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1 Universidade Federal da Bahia Instituto de F´ısica Departamento de F´ısica do Estado So´lido Motores Ele´tricos por John Dentler (Stanford University) extra´ıdo da sessa˜o explorato´ria de mesmo t´ıtulo do cap´ıtulo 31 do livro “F´ısica: Eletricidade e Magnetismo, O´tica”. Tipler, quarta edic¸a˜o. Existem muitos tipos de motores ele´tricos, proje- tados de acordo com a aplicac¸a˜o que se tem em vista. Os motores dos relo´gios ele´tricos devem trabalhar com velocidade constante. Os motores de arranque dos au- tomo´veis precisam desenvolver um torque substancial mesmo quando o eixo esta´ imo´vel. Os motores dos secadores de cabelo teˆm que ser leves e capazes de fun- cionar em va´rias velocidades. Os engenheiros projetam os motores a partir de modelos desenvolvidos com base nos princ´ıpios f´ısicos discutidos nos cursos de F´ısica 3. Esses modelos sa˜o equac¸o˜es que permitem prever o de- sempenho do motor em uma determinada situac¸a˜o. O motor rotativo (Fig.1) dispo˜e de condutores per- corridos por corrente que reagem com um campo externo. Este campo, denominado campo do estator, e´ criado e controlado pelo enrolamento que aparece na parte infe- rior da Fig.1. O campo magne´tico produzido por este enrolamento e reforc¸ado pelo nu´cleo de ferro da´ origem a um po´lo norte a` esquerda e um po´lo sul a` direita do elemento rotativo. O elemento rotativo, denominado ar- madura, e´ formado por um cilindro de ferro com oito fendas que conteˆm condutores. Quando uma corrente ele´trica atravessa esses condutores no sentido indicado na figura (para dentro do papel perto do po´lo sul e para fora do papel perto do po´lo norte), um torque no sentido hora´rio (para baixo do lado do po´lo sul e para cido do lado do po´lo norte) faz girar a armadura. Um dos problemas mais complexos associados aos motores rotativos e´ manter o sentido apropriado da cor- rente nos condutores da armadura, ja´ que a rotac¸a˜o tende a aproximar esses condutores alternadamente do po´lo norte e do po´lo sul. Os dispositivos que executam essa tarefa sa˜o denominados comutadores. O comutador que aparece na Fig.2 e´ constitu´ıdo por quatro segumentos preso ao eixo do motor e duas escovas que conduzem a corrente da fonte de alimentac¸a˜o ate´ os segmentos. Cada segmento e´ ligado a dois condutores, instalados em fendas da armadura. Os condutores sa˜o ligados por fios na parte traseira da armadura e pelos segmentos na parte dianteira. Este me´todo de ligac¸a˜o resulta em dois cami- hos paralelos entre as escovas; assim, todos os condutores sa˜o usados ao mesmo tempo. No comutador que aparece na Fig.2, a corrente fornecida pela escova da direita se divide entre os dois FIG. 1: Motor ele´trico rotativo caminhos dispon´ıveis; os condutores 2 e 5 levam a cor- rente da parte da frente para a parte de tra´s da armadura. Os condutores 2 e 5 esta˜o ligados aos condutores 7 e 8 atrave´s de fios localizados na parte de tra´s da armadura. A corrente volta a` parte da frente atrave´s dos condutores 7 e 8, que esta˜o ligados aos condutores 3 e 4 por dois seg- mentos. A corrente volta a` parte da frente atrave´s dos condutores 1 e 6, de onde passam para a escova da es- querda. Os segmentos giram com a armadura; as escovas permanecem estaciona´rias e fazem contato com segmen- tos diferentes cada vez que a armadura gira 90◦. Como os enrolamentos da armadura sa˜o sime´tricos, os condutores da direita sempre conduzem corrente da parte dianteira para a parte traseira e os condutores da esquerda sem- pre conduzem corrente da parte traseira para a parte di- anteira; em consequ¨eˆncia, o torque se mante´m no sentido hora´rio. O torque do motor e´ a soma dos torques exercidos por todos os condutores. Qualquer que seja a posic¸a˜o da armadura, existem sempre quatro condutores do lado direito e quatro do lado esquerdo; assim, o torque e´ apro- ximadamente constante. A diferenc¸a de potencial entre as escovas e´ a soma das quedas de potencial nos condu- 2 tores. Qualquer que seja a posic¸a˜o da armadura, existem sempre dois caminhos paralelos, cada um constitu´ıdo por quatro condutores. Usando os conceitos da lei de Fara- day, na˜o e´ dif´ıcil mostrar que a diferenc¸a de potencial entre as extremidades de um dos condutores e´ dada por E = B`rωsen (ωt+ δ) (1) FIG. 2: Comutador do motor da Fig.1. O comutador inverte periodicamente o sentido da corrente na armadura para man- ter o motor girando no sentido hora´rio. onde ` e´ o comprimento da armadura e r e´ o seu raio. A queda de tensa˜o total na armadura e´ a me´dia das quedas de tensa˜o nos dois caminhos paralelos mencionados an- teriormente. Como duas fendas adjacentes esta˜o sepa- radas apenas por 45◦, a variac¸a˜o da queda de tensa˜o total produzida pela rotac¸a˜o da armadura e´ relativamente pe- quena. Assim, podemos ignorar a variac¸a˜o com o tempo expressa pelo termo ∼ (ωt + δ) da Eq.1 e expressar a queda de tensa˜o como Etotal = BKω (2) onde a constante K, denominada constante do motor, e´ func¸a˜o de `, de r e da me´dia no tempo da queda de tensa˜o na armadura. Quanto maior o nu´mero de condutores e de segmentos, menor a diferenc¸a entre a queda de tensa˜o real e a queda de tensa˜o expressa pela Eq.2. A poteˆncia fornecida a` armadura e´ igual ao pro- duto da queda de tensa˜o pela corrente na armadura, Ia. No caso de um motor rotativo, a carga pode ser conside- rada um torque τ aplicado ao eixo com um sentido oposto ao da rotac¸a˜o do motor. A poteˆncia mecaˆnica fornecida a` carga e´ igual ao produto do torque pela velocidade angu- lar. Em equil´ıbrio, o torque aplicado pelo motor e´ igual e oposto ao torque da carga. Assim, P = EIa = τω (3) Substituindo E por esse valor, dado pela Eq.2, temos: P = BKIaω = τω (4) A armadura pode ser representada por uma fonte de tensa˜o em se´rie com um resisteˆncia Ra. O enrolamento para criar o campo do estator pode ser ligado em se´rie ou em paralelo com a armadura. Esses dois me´todos de ligac¸a˜o resultam em motores com caracter´ısticas bem diferentes. Ligac¸a˜o em Paralelo A Fig.3 mostra o circuito de um motor no qual o enrolamento de campo esta´ ligado em paralelo com a ar- madura. Uma resisteˆncia varia´vel e´ usada para controlar o campo e portanto a velocidade do motor. Aplicando a regra das malhas de Kirchhoff, temos: V − IaRa −BKω = 0 (5) Explicitando ω na Eq.5, podemos expressar a velocidade de rotac¸a˜o do motor em func¸a˜o da corrente na armadura, Ia: ω = − Ra BK Ia + V BK (6) Como Ia = τ BK (veja Eq.4), temos: ω = − Ra (BK)2 τ + V BK (7) A Eq.7 e´ uma equac¸ Appl. Opt. linear que expressa a velocidade de rotac¸a˜o do motor em func¸a˜o da carga. A velocidade pode ser controlada fazendo variar a tensa˜o V ou, o que e´ mais comum, fazendo variar o campo B atrave´s da variac¸a˜o da resisteˆncia do circuito do enrola- mento de campo. Quando a corrente na armadura excede um certo valor, o nu´cleo da armadura fica magneticamente satu- rado, a queda de tensa˜o devida a` indutaˆncia da armadura na˜o pode mais ser desprezada e a relac¸a˜o entre o torque e a velocidade deixa de ser linear. Para cargas normais, pore´m, a Eq.7 descreve corretamente o funcionamento do motor. A Fig.4 mostra de que forma a caracter´ıstica de desempenho do motor, ou seja, a curva de velocidade de rotac¸a˜o em func¸a˜o do torque, e´ afetada pela saturac¸a˜o da armadura. Ligac¸a˜o em Se´rie No motor da Fig.5, o enrolamento de campo esta´ ligado em se´rie com a armadura e portanto o campo magne´tico e´ func¸a˜o da corrente da armadura. 3 FIG. 3: Circuito de um motor de cc em paralelo. FIG. 4: Gra´fico do torque em func¸a˜o da velocidade de rotac¸a˜o para um motor de cc em paralelo t´ıpico, mostrando o efeito da saturac¸a˜o sobre a caracter´ıstica de desempenho. Se a corrente na armadura e´ pequena e o nu´cleo da ar- madura na˜o esta´ magneticamentesaturado, o produto da intensidade do campo pela constante do motor, K, pode ser considerado uma func¸a˜o linear da corrente na armadura: BK = CI onde C e´ uma constante. Substituindo este valor de BK nas expresso˜es da queda de tensa˜o, poteˆncia e torque, temos: E = CIωP = CI2ω e τ = CI2 Aplicando a regra das malhas de Kirchoff, obtemos a seguinte equac¸a˜o: V − IR− CIω = 0 onde R e´ a soma das resisteˆncias da armadura e do en- rolamento de campo e I representa a u´nica corrente do circuito. Explicitando ω, podemos expressar a velocidade de rotac¸a˜o em func¸a˜o da corrente: ω = V CI − R C Substituindo I por √ τ C , obtemos uma equac¸a˜o para ve- locidade do motor em func¸a˜o do torque, que pode ser FIG. 5: Circuito de um motor de cc em se´rie. usada para plotar a caracter´ıstica de desempenho do mo- tor em se´rie: ω = V√ Cτ − R C A Fig.6 mostra a caracter´ıstica de desempenho do motor em se´rie. Comparando esta curva coma caracter´ıstica de desempenho do motor em paralelo (Fig.4), podemos ver algumas diferenc¸as importantes. Quando a carga tende a zero, a velocidade de rotac¸a˜o do motor em se´rie aumenta quase sem limite (na pra´tica, existe sempre uma carga, representada pelo atrito dos rolamentos e a resisteˆncia do ar) enquanto que a velocidade do motor em paralelo tende para o valor V BK , que pode ser relativamente pe- queno. Para grandes cargas, a velocidade do motor em paralelo cai bruscamente e o motor pode parar, enquanto a velocidade do motor em se´rie diminui de forma bem mais gradual com o aumento da carga. FIG. 6: Gra´fico do torque em func¸a˜o da velocidade de rotac¸a˜o, mostrando a caracter´ıstica de desempenho de um motor de cc em se´rie t´ıpico. Assim, o motor em se´rie e´ muitor mais apropriado para aplicac¸o˜es em que e´ necessa´rio um alto torque em ω = 0, como e´ o caso do motor de arranque dos automo´veis. Por outro lado, o motor em paralelo e´ a melhor escolha quando se deseja manter a velocidade constante indepen- dentemente da carga, como acontece por exemplo nos gravadores de fita. 4 Com pequenas modificac¸o˜es, os princ´ıpios de construc¸a˜o e funcionamento dos motores de corrente cont´ınua tambe´m se aplicam aos motores de corrente al- ternada. O torque de um motor em se´rie, por exemplo, e´ proporcional a I2 e portanto na˜o depende do sentido da corrente. E´ natural que seja assim, ja´ que a mesma cor- rente atravessa o enrolamento de campo e a armadura. Isto, pore´m, na˜o quer dizer que qualquer motor de cc funcione bem com corrente alternada. Na ana´lise dos motores de corrente de tensa˜o alternada, pore´m, a in- dutaˆncia dos enrolamentos na˜o pode ser ignorada. Esta indutaˆncia tem dois efeitos: (i) reduzir a corrente para uma dada tensa˜o; (ii) produzir uma diferenc¸a de fase entre a corrente e a tensa˜o. Os motores de cc em paralelo normalmente pos- suem enrolamentos de campo de alta resisteˆncia e uma armadura de alta indutaˆncia. Quando um motor desse tipo e´ alimentado com corrente alternada, aparece uma diferenc¸a de fase entre as correntes do enrolamento de campo e da armadura que prejudica o desempenho do motor. Os motores em se´rie projetados para funcionar apenas com corrente cont´ınua possuem um circuito magne´tico muito cerrado, que permite produzir o maior campo magne´tico poss´ıvel para uma dada corrente. Acontece que com isso os enrolamentos apresentam uma alta indutaˆncia, o que reduz consideravelmente a corrente quando o motor e´ alimentado com ma corrente alter- nada. Para funcionar com corrente alternada, um motor em se´rie deve possuir uma indutaˆncia relativamente pe- quena. Isso e´ conseguido reduzindo-se a quantidade de ferro empregada nas pec¸as polares e na armadura. Os motores desse tipo, que funcionam igualmente bem com corrente cont´ınua e com corrente alternada, sa˜o conheci- dos como motores universais. Como para conseguir a baixa indutaˆncia e´ necessa´rio reduzir o campo magne´tico, esses motores apresentam um baixo torque e sa˜o usado normalmente para movimentar pequenas cargas em apa- relhos como aspiradores de po´, batedeiras, secadores de cabelo e ma´quinas de costura. A caracter´ıstica de de- sempenho de um motor universal e´ semelhante a` de um motor de cc em se´rie (Fig.6). A forma mais comum de motor de corrente alter- nada e´ o motor de induc¸a˜o. Este motor possui uma armadura semelhante a` que aparece na Fig.1, mas, ao contra´rio do motor de corrente cont´ınua, na˜o dispo˜e de um comutador; os condutores da armadura sa˜o ligados diretamente uns aos outros. O problema passa a ser o de como fazer circular uma corrente nos condutores da armadura. A soluc¸a˜o esta´ em fazer o campo do estator girar. Quando este campo esta´ girando, uma tensa˜o e´ induzida nos condutores da armadura, o que faz circular uma corrente. O campo magne´tico associado a esta cor- rente interage com o campo do estato, produzindo um torque. O movimento da armadura e´ no sentido de mini- mizar o movimento relativo entre ela e o campo. Assim, a armadura gira com uma velocidade angular quase igual a` do campo do estator. Existem muitas formas de produzir uma rotac¸a˜o do campo do estador. O motor que aparece na Fig.7 e´ conhecido como motor de campo distorcido. E´ ideˆntico ao da Fig.1, exceto pelo fato de que os con- dutores da armadura formam um circuito cont´ınuo e as pec¸as polares do estator possuem pequenos prolongamen- tos, separados por pec¸as polares principais por uma faixa de materia do condutor. Esta construc¸a˜o faz com que o campo magne´tico seja estabelecido rapidamente nas pec¸as polares principais e leve algum tempo para chegar a`s pec¸as polares secunda´rias por causa da indutaˆncia da faixa condutora, o que se traduz como uma rotac¸a˜o do campo. FIG. 7: Motor de induc¸a˜o de campo distorcido. A Fig.8 mostra a caracter´ıstica de desempenho de um motor de induc¸a˜o t´ıpico Normalmente, os motores desse tipo trabalham com um velocidade um pouco menor do que a velocidade de rotac¸a˜o do campo. Assim, por exemplo, se um motor como o da Fig.7 for ligado a uma fonte de alimentac¸a˜o de 60Hz, a velocidade de rotac¸a˜o sera´ de quase 60rev/s. O torque ma´ximo que aparece na curva caracter´ıstica de desempenho ocorre porque quando a diferenc¸a entre a velocidade do campo e´ suficientemente grande para que a indutaˆncia da armadura produza um retardo significa- tivo da corrente da armadura, a corrente da armadura deixa de interagir com o campo do estador; assim, o mo- tor perde a forc¸a e tende a parar se a carga for aumentada ale´m de um certo limite. Os motores de campo distorcido sa˜o usados em aplicac¸o˜es que na˜o exigem um torque elevado, como re- frigerante de equipamentos ele´tricos. Me´todos mais com- 5 FIG. 8: Gra´fico do torque em func¸a˜o da velocidade de rotac¸a˜o, mostrando a caracter´ıstica de desempenho de um motor de induc¸a˜o t´ıpico. A curva de carga que aparece na figura e´ t´ıpica de uma bomba centr´ıfuga. plexos para fazer o campo girar sa˜o empregados nos mo- tores de induc¸a˜o de geladeiras e condicionadores de ar. Os motores de induc¸a˜o industriais de grande porte usam sistemas de alimentac¸a˜o trifa´sicos para fazer o campo gi- rar.
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