Bourbaki), a Linguística, chegando até a teoria das organizações, com Thompson, Etzioni e Blau. Na teoria administrativa, o estruturalismo se concentra nas organi- zações sociais; novo conceito de estrutura: o conceito de estrutura é antigo. Heráclito, nos primór- dios da história da Filosofia, concebia o logos como uma unidade estrutural que domina o fluxo ininterrupto do dever e o torna inteligível. É a estrutura que permi- te reconhecer o mesmo rio, embora suas águas jamais sejam as mesmas devido à contínua mudança das coisas. Estrutura é o conjunto formal de dois ou mais ele- mentos, que permanece inalterado seja na mudança, seja na diversidade de conteú- dos, isto é, a estrutura mantém-se mesmo com a alteração de um dos seus elementos AtençãoAtenção A teoria estruturalista representa um período de transição e mudança no estudo das orga- nizações. Surge como um verdadeiro desdo- bramento da Teoria da Burocracia e uma leve aproximação da Teoria das Relações Humanas, representando uma visão crítica da organiza- ção formal. Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 ou relações. A mesma estrutura pode ser apontada em diferentes áreas, e a com- preensão das estruturas fundamentais, em alguns campos de atividade, permite o reconhecimento das mesmas estrutu- ras em outros campos. O estruturalismo está voltado para o todo e o relacionamento das partes na constituição do todo. A totalidade, a interdependência das partes e o fato de o todo ser maior do que a soma das par- tes são as características do estruturalismo. A Sociedade de Organizações A sociedade moderna e industrializada é uma sociedade de organizações, da qual o homem passa a depender para nascer, viver e morrer. As or- ganizações são diferenciadas e requerem de seus membros certas características de personalidade, que permitem a participação simultânea das pes- soas em várias organizações, nas quais os papéis variam. O estruturalismo ampliou o estudo das in- terações entre os grupos sociais – Teoria das Rela- ções Humanas – para o estudo das interações en- tre as organizações sociais. Da mesma forma como os grupos sociais interagem entre si, também in- teragem entre si as organizações. As organizações passaram por um processo de desenvolvimento, a saber: 1. Etapa da natureza: é a etapa na qual os fatores naturais – elementos da natureza – constituíam a base única de subsistên- cia da humanidade. O papel do capital e do trabalho é irrelevante nessa etapa da história; 2. Etapa do trabalho: surge um fator per- turbador, que inicia uma revolução no desenvolvimento da humanidade: o trabalho. Os elementos da natureza são transformados por meio do trabalho, que conquista o primeiro plano entre os elementos que concorrem para a vida da humanidade. O trabalho passa a con- dicionar as formas de organização da sociedade; 3. Etapa do capital: é a terceira etapa, na qual o capital prepondera sobre a natu- reza e o trabalho, tornando-se um dos fatores básicos da vida social; 4. Etapa da organização: a natureza, o trabalho e o capital se submetem à or- ganização. Esta, sob uma forma rudi- mentar, já existia desde o início da evo- lução humana, do mesmo modo que o capital existira antes da fase capitalista, pois, desde quando surgiram os instru- mentos de trabalho, o capital ali estava presente. A organização tem um caráter independente da natureza, do trabalho e do capital e utiliza-se deles para alcan- çar seus objetivos. Para chegar à industrialização, a etapa da or- ganização passou por várias fases: o universalismo da Idade Média e a pre- dominância do espírito religioso; o liberalismo econômico e social dos sé- culos XVIII e XIX e o abrandamento da influência estatal pelo desenvolvimento do capitalismo; o socialismo, com o advento do século XX, obrigando o capitalismo a enveredar pelo caminho do máximo desenvolvi- mento possível; a atualidade, que se caracteriza por uma sociedade de organizações. Essas quatro fases revelam características políticas e filosóficas. Etzioni (apud MAXIMIANO, 2004) vê uma revolução da organização com no- vas formas sociais que emergem, enquanto as anti- gas modificam suas formas e alteram suas funções. Essa revolução produz uma variedade de organiza- ções, das quais a sociedade passa a depender mais intensamente. Daí o aparecimento de empresas de serviços, associações comerciais, instituições educacionais, hospitais, sindicatos etc., resultantes da necessidade de integração cada vez maior das atividades humanas em formas organizacionais Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 envolventes. As organizações não são satélites da sociedade, mas são partes integrantes e funda- mentais dela. As organizações hoje são complexas, em todos os campos da atividade humana; este não é um fenômeno separado das mudanças so- ciais: a complexidade é parte integrante e funda- mental da sociedade moderna. As Organizações As organizações constituem a forma domi- nante de instituição da sociedade moderna: são a manifestação de uma sociedade especializada e interdependente, que se caracteriza por um cres- cente padrão de vida. As organizações permeiam todos os aspectos da vida moderna e envolvem a participação de muitas pessoas. Cada organiza- ção é limitada por recursos escassos e, por isso, não pode tirar vantagens de todas as oportunida- des que surgem, daí o problema de determinar a melhor alocação de recursos. A eficiência ocorre quando a organização aplica seus recursos na al- ternativa que produz o melhor resultado. As burocracias constituem um tipo especí- fico de organização: as organizações formais. As organizações formais constituem uma forma de agrupamento social estabelecida de maneira de- liberada ou proposital para alcançar um objetivo específico. Elas se caracterizam por regras, regula- mentos e estrutura hierárquica para ordenar as re- lações entre seus membros. Reduzem as incertezas decorrentes da variabilidade humana (diferenças individuais entre as pessoas), tiram vantagens dos benefícios da especialização, facilitam o processo decisório e asseguram a implementação das deci- sões tomadas. Um esquema formal que regula o comportamento humano para o alcance eficiente de objetivos explícitos torna a organização formal única entre as instituições da sociedade moderna e digna de estudo especial. A organização formal é criada para atingir objetivos explícitos e é um sistema preestabeleci- do de relações estruturais impessoais, que resulta no relacionamento formal entre as pessoas, permi- tindo reduzir a ambiguidade e a espontaneidade e aumentar a previsibilidade do comportamento. As organizações formais, por excelência, são as buro- cracias. Os estruturalistas se iniciaram na teoria da burocracia. O Homem Organizacional Enquanto a Teoria Clássica caracteriza o homo economicus e a Teoria das Relações Humanas, “o homem social”, a Teoria Estruturalista focaliza o “homem organizacional”, a pessoa que desempe- nha diferentes papéis em várias organizações. Na sociedade de organizações, moderna e industria- lizada, avulta a figura do homem organizacional, que participa de várias organizações. O homem moderno, ou seja, o homem orga- nizacional, para ser bem-sucedido em todas as or- ganizações, precisa ter as seguintes características de personalidade: flexibilidade, em face das constantes mudanças que ocorrem na vida moder- na e da diversidade de papéis desempe- nhados nas organizações; tolerância àsfrustrações, para evitar o desgaste emocional decorrente do con- flito entre as necessidades organizacio- nais e as necessidades individuais, cuja mediação é feita através de normas ra- cionais, escritas e exaustivas; capacidade de adiar as recompensas e poder de compensar o trabalho rotineiro na organização em detrimento de prefe- rências pessoais; permanente desejo de realização, para garantir cooperação e conformidade com as normas organizacionais, para ob- ter recompensas sociais e materiais. As organizações sociais são consequências da necessidade que as pessoas têm de relacionar- -se e juntar-se a outras, a fim de poderem realizar seus objetivos. Dentro da organização social, as pessoas ocupam certos papéis. Papel significa um conjunto de comportamentos solicitados a uma pes- soa; é a expectativa de desempenho por parte do Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 grupo social e consequente internalização dos valo- res e normas que o grupo, explícita ou implicitamen- te, prescreve para o indivíduo. O papel prescrito para o indivíduo é reforçado pela sua própria motivação em desempenhá-lo eficazmente. Cada pessoa per- tence a vários grupos e organizações, desempenha diversos papéis, ocupa muitas posições e suporta grande número de normas e regras diferentes. Análise das Organizações O estudo das organizações requer uma análi- se organizacional mais ampla do que as teorias an- teriores, pois os estruturalistas pretendem conciliar a Teoria Clássica e a Teoria das Relações Humanas, baseando-se na Teoria da Burocracia. A análise das organizações é feita a partir de uma abordagem múltipla, que leva em conta os fundamentos da Teoria Clássica, da Teoria das Relações Humanas e da Teoria da Burocracia. Vejamos, a seguir, os as- pectos dessa abordagem múltipla. Aspectos da Abordagem Múltipla Abordagem múltipla: organização formal e informal Os estruturalistas estudam o relacionamen- to entre a organização formal e a informal dentro de uma abordagem múltipla. O estruturalismo é uma síntese da Teoria Clássica (formal) e da Teoria das Relações Humanas (informal); encontrar equi- líbrio entre os elementos racionais e não racionais do comportamento humano constitui o ponto principal da vida, da sociedade e do pensamento modernos; constitui o problema central da Teoria das Organizações. Essa perspectiva ampla e equili- brada, que inclui a organização formal e a organi- zação informal, conjuntamente, encoraja o desen- volvimento de um estudo não valorativo – nem a favor da administração nem a favor do operário – e amplia o seu campo, a fim de incluir todos os ele- mentos da organização. Abordagem múltipla: recompensas materiais e sociais Os estruturalistas abrangem todas as recom- pensas utilizadas pela organização para motivar as pessoas. Tanto a abordagem da Teoria Clássica quanto a das Relações Humanas são fragmentárias e parciais. O significado das recompensas salariais e sociais e os símbolos de posição (tamanho da mesa ou escritório, carros da companhia etc.) são importantes na vida da organização. Abordagem múltipla: os diferentes enfoques da organização Para os estruturalistas, as organizações po- dem ser concebidas segundo duas diferentes con- cepções: 1. Modelo racional da organização: a orga- nização é um meio deliberado e racional de alcançar objetivos organizacionais. Os objetivos são explicitados – como maximizar os lucros – e todos os com- ponentes da organização são escolhidos em função de sua contribuição aos ob- jetivos. A estrutura organizacional bus- ca atingir a maior eficiência; os recursos são adequados e alocados de acordo com o plano diretor; todas as ações são apropriadas e seus resultados devem coincidir com os planos; enfatiza o pla- nejamento e o controle; as partes da or- ganização se submetem a uma rede de controle; a organização funciona como um sistema fechado de lógica que exclui a incerteza. É o caso da Administração Científica, na qual a única incógnita na equação era o operador humano, razão pela qual a administração se concentra- va no controle sobre ele. É o caso, tam- bém, do modelo burocrático, no qual toda contingência é prevista e orienta- da por regras. As influências ambientais, sob a forma de clientes, são controladas pelo tratamento impessoal da clientela, através de regras padronizadas; Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 2. Modelo natural de organização: a orga- nização é um conjunto de partes inter- dependentes, que constituem o todo: cada parte contribui com algo e recebe algo do todo, o qual é interdependente com um ambiente mais amplo. O objeti- vo básico é a sobrevivência do sistema: as partes se vinculam mutuamente em interdependência, por meio de proces- sos evolutivos. No modelo de sistema natural, tudo é funcional e equilibrado, podendo ocorrer disfunções. A autor- regulação é o mecanismo que natu- ralmente governa as relações entre as partes e suas atividades, mantendo o sistema equilibrado e estável frente às perturbações vindas do ambiente exter- no. Há uma interdependência com um ambiente incerto, flutuante e imprevi- sível, havendo um equilíbrio das delica- das interdependências dentro do siste- ma ou entre o sistema e o ambiente. O sistema natural é aberto às influências ambientais e não pode ser abordado sob o aspecto de completa certeza ou pelo controle. Seu comportamento não é governado por uma rede de controle, pois é determinado pela ação do meio ambiente. Obedece a uma lógica de sis- tema aberto. O modelo de sistema natu- ral traz como consequência o inevitável aparecimento da organização informal nas organizações. Não há nenhuma or- ganização fechada ao ambiente ou in- teiramente de acordo com os planos ou, ainda, que consiga completo poder sobre todos os seus membros. Em toda a organização, podem ser vistos elemen- tos de ambos os sistemas. Abordagem múltipla: os níveis da organização As organizações caracterizam-se por uma hierarquia de autoridade, isto é, pela diferenciação de poder, como vimos no modelo burocrático de Weber. Para Parsons (apud MAXIMIANO, 2004), as organizações se defrontam com uma multiplicida- de de problemas, que são classificados e categori- zados para que a responsabilidade por sua solução seja atribuída a diferentes níveis hierárquicos da organização. Assim, as organizações se desdobram em três níveis organizacionais: 1. Nível Institucional: é o nível organizacio- nal mais elevado, composto dos dirigen- tes e altos executivos. É denominado ní- vel estratégico, pois é responsável pela definição dos objetivos e estratégias organizacionais, e lida com os assuntos relacionados à totalidade da organiza- ção e ao longo prazo. É o nível que faz relação com o ambiente externo da or- ganização; 2. Nível Gerencial: é o nível intermediário, situado entre o nível institucional e o ní- vel técnico. Cuida do relacionamento e da integração desses dois níveis. As deci- sões tomadas no nível institucional são transformadas, no nível gerencial, em planos e programas para que o nível téc- nico os execute. O nível gerencial deta- lha os problemas, capta os recursos ne- cessários para alocá-los na organização e cuida da distribuição e da colocação dos produtos e serviços da organização; 3. Nível Técnico: é o nível mais baixo da or- ganização. É chamado nível operacional e é onde as tarefas são executadas, os programas são desenvolvidos e as téc- nicas são aplicadas. Cuida da execução das operações e tarefas. É focado no cur- to prazo e segue programas desenvolvi- dos no nível gerencial. Abordagem múltipla: a diversidade de organizações Enquanto as teorias anteriores focalizaram as fábricas, os estruturalistas ampliaramo campo de análise para incluir várias organizações: pequenas, médias e grandes, públicas e privadas, empresas dos mais diversos tipos (indústrias ou produtoras de bens, prestadoras de serviços, comerciais, agrí- Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 colas etc.), organizações militares (exército, mari- nha, aeronáutica), religiosas, organizações filantró- picas, partidos políticos, prisões, sindicatos etc. Abordagem múltipla: análise interorganizacional Todas as teorias administrativas anteriores preocuparam-se com fenômenos que ocorrem dentro da organização. Tanto que essas teorias são criticadas pelo fato de adotarem uma abordagem de sistema fechado, ou seja, pelo fato de utilizarem o modelo racional de organização como base de seus estudos. Além da análise interna das organizações, os estruturalistas se preocuparam com a análise interorganizacional, a partir da crescente comple- xidade ambiental e da interdependência das or- ganizações. Até então, não havia a preocupação com o ambiente organizacional como unidade de observação e análise. A negligência quanto às re- lações interorganizacionais surpreende mais ainda quando se nota que as organizações formais estão envolvidas em um ambiente composto por outras organizações e controlado por um complexo de normas e valores de uma sociedade maior. O re- lacionamento entre a organização e seu ambien- te revela o grau de dependência da organização quanto aos eventos externos. O campo da teoria organizacional foi ampliado com a análise das rela- ções interorganizacionais: a organização funciona na base de transações com outras organizações; ela interage com seu ambiente externo e com as demais organizações nele contidas. Tipologias das Organizações Não existem duas organizações iguais. Elas são diferentes entre si e apresentam enorme varia- bilidade. Contudo, existem características que per- mitem classificá-las em classes ou tipos. As classi- ficações ou taxonomias – denominadas tipologias das organizações – permitem uma análise compa- rativa das organizações, através de uma caracterís- tica comum ou de uma variável relevante. Para a análise comparativa das organizações, os estruturalistas criaram tipologias de organiza- ções, para classificá-las de acordo com caracterís- ticas distintivas. Tipologia de Etzioni Segundo Etzioni (apud MAXIMIANO, 2004), as organizações possuem as seguintes caracterís- ticas: divisão de trabalho e atribuição de poder e responsabilidades: de acordo com um plano intencional, para a reali- zação de objetivos específicos; centros de poder: controlam os esfor- ços combinados da organização e os di- rigem para seus objetivos; substituição do pessoal: as pessoas são admitidas, promovidas, demitidas ou substituídas por outras. Para Etzioni (apud MAXIMIANO, 2004), os meios de controle utilizados pela organização po- dem ser classificados em três categorias: 1. Controle físico: é o controle baseado na aplicação de meios físicos ou de sanções ou ameaças físicas. As pessoas obede- cem através de ameaças de sanções físi- cas, coação, imposição, força e medo das consequências. A motivação é negativa e baseia-se em punições; é o poder coer- citivo; 2. controle material: é o controle baseado na aplicação de meios materiais e de recompensas materiais. As pessoas obe- decem com base no interesse, na vanta- gem desejada e nos incentivos econô- micos; 3. controle normativo: é o controle basea- do em símbolos puros ou em valores sociais. As pessoas buscam símbolos normativos (como prestígio e estima) e sociais (como amor e aceitação). É o con- trole moral e ético, e baseia-se na con- vicção, na fé, na crença e na ideologia. Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 Cada tipo de controle provoca um padrão de obediência, em função do interesse em obedecer ao controle. Existem três tipos de interesse ou en- volvimento dos participantes da organização: 1. alienatório: o indivíduo não está psico- logicamente interessado em participar, mas é coagido e forçado a permanecer na organização; 2. calculista: o indivíduo sente-se interes- sado na medida em que seus esforços tenham uma vantagem ou compensa- ção econômica imediata; 3. moral: o indivíduo atribui valor à mis- são da organização e ao trabalho den- tro dela, cumprindo-o da melhor forma possível, porque lhe atribui valor. A tipologia de organizações de Etzioni (apud MAXIMIANO, 2004) classifica as organizações com base no uso e significado da obediência, a saber: organizações coercitivas: o poder é imposto por meio da força física ou por controles baseados em prêmios ou puni- ções. O envolvimento dos participantes tende a ser “alienativo” em relação aos objetivos da organização. É o caso de pri- sões, campos de concentração, institui- ções penais etc.; organizações utilitárias: o poder ba- seia-se no controle dos incentivos eco- nômicos. Utilizam a remuneração como base principal de controle. As pessoas contribuem para a organização com um envolvimento calculado, baseado nos benefícios que esperam obter. É o caso das empresas; organizações normativas: o poder baseia-se no consenso sobre objetivos e métodos da organização. Utilizam o controle moral para influenciar os parti- cipantes, devido ao elevado envolvimen- to moral. É o caso da Igreja, de universi- dades, hospitais, organizações políticas e sociais, organizações voluntárias e Orga- nizações Não Governamentais (ONGs). A tipologia de Etzioni (apud MAXIMIANO, 2004) enfatiza os sistemas psicossociais das orga- nizações. Sua desvantagem é a omissão à estru- tura, à tecnologia e ao ambiente. Trata-se de uma tipologia simples, unidimensional e baseada exclu- sivamente nos tipos de controle. Tipologia de Blau e Scott As tipologias de organização se baseiam em características comuns às organizações, como se elas existissem no vazio. Acontece que as organiza- ções estão inseridas em comunidades. As relações entre os membros da organização, de um lado, e entre o público, clientes e instituições externas, de outro, são aspectos que as tipologias anteriores omitiram. As organizações existem para proporcio- nar benefícios ou resultados para a comunidade. A tipologia de Blau e Scott (apud MAXIMIANO, 2004) se baseia no beneficiário: quem se beneficia com a organização. Os benefícios para a parte principal são a essência da existência da organização. A tipologia mostra quatro tipos de partici- pantes que se beneficiam: 1. os próprios membros da organização; 2. os proprietários, dirigentes ou acionistas da organização; 3. os clientes da organização; 4. o público em geral. Assim, existem quatro tipos básicos de or- ganizações: associações de benefícios mútuos: em que os principais beneficiários são os próprios membros da organização, como as associações profissionais, as coopera- tivas, os sindicatos, os fundos mútuos, os consórcios etc.; organizações de interesses comer- ciais: os proprietários ou acionistas são os principais beneficiários da organiza- ção. É o caso de empresas privadas, so- Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 ciedades anônimas ou sociedades de responsabilidade limitada; organizações de serviços: um grupo de clientes é o beneficiário principal. Exem- plos: hospitais, universidades, escolas, organizações religiosas, agências sociais e ONGs; organizações de Estado: O beneficiário é o público em geral. Exemplos: organi- zação militar, Correios, instituições jurídi- cas e penais, segurança pública, sanea- mento básico etc. A tipologia de Blau e Scott (apud MAXIMIA- NO, 2004) enfatiza a influência do beneficiário sobre a organização,a ponto de condicionar sua estrutura e seus objetivos. Mas, como na tipologia de Etzioni (apud MAXIMIANO, 2004), a classificação de Blau e Scott também omite as tecnologias, as estruturas ou os sistemas administrativos das orga- nizações. É também uma tipologia simples e unidi- mensional. Objetivos Organizacionais Os objetivos organizacionais foram estuda- dos pelos neoclássicos (Administração por Obje- tivos – APO) e estruturalistas. As organizações são unidades sociais que buscam atingir objetivos es- pecíficos: sua razão de ser é servir a tais objetivos. Um objetivo organizacional é uma situação deseja- da que a organização tenta atingir. Se o objetivo é atingido, ele deixa de ser a imagem orientadora da organização e é incorporado a ela como algo real e atual. A eficiência da organização é medida pelo alcance dos objetivos. As organizações podem ter simultaneamente dois ou mais objetivos ou podem acrescentar novos objetivos aos originais. No campo acadêmico, existem organizações que combinam ensino e pesquisa. Alguns hospitais funcionam também como centros de preparação para médicos ou centros de pesquisas. Os objeti- vos organizacionais têm várias funções, a saber: apresentação de uma situação futura: in- dica a orientação que a organização pro- cura seguir. Dessa forma, estabelecem- -se objetivos como sendo linhas mestras para a atividade futura da organização; os objetivos constituem uma fonte de legitimidade que justifica as atividades da organização e, na verdade, até a sua própria existência; os objetivos servem como padrões atra- vés dos quais os membros de uma orga- nização e os estranhos a ela podem ava- liar o êxito da organização, isto é, a sua eficiência e o seu rendimento; os objetivos servem como unidade de medida para avaliar e comparar a produ- tividade da organização. A definição de objetivos é intencional, mas nem sempre racional. Trata-se de um processo de interação entre a organização e o ambiente. O estudo dos objetivos das organizações identifica as relações entre a organização e a sociedade em geral, que está em constante mudança. Como as organizações são unidades sociais planificadas e orientadas para objetivos específicos, sob lideran- ça racional, elas têm maior inclinação para a mu- dança do que qualquer outra unidade social. Essas mudanças criam novas necessidades de mudan- ças, que vão exigir ajustes adicionais. Assim, fato- res internos ou externos provocam mudanças nos objetivos organizacionais. Ambiente Organizacional As organizações vivem em um mundo huma- no, social, político e econômico. Elas existem em um contexto que denominamos ambiente. Am- biente é tudo o que envolve externamente uma organização. Para os estruturalistas, o ambiente é constituído pelas outras organizações que formam a sociedade. Dois conceitos são fundamentais para a análise interorganizacional: o conceito de inter- dependência das organizações e o conceito de conjunto organizacional. Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 Interdependência das organizações com a sociedade: nenhuma organização é autônoma ou autossuficiente. Toda or- ganização depende de outras organiza- ções e da sociedade em geral para poder sobreviver. Existe uma interdependência das organizações com a sociedade em geral, em função das complexas intera- ções entre elas. As consequências dessa interdependência são: mudanças fre- quentes nos objetivos organizacionais, na medida em que ocorrem mudanças no ambiente externo, e certo controle ambiental sobre a organização, que limi- ta sua liberdade de agir; Conjunto organizacional: o ponto de partida para o estudo das relações in- terorganizacionais com relação ao con- junto de papéis a serem desenvolvidos dentro de uma organização. Conjunto de papéis consiste do complexo de pa- péis e relações de papéis que o ocupan- te de um dado status tem em virtude de ocupar o status. O conceito de conjunto organizacional é análogo ao de conjunto de papéis. Cada organização ou classe de organizações tem interações com uma cadeia de organizações em seu ambien- te, formando um conjunto organizacio- nal. A organização que serve como pon- to de referência é chamada organização focal. As relações entre organização focal e seu conjunto organizacional são me- didas pelos conjuntos de papéis de seu pessoal de interface ou de fronteira, isto é, pelo seu pessoal que está em contato com outras organizações. Os estrutura- listas inauguraram um novo ciclo na teo- ria administrativa: o gradativo despren- dimento daquilo que ocorre dentro das organizações para aquilo que ocorre fora delas. A ênfase sobre o ambiente come- ça por aqui. Estratégia Organizacional Ao lado dos autores neoclássicos, os estrutu- ralistas desenvolveram conceitos sobre estratégia organizacional, tendo em vista a ênfase no am- biente e na interdependência entre organização e ambiente. A estratégia é a maneira pela qual uma organização lida com seu ambiente para atingir seus objetivos, ou seja, para lidar com seu ambien- te e alcançar objetivos, a organização desenvolve estratégias. Para os estruturalistas, existem estraté- gias de competição e de cooperação: competição: é uma forma de rivalidade entre duas ou mais organizações frente à mediação de terceiro grupo, que pode ser o cliente, o fornecedor ou outros. A competição é um complexo sistema de relações e envolve a disputa por recursos (como clientes ou compradores). É um processo pelo qual a escolha do objetivo pela organização é controlada, em parte, pelo ambiente. Daí a necessidade de dis- puta, devido à rivalidade pelos mesmos recursos. A competição nem sempre envolve interação direta entre as partes rivais; ajuste ou negociação: é uma estratégia que busca negociações para um acordo quanto à troca de bens ou serviços entre duas ou mais organizações. O ajuste é a negociação quanto a uma decisão sobre um comportamento futuro que seja sa- tisfatório para os envolvidos. O ajusta- mento periódico de relações ocorre nos acordos coletivos sindicais, negociações com fornecedores ou com compradores etc. Ao contrário da competição, o ajuste envolve interação direta com outras or- ganizações e não com um terceiro par- tido; cooptação ou coopção: é o processo de absorver novos elementos na liderança ou na tomada de decisão de uma organi- zação como meio para impedir ameaças externas à sua estabilidade ou existên- Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 cia. A organização traz para dentro de si elementos vindos de outras organiza- ções potencialmente ameaçadoras, para compartilhar seu processo político de tomada de decisões e afastar possíveis retaliações. A cooptação é a aceitação de representantes de outras organizações (bancos credores ou instituições finan- ceiras) pelo grupo dirigente, o que limita a arbitrariedade da organização na esco- lha de objetivos; coalizão: é a combinação de duas ou mais organizações para alcançar um ob- jetivo comum. Trata-se de uma forma extrema de condicionamento ambiental dos objetivos de uma organização. Duas ou mais organizações agem como uma só com relação a certos objetivos, quan- do há necessidade de mais apoio ou recursos que não sejam possíveis para cada organização isoladamente. A coali- zão exige a decisão conjunta de ativida- des futuras e limita decisões arbitrárias ou unilaterais; é uma forma de controle social. Ao contrário da competição, as outras três estratégias – ajuste, cooptação e coalizão – são subtipos da estratégia cooperativa. As estratégias cooperativas requerem a interação direta entre as organizações do ambiente. Para os estruturalistas, a estratégia não é produtode um único arquiteto, mas o resultado da ação de vários agentes e coalizões de agentes, no sentido de alcançar seus próprios interesses e agendas. Os grupos de subordinados podem en- trar nos processos de determinação e distorção de estratégias. No fundo, a estratégia permite mapear a estrutura de poder existente na organização. Conflitos Organizacionais Os estruturalistas discordam de que haja har- monia de interesses entre patrões e empregados (como afirmava a Teoria Clássica) ou de que essa harmonia deva ser preservada pela Administração, através de uma atitude compreensiva e terapêu- tica (como afirmava a Teoria das Relações Huma- nas). Ambas as teorias punham fora de discussão o problema do conflito, em decorrência do seu ca- ráter prescritivo. Para os estruturalistas, os conflitos – embora nem todos desejáveis – são elementos geradores das mudanças e da inovação na organi- zação. Conflito significa a existência de ideias, sen- timentos, atitudes ou interesses antagônicos e colidentes que podem se chocar. Sempre que se fala em acordo, aprovação, coordenação, resolu- ção, unidade, consentimento, comprometimento, harmonia, deve-se lembrar de que essas palavras pressupõem a existência ou iminência de seus opostos, como desacordo, desaprovação, desen- tendimento, dissensão, incongruência, discordân- cia, inconsistência, oposição – o que significa con- flito. O conflito é condição geral do mundo animal. O ser humano sobressai-se entre os animais pela capacidade de atenuar o conflito, embora nem sempre possa eliminá-lo. A sociedade e a civili- zação – requisitos básicos da vida humana – são viáveis graças ao grau de congruência de objetivos entre as pessoas, através de mecanismos ou regras que imponham ordem e acomodação. As fontes de cooperação residem nas seme- lhanças de interesses – reais ou supostos – entre in- divíduos e organizações. As fontes de conflitos lo- calizam-se em alguma divergência real ou suposta de interesses. Há um continuum que vai desde uma colisão frontal de interesses e completa incompati- bilidade, em um extremo, até interesses diferentes, mas não incompatíveis, em outro extremo. Os estruturalistas indicam importantes fun- ções sociais do conflito e não concordam com sua repressão artificial. Através do conflito, avaliam- -se o poder e o ajustamento do sistema da orga- DicionárioDicionário “Kolb e Putnam (1992), por exemplo, argumentam que o conflito existe quando existem diferenças reais ou percebidas que surgem em situações or- ganizacionais específicas e geram emoção como consequência.” (COOPER; ARGYRES, 2003). Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 nização à situação real, para atingir a harmonia na organização. O conflito gera mudanças e provoca inovação na medida em que as soluções são alcan- çadas. Todavia, essas soluções constituirão a base de novos conflitos, que gerarão novas mudanças, as quais provocarão outras inovações, e assim por diante. Se o conflito for disfarçado e sufocado, ele procurará outras formas de expressão, como aban- dono do emprego ou aumento de acidentes, que, no fim, apresentam desvantagens tanto ao indiví- duo quanto à organização. Dilemas da Organização, Segundo Blau e Scott Para Blau e Scott (apud MAXIMIANO, 2004), há uma relação de mútua dependência entre con- flito e mudança, pois as mudanças precipitam con- flitos e os conflitos geram inovações. Os conflitos – mesmo ocultos ou reprimidos pela rigidez buro- crática – são a fonte inevitável da mudança orga- nizacional. Conflitos entre funcionários e clientes levam a novas práticas para resolver esses confli- tos e reduzir as tensões, mas inovações utilizadas para resolver um conflito criam outros, pois afetam e prejudicam outras inovações e melhorias já ob- tidas e levam a uma dialética entre a organização formal e a informal. Enquanto o conflito representa um choque de interesses antagônicos, o dilema representa uma situação frente a dois interesses inconciliáveis entre si: o alcance de um deles impede o alcance do outro. As organizações se defrontam com di- lemas, isto é, com escolhas entre alternativas, nas quais um objetivo terá de ser sacrificado no inte- resse de outro. Os conceitos de conflito e de dile- ma permitem a compreensão dos processos de mudança gerados internamente na organização. A mudança ocorre sempre que novas situações exi- jam, novos problemas surjam e novas soluções se- jam criadas – daí a inovação. Os problemas atuam como condição interna e contínua de mudança dentro do sistema. Segundo Blau e Scott (apud MAXIMIANO, 2004), há três dilemas básicos na organização for- mal: 1. dilema entre coordenação e comu- nicação livre: as organizações exigem coordenação eficiente e eficaz solução dos problemas administrativos. A coor- denação – interdepartamental ou inter- pessoal – é dificultada quando se per- mite livre comunicação entre as partes envolvidas. Esta introduz novas soluções não previstas para a coordenação. As exigências de coordenação e de comu- nicação livre são conflitantes entre si; 2. dilema entre disciplina burocrática e especialização profissional: há uma oposição entre os princípios de com- portamento burocrático e os que go- vernam o comportamento profissional. Os princípios burocráticos estão ligados aos interesses da organização, enquan- to os princípios profissionais referem- -se a normas técnicas e códigos de ética da profissão. O especialista profissional atende aos interesses de sua profissão, enquanto o burocrata atende aos da or- ganização. Enquanto o profissional deci- de com base em padrões profissionais e universais, o burocrata decide com base em regras da organização. Daí o dilema entre a orientação cosmopolita do pro- fissional e a orientação local e paroquial do burocrata; 3. dilema entre a necessidade de plane- jamento centralizado e a necessidade de iniciativa individual: as organiza- ções enfrentam as mudanças, através de um esforço criador, para crescer e sobre- viver. Seu destino depende da iniciativa e da criatividade individual. A necessi- dade de planejamento e controle é vital para a organização, embora tenda a ini- bir a iniciativa e a criatividade individual. Quanto maior o planejamento centrali- zado, menores a iniciativa e a criativida- de individual e vice-versa. Esses três dilemas organizacionais são mani- festações do dilema maior entre ordem e liberda- Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 de e são responsáveis pelo desenvolvimento das organizações: para resolver problemas antigos, novos problemas são criados e a experiência ob- tida na decisão contribui para a busca de soluções de novos problemas, tornando o desenvolvimento organizacional um processo contínuo e dialético. Conflitos entre Linha e Assessoria (Staff) A estrutura linha-staff é caracterizada por confrontos entre o pessoal de linha, que detém autoridade linear, e o pessoal de assessoria, que possui autoridade de staff. Como precisam convi- ver entre si, em uma mútua dependência, surgem conflitos entre linha e assessoria. Os conflitos envolvem aspectos positivos e negativos, embora as consequências negativas e destrutivas do conflito – tanto interno quanto ex- terno – sejam mais visíveis. A melhor maneira de comprometer a saúde da organização é promover um conflito interno, mas também o conflito exter- no provocado por forças de fora da organização pode exercer pressão desintegradora. Todavia, o conflito pode apresentar potencialidades positi- vas, permitindo o fortalecimento da coesão grupal e da organização informal, bem como o sentimen- to de pertencer à organização. Apreciação Crítica da Teoria Estruturalista O estruturalismo é uma convergência de vá- rias abordagens– Teoria Clássica, Teoria das Rela- ções Humanas e Teoria da Burocracia –, em uma tentativa de integração e ampliação dos conceitos dessas teorias. É a chamada abordagem múltipla na análise das organizações. Ampliação da Abordagem O estruturalismo muda o foco de atenção no indivíduo (Teoria Clássica) e no grupo (Relações Humanas) para a estrutura da organização como um todo. A Teoria Estruturalista se interessa pela organização total, como um sistema social e cuja estrutura deve ser estudada em si mesma. A ênfase desloca-se para a organização, que se torna o foco de atenção do analista. A visão é mais ampla. Com o neoestruturalismo – um movimento mais recen- te –, surge a preocupação com o ambiente. Dupla Tendência Teórica No estruturalismo, coexistem duas tendên- cias: a integrativa e a do conflito. 1. Alguns autores se preocupam em juntar e enfatizar a estrutura e os aspectos in- tegrativos da organização: a análise é da organização como um todo; 2. Outros têm a preocupação de mostrar a dinâmica e enfatizam os aspectos de conflito e divisão na organização. O ob- jeto de análise é os conflitos. No estudo das organizações, o ponto de vista do conflito pode ser mais relevante (em- presas ou prisões), enquanto, em outros casos, a abordagem integrativa parece mais útil (organizações de juventude ou nas cooperativas). As duas abordagens – a integrativa e a de conflito – podem ser combinadas, pois não há contradi- ção inerente entre ambas. O estrutura- lismo conduz a uma ampla visão de que os conflitos e antagonismos não podem ser relegados à esfera de atritos inter- pessoais: sua compreensão exige uma atenção à estrutura organizacional. Teoria de Crise A Teoria Estruturalista é denominada “teoria de crise”, pois tem mais a dizer sobre os problemas e patologias das organizações complexas do que sobre sua normalidade. Os autores estruturalistas são críticos e revisionistas, procurando localizar nas organizações o núcleo de suas problemáticas. Teorias da Administração II Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Teoria de Transição e de Mudança A Teoria Estruturalista é uma teoria de tran- sição e de mudança, na qual o campo todo parece estar em estado de crescimento acelerado. Falta ainda uma exata definição dos componentes e re- lações que a Teoria de Sistemas definiu posterior- mente. Os estruturalistas queixam-se de que certas áreas de estudo carecem de definição, como o am- biente, as relações interorganizacionais etc. Em resumo, a tentativa de conciliação e inte- gração dos conceitos clássicos e humanísticos, a vi- são crítica do modelo burocrático, a ampliação da abordagem das organizações envolvendo o con- texto ambiental e relações interorganizacionais (variáveis externas), além do redimensionamento das variáveis organizacionais internas (múltipla abordagem estruturalista) e do avanço à aborda- gem sistêmica, são aspectos que marcaram a teo- ria administrativa. Em suma, o estruturalismo re- presenta uma trajetória da abordagem sistêmica. Aliás, os autores neoestruturalistas são os respon- sáveis pelo surgimento da Teoria da Contingência. 1.3 Resumo do Capítulo 1.4 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste capítulo sobre a abordagem estruturalista da adminis- tração: o modelo burocrático de organização e a teoria estruturalista. Analisamos as organizações, o ho- mem e o ambiente organizacional, bem como seus conflitos e dilemas. Chegou a hora de identificar seu nível de assimilação ao conteúdo estudado. 1. Quais os princípios que favoreceram o desenvolvimento da moderna burocracia? 2. Quais aspectos marcaram o início da teoria estruturalista? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Prezado(a) aluno(a), a abordagem comporta- mental da ciência administrativa propõe o abando- no de posições normativas e descritivas e a adoção de uma posição humanística e descritiva, mantida, portanto, a ênfase nas pessoas. Neste capítulo, es- tudaremos os principais aspectos da abordagem comportamental e como eles se traduzem no dia a dia organizacional. Essa abordagem diferencia-se da apresenta- da por John B. Watson (apud MAXIMIANO, 2004), que trabalhou o enfoque individual através da rea- lização de experimentos em laboratório, analisan- do: aprendizagem; estímulo e reações; hábitos etc. O método de Watson evoluiu para a análise comportamental de grupos, utilizada por Kurt Le- win na chamada Psicologia Social (Teoria das Rela- ções Humanas), e, a seguir, para a Psicologia Orga- nizacional em um sentido amplo, ainda que sem desconsiderar os pequenos grupos sociais. Dessa forma, a Psicologia Organizacional contribuiu decisivamente para o surgimento de uma teoria administrativa mais democrática e hu- manística: a Teoria Comportamental da Adminis- tração. O maior expoente behaviorista foi Herbert Alexander Simon (prêmio Nobel de Economia – 1978), seguido por: Chester Barnard, Douglas Mc- Gregor, Rensis Liker e Chris Argyris. No campo da Motivação Humana, destacaram-se, principalmen- te: Abraham Maslow, Frederik Herzberg e David McClelland. Os defensores do behaviorismo atacavam duramente a Teoria Clássica, em função de seu excessivo mecanicismo, argumentando que o ho- mem deveria pensar e criar mais. Os seguidores de Simon também criticavam a Teoria das Relações Humanas, pela sua ingenuidade, sugerindo que a liberdade fosse complementada com mais respon- sabilidade. Quanto à teoria burocrática, os comporta- mentalistas discordavam do modelo de máquina adotado como metáfora explicativa da organiza- ção. Em 1947, surge nos Estados Unidos, o livro O comportamento administrativo, de Simon, alcan- çando enorme repercussão, ao opor-se totalmen- te à Teoria Clássica, aceitando alguns princípios da Teoria das Relações Humanas. O livro também en- caminha o surgimento da Teoria da Decisão. Sendo assim, pode-se dizer que o behaviorismo reescalo- na as abordagens anteriores, incrementando-as e diversificando-as largamente. ABORDAGEM COMPORTAMENTAL DA ADMINISTRAÇÃO2 Giselle Pavanelli Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 A Teoria Comportamental é a retomada da teoria das relações humanas, em novas bases. O trabalho é mais fundamentado em pesquisa e há uma tentativa de síntese da teoria anterior. A Teo- ria Comportamental surge, também, em oposição às teorias com ênfase na estrutura e nas tarefas, trazendo muitos tópicos da teoria burocrática. A partir dos trabalhos de dinâmica de grupo desenvolvidos por Kurt Lewin, ainda na sua fase de impulsionador da Teoria das Relações Humanas, com a divulgação do livro de Chester Barnard e, posteriormente, dos estudos de George Homans sobre sociologia institucional de grupo, culminan- do com a publicação do livro de Herbert Simon sobre o comportamento administrativo, uma nova configuração passa a dominar a teoria administra- tiva. Embora as raízes dessa nova abordagem possam ser localizadas muito mais adiante, é a partir da década de 1950 que se desenvolve, ini- cialmente nos Estados Unidos, uma nova concep- ção de Administração, trazendo novos conceitos, novas variáveis e, sobretudo, uma nova visão da teoria administrativa, baseada no comportamento humano nas organizações. A abordagem comportamental marca a mais forte ênfase das ciências do comportamento na teoria administrativa e a busca de soluções demo- cráticas e flexíveis para os problemas organizacio- nais. A abordagem comportamental originou-se das ciências comportamentais, em particular da psicologia organizacional. As ciências comportamentais têm brindado a teoria administrativa com uma multiplicidade de conclusões acerca da natureza e características do ser humano, a saber: o ser humano é um animal social dota-
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