Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 AULA 1: Introdução à Climatologia Curso: Meio Ambiente Disciplina: Climatologia Conteudista: Carolina Dias de Oliveira Tutora: Camila Emídio Ribeiro 1. Introdução à climatologia Figura 1.1. “Para dar ordens à natureza é preciso saber obedecer-lhe” - Francis Bacon. Fonte: http://greenpeace.blogtv.uol.com.br/img/Image/Greenpeace/2008/Marco/greenpeace.jpg Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 2 O estudo do tempo e do clima é fundamental para a compreensão e manutenção do meio ambiente. Isso porque existe uma forte interação entre as quatro esferas do planeta - também chamadas de “domínios globais” ou geoesferas – e que são responsáveis pelo equilíbrio do nosso sistema natural, formando um imenso geossistema planetário. Deste modo, podemos dividir estes domínios em: litosfera, hidrosfera, atmosfera e biosfera. (ver figura 1.2 abaixo). Figura 1.2. O tempo e o clima no contexto das ciências naturais. Fonte: AYOADE, 1996, p.1 A litosfera corresponde à camada rochosa do nosso planeta, incluindo o solo, as rochas e todo o material tectônico existente da crosta ao núcleo. A hidrosfera abrange toda a porção líquida da Terra, incluindo lagos, rios e oceanos. Já a atmosfera – da qual trataremos com maior profundidade para o estudo do clima – corresponde à porção gasosa deste sistema, incluindo as nuvens, o ar que respiramos e todos os mecanismos associados ao clima, tais como chuvas, geadas, tornados, etc. Por fim, da junção destes três domínios globais anteriores temos a formação da biosfera, que como o próprio nome diz, se relaciona à formação da vida na Terra, isto é, abrange a formação das Geossistema: corresponde aos dados ecológicos relativamente estáveis. Ele resulta da combinação de fatores geomorfológicos (natureza das rochas e dos mantos superficiais, valor de declive, dinâmica das vertentes[...]), climáticos (precipitações, temperaturas [...]), hidrológicos (niveis freáticos, nascentes, pH da água, tempos de ressecamento dos solos [...]), portanto, é o potencial ecologico do geossistema. Fonte: BERTRAND, 1971, citado por ROSS, Jurandyr, 2006, p.31 Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 3 plantas e dos animais, incluindo o próprio homem. Nas palavras de CONTI & FURLAN (In: ROSS, 2003, p.72), “a biosfera pode ser vista como a área da crosta terrestre na qual as radiações cósmicas são transformadas em energia elétrica, química, mecânica, térmica, etc, todas elas consideradas eficazes para a vida”. Deste modo, se ocorrer algum desequilíbrio em uma destas esferas, a outra certamente poderá ser afetada e vice-versa, formando um ciclo de interações que podem ser desastrosas para a natureza e até para o próprio homem. Veja um exemplo: em janeiro deste ano, uma quantidade excessiva de chuvas atingiu toda a porção sudeste do país e que proporcionou um deslizamento de terra sobre a região da Serra do Mar, em especial nas áreas mais íngremes do litoral carioca como Angra dos Reis e Ilha Grande. Como conseqüência houve um grave soterramento de pessoas em meio a escombros e casas destruídas, gerando mortes e grandes perdas materiais e econômicas para as pessoas e famílias atingidas. Agora se observarmos o ocorrido sob uma visão geossistêmica, primeiro houve um desequilíbrio na litosfera, a partir da ocupação desordenada de morros e encostas, que por sua vez associou-se à um desequilíbrio na atmosfera e na hidrosfera, a partir da ocorrência de chuvas mais intensas e fortes do que o esperado sobre a região sudeste. E, na medida em que essa grande quantidade de chuvas precipitou sobre áreas muito íngremes favoreceu o escoamento pluvial e a formação do deslizamento de terra. Logo, para estudar o clima, faz-se necessário compreender que vivemos em um ambiente integrado e sistêmico, em que qualquer alteração na natureza pode acarretar mudanças em outras esferas do planeta. Deslizamento de terra: é um fenômeno geomorfológico que provoca fortes movimentos de massa, tais como quedas de rochas, falência de encostas em profundidade e fluxos superficiais de detritos e solos. A massa só se deslocará se tiver fragmentada e muito instável, sendo que a água atua como agente facilitador do processo. Os movimentos de massa podem ser classificados conforme a velocidade com que ocorrem, conforme o plano de deslizamento, deformação resultante do processo e tipos de materiais envolvidos. http://www.saiunojornal.com.br/wp- content/uploads/2010/01/Fotos- Imagens-frontal-Pousada-Sankay- deslizamento-Praia-do-Bananal-em- Ilha-Grande-Angra-dos-Reis-RJ.jpg Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 4 1.1. Tempo e clima Os termos tempo e clima não são sinônimos como o senso comum e o uso cotidiano erroneamente associam. Segundo AYOADE (1996, p.2), por TEMPO entende-se “o estado médio da atmosfera numa dada porção de tempo e em determinado lugar”. Já o CLIMA, “é a síntese do tempo num dado lugar durante um período de aproximadamente 30-35 anos”, e que, portanto, exige um maior número de dados para ser classificado. Ou seja, o clima é algo dinâmico e generalizado e seu estudo está fundamentado na observação prolongada dos tipos de tempo, ao passo que o tempo refere-se à um estado mais momentâneo destas condições da atmosfera, lidando com eventos mais específicos e que variam com maior freqüência. Para ilustrar melhor estes conceitos podemos fazer uma analogia a um álbum de fotografias. As fotografias (figura 1.3) representam diferentes momentos das condições atmosféricas, representando, portanto, as diferentes fases do TEMPO, que pode ser alterado por diversas vezes dentro de um mesmo dia (de manhã está com neblina, faz sol à tarde e chove à noite, por exemplo). Da coleção destas “fotos” temos diversos registros das condições atmosféricas durante um determinado período, formando um álbum (Figura 1.4.) que deve ser de no mínimo 30 anos, e que conjuntamente indica e estabelece qual é o tipo climático predominante para a região analisada, configurando assim o CLIMA. Figura 1.3. Fotografias. Fonte: http://cybellef.tripod.com/Engler/al bum/images/album.jpg acessado em 07/01/2010. Figura 1.4. Álbum de fotos Fonte: http://digasim.files.wordpress. com/2007/10/9.jpg Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 5 De modo aplicado, ao afirmar que um determinado país ou região é quente e úmido, estamos nos referindo ao CLIMA, e quando mencionamos se está chovendo ou nevando, se está frio ou quente naquele momento específico do dia, fazemos referência ao TEMPO. 1.2. Climatologia X Meteorologia Outro erro que ocorre no senso comum é a abordagem dos termos climatologia e meteorologia como sinônimos. Apesar de terem o mesmo objeto de estudo, as finalidades, metodologias e aplicações de cada uma são significativamente distintas. Também segundo AYOADE (1996, p.2), a METEOROLOGIA define- se como “a ciência da atmosfera e se relaciona ao estado físico, dinâmico e químico da atmosfera e às interações entre eles e a superfície terrestre subjacente”. Já a CLIMATOLOGIA geralmenteé definida como “o estudo cientifico do clima”, correspondendo à ciência que estuda os padrões de comportamento da atmosfera por um determinado período de tempo. Em termos práticos, pode-se afirmar que, enquanto o meteorologista preocupa-se mais com as variações do tempo, o climatologista busca estudar o clima. Todavia, é importante salientar que existe uma interação entre as duas especialidades, de modo que o tempo e o clima, conjuntamente, podem ser considerados como uma conseqüência e uma demonstração da ação dos processos complexos da atmosfera, em interação com os oceanos e a camada rochosa da Terra. Saiba mais Para saber mais sobre diferença entre os termos TEMPO e CLIMA e as áreas de atuação da CLIMATOLOGIA e da METEOROLOGIA consulte a apresentação em PowerPoint: Introdução_climatologia.ppt Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 6 1.3. Evolução da Climatologia O estudo do tempo e a observação das variações da atmosfera despertam o interesse e a curiosidade humana desde tempos bastante remotos. Isso porque as condições atmosféricas influenciam o homem em inúmeras e diversas atividades e hábitos cotidianos, desde o ar que ele respira, a obtenção do alimento e da água necessários para a sua sobrevivência, até o modo como se veste e constrói o seu abrigo. Da utilização do cata-vento até a aplicação de satélites e das grandes estações meteorológicas típicas do mundo moderno um longo caminho teve que ser percorrido. Antigamente, os homens não possuíam um domínio muito amplo sobre os mecanismos da atmosfera e em geral acreditavam que as variações atmosféricas eram provocadas por deuses e personagens mitológicos. As primeiras observações meteorológicas foram registradas pelos gregos, durante o século V antes de Cristo, a partir das obras de Hipócrates e Aristóteles. Todavia, foi durante a revolução tecnológica renascentista no século XVI que se notou um surto de desenvolvimento mais significativo sobre a ciência da atmosfera, especialmente após as invenções de Galileu e de seu discípulo, Evangelista Torricelli, que inventaram o termômetro (figuras 1.5 e 1.6) e os princípios teóricos para a construção do barômetro de mercúrio (figuras 1.7 e 1.8), respectivamente. Em 1832, a descoberta do telégrafo (figura 1.9) revolucionou a coleta de dados sobre o tempo, permitindo pela primeira vez que uma grande quantidade de dados pudesse ser coletada e transmitida de diversos pontos simultaneamente. Desde Barômetro de mercúrio: é um instrumento utilizado para medir a pressão atmosférica e foi inventado por Evangelista Torricelli em 1643. Seu funcionamento básico consiste na abertura de um tubo de vidro cheio de mercúrio, de modo que a pressão atmosférica possa afetar o peso da coluna de mercúrio no tubo. Logo, quanto maior a pressão do ar, mais extensa fica a coluna de mercúrio. Assim, a pressão pode ser calculada, multiplicando-se o peso da coluna de mercúrio pela densidade do mercúrio e pela aceleração da gravidade. Ao nível do mar, a pressão atmosférica corresponde a 760 milímetros de mercúrio (760 mmHg). (adaptado de wikipedia, <www.wikipedia.org>, acessado em 07/01/2010). Telégrafo: O telégrafo é um sistema concebido para transmitir mensagens de um ponto para outro em grandes distâncias, utilizando códigos para a rápida e confiável transmissão. As mensagens eram transmitidas através de um sistema composto por fios. Fonte: <http://www.suapesquisa.com/pesqui sa/telegrafo.htm>, acessado em 07/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 7 então, a instrumentação das observações do tempo e do clima continuam evoluindo incessantemente, desempenhando um papel fundamental para o desenvolvimento destas ciências. E tal evolução modificou até mesmo a maneira de se estudar a atmosfera. Figura. 1.8. Funcionamento básico do Barômetro de mercúrio. Fonte: Google, w3.ualg.pt/image001.gif acessado em 07/01/2010. Figura 1.7. Barômetro de mercúrio. Fonte: Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora <www.ufjf.br/labcaa/equipamentos> acessado em 07/01/2010. Figura 1.5. Termômetro de parede. Fonte: acervo do Wikimedia Commons ligado à Wikimedia Foundation, acessado em 07/01/2010. Figura 1.6. Termômetros de máxima e de mínima. Fonte: Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora <www.ufjf.br/labcaa/equipamentos> acessado em 07/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 8 Figura 1.9. Telégrafo. Fonte: http://4.bp.blogspot.com acessado em 07/01/2010 Na Climatologia tradicional, a base descritiva dos padrões temporais e espaciais dos elementos do tempo se baseava essencialmente em um método cartográfico, classificando os diferentes tipos de clima a partir da elaboração de mapas de médias ou gráficos com variações diurnas e/ou sazonais dos elementos climáticos, e em diferentes escalas, tais como temperatura, precipitação, pressão, umidade, velocidade e direção dos ventos, quantidade de nuvens, etc. Porém, essa abordagem essencialmente descritiva do estudo do tempo e do clima, apresenta diversas limitações e deficiências. Segundo ATKINSON (1972, citado por AYOADE, 1996, p.6), a primeira crítica feita é que a climatologia tradicional é descritiva e não explicativa dos processos climáticos que desencadeiam a sua distribuição no tempo e no espaço. A segunda é que a abordagem tradicional passa a idéia de uma atmosfera estática, desconsiderando as mudanças contínuas que se desencadeiam na atmosfera, já que esta se caracteriza por ser dinâmica e em constante turbulência. A terceira crítica refere-se à desconsideração sobre a interação entre os elementos climáticos, visto que estes processos se interagem e se afetam mutuamente, retornando e reagindo para provocar mudanças e/ou modificações em suas causas, na busca incessante da natureza por equilíbrio. A quarta crítica identificada por este autor baseia-se na metodologia empregada para a classificação dos climas. Isso porque as linhas demarcatórias traçadas nos mapas erroneamente passam a impressão da existência de modificações abruptas nas condições atmosféricas analisadas, o que não ocorre na realidade. O que existe é uma alteração gradativa das Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 9 características de um tipo climático para outro. Além disso, as áreas demarcadas geralmente são consideradas como entidades climáticas separadas e explicadas especialmente a partir dos fenômenos de superfície. E, desta forma, tal abordagem se torna errada na medida em que desconsidera a dimensão vertical de análise sobre o clima, pois as características atmosféricas de um local específico somente podem ser explicadas e analisadas a partir do contexto de uma visão do todo atmosférico. A climatologia moderna, sobretudo, busca eliminar tais deficiências associadas à abordagem tradicional, incidindo na preocupação maior de tentar explicar os fenômenos da atmosfera, além de descrevê-los. Nas palavras de AYOADE (1996, p.7), “a atmosfera é dinâmica, não-estática, e fazem-se esforços para compreender os processos e interações que ocorrem na atmosfera e na interface atmosfera-superfície da Terra”. Assim, a necessidade de aperfeiçoamento da análise dos dados climatológicos acompanha as transformações e novas exigênciasdas sociedades modernas, pois, ao contrário de seus antepassados, o homem moderno não deseja viver à mercê das variações do tempo e do clima. Mas, ser capaz de manejar ou até mesmo planejar o controle das condições meteorológicas, podendo prevê-los, modificá- los ou controlá-los quando possível. E, para tanto, é essencial buscar entender e explicar os processos atmosféricos, que consiste justamente na base da meteorologia moderna, visto que para predizer ou prever o tempo temos que compreender as ações da atmosfera, especialmente aplicado nos campos da agricultura, aviação, indústria e comércio, e também na prevenção de grandes desastres como furacões, tornados, e enchentes. Atualmente é crescente o uso do radar, através das radiossondas (figura 1.10), do geoprocessamento para a confecção de mapas e cartas sinóticas (figura 1.11), e ainda dos satélites meteorológicos (figura Radiossondas: Aparelho que transmite automaticamente a um operador localizado em terra os dados recolhidos pelos elementos de um equipamento meteorológico transportado por um balão-sonda ao longo de sua ascensão. Fonte: <http://www.dicio.com.br/radiossond a>, acessado em 07/01/2010. Cartas sinóticas: Cartas sinóticas são mapas temáticos com representações de frentes (quentes ou frias), massas de ar, zonas de convergência, vórtices ciclônicos, entre outros fatores e elementos climáticos. Nela são desenhadas linhas que unem os pontos de igual pressão (as linhas isóbaras), além de dados sobre a direção dos ventos, temperatura, e nuvens, de modo que a carta sinótica permite uma síntese das condições de tempo em uma determinada área. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 10 1.12), que permitem uma cobertura objetiva e abrangente do globo. Figura 1.10. Radiossonda Sippican Mark II. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiossonda acessado em 07/01/2010. Figura 1.11. Carta sinótica da América do Sul. Fonte: www.cptec.inpe.br/noticias/faces/i m-pressao.jsp acessado em 07/01/2010. Figura 1.12. Satélite meteorológico. Fonte: http://www.klickeducacao.com. br/Klick_Portal/Enciclopedia/im ages/Sa/2816/1062.jpg acessado em 07/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 11 Tais tecnologias permitem a cobertura de dados de áreas remotas, inóspitas e/ou desabitadas do planeta, em especial dos oceanos, desertos e áreas polares, que geralmente são desprovidas de estações meteorológicas convencionais. Todavia é importante salientar que tais dados devem ser considerados como complementares às medidas de observação convencionais, pois são obtidos por plataformas de sensoriamento remoto e não estão em contato direto com a atmosfera. Além disso, os dados obtidos por eles são muito numerosos e há problemas na seleção e redução dos dados, conforme o processamento, análise e interpretação destes. Para isso, o computador assume papel fundamental no processamento, armazenamento e análise dos dados de satélite. Com esta tecnologia, é possível hoje obter documentos climáticos importantes, tais como o mapeamento de áreas com intensa nebulosidade; a medição do modelo de radiação da parte mais alta da atmosfera terrestre ou das temperaturas de radiação do topo das nuvens voltadas para o espaço; a classificação de climas em novas bases através do saldo da radiação solar; as distribuições de umidade e precipitação em áreas desprovidas de estações pluviométricas, entre outros. 1.3.1. A Climatologia aplicada aos trópicos Em especifico sobre as áreas tropicais, durante muito tempo a obtenção de dados mais confiáveis e constantes sobre as condições atmosféricas das baixas latitudes esbarrou na falta de recursos governamentais e especialmente na deficiência de obtenção de aparelhos mais modernos e sofisticados para a análise mais precisa da evolução climática desta região. E até mesmo as próprias condições do clima tropical comprometiam a durabilidade e precisão de alguns aparelhos e instrumentos meteorológicos, especialmente os mais sofisticados e sensíveis. Foi somente após a Segunda Guerra Mundial, para atender às necessidades da aviação, que especialistas do mundo inteiro intensificaram seus estudos Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 12 nesta faixa do planeta, a partir da instalação de muitas estações meteorológicas no país, e que contribuíram para uma análise mais completa da dinâmica atmosférica tropical. Reconhece-se atualmente o avanço neste setor, em especial após o ano de 1960, quando os satélites passaram a monitorar estas áreas. 1.3.2. A criação da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e a importância da integração dos dados climatológicos em escala planetária. Para que haja o progresso e desenvolvimento dos conceitos e teorias meteorológicas em escala mundial é essencial a existência de um livre e rápido intercâmbio de informações meteorológicas entre as diversas nações do mundo. Tal desenvolvimento só foi possível após a fundação da Organização Meteorológica Internacional (OMI), em 1973. E que a partir do dia 23 de março de 1950 passou a ser conhecida como Organização Meteorológica Mundial (OMM), reconhecida pelo órgão das Nações Unidas (ONU), como responsável pelo monitoramento e troca de informações climatológicas do globo. Os três propósitos básicos desta organização consistiam em: 1. facilitar a cooperação de âmbito mundial no estabelecimento de redes de estações meteorológicas; 2. promover o desenvolvimento de centros para serviços meteorológicos; 3. promover o rápido intercâmbio das informações meteorológicas e a padronização e publicação das observações meteorológicas. E, atualmente, o programa das atividades científicas e técnicas da OMM se classifica em quatro categorias amplas, a saber: 1. a observação do Tempo Mundial (OTM); 2. o Programa de Pesquisa da OMM; 3. o Programa da OMM sobre a interação do homem em seu meio ambiente; 4. o Programa de Cooperação Técnica da OMM. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 13 Assim nota-se a importância do papel desta organização para o desenvolvimento da meteorologia e dos estudos do tempo, favorecendo a integração dos dados para todas as nações, independente de sua situação de dependência tecnológica ou financeira, buscando uma cooperação técnica global. 1.4. As subdivisões da Climatologia A climatologia é uma ciência dinâmica e que se aperfeiçoa constantemente, especialmente em função das grandes inovações tecnológicas e que se aplicam ao seu campo de estudo, como vimos anteriormente. Por ser uma ciência que aborda os padrões de comportamento da atmosfera por longos períodos de tempo, ela está mais preocupada com os resultados destes processos para aplicações no tempo presente e futuro, do que meramente com suas conseqüências instantâneas, que como vimos, é campo preferencial de estudos do meteorologista. Devido à abrangência do campo de estudos da climatologia, existem diversas subdivisões de análise, seja em função dos temas enfatizadosou pela escala dos fenômenos atmosféricos estudados. Por exemplo, existe a Climatologia regional, a Climatologia sinótica, a Climatologia física, a Climatologia dinâmica, a Climatologia aplicada e a Climatologia histórica. Além de outras subdivisões mais específicas como a Climatologia agrícola, a Bioclimatologia, a Climatologia das construções, a Climatologia urbana e a estatística, que se enquadram na Climatologia aplicada, entre outras. Diversas outras subdivisões, além das mencionadas, são reconhecidas na literatura e dependem exclusivamente do campo e enfoque abordados. Todavia, como o objetivo desta disciplina é contribuir para uma visão sistêmica do meio ambiente e do clima, não aprofundaremos nessa temática. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 14 1.5. Escalas de tempo em Climatologia Tendo em vista que ao campo de estudos da climatologia é bastante amplo, variando desde sistemas locais - como as brisas e ventos locais – a até complexos sistemas atuantes em escala global - a exemplo do Aquecimento global e do El Niño – é necessário subdividir os vários fenômenos da atmosfera conforme sua escala de abrangência, isto é, em micro, meso e macroescalas. BARRET (1974, citado por AYOADE, 1996, p. 4), propõe que os diversos fenômenos atmosféricos, conforme suas diferentes escalas de análise, podem ser subdivididas da seguinte forma: 1. Macroclimatologia: relacionada com os aspectos dos climas de amplas áreas da Terra e com movimentos atmosféricos em larga escala que afetam o clima. Abrangem de 600 a 2.000 quilômetros na horizontal e até 10 quilômetros na vertical. Saiba mais Para maiores informações sobre as diversas áreas de atuação e subdivisões da climatologia visite o site www.cptec.org.br. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 15 Figura 1.14. Sinóticos – Furacões. Fonte: http://www.fotosearch.com.br/UNY125/u15 033776/ acessado em 08/01/2010. Figura 1. 15. Efeitos do El Niño e da La Niña no clima. Fonte: http://weblogs.sun- sentinel.com/news/weather/hurricane/blo g/el-nino-la-nina.jpg acessado em 08/01/2010. Figura 1.13. Cartas sinóticas e sistemas frontais. Fonte: GOES, METEOSAT/ CPTEC/ INPE, 2001 Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 16 2. Mesoclimatologia: enfatiza o estudo do clima em áreas relativamente pequenas, entre 10 e 100 quilômetros na horizontal e até 10 quilômetros na vertical (incluindo, por exemplo, o estudo do clima urbano e dos sistemas climáticos locais graves como os tornados, furacões e temporais). 3. Microclimatologia: realiza o estudo do clima próximo à superfície ou em áreas muito restritas, com menos de 100 metros de extensão na horizontal e inferior a 10 metros na vertical. 0,0 100,0 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12 P 13 P 14 P 15 P 16 (% ) Umidade Relativa Média … 20,0 30,0 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12 P 13 P 14 P 15 P 16 (º C ) Temperatura do Ar Médi… Figura 1.17. Estudo de clima urbano. Fonte: Estudo de ilha de calor urbano em Belo Horizonte – Geografia/UFMG, 2006. Figura 1.16. Formação de Tornados em Tempestades seve-ras. Fonte: www.weatherpix.com/ Tornadoes.jpg acessado em 08/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 17 Agora que você compreendeu um pouco mais sobre as áreas de atuação da Climatologia e da Meteorologia, bem como suas diferenças e conceitos, abordaremos na aula seguinte os mecanismos do clima e seus principais fatores e elementos de formação. Aproveite para aplicar seus conhecimentos com as atividades propostas, e em seguida anote suas dúvidas. Bons estudos e até a próxima aula! Figura 1.18. Fluxos de energia dentro de florestas. Fonte: http://blog.ambientebrasil.com. br/wp-content/uploads/2009/08/floresta.jpg acessado em 08/01/2010. Figura 1.19. Física de nuvens. Fonte: http://www.bicodocorvo.com.br/wp- content/gallery/fotos-de-nuvens/fotos-de- nuvens-5.jpg acessado em 08/01/2010. @ Mídias Integradas Para compreender um pouco mais sobre a elaboração e interpretação de cartas sinóticas visite o site MUNDOGEO disponível em http://www.mundogeo.com Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 18 Resumo: Nesta aula abordamos: visão integrada e sistêmica sobre o estudo do clima; os termos tempo e clima não são sinônimos; As áreas de atuação do Meteorologista e do Climatologista são diferenciadas; Desde tempos remotos os estudos do tempo e das variações do clima despertaram o interesse da humanidade e muitos avanços foram feitos na área de processamento, análise e interpretação do clima, proporcionando novos e cada vez mais avançados documentos e ferramentas climáticas; A climatologia moderna busca superar as limitações da antiga abordagem tradicional para tentar entender e explicar os eventos e fenômenos climáticos do globo. E, para isso, o faz uso do computador e de outros aparelhos mais modernos, como os satélites e radiossondas; O estudo sobre o clima tropical ocorreu de modo mais intenso após a 2ª Guerra Mundial a partir de uma necessidade da aviação brasileira; A criação da Organização Meteorológica Mundial (OMM) contribuiu para uma maior e melhor integração das bases de dados e informações climáticas em escala planetária; A climatologia possui diversas subdivisões, dependendo da escala de atuação dos fenômenos climáticos analisados ou mesmo de sua especialização temática, a exemplo da Bioclimatologia e da Climatologia urbana; sendo necessário subdividí-la em escalas, a saber: macroescalas (El Niño e Efeito Estufa), mesoescalas (tornados, ciclones e estudos sobre o clima urbano) e microescalas (estudo das nuvens e fluxo de energia das florestas). Informações Sobre a Próxima Aula Na próxima aula aprofundaremos sobre os mecanismos do clima, quais são e como funcionam os elementos e fatores climáticos; conhecer e compreender quais são as principais características da atmosfera e suas diferentes camadas; como se calcula o albedo planetário e os tipos de escalas de temperatura; e ainda como funcionam os principais aparelhos de medição solar e de variação termométrica e suas aplicações para a sociedade. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 1 19 Referências Bibliográficas AYOADE, J. D. Introdução à Climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. Capítulo 1, p.1-12. CONTI, José Bueno & FURLAN, Sueli Angelo. “Geoecologia: o Clima, os Solos e a Biota”. In: ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2003, p. 67-125. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 AULA 2: Mecanismos do clima – Parte 1 Curso: Meio Ambiente Disciplina: Climatologia Conteudista: Carolina Dias de Oliveira Tutora: Camila Emídio Ribeiro 2. Mecanismos do clima O clima é formado por uma junção de fatores e elementos que, simultaneamente atuam e configuram as diferentes paisagens geográficas. Para tanto, primeiramente é necessário diferenciar os termos FATOR e ELEMENTO climático. Por elemento climático entende-se aquilo que compõeo clima, a exemplo da temperatura, da pressão e da umidade. Já os fatores do clima configuram como aqueles que são capazes de alterar e modificar as condições climáticas da área abrangida, apesar da atuação de determinado elemento. Por exemplo, a maritimidade e a continentalidade são fatores climáticos na medida em que interferem nas médias de temperatura e umidade das regiões em que atuam, mesmo que estas estejam localizadas em faixas de latitude semelhantes. Outro exemplo de fator climático é a altitude: quanto mais alto, menor é a temperatura. Sobre a Cordilheira dos Andes há diversos países situados na faixa intertropical do planeta, todavia, a altitude acaba por provocar médias de temperatura bem mais baixas do que o esperado para esta área. Basta lembrar que há neve e até lagos congelados nas áreas mais elevadas de alguns países andinos, a exemplo da Bolívia, Colômbia e Venezuela. Como exemplos de fatores climáticos também podem citar as correntes marítimas, a latitude, as massas de ar, o relevo, a cobertura vegetacional, e a ação antrópica associada à urbanização e à modificação das paisagens naturais. Veremos sucintamente como cada uma delas atua e modifica as relações climáticas em cada caso. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 2 a) Latitude: O planeta Terra subdivide-se em faixas de latitude diferentes, conforme a iluminação dos raios solares, a saber: zonas polares, zonas temperadas e ainda zonas intertropicais (figura 2.1). Quanto mais nos aproximamos da linha do Equador (0º latitude), maior será a média de temperatura verificada nessa parte do globo, sendo considerada, portanto, como a zona mais quente. Isso ocorre porque é nessa faixa latitudinal que os raios solares incidem com menor inclinação sobre a superfície terrestre, ou seja, formam ângulos de 90º com a superfície, e assim permitem o máximo grau de aquecimento solar em uma área menor. Por sua vez, quanto mais afastado estamos da linha equatorial, maior será a inclinação dos raios solares, formando ângulos iguais ou até menores do que 45º, e, portanto, aumentando a dispersão dos raios solares para áreas bem mais amplas, e assim, diminuindo o potencial de aquecimento feito pelos raios solares, tornando-as regiões mais frias. Figura 2.1. Latitudes e zonas climáticas Figura 2.1. Latitudes e zonas climáticas Fonte: Adaptado de MATSUURA, O Atlas do Universo. São Paulo, Scipione, 1996. Para compreender melhor este processo, faça uma analogia entre a Terra e o sol com uma mesa e uma lanterna, respectivamente. Ao posicionar a lanterna em posição perpendicular à mesa (formando um ângulo de 90º), nota-se uma iluminação mais intensa em um ponto Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 3 central da mesa. Desta forma, há o maior aproveitamento dos raios solares por área, semelhante ao que acontece na zona intertropical. Agora, ao inclinar a lanterna em relação ao centro da mesa (formando ângulos menores do que 90º), nota-se uma faixa luminosa bem mais extensa e dispersa sobre a área total da mesa. Quando isto ocorre, a capacidade de absorção da energia luminosa diminui porque precisa aquecer uma área bem mais ampla, diminuindo o aproveitamento dos raios solares. E é isso que ocorre nas regiões temperadas e polares. A figura abaixo ilustra melhor estas situações: Figura 2.2. Diferentes ângulos de incidência solar e a formação das faixas climáticas. Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap2/cap2-1.html, acessado em 08/01/2010. Pela figura anterior pode-se perceber que as variações na altura do Sol, formando diferentes angulações entre a superfície terrestre e os raios solares, provocam variações na quantidade de energia solar que atinge a Terra, configurando assim, as diferentes faixas climáticas. Na situação (a), os raios solares incidem perpendicularmente à superfície terrestre, formando ângulos de 90º, característico de áreas equatoriais e tropicais. Em (b), a incidência solar atinge os 45º, típico de áreas temperadas e subtropicais, já em (c), a angulação dos raios de sol é menor do que 45º, provocando a formação das faixas polares. Em resumo, é possível afirmar que: quanto maior a altura, maior a energia recebida, como é descrito no esquema a seguir. Baixas latitudes (Equador e trópicos) – MAIOR temperatura Altas latitudes (zonas temperadas e polares) – MENOR temperatura Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 4 b) Altitude: Certamente você já deve ter percebido que faz mais frio quando se está no alto de uma serra e também que o calor é mais intenso em mais planas e litorâneas. Isso acontece porque a altitude se relaciona com a temperatura de modo inversamente proporcional, ou seja, quanto maior é a altitude, menor será a temperatura e vice-versa. De modo mais especifico, a temperatura do ar de um determinado local depende da absorção dos raios solares pela superfície terrestre, já que é o sol a nossa principal fonte de calor e energia e a atmosfera se aquece principalmente por irradiação. Assim, os raios solares primeiramente aquecem a superfície terrestre para depois irradiar este calor para a atmosfera. Como existe uma maior quantidade de umidade e gases atmosféricos próximos à superfície, como veremos adiante, o calor absorvido é mais facilmente transportado para as áreas de menor altitude. Da mesma forma, nas áreas mais elevadas, o ar se torna mais rarefeito, o que dificulta a transmissão de calor para estas áreas. Em média, para cada 200 metros, há redução de 1ºC na temperatura. Em resumo temos: c) Massas de ar: As massas de ar correspondem a grandes porções da atmosfera que adquirem características típicas do seu local de origem. Elas se formam no momento em que o ar estacionado sobre amplas áreas de superfície - com características mais homogêneas, a exemplo das florestas tropicais, desertos e zonas polares - faz com que uma parte da atmosfera adquira suas características de temperatura, pressão e umidade. E assim formam-se massas de ar frias e quentes, úmidas e secas, dependendo das características locais de onde se formam, e que ao se deslocarem se interagem com as demais, trocando e redistribuindo a sua energia inicial, na forma de calor e umidade. Veja abaixo as principais massas de ar atuantes em nosso território: - MASSA EQUATORIAL ATLÂNTICA (mEa): quente e úmida - MASSA EQUATORIAL CONTINENTAL (mEc): quente e muito úmida - MASSA TROPICAL ATLÂNTICA (mTa): quente e úmida Quanto mais baixa altitude – MAIOR temperatura Quanto mais alta altitude – MENOR temperatura Ar rarefeito: ar com pouca quantidade de oxigênio. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 5 - MASSA TROPICAL CONTINENTAL (mTc): quente e seca - MASSA POLAR ATLÂNTICA (mPa): fria e inicialmente seca Figura 2.3. Tipos de massas de ar no Brasil no verão e no inverno Fonte: MOREIRA &SENE, 2002, p. 482 Pela figura anterior nota-se que as massas tropicais e equatoriais geralmente possuem temperaturas mais elevadas, se comparadas com as massas polares, tipicamente mais frias. E aquelas originadas no oceano tendem a ser mais úmidas do que as geradas no continente, tipicamente mais secas. Todavia, isso nem sempre é regra. O que importa de fato são as características do local de formação destas massas de ar. Por exemplo, a massa Equatorial continental (mEc), caracteriza-se por ser quente e úmida, apesar de ter se formado no continente. Isso ocorre porque as elevadas temperaturas e a alta umidade amazônicas favorecem uma forte evaporação local, favorecendo, portanto, o aumento da umidade.Então nada mais lógico do que a massa Equatorial continental adquirir estas mesmas características, ser quente e úmida. Da mesma forma, a massa Polar Atlântica (mPa) possui água em abundância, porém esta se encontra sob o estado de gelo e neve, o que não lhe Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 6 confere maior umidade. E, assim, a mPa pode ser caracterizada como fria e inicialmente seca. É importante destacar também que a massa de ar vai perdendo suas características iniciais na medida em que se desloca, até que em determinado instante sua temperatura e condições depressão e umidade se assemelham às do local de atuação, perdendo sua capacidade de alterar o clima. Imagine, por exemplo, que a massa Polar Atlântica perpassa a cidade de Porto Alegre-RS com temperatura aproximada de 5ºC. Chega a Florianópolis-SC com 8ºC, em Santos-SP com 16ºC e em Ilhéus-BA ela já atinge os 23ºC. Nota-se, assim, que durante sua trajetória a massa de ar polar transferiu parte de sua energia, neste caso acentuando a queda de temperatura, sobre as cidades da região tropical, amenizando e alterando as condições de temperatura e umidade locais. Em função de sua vasta extensão norte-sul, o Brasil possui uma grande diversidade climática e que se reflete em uma grande biodiversidade vegetacional e de formação de paisagens. Todavia, sobre a maior parte do território há o predomínio do clima tropical, em geral úmido no verão e seco no inverno. Isso ocorre em função da atuação das massas de ar em conjunto com a sua localização nesta faixa de latitude, como será aprofundado na Aula 3. d) Maritimidade e Continentalidade: A água - na forma de oceanos, mares, rios e lagos - e os continentes se aquecem ou se resfriam a partir da absorção do calor solar de modo distinto. A água demora muito mais tempo para absorver e também para perder o calor advindo do sol, ao passo que as porções continentais se aquecem e perdem este calor com mais rapidez e facilidade. Isso se deve à diferença de calor especifico que cada um deles possui. De modo que, em áreas próximas ao litoral, as médias de temperatura tendem a ser mais elevadas e a oscilar menos (amplitude térmica) se comparadas às áreas que se localizam no interior dos continentes. Logo, podemos afirmar que a água possui uma função de regulador térmico do planeta, e a este fenômeno denominamos de maritimidade e continentalidade. É por isso que no litoral baiano, por exemplo, as médias de temperatura anuais se mantém sempre Calor específico: é a quantidade de calor necessário para que um corpo eleve em 1º C , 1 grama de sua massa, de modo que quanto maior o calor específico de um corpo mais difícil será para ele elevar a sua própria temperatura. Sua unidade de medida é cal/gºC. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 7 elevadas e apresentam amplitude térmica média pouco significativa, de aproximadamente 8ºC. Ao passo que em Cuiabá-MT, as médias anuais de temperatura oscilam muito, chegando a 15 ou até 20ºC de amplitude térmica. Em síntese, podemos concluir que as localidades que sofrem maior interferência da continentalidade possuem uma amplitude térmica diária e sazonal bem mais elevadas do que as áreas que sofrem a influência da maritimidade. E ainda que, ao observarmos o planisfério, no hemisfério sul prevalece o efeito da maritimidade, visto que possui menor quantidade de terras emersas se comparadas ao hemisfério norte, configurando a este último, portanto, invernos bem mais rigorosos e verões mais quentes. Em resumo temos: e) Correntes marítimas: As correntes marítimas são extensas massas de água que se movimentam pelos oceanos com características próprias de temperatura, salinidade e densidade, conforme o seu local de origem, e que são capazes de alterar profundamente as condições climáticas das regiões em que perpassam. Algumas delas são capazes de interferir até mesmo no tipo de atividade econômica desenvolvida, como é o caso do Chile. A formação das correntes marítimas resulta, dentre outros fatores, pela influência dos ventos e ainda pela movimentação terrestre, em seu sentido rotacional, fazendo com que as correntes migrem para direções contrárias (Efeito Coriolis). Além disso, elas também sofrem influência da densidade, que por sua vez é influenciada pela temperatura. No Hemisfério Norte elas se movem no sentido horário, ao passo que no Hemisfério sul, elas se deslocam no sentido anti- horário. Elas podem se originar das áreas polares, formando as correntes frias, ou das regiões tropicais e equatoriais, configurando as correntes quentes. MARITIMIDADE – MENORES amplitudes térmicas CONTINENTALIDADE – MAIORES amplitudes térmicas Efeito Coriolis: Desvio dos ventos na faixa intertropical resultante do movimento rotacional terrestre. O efeito é responsável pela estrutura circular de ciclones e anticiclones, de modo que a movimentação dos ventos nas áreas anticiclonais do Hemisfério Norte se dá em sentido anti-horário e no sentido horário nas áreas de alta pressão do Hemisfério Sul. O Efeito Coriolis também interfere na dinâmica das correntes oceânicas e redemoinhos. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 8 Em síntese, as correntes marítimas frias, que são originadas nas áreas polares, possuem maior densidade e se direcionam para o Equador. Na faixa equatorial, onde se formam as correntes marítimas quentes, as águas superficiais do oceano sofrem uma diminuição de densidade e se direcionam para os pólos, fechando o ciclo convectivo dos oceanos (ver figura 2.4. a seguir). Figura 2.4. Tipos de correntes marítimas e áreas desérticas do globo Fonte: http://www.brasilescola.com/geografia/correntes-maritimas.htm, acessado em 08/01/2010. Assim, nota-se que as correntes quentes são capazes de amenizar os rigores climáticos de onde perpassam, a exemplo da Corrente do Golfo sobre o leste europeu, e ainda aumentar a umidade local através de chuvas intensas, como ocorre com a corrente quente do Brasil, a Leste-australiana e a Corrente das Agulhas no sudeste africano. Já as correntes frias contribuem para a formação de desertos frios, como é possível notar pelo mapa anterior, na medida em que dificultam a evaporação das águas superficiais oceânicas e conseqüentemente, inibem a formação de chuvas e umidade. São exemplos de correntes marítimas frias a corrente de Humboldt ou do Peru, que atua sobre a costa oriental da América do sul, a Corrente de Benguela, responsável pela formação do deserto de Calaari na África meridional, e a Corrente sul-australiana, associada à formação do deserto Vitória. Ciclo convectivo: Movimento de troca de energia dentro do sistema Terra-atmosfera, especialmente atuante na variação da densidade a partir das mudanças de temperatura. De modo que, as áreas mais densas formadas nas áreas de temperatura mais baixa tendem a se deslocar para as áreas de menor densidade, localizadas em áreas de maior temperatura. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 9 Como mencionado anteriormente, a passagem das correntes frias é fundamental para a manutenção econômica de alguns países em que percorrem, como é o caso da atividade pesqueira no Chile. Isso ocorre em função de um fenômeno conhecido como ressurgência. À medida que a corrente fria de Humboldt percorre o litoral chileno, com maior densidade, elas entram em contato com as águas mais profundas do oceano que possuem uma temperatura mais elevada, possuindo menor densidade. Na busca por equilíbrio, as águas maisprofundas e menos densas “são empurradas” em direção às camadas mais superficiais, que são mais densas, forçando a troca entre elas. A partir deste “deslocamento de águas”, o plâncton que se concentrava nas águas mais profundas do oceano se aglomera mais próximo à superfície, atraindo os cardumes de peixe e facilitando, assim, a pesca. f) Cobertura vegetacional: A vegetação age simultaneamente como agente modificador das condições climáticas locais e ainda como um reflexo destas, dependendo somente da escala de análise. Na medida em que a cobertura vegetal dificulta a penetração dos raios solares diretamente sobre a superfície, e ainda favorecem a percolação da água pluvial no solo, elas contribuem para um ambiente mais úmido e com temperaturas mais amenas. Ao passo, que após a retirada desta vegetação, o clima tende a se caracterizar por uma baixa @ Mídias Integradas Para saber mais sobre o Efeito Coriolis, assista ao vídeo: Coriolis Effect on the Surface of the Earth, disponível em http://www.youtube.com Plâncton: conjunto dos organismos que têm pouco poder de locomoção e vivem livremente na coluna de água, chamados de pelágicos, na maioria das vezes flutuantes sobre as correntes maritimas. O plâncton encontra- se na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos pois serve de alimentação a organismos maiores. (adaptado de wikipedia, acessado em 11/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 10 umidade e possuir temperaturas elevadas, típicas de áreas desérticas. Todavia, se pensarmos em uma escala global, um aumento ou diminuição significativa de temperatura (como sugerem o aquecimento global e as glaciações), há o risco de comprometer toda a manutenção dos ecossistemas ou mesmo contribuir para a sua adaptação, com o já é possível observar através da expansão do domínio do cerrado na Amazônia, em um processo conhecido como cerradização. Geralmente, a cobertura vegetal encontra-se associada à altitude e à latitude, diminuindo em porte e biodiversidade na medida em que se localiza mais próximo das áreas polares e das áreas mais elevadas (ver figura 2.5. a seguir). Figura 2.5. Relação vegetação-altitude-latitude Fonte: desconhecida g) Ação antrópica: O homem, apesar de sua breve estadia dentro da história geológica da Terra, foi capaz de alterar o planeta em um ritmo jamais visto. Construções gigantescas, urbanização desordenada e acelerada, canalização de córregos, pontes e toda a infra- estrutura necessária para a instalação de grandiosos parques industriais são responsáveis pela maior parte dos problemas ambientais estudados e ocorridos no planeta. A poluição, o desmatamento, o consumo elevado e desenfreado dos recursos naturais e minerais, entre outras ações, tem gerado sérias conseqüências para o meio ambiente, e conseqüentemente Cerradização: expansão das características fitogeográficas do bioma cerrado sobre outros domínios vegetacionais, que ocorre em especial em função de uma grave alteração climática e/ou antrópica. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 11 para o futuro da humanidade. Tais conseqüências e impactos, em especial os climáticos, serão abordados com maior profundidade nos capítulos posteriores. 2.1 - A atmosfera terrestre Para se compreender melhor o clima e suas alterações é essencial conhecer as características e mecanismos principais que regem a camada gasosa do planeta. A atmosfera terrestre é composta por uma mistura complexa de gases estáveis e que, além de permitir a sobrevivência humana a partir da existência da camada de ozônio e do Efeito Estufa, é também responsável pela formação dos principais eventos meteorológicos que regem o planeta e o cotidiano das sociedades, tais como a chuva, a neve, a formação das nuvens, o granizo, a neblina, os furacões, tornados, ciclones, entre outros. E é por isso que tratarmos da composição da atmosfera e de suas características com maior detalhamento neste capitulo. 2.1.1 - A composição físico-química da atmosfera Como já mencionado anteriormente, a atmosfera é constituída por uma mistura de diferentes gases, sendo que os mais importantes e abundantes são o nitrogênio e o oxigênio, associados obviamente ao vapor d’água (ver tabela 2.1). Este último está presente em sua camada mais inferior, a troposfera, e que pode variar em quantidade conforme a localização no planeta, sendo maior nas áreas oceânicas e menor nas áreas mais desérticas e polares. Saiba mais Para saber mais sobre os fatores e elementos climáticos, bem como obter imagens de satélites atualizadas diariamente ou ainda montar gráficos de temperatura, precipitação e outras variáveis para todas as capitais brasileiras, acesse: <www.inmet.gov.br> Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 12 Tabela 2.1. Composição média da atmosfera seca abaixo de 25 quilômetros (segundo BARRY & CHORLEY, 1976). Gás Volume % (ar seco) Nitrogênio (N2) Oxigênio (O2) Argônio (Ar) Bióxido de carbono (CO2) Neônio (Ne) Helio (He) Ozônio (O3) Hidrogênio (H) Criptônio (Kr) Xenônio (Xe) Metano (Me) 78,08 20,94 0,93 0,03 (variável) 0,0018 0,0005 0,00006 0,00005 Indícios Indícios Indícios Fonte: AYOADE, 1996, p.16. A formação do ozônio ocorre nas camadas superiores da atmosfera, em especial na estratosfera, entre 15 a 35 quilômetros acima da superfície terrestre. E é formado quando as moléculas de oxigênio rompem seus átomos e se ligam individualmente a outras moléculas de oxigênio, sob a influência da radiação ultravioleta. (AYOADE, 1996, p.15-16). Assim, sua concentração é maior nos pólos e muito baixa na faixa equatorial, em função da menor espessura das camadas atmosféricas sobre as áreas polares e em decorrência das temperaturas mais baixas nesta parte do globo (Lei dos gases de Boyle). Enquanto uma mistura de gases a atmosfera também possui uma massa, de modo que os gases mais pesados e densos se concentram nas camadas inferiores da atmosfera e os mais leves nas camadas superiores (ver gráfico 2.1 a seguir). Em geral, sabe-se que aproximadamente 50% do total da massa atmosférica esta concentrada abaixo dos 5 quilômetros de altitude, e é por isso que na Climatologia o estudo sobre as camadas mais inferiores da atmosfera é enfatizado, pois é nelas que a maior parte dos eventos climáticos ocorre. Lei dos gases de Boyle: referente à Equação ou lei dos gases perfeitos, em que uma relação matemática permite relacionar três variáveis de estado de uma amostra gasosa: pressão, temperatura e volume e quantidade de gás da amostra. Esta se traduz na seguinte equação: P*V = n *R*T, sendo que: P é pressão (medida em unidade de atmosfera ou atm), V indica o volume ocupado pelo gás (em decímetros cúbicos ou dm3), “n” representa o número de moles e T a temperatura (medida em graus Kelvin ou K). Em síntese, podemos afirmar que quando um dado volume gasoso entra em contato com um ambiente de temperatura muito elevada, este gás tende a se expandir (maior movimentação molecular), formando áreas de BAIXA PRESSÃO; e em contrapartida, em ambientes mais frios, os gases tendem a sofrer contração (menor movimentação molecular, configurando áreas de ALTA PRESSÂO. Dessa forma é possível compreender a relação entreas faixas climáticas e as variações de pressão no globo. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 13 Gráfico 2.1. Distribuição vertical da massa da atmosfera (conforme BARRY & CHORLEY, 1976). Fonte: AYOADE, 1996, p.19 Ao nível do mar, a composição atmosférica predominante, como vimos na tabela 2.1, é de nitrogênio (78%) e oxigênio (21%), sendo que o 1% restante compõe os demais gases listados, incluindo o gás carbônico. À medida que nos direcionamos para as altitudes mais elevadas, a atmosfera se torna mais rarefeita e sua composição pode ser alterada. Por exemplo, se um ser humano estivesse a 80 quilômetros de altitude, este morreria por asfixia, já que nesta altitude o oxigênio é praticamente inexistente. 2.1.2 - A estrutura vertical da atmosfera A atmosfera possui diferentes camadas com características distintas e que regem alguns fenômenos climáticos globais (ver figura 2.6). È essencial saber diferenciá-las e caracterizá-las conforme sua importância para os estudos do tempo e do clima. Em síntese, a atmosfera pode ser subdivida em: a) Troposfera: corresponde à camada mais baixa da atmosfera e que está em contato com a superfície terrestre. É também a camada onde se concentra a maior parte dos gases atmosféricos, cerca de 75% deles, e onde há maior ocorrência dos principais fenômenos meteorológicos (chuvas, ventos, nuvens, raios, trovões, furacões, etc). Sua altitude média é Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 14 de 11 Km – acima dos quase 9Km correspondentes à maior cadeia de montanhas do mundo: o Himalaia, mas pode atingir até 15 Km nas áreas equatoriais e somente 8 Km nos pólos. Esta diferença se explica pela variação das radiações solares - que como já vimos, interfere na temperatura global, formando as diferentes faixas climáticas – e ainda pelas estações do ano e da situação meteorológica do local especifico. Em relação à temperatura, verifica-se que há uma contínua diminuição desta com o aumento da altitude, ou seja, quanto mais alto mais frio e vice-versa. Tal diminuição se dá em torno de 6,5º C por quilômetro. Na parte superior da troposfera se localiza a tropopausa, que se caracteriza por ser uma camada de transição entre as camadas atmosféricas em que há condições de inversão de temperatura, e que efetivamente limitam as trocas de energia e outras atividades do tempo atmosférico. A altitude da tropopausa, todavia, é variável no planeta, sendo mais elevada no Equador (aproximadamente 16 Km de altitude). b) Estratosfera: é a camada superior à troposfera, após a tropopausa, atingindo o seu limite a mais de 50 km de altitude. Nela, verifica-se uma menor quantidade de vapor d’água, aproximadamente um décimo em relação à troposfera, e é considerada fundamental para a vida no planeta em função da existência da camada de ozônio. A temperatura, ao contrário da troposfera, é diretamente proporcional ao Figura 2.6. Camadas da atmosfera Fonte: http://mundoamorrer.com.sapo.pt/atmosfera.jpg, acessado em 15/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 15 aumento da altitude, ou seja, quanto mais alto, mais quente. Isso ocorre em função da liberação de energia necessária para a formação do ozônio, configurando uma reação exotérmica. O ozônio é produzido naturalmente na estratosfera pela ação fotoquímica dos raios ultravioleta sobre as moléculas de oxigênio. Esses raios são suficientemente intensos para separar os dois átomos que compõem a molécula de O2 produzindo assim o oxigênio atômico. A produção de ozônio é realizada numa etapa imediatamente posterior, resultando da associação de um átomo de oxigênio e uma molécula de O2 na presença de um catalisador. (SILVA, CRUZ, PORTO, GODOY, FREITAS, ALVES & DAMACENO, 2002). Como abordado anteriormente, o ozônio é um gás que absorve os raios ultravioletas nocivos aos seres vivos e é fundamental para a nossa sobrevivência no planeta, pois sem este bloqueio morreríamos queimados pelos raios solares. Todavia, é a própria radiação ultravioleta a responsável pela formação da camada de ozônio presente na estratosfera, a partir da combinação alotrópica com o oxigênio (O3). Após atingir os 80 Km de altitude, o ozônio desaparece porque também inexiste o oxigênio, e assim a temperatura volta a declinar, podendo alcançar os -83º C. Na parte superior da estratosfera se localiza a estratopausa, que também se configura como uma camada de transição. Juntas, a troposfera e a estratosfera compõem a chamada “atmosfera inferior” e que corresponde à fonte de estudos da Climatologia e da Meteorologia. Saiba mais Para saber mais sobre a formação do ozônio e os impactos nocivos sobre o aumento do buraco desta camada para os seres humanos, consulte http://wwwp.fc.unesp.br > Reação exotérmica: corresponde a uma reação química cuja energia total dos seus produtos é menor que a de seus reagentes, ou seja, ela libera energia, em geral sob a forma de calor (Adaptado de wikipedia, acessado em 11/01/2010). Catalisador: é uma substância que afeta a velocidade de uma reação, sem alterar o resultado deste processo. O catalisador pode diminuir a energia de ativação necessária para desencadear a reação quimica, aumentando, portanto, a velocidade da reação. Combinação alotrópica: rela- cionado à alotropia, que corresponde a um fenômeno em que um mesmo elemento químico forma duas ou mais substâncias simples diferentes. O oxigênio (O2) e o ozônio (O3) são exemplos de combinações alotrópicas. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 16 c) Mesosfera: situada na porção superior à estratosfera e à estratopausa, possui temperaturas inversamente proporcionais à altitude, de modo que a temperatura diminui até atingir aproximadamente os -90º C, sendo que a pressão atmosférica é muito baixa. d) Ionosfera ou Termosfera: é a quarta camada da atmosfera, sendo caracterizada pela forte presença de íons, em forma de raios-X e radiação ultravioleta, o que provoca a ionização ou carregamento elétrico e permite que as transmissões de rádio e algumas ondas sonoras ocorram na superfície, pois é capaz de refletir ondas longas e médias. Também é nesta camada que é ocorre o fenômeno aurora boreal. Possui temperaturas baixíssimas e ar bastante rarefeito, visto que as densidades dos gases também são muito baixas. e) Exosfera ou espaço sideral: estende-se de uma altitude entre 500 a 750 Km acima da superfície terrestre e vai além. Os átomos de oxigênio, hidrogênio e hélio formam uma atmosfera muito tênue e as leis dos gases deixam de ter validade, assim ela se torna menos densa até se confundir com o espaço exterior. Somente as naves espaciais e satélites já atingiram esta camada atmosférica. Juntas, a mesosfera, a ionosfera e a exosfera formam a chamada “atmosfera superior”, que se comparada à inferior, ainda se encontra relativamente inexplorada. Figura 2.7. Aurora Boreal. Fonte: http://www.joaquimevonio.com/espaco/malubarni/ malubarni_clip_image001_0001.jpg, acessado em 11/01/2010. Íons: conceito da química, em que um íon corresponde a uma molécula ou átomo que ganhou ou perdeu elétrons em um processo conhecido como ionização. Aurora Boreal: é um fenômeno visual que ocorre nas regiões polares do globo. Pode ser visualizado a olho nu, durante a noite ou no final de tarde, nas regiõesonde ocorrem. São verdadeiros shows de luzes coloridas e brilhantes, que ocorrem em função do contato dos ventos solares com o campo magnético do planeta Terra. Ela pode aparecer em diferentes formatos: como pontos luminosos, faixas horizontais ou circulares, porém sempre alinhadas ao campo magnético terrestre. As cores podem variar entre o vermelho, laranja, azul, verde e amarelo, ou mesmo aparecer multicolorida, como se fosse um “arco-íris noturno”. (Adaptado de http://www.suapesquisa.com/geogra fia/aurora_boreal.htm, acessado em 11/01/2010). Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 17 2.1.3 - O balanço de energia na atmosfera terrestre O balanço de radiação, segundo AYOADE (1996, p. 36), significa “a diferença entre a quantidade de radiação que é absorvida e emitida por um dado corpo ou superfície”, é consiste no método utilizado para calcular a quantidade de energia proveniente do Sol que atinge a superfície de uma região. Deste modo, o balanço de radiação contabiliza a energia que chega até a atmosfera, a energia que é absorvida por esta, a energia que é refletida para o espaço e a energia absorvida pela superfície terrestre. Contudo deve-se ressaltar que nem toda energia que chega ao topo da atmosfera atinge a superfície, sendo que 31% é refletida para o espaço sem ser aproveitada, e as nuvens contribuem refletindo 23% da energia incidente. Essa energia refletida representa o que chamamos de albedo planetário. O restante da energia incidente é absorvida pela atmosfera em sua maior parte pela superfície da terra. Em geral, o albedo terrestre é positivo durante o dia e negativo à noite, e também pode oscilar conforme as variações sazonais e latitudinais. Apesar de a atmosfera ser muito transparente e favorecer a radiação solar incidente, há uma significativa variação na quantidade de radiação solar que é absorvida e/ou refletida, sendo que somente 25% penetra diretamente na superfície da Terra sem sofrer nenhuma interferência da atmosfera, chamada de insolação direta. Os 75% restantes, ou são refletidos novamente para o espaço ou são absorvidos e espalhados até atingir a superfície da Terra, podendo retornar para o espaço, como ode ser verificado pelas figuras 2.8 e 2.9 a seguir. Todavia, o que determina se a radiação solar será absorvida, espalhada ou refletida de volta depende em grande parte do comprimento de onda da energia que está sendo transportada, bem como do tamanho e natureza do material que intervém. As figuras a seguir ilustram esquematicamente como ocorre o balanço de radiação terrestre: Albedo planetário: Relação entre a quantidade de luz refletida em uma superfície e a quantidade incidente sobre ela. Em geral o termo é aplicado a corpos celestes dentro do sistema Solar. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 18 Figura 2.8. Balanço da Radiação Terrestre. Fonte: http://wwwp.fc.unesp.br/~lavarda/procie/dez14/angelina/index.htm, acessado em 07/01/2010. Figura 2.9. Interação da Radiação Solar com a atmosfera Terrestre. Fonte: http://www.aticaeducacional.com.br/images/secoes/atual_cie/img/radiacao.jpg, acessado em 08/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 19 Embora a radiação solar incida em linha reta, os gases e aerossóis podem causar seu espalhamento, dispersando-a em todas as direções. A reflexão, por exemplo, é um caso particular de espalhamento. A insolação difusa é constituída de radiação solar que é espalhada ou refletida de volta para a Terra. Esta insolação difusa é responsável pela claridade do céu durante o dia e pela iluminação de áreas que não recebem iluminação direta do sol. Grande parte da energia da radiação solar está contida no intervalo visível, entre o vermelho e o violeta. A luz azul tem comprimento de onda menor que a luz vermelha e, conseqüentemente, a luz azul é aproximadamente 5,5 vezes mais espalhada que a vermelha. Além disso, ela é mais espalhada que o verde, amarelo e laranja, e é por este motivo que o céu, longe do disco do sol, parece azul aos olhos humanos, visto que o olho humano é mais sensível à luz azul do que à luz violeta. A coloração avermelhada do céu ao nascer e pôr do Sol, pode ser explicada porque quando o Sol se aproxima do horizonte a radiação solar percorre um caminho mais longo através das moléculas de ar, e portanto mais e mais luz azul e com menor comprimento de onda é espalhada para fora do feixe de luz, e assim, a radiação solar contém mais luz do extremo vermelho do espectro visível. Tal fenômeno se torna ainda mais visível em dias com poeira ou fumaça. Já as nuvens possuem coloração branca em função de um espalhamento da radiação de modo igual em todos os comprimentos de onda. E, como as partículas que compõem as nuvens se constituem de pequenos cristais de gelo ou gotículas de água, a maior parte dos aerossóis atmosféricos espalha a luz do Sol desta maneira. Por isso, as nuvens parecem brancas e quando a atmosfera contém grande concentração de aerossóis o céu inteiro aparece esbranquiçado. Por sua vez, o espalhamento de luz visível por gotas de nuvens, gotas de chuva e partículas de gelo pertence a este regime e produz uma variedade de fenômenos óticos como arco íris e as auréolas solares. Como abordado anteriormente, aproximadamente 30% da energia solar é refletida de volta para o espaço, incluindo a quantidade de luz solar que é retroespalhada. A reflexão ocorre Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 20 na interface entre dois meios diferentes, quando parte da radiação que atinge esta interface é enviada de volta. Nesta interface o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão (lei da reflexão) e a fração da radiação incidente que é refletida por uma superfície é o seu albedo. Se um objeto ou superfície é um bom refletor das ondas, por sua vez, serão fracos absorvedores destas, independente do comprimento de onda. A neve fresca, por exemplo, é capaz de refletir quase a totalidade dos raios que incidem sobre ela, ao passo que os espelhos d’água absorvem a maior parte, devolvendo uma pequena quantidade desta radiação de volta para a atmosfera. As refletividades de algumas superfícies para o intervalo de comprimentos de onda da radiação solar, dentro de um intervalo visível, são listados na tabela 2.2. a seguir. Tabela 2.2. Albedo para algumas superfícies no intervalo visível (%) Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap2/cap2-6.html, acessado em 08/01/2010. Portanto, o albedo planetário é de 30%, e varia no espaço e no tempo, dependendo da natureza da superfície, como pode ser visto pela tabela anterior, e ainda pela altura do Sol. O topo das nuvens, dentro da atmosfera, são os mais importantes refletores. O albedo dos topos de nuvens depende de sua espessura, variando de menos de 40% para nuvens finas a 80% para nuvens espessas. Da mesma forma que refletem grande quantidade de energia vinda do sol, as nuvens absorvem enormes porções da energia refletida pela superfície. Por Solo descoberto 10-25 Areia, deserto 25-40 Grama 15-25 Floresta 10-20 Neve (limpa, seca) 75-95 Neve (molhada e/ou suja) 25-75 Superfície do mar (sol > 25° acima do horizonte) <10 Superfície do mar (pequena altura do sol) 10-70 Nuvens espessas 70-80 Nuvens finas 25-50 Lei da reflexão: é o fenômeno em que a luz volta a se propagar em direção ao seu meio de origem, após incidir sobre um objeto ou superfície. As leis fundamentais da reflexão podem ser listadas da seguinte forma: 1ª) O raio de luz refletido e o raio de luzincidente, assim como a reta normal à superfície, são coplanares, isto é, pertencem ao mesmo plano. 2ª) O ângulo de reflexão é sempre igual ao ângulo de incidência. Deste modo, para superfícies de naturezas diferentes, a quantidade de luz incidida pelos raios solares pode variar a quantidade de luz que é refletida novamente para a atmosfera. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 21 isso são muito importantes, pois funcionam como barreira para a insolação emitida pela terra impedindo que o planeta esfrie demasiadamente. Ou seja, as nuvens funcionam como controladoras da temperatura da superfície do planeta e qualquer processo que altere a quantidade média das nuvens afetará a nossa vida. Outro elemento importante é o gás carbônico que juntamente com as nuvens controla a temperatura da terra. Ele absorve a energia emitida pela superfície e juntamente com o vapor d’água é um dos principais constituintes do chamado efeito estufa, fenômeno natural sem o qual a vida do planeta não existiria como conhecemos. Assim, os gases se configuram como bons absorvedores da radiação disponível e tem papel fundamental no aquecimento da atmosfera. Deve-se destacar ainda que as radiações eletromagnéticas são o veículo utilizado pelo sol para transportar a energia para nosso planeta. O sol não envia apenas as duas radiações mais úteis, a infravermelha e a visível, mas também uma mistura de radiações, algumas delas nocivas à vida. A energia do sol é parcialmente absorvida e refletida pela atmosfera, pois, se ela chegasse totalmente à superfície do planeta, não existiria vida na Terra. (SILVA, CRUZ, PORTO, GODOY, FREITAS, ALVES & DAMACENO, 2002). a) Instrumentos de medição da Radiação Solar: Muitos instrumentos podem ser utilizados para medir os componentes do balanço de radiação, mas em geral são muito caros. Há cinco tipos básicos de instrumentos para mediar a radiação: 1. Pireliômetro: mede a intensidade solar, ou seja, a radiação solar de raios diretos, em incidência normal. È bastante caro, mas é o que possui maior precisão e por isso são utilizados como padrões de calibração; 2. Piranômetro: mede a radiação total, em ondas curtas, vindas do céu e incidente em uma superfície horizontal do planeta; 3. Pirgeômetro: mede a radiação infra-vermelha. 4. Pirradiômetro: mede simultaneamente a radiação infravermelha e a radiação solar; 5. Radiômetro líquido: mede a radiação líquida ou o balanço de radiação. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 22 Segundo AYOADE (1996, p.46-47), como estes instrumentos de medida de radiação são muito sofisticados e possuem custo bastante elevado, em geral não são utilizados na maior parte das áreas tropicais. Ao invés disso, a insolação é calculada utilizando-se o integrador de radiação Gunn Belani ou o registrador de luz solar Campbell-Stokes, sendo que o primeiro pode ser descrito como um tipo esférico de piranômetro, e o segundo constitui-se de uma esfera de vidro que dirige os raios do sol para um cartão sensível graduado em horas e preso a uma meia bola de metal, com a qual a esfera se mantém concêntrica. Este instrumento geralmente é montado sob um pilar de concreto a 1,5 metros da superfície. Assim, a luz solar queima uma trilha ao longo do cartão sensível, enquanto os períodos Figura 2.10. Pireliômetro. Fonte: http://www.mast.br/images/n av_h03_txt311g8.jpg, acessado em 08/01/2010. Figura 2.11. Piranômetro. Fonte: http://www.ufpel.tche.br/faem/fitotec nia/graduacao/agromet/images/pirano metro.jpg, acessado em 08/01/2010. Figura 2.12. Pirgeômetro. Fonte: http://img.directindustry.es/imag es_di/photo-g/pirgeometro- 394101.jpg, acessado em 08/01/2010. Figura 2.13. Pirradiômetro. Fonte: www.telecom.at/schenk/8111.html, acessado em 08/01/2010. Figura 2.14. Radiômetro. Fonte: http://www.nei.com. br/images/ lg/234993.jpg, acessado em 08/01/2010. Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 23 nublados permanecem em branco. Logo, a duração total dos períodos de sol em um dia é obtida medindo-se o comprimento total do traço marrom no cartão. 2.2 - A temperatura do ar Assim como as chuvas e a precipitação, um importante elemento climático é a temperatura. Segundo a Termodinâmica, a temperatura pode ser definida a partir do movimento interno das moléculas, de modo que quanto mais rápido estas moléculas se movimentam, maior será a temperatura e vice-versa. De modo geral, notamos a temperatura em termos relativos, a partir do grau de calor que um corpo possui. Logo, a temperatura é a condição que determina o fluxo de calor que passa de um corpo para outro, se deslocando em geral daquele que possui temperatura mais elevada para aquele que possui menor temperatura. A temperatura dos corpos pode ser medida através dos termômetros. Por sua vez, a temperatura atmosférica é definida como o “estado térmico do ar atmosférico”, ou seja, o estado frio ou quente da atmosfera. Embora a Terra irradie energia própria advinda das radiações, a energia responsável pelo estado térmico da atmosfera é proveniente plenamente do sol. Recebemos do Sol uma grande quantidade de radiações através de ondas curtas, que são parcialmente absorvidas na ionosfera, na camada de ozônio, pelo vapor d’água, etc. E como vimos na abordagem sobre o albedo planetário, apenas 47% das radiações atingem a superfície terrestre. Estas, ao atingirem a superfície terrestre são absorvidas e novamente refletidas para a atmosfera, na forma de calor (ondas longas), aquecendo-as de baixo para cima. O calor proveniente da superfície terrestre, encontrando o céu limpo, dissipa-se na atmosfera, mas quando encontra camadas de nuvens, é, por estas, re-irradiado de volta para a Terra, provocando sensível aquecimento do ar junto à superfície terrestre. Termodinâmica: é o ramo da física que estuda as relações entre calor, temperatura, trabalho e energia. Abrange o comportamento geral dos sistemas físicos em condições de equilíbrio ou próximas dele. Qualquer sistema físico, seja ele capaz ou não de trocar energia e matéria com o ambiente, tenderá a atingir um estado de equilíbrio, que pode ser descrito pela especificação de suas propriedades, como pressão, temperatura ou composição química. Se as limitações externas são alteradas (por exemplo, se o sistema passa a poder se expandir), então essas propriedades se modificam. Logo, a termodinâmica tenta descrever matematicamente essas mudanças e prever as condições de equilíbrio do sistema. (Fonte: http://www.coladaweb.com/fisica/term ologia/termodinamica, acessado em 11/01/2010). Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2 24 Segundo AYOADE (1996, p.52), “a temperatura do ar varia de lugar e com o decorrer do tempo em uma determinada localidade”. E a distribuição da temperatura em uma área, geralmente é demarcada pelas linhas isotérmicas, ao passo que a variação de temperatura em uma escala de tempo é representada através de gráficos. Dentre os fatores que influenciam a distribuição da temperatura sobre a superfície terrestre podemos citar: a quantidade de insolação recebida, a natureza da superfície, a distância do oceano (maritimidade), as variações do relevo, a direção predominante dos ventos e a atuação das correntes marítimas. Em função dos diversos fatores climáticos citados, a temperatura atmosférica sofre variações diárias, mensais e anuais. Este assunto será abordado nos subitens seguintes.
Compartilhar