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Direito Internacional Apostila

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D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 1 
 
Este material constituiEste material constituiEste material constituiEste material constitui----se em mero subsídio ao aluno, não se em mero subsídio ao aluno, não se em mero subsídio ao aluno, não se em mero subsídio ao aluno, não 
dispensando a leitura da bibliografia recomendada. Suas cópias dispensando a leitura da bibliografia recomendada. Suas cópias dispensando a leitura da bibliografia recomendada. Suas cópias dispensando a leitura da bibliografia recomendada. Suas cópias 
NÃONÃONÃONÃO poderão ser utilizadas em prova.poderão ser utilizadas em prova.poderão ser utilizadas em prova.poderão ser utilizadas em prova. 
 
# UNIDADE 1: 
 
 
CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO: 
 
���� Universal - Porque abrange todos os entes do globo. 
���� Paritário - Porque estes atuam em igualdade jurídica. 
���� Aberto - Pois todo ator, ao reunir determinados elementos se torna seu 
membro sem que seja necessário que os demais se manifestem. 
���� Autotutelado - Porque é um sistema anárquico (ausência de governo & 
hierarquia), composto por Estados Soberanos – não há uma 
superestrutura supragovernamental. Estes Estados Soberanos 
convencionam as normas que irão reger a sua interação, ponderam o 
cumprimento/descumprimento das mesmas e sancionam aquelas 
condutas transgressivas consideradas graves. 
 
A leitura de obras doutrinárias demonstra que há grande divergência 
acerca do designativo que podemos/devemos empregar – Sociedade 
Internacional, Sistema Internacional, Comunidade Internacional, entre outros. 
Optamos, neste Curso, em considerá-los sinônimos, para efeitos meramente 
operacionais. 
 
CARACTERÍSTICAS DO DIREITO INTERNACIONAL: 
 
O DIP pressupõe, intrinsecamente, a existência de bases sociológicas: 
A. Pluralidade de Estados soberanos - pois regula relações entre 
Estados e seus respectivos cidadãos; 
B. Princípios Jurídicos coincidentes - pois se não existissem valores 
comuns não Haveria D.I.; 
C. Comércio Internacional - pois uma relação de comércio provoca 
imediatamente o aparecimento de Normas para regulá-lo. 
 
O Direito Internacional - é um Direito Originário, não se fundamenta 
em outro ordenamento positivo, apenas no Direito Natural. 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 2 
 
 
 
PROTAGONISTAS DO SISTEMA INTERNACIONAL - Sujeitos de D.I.: 
 
Sujeito de D.I. é todo ente que possui direitos de deveres perante 
a Ordem Jurídica Internacional. Trata-se dos criadores e, 
simultaneamente, destinatários das Normas Jurídicas Internacionais, 
pessoas físicas ou jurídicas à quem a Ordem Internacional atribui Direitos e 
deveres (obs.: Estes variam através dos tempos). 
 
Classificação das Pessoas de D.I. cf. Charles Rousseau: 
a) Coletividades Estatais 
b) Coletividades Interestatais 
c) Coletividades Não-Estatais 
d) Indivíduo (Em situações especialíssimas) 
 
A - Coletividades Estatais: 
O Estado, como Instituição imaterial que é, define-se pelos seus 
elementos formais: 
I. População, 
II. Território, 
III. Soberania. 
 
I. População: Elemento humano formador do Estado, composto por 
nacionais e estrangeiros, capazes, relativamente incapazes e 
absolutamente incapazes. (Obs.: vide art. 5º, Caput, da CF e art. 12º 
da CF, respectivamente quanto à Personalidade e quanto à Capacidade 
de Nacionais e Estrangeiros, no caso brasileiro). Considera-se o 
aspecto quantitativo e qualitativo da população como irrelevantes, pelo 
menos teoricamente. 
II. Território: Elemento Fundamental do Estado - espaço onde este 
exerce sua soberania, dentro dos limites estabelecidos pelo D.I. Trata-
se de uma Noção Jurídica (não apenas geográfica): Domínio de 
validade da Ordem Jurídica de determinado Estado Soberano. 
III. Soberania: O conceito de soberania é eminentemente histórico - varia 
no tempo e no espaço. Atualmente, soberania é a subordinação direta 
e imediata do Estado à Ordem Jurídica Internacional, sem que exista 
entre ele e o D.I. qualquer outra coletividade de permeio. Significa 
dizer que soberania é a existência de um ordenamento legal a reger 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 3 
 
as relações interpessoais internas, soberania é a existência de um 
aparato judiciário a compor os conflitos decorrentes destas 
relações interpessoais mediante a aplicação das Leis. 
A soberania constitui meio de defesa dos Estados mais fracos, 
na medida em que fundamenta o princípio da não intervenção e da 
não-agressão. Por outro lado, justifica a autonomia governamental, 
assegurada pela Ordem Jurídica Internacional. 
 
 
B - Coletividades Interestatais: 
 
Por coletividades interestatais compreendem-se as Organizações 
Internacionais – Associações voluntárias de Estados, constituídas por 
Tratado Internacional, providas de Personalidade Jurídica Internacional 
distinta dos Estados-Membro, com finalidades, atribuições e poderes 
determinados pelo seu Tratado Constitutivo (fundacional). Não devem 
ser confundidas com as Organizações Não-Governamentais (ONG’s), pois 
estas se constituem em Sociedades Civis, muito embora possam atuar 
internacionalmente. 
 
 
C - Coletividades Não-Estatais: 
 
Por coletividades Não-Estatais compreendem-se aqueles entes 
internacionais que não seguem o modelo Estatalista de organização ou 
cuja Personalidade Jurídica encontra-se em um status peculiar. É o caso 
dos Insurgentes, movimentos independentistas, frentes de libertação 
nacional (como os Palestinos, os Curdos, os Chechenos), cujo 
reconhecimento como Estados constitui fato potencial e futuro. Há 
situações, igualmente, em que se incluem nesta categoria os Beligerantes – 
ocorrem guerras em que há a negação da Personalidade Jurídica de um 
Estado por outro Estado (No caso da invasão do Kuwait pelo Iraque, em 
1989/1990, por exemplo, o invasor alegava estar restaurando o Estado de 
Direito, já que o vizinho país nada mais seria do que uma antiga província 
sua). A Santa-Sé, Pessoa Jurídica do Vaticano, da Igreja Católica Apostólica 
Romana poderia, também, ser aqui incluída – conforme alguns como uma 
reminiscência histórica do período em que o Papa era o Juiz das causas 
entre os príncipes e reis por ele entronizados; conforme outros como 
decorrência da combinação entre a função humanizadora do cristianismo e o 
pragmatismo que viabiliza a arbitragem, pelo Papa, das questões entre 
Estados. 
(Há, ainda, quem pondere que o modelo Estatalista não é a única forma 
de gestão possível da Sociedade. Embora se deva ter um certo cuidado no 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 4 
 
emprego desta percepção, principalmente em meios jurídicos conservadores, 
há, no cenário Internacional Contemporâneo, aqueles que argumentam que os 
Povos da Floresta, muito embora não empreguem o modelo Estatalista, 
apresentam perfeitas condições de reprodutibilidade social). 
 
D - Indivíduos: 
 
O indivíduo está, em princípio, inserido no sistema internacional como 
destinatário final do mesmo. Ele é representado neste sistema pelo seu 
Estado de Nacionalidade (Nacionalidade = vínculo de natureza político-
jurídica que une o indivíduo a um Estado, ensejando uma reciprocidade 
de Direitos e Deveres, concretizando o Contrato Social concebido pelos 
pensadores políticos modernos, como Rousseau). Considera-se, neste 
sentido, o Estado como mero instrumento de concretização de suas 
finalidades precípuas, especialmente a garantia dos Direitos Fundamentais – 
estatuídos na Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU-1948), 
detalhados nos diversos Tratados que compõe a chamada “Carta dos Direitos 
Humanos” e internalizados no Capítulo “Direitos e GarantiasFundamentais” 
das Constituições. 
Entende-se, então, que, se o Estado romper, de forma unilateral e sem 
fundamento legal, o mencionado vínculo passa o indivíduo a ser provido 
temporária e excepcionalmente de Personalidade Jurídica Internacional, a 
fim de poder demandar em Tribunais Internacionais a garantia dos seus 
Direitos Fundamentais. Imprescindível para isto é a cabal comprovação do 
esgotamento de todas as instâncias jurisdicionais internas do Estado sem 
obter qualquer reação judicante destas a uma violação grave cometida 
contra os seus Direitos Fundamentais.... 
 
 
 
FONTES DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: 
 
 
 
FONTES constituem os modos pelos quais o Direito se manifesta, as 
maneiras pelas quais surge a Norma Jurídica. "São fontes de Direito 
aqueles atos ou aqueles fatos aos quais determinado Ordenamento 
Jurídico atribui a idoneidade ou a capacidade de produzir Norma 
Jurídica" (Norberto Bobbio). 
 
Manifesta-se, neste sentido, o art. 38 do Estatuto da Corte 
Internacional de Justiça (anexo à Carta da ONU): 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 5 
 
 
“Art. 38: 
1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional 
as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:] 
a) As convenções internacionais, quer gerais, quer 
especiais, que estabeleçam regras expressamente 
reconhecidas pelos Estados litigantes; 
b) O costume internacional, como prova de uma prática 
geral aceita como sendo o direito; 
c) Os princípios gerais de direito reconhecidos pelas 
nações civilizadas; 
d) Sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões 
judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados 
das diferentes nações, como meio auxiliar para a 
determinação das regras de direito. 
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de 
decidir uma questão ex aerque et bono, se as partes com isto 
concordarem.” 
 
 
SÃO NORMAS IMPERATIVAS / PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS: 
 
Estas Normas Imperativas resultam do consenso dos Estados acerca de 
seu teor e obrigatoriedade, somente sendo passíveis de alteração, substituição 
ou revogação por idêntico consenso. Convém atentar para o fato que são 
produto histórico e, assim, passíveis de sofrerem acréscimos (p/ex.: o 
professor tem a convicção de que é mera questão de tempo o acréscimo de um 
sexto princípio, abordando a preservação ambiental... 
 
���� O princípio Pacta sunt servanda, (salvo nas situações em que se 
considere admissível a incidência da cláusula Rebus sic 
stantibus); 
���� A Igualdade jurídica dos Estados; 
���� O princípio da Autodeterminação dos Povos; 
���� A proibição do uso espúrio da força (Por definição da Carta da 
ONU, somente é legítimo o uso da força nos casos de Legítima 
Defesa ou quando este é deliberado pelo Conselho de Segurança 
desta Organização, consoante o art. 42 da Carta ); 
���� Os Direitos Fundamentais do homem. 
 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 6 
 
 
Características das Normas Internacionais dispositivas: 
 
1. São pouco numerosas; 
2. São extremamente abstratas; 
3. São atributivas (definem competências sem indicar a 
materialidade da ação a executar); 
4. São de lenta elaboração; 
5. Não possuem hierarquia clara; 
6. São relativas (cada Estado pode interpretá-las); 
7. São de modificação mais lenta e complexa do que no D. Interno; 
8. A obrigatoriedade da Norma em geral só se estabelece com o 
tempo; 
9. A sanção não é um elemento inerente à Norma, é elemento de 
execução. 
 
Uma das questões que costumam causar grande perplexidade é a 
violação das Normas Internacionais, em função dos interesses nacionais dos 
Estados. Se desejarmos transcender, neste sentido, a mera indagação 
filosófico-sociológica acerca das condutas transgressivas, devemos considerar 
que a conduta Estatal apresenta (ou deveria apresentar) uma racionalidade – 
é produto de um cálculo pragmático – em seu processo de tomada de decisões. 
Assim: 
 
As Violações das Normas Internacionais levam em consideração: 
� Cálculo de custos/benefícios (balance of Power) – Violar-se-á a 
norma sempre que os benefícios disto serão maiores que os 
benefícios do seu cumprimento e vice-versa; 
� Interesse na obtenção/ manutenção da confiança recíproca; 
� Interesse na Ordem nas Relações Internacionais 
� Medo de represálias 
� Medo de sanções de ordem moral 
� Legalidade ou justeza da violação de Normas ultrapassadas 
 
Em suma: As Normas Internacionais são cumpridas porque são desejadas 
pelos Estados. O D.I. é essencial para a diplomacia porque prevê mecanismos, 
formas e procedimentos pelos quais as Nações mantém suas relações. O D.I. é 
uma forma de comunicação entre Governos - a linguagem jurídica é técnica, 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 7 
 
sem conotações emocionais, retirando a passionalidade das relações 
interestatais. 
 
 
 
FUNDAMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL: 
 
A análise dos fundamentos do D.I. busca explicar a obrigatoriedade do 
mesmo, bem como os limites de sua aplicação. Existem inúmeras teorias que 
procuram fundamentar o D.I., embora estas apresentem convergência nas 
correntes principais: 
 
Doutrinas voluntaristas – propõe que a obrigatoriedade do D.I. decorreria 
da vontade dos próprios Estados; baseiam-se ora na idéia da vontade 
coletiva dos Estados – a Norma Internacional é produto da vontade coletiva 
dos Estados; ora no consentimento mútuo destes – há Norma Internacional 
porque os Estados consentem na sua existência (muito embora a soberania, 
a priori, poderia liberá-los de tal consentimento...). 
 
Doutrinas normativistas – Partindo do reconhecimento da existência e 
possibilidade de aferição do conteúdo de Normas de Direito Internacional 
cogente, reconhecidas expressamente pela Convenção sobre o Direito dos 
Tratados, limita-se a escolha dos Estados e a esfera de atuação voluntarista 
destes: além e acima da vontade dos Estados existem normas cogentes, não 
passíveis de derrogação por ação positivista unilateral do Estado. O jus 
cogens tem caráter universal e se aplica indistintamente a todos os 
integrantes da sociedade internacional, constitui a base de Ordem Pública 
Internacional, na qual a defesa do interesse geral pode mesmo se sobrepor 
ao interesse nacional específico. 
 
Doutrinas sociológicas – Coadunam-se com os aforismos latinos “Ubi 
societas, ibi jus” (onde há sociedade, há Normas) e/ou “Ubi commercium, ibi 
jus” (onde há comércio, há Normas). Conforme estas concepções o Direito é 
produto histórico da própria convivência social, tal fato é corroborado, 
inclusive, por estudos teóricos que demonstram que da anarquia (ausência 
de ordem ou governo) podem se originar Normas (Stephen Krassner, em 
International Regimes, analisa tal fenômeno; aplica, inclusive, tal paradigma 
ao surgimento da Convenção Internacional para o Direito do Mar; Maria 
Regina Soares de Lima (IUPERJ), em sua tese de doutorado, na Universidade 
de Vanderbilt, aplica tal paradigma às regulações de atividades nucleares e 
controle de material físsil, surgidas após o advento da bomba atômica.). 
 
Doutrinas Jusnaturalistas – porpõe que a obrigatoriedade do D.I. é baseada 
em razões objetivas, além e acima da vontade dos Estados. Para Hugo 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 8 
 
Grotius, por exemplo, o Direito Natural não é baseado na vontade divina, 
pois tem valor próprio; segundo ele: “consiste em certos princípios de razão 
sã, que nos fazem conhecer quando uma ação é moralmente honesta ou 
desonesta, segundo a sua conformidade ou desconformidade com uma 
natureza razoável e sociável.” Dito por outras palavras, a Ordem 
Internacionalnão seria decorrente de revelação ou manifestações 
transcendentais, mas fruto da própria razão. 
 
A adoção de uma ou de outra corrente, de qualquer forma, apresentará a 
consequência de alterar substancialmente os critérios norteadores da ação 
dos Estados em sua relação com os demais. 
 
 
RELAÇÕES ENTRE O DIREITO INTERNACIONAL E O DIREITO INTERNO: 
 
A relação entre o Direito Internacional e o Direito Interno é um dos 
problemas mais delicados e controvertidos, pois o fundamento atribuído ao 
D.I. influi decisivamente na posição adotada pelos Estados. Tal questão não 
é meramente teórica ou acadêmica, na medida em que a dificuldade de um 
juiz, diante de um caso concreto, consiste em optar por uma das duas 
Ordens Jurídicas, em caso de conflito entre o Direito Interno e o Direito 
Internacional, ou melhor dito: entre uma Lei interna e um Tratado ratificado. 
Verifica-se, assim, que o enfoque eventualmente dado por um juiz nacional 
poderá não ser o mesmo de um juiz de tribunal internacional. 
 
A questão de fundo é: Direito Internacional e Direito Interno são dois 
Ordenamentos independentes, ou são apenas ramos distintos de um 
mesmo Sistema Jurídico? 
 
A Doutrina Dualista pressupõe que o Direito Internacional e o Direito 
Interno são dois sistemas distintos, independentes e separados que não se 
confundem. O Direito Internacional trata de relações entre Estados e o 
Direito Interno visa a regulamentação das relações entre pessoas naturais ou 
jurídicas. Enquanto o D.I. depende da vontade comum de vários Estados, os 
Direitos Internos dependem da vontade unilateral do Estado. Conseqüência: 
O D.I. NÃO cria obrigações para o indivíduo, a não ser que suas Normas 
sejam transformadas em (recepcionadas/incorporadas pelo) Direito Interno. 
 
A Doutrina Monista parte da premissa que, em princípio, o Direito é um só, 
quer se apresente nas relações internas de um Estado, quer nas relações 
internacionais. Para alguns Monistas há um primado do Direito 
Internacional já que “É princípio geralmente reconhecido, do Direito 
Internacional, que, nas relações entre potências contratantes de um Tratado, 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 9 
 
as disposições de uma Lei interna não podem prevalecer sobre as do Tratado” 
(Parecer da CPIJ, em 1930). 
 
Para outros Monistas há um primado do Direito Interno já que “Embora 
sem emprego de linguagem direta, a Constituição brasileira deixa claro que os 
Tratados se encontram aqui sujeitos ao controle de constitutcionalidade, a 
exemplo dos demais componentes infraconstitucionais do Ordenamento 
Jurídico” (Francisco Rezek). 
 
A incorporação dos Tratados ao sistema interno brasileiro, equiparando-os à 
Lei interna, transforma-os em uma Lei nacional e, por conseguinte, extingue 
o conflito próprio da teoria monista, pois a regra vigente de revogação de lei 
anterior pela lei posterior é princípio consolidado no nosso sistema jurídico e 
aplicável ao ordenamento como um todo. Com isso fica claro o entendimento 
brasileiro que os dois sistemas – o interno e o internacional – são separados, 
pois ocorre, muitas vezes, de o Brasil continuar obrigado internacionalmente 
por dispositivo de tratado (uma vez que os demais contratantes não foram 
notificados da modificação, enquanto a legislação interna já o modificou). É 
bem verdade que desse sistema decorre certa insegurança no plano 
internacional e mesmo o descumprimento de obrigações assumidas, pois a 
maneira correta de deixar de aplicar o Tratado seria através de sua 
denúncia, no plano internacional, seguido do competente decreto, para 
ciência dos interessados no plano interno. 
 
 
Soluções teóricas para os conflitos de Leis no Direito Internacional 
Privado: 
 
Direito Uniforme: é constituído por regras idênticas e designativas do 
direito aplicável em mais de um Estado. O Direito Internacional Uniforme 
tem como instrumento jurídico o Tratado Internacional. 
Os tratados podem ser multilaterais (Convenções) ou bilaterais, estes 
últimos são minoritários. Na prática proliferam as Convenções 
Internacionais. 
As convenções internacionais podem ser abertas ou fechadas, conforme 
possam ou não a ela aderir Estados terceiros não participantes das 
conferências especializadas que as elaboram. 
As Convenções abertas (lois uniformes), com efeito erga omnes, substituem 
as normas de Direito Internacional de origem interna e são aplicáveis frente 
a todos os Estados, inclusive os não vinculados à Convenção, ou seja, 
aqueles não signatários. 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 10 
 
Ainda nos parece distante a uniformidade do D.I., pois as diferenças raciais, 
culturais e religiosas impedem a criação de regras comuns aos Estados que 
compõe a comunidade internacional, exceto no que concerne às normas de 
comercio e finanças. 
 
 
Direito Uniformizado: atividades de caráter internacional, objeto de 
Convenções internacionais que uniformizam as normas jurídicas 
disciplinadoras da matéria indicando a aplicação da Lei de um determinado 
Estado – especifica qual a legislação Nacional aplicável à situação e/ou 
determina a competência judicante para conhecer da lide eventualmente 
decorrente de tal atividade internacional. (Por exemplo: no caso recente e 
rumoroso do “Menino Sean”, o STF aplicou a Convenção de Genebra, 
segundo a qual: “sempre que, na dissolução da Sociedade Conjugal, um dos 
cônjuges conduzir indevidamente o menor ao exterior, sem que haja sido 
decidida a guarda do menor, será competente para conhecer desta causa o 
judiciário do local de nascimento da criança” – Observe bem: A Convenção de 
Genebra NÂO especifica, de fora para dentro do(s) Estado(s), se o menino 
ficará com o pai ou com os avós, determina que o Juiz Norte-Americano 
devera decidir a este respeito.) 
Talvez, com maior propriedade, poderíamos designar esta espécie como: 
Direito Internacional Privado Harmonizado: Para evitar conflitos entre as 
regras de D.I. de dois ou mais sistemas criam-se Convenções Internacionais 
que estabelecem regras de conexão aceitas pelos países signatários e, como 
tal, harmonizadas. 
 
Direito Comparado: é a ciência ou o método que estuda por meio de 
contraste, dois ou mais Sistemas Jurídicos, sob o ponto de vista de suas 
similitudes e/ou discrepâncias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 11 
 
# UNIDADE 2: 
 
O ESTADO E A NACIONALIDADE: 
 
Em sua dimensão horizontal: Constitui a Nacionalidade a série de 
liames sócio-culturais que identificam determinado indivíduo com uma 
coletividade. 
 
Em sua dimensão vertical: Constitui a Nacionalidade o vínculo 
político-jurídico que une determinado indivíduo a um Estado, ensejando 
Direitos e Deveres recíprocos. A Nacionalidade acompanhará o indivíduo 
onde quer que este vá, indicando a Lei reguladora das Relações Jurídicas 
nas quais o mesmo seja parte, desde que não se encontrem sob a jurisdição 
do local onde sua apreciação seja provocada. O vínculo se constitui a partir 
do nascimento e prolongar-se-á por toda a vida, a não ser que o indivíduo, 
por manifestação de vontade aceita por outro Estado, a ele renuncie. 
 
 
 
CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA: 
 
A Nacionalidade originária é aquela que se adquire quando do 
nascimento, podendo ser atribuída pelos seguintes critérios: 
 
•••• JUS SANGUINIS: Atribuir-se-á ao recém-nascido a 
nacionalidade dos pais, predominando, em caso de dúvida 
a nacionalidade do pai, e, desconhecido este, a 
nacionalidade da mãe. Este critério independe totalmente 
do local do nascimento. 
 
•••• JUS SOLIS: Por este critério, atribui-se ao recém-nascido 
a nacionalidade do localonde se deu o parto, 
independentemente de qualquer consideração a respeito 
da nacionalidade dos progenitores. 
 
•••• CRITÉRIO MISTO: Trata-se de uma justaposição do Jus 
Sanguinis e do Jus Solis, mediante a qual a nacionalidade 
é atribuida seja pela nacionalidade dos pais, seja pelo local 
do nascimento. É o sistema adotado pela C.F. Brasileira, 
de 1988, em seu art. 12, I, a e c. 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 12 
 
 
 
NACIONALIDADE DERIVADA – NATURALIZAÇÃO: 
 
Conceito: Nacionalidade Derivada é a resultante da constituição de 
novo vínculo político-jurídico entre o indivíduo e um Estado diverso daquele 
ao qual pertenciam seus antepassados e/ou daquele em cujo território o 
indivíduo nasceu, convergindo neste ato a manifestação de vontade o 
indivíduo e a aceitação discricionária do Estado requerido. 
 
A manifestação expressa da vontade é essencial para qualquer troca 
de nacionalidade. 
 
A naturalização, entretanto somente se aperfeiçoa quando admitida 
pelo Estado requerido – Porque é ato unilateral e discricionário do Estado no 
exercício da sua soberania conceder ou negar a Nacionalidade ao estrangeiro 
que a requeira. O Estado NÃO está obrigado a concedê-la, mesmo que o 
requerente preencha os requisitos da Lei. 
 
No Brasil: É regulada pelas Leis Nº 6.815, de 19/8/80 e pelo Decreto 
nº 86.715, de 10/12/81. 
 
 A Emenda Constitucional de Revisão Nº 3, de 1994, retira a 
discricionariedade do Estado nos casos em que é demandada por cidadão 
residente por 15 anos ininterruptos, sem condenação penal, que a requeira, 
além de equiparar o brasileiro naturalizado ao brasileiro nato, a não ser nos 
termos e fins do Art. 12, § 3º, da CFRB. 
 
Procedimentos para requerer Naturalização no Brasil: 
 
O Requerimento solicitando a naturalização deverá ser encaminhado 
ao Ministério da Justiça, dando ingresso em alguma das diversas Delegacias 
da Polícia Federal, devidamente instruído pela documentação a seguir 
especificada: 
 
1. Carteira de identidade para estrangeiro, 
2. Atestado policial de residência continua no Brasil (pelo 
menos por mais de 5 anos), 
3. Atestado policial de bons antecedentes, 
4. Atestado de folha corrida 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 13 
 
5. Carteira profissional, diploma, atestado de associação, 
sindicatos ou empresas empregadoras 
6. Atestado de sanidade física 
7. Titulo de propriedade. 
 
Atenção: Só pagará o naturalizando, a audiência do expediente das 
publicações. 
 
Modelo de Pedido de Naturalização: 
Ex.mo, Sr. Ministro da Justiça: 
 
Thor Öhnsten, natural de Upsala – Suécia, onde nasceu a 5 de 
agosto de 1954, filho de Ingwer Öhnsten e de Irmgaard Öhnsten, de 
nacionalidade sueca, casado, comerciário, residente à Rua Jacá n.º 
2110, Quitungo, nesta cidade do Rio de Janeiro, pretendendo adquirir a 
nacionalidade brasileira e renunciar à nacionalidade atual, vem declarar 
a Vossa Excelência: 
 
1 – que tem capacidade civil, segundo a Lei brasileira; 
2 – que tem residência continua no Brasil há mais de 15 (quinze) 
anos, tendo residido, só e unicamente, nesta cidade desde que chegou 
ao Brasil; (se já esteve noutras cidades é bom dizer e discriminar os seus 
endereços ); 
3 – que sabe ler e escrever a língua portuguesa, fazendo uso 
adequado do idioma pátrio; 
4 – que está no exercício da profissão de Engenheiro da qual 
aufere renda suficiente para manter-se a si e à família; 
5 – que tem bom procedimento; e 
6 – que não está processado ou pronunciado e que jamais foi 
condenado por crime cuja pena seja superior a um ano. 
 
Nestas condições, requer a V. Ex.a, observadas as formalidades 
legais, lhe seja concedida a naturalização prevista na Lei Nº 6.815, de 
19/8/80 c/c o Decreto Nº 86.715, de 10/12/81. 
Nestes termos P. Deferimento 
 
 Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 2017 
Thor Öhnsten 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 14 
 
O procedimento de Naturalização se constitui, no Brasil, de um 
processo de natureza mista com: 
 
•••• Uma primeira etapa intrinsecamente administrativa: o 
estrangeiro ingressa com o pedido junto à DPF, esta realiza as 
sindicâncias cabíveis acabando por remeter o feito ao Ministro da 
Justiça. Mesmo atendidos todos os requisitos para a Naturalização 
poderá não ser concedida (cabendo embargos de declaração e, não 
se constituindo em Coisa Julgada – por sua natureza 
administrativa). Quando concedida, culmina com a publicação no 
DOU da Portaria de Naturalização e emissão do Certificado. 
 
•••• Uma segunda etapa de natureza judicial: O decurso de todo o 
procedimento administrativo, mencionado na etapa 1, não tem o 
efeito de aperfeiçoar a naturalização, embora publicada a portaria e 
emitido o certificado, este aperfeiçoamento somente se dá em 
Audiência, perante Juiz Federal (a ser marcada no prazo de 12 
meses, sob pena de preclusão). Trata-se de audiência corriqueira, 
de Jurisdição Voluntária, em que será tomada a termo a 
manifestação do Naturalizando e realizada a entrega do Certificado 
emitido pelo Ministério da Justiça. 
 
Em resumo, podemos constatar que o procedimento de naturalização, no 
Brasil, tem três pontos nevrálgicos, a saber: 
 
•••• Tempo de Permanência: definido no Art. 12, II, da CFRB 
– 15 anos para estrangeiros em geral, 1 ano para 
estrangeiro proveniente de País da CPLP (Comunidade dos 
Povos de Língua Portuguesa). Importante notar que não se 
computam, para estes fins, períodos de permanência 
irregular no país. 
 
•••• Conduta Ilibada: o estrangeiro não poderá ter sido 
condenado, pronunciado ou denunciado (recebimento da 
denúncia pelo Juiz) por crime doloso (teoricamente: 
aqueles a que se imputa pena superior a 1 ano, 
praticamente: o melhor é que tenha uma FAC (folha de 
antecedentes criminais in albis.) Veja que, no que se refere 
à ausência de condenação pretérita no exterior, prevalece 
a declaração de inocência do naturalizando; contudo, se 
verificada a inverdade desta declaração não só a 
naturalização será nula de pleno Direito, quanto 
responderá penalmente o naturalizando por Falsidade. 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 15 
 
•••• Condição financeira e saúde: Não só no Brasil como na 
grande parte dos países, hoje, a condição financeira e 
sanitária do estrangeiro são nucleares para efeitos da 
concessão de permanência e/ou nacionalidade. Trata-se 
de constatação pragmática, embora polêmica no plano das 
considerações éticas, sendo recomendável a ênfase nos 
apensos comprobatórios do pedido de naturalização no 
que se refere a certidões imobiliárias, contratos de 
trabalho, ações, fundos de investimento, além da 
certificação da condição sanitária do naturalizando. 
 
 
EXTERIORIZAÇÃO DA NACIONALIDADE: 
 
Fora do território do Estado este vínculo da Nacionalidade se 
exterioriza no Passaporte, que comporta as modalidades: 
 
•••• Passaporte Comum - indicador da existência de um 
vínculo de natureza corriqueira entre o seu detentor e o 
Estado Emissor, não só estabelece a Titularidade do 
Estado nos deveres de proteção do portador, em seus 
deslocamentos internacionais como, também, é indicador 
de legislação aplicável ou de jurisdição competente nas 
conexões convencionadas por Lex Patriae; 
 
•••• Passaporte Diplomático – indicador não só dos vínculos 
decorrentes da nacionalidade mas, também, das 
prerrogativas e imunidades previstas na Convenção de 
Viena para Relações Diplomáticas e Consulares – 
exterioriza o vínculo especialíssimo com o Estado: o de 
representa-lo diplomaticamente; 
 
•••• Passaporte Especial – Exterioriza a existência de um 
vínculo especialíssimoentre o portador e o Estado 
Emissor: o seu portador exerce importante cargo ou 
função governamental no país emissor ou, 
alternativamente, encontra-se a serviço do seu país no 
exterior. 
 
•••• Passaportes Sui Generis – Atualmente são admitidos o 
passaporte de Refugiado, com capa de cor amarela, 
fundado em convenções internacionais humanitárias, o 
Laissez Passer, destinado a cidadão originário de Estado 
Não-reconhecido como tal (ex.: Palestinos, Curdos, 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 16 
 
Chechenos, etc.) e o passaporte de Apátrida, 
fundamentado na Convenção Internacional para a 
Proscrição da Apatridia, de capa marron. 
 
O passaporte tem como contrapartida o VISTO DE ENTRADA, 
exigência estabelecida no plano do poder discricionário do Estado, que 
condiciona o ingresso em território de determinada Nação, por indivíduo de 
Nacionalidade diversa daquela, a uma autorização prévia. Observe que a 
Nacionalidade estabelece a prerrogativa da livre circulação do indivíduo pelo 
território do Estado de sua Nacionalidade (garantida pelo Habeas Corpus), o 
nacional somente em situações muito excepcionais é privado do Direito de 
permanecer em seu país de nacionalidade (normalmente esta supressão só 
ocorre quando se quebra o Estado de Direito e se instalam no país regimes 
ditatoriais.) Esta livre-circulação, entretanto, pode sofrer restrições ao 
pretender o indivíduo ingressar em um terceiro Estado: Este tem o Poder 
Discricionário de controlar o ingresso, a permanência e, até mesmo, 
determinar compulsoriamente a retirada deste indivíduo do seu espaço 
territorial. Esta autorização de ingresso é formal e é emitida pelas 
representações consulares do Estado a ser visitado. A questão dos vistos 
será abordada a seguir, em condição jurídica do estrangeiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 17 
 
O ESTADO E A CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO: 
 
O tratamento dado ao Estrangeiro determina o grau de civilização e 
humanismo de um povo. 
 
A Condição Jurídica conferida ao Estrangeiro afeta diretamente: 
 
1. Sua entrada em Território de outra Nação; 
2. Os Direitos que, como admitido, invocará; 
3. Sua retirada compulsória daquele Território. 
 
Esta Condição Jurídica, que atinge primordialmente aos estrangeiros 
permanentes no país e a própria obtenção da permanência, possui como 
determinantes a Questão Migratória Internacional e a Política Imigratória de 
cada Estado: É necessário conciliar os interesses dos Estados e os da 
Comunidade Internacional. 
 
 
ANÁLISE COMPARATIVA DAS POLÍTICAS IMIGRATÓRIAS 
DOS E.U.A. E DO BRASIL: 
 
O caso Norte-Americano: 
 
Até 1882: Total ausência de restrições à imigração e programas de 
estímulo e atração de imigrantes. 
 
A partir de 1882: Estabelecido Programa de Controle da Imigração: O 
Congresso tem poder de regulamentar, podendo mesmo discriminar classes 
ou raças. 
 
A partir de 1924: É instituído o Sistema de Cotas, permitindo o 
ingresso de grupos discriminados por nacionalidade, à razão de 2% anuais 
relativos ao número de estrangeiros de mesma nacionalidade presentes nos 
E.U.A. no ano de 1890. 
 
A partir de 1965: Fixado o teto máximo de ingresso de 290.000 
imigrantes por ano, havendo um limite máximo de 20.000 por nacionalidade. 
Este patamar máximo de 20.000 é, por sua vez, subdividido em 8 categorias 
referenciadas em ocupação, formação, origem social, etc. 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 18 
 
 
O caso Brasileiro: 
 
Até 1808: O ingresso de estrangeiros estava diretamente condicionado 
aos interesses político-estratégicos da metrópole colonial. 
 
A partir de 1808: A Carta-Régia de Abertura dos Portos, de D. João 
VI, teve o efeito de estimular a imigração para o Brasil, garantido ao 
estrangeiro a liberdade de ENTRAR e SAIR com seus bens. 
 
No século XX: Esta Liberdade diminui por influência do sistema de 
restrições adotado pelos E.U.A. 
 
A C.F. de 1934: Institui o Sistema de Cotas, limitando o ingresso de 
estrangeiros em 2% do total de indivíduos daquela nacionalidade fixados no 
Brasil nos 50 anos anteriores. 
 
A C.F. de 1937: Manteve o Sistema de Cotas. 
 
A C.F. de 1945: Aboliu o Sistema de Cotas e remeteu a Política 
Imigratória à Coordenação Federal. 
 
A C.F. de 1967: Passa a regulamentar a matéria através do Estatuto 
do Estrangeiro - decreto-lei nº 941, de 13/10/69 (Posteriormente substituído 
pela Lei Nº 6.815, de 19/8/80, regulamentada pelo Decreto Nº 86.715, de 
10/12/81. 
 
A C.F. de 1988: Reafirma a competência da União a este respeito, 
recepciona a Leis 6.815/81 e o Decreto 86.715/81. Sob a filosofia do 
atendimento à Segurança Nacional, da Organização Institucional, aos 
interesses políticos, sociais, econômicos e culturais, bem como da defesa do 
Trabalhador Nacional, recepciona e fortalece o: 
 
 
CONSELHO NACIONAL DE IMIGRAÇÃO: 
 
O Conselho Nacional de Imigração - CONIM, é um órgão colegiado, 
criado pela Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, vinculado ao Ministério do 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 19 
 
Trabalho, com organização e funcionamento definidos pelos Decretos n° 840, 
de 22 de junho de 1993, e nº 3.574, de 23 de agosto de 2000, e tem por 
finalidade: 
I. Formular a política de imigração; 
II. Coordenar e orientar as atividades de imigração; 
III. Efetuar o levantamento periódico das necessidades de mão-
de-obra estrangeira qualificada, para admissão em caráter 
permanente ou temporário; 
IV. Definir as regiões de que trata o art. 18 da Lei n° 6.815, de 19 
de agosto de 1980, e elaborar os respectivos planos de 
imigração; 
V. Promover ou fornecer estudos de problemas relativos à 
imigração; 
VI. Estabelecer normas de seleção de imigrantes, visando 
proporcionar mão-de-obra especializada aos vários setores da 
economia nacional e captar recursos para setores específicos; 
VII. Dirimir as dúvidas e solucionar os casos omissos, no que diz 
respeito a imigrantes; 
VIII. Opinar sobre alteração da legislação relativa à imigração, 
quando proposta por qualquer órgão do Poder Executivo; 
IX. Elaborar seu regimento interno, que deverá ser submetido à 
aprovação do Ministro de Estado do Trabalho. 
 
ENTRADA OU PERMANÊNCIA DO ESTRANGEIRO: 
 
Sistemas de Vistos: Podemos observar que, em seu poder 
discricionário, os Estados estabelecem os seguintes sistemas de vistos: 
 
•••• Dispensa desta formalidade, em geral, por reciprocidade; 
•••• Condicionamento da emissão do Visto de Entrada ao 
pagamento de uma Taxa; 
•••• Condicionamento da emissão do Visto de Entrada à 
especificação, pelo estrangeiro, dos objetivos de seu 
ingresso no país pretendido; 
•••• Formalmente dispensam o Visto de Entrada, embora, de 
Fato condicionem o ingresso do estrangeiro à verificação 
de suficiência de meios para a sua permanência em 
território do país (caso em evidência, sob a égide do 
Protocolo de Schengen, da União Européia, na recente 
crise entre Brasil e Espanha). 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 20 
 
 
A exigência de Visto de Entrada, em geral, é estabelecida em um plano 
de reciprocidade, como já dito. Nos casos, contudo, em que se adota o 
sistema de concessão de visto mediante a especificação dos objetivos da 
viagem (como é o caso da Lei 6.815/80, a Lei do Estrangeiro), teremos, 
também, uma variação nas modalidades dos vistos, conforme o propósito do 
viajante, nas seguintes espécies: 
 
•••• Visto de Turista – arts. 9 – 12, Lei nº 6815/80; 
•••• Visto Temporário – arts. 13 – 15, Lei nº6815/80; 
•••• Visto Permanente – arts. 16 – 18, Lei nº 6815/80; 
•••• Visto de Cortesia – art. 19, Lei nº 6815/80; 
•••• Visto Oficial – art. 19, Lei nº 6815/80; 
•••• Visto Diplomático – art. 19, Lei nº 6815/80; 
•••• Visto de Trânsito – art. 8, Lei nº 6815/80. 
 
É de se observar, todavia, que o Visto constitui mera expectativa de 
Direito, nunca um Direito Adquirido, ex-vi o disposto pelo Art. 26 da Lei 
6.815/80. 
 
 
RETIRADA COMPULSÓRIA DO ESTRANGEIRO: 
 
Deportação: 
 
Consiste no processo de devolução do estrangeiro que se encontra 
irregularmente no país (desprovido de visto, visto vencido, visto incompatível 
com sua atividade no país), para o país de sua nacionalidade ou de sua 
procedência. 
 
Enquanto a expulsão atinge ao estrangeiro legalmente residente, a 
deportação atinge ao estrangeiro que não chegou a obter residência legal no 
país. 
 
O procedimento de Deportação é singelo: o estrangeiro é intimado a se 
retirar voluntariamente do país em um prazo pré-fixado na intimação (No 
Brasil a intimação é feita pela Polícia Federal, sendo, em geral, concedido um 
prazo de 72 horas para que o estrangeiro pague a multa e se retire 
voluntariamente do país. Poderá ser dispensado da multa, inclusive, se 
somente dispuser de numerário suficiente para a aquisição da passagem.). 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 21 
 
Se não o fizer voluntariamente será detido a fim de que o Estado possa 
expeli-lo. 
 
O deportado poderá retornar ao país de onde foi retirado, desde que 
atenda às exigências da Lei. 
 
 
 
Repatriamento: 
 
Consiste no processo de devolução do estrangeiro cuja presença no 
país constitui-se em grave ameaça à saúde pública por ser o mesmo 
portador de moléstia infecto-contagiosa grave. 
 
O repatriamento é hoje objeto de controvérsias, alinhavando, por um 
lado considerações acerca do dever de proteção que o Estado tem para com o 
ser humano – Princípio da Dignidade da Pessoa Humana - e, por outro lado 
as considerações de caráter orçamentário – Estado Mínimo, “Enxugamento” 
de gastos públicos, etc. Em alguns países do assim chamado “primeiro 
mundo” percebe-se que tem ocorrido o repatriamento de indivíduos 
soropositivos e desprovidos de recursos para arcar com um tratamento 
estabilizador que é altamente dispendioso (Veja que o custo mensal, no 
Brasil, de cada Tutela Antecipada demandando o fornecimento estatal dos 
fármacos componentes do “Coquetel de Anti-Retro-Virais” oscila entre R$ 
2.000,00 e R$ 3.000,00 mensais, segundo informações do próprio Ministério 
da Saúde). 
 
O repatriado poderá retornar ao país de onde foi retirado, desde que 
esteja curado, por mais sarcástico que isto possa soar. 
 
Extradição: 
 
É o processo pelo qual um Estado atende ao pedido de Outro estado, 
remetendo-lhe pessoa processada no país solicitante por crime punido na 
legislação de ambos os países. 
 
Salvo casos excepcionais, em geral, não se extradita o próprio 
nacional. 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 22 
 
Extradição Passiva – Solicitada ao Brasil: 
 
1. Pedido é encaminhado por via diplomática; 
2. M.R.E. recebe e envia ao Min. Justiça; 
3. Min. Justiça encaminha ao S.T.F.; 
4. S.T.F. pronuncia-se sobre a legalidade do pedido, SEM 
APRECIAR O MÉRITO DA AÇÃO PENAL. 
 
Questão que tem sido intensamente indagada em sala de aula é: Qual o 
fundamento legal da recente decisão do STF, remetendo à Presidência da 
República a decisão final acerca da extradição de Cesare Battisti? Parece-nos 
que se trata, aqui, de decisão predominantemente política, consoante o juízo 
de oportunidade, tendente a evitar a abertura de nova frente de crise 
institucional, colocando o Judiciário em oposição ao Executivo, na medida em 
que este último concedeu refúgio ao extraditando, em decisão altamente 
controvertida. Não se procure dispositivo na Lei, a amparar tal decisão de 
remessa da decisão final à Presidência da República, porque não existe. 
 
 
Extradição Ativa – Solicitada pelo Brasil: 
 
1. Pedido é encaminhado pela Vara Criminal ao M.J.; 
2. M.J. encaminha ao M.R.E.; 
3. M.R.E. encaminha ao Embaixador estrangeiro do país 
requerido que, por sua vez encaminha ao seu superior; 
4. Suprema Corte do País Requerido pronuncia-se sobre a 
legalidade do pedido, SEM APRECIAR O MÉRITO DA AÇÃO 
PENAL movida no Brasil; 
5. Chefe de Estado concede-a, ou não, com base no 
pronunciamento do Supremo, embora não esteja a isto 
obrigado. 
 
 
Parâmetros legais p/ concessão de extradição: 
 
•••• Similitude de tipificação - o fato gerador do processo 
deve ser tipificado como delitivo em ambas as legislações; 
•••• Equivalente dosimetria de penas – embora os Tratados 
de Extradição solucionem os problemas de equivalência de 
pena (e, por isso mesmo, são considerados 
equivocadamente como condição essencial) – é possível 
que a ausência de Tratado de Extradição seja sanada 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 23 
 
mediante o compromisso de aplicação de pena equivalente 
àquela cominada pela Ordem Penal do requerido; 
•••• Exclusão da extradição do perseguido político ou 
refugiado; 
•••• Exclusão da extradição nos casos de prescrição; 
•••• Exclusão da extradição pedida por Tribunal de Exceção; 
•••• Exclusão da extradição do próprio Nacional 
•••• Reciprocidade – prevista em Tratado de Extradição ou 
expressa diretamente no pedido. 
 
No processo de extradição não se admitem Recursos, exceto Embargos 
de Declaração. 
 
Para efeitos de requerer a extradição, no Sistema Constitucional 
Brasileiro, a competência é do Poder Executivo. 
 
Cuidado extremamente recomendável: É corriqueiro no Brasil o 
mito de que a existência de cônjuge ou filho brasileiro se constituiria em 
caso impeditivo da Extradição. Este mito costuma, inclusive, ser corroborado 
com o caso Ronald Biggs olvidando, contudo, que o caso Ronald Biggs 
ocorreu em 1961 e, desde então, houve significativa alteração neste campo. 
Observe que o STF, em sua Súmula n º 421, enuncia que “Não impede a 
Extradição a circunstância de ser o Extraditando casado com brasileira 
ou ter filho brasileiro.” 
 
Note, então, que a existência de cônjuge ou filho brasileiro poderá 
impedir a Expulsão de estrangeiro (art. 75, II, da Lei 6.815/80) e NÃO 
impedirá a Extradição (Súmula 421, STF). 
 
 
 
Expulsão: 
 
É o processo pelo qual um país expele de seu território o estrangeiro 
que lá reside licitamente, em razão de crime ali praticado ou de 
comportamento nocivo aos interesses nacionais. 
 
Expulsão NÃO é pena, constitui medida administrativa, exercida em 
proteção do Estado, como manifestação de sua soberania. 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 24 
 
 
 
No Brasil são objeto de expulsão direta e imediata: 
 
•••• Os crimes contra a Segurança Nacional 
•••• Os crimes contra a Estrutura das Instituições 
•••• Os crimes contra a Tranqüilidade Pública 
•••• Os crimes contra a Economia Popular 
 
No Brasil são expulsos após cumprir pena: 
 
•••• Condenados por contrabando 
•••• Condenados por falsificação de moeda 
•••• Condenados por venda de entorpecentes 
•••• Condenados por corrupção de menores 
•••• Condenados por crimes inafiançáveis em geral 
 
Nos casos da Expulsão de estrangeiro motivada pelo cometimento de 
crime comum, compete ao Ministério Público, ex officio, comunicar a 
condenação do estrangeiro ao Ministério da Justiça, em um prazo de até 30 
dias após o trânsito em julgado da sentença condenatória, a fim de que se 
instaure o inquérito de expulsão (art. 68, Lei do Estrangeiro). 
 
A Nocividade da presença doestrangeiro é apreciada exclusivamente 
pelo Presidente da República (art. 66, Lei 6.815/80). 
 
Expulsão - Tramitação processual no Brasil: 
 
1. O processo é iniciado por Portaria do Min. Da Justiça, ex officio ou 
mediante representação fundamentada; 
 
2. Designa-se o Delegado Federal que presidirá o inquérito; 
 
3. O expulsando é intimado para se apresentar à D.P.F. num prazo de 2 
dias - NÃO se aceita a revelia; 
 
4. Feito o interrogatório, passa a fluir o prazo de 6 dias para a 
apresentação de defesa escrita; 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 25 
 
 
5. O Delegado Federal tem 12 dias para fazer o relatório e encaminhar o 
processo ao Min. Justiça; 
 
6. Ministro da Justiça pode decretar a Prisão Administrativa (que não 
pode ultrapassar 90 dias, com possibilidade de 1 prorrogação por 
igual período); 
 
Caberá Habeas Corpus toda a vez que a Prisão Administrativa 
ultrapassar estes prazos; 
 
7. Expulsão e revogação de expulsão são de competência do Presidente 
da República, que o faz através de Decreto; 
 
8. O Decreto executivo é publicado no D.O.U. 
 
 
Desta decisão cabe H.C. e Recurso Administrativo, a ser interposto no 
prazo de 10 dias, dirigido ao próprio Presidente e pedindo a reconsideração 
(tem efeito suspensivo e devolutivo). 
 
 
Defesa do Expulsando: 
 
A defesa mais comum é aquela que invoca os benefícios do art. 74 da 
Lei 6.815/80: A existência de família constituída no país. 
 
Não se deve perder de vista, contudo, que é a nocividade da presença 
do estrangeiro o determinante máximo de sua expulsão, cabendo, portanto 
enfatizar os questionamentos da mesma ou, alternativamente, a sua 
atenuação quando cabível. 
 
Efeito: Consumada a expulsão, fica o estrangeiro proibido de retornar 
ao território do país de onde foi expulso, a não ser que se revogue sua 
expulsão. Observe-se que este efeito distingue a Expulsão de todas as 
demais formas de retirada compulsória de estrangeiro: o Expulso, ao 
contrário do Deportado, do Repatriado ou do Extraditado não poderá 
retornar ao país de onde foi expulso. Não se trata, outrossim, de um 
impedimento absoluto uma vez que o Presidente da República (ou Chefe de 
Estado em outros países) poderá revogar, no caso brasileiro consoante o art. 
66, da Lei do Estrangeiro, mediante Decreto, a Expulsão. 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 26 
 
 
 
CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DE NACIONALIDADE 
 À PESSOA JURÍDICA: 
 
Embora o tema da Globalização esteja na pauta do dia, mesmo que 
predominem as empresas que atuem transnacionalmente, por vezes importa 
determinar a Nacionalidade da Pessoa Jurídica. Porque, muito embora 
atuem diretamente no espaço jurisdicional de vários países, situações há em 
que importa determinar sua nacionalidade, a fim de encontrar a legislação 
aplicável àquela espécie de relação jurídica. Rege-se, portanto, a 
determinação da Nacionalidade da Pessoa Jurídica pelos sistemas: 
 
Teoria do Local de Constituição: que leva em consideração, na 
determinação da nacionalidade da pessoa jurídica o local em que foi 
celebrado e registrado o seu Contrato Social. 
 
Teoria da Nacionalidade da Matriz: que leva em consideração o local 
onde se situa o Centro Administrativo da Empresa ou do conjunto de 
empresas. Há divergências, neste sentido, entre aqueles que consideram o 
Centro Administrativo o local onde opera a Diretoria de escalão mais elevado 
e aqueles que consideram como Centro Administrativo o local onde se situa 
a Contabilidade da Empresa ou do Conglomerado, o local onde seus 
balanços internacionais são produzidos e publicados. 
 
Teoria da Maioria do Capital Acionário: embora com bem menor 
aceitação do que as duas teorias acima mencionadas, propõe-se, neste caso, 
que se atribua à Pessoa Jurídica a Nacionalidade equivalente à de seus 
acionistas majoritários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 27 
 
# UNIDADE 3: 
 
Tratados Internacionais: 
 
 
 
Conceito: Conforme a Convenção de Viena para o Direito dos Tratados, de 
1969, que, atualmente, regula todas as Convenções: "Tratado significa um 
acordo internacional concluído entre Estados em forma escrita e 
regulado pelo D.I., consubstanciado em um único instrumento ou em 2 
ou mais instrumentos conexos qualquer que seja a sua designação 
específica". 
 
Comentário: Os tratados são considerados a fonte mais importante do D.I. 
não só por sua multiplicidade mas também porque regulam as matérias mais 
importantes. Conforme Mohammed Bedjaoui: "Constituem a fonte mais 
democrática do D.I. porque há a participação direta dos Estados em sua 
elaboração". 
 
 
CONDIÇÕES DE VALIDADE DOS TRATADOS: 
 
I - Capacidade das Partes: São Providos de Capacidade para celebrar 
Tratados: 
•••• Os Estados 
•••• As Organizações Internacionais 
•••• A Santa Sé 
•••• Os Beligerantes e Insurgentes reconhecidos 
 
II - Habilitação dos Agentes Signatários que devem estar supridos de 
plenos poderes. 
 
III - Objeto Lícito e possível: É nulo o tratado que violar Norma Imperativa 
de D.I. Esta nulidade ocorre mesmo quando a Norma Imperativa for 
posterior a ele. A respeito dispõe a Convenção de Viena, de 1969: 
 
"Norma Imperativa de D.I. é a Norma aceita e reconhecida pela 
Comunidade Internacional de Estados como um todo, como uma 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 28 
 
Norma não-derrogável e que somente poderá ser modificada por outra 
Norma de D.I. geral de mesmo caráter." 
 
IV - Consentimento Mútuo: O acordo de vontades não deve sofrer vício. A 
Convenção de Viena considera a admissibilidade de vícios nas condições 
seguintes: 
 
1 - ERRO: 
•••• Quando atingir a base essencial do consentimento; 
•••• Quando não se tratar de erro de redação que seja sanável; 
•••• Que se constitua em erro de fato, pois o erro de Direito não 
constitui vício de consentimento; 
•••• Que esteja sendo invocado por Estado que NÃO tenha 
contribuído para sua ocorrência. 
 
2 - DOLO: 
•••• É essencial que tenha sido praticado por parte contratante; 
•••• É fundamental que o erro devido à fraude de outrem seja 
escusável para a vítima e determinante de seu consentimento. 
 
O Dolo acarreta a Responsabilidade Internacional do Estado que 
o praticou. 
 
3 - COAÇÃO: 
•••• A coação em face do representante do Estado sempre anulará o 
Tratado 
•••• A coação em face do próprio Estado (ameaça ilícita do uso da 
força, exceto nos tratados de paz) é objeto de controvérsias 
quanto a ensejar a nulidade do tratado. 
 
 
A China defendeu, até 1990, a nulidade dos tratados concluídos entre 
Estados com poderio desigual, considerando que teria este poderio sido 
utilizado para pressionar o mais fraco. Atualmente abstém-se de reafirmar ou 
negar tal ponto de vista. 
 
 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 29 
 
 
FASES DE CELEBRAÇÃO DE UM TRATADO: 
 
 
NEGOCIAÇÃO: De competência, dentro da Ordem Constitucional, do Poder 
Executivo. A competência geral é do Chefe de Estado, delegado a seus 
representantes em função da validação. A negociação multilateral se 
desenvolve nas grandes Conferências e Congressos Internacionais. 
 
 
 
 
ASSINATURA - Efeitos: 
•••• Autentica o texto do tratado; 
•••• Atesta o acordo dos negociadores quanto ao texto do tratado; 
•••• Quando estabelecidos prazos para ratificação ou adesão, estes 
começam a correr; 
•••• Os contratantes devem se abster de atos que atentem 
substancialmente o valor do instrumento assinado; 
•••• A assinaturatem valor político; 
•••• Pode significar que o Estado reconhece as normas costumeiras 
tornadas convencionais. 
 
RATIFICAÇÃO: "É o ato pelo qual a autoridade nacional competente 
informa às autoridades correspondentes dos Estados cujos 
plenipotenciários concluíram, com os seus, um projeto de tratado, a 
aprovação que dá a este projeto e que o faz doravante um tratado 
obrigatório para o Estado que esta autoridade encarna nas Relações 
Internacionais". É ato do poder executivo, exigindo ou não a prévia 
autorização do legislativo. 
 
 
Competência p/ ratificar: A competência é fixada livremente pelo D. 
Constitucional de cada Estado, existindo 3 sistemas consagrados: 
•••• Competência exclusiva do Executivo; 
•••• Primazia do Legislativo; 
•••• Competência dividida entre Executivo e Legislativo. 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 30 
 
 
No Brasil vige o sistema de competência compartilhada entre os 
Poderes Executivo e Legislativo, conforme o texto constitucional: 
 
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 
... 
VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a 
referendo do Congresso Nacional; 
e 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
 
I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos 
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao 
patrimônio nacional; 
... 
 
Os tratados somente passam a ser obrigatórios depois de 
ratificados, mesmo quando a ratificação não estiver expressamente 
prevista. 
 
A ratificação é ato "sui generis" cuja principal característica é sua 
discricionariedade - decorrendo daí: 
1. A indeterminação de prazo para ratificação, 
2. A licitude de recusa de ratificação; 
3. O tratado só produzirá efeitos a partir da troca ou do depósito 
dos instrumentos de ratificação. 
 
A ratificação não pode ser condicional e deve abranger todo o tratado. 
Podem-se, todavia, formular reservas. 
 
 
PROMULGAÇÃO: É ato jurídico de natureza interna pelo qual o governo de 
um Estado afirma ou atesta a existência de um Tratado por ele celebrado e o 
preenchimento das formalidades exigidas para sua conclusão e, além disso, 
ordena sua execução dentro dos limites aos quais se estende a competência 
estatal. 
 
Efeitos: 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 31 
 
•••• Tornar o tratado executório no plano interno, 
•••• Constatar a regularidade do processo que torna obrigatória a norma 
para o Estado. 
 
 
PUBLICAÇÃO: É condição essencial para que o tratado seja aplicado no 
plano interno. A publicação é adotada por todos os países. No Brasil é 
realizada no Diário Oficial da União (DOU). 
 
 
RECEPÇÃO DO TRATADO PELO DIREITO INTERNO: até 2004 todos os 
Tratados ratificados, promulgados e publicados pelo Brasil passavam a 
incorporar-se ao Direito Interno com status equivalente ao de Lei Ordinária, 
no plano da hierarquia das Normas Brasileiras. Note-se, entretanto, que 
neste momento a matéria merece a ressalva que lhe é aposta pela Emenda 
Constitucional nº 45: 
 
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45 
Publicada no DOU de 31/12/2004 
 
Altera dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 
98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 
115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da 
Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 
103-B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. 
 
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 
3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao 
texto constitucional: 
 
Art. 1º Os arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 
111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição 
Federal passam a vigorar com a seguinte redação: 
 
"Art. 5º..................................... 
 
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos 
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois 
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão 
equivalentes às emendas constitucionais. 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 32 
 
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja 
criação tenha manifestado adesão." 
 
 
ADESÃO: É cláusula inserida em um tratado que permite a um Estado não-
contratante a se tornar parte dele. 
Caso o Tratado não mencione a possibilidade de adesão, será necessário o 
consentimento dos Estados-parte no tratado. A adesão não tem tempo 
determinado - pode ocorrer antes e entrar o tratado em vigor ou depois que 
isso ocorra. 
 
Formas de realizá-la: 
•••• Por meio de um tratado especial, 
•••• Por meio de Declarações (adesão e aceitação), 
•••• Por ato unilateral. 
 
 
RESERVAS: 
 
Conceito: Conforme a Convenção de Viena para o Direito dos Tratados, de 
1969: "É uma declaração unilateral, qualquer que seja sua redação ou 
denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou 
aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou 
modificar os efeitos jurídicos de certas disposições do tratado em sua 
aplicação a este Estado." 
 
Principais características das reservas: 
 
Cf. a natureza: 
•••• excluindo a incidência de cláusulas, 
•••• excluindo a incidência de interpretações. 
 
Conforme os efeitos: 
•••• restritivas, 
•••• extensivas. 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 33 
 
As Reservas podem ser retiradas por seus autores, mas a aceitação é 
irrevogável. Retirada ou objeção devem ser apresentadas por escrito. 
 
Sua apresentação dar-se-á: 
•••• Na assinatura do tratado, 
•••• Na ratificação do tratado, 
•••• Na adesão ao tratado. 
 
 
 
Condições para a validade de reservas: 
 
De Forma: Estas devem ser apresentadas por escrito, pelo Poder 
Competente do Estado para tratar de assuntos internacionais (em geral o 
Executivo); 
De Fundo: A aceitação da reserva pelos demais contratantes. 
 
 
Não-Aceitação de reservas, conforme a Convenção de Viena: 
•••• Quando proibidas pelo tratado (in totum); 
•••• Quando a reserva apresentada não é permitida pelo 
tratado; 
•••• Quando a reserva é incompatível com o objeto ou a 
finalidade do tratado. 
 
EXECUÇÃO DE TRATADO: 
 
A execução do Tratado é questão de boa-fé. O tratado é executado pelo 
Estado na mais completa independência e sob sua única responsabilidade. 
O D.I. Geral somente apresenta um instituto para o rompimento dos 
tratados - a Responsabilidade Internacional. 
 
 
EFEITO DOS TRATADOS: 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 34 
 
Em princípio os efeitos se limitam às partes contratantes - esta é uma 
decorrência da não-hierarquização da Sociedade Internacional. 
 
INTERPRETAÇÃO DOS TRATADOS: 
 
Esta é realizada geralmente com normas que tiveram sua origem no D. Civil, 
na interpretação dos contratos. A interpretação do tratado pode ser dada no 
plano unilateral - interno de um dos contratantes, ou no plano internacional 
pelos contratantes - convencional ou tacitamente ou, ainda, nos tribunais 
internacionais. 
 
 
Normas Doutrinárias p/ interpretação: 
 
•••• Deve-se procurar produzir efeito útil; 
•••• sentido dos termos é o atribuído à época da celebração; 
•••• Deve-se presumir o tratado como um todo, cujas partes se completam; 
•••• Optar-se-á pela interpretação menos restritiva à soberania; 
•••• Prevalecem Normas especiais sobre as gerais; 
•••• Em caso de dúvida, adotar-se-á a interpretação menos favorável ao 
redator do tratado; 
•••• Não será interpretado oque não necessita interpretação. 
 
 
Normas p/ interpretação - Convenção de Viena: 
 
•••• Presumem-se a boa-fé e o sentido comum; 
•••• Devem ser considerados o Preâmbulo e os Anexos; 
•••• Considerar acordos entre as partes, práticas aplicativas e Normas de 
D.I.; 
•••• Sentido terminológico especial só será dado quando as partes o 
desejarem; 
•••• Considerar trabalhos preparatórios e circunstâncias de conclusão do 
tratado; 
•••• Desconsiderar a diversidade de idiomas - os textos tem a mesma 
autenticidade. 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 35 
 
 
EXTINÇÃO DOS TRATADOS: 
 
Ocorre por: 
 
•••• Execução integral, 
•••• Consentimento mútuo, 
•••• Termo, 
•••• Condição resolutória, 
•••• Renúncia do beneficiário, 
•••• Caducidade, 
•••• Guerra, 
•••• Fato de terceiro, 
•••• Impossibilidade de execução, 
•••• Ruptura de relações diplomáticas e consulares, 
•••• Inexecução por parte contratante, 
•••• Denúncia unilateral: O Estado deverá comunicar com 
anterioridade às demais partes contratantes a sua intenção de 
deixar de observar o que fora convencionado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 36 
 
# UNIDADE 4: 
 
Organizações Internacionais: 
 
 
 
As Organizações Internacionais são associações voluntárias de Estados, 
constituídas por tratado internacional, com o objetivo de atuarem em áreas 
específicas da relação interestatal, ocorrentes na sociedade internacional. 
 
A sua criação corresponde à percepção que há âmbitos e problemas, na 
relação internacional, que transcendem a possibilidade de serem eficaz e 
eficientemente enfrentadas pelo Estado soberano de forma isolada. Percebem 
os Estados que se multiplicam, hoje, aquelas questões e problemas cujos 
efeitos não reconhecem fronteiras ou bandeiras nacionais, que se projetam 
para além do seu âmbito interno, assim como aquelas originadas na ação 
dos Estados coirmãos e/ou seus agentes, porém, que repercutem em seu 
próprio âmbito interno. Diante de tais interações que ocorrem encontrou-se 
a solução de propugnar uma ação comum (de todos) e/ou concatenada, para 
o que se associam os Estados nas Organizações Internacionais. 
 
Do ponto de vista histórico, surgiram as primeiras Organizações 
Internacionais ao final da I Guerra Mundial, ilustrando esta necessidade de 
ação cooperativa e associada, destacando-se como iniciativas pioneiras: 
1. A Cruz Vermelha Internacional: Organização Internacional 
humanitária destinada a complementar a ação Estatal naquelas 
situações catastróficas (naturais ou humanas) em que a 
demanda por socorro ultrapassa as possibilidades de serem 
atendidas pela infraestrutura de um Estado isoladamente. 
 
2. A Organização Internacional do Trabalho, OIT: Com o processo 
de industrialização, desde 1850 se faziam ouvir reivindicações 
no sentido de que o Estado interviesse de forma reguladora nas 
relações entre o capital e o trabalho. Havia, todavia, a percepção 
de que, se um Estado interviesse internamente regulando 
isoladamente a relação econômica, o efeito seria a migração do 
capital para aqueles outros Estados que não o fizessem, gerando 
desindustrialização e desemprego (semelhante ao que em nossos 
dias ocorre com a migração das empresas ocidentais para a 
China, Vietname, etc. – países que deixam de aplicar as 
Convenções Internacionais do Trabalho e, com isto, barateiam o 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 37 
 
custo de produção). A resposta encontrada para este problema, 
ao final da I Guerra Mundial (na qual a questão da produção 
industrial, bem como da causa operária se manifestaram em 
toda a sua repercussão estratégica) foi a criação da OIT, com o 
intuito de, através das Convenções Internacionais do Trabalho, 
homogeneizar a interferência reguladora dos Estados no campo 
das relações internas entre o capital e o trabalho. 
 
 
3. A Liga das Nações, ou Sociedade das Nações: Ao observarmos a 
história do Direito Internacional Público (e o livro do Celso 
Duvivier de Albuquerque Melo publica um capítulo primoroso a 
este respeito) constatamos que este sempre primou pelo esforço 
em colocar limitações à guerra e/ou de estabelecer regulamentos 
para balizarem o “estado de natureza” em que os Estados 
dirimem os seus conflitos de interesse, conflitos diante dos quais 
a diplomacia se demonstrou ineficaz (Karl von Klausewitz: “a 
guerra nada mais é do que a continuação da diplomacia por 
outros meios”). Ocorre, entretanto, que a I Guerra Mundial 
extrapolou totalmente a escala em que se manifestavam estes 
conflitos até então, pois eram conflitos episódicos e limitados – a 
I Guerra Mundial, por outro lado, durou 4 anos ininterruptos, 
teve proporções globais, utilizou-se da capacidade industrial 
para transformá-la numa espécie de “linha de produção da 
morte e destruição” e, ainda, suas causas, com certeza, eram 
bem mais amplas e complexas que o mero assassinato do 
herdeiro do trono austríaco por um terrorista sérvio... Para fazer 
face a tudo isto criou-se a Liga das Nações, ou, também 
chamada Sociedade das Nações, para manter a paz e a 
segurança internacionais. A ocorrência de uma II Guerra 
Mundial, a seguir, obviamente, demonstra que as disposições 
contidas no Pacto da Liga das Nações eram ineficazes para 
concretizar o pacifismo almejado pelos seus fundadores (muito 
interessante a este respeito é a leitura de Eric Hobsbawn, ERA 
DOS EXTREMOS, O breve século XX, Cia. Das Letras), tendo, 
em síntese, a Liga das Nações se constituído em uma 
experiência-piloto de cujos erros se conseguiu adquirir aprender 
logo adiante. 
 
 
 
A segunda geração das Organizações Internacionais surge ao final da II 
Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas – ONU: 
 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 38 
 
Após o fracasso na Liga das Nações, o tema segurança coletiva ainda era 
pauta para a sociedade internacional. Durante a segunda guerra, a 
preocupação com os princípios que deveriam reger as relações internacionais 
após o seu fim era constante. 
 
Em janeiro de 1942, com a entrada dos EUA e da URSS na guerra, já se 
prevendo a vitória eminente contra o Eixo (Alemanha, Itália, Japão), 
realizou-se a Conferência de Washington, na qual os Estados (China, URSS, 
EUA e Reino Unido) reiteraram (Declaração de 1942) os princípios contidos 
na Carta do Atlântico, acordando ainda a criação de uma organização 
internacional, na qual os Estados soberanos vencedores estariam unidos 
fazendo frente ao Eixo. 
 
Ainda durante a 2ª guerra, em outubro de 1943, realizou-se a Conferência 
de Moscou durante a qual os reiteraram seu interesse na criação de uma OI 
baseada na igualdade entre os Estados soberanos, com o objetivo de manter 
a paz e a segurança internacionais. 
 
Diferentemente da Liga das Nações, na qual reinava o espírito da verdadeira 
igualdade entre os Estados na condução dos objetivos que pretendia 
alcançar, a nova OI teria suas decisões originadas de um pequeno e seleto 
grupo de Estados, as potências vitoriosas que teriam as condições 
necessárias (capacidade militar) - a manutenção da paz e da segurança 
internacionais, além do fato de que as potências realmente desejavam 
manter uma posição privilegiada na OI. 
 
Tratado constitutivo: Em 25 de junho de 1945, 51 países assinaram a Carta 
de São Francisco. 
 
Definição: A ONU é organização internacional, sendo a arena mais universal 
para a negociação de normas internacionais, mas que também assume 
posições e produz ideias dentro dos limites estabelecidos pelos Estados que a 
constituíram. 
 
Os objetivose os princípios da ONU estão previstos nos arts. 1º e 2º da Carta 
de São Francisco, dentre os princípios lá estabelecidos encontram-se o 
princípio da igualdade soberana dos Estados, da boa-fé e da não 
intervenção. 
 
Recomenda-se a leitura da Carta de São Francisco (disponibilizada, entre 
outros, na biblioteca do professor, no SIA), e não somente do belo preâmbulo 
da Carta, a seguir: 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 39 
 
 
 
“NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS 
 
a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, 
no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a 
reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor 
do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim 
como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais 
a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes 
do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social 
e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. 
 
E para tais fins praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como 
bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança 
internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos 
métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a 
empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e 
social de todos os povos. 
 
Resolvemos conjugar nossos esforços para a consecução desses objetivos. 
Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de 
representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus 
plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram com 
a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma 
organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas.” 
 
 
Personalidade Jurídica das Organizações Internacionais: Estas entidades são 
providas de Personalidade Jurídica Internacional, fundamentando-se esta no 
associativismo (tal como as pessoas jurídicas que já conhecemos do Direito 
Interno), não nos elementos fundamentais da Teoria Geral dos Estados. São 
os Estados, já providos de Personalidade Jurídica por se constituírem em 
membros originários da Sociedade Internacional que, ao se associarem, 
outorgam tal Personalidade ao ente por eles constituído. Observe que, já em 
1949, consultada, a Corte Internacional de Justiça definia ser plenamente 
cabível a responsabilidade civil da ONU em face de pleitos indenizatórios de 
funcionários - e/ou seus sucessores - vítimas de emboscadas fatais em 
missões perfeitas no Oriente Médio. 
Capacidade Jurídica das Organizações Internacionais: A gradação da 
Capacidade Jurídica das OI’s, entendida como a aptidão para praticar atos 
que gerem efeitos jurídicos internacionais, estará sempre definida em seu 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 40 
 
tratado constitutivo (fundacional), tanto no que se refere à dimensão 
material, quanto aos requisitos formais para a sua consecução. 
 
Modelo Organizacional: As OI’s tendem a replicar a estrutura fundamental 
da ONU, a saber: 
a) Assembleia Geral: composta por todos os Estados-membro, que se 
reúnem com regularidade anual ou multianual, para apreciar as 
realizações concretizadas, traçar diretrizes para a sua atuação 
adiante, deliberar sobre as questões mais sensíveis em seu campo de 
atuação. Rege-se pelo princípio de “cada Estado tem 1 voto, de igual 
peso aos demais”. 
 
b) Conselho(s): que pode(m) ser técnico(s) ou político(s), constituído(s) 
de membros eleitos pela assembleia (exceto os membros permanentes 
do conselho de segurança da ONU), para um mandato determinado. 
Os membros do Conselho constituirão um representante que resida 
junto à sede da OI, sendo que estes representantes serão convocados 
a se reunir em caráter de emergência a fim de decidir (ad hoc da 
assembleia) iniciativas a serem tomadas em face de uma crise 
internacional que se declare, de surpresa, no campo de atuação da 
OI. 
 
c) Secretariado: Setor que responde pela administração burocrática da 
OI, coordenando os quadros funcionais internos da OI, seu apoio 
logístico e seus atos de administração em geral. Em alguns casos, 
especialmente no caso da ONU, este secretário geral também pode 
desempenhar, por prática aplicativa, funções políticas, de mediação 
de conflitos, etc. 
 
O leigo costuma criticar a ONU porque esta “não conseguiu acabar com todas 
as guerras”, porém, uma analise mais cuidadosa demonstra que desde a sua 
fundação até aqui tivemos tão somente conflitos regionais, episódicos ou 
localizados, não houve a reincidência em conflitos de proporções globais, até 
mesmo mantendo “fria” a guerra desencadeada entre os EUA e a URSS, em 
busca de uma hegemonia internacional no período posterior à II Guerra 
Mundial. Tal feito, de manter fria a guerra fria, foi acolhido como um sucesso 
do modelo associativo, encadeando uma série de criações de Organizações 
Internacionais Regionais, destinadas à manutenção da paz e da segurança 
internacionais no âmbito do respectivo continente. São exemplos desta 
proliferação de Organizações Internacionais de âmbito regional e político: a 
Organização dos Estados Americanos – OEA, a Liga Árabe, a Organização da 
Unidade Africana – OUA, etc. 
D. Internacional – 2017 - 1 – Parte I - Prof. Carlos R. Dörner 41 
 
A partir dos anos 1990 constatamos uma nova tendência, no que costumo 
chamar de “a terceira geração de Organizações Internacionais”: o 
associativismo internacional centra-se, a partir de então, na priorização das 
questões macroeconômicas de integração e cooperação, visando uma melhor 
inserção ou funcionalidade em um mundo globalizado - cujas economias e 
mercados demonstram-se interdependentes e integrados. 
 
Em 1995 funda-se a Organização Mundial do Comércio – OMC, 
reconfiguração (“upgrade”) do Sistema de Bretton Woods e do Acordo Geral 
de Tarifas e Comércio – GATT: 
 
O sistema de Bretton Woods surge da doutrina de John Maynard Keynes, 
baseado na ideia de crescimento econômico no plano global. Para alcançar 
este objetivo o plano se baseava em pilares institucionais: construção de um 
banco mundial, criação de um fundo para reconstrução e desenvolvimento e 
a criação de um programa de ajuda vinculado as Nações Unidas. 
 
Em 27.7.1944, em Bretton Woods, teve lugar a fundação do Banco 
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD e do Fundo 
Monetário Internacional - FMI. Em 1948, o plano continua com a instituição 
do Acordo Geral de Tarifas e Comércio - GATT e em 1995, com a fundação 
da Organização Mundial do Comércio - OMC. 
 
A Organização Mundial do Comércio atua na fiscalização e regulamentação 
do comércio mundial. Com sede em Genebra (Suíça), foi criada em 1994 
durante a Conferência de Marrakech e estabelecida a partir de 1º de janeiro 
de 95 na qual se elaborou o acordo constitutivo da OMC. Da rodada de 
Havana à de Marrakech o sistema de comércio era regulado pelo GATT 
(General Agreement on Tariffs and Trade) que ajudou a estabelecer um 
sistema multilateral de comércio. 
 
A OMC é um fórum de negociação de acordos de comércio e local de solução 
de disputas também comerciais. O procedimento de solução de diferenças 
na OMC, regido pelas Normas e Procedimentos sobre Solução de 
Controvérsias é um mecanismo eficiente firmado sob o império da lei e que 
visa garantir mais segurança e previsibilidade ao sistema de comercio global. 
Os objetivos e as funções da OMC estão previstos nos artigos 2º e 3º do 
Acordo constitutivo, sendo limitadores da capacidade de agir da organização. 
 
 
D. Internacional

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