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Ação Pietra

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO - SP.
PAULO FERNANDO PAFFI VIDAL, brasileiro, casado, portador do RG nº, inscrito no Cadastro Nacional de Pessoa Física sob nº 066.657.198-80, residente e domiciliado na Rua Alcindo Guanabara, 52 apartamento 501, bairro Jardim da Glória, na cidade de São Paulo - SP, CEP 01546-20, endereço eletrônico paffividal@yahoo.com.br, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil, propor a presente AÇÃO DE COBRANÇA CUMULADA COM PERDAS E DANOS, pelo procedimento sumaríssimo, com fulcro na lei nº 9.099/95, em face de BC DE OLIVEIRA CONSULTORIA CONTÁBIL ME, pessoa jurídica, inscrita no CNPJ sob nº 11.018.522/0001-37, com endereço para citação à Rua Vigário Albernaz, 612, sala 01, bairro Vila Gumercindo, cidade de São Paulo - SP pelos fatos e motivos que passa a expor.
1. Dos fatos que ensejaram a propositura da presente demanda
 O Requerente adquiriu no dia 05/02/2016 veículo da marca GM, modelo Zafira Elegance, ano 2009 junto à Requerente (doc. 1).
O pagamento do automóvel fora realizado da seguinte forma: Transferência bancária para a conta do Requerido no valor de R$ 18.348,00, e pagamento de débitos que o veículo possuía junto ao DETRAN no valor de R$ 4.151,96, referente à infrações de trânsito, taxa e licenciamento e IPVA, totalizando o valor de R$ 22.500,00 (doc. 2). 
Após o Requerente adquirir o veículo, diversas notificações de infração trânsito começaram a ser entregues em sua residência (doc. 3). No mais, fora verificado que estas infrações foram cometidas em data anterior à transferência de propriedade do veículo para o nome do Requerente.
Diante da situação exposta, o Requerente realizou consulta junto ao site do DETRAN para verificar se existiam novos débitos além dos que foram entregues em sua residência, e constatou que constavam outras infrações de trânsito além das que chegaram via correspondência. Até o momento o Requerente não fora notificado sobre estas via correio (doc. 3.1).
Após verificado o exposto, o Requerente entrou em contato com o proprietário de empresa Requerida, Sr. XXXXX. Ao contatar a empresa XXXX via telefone por diversas vezes, o secretário informava que o Sr. XXXX não se encontrava. Nada obstante, tentou contato via telefone e mensagens de texto junto ao telefone particular do proprietário da empresa, e novamente não logrou êxito.
Visando prevenir-se de futuros danos junto ao CADIN, o Requerente realizou o pagamento de algumas infrações que tinha condições financeiras para quitar o débito, conforme demonstrado em comprovantes anexos aos docs. 3 e 3.1.
Denota-se com clareza, o descumprimento da ré ao quanto à sua obrigação de arcar com as despesas que o bem possuí referente ao perídio em que era de sua propriedade. 
A autora encaminhou à ré diversas mensagens de texto via Whatsapp além da tentativa de contato telefônico realizados diversas vezes para o pagamento do valor devido, mas a Requerida sempre quedou-se inerte. (doc. )
Diante da inércia da empresa XXXX e não lhe restando alternativa, o autor passou a perquirir seus direitos perante o Poder Judiciário, visando a condenação da Municipalidade ao pagamento dos valores supra-aludidos.
Apresentados os motivos de fato, passamos à demonstração do direito.
2. Do Direito
2.1) A 
A correção monetária nada mais é do que garantia do credor ao pagamento do valor originariamente contratado, afetado diante da mora/inadimplência do devedor pelo pagamento realizado em desconformidade com o quanto pactuado ou simplesmente não efetuado. 
O pagamento do principal da dívida, assim, não subtrai ao credor o direito de haver do devedor os encargos correspondentes. É o que se passa na espécie.
Por outro lado, o pagamento feito a destempo acarreta benefício indevido ao devedor com a desvalorização da moeda, equivalente à perda experimentada pelo credor. 
Evidentemente, a autora merece ver reparados em sua integralidade os prejuízos que o comportamento culposo da ré, em não honrar em dia seus compromissos, lhe causou. Vários são os fundamentos que autorizam a composição desses prejuízos.
O disciplinamento legal aplicável aos contratos administrativos determina a inserção de cláusula estabelecendo “o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento” (artigo 55, III da Lei nº 8.666/93). 
Ainda, o Código Civil, que se aplica subsidiariamente às avenças administrativas, dispunha antes e persiste dispondo expressamente sobre a matéria: “responde o devedor pelos prejuízos que a sua mora der causa” (art. 956 do Código Civil de 1.916); “responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado” (art. 395 do Código Civil de 2.002).
A própria Constituição Federal ao dispor no art. 37, XXI acerca das licitações públicas e dos contratos administrativos determina que as obrigações de pagamento no bojo destes últimos devem ser observadas de maneira a garantir as condições efetivas da proposta. Trata-se de mecanismo que também mantém relação de pertinência direta para com a manutenção do equilíbrio econômico financeiro da avença.
A correção monetária pleiteada por meio da presente demanda, ainda que não expressamente prevista nas condições do contrato firmado entre as partes, deve ser conferida à autora para que esta perceba a integralidade do quanto deveria ter-lhe sido pago tempestivamente.
Nesse contexto, o Superior Tribunal de Justiça reconhece a culpa da Administração na prática de não saldar em dia seus compromissos, o que automaticamente gera o dever de reparar o prejuízo causado ao particular, independentemente de previsão contratual expressa:
“ADMINISTRATIVO E ECONÔMICO. CONTRATO ADMINISTRATIVO DE OBRA PÚBLICA. CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO VERIFICADO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, MEDIANTE CRITÉRIO DE MEDIÇÃO. FIXAÇÃO DO TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA. ATRASO NO PAGAMENTO. ILÍCITO CONTRATUAL. DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA. INEXISTÊNCIA NO CONTRATO DE CLÁUSULA, PREVENDO A DATA PARA O PAGAMENTO DO PREÇO AVENÇADO. NECESSIDADE DE VERIFICAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO E O CONSEQÜENTE PREJUÍZO ECONÔMICO PELO ATRASO. OBSERVÂNCIA DO VALOR REAL DO CONTRATO.
1. A mora no pagamento do preço avençado em contrato administrativo, constitui ilícito contratual. Inteligência da Súmula 43 do STJ.
2. A correção monetária, ainda que a lei ou o contrato não a tenham previsto, resulta da integração ao ordenamento do princípio que veda o enriquecimento sem causa e impõe o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
3. O termo inicial para a incidência da correção monetária nos contratos administrativos de obra pública, na hipótese de atraso no pagamento, não constando do contrato regra que estipule a data para o efetivo pagamento do preço avençado, deverá corresponder ao 1º (primeiro) dia útil do mês subseqüente à realização da obra, apurada pela Administração Pública mediante critério denominado medição. Precedentes do STJ (REsp 71127/SP, REsp 61817/SP)
4. O retardamento em pagar medições de obras já efetuadas configura violação do contrato e a inadimplência de obrigação juridicamente pactuada, com conseqüências que se impõem ao contratante público.
5. Recurso conhecido e provido, para reformar o acórdão, modificando o termo inicial para a incidência da correção monetária para o período de atraso no pagamento.” (STJ – REsp n.º 679.525/SC – 2004/0096976-9 – Rel. Min. Luiz Fux - PRIMEIRA TURMA – Jul. 12.05.05, DJ. 20.06.05, p. 157)
“Administrativo – Contratos de Obras Públicas. Atraso nos pagamentos. Correção Monetária e juros de mora. Legitimidade de Cobrança.Jurisprudência Iterativa do STJ. Incidência da Súmula 83/STJ.
O atraso no pagamento de preço avençado nos contratos de obras públicas constitui ilícito contratual, sendo devidos a correção monetária e o juros moratórios.
Acórdão recorrido em consonância com a jurisprudência pacífica da Corte, atraindo a aplicação do sumulado.
Recurso Especial não conhecido” (Resp, Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, v.u., 15/02/2001, 2ª Turma).
 
“Administrativo – Contrato de prestação de serviço pelo Município.
Correção monetária não é acréscimo de valor e sim expressão atualizada da moeda.
Contrato firmado entre as partes com expressa indicação de correção, com termo “a quo” para a data da medição.
Recurso Especial não provido” (Resp nº00293284/SP; v.u., Relatora Ministra Eliana Calmon, 13/03/2001). 
“Administrativo – Contrato de Obras – pagamento em atraso: correção monetária e juros – prescrição.
A correção monetária é devida em todo e qualquer pagamento atrasado, mesmo quando não há previsão no contrato (precedentes do STJ)
(...)” Resp nº261.736/SP; v.u., Relatora Ministra Eliana Calmon, 23/10/2001 – grifos não constam no original).
O Supremo Tribunal Federal já apreciou demandas do mesmo jaez e já proclamou há tempos:
“Correção Monetária. Quebra Contratual.
O Ilícito contratual é fonte direta de correção monetária, ainda que a lei e o contrato não a tenham previsto (Rext nº110436/SP, v.u., Relator Ministro Francisco Rezek, 2ª Turma, 24/03/87)”.
“Execução de obra pública. Ilícito contratual. Correção Monetária.
Se a Prefeitura recusou-se a pagar a obra pública que mandou executar e recebeu como boa, comete ilícito contratual cuja reparação reclama ampla correção monetária, a partir de quando verificado o agravo patrimonial” (Rext nº103.503, v.u., 19/12/84).
A Corte de Justiça Paulista também já deixou evidenciado que a aplicação da correção monetária, além de funcionar como mecanismo de recomposição dos prejuízos experimentados pelo devedor, é também forma de manutenção da equivalência das obrigações inicialmente estabelecidas pelas partes quando da celebração do contrato administrativo:
“Como é sabido, a correção monetária tem o sentido inequívoco de manter atualizado o valor da moeda, em face da perda da substância, corroída pela inflação. Na síntese do eminente Ministro Athos Carneiro, a correção não é um plus que se acrescenta ao crédito, mas um minus que se evita.
Destarte, é de ser restaurado o equilíbrio do contrato, comprometido pela mora da contratante, delineando-se efetivo prejuízo da credora, passível de recomposição na presente demanda.
(...)
Na verdade, o equilíbrio econômico do contrato administrativo deve ser preservado durante toda a sua execução, a fim de que o contratado não venha a sofrer indevida redução nos lucros normais do empreendimento “Trata-se de doutrina universalmente consagrada, hoje extensiva a todos os contratos administrativos” (v. “Direito Administrativo Brasileiro”, 22ª edição, Hely Lopes Meirelles, p. 199).
Nesse contexto, se a contratante não pode violar o direito da contratada de ver mantida a equação financeira originariamente estabelecida, incumbe-lhe corrigir os valores das prestações satisfeitas a destempo, independentemente da expressa disposição no instrumento firmado e na lei local.” (TJ/SP – Apelação Cível com Revisão n.º 573.982-5/3-00 – Rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti – OITAVA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO – Jul. 25.06.08)
“Embora não prevista nos contratos, é inegável a obrigação da contratante de efetuar o pagamento da correção monetária das faturas pagas com atraso, não podendo se locupletar indevidamente em detrimento da construtora, sabido que a correção nada acrescenta e apenas atualiza os valores das prestações corroídas pela inflação.
Mesmo nos contratos administrativos, sem previsão de correção monetária, o E. Superior Tribunal de Justiça já teve oportunidade de proclamar a sua incidência pelo atraso no pagamento das faturas, em face da desvalorização da moeda pela inflação (RT 24/473).
Já está consolidado naquela E. Corte o entendimento de que ‘A evolução dos fatos econômicos tornou insustentável a não incidência da correção monetária, sob pena de prestigiar-se o enriquecimento sem causa do devedor, sendo ela imperativo econômico, jurídico e ético indispensável à plena indenização dos danos e ao fiel e completo adimplemento das obrigações’ (RT 84/268)” (Apelação Cível nº089.691.5/1 – TJ/São Paulo – 8ª Câmara de Direito Público – Relator: Celso Bonilha – 25.10.00 – V.U.).
 “Assim, não é possível aceitar que o pagamento de obrigações pecuniárias em atraso, de um modo geral, e, em particular, na hipótese em comento, seja realizado sem a devida atualização monetária, pois tal representaria a extinção do débito por valor inferior ao realmente devido.
Com efeito, caso fosse aceita a liquidação do débito sem a devida correção monetária, estaria configurado um inadmissível enriquecimento sem causa da Municipalidade, em detrimento da apelada.
Não socorre à apelante a assertiva de que inexistia previsão expressa de incidência de correção monetária no caso sob exame, uma vez que esta não constitui parcela que se agrega do principal, tratando-se, apenas, de mera recomposição do valor aquisitivo da moeda, corroído pela espiral inflacionária” (Apelação Cível nº018.160.5/4-00 – TJ/São Paulo – 9ª Câmara de Direito Público – Relator: Ricardo Lewandowski – 20.05.98 – V.U.).
“Realizado o contrato de prestação de serviços, impunha-se à recorrente o pagamento do preço nas datas aprazadas. Não o fazendo, tanto em relação ao principal quanto com relação às parcelas pagas tardiamente, era de rigor a correção monetária.
Ora, a correção monetária não é encargo de mora, mas parcela que acresce ao valor original da obrigação para preserva-lo dos efeitos deletérios da inflação e assim assegurar a cumulatividade das relações obrigacionais. Constitui forma do valor intrínseco da moeda diante do depauperamento de seu valor de face não sendo ‘plus’ que se acrescenta, mas um ‘minus’ que se evita, de modo que seu cômputo integral é essencial à adequada manutenção do componente econômico da obrigação” (Apelação Cível nº052.120-5/1-00 – TJ/São Paulo – 6ª Câmara de Direito Público – Relator: Christiano Kuntz – 14.02.00 – V.U.).
“Não havia necessidade de fixação expressa de correção monetária, sabidamente derivada de norma de superdireito, que opera efeitos independentemente de celebração expressa das partes – porque o que já vem dos princípios do sistema jurídico não será preciso que se explicite em palavras contratuais” (Apelação Cível nº134.601-5/4-00 – TJ/São Paulo – 9ª Câmara de Direito Público – Relator: Sidnei Beneti – 26.11.03 – V.U. – grifos não constam no original).
Como se vê a matéria é pacífica, sendo de rigor o acolhimento do pleito da autora referente a aplicação de correção monetária sobre os créditos que lhe foram pagos de maneira tardia e também sobre aqueles cujos valores principais sequer foram adimplidos pela ré, desde as respectivas datas de vencimento para pagamento e até a data em que se der a efetiva liquidação dos créditos da autora.
2.3.) Dos Juros de Mora – Incidência desde a data em que devidos os pagamentos – Inteligência do artigo 397 do Código Civil
A condenação da ré ao pagamento de correção monetária não abarca por completo os prejuízos suportados pela autora em razão de sua postura inadimplente e morosa. 
Por conta da inegável postura ilícita da ré, que deixou de pagar à autora créditos que lhe são de direito, posto que esta última executou de maneira fiel e eficiente os serviços que lhe foram confiados por meio do contrato 005/2002 – disso não há dúvida – a autora tem direito, também como forma de elidir os prejuízos por ela suportados, à percepção de juros de mora legais desde a data em que devidos os valores constantes da faturas pagas em atraso e impagas até a data de seu efetivo pagamento.
Isto porque ocaso concreto não se amolda à previsão do artigo 219 do Código de Processo Civil, mas sim à situação posta no artigo 397 do Código Civil, já que se verifica que o contrato formado pela partes previa prazo certo e determinado para o pagamento dos valores devidos em razão da execução do seu objeto, prazo que não foi observado pela ré.
Também não restam dúvidas sobre a liquidez e positividade dos créditos devidos à autora e, de que assim o eram no termo final previsto para o seu adimplemento pela ré.
O ilustre professor Washington de Barros Monteiro ao analisar a aplicação do artigo 397 do Código Civil afirma que existindo prazo certo e determinado para o pagamento da obrigação líquida e positiva não se faz necessária a adoção de qualquer providência pelo credor para fins de constituir o devedor em mora, já que pela aplicação da regra dies interperllat pro homine o próprio termo interpela o credor�.
Diante disso, fica evidente que o direito perseguido pela autora está arraigado na previsão do Código Civil, conforme anteriormente anotado, sendo de rigor a incidência de juros desde as datas nas quais de fato operou-se o inadimplemento/mora da ré.
É de se anotar que o pleito da autora está em perfeita consonância com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre a matéria, que ao analisar casos análogos ao presente reconheceu a aplicação da regra contemplada no artigo 397 do Código Civil (dies interpellat pro homine), determinando que a incidência dos juros de mora coincidisse com a data do descumprimento da obrigação da forma como avençada entre as partes:
“Sobre a questão dos autos, a Turma deu provimento somente ao recurso da empreiteira, por maioria, apenas quanto aos juros de mora, decidindo que estes devem incidir do momento em que, segundo o contrato, deveria ter ocorrido o pagamento, ou seja, do vencimento e, aplicando a regra dies interpellat pro homine (art. 960 do CC/1916), unânime quanto à incidência de correção monetária e honorários advocatícios na regra do art. 20, § 4º, do CPC. Precedentes citados: REsp n. 34.663-SP, DJ. 18.08.1993; REsp n. 26.826-ES, DJ. 26.10.1992; e REsp n.199.101-DF, DJ. 27.09.1999.”(REsp n. 419.226-SP, rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, j. 19.08.2003)
“(...)
O segundo aspecto questionado refere-se à data inicial do cômputo dos juros de mora, pleiteando a recorrente que seja desde o inadimplemento do contrato. Pede, igualmente, que igual pensamento seja estendido à correção monetária.
Alega que, logo após a entrega dos equipamentos, os valores já seriam exigíveis, devendo incidir já dessa data os juros de mora, e não da citação, conforme asseverou o acórdão recorrido, havendo flagrante infringência do disposto no art. 960 do CC/1916 (atual art. 397 do CC/2002). Nos termos do contrato, o vencimento foi estipulado para data certa: a partir da entrega dos equipamentos, momento em que teve início a mora do recorrido.
Conforme se extrai dos autos, e foi destacado na sentença, o Edital n. 1/98, que regularizou o certame do qual a ora recorrente foi vencedora, previa, em seu item 7.1, o momento do pagamento pelo Estado. Observe-se o posto à fl. 531: "O pagamento das faturas/notas fiscais será efetuado mediante ordem de crédito em estabelecimento bancário da rede oficial do Estado de Minas Gerais após a ultimação do recebimento dos bens [...]." (grifo nosso).
A sentença segue a considerar que houve a entrega dos equipamentos em 06/11/1998, conforme esclarecido pelo perito oficial em resposta ao quesito "b" da autora (fl. 271). Todavia, os pagamentos somente se iniciaram em 28/02/2000, parcelando-se a importância original em 8 prestações, com termo final em 06/12/2000 (fl. 272).
Em hipóteses como a presente, a jurisprudência desta Corte está assentada na linha de que os juros de mora incidem a partir do momento em que, segundo previsto no contrato, o pagamento deveria ter ocorrido.
Igualmente é o entendimento quanto à incidência de correção monetária, que deve ser auferida desde a data do efetivo prejuízo, in casu, a partir do inadimplemento. Eis o teor preconizado pela Súmula n. 43/STJ: "Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo." (REsp n.º 909.800/MG – 2006/0270478-4 – Rel. Min. José Delgado - PRIMEIRA TURMA – Jul. 12.06.07 – DJ. 19.06.07, p. 517)
“ADMINISTRATIVO E CIVIL. ILÍCITO CONTRATUAL. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES PACTUADAS. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 459 E 460 DO CPC. MATÉRIA NÃO PREQUESTIONADA. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS NS. 282 E 356/STF, NA ESPÉCIE. CORREÇÃO MONETÁRIA. QUESTÃO SOLUCIONADA À LUZ DE INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA DE CONTRATO. RECURSO ESPECIAL. INADMISSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DA SÚMULA N. 5/STJ. JUROS MORATÓRIOS.
ART. 1538, §2º, DO CÓDIGO CIVIL. HIPÓTESE, EM PARTICULAR, QUE NÃO SE REFERE A OBRIGAÇÃO ILÍQÜIDA. QUANDO LÍQÜIDA A OBRIGAÇÃO, OBSERVÁVEL
O ART. 960 DO CÓDIGO CIVIL. PRINCÍPIO DO DIES INTERPELLAT PRO HOMINE. JUROS DEVIDOS A PARTIR DO VENCIMENTO DE CADA UMA DAS FATURAS NÃO PAGAS.
(...)
Consoante magistério do notável civilista Washington de Barros
Monteiro, "três predicados há de reunir o objeto da obrigação: possível, lícito e suscetível de estimação econômica".
Nas situações em que determinado o objeto da obrigação, temos, em decorrência, uma obrigação líqüida. De outro modo, quando determinável o objeto, como ocorrente nos contratos aleatórios, ilíqüida a obrigação, visto que dependem de prévio apurar, porque imprecisa a própria prestação ou objeto obrigacional.
A obrigação sub examine tem liquidez, haja vista ser determinado o seu objeto, e é positiva, porquanto revela-se em obrigação de fazer.
Outrossim, está vencida, não tendo o devedor promovido a execução do pactuado, de forma culposa, e no tempo estipulado contratualmente, conforme se depreende da leitura dos autos e asseverado pelo Pretório Estadual.
Destarte, outro concluir não nos é possível, senão o de que em mora a recorrente, sendo aplicável, na espécie, o estabelecido no art. 960 do Código Civil, in verbis: "O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu têrmo, constitui de pleno direito em mora o devedor".
Não verificado o pagamento, por parte do devedor, neste momento, conforme disposto no art. 960 do Código Substantivo, ocorre a mora, de pleno direito e, advindo tal conceito da própria lei, esta mora é denominada ex re, com aplicação da regra dies iterpellat pro homine (o termo interpela em lugar do credor).
Recurso especial não conhecido.” REsp 397.844/SP – 2001/0184251-4 – SEGUNDA TURMA – Min. Rel. Laurita Vaz, Min. para acórdão (voto vencedor) Paulo Medina – Jul. 07.05.02 – DJ. 01.07.02, p. 330)
Em recentíssimo julgado, o Tribunal de Justiça de São Paulo também se posicionou favorável à tese aqui defendida:
“(...)
No caso de obrigações positivas e líquidas, amora, à evidência, se verifica desde o termo previsto, não havendo razão para que os juros só sejam contados da citação (v artigo 960 do CC/16)” (TJ/SP – Apelação Cível com revisão n.º 573.982-5/3-00 – Comarca de BOTUCATU – OITAVA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO – Rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti – Jul. 25.06.08)
Nem seria preciso afirmar que a ausência de condenação da ré ao pagamento de juros moratórios legais incidentes desde a data de vencimento para pagamento da obrigação nos termos das medições no tempo e modo avençados contratualmente, além de representar verdadeira afronta ao artigo 397 do Código Civil, também implica em aquiescência com o enriquecimento ilícito da Administração Pública, pois esta última recebeu os serviços executados pela autora do modo como ajustado não tendo, em contrapartida, respeitado os termos do contrato 005/2002�.
3.) Dos requerimentos e pedidos da autora
Diante de todo o exposto é a presente para requerer digne-se Vossa Excelência determinar a citação da ré, na pessoa de seu procurador no endereço supra mencionado, por meio de Oficial de Justiça, ao qual deverão ser concedidos os benefícios contidos no artigo 172, parágrafo2º do Código de Processo Civil, para que, querendo, apresente a defesa, no prazo legal e para acompanhá-la até final, sob pena de revelia.
Requer a procedência dos pedidos ora formulados, para condenar a ré:
a) ao pagamento do valor correspondente à correção monetária devida em razão do atraso no pagamento dos créditos da autora por serviços executados e também sobre os valores dos créditos que ainda não foram saldados, em razão da execução do contrato nº 005/2002, incidente desde a data de vencimento para pagamento das obrigações (medições) e até a data de seu efetivo pagamento;
 
b) ao pagamento de juros de mora legal desde a data prevista para o pagamento das faturas até a data do seu efetivo pagamento, de acordo com a inteligência do artigo 397 do Código Civil; 
c) ao pagamento das custas e despesas processuais bem como honorários advocatícios, que desde já requer sejam fixados no máximo legal.
Protesta-se pela produção de toda e qualquer prova admitida em direito, especialmente pela realização de perícia técnica para apuração do "quantum" pleiteado, bem como a juntada de outros documentos que sirvam à comprovação dos fatos deduzidos.
Requer, ainda, sejam todas as publicações/intimações realizadas exclusivamente em nome dos advogados Valéria Hadlich Camargo Sampaio – OAB/SP n.º 109.029 e Pedro Paulo de Rezende Porto Filho – OAB/SP n.º 147.278, que possuem escritório profissional na Avenida Nove de Julho, 5.109 – 3º andar, Itaim Bibi, na cidade de São Paulo, CEP: 01407-200-SP.
Dá-se a presente o valor de R$ 6.435.912,56 (seis milhões, quatrocentos e trinta e cinco mil, novecentos e doze reais e cinquenta e seis centavos)
Termos em que.
Pede deferimento.
De São Paulo para Osasco, 14 de janeiro de 2009.
Valéria Hadlich Camargo Sampaio Pedro Paulo de Rezende Porto Filho
OAB/SP n.º 109.029 OAB/SP n.º 147.278
Thays Chrystina Munhoz de Freitas
OAB/SP n.º 251.382
U:\Advogados\Valéria\Judicial\Iniciais\Ordinária\Qualix cobrança correção monetária Osasco Contrato 005-2002.doc
� “De acordo com a lei civil, entretanto, cumpre distinguir se se estipulou ou não no contrato dia certo para o vencimento da obrigação. Se houve expressa estipulação e na data prefixada não se verificou o pagamento, caracterizada se acha a mora do devedor. Como se eterna a lei, em tal hipótese, a mora ocorre de pleno direito, independentemente de qualquer ato ou iniciativa do credor. É o que se denomina mora ex re, por aplicação da regra dies interpellat pro homine, isto é, o termo interpela em lugra do credor. Nesse caso, a Lex ou i dies assumem o papel de intimação” (in Curso de Direito Civil – Direito da Obrigações, primeira parte -, págs. 322/323 – Editora Saraiva)
� Salienta-se que o Superior Tribunal de Justiça além de enfrentar a questão da aplicação do artigo 397 do Código Civil, expressamente consignou em julgado de relatoria do Ministro Humberto Gomes de Barros a necessidade da aplicação de correção monetária e juros moratórios desde a data em previsto o pagamento como forma de afastar o enriquecimento ilícito da Administração, a qual em hipótese alguma pode ser prestigiada em razão de sua mora:
“(...)
Mesmos sem poder analisar o contrato, a realidade é que havia uma prestação que não foi adimplida no prazo certo e que, portanto, teve que ser atualizada monetariamente para evitar o enriquecimento ilícito do devedor. A fortiori, os juros de mora têm que ser computados a partir da data do vencimento da obrigação, porque a mora é o atraso no pagamento, no tempo e forma devidos.” (STJ – REsp n.º 419.266/SP – 2002/0020340-, rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, j. 19.08.2003)
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