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1 Educação Ambiental - Unidade 01 Educação Ambiental CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA ENSINANDO E APRENDEND O 2 Educação Ambiental - Unidade 01 Sumário 1. A educação e o contexto da crise ambiental 2. Evolução histórica e científica das ideias ambientalistas 3. Cultura e manejo dos recursos naturais 4. Educação Ambiental e promoção da sustentabilidade 5. Principais conceitos do ambientalismo contemporâneo 6. Política nacional de educação ambiental Unidade 01 - Sociedade, natureza e desenvolvimento Olá! Seja bem-vindo à Nota de Aula da disciplina de Educa- ção Ambiental. Este material é bastante prático e está dispo- nível tanto para baixar em seu computador no formato pdf quanto para impressão. Nele você encontra o texto produ- zido pelo Professor Conteudista na íntegra, com sugestões de outras fontes de pesquisa e uma editoração que facilitará e enriquecerá seus estudos. Mas, lembre-se, para alcançar uma melhor compreensão do assunto é importante que você assista as web aulas, complementos diretos desse material. Agora veja o que esta unidade propõe. Boa leitura! Educação Ambiental CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA ENSINANDO E APRENDEND O 3 Educação Ambiental - Unidade 01 Estudar criticamente este conteúdo proporcionará a você uma melhor compreensão sobre a complexidade das ques- tões relacionadas à educação ambiental, seu contexto, con- ceitos e promoção da sustentabilidade. O processo de aná- lise proposto contribuirá para ampliar a percepção sobre o objeto de estudo, bem como desenvolver a capacidade de mobilização para a aplicação dos fundamentos e princípios da Educação Ambiental na realidade. Objetivo 1. A educação e o contexto da crise ambiental Em uma perspectiva histórica, alguns processos significativos foram marcantes para a tra jetória da cultura ocidental quando nos referimos à sua relação com o meio ambiente, seja ele natural ou artificial. Podemos mencionar os três primeiros momentos históricos que marcaram essa tra jetória, são eles: ৵ Revolução Industrial: calcada na ideologia do progresso, como sendo, simbolicamente, o domínio da natureza pelo ser humano; ৵ Fundação da Empresa Neocolonial: consolidou o projeto expansionista das nações industriais e deixou como saldo duas grandes guerras mundiais; ৵ Explosão Nuclear no Japão: ao fim da Segunda Guerra Mundial, mostrou a extrema capacidade e competência da humanidade em agredir e ameaçar o meio ambiente. Conceito global e que envolve relações de equilíbrio entre diversos elementos. Desta forma, define-se meio ambiente como tudo aquilo que nos cerca, englobando os elementos da natureza, tais como a fauna, a flora, o ar, a água e os seres humanos. 4 Educação Ambiental - Unidade 01 Mas foi, sem sombra de dúvidas, a partir das décadas de 1960 e 1970 que a crise socioambiental emergiu dotada de novas características, pois trata- se de uma crise de repercussões globais, embora atinja de maneira desigual todos os continentes, sociedades e ecossistemas planetários. A percepção desses problemas, em âmbito mundial, levou os especialistas a distinguirem a poluição da miséria de uma poluição da riqueza. ৵ Poluição da miséria diz respeito à ausência de água potável e esgotos, à subnutrição, à falta de tratamento do lixo, de cuidados médicos e consumo de álcool e drogas, entre outros. ৵ Poluição da riqueza refere-se à presença de chuva ácida, doenças relacionadas ao excesso de alimentos, presença de usinas nucleares, consumo excessivo e suntuoso, álcool, drogas e medicamentos. Entretanto, nesta reflexão, não queremos gerar antagonismos entre ricos e pobres, ou mesmo entre países do norte e do sul. Ressaltamos, sim, o caráter global da poluição, que atinge de forma diferenciada a todos. Sendo assim, para pensar na crise socioambiental precisamos assumir uma reflexão sistêmica que envolve a compreensão sobre as características distintivas desta crise contemporânea. Essa análise envolve a dificuldade, ou impossibilidade em certos casos, de perceber, prever, calcular e compensar novos riscos produzidos pela modernidade industrial e técnico-científica, bem como atribuir-lhes responsabilidade (BECK, 1999). Para pensar a respeito desse assunto, assista ao vídeo “A História das Coisas”, disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw Dica Outra característica diz respeito aos riscos promovidos pela radiação nuclear, mutação genética e contaminação química ou bacteriológica, que obrigam as pessoas a recorrerem ao conhecimento, de instrumentos e interpretações técnico-científicos para orientar seu comportamento e suas decisões, além de depender deles. 5 Educação Ambiental - Unidade 01 Para Beck (1999) devem ser discutidos os aspectos éticos, ideológicos e políticos dessa preocupante concentração de poder em torno da ciência e da comunidade científica, fazendo com que o debate sobre a produção dos riscos assuma uma tônica tecnocrática e naturalista, ou seja, preocupando-se excessivamente com a descrição empírica dos problemas de risco, deixando de lado a discussão política, social e cultural, dimensões fundamentais para o entendimento da complexa situação ambiental. Outro importante aspecto ressaltado por Beck (1999) diz respeito à preocupação com o processo de modernização econômica e técnico-científica, por produzirem irracionalidades e incertezas, deslocando o objeto central das preocupações políticas e sociais da busca do desenvolvimento, da produção e distribuição de riquezas para a administração econômica e política dos riscos gerados pela própria modernização. O que se tem visto ao longo das últimas duas décadas é uma tentativa de repensar a relação sociedade-natureza levando em consideração os aspectos supracitados e tendo como pano de fundo as grandes mudanças de cunho político, econômico e cultural que vêm acontecendo em escala planetária. Sendo assim, pensar em crise ambiental leva-nos a admitir que essa crise é resultante do modelo civilizatório e cultural alavancado pelo projeto de modernidade. Essa constatação singular de um projeto social que destrói e ameaça suas próprias bases de sustentação e sobrevivência revela-nos um processo que transcende os contornos de mera crise ecológica e aponta para uma crise civilizatória de amplas e profundas dimensões. É no contexto de uma modernidade avançada, incerta e complexa, contraditória e insustentável que se encontra o foco da questão ambiental e a inserção da educação nesta questão. Importante 6 Educação Ambiental - Unidade 01 Sendo assim, em todo o histórico da crise ambiental, a educação tem sido referenciada como um instrumento capaz de responder positivamente a essa problemática ao lado de outros meios políticos, econômicos, legais, éticos, científicos e técnicos. A partir de 1980, em âmbito internacional, e por volta dos anos de 1990 no Brasil, tem-se início o processo de maioridade da educação ambiental, conquistando o reconhecimento social e difundindo-se numa multiplicidade de reflexões e ações promovidas por organismos internacionais, organizações governamentais, comunidade científica, entidades empresariais e religiosas. Antes de evoluir na discussão acerca do papel da educação, e em particular da Educação Ambiental, cabe explicitar que a educação é um subsistema subordinado e articulado ao macrossistema social. Portanto, como afirma Carvalho (1998), as concepções e práticas educativas não possuem uma realidade autônoma, mas se subordinam a um contexto histórico mais amplo que condiciona seu caráter e suadireção pedagógica e política. Sendo assim, os debates internos ao campo da educação acompanham os macrodebates sociais, nos lembrando que o processo educativo não é neutro e objetivo, destituído de valores, interesses e ideologias. Ao contrário, a educação é uma construção social repleta de subjetividade, de escolhas valorativas e de vontades políticas, dotada de uma especial singularidade que reside em sua capacidade reprodutiva dentro da sociedade. Por conta dessa importância, a educação possui um significado profundo na construção social estratégica, por estar diretamente envolvida na socialização e formação dos indivíduos e de sua identidade social e cultural. (LOUREIRO; LAYARAGUES; CASTRO, 2011). A educação, nesse sentido, pode assumir tanto um papel de conservação da ordem social, reproduzindo os valores, ideologias e interesses dominantes socialmente, como papel emancipatório, comprometido com a renovação cultural, política e ética da sociedade e com o pleno desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos que a compõem. O campo demarcado pela Educação Ambiental é profundo na construção social estratégica, por estar diretamente envolvida na socialização e formação dos indivíduos e de sua 7 Educação Ambiental - Unidade 01 plural e reflete as principais tendências políticas, éticas e culturais do atual debate sobre a sustentabilidade. Para efeito de análise, podemos relacionar a sustentabilidade e a educação conservadora com as forças que representam o mercado, de perfil neoliberal e tecnocrático marcado por baixa participação e representatividade social. Por sua vez, a sustentabilidade e a educação emancipatórias relacionam-se aos movimentos sociais e libertários da sociedade, bem como de defesa de um Estado democrático com forte participação e controle por parte da sociedade civil. (LOUREIRO; LAYARAGUES; CASTRO, 2011). Veja o confronto entre as duas abordagens apresentadas no parágrafo acima no quadro a seguir: Abordagem conservadora Abordagem emancipatória ৵৵ Reducionista, fragmentada e unilateral acerca da questão ambiental; ৵৵ Compreensão naturalista e conservacionista da crise ambiental; ৵৵ Tendência a sobrevalorizar as respostas tecnológicas diante dos desafios ambientais; ৵৵ Leitura individualista e comportamentalista da educação e dos problemas ambientais; ৵৵ Abordagem despolitizada da temática ambiental; ৵৵ Baixa incorporação de princípios e práticas interdisciplinares; ৵৵ Perspectiva crítica limitada ou inexistente; ৵৵ Ênfase nos problemas relacionados ao consumo em relação aos ligados à produção; ৵৵ Separação entre as dimensões sociais e naturais da problemática ambiental; ৵৵ Banalização das noções de cidadania e participação. ৵৵ Compreensão complexa e multidi- mensional da questão ambiental; ৵৵ Defesa do amplo desenvolvimento das liberdades e possibilidades hu- manas; ৵৵ Atitude crítica diante dos desafios da crise civilizatória; ৵৵ Politização e publicização da prob- lemática socioambiental; ৵৵ Associação dos argumentos técni- co-científicos à orientação ética do conhecimento, de seus meios e fins, e não sua negação; ৵৵ Entendimentos da democracia como pré-requisito fundamental para a construção de uma sustentabilidade plural; ৵৵ O exercício da cidadania é prática in- dispensável à democracia e à eman- cipação socioambiental; ৵৵ Cuidado em estimular o diálogo e a complementariedade entre as ciên- cias e as múltiplas dimensões da real- idade entre si. 8 Educação Ambiental - Unidade 01 (LOUREIRO; LAYARAGUES; CASTRO, 2011). A atual crise socioambiental é, na verdade, uma das expressões de uma crise civilizatória pluridimensional que revela a todo instante, e de diversas maneiras, o esgotamento do projeto cultural iluminista inspirado na ideia de progresso, na razão instrumental e numa compreensão de mundo dualista. Vivemos um momento sócio-histórico marcado por uma profunda multiplicação dos riscos naturais e tecnológicos e pela permanente presença da incerteza, ambos característicos da modernidade avançada. A crise ambiental que vivenciamos, mais que “ecológica”, é produto das contradições e das crises da razão e do progresso. 2. Evolução histórica e científi ca das ideias ambientalistas Anos 60 A Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética ameaça deflagrar um conflito nuclear, tendo seu ápice na “Crise dos Mísseis” e na consequente intensificação da corrida espacial. Através do amadurecimento da primeira geração pós-guerra, os chamados baby boomers, a promoção de causas raciais, feminismo e contracultura põem em dúvida os parâmetros da sociedade. Crescem os movimentos sociais, entre os quais o ambientalismo. No final da década, com os americanos alcançando a Lua, uma imagem inédita conquista o imaginário popular: o planeta inteiro cabendo em uma única foto... ৵ 1969: promulgada a Política Ambiental Americana, uma das primeiras leis oficiais de meio ambiente em todo o mundo, que serviu de base e estímulo para vários países formularem suas próprias políticas ambientais - como o Brasil, em 1981. 9 Educação Ambiental - Unidade 01 Anos 70 As “superpotências” se aproximam diplomaticamente, e os embates militares na “Guerra Fria” entre capitalistas e socialistas dá cada vez mais espaço ao campo cultural, com romances e filmes de luta, intriga política e espionagem. Ainda assim, os embalos de sábado à noite não aplacam os efeitos da crise mundial do petróleo - ou fim do “milagre econômico” desenvolvimentista no Brasil. As revoluções comportamentais e conquistas identitárias dos anos anteriores insuflam a reflexão sobre as relações entre indivíduo e coletividade; humanidade e natureza. ৵ 1972: em Estocolmo, acontece a primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), com bases no relatório do Clube de Roma. ৵ 1973: no Brasil, é inaugurada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), vinculada ao Ministério do Interior, com vistas à preservação do meio ambiente, em especial dos recursos hídricos, assegurando o bem-estar das populações e o seu desenvolvimento econômico e social. 10 Educação Ambiental - Unidade 01 Anos 80 Após os projetos nacionais e transnacionais de expansão industrial da década anterior, se dá a expansão do consumo em novos e variados mercados, com diversos produtos industrializados chegando às casas de bilhões de pessoas, em especial equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos. Têm fim vários governos autoritários e até mesmo a União Soviética se mostra enfraquecida com a Queda do Muro de Berlim. No meio da década, duas notícias marcaram drasticamente a tomada de consciência ambiental: o acidente nuclear da Usina de Chernobyl e a descoberta de um “buraco” na camada de ozônio, o que nos desprotegia das tão temidas ondas radioativas. ৵ Escalada do ativismo ambiental, com novas entidades como a Cultural Survival (Sobrevivência Cultural) e o Greenpeace. ৵ 1981: a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) formula a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) - Lei Nº 6.938/81. ৵ 1982: lançado o Relatório Brundtland (ou “Nosso Futuro Comum”), que sintetizava as diretrizes do “desenvolvimento sustentável” e propunha a realização da segunda Conferências das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED). 11 Educação Ambiental - Unidade 01 Anos 90 A “Globalização” sucede a desintegração da União Soviética, com diversos pólos capitalistas se desenvolvendo em paralelo ao poderio econômico americano. O computador pessoal e as comunicações por satélite se popularizam, mascom a internet ainda estava insípida. Diversas epidemias assolam grandes populações, como AIDS, Ebola e o “Mal da Vaca Louca”. Por sua vez, a clonagem e a produção transgênica fascinam a humanidade por suas possibilidades e riscos. Processos de reciclagem são aperfeiçoados e se tornam mais comuns, enquanto o “El Niño” aparece com força como primeiro fenômeno climático de escala global a ser conhecido no mundo moderno, provocando simultaneamente secas e inundações severas em diversas regiões do globo. ৵ 1992: realização da Rio-92, a segunda conferência das Nações Unidas, com discussões acerca dos capítulos da “Agenda 21” e o Fórum Global 92, buscando caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. 12 Educação Ambiental - Unidade 01 Anos 2000 A virada do milênio começou quase imediatamente com o choque do Atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova York. O poderio global americano passa a ter concorrência progressiva com o Crescimento Econômico Chinês. A internet comercial se estende a todo o mundo e Novas Tecnologias são inventadas e aprimoradas: acesso remoto, registros digitais e mídias sociais ganham o espaço das comunicações interpessoais. Redes sociais são inventadas e integradas a diversas plataformas, que são acessadas por uma grande variedade de dispositivos pessoais e coletivos. As Mudanças Climáticas ficam mais severas e se tornam do conhecimento do grande público mundial, integrando paulatinamente a pauta de discussões políticas e sociais. ৵ 2002: ocorre em Johanesburgo, África do Sul, a Rio+10, evento em que se evidenciou a distância de todos os esforços socioambientais para as metas traçadas nos encontros anteriores. Em 2012, aconteceu a Rio+20, outra reunião da Cúpula Mundial Sobre o Desenvolvimento Sustentável, novamente no Rio de Janeiro, com a finalidade de renovar o comprometimento político com o desenvolvimento sustentável, avaliar os progressos realizados até o momento e as lacunas que ainda existem na implementação dos resultados dos principais encontros sobre desenvolvimento sustentável, além de dar foco aos novos desafios emergentes. Em 2012, aconteceu a Rio+20, outra reunião da Cúpula Mundial com o desenvolvimento sustentável, avaliar os progressos realizados 13 Educação Ambiental - Unidade 01 3: Cultura e manejo dos recursos naturais A percepção dos problemas socioambientais vem se tornando cada vez mais evidente ao longo das últimas décadas. Em virtude deste contexto, a Educação Ambiental deve ser considerada como importante instrumento de gestão ambiental para a materialização da visão do desenvolvimento sustentável. Entretanto, sua aplicabilidade, de maneira efetiva, está condicionada à implantação de políticas públicas educacionais compatíveis que subsidiem uma mudança cultural de modo a afetar holisticamente os hábitos e posturas de uma determinada sociedade. O processo de degradação ambiental de uma região está sem dúvida condicionado ao padrão de consumo da sociedade, o qual pode ser sustentável ou insustentável. Assim, o processo de educação ambiental deve ser entendido como um instrumento indispensável para influenciar a cultura e o manejo dos recursos naturais e, assim, materializar a ideia de desenvolvimento sustentável. Os ecossistemas antrópicos apresentam como característica marcante um nível muito elevado de entropia, uma consequência natural da baixa autonomia local ou insustentabilidade. Os impactos ambientais decorrentes da entropia gerada por estes ecossistemas vêm evidenciando ao longo das últimas décadas um potencial muito elevado de comprometimento da qualidade de vida do homem, sua saúde e mesmo sua sobrevivência. Ainda falando de entropia, você sabe o que é capacidade de carga do planeta? Falamos em capacidade de carga ao pensarmos uma equação: Bens que consumimos x Bens que o planeta pode nos fornecer. Conhecer exatamente o que o planeta pode nos fornecer é extremamente difícil, mas já nos remete a um pensamento de cuidado e de proatividade na preocupação com o meio ambiente. É preciso criar as condições socioeconômicas, institucionais e culturais que estimulem um progresso pautado nos cuidados com a questão ambiental, bem como repensar o padrão de consumo atualmente adotado, sempre tomando em A ação humana ou antrópica sobre o ambiente pode gerar ecossistemas humanizados, ou seja, ambientes eminentemente naturais, modificados com maior ou menor intensidade pelas sociedades humanas. 14 Educação Ambiental - Unidade 01 conta a limitação dos recursos naturais. É o que chamamos de tentar reduzir nossa “pegada ecológica”. Neste contexto, é necessário haver cidadãos alfabetizados no aspecto ambiental para construir sociedades mais sustentáveis e justas. Aprender a viver de maneira mais sustentável requer Educação Ambiental, alfabetização ecológica para a realização de manejo sustentável dos recursos naturais, tais como: ৵ desenvolver o respeito ou reverência a todas as formas de vida; ৵ entender o máximo possível sobre como a Terra funciona e se sustenta e usar esse conhecimento em prol da vida, das comunidades, da sociedade e do ambiente como um todo; ৵ buscar conexões dentro da biosfera e entre ela e nossas ações; ৵ usar as habilidades de raciocínio crítico para perseguir a sabedoria ambiental em vez de sermos recipientes repletos de informações ambientais. 15 Educação Ambiental - Unidade 01 Segundo Miller Jr. (2011), uma pessoa alfabetizada em meio ambiente deverá ter conhecimento de: ৵ Conceitos, como sustentabilidade ambiental, capital natural, crescimento exponencial, capacidade de suporte e riscos e análise de riscos; ৵ História ambiental; ৵ Leis da termodinâmica e lei da conservação de material; ৵ Princípios básicos de ecologia; ৵ Dinâmica da população humana; ৵ Cidades e projetos sustentáveis; ৵ Maneiras de sustentar a biodiversidade; ৵ Agricultura e exploração florestal sustentável; ৵ Conservação do solo; ৵ Uso sustentável da água; ৵ Recursos minerais não renováveis; ৵ Recursos energéticos renováveis e não renováveis; ৵ Mudança climática e redução da camada de ozônio; ৵ Prevenção da poluição e redução dos desperdícios; ৵ Visões de mundo e éticas ambientais. Importante O processo de educação ambiental é fundamental para o desenvolvimento da cultura conservacionista e fortalecimento na tomada de decisão quanto à implementação do manejo sustentável dos recursos naturais, possibilitando aos grupos sociais o caminho para a tomada de decisão que direcionem para as soluções de problemas ambientais prioritários, procurando verificar, discutir e estimular as possibilidades de mudanças de hábitos, comportamentos, opiniões e práticas cotidianas. 16 Educação Ambiental - Unidade 01 4. Educação Ambiental e promoção da sustentabilidade Como vimos, a humanidade é confrontada com múltiplos problemas que, considerados de um ponto de vista global, anunciam um futuro pelo menos problemático. Desta reflexão, deriva a Educação Ambiental como uma estratégia global que compreende as seguintes dimensões: a descontextualização, a contextualização, a invenção de uma nova cultura ecológica, a intervenção ecossocial, o diálogo e a cooperação. Podemos considerar estas dimensões como elementos-chave para a promoção da sustentabilidade. Os agentes e atores da Educação Ambiental devem envolver-se numa ação individual, coletiva e socialmente responsável, baseando-se em ideias sobre valores democráticos, no respeito ao direito de todos os seres vivos, sobre o trabalho em comum, sobre o respeito da diversidade de pontos de vista e das experiênciasvividas. A Educação Ambiental conduz a ações sinérgicas, locais e, à maior parte das vezes, cooperativas. Nesta perspectiva, a distância entre conhecimento e ambiente de vida desaparecem numa visão interacional, assim a Educação Ambiental transforma-se em uma ecofilosofia. Em síntese, a Educação Ambiental visa a aquisição e o ensino de competências ecossociais e a interiorização da ecorresponsabilidade, permitindo a promoção da sustentabilidade e assegurando a reconstrução planetária que se impõe. 5. Principais conceitos do ambientalismo contemporâneo As abordagens no campo da Educação Ambiental, apesar da preocupação com o meio ambiente e do reconhecimento do papel central da educação para a sua melhoria, adotam diferentes discursos, propondo diversas maneiras de conceber e de práticas a ação educativa neste campo. É assim que identificaremos e abordaremos diferentes conceitos em Educação Ambiental, que na realidade, referem-se a formas de conceber e de praticá-la. 17 Educação Ambiental - Unidade 01 Cada corrente se distingue por características particulares, mas podem ser observadas zonas de convergência. Os conceitos referentes a estas correntes são apresentados no quadro a seguir, conforme a concepção dominante do meio ambiente, a intenção central da educação ambiental e os enfoques privilegiados. Esta sistematização é vista como uma proposta teórica, sendo vanta josa por constituir objeto de discussões e críticas. Correntes conceituais tradicionais ৵ Naturalista; ৵ Conservacionista/recursista; ৵ Resolutiva; ৵ Sistêmica; ৵ Científica; ৵ Humanista; ৵ Moral/ética. Correntes conceituais sistêmicas ৵ Holística; ৵ Biorregionalista; ৵ Práxica; ৵ Crítica; ৵ Feminista; ৵ Etnográfica; ৵ Da ecoeducação; ৵ Da sustentabilidade. 18 Educação Ambiental - Unidade 01 Correntes Conceituais Descrição Naturalista Centrada na relação com a natureza. O enfoque educativo pode ser cognitivo (aprender com coisas sobre a natureza), experi- mental (viver na natureza e aprender com ela), afetivo, espiri- tual ou artístico (associando a criatividade humana à natureza). Reconhece o valor intrínseco da natureza, acima e além dos re- cursos que ela proporciona e do saber que dela é possível obter. Conservacionista/ recursista Agrupa proposições centradas na “conservação” dos recursos, tanto no que concerne à sua qualidade quanto à sua quanti- dade: a água, o solo, a energia, as plantas e os animais, o pat- rimônio genético, o patrimônio construído. Quando se fala de “conservação da natureza”, como da biodiversidade, trata-se sobretudo de uma natureza-recurso. Resolutiva Surgiu em princípios da década de 1970, quando se revelaram a amplitude, a gravidade e a aceleração crescente dos problemas ambientais. Agrupa proposições em que o meio ambiente é considerado principalmente como um conjunto de problemas. Trata-se de informar ou de levar as pessoas a se informarem sobre problemáticas ambientais, assim como a desenvolverem habilidades voltadas para resolvê-las. Sistêmica Permite conhecer e compreender adequadamente as reali- dades e as problemáticas ambientais. Possibilita identificar os principais componentes de um sistema ambiental e salientar as relações entre os componentes, como as relações entre os elementos biofísicos e os sociais de uma situação ambiental. Autoriza a obtenção de uma visão de conjunto que corresponde à síntese da realidade apreendida. Científica Dá ênfase ao processo científico com o objetivo de abordar com rigor as realidades e problemáticas ambientais e com- preendê-las melhor, identificando mais especificamente as relações de causa e efeito. O processo está centrado na indução de hipóteses a partir de observações, e na verificação de hipóte- ses por meio de novas observações ou por experimentação. 19 Educação Ambiental - Unidade 01 Humanista Dá ênfase à dimensão humana do meio ambiente, construído no cruzamento da natureza e da cultura. O ambiente não é somente apreendido como um conjunto de elementos biofísicos, que basta ser abordado com objetividade e rigor para ser mais bem compreendido, para interagir melhor, mas corresponde a um meio de vida, com suas dimensões históricas, culturais, políticas, econômicas, estéticas etc. Moral/ética O atuar baseia-se em um conjunto de valores mais ou menos conscientes e coerentes entre eles. Diversas proposições de Educação Ambiental enfatizam o desenvolvimento dos valores ambientais. Holística Refere-se à totalidade de cada ser, de cada realidade, e à rede de relações que os une entre si em conjuntos onde adquirem senti- do. Biorregionalista Inspira-se na ética ecocêntrica e centra a Educação Ambiental no desenvolvimento de uma relação preferencial com o meio local e regional, no desenvolvimento de um sentimento de pertença e no compromisso em favor da valorização deste meio. Práxica Ênfase na aprendizagem na ação pela ação e para melhora des- ta, pondo-se imediatamente em situação de ação e de aprender pelo projeto, por e para este projeto. A aprendizagem convida a uma reflexão na ação, no projeto em curso. Crítica Consiste na análise das dinâmicas sociais que se encontram na base das realidades e problemáticas ambientais: análise de in- tenções, de posições, de argumentos, de valores explícitos e im- plícitos, de decisões e de ações dos diferentes protagonistas de uma situação. Feminista Em matéria de meio ambiente, uma ligação estreita ficou esta- belecida entre a dominação das mulheres e a da natureza. Etnográfica Dá ênfase ao caráter cultural da relação com o meio ambiente. A Educação Ambiental não deve impor um visão de mundo; é pre- ciso levar em conta a cultura de referência das populações ou das comunidades envolvidas. 20 Educação Ambiental - Unidade 01 Da ecoeducação Não se trata de resolver problemas, mas de aproveitar a relação com o meio ambiente para a promoção do desenvolvimento pes- soal e para fundamento de um atuar significativo e responsável. O meio ambiente é percebido aqui como uma esfera de inter- ação essencial para a ecoformação ou para a eco-ontogênese. Da sustentabilidade A Educação Ambiental está limitada a um enfoque naturalista e não integraria as preocupações sociais, em particular as consid- erações econômicas no tratamento de problemáticas ambien- tais. A educação para o desenvolvimento sustentável permitiria atenuar esta carência. (SATO; CARVALHO, 2005). 6. Política nacional de Educação Ambiental O Brasil é o único país da América Latina que tem uma política nacional específica para a Educação Ambiental. A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/1999) tem por finalidade articular ações educativas de proteção e recuperação dos recursos naturais e de contribuir com o processo de conscientização do cidadão no que diz respeito à melhor maneira de se relacionar com esses recursos. Esta política é, portanto, um componente permanente da educação nacional e deve estar presente de modo articulado, complementar e transversal em todos os níveis e modalidades de ensino, buscando desenvolver: processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (Lei 9.795/1999, artigo 1º). 21 Educação Ambiental - Unidade 01 Na web aula você encontrá a Lei 9.795 da Política Nacional de Educação Ambiental em pdf ou pode visualizar no site oficial do Governo Federal: http://www.planalto.gov.br . Dica Finalizamosaqui a Unidade 1 do estudo da Educação Am- biental. Lembre-se de acompanhar a web aula desta Uni- dade e os textos complementares. Conte ainda com o apoio do Ambiente Virtual de Aprendizagem para esclarecer suas dúvidas. Bons estudos! 22 Educação Ambiental - Unidade 01 Referências BECK, U. O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à globalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999. BRASIL. Presidência da República. LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm> Acesso em: 19 de abril de 2012. CASTRO, R. S. de; LOUREIRO, F. B.; LAYARAGUES, P. P. Educação ambiental: repensando o espaço de cidadania. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011. CARVALHO, I.C.M. As transformações na cultura e o debate ecológico: desafios políticos para a Educação Ambiental. In: NOAL, F.O.;REIGOTA,M.;BARCELOS, V.H.L. (Orgs). Tendências da educação ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 1998. MILLER JR, G. T. Ciência Ambiental. São Paulo: Cengage, 2011. SATO, Michèle; CARVALHO, Isabel. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005. 23 Educação Ambiental - Unidade 01 Créditos Núcleo de Educação a Distância O assunto estudado por você nessa disciplina foi planejado pelo professor conteudista, que é o responsável pela produção de conteúdo didático, e foi desenvolvido e implementado por uma equipe composta por profissionais de diversas áreas, com o objetivo de apoiar e facilitar o processo ensino- aprendizagem. Roteiro de Áudio e Vídeo José Glauber Peixoto Produção de Áudio e Vídeo José Moreira Sousa Identidade Visual / Arte Diego Silveira Maia C. da Silva Francisco Cristiano L. de Sousa Sérgio Oliveira Eugênio de Souza Viviane Cláudia Paiva Ramos Programação / Implementação Antônia Suyanne Lopes Alves Jairo Araújo dos Santos Coordenação do Núcleo de Educação a Distância Lana Paula Crivelaro Monteiro de Almeida Supervisão Administrativa Denise de Castro Gomes Produção de Conteúdo Didático João Batista Vianey Design Instrucional Andrea Chagas Alves de Almeida Projeto Instrucional Bárbara Mota Barros Régis da Silva Pereira Editoração Camila Duarte do Nascimento Moreira Revisão Gramatical Luís Carlos de Oliveira Sousa
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