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Vol. 8 No. 3, 2004 LCA: Uma Revisão Biomecânica e do Controle Motor 197 ISSN 1413-3555 Rev. bras. fisioter. Vol. 8, No. 3 (2004), 197-206 ©Revista Brasileira de Fisioterapia LESÃO E RECONSTRUÇÃO DO LCA: UMA REVISÃO BIOMECÂNICA E DO CONTROLE MOTOR Fatarelli, I. F. C.,1 Almeida, G. L.2,1 e Nascimento, B. G.2 1Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Departamento de Fisiologia e Biofísica 2Universidade de Ribeirão Preto, Curso de Fisioterapia Correspondência para: Ismael Fernando de Carvalho Fatarelli, Rua Votorantim, 51, ap. 61, CEP 13073-090, Campinas, SP, e-mail: iffatarellI@ig.com.br; ismael@odin.unaerp.br Recebido em: 22/12/2003 – Aceito em: 22/9/2004 RESUMO Neste artigo, é apresentada uma revisão da literatura sobre as principais modificações e adaptações biomecânicas e dos mecanismos de controle motor decorrentes de lesão no ligamento cruzado anterior (LCA) e/ou de sua reconstrução cirúrgica. Inicialmente, são descritas a função mecânica do LCA e sua anatomia. Em seguida, é discutido como essa funcionalidade é modificada do ponto de vista dos fatores neuromusculares na presença de lesão e/ou reconstrução do LCA. São enfatizadas as modificações proprioceptivas nas respostas reflexas e na ordem de recrutamento e a quantidade e o padrão de atividade da musculatura do membro inferior. Essas mudanças nos padrões eletromiográficos são debatidas com base nas modificações biomecânicas causadas pela lesão do LCA. Em especial, é mostrado como as mudanças nos padrões eletromiográficos podem explicar as alterações observadas nos movimentos rotacionais e translacionais do joelho nessa população. Finalmente, é discutido o efeito dessas mudanças na cinemática dos movimentos nos padrões dos torques musculares na articulação do joelho. Palavras-chave: ligamento cruzado anterior, controle motor, biomecânica, revisão. ABSTRACT This article presents a literature review about the major modifications and adaptations in the biomechanical and motor control level due to the lesion of the anterior cruciate ligament (ACL) or its surgical reconstruction. First, we describe the anatomy and functionality of the ACL. Then, we describe how this functionality can be modified by neuromuscular changes due to the lesion of the ACL. In special, we emphasize the modifications in proprioception, reflex responses, recruitment order, and the pattern of the muscle activities of the lower limb. Changes in electromyographic activities are discussed in relation to the biomechanical changes observed in the movements of these individuals. In particular, it is described how these changes in the EMG patterns can account for the changes observed in the rotational and translational movement of the knee. Finally, it is discussed the effect of these kinematical changes in the patterns of the muscle torques in the knee joint. Key words: anterior cruciate ligament, motor control, biomechanics, review. A Função Mecânica do LCA O ligamento cruzado anterior (LCA) tem propriedade de resistência tensil por volta de 2160 N a 30o de flexão.1 Durante atividades da vida diária, o LCA raramente atinge esse nível de tensão. Beynnon et al.2 colocaram um transdutor in vivo diretamente no ligamento cruzado anterior de humanos e quantificaram a tensão anterior exercida no LCA durante o movimento do joelho. A tensão foi pequena e aumentou com a extensão do joelho, independente do tipo de movimento (cadeia cinética fechada – agachar – versus cadeia aberta – extensão). Há consenso na literatura e entre os clínicos de que o ligamento cruzado anterior atua como estabilizador mecânico, restringindo a anteriorização e a rotação da tíbia em relação ao fêmur. Para Fu et al.3 e Fukubayashi et al.,4 a principal função do LCA é prevenir o deslocamento anterior da tíbia em relação ao fêmur. Kennedy et al.5 e Wascher et al.6 também observaram que esse ligamento age no mecanismo de rotação 198 Fatarelli, I. F. C., Almeida, G. L. e Nascimento, B. G. Rev. bras. fisioter. interno e externo do joelho e na restrição do estresse em valgo e varo (ver Fu et al.3 para uma revisão). Funcionalmente, a maior vulnerabilidade do LCA ocorre em mecanismos rotacionais, visto que 70% das rupturas foram relacionadas a esse mecanismo (Mello et al.7). A Lesão do LCA Daniel et al.8 estimaram a incidência de 0,24 lesão do LCA a cada 1.000 indivíduos saudáveis ao ano, em análise da população dirigida ao Hospital de San Diego. Como pode um ligamento tão forte romper com essa freqüência? Apesar de ser bastante resistente, a ruptura do ligamento decorre de sobrecarga máxima, principalmente durante as atividades esportivas8,9,10 e, na maioria das vezes, limita ou impede a prática das mesmas.10,11,12,13 Funcionalmente, podem ser identificados dois grupos de indivíduos com lesão no LCA. O primeiro apresenta sintomas clínicos como edema, dor e falseios durante movimentos do joelho e dificuldade em realizar algumas atividades da vida diária.10 Para os indivíduos deste grupo, freqüentemente é recomendada a reconstrução cirúrgica do LCA.14,15,16,17 Por outro lado, há um grupo de indivíduos que tem a lesão do LCA, mas não refere sintomas clínicos como edema e dor.10,16 Os indivíduos desse grupo podem realizar tarefas motoras envolvendo a articulação do joelho sem nenhum déficit funcional aparente,18 sendo considerados adaptados à lesão. Há vários fatores de risco que predispõem os indivíduos à lesão do LCA. Entre eles destacam-se os anatômicos,19 os neuromusculares18,20 e os biomecânicos.21,22,23,24 Aspectos Anatômicos Aspectos como formato ou tamanho de estruturas ósseas ou ligamentares têm sido associados como fatores predis- ponentes à lesão do LCA.25 Harner et al.19 observaram que indivíduos com história de lesão bilateral do LCA apresentavam aumento na largura do côndilo femural lateral quando comparados ao grupo-controle. Houve também maior presença de lesões ligamentares em indivíduos com histórias familiares de lesões ligamentares no joelho. Por outro lado, Hernandez et al.12 não observaram diferenças anatômicas significativas no joelho entre indivíduos com e sem lesão do LCA. Fatores Neuromusculares Capacidade proprioceptiva Acredita-se que a lesão do LCA produz perda da pro- priocepção, deteriorando a capacidade dos indivíduos de detectar alterações estáticas26,27 ou dinâmicas no joelho.28 Essa perda tem sido também associada a mudanças no tempo de latência dos músculos nas respostas reflexas18,29 na ordem30,31 e no padrão de atividade eletromiográfica (EMG) durante mo- vimentos voluntários.32 Corrigan et al.28 analisaram a habilidade dos indivíduos com LCA lesado em detectar a posição estática e pequenas alterações na angulação articular e verificaram que estes apresentam redução do torque extensor em relação ao torque flexor e maior dificuldade de detecção dos movimentos. Assim, a perda da força muscular foi associada à perda proprioceptiva. Tanto no estudo de Barrack et al.26 como no de Corrigan et al.,28 foi documentada a dificuldade dos indivíduos em detectar o movimento passivo no membro lesado entre 30° e 40° de extensão do joelho. No entanto, Borsa et al.27 observa- ram essa dificuldade apenas na amplitude final da extensão. Barrack et al.26 e Borsa et al.27 usaram o membro não lesado como controle. Por outro lado, Corrigan et al.28 com- pararam o membro lesado e contralateral com o membro de um grupo-controle sem história de lesão no joelho, demons- trando perda proprioceptiva na articulação de ambos os joelhos em sujeitos com lesão unilateral do LCA. Esses dados mostram que devemos ser cautelosos ao assumir o lado não lesado como parâmetro de normalidade para o lado lesado. Por ser uma circuitaria complexa, as informações provenientes dos recepto- res de um ligamento também podem se projetar, via polis- sináptica, nos neurônios motores que inervam a musculatura contralateral àlesão. Assim, o lado lesado pode influenciar o lado contralateral. Apesar de vários estudos mostrarem o papel do LCA relacionado à capacidade de detecção da posição do membro, é fundamental destacar que outras pesquisas falharam em detectar alterações proprioceptivas em indivíduos com lesão33,34 ou reconstrução do LCA.35 Mais recentemente, Fremerey et al.36 moveram a arti- culação do joelho numa velocidade de 0,5o/s e mediram a capacidade dos indivíduos em detectar a alteração na posição articular. Os indivíduos com lesão aguda do LCA cometeram erros de 6,7 e 2,2o, respectivamente, para detectar a posição do membro lesado e do não lesado. Já os indivíduos com lesão crônica apresentaram melhora na percepção da posição angular do membro no lado lesado e não apresentaram alteração no lado não lesado. Fremerey et al.36 observaram que, após seis meses da reconstrução cirúrgica do LCA, houve melhora significativa na capacidade de detecção angular no membro reconstruído. É interessante que, nesse estudo, ao contrário dos dados obtidos por Borsa et al.,27 os indivíduos com lesão crônica do LCA apresentaram menor dificuldade para detecção da posição espacial no final da extensão do joelho. Em nossos estudos, evidenciamos que a lesão do LCA ou sua reconstrução não influencia a capacidade dos indivíduos em manter o membro inferior estendido contra a ação da gravidade,37 posição na qual é preciso que o indivíduo tenha boa percepção estática da força. Vale ressaltar que a substituição protética total unilateral do quadril não provocou perda proprioceptiva substancial.38 Já Clark et al.39 anestesiaram a articulação do joelho e as estruturas adjacentes para diminuir a ação dos receptores articulares e não observaram alterações da percepção da posição articular estática. Vol. 8 No. 3, 2004 LCA: Uma Revisão Biomecânica e do Controle Motor 199 Concluímos, portanto, que a capacidade de detecção da posição articular na ausência dos elementos sensoriais capsu- lares pode ser compensada por informações provenientes, por exemplo, do fuso neuromuscular localizado nas fibras extrafusais dos músculos. Baseado na revisão da literatura apresentada, devemos ser bastante cautelosos ao assumirmos que uma lesão do LCA provoca perda proprioceptiva que não possa ser compensada por informações provenientes de outros receptores da cápsula articular ou dos fusos musculares. Matthews40 demonstrou, em elegante estudo, que as informações provenientes do fuso neuromuscular são essenciais na detecção estática e dinâmica dos movimentos e Skoglund41 demonstrou que as informações provenientes da cápsula arti- cular informam apenas as amplitudes máximas dos movimentos de flexão e extensão. Finalmente, Barrack et al.42 mostraram que, após reconstrução do LCA, apesar das alterações morfofuncionais, os receptores presentes no interior do neoligamento podem se regenerar. A reinervação sensorial também foi demonstrada em cães submetidos à reconstrução do LCA por Ochi et al.43 A possível regeneração dos receptores do LCA pode explicar a diferença dos resultados registrados na literatura. Respostas reflexas da musculatura Há controvérsia na literatura sobre a existência18,29 ou não34 de modificações nas respostas reflexas em indivíduos com lesão no LCA. Wojtys & Huston18 deslocaram a tíbia, aplicando uma carga de 13,5 kg no nível da região póstero-proximal, e observaram o tempo de reação muscular do gastrocnêmio, de isquiotibiais laterais e mediais e de quadríceps medial e lateral nos indivíduos com lesão do LCA. Comparado aos sujeitos-controle, os tempos de reação foram maiores para os portadores de lesão do LCA quanto ao músculo bíceps femural. Resultados similares foram obtidos para os outros músculos estudados. Os autores também observaram varia- bilidade dessas respostas nos diferentes grupos de lesionados do LCA (agudo, semi-agudo e crônico). No entanto, o atraso na ativação reflexa dos isquiotibiais não foi observado em indivíduos com lesão do LCA testados em experimento similar.34 Como explicar a controvérsia sobre a existência ou não de modificações reflexas em indivíduos com comprometimento no LCA? Os receptores proprioceptivos no interior do LCA ocupam uma extensão entre 1% e 2,5% do volume total do liga- mento.44,45 A função desses receptores seria sinalizar as tensões a que esse ligamento é submetido durante os movimentos do joelho. Ao serem estimulados, esses receptores geram potenciais de ação que podem ser transmitidos pelas vias aferentes para a medula e retransmitidos para os centros superiores do SNC. As informações aferentes também podem ativar, via reflexa, as vias eferentes que inervam as fibras extrafusais, promovendo a contração dos músculos. A estimulação desses receptores geraria, então, uma resposta reflexa.46 Evidências em estudos com animais32,47 e em humanos48 submetidos à cirurgia do joelho mostram que a tração mecânica do LCA gera ativação reflexa dos isquiotibiais. Já o aumento da pressão articular do joelho provoca inibição reflexa do quadríceps.49,50 Apesar de alguns estudos em animais demonstrarem possível circuitaria neural para essa ação reflexa,32,47 nos humanos essa circuitaria ainda não foi mapeada. No entanto, baseando-se no tempo de latência entre a tração mecânica do LCA e o início da atividade muscular, pode-se afirmar que se trata de uma circuitaria envolvendo várias sinapses (polissináptica).48 Uma das dificuldades em identificar essa circuitaria neural é que os neurônios motores alfa, que inervam a musculatura, também recebem projeções provenientes de outras estruturas, como, por exemplo, os receptores da cápsula articular. De fato, Solomonow et al.32 demonstraram que a ativação de receptores da cápsula articular também pode ativar reflexamente a musculatura. Kennedy et al.50 provocaram a distensão capsular infun- dindo 60 cc de solução salina intra-articular e, como conse- qüência, ocorreu inibição do quadríceps em humanos. Para esses autores, a estimulação dos mecanoreceptores, via aumento da pressão intra-articular, seria o motivo da geração do reflexo de inibição do quadríceps. A infusão plasmática,49 a efusão aguda decorrente de uma menisectomia medial51 e a efusão crônica do joelho também provocaram inibição do quadríceps com diminuição da força muscular.52,53 Assim, quando se tensiona anteriormente o LCA com o objetivo de ativar reflexamente a musculatura, também pode haver estimulação dos receptores da cápsula articular, contribuindo para a ativação ou a inibição reflexa da musculatura do joelho. Dada a provável complexidade da circuitaria neural envolvida nessa resposta reflexa e a variação no tipo de manipulação mecânica (deslocamento passivo da tíbia) usada para eliciá-la, é natural que diferentes autores tenham observado resultados conflitantes. Apesar da discussão sobre a existência ou não de déficit na resposta reflexa decorrente de lesão do LCA, esses estudos têm tido grande influência na avaliação clínica da lesão do LCA e na implementação de tratamentos fisioterapêuticos. Acredita-se que a falta de informações proprioceptivas originadas no LCA provoca duas respostas distintas: Primeiro, ocorreria inibição reflexa do quadríceps, diminuindo a massa dessa musculatura, fato que também é observado clinicamente.54 Essa inibição também diminuiria a capacidade do quadríceps de gerar torque extensor, que provocaria anteriorização excessiva da tíbia.21 Segundo, facilitaria a ativação dos isquiotibiais,48,55 o que promoveria o fortalecimento dessa musculatura.57 O objetivo dessas duas respostas seria minimizar a geração de uma força de translação na articulação do joelho que provocasse a anteriorização da tíbia.57,48 Assim, com a lesão do LCA, o fortalecimento dos isquiotibiais e a atrofia reflexa 200 Fatarelli, I. F. C., Almeida, G. L. e Nascimento, B. G. Rev. bras. fisioter. do quadrícepsseriam uma resposta adaptativa para substituir a ação estabilizadora do LCA. Essa lógica tem influenciado sobremaneira o tratamento fisioterapêutico de indivíduos com lesão e/ou submetidos à reconstrução cirúrgica do LCA, caracterizando-o como um fortalecimento preferencial dos isquiotibiais.56 Ordem de recrutamento A seqüência na qual uma musculatura é recrutada tem sido estudada para inferir a ordem em que são gerados os torques nas articulações durante uma ação reflexa18 ou volun- tária.18,30,31 A lesão do LCA atrasaria a ativação do quadríceps, dos isquiotibiais e do gastrocnêmio durante a atividade reflexa induzida pelo deslocamento anterior da tíbia. No estudo de Wojtys & Huston,18 esses atrasos foram observados nas fases aguda, semi-aguda e crônica da lesão do LCA. Entretanto, durante tarefas reflexas e voluntárias em indivíduos com lesão aguda, o quadríceps foi ativado antes dos isquiotibiais, enquanto nos indivíduos com lesão crônica, os isquiotibiais precederam a ativação do quadríceps. Para esses autores, a antecipação da ativação do quadríceps seria uma resposta inapropriada, que ocorreria em decorrência da perda das informações proprioceptivas provenientes do LCA lesado. Já os indivíduos crônicos teriam tempo para adaptar o sistema de controle motor à falta dessas informações. No entanto, para Kålund et al.,30 a ordem de recrutamento dos músculos que atuam no joelho parece estar preservada em indivíduos com lesão do LCA durante movimentos vo- luntários, como andar num plano e numa rampa. O que mudaria nos sujeitos portadores de lesão do LCA seria o tempo de latência entre o início da atividade dos músculos, quando esses indivíduos são submetidos a uma carga maior. Assim, durante a marcha em terreno inclinado, ocorreria antecipação na ati- vação dos isquiotibiais, impedindo o deslocamento anterior da tíbia. Para o caminhar em esteira inclinada, os indivíduos com LCA lesado antecipam a ativação dos isquiotibiais em relação ao quadríceps. Essa antecipação, anterior ao contato do calcanhar no solo, gera um torque flexor que evita a extensão do joelho e o deslocamento anterior da tíbia. No entanto, é preciso lembrar que outros estudos não confirmaram alterações na ordem de recrutamento em indiví- duos com lesão do LCA nas respostas reflexas34 e voluntárias.31 A comparação entre esses estudos é comprometida, uma vez que a ordem de recrutamento é estudada durante diferentes tarefas reflexas18 e voluntárias,30,31 envolvendo diferentes grupos de lesionados do LCA (agudo, semi-agudo e crônico) e usando diferentes manipulações. Quantidade e padrão de atividade muscular Se a ordem de recrutamento determina quando a força será aplicada, a análise da quantidade e do padrão de atividade eletromiográfica (EMG) gerada pode revelar a quantidade de força muscular.57 Vários estudos observaram redução da quantidade de atividade EMG do quadríceps58,59 e aumento dessa atividade para os isquiotibiais20,58 em indivíduos com lesão do LCA. Em indivíduos submetidos à reconstrução cirúrgica do LCA, os padrões de atividade EMG do vasto medial, vasto lateral, reto femural, bíceps femural, semimembranoso, tibial anterior, gastrocnêmio e soleus seriam normais durante várias atividades funcionais (caminhar, descer rampa, subir escadas e correr).20 No entanto, os indivíduos com lesão do LCA submetidos a seis meses de programa de reabilitação apre- sentaram aumento da ativação do vasto lateral e dos bíceps femural e tibial anterior nessas atividades. Maior atividade desses músculos poderia evitar a rotação interna e a anteriorização da tíbia. A rotação tibial interna poderia provocar o fenômeno conhecido como “pivoteamento”.20 É possível que a redução da atividade EMG do quadríceps,50 associada a um aumento da atividade do bíceps femoral20 e semitendíneo,50 evite o deslocamento anterior da tíbia durante o caminhar,20,21,58 o pular59 e na flexo-extensão do joelho.60 Já a maior atividade do bíceps femural e vasto lateral evitaria rotação interna da tíbia.20,61 Assim, a modulação da atividade desses músculos substituiria a ação que seria exercida pelo LCA intacto. Porém, em movimentos simples, como a extensão do joelho e o agachamento,37 não observamos mudanças na ordem de recrutamento e na quantidade de atividade EMG da musculatura que cruza o joelho, em indivíduos com lesão do LCA ou com reconstrução cirúrgica desse ligamento. Assim, mudanças nos padrões musculares podem ocorrer apenas em algumas atividades motoras. Fatores Biomecânicos A lesão do LCA pode provocar mudanças em pequenos movimentos translacionais22,24,63 e em movimentos amplos e rotacionais do joelho e quadril.23,62 Movimentos translacionais e rotacionais e a firmeza do joelho Os movimentos que ocorrem na articulação do joelho foram reconstruídos em seis graus de liberdade, sendo três translacionais (ântero-posterior, médio-lateral e súpero-inferior) e três rotacionais (interna-externa, valgo-varo e flexo-extensão), utilizando um eletrogoniômetro específico para essa articulação. Durante a fase de balanço da marcha, os portadores de lesão do LCA apresentaram cerca de 4,2 mm a mais de translação ântero-posterior da tíbia em relação ao fêmur quando com- parados com a média de 11,8 mm observada nos indivíduos normais.24 Outros estudos demonstraram a presença de laxidão da articulação do joelho depois da ruptura do LCA.59,64,65,66 Recentemente, Brandsson et al.,63 usando a técnica de análise radioesteriométrica dinâmica, mostraram que os indivíduos portadores de lesão do LCA mudam a cinemática dos movimentos do joelho. No entanto, esses autores não Vol. 8 No. 3, 2004 LCA: Uma Revisão Biomecânica e do Controle Motor 201 observaram mudanças na cinemática dos movimentos durante a movimentação do joelho de 55 graus de flexão até a extensão total entre os indivíduos com lesão do LCA e aqueles sub- metidos à reconstrução do LCA com o terço central do liga- mento patelar. Para esses dois grupos de indivíduos, as médias da variação da amplitude da rotação interna/externa e da abdução/adução foram de 6 e 2 graus, respectivamente, e os movimentos de translação foram de 2, 6 e 5 mm, para a translação médio/lateral, proximal/distal e ântero/posterior, respectivamente. Por outro lado, Bull et al.62 quantificaram a amplitude de movimento da tíbia em relação ao fêmur nos testes espe- cíficos do LCA e de instabilidade articular do joelho, antes e depois da cirurgia de reconstrução do LCA. Após a cirurgia, a translação anterior da tíbia em relação ao fêmur foi reduzida para o Teste da Gaveta Anterior, de 13,2 para 5,9 mm (55%), e no de Lachman, de 16 para 4,5 mm (72%). A reconstrução cirúrgica também provocou diminuição de 5 graus na rotação interna/externa passiva e eliminação da subluxação anterior da tíbia com rotação interna durante o teste clínico do Pivot Shift. Experimentos como esse mostram que a reconstrução cirúrgica do LCA pode promover melhora na firmeza articular durante toda a flexão do joelho.75,76 Porém, não se pode negligenciar o elegante estudo de Brandsson et al.22 mostrando que a cirurgia de reconstrução do LCA não aumenta o grau de firmeza articular quando comparada com indivíduos lesados. No estudo de Brandsson et al.,22 os sujeitos foram testados um ano após a cirurgia. Logo, não se pode descartar a possibilidade de que o grau de estabilidade articular conseguido com a reconstrução cirúrgica diminui com o tempo. Há também variabilidade muito grande na amplitude e na direção dos movimentos de translação do joelho entre indivíduos com lesão do LCA. Por exemplo, Bull et al.62 demonstraram recentemente que o grau de translação e/ou rotação articular, para eliciar a positividade no teste do Pivot Shift,70,74 varia de indivíduo para indivíduo com lesão do LCA. Essa instabilidade pode ser, inclusive, eliciada apenas pela translação ou pela rotação articular em algunsindivíduos e não necessariamente pela combinação dos dois movimentos, como demonstrado em cadáveres por Lane et al.66 Não se pode negar a presença de instabilidade articular medida por testes clínicos67,68,69 e pela reconstrução cinemática dos movimentos de translação de pequena amplitude em indi- víduos com lesão do LCA.24,62,63 Porém, de modo geral, os estudos nem sempre revelam correlação entre os resultados dos testes clínicos e a mensuração cinemática desses movimentos.22,62 Uma explicação para esse fenômeno é que os testes clínicos são feitos de forma passiva, impondo um distúrbio à articulação, que pode variar de examinador para examinador e que não representa necessariamente os distúrbios impostos na articulação durante os movimentos ativos. A explicação para esses diferentes resultados deve estar em diferenças metodológicas observadas entre os estudos, como anatomia dos sujeitos, grau e extensão da lesão do LCA, envolvimento ou não de outras estruturas, tempo de lesão e, principalmente, falta de padronização na aplicação das forças durante os testes clínicos.22 Apesar dessas controvérsias, há um senso comum de que joelhos fortes, saudáveis e, principalmente, estáveis são essenciais para o sucesso de algumas funções motoras.29,60 Porém, baseando-se na literatura citada, a instabilidade imposta pela lesão do LCA não compromete necessariamente a exe- cução de todas as tarefas motoras. O que ainda não sabemos é se existe um grupo específico de tarefas motoras capazes de impor anteriorização e rotação à tíbia a ponto de com- prometer a performance motora. Aumento do ângulo de flexão do joelho durante a marcha De modo geral, os indivíduos com lesão do LCA apre- sentam aumento do ângulo de flexão do quadril e do joelho durante a marcha.23,70 Devita et al.23 demonstraram que indi- víduos com lesão do LCA e indivíduos com 3 e 5 semanas pós-reconstrução caminham com padrão flexor durante a fase de apoio nas articulações do joelho e quadril. Com 5 semanas após a reconstrução, foi evidente a tendência da cinemática articular do joelho retornar a angulações próximas às observadas para o grupo-controle. Posteriormente, foi observado que, com 3 semanas pós-reconstrução cirúrgica, a amplitude angular dos movimentos durante a fase de balanço da marcha foi, em média, 10% menor no quadril e 39% e 32% maior para o joelho e o tornozelo, respectivamente. Após 6 meses da cirurgia, essas amplitudes angulares também retornaram aos valores obser- vados em indivíduos sem lesão do LCA.71 Em outras palavras, com o tempo, os indivíduos submetidos à reconstrução cirúrgica do LCA corrigiriam o padrão flexor da marcha, passando a adotar um padrão mais ereto. Resultados similares foram descritos por Gauffin & Tropp59 durante o salto. Se há um padrão flexor da marcha em indivíduos com lesão do LCA, ainda não está claro como a reconstrução cirúr- gica do LCA, com o tempo, favorece o aparecimento de uma marcha mais ereta. Como veremos a seguir, é possível, inclusive, ocorrer mudança no padrão dos torques gerados na articulação do joelho, sem mudanças no padrão cinemático.71 Porém, vários outros estudos não observaram mudanças na cinemática dos movimentos do joelho em indivíduos com lesão do LCA nos movimentos de extensão,37 na marcha23,72 e no agachar.37 Mudanças Cinéticas Falseio Solomonow et al.32 mostraram “falha no torque” ex- tensor em alguns indivíduos com lesão no LCA, durante movimento isocinético concêntrico com força de extensão máxima do joelho. Essa queda do torque foi acompanhada por queda na atividade EMG do quadríceps na amplitude entre 37o e 46o de flexão, com aumento na atividade eletro- miográfica dos isquiotibiais para tentar evitar esta “falha do 202 Fatarelli, I. F. C., Almeida, G. L. e Nascimento, B. G. Rev. bras. fisioter. torque”. Para esses autores32 essa queda seria resultado de uma subluxação articular. No entanto, em movimento isocinético concêntrico de flexo-extensão do joelho a 30o/s não observamos um padrão de queda no torque37 que pudesse estar associado ao com- portamento descrito pelos autores32 nos cinco indivíduos porta- dores de lesão do LCA testados (Figura 1). Encontramos, também, resultados similares nas velocidades de 60, 90, 120 e 150o/s. Porém, observamos essa queda no torque resultante em um indivíduo portador de lesão no LCA (dado não mos- trado na Figura 1). Não sabemos explicar o fato de apenas alguns indivíduos apresentarem a queda no torque durante os movimentos isocinéticos concêntricos. Preferimos deno- minar o que Solomonow et al.32 chamaram de falseio apenas como uma queda abrupta do torque extensor resultante, pois esses autores não quantificaram o mecanismo translacional ou rotacional da tíbia em relação ao fêmur. Predomínio de um padrão de torque flexor Andriacchi21 e Berchuck et al.70 quantificaram, na plataforma de força de reação do solo, as alterações na magnitude do momento de flexo-extensão do joelho durante a fase de suporte da marcha. Conforme ilustrado na Figura 2, os autores observaram que, durante a marcha, 75% dos indivíduos com lesão no LCA usam torque interno na articulação do joelho predominantemente em flexão, evitando contrair o quadríceps quando o joelho se encontra próximo ao momento de extensão total, durante a fase de apoio da marcha. Dessa forma, diminui a tração anterior da tíbia. Porém, os 25% restantes dos indivíduos com lesão do LCA usaram o mesmo padrão de torque do joelho identificado nos indivíduos normais. Por outro lado, Devita et al.23 não identificaram em indivíduos com 2 semanas pós-lesão do LCA o mesmo padrão de torque flexor do joelho descrito por Andriacchi.21 Os autores23 demonstraram também que os padrões cinemáticos do deslocamento do quadril, do joelho e do tornozelo foram similares durante a fase de apoio e de balanço para indivíduos normais e com 6 meses após a reconstrução ligamentar. Porém, o padrão da variação do torque extensor do joelho no tempo (impulso), nos indivíduos com lesão do LCA na fase inicial do apoio, foi 57% inferior ao observado nos indivíduos normais. Resul- tados similares foram observados por Timoney et al.73 em indivíduos após 9 meses de reconstrução cirúrgica do LCA. Assim, Devita et al.71 demonstraram que o importante a avaliar nos indivíduos com lesão ou reconstrução do LCA talvez seja o impulso dos torques (variação da quantidade de força no tempo) e não a cinemática (variação angular) dos movimentos. Figura 1. Torque extensor resultante no movimento isocinético concêntrico de extensão do joelho a 30o/s. Cada curva representa os dados de um dos cinco indivíduos com lesão do LCA. Na amplitude angular de 0 grau, a articulação do joelho está estendida. Dados normalizados pelo pico do torque. 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 –20020406080100120 Amplitude angular (em graus) Flexão Extensão To rq u e e xt e n so r re su lt a n te Vol. 8 No. 3, 2004 LCA: Uma Revisão Biomecânica e do Controle Motor 203 A lesão do LCA tem sido também associada ao desequilíbrio entre grupos musculares.61 Esses autores descobriram que o torque isométrico, nos indivíduos com lesão crônica, é 20% maior na rotação interna, quando comparado com a rotação externa. Já em indivíduos-controle e com lesão aguda do LCA, essa relação é invertida, sendo o torque rota- cional externo 20% maior que o interno. Em outras palavras, a lesão crônica do LCA geraria fraqueza isométrica da musculatura que faz a rotação interna ou fortalecimento dos rotadores externos. Esses dados suportam as observações de que ocorre aumento da atividade do vasto lateral e do bíceps femural durante a marcha, na fase de suporte, nos indivíduos com lesão do LCA.20 No estudo de Zhang et al.61 também foi observado predomínio do torque isométrico em abdução e extensão, respectivamente, sobre os torques isométricos de adução e flexão,tanto nos indivíduos normais como nos com lesão crônica ou aguda do LCA. A reconstrução cirúrgica do LCA também ajudou na recuperação do desequilíbrio da força muscular. Esses autores atribuíram a fraqueza dos rotadores internos, nos indivíduos com lesão crônica, a um mecanismo de adaptação que evitaria sobrecarga no LCA e/ou instabilidade articular. Um desequilíbrio ou fraqueza muscular tem também sido atribuído à lesão do LCA em outros estudos.59,60,74 Na avaliação isocinética, foi detectada perda da força de 14% para o qua- dríceps e 4% para os isquiotibiais.60 Porém, depois de 8 anos da lesão do LCA,74 os torques isocinéticos, o extensor e o flexor retornaram aos valores observados em indivíduos normais. No entanto, comparado com o lado não lesado em velocidade média-alta (180o/s), houve perda de até 81% da força isocinética dos isquiotibiais e 39% do quadríceps.74 Esses dados sugerem perda seletiva das fibras de contração rápida decorrente de lesão do LCA. Entretanto, é preciso salientar que, nesses estudos,59,60,74 foi comparado o membro lesado com o Figura 2. Relação entre o ângulo de flexão e o momento externo (flexão e extensão) do joelho durante a fase de apoio. A linha tracejada revela o padrão registrado em 75% dos indivíduos com LCA deficiente. A linha cheia mostra o padrão do torque observado em indivíduos normais. Este padrão foi definido como “quadríceps avoidance”, já que o momento externo não requer contração do quadríceps (Andriacchi, 1990, com permissão). 0 5 10 15 20 25 30 35 Fl e xã o d o jo e lh o (g ra u s) Flexão –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 0 5 10 15 20 Controle LCA lesado M o m e n to (% B w H t) x Fase de apoio Fl e xã o E xt e n sã o Normal LCA Padrão que evita a contração do quadríceps Toque do pé Final da impulsão 204 Fatarelli, I. F. C., Almeida, G. L. e Nascimento, B. G. Rev. bras. fisioter. contralateral. Porém, a lesão ligamentar em um joelho também pode interferir na funcionalidade do membro contralateral.28 Também é preciso considerar que, nos experimentos isocinéticos em sistemas de dinamometria computadorizados, são avaliados os movimentos em planos padronizados e normalmente simulando esforços máximos e não funcionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Woo SL, et al. Tensile properties of the human femur-anterior cruciate ligament-tibia complex. 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Uma importante contribuição desta revisão da literatura foi revelar a ausência de consenso em diversos tópicos relacionados às alterações biomecânicas e do controle motor resultantes da lesão do LCA. Dessa forma, o estado do conhecimento científico sobre este tema não permite estabelecer, inequivocamente, quais seriam os processos neuromusculares relacionados à estabilidade do joelho. Esse fato é reforçado pela ausência de um posicionamento claro sobre como o(s) autor(es) entende(m) esses processos. Provavelmente, parte de nossa falha em entender as conseqüências das lesões do LCA reside no fato de que, talvez, estejamos procurando respostas baseados em pressupostos mal estabelecidos, os quais estão claramente presentes na literatura revisada. Por exemplo: 1. ligamentos agem como limitantes primários de movimentos articulares, 2. músculos contribuem para a estabilidade se opondo a movimentos articulares potencialmente perigosos, 3. receptores articulares e musculares informam sobre posição e velocidades articulares e 4. estabilidade articular é um processo eliciado em resposta a perturbações. Entretanto, há evidências de que essas afirmações não são verdades estabelecidas e, portanto, devem ser reexaminadas. Por exemplo, algumas argumentações alternativas são encontradas na literatura: 1. ligamentos agem, principalmente, regulando a artrocinemática articular, garantindo maior congruência para a articulação,1 2. ações simultâneas dos diversos músculos em torno de uma articulação, independente da direção do movimento articular produzido, promovem um aumento efetivo da rigidez articular, contribuindo para maior estabilidade da mesma,2 3. mecanorreceptores articulares e musculares são responsáveis pela conversão de energia mecânica em fluxo háptico que contribui para a ação de forma semelhante àquela produzida pelo fluxo ótico descrito por Gibson3 e 4. em razão da demora fisiológica associada aos processos neurais, estabilização deve ser entendida como um processo contínuo que garanta maior resistência (e não resposta) a perturbações.4 A revisão apresentada neste artigo revela a necessidade de reavaliar conceitos e pressupostos tradicionais, possibilitando, assim, o avanço do conhecimento sobre as consequências das lesões ligamentares. 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