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Instituições de Direito Professor conteudista: Luis Fernando Xavier S. Mello Sumário Instituições de Direito Unidade I 1 TEORIA GERAL DO DIREITO ............................................................................................................................3 1.1 Conceito de direito .................................................................................................................................3 1.2 Direito objetivo e subjetivo .................................................................................................................4 1.3 Origem e finalidade do direito ...........................................................................................................4 1.4 Ramos do direito .....................................................................................................................................5 1.5 Fontes do direito ......................................................................................................................................6 1.6 Da lei .......................................................................................................................................................... 10 1.7 Emenda constitucional .......................................................................................................................11 1.8 Lei complementar e lei ordinária ................................................................................................... 12 1.9 Lei delegada ............................................................................................................................................ 13 1.10 Medida provisória .............................................................................................................................. 14 1.11 Decretos legislativos e resoluções ............................................................................................... 16 1.12 Vigência da lei ..................................................................................................................................... 16 2 DIREITO CONSTITUCIONAL .......................................................................................................................... 18 2.1 Conceito de Constituição .................................................................................................................. 19 2.2 Poder constituinte ............................................................................................................................... 19 2.3 Controle jurisdicional de constitucionalidade das leis ......................................................... 20 2.4 Espécies de Constituição ................................................................................................................... 21 2.5 Do Estado ................................................................................................................................................. 22 2.6 Formas e regimes de governo ......................................................................................................... 22 2.7 Dos direitos e deveres individuais e coletivos .......................................................................... 26 3 DIREITO CIVIL (DA VALIDADE DOS ATOS JURÍDICOS) ....................................................................... 39 Unidade II 4 DIREITO DO TRABALHO ................................................................................................................................. 44 4.1 Conceito de empregado e empregador ....................................................................................... 44 4.2 Justa causa .............................................................................................................................................. 47 4.3 Direito constitucional do trabalho ................................................................................................ 49 5 DIREITO DO CONSUMIDOR ......................................................................................................................... 55 5.1 Conceito de consumidor ................................................................................................................... 56 5.2 Conceito de fornecedor ..................................................................................................................... 57 5.3 Política nacional de consumo ......................................................................................................... 58 5.4 Direitos básicos do consumidor ..................................................................................................... 60 5.5 Práticas comerciais .............................................................................................................................. 62 5.6 Da proteção contratual ...................................................................................................................... 70 6 DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................... 76 1 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Unidade I 5 10 15 20 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA DE INSTITUIÇÕES DE DIREITO O presente trabalho é destinado ao ensino a distância da disciplina Instituições de Direito, para o curso de administração da Universidade Paulista, que tem os seguintes objetivos: Objetivos gerais • Proporcionar aos alunos conhecimentos indispensáveis sobre os vários institutos jurídicos do direito público e do direito privado, visando ao estado de direito e ao cidadão, desenvolvendo o espírito de pesquisa; • conhecimento e compreensão das principais áreas do direito e seus respectivos enfoques; • percepção do direito como parte do ambiente organizacional e, portanto, como fator de ameaças e oportunidades. Acrescenta-se a isso que, por meio das estratégias de trabalho e de avaliação, os alunos deverão ter a oportunidade de desenvolver as seguintes competências: • compreender que a organização está inserida dentro de uma sociedade, com um conjunto de regras que devem ser respeitadas; • identificar oportunidades com o conhecimento do ordenamento jurídico. As oportunidades aqui mencionadas devem sempre respeitar os aspectos éticos e legais; 2 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 • desenvolver senso crítico e capacidade de contextualização; • trabalhar em equipe; • comunicação e expressão; • aptidão pessoal; • capacidade de identificar, analisar e solucionar problemas. Objetivos específicos • Entender a relação do direito com a administração na empresa e nas relações sociais; respeitando os preceitos éticos e legais, identificar-se-ão oportunidades para a organização com o conhecimento apreendido; • deve-se compreender que as organizações têm que se submeter a uma série de normas legais e saber como identificá-las quando necessário; • proporcionar condições para perceber a presença do direito em todas as manifestações do homem na sociedade, principalmente na vida profissional do administrador. Considerações sobre a elaboração do material Utilizou-se a linguagem simples, evitando, quando possível, o emprego de termos técnicos. Dentro dos enfoques e do público-alvo, o material não pretende, em hipótese alguma, encerrar qualquer discussão sobre os assuntos aqui abordados. Procurou-se, sempre que possível, apresentar as visões de renomados juristas e estudiosos. Entretanto, em certas oportunidades, o autor manifestou sua visão pessoal sem qualquer pretensão de excluiroutros pontos de vista de autores mais abalizados. 5 10 15 20 25 3 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Espera-se que esta apostila possa despertar o interesse pela disciplina apresentada e, para aqueles que quiserem se aprofundar na ciência do direito, a bibliografia que deu sustentação a este trabalho poderá em muito contribuir. Luís Fernando Xavier Soares de Mello 1 TEORIA GERAL DO DIREITO 1.1 Conceito de direito Muito tem se discutido sobre o conceito de direito. Apesar de não ser pacífico o conceito, para o nosso estudo, vamos tratar como um conjunto de normas coercitivas. Aliás, não é outro o entendimento de Correia e Sciascia (apud Fuhrer; Milaré, 1996, p. 24): Na verdade, para adentrarmos ao estudo da filosofia jurídica, à qual pertence a questão, diremos que o Direito é um complexo de normas reguladoras da conduta humana, com força coativa. Seguindo a mesma orientação, Gusmão (1978, p. 73): A nosso ver, a característica do direito é a coercibilidade, que consiste na possibilidade do emprego da força material para fazê-lo ser observado. Já Thomasius e Kant consideravam-na a nota específica do direito. Dentro dessa posição, Ihering chegou a definir o direito como ‘conjunto de condições da vida social, asseguradas pelo poder do Estado, mediante a coerção externa’. Em nossa época, não só positivistas como também muitos que não podem ser assim rotulados, como, por exemplo, Del Vecchio, pensam caracterizar a coercibilidade o direito. 5 10 15 20 25 4 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 1.2 Direito objetivo e subjetivo Importante ressaltar que existem enfoques diferentes para conceituar o direito. Para Fuhrer e Milaré (1996, p. 24), as mais importantes acepções da palavra direito “são as traduzidas pelas expressões direito objetivo e direito subjetivo”. Direito objetivo é o conjunto de regras vigentes num determinado momento, para reger as relações humanas, impostas, coativamente, à obediência de todos. Os Códigos Penal, de Processo, Civil, etc., bem como qualquer uma de suas regras, são exemplos de direito objetivo. O direito subjetivo é faculdade ou prerrogativa do indivíduo de invocar a lei na defesa de seu interesse. Assim, ao direito subjetivo de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser compelida a observá-lo através de medidas judiciais. 1.3 Origem e finalidade do direito Admitindo-se que o homem é um ser social pela sua própria natureza e que em toda sociedade deve existir um conjunto de normas a ser respeitadas, chegamos à conclusão de que a origem do direito é a origem do próprio homem. A expressão latina sintetiza claramente essa ideia: ubi societa, ibi jus. Seguindo na mesma esteira, Gusmão (1978, p. 49-50): Da natureza do agrupamento social depende a natureza do direito, que a reflete e a rege. Do tipo de sociedade depende a sua ordem jurídica, destinada a satisfazer as suas necessidades, dirimir possíveis conflitos de interesses, assegurar a sua continuidade, atingir as suas metas e garantir a paz social. Ubi societa, ibi jus: onde houver sociedade haverá direito, poderia ser assim adaptado o velho brocardo. 5 10 15 20 25 5 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Sobre o assunto, Fuhrer e Milaré (1996, p. 23): O Direito nasceu junto com a civilização. Sua história é a história da própria vida. Por mais que mergulhemos no passado sempre vamos encontrar o Direito, ainda que em estágio rudimentar, a regular as relações humanas. É que os homens, obrigados ao convívio, labutando uns ao lado dos outros, carecem de certas regras de conduta, de um mínimo de ordem e direção. Daí a atualidade do velho apotegma: ubi homo, ibi jus (onde está o homem está o Direito). Essas regras de procedimento, disciplinadoras da vida em sociedade, recebem o nome de Direito. 1.4 Ramos do direito Direito Natural Público Internacional Privado Positivo Nacional Público Constitucional Tributário Administrativo Financeiro Penal Processual Civil Penal Trabalhista Privado Civil Família Obrigações Contratos Comercial Defesa do consumidor Contratos É importante mencionar que o quadro apresentado poderá sofrer críticas de alguns autores, uma vez que, ao se pretender 5 10 6 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 fazer uma divisão, algumas situações podem ser muito claras para alguns e não tão claras para outros. Vê-se, por exemplo, que os estudiosos ora mencionam o direito do trabalho como ramo do direito público, ora como ramo do direito privado. Cesarino Jr. dizia que o direito do trabalho não era nem público nem privado, mas direito social. Os críticos do mestre diziam que todo direito é social. Outro ramo em que não existe unanimidade dos autores é o direito tributário, que, para alguns, como Pinho e Nascimento (1999), é um ramo do direito financeiro. Para outros, como Denari (1991, p. 16), é um ramo autônomo do direito público: “Filiamo-nos à terceira corrente doutrinária que só confere autonomia ao Direito Tributário”. Continua o autor: O direito tributário, ao revés, desponta como disciplina jurídica dotada de princípios e institutos que lhe conferem ampla autonomia. Dentre os princípios típicos podemos citar o princípio da legalidade, segundo o qual nenhum tributo pode ser instituído sem reserva legal, além do princípio da anualidade, ou da anterioridade da lei institucional (Denari, 1991, p. 15-6). 1.5 Fontes do direito Fontes do direito Direta LeiCostume Indireta DoutrinaJurisprudência A ideia de estudar as fontes do direito tem como objetivo compreender a origem das normas jurídicas. Diz Martins (2007, p. 11): 5 10 15 20 25 7 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 O estudo das fontes do Direito pode ter várias acepções, como sua origem, fundamento de validade das normas jurídicas e a própria exteriorização do Direito. Assim, a primeira fonte do direito é o costume; acompanhe o entendimento de Martins (2007, p. 16): Antecedeu o costume à lei, pois os povos não conheciam a escrita. O direito costumeiro era ligado à religião e as modificações eram feitas muito lentamente. A Lei das XII Tábuas é uma espécie de consolidação de usos e costumes do povo Lácio. Era esculpida na tábua, para conhecimento de todos, o que o poder do costume tinha revelado. Destaca-se a importância dos usos e costumes no direito do trabalho como uma fonte geradora de direito para os trabalhadores. Aliás, ensina Martins (2007, p. 18): O art. 8º da CLT permite que as autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais e contratuais, decidirão, conforme o caso, de acordo com os usos e costumes, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. Indica o art. 8º da CLT que os usos e costumes são fontes supletivas, na falta de disposições legais e contratuais sobre questões trabalhistas. A própria lei de introdução ao Código Civil recomenda, em seu artigo 4º: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso deacordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito (grifo nosso). 5 10 15 20 25 30 8 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Outra fonte do direito é a lei, que, no dizer de Fuhrer e Milaré (1996, p. 39), “consiste numa regra de conduta geral e obrigatória, emanada do poder competente, e provida de sanção”. Seguindo a mesma orientação, Beviláqua (apud Rodrigues (1981, p. 15 -6) afirma: “Lei é uma regra geral que, emanando de autoridade competente, é imposta, coativamente, à obediência de todos”. Sem dúvida, a lei é uma fonte por excelência do direito. A própria Constituição determina, em seu artigo 5º, inciso II, que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da Lei”. A pergunta que se impõe: o que é lei? A lei é um ato normativo que emana do Poder Legislativo. Com esse conceito, fica claro que somente os atos do Legislativo podem criar obrigações, afastando, portanto, toda e qualquer possibilidade de decretos, regulamentos, circulares, instruções normativas, entre outros atos do Executivo, de criar obrigações, nem poderia ser diferente, em face do dispositivo constitucional. A dúvida que poderia existir em relação a atos do Executivo de criar obrigações seria a medida provisória prevista no artigo 62 da Constituição Federal: Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. Da leitura do referido dispositivo constitucional, verifica-se que este ato normativo do Executivo tem força de lei, sendo seu regime jurídico de ato do Legislativo. Sabe-se que não interessa o nome das coisas, mas sim o regime jurídico ao qual elas se subordinam. Logo, para 5 10 15 20 25 30 9 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 este estudo, deve-se entender o princípio da legalidade do seguinte modo: ninguém é obrigado a fazer alguma coisa senão em virtude da lei, que é ato normativo que emana do Poder Legislativo, ou medida provisória, que, apesar de ser ato do Executivo, tem força de lei, nos termos da Constituição Federal. As fontes indiretas são a doutrina e a jurisprudência. A doutrina é uma fonte indireta do direito e, sinteticamente, pode-se dizer que é a teoria do direito e reflete o pensamento dos estudiosos. Fuhrer e Milaré (1996, p. 34-5) discorrem: Doutrina: é o conjunto de investigações e reflexões teóricas e princípios metodicamente expostos, analisados e sustentados pelos autores, tratadistas, jurisconsultos, no estudo das leis. É fonte indireta do Direito. Continuam os autores: Com efeito, de grande valor o trabalho dos doutrinadores na elaboração do direito objetivo, já que, apontando as falhas, os inconvenientes e defeitos da lei vigente, acaba encaminhando o legislador para a feitura de lei mais perfeita. Concordando com esse entendimento, Pinho e Nascimento (1999, p. 48) comentam: A doutrina – a lição dos doutos – é fonte secundária do Direito. A influência da doutrina faz-se sentir no período de formação do Direito e também no momento de sua aplicação nos casos concretos. 5 10 15 20 25 10 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Outra fonte indireta do direito é a jurisprudência, que nada mais é do que o modo como o Poder Judiciário decide os conflitos de interesses existentes na sociedade. Seguindo a mesma orientação, Pinho e Nascimento (1999, p. 49) escrevem: A jurisprudência consiste no modo pelo qual os tribunais se orientam na solução das diferentes questões. Expressa-se por meio das sentenças e acórdãos proferidos nas demandas. Essas decisões, quando tomadas em determinado sentido, passam a ser invocadas como precedentes a serem seguidos. Não é outro o entendimento de Fuhrer e Milaré (1996, p. 35): Jurisprudência: Prudência do Direito. São regras gerais que se extraem das reiteradas decisões dos tribunais num mesmo sentido, numa mesma direção interpretativa. Sempre que uma questão é decidida reiteradamente, no mesmo modo surge a jurisprudência. É uma fonte indireta do Direito. 1.6 Da lei Conforme já comentado, a lei é um ato normativo que emana do Poder Legislativo, com exceção feita à medida provisória, que é ato normativo do Poder Executivo e tem força de lei nos termos da Constituição Federal. O artigo 59 da Constituição da República do Brasil disciplina os seguintes atos que fazem parte do processo legislativo: Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: 5 10 15 20 25 11 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 I – emendas à Constituição; II – leis complementares; III – leis ordinárias; IV – leis delegadas; V – medidas provisórias; VI – decretos legislativos; VII – resoluções. Alguns autores mencionam que existe hierarquia jurídica entre essas normas pretendendo dar maior importância para uma em relação às outras. Críticas podem ser feitas a esse entendimento, uma vez que a Constituição Federal determina quais assuntos devem ser tratados por cada uma das normas mencionadas, não havendo que se falar em hierarquia, mas sim em esferas de competência. 1.7 Emenda constitucional As emendas constitucionais têm por finalidade modificar partes da Constituição. Essa afirmação é comprovada nas palavras de Fuhrer e Milaré (1996, p. 40): “emendas à Constituição: são leis constitucionais que modificam parcialmente a Constituição”. Existem regras do texto constitucional que não podem ser modificadas; são as chamadas cláusulas pétreas. A modificação dessas regras desestruturaria o ordenamento jurídico. Os dispositivos que não podem ser objeto de emenda constitucional são aqueles contidos no parágrafo quarto do artigo 60, que assim dispõe: 5 10 15 20 25 12 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 § 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. Entre outros dispositivos a ser respeitados no momento de alterar a Constituição, merecem destaque os contidos nos parágrafos primeiro e segundo do artigo 60 da Constituição Federal, a seguir transcrito: § 1º. A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º. A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. 1.8 Lei complementar e lei ordinária A lei complementar deverá ser utilizada como instrumento normativo, todas as vezes em que a Constituição assim determinar; como exemplo, menciona-se o artigo 146 do referido diploma legal: Art. 146. Cabe a lei complementar: I – dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (grifo nosso). 5 10 15 20 25 13 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 009: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Se a Constituição não reservar a matéria para a lei complementar, então, o assunto poderá ser disciplinado por lei ordinária. É importante ressaltar que, frequentemente, no texto constitucional, o constituinte, ao se referir à lei ordinária, trata somente como lei. Como exemplo, vale mencionar o artigo 7º, inciso IV: Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; (grifo nosso). As leis complementares são aprovadas por maioria absoluta, e as leis ordinárias, por maioria simples. 1.9 Lei delegada A lei delegada decorre de uma solicitação do Presidente da República ao Congresso Nacional para elaboração de uma lei. Essa solicitação sofre diversas limitações, como se verifica no texto contido no artigo 68 da Constituição Federal: Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. § 1º. Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os 5 10 15 20 25 14 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: I – organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; II – nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; III – planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. § 2º. A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. § 3º. Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda. 1.10 Medida provisória A medida provisória, como comentado, é ato do Poder Executivo que tem força de lei. Nota-se que, apesar de muito mal-utilizado pelos governantes, é ato normativo imprescindível para a administração do Estado. Afirma-se que é muito mal-utilizado porque a Constituição somente autoriza sua edição nos casos de relevância e urgência, e não somente nesses casos é que tem sido adotado. A Constituição prescreve, no artigo 62, a possibilidade de criar as medidas provisórias e suas limitações: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato 5 10 15 20 25 15 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 ao Congresso Nacional (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001). § 1º. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001): I – relativa a (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001): a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001); b) direito penal, processual penal e processual civil (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001); c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001); d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001); II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001); III – reservada a lei complementar (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001); IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001). 5 10 15 20 25 16 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 1.11 Decretos legislativos e resoluções Os decretos legislativos e as resoluções, no dizer de Fuhrer e Milaré (1996, p. 46 ), “destina-se a regular matéria de competência do Congresso, tendo caráter administrativo ou político”. Por essa razão, não será objeto deste trabalho. 1.12 Vigência da lei A expressão “vigência da lei” traduz o momento em que a lei entra em vigor. Por óbvio, a lei somente poderá entrar em vigor após sua sanção, promulgação e publicação. Explicar-se-á a partir de quando passará a produzir seus efeitos no mundo jurídico. Diz a lei de introdução ao Código Civil Brasileiro: Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1º. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. O dispositivo legal que determina o prazo de 45 dias após a sua publicação utiliza também a expressão “salvo disposição em contrário”. São muito frequentes casos em que o legislador determina de modo contrário; tanto isso é verdade que, ao indagar o cidadão comum sobre o momento em que a lei passa a vigorar, existem grandes possibilidades de afirmar: “Na data de sua publicação”. Tal fato ocorre porque é bastante comum a lei, em seus últimos artigos, mencionar: “Esta lei entra em vigor na data de sua publicação”. Dessa forma, fica claro que, se a lei silenciar, terá sua validade no território nacional 45 dias após a sua publicação; do contrário, entrará em vigor no prazo fixado. 5 10 15 20 25 17 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Cumpre esclarecer que existem normas que somente poderão entrar em vigor no exercício financeiro seguinte ao de sua publicação ou após decorrido o prazo de noventa dias da data em que haja sido publicada, como é o caso das leis tributárias, que, neste momento, não são objeto de estudo. Não pode o legislador fixar prazo de vigência da lei em data anterior à da publicação, uma vez que vigora entre nós o princípio da irretroatividade da lei – princípio este contido no artigo 5° da Magna Carta, no inciso XXXVI: “XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Tal regra comporta uma exceção, que é aquela contida no mesmo artigo 5° da Constituição Federal, no inciso XL: “XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. A lei deixará de produzir os seus efeitos no momento em que ela for revogada. O artigo 2° da lei de introdução ao Código Civil Brasileiro dispõe: Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.Da leitura do referido dispositivo legal verifica-se que existem dois tipos de revogação: a expressa e a tácita. O quadro apresentado por Fuhrer e Milaré (1996, p. 49) é bastante elucidativo: Revogação Expressa – quando a lei nova declara revogada a lei anterior. Tácita a) quando a nova lei é incompatível com a anterior; b) quando a nova lei regula inteiramente a matéria tratada pela anterior. 5 10 15 20 25 18 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 No direito brasileiro, não existe a repristinação da lei; vale dizer que, revogada a lei revogadora, não se restaura o efeito da lei anterior. Assim dispõe a lei de introdução ao Código Civil Brasileiro, em seu artigo 2º, parágrafo terceiro: “§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. Por fim, nunca é demais lembrar que ninguém pode deixar de cumprir a lei por alegar o seu desconhecimento. A lei de introdução ao Código Civil Brasileiro, em seu artigo 3º, é absolutamente clara neste sentido: “Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Se assim não fosse, as normas jurídicas não teriam qualquer eficácia, o que tornaria impossível a vida em sociedade. 2 DIREITO CONSTITUCIONAL O direito constitucional é um ramo do direito público que vai se preocupar com o estudo das Constituições. Colaborando com esse entendimento, Palaía (2002, p. 36) afirma: O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público que tem por objeto estudar de forma sistematizada os princípios e a norma fundamental da ordenação jurídica do país. A norma fundamental é a Constituição, Lei Magna do país, Lei Maior, lei das leis. É no direito constitucional que se estudam os direitos e as garantias individuais, as formas e os regimes de governo, a organização e os poderes do Estado. Esmein (apud Bonavides, (1993, p. 21), falando do conceito clássico, de inspiração liberal, ensina: “(...) o Direito Constitucional tem basicamente por objeto determinar ‘a forma de Estado, a forma de governo e o reconhecimento dos direitos individuais’”. 5 10 15 20 25 30 19 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 2.1 Conceito de Constituição Apesar de existirem diversos enfoques para conceituar a Constituição, o presente estudo seguirá a orientação de Fuhrer e Milaré (1996, p. 56): “Um conjunto de normas, escritas ou costumeiras que regem a organização política de um país”. Acompanhando o raciocínio, quanto ao campo de estudo do direito constitucional, Dower (2005, p. 21-2) apresenta o seguinte conceito de Constituição: A Constituição Federal é o código de leis máximas e fundamentais do país sobre as quais todas as outras devem amoldar-se. É o estatuto da nação que trata dos direitos da pessoa humana, tanto os individuais como os sociais, da organização do Estado, ou seja, da organização dos poderes executivo, legislativo e judiciário, da defesa do Estado e de suas instituições, da ordem social, da ordem econômica e financeira. É o conjunto de normas escritas, impostas pelo Poder Constituinte, as quais têm o poder de dar ao Estado o estatuto fundamental para uma organização básica, que declara os direitos civis, sociais, políticos e econômicos da população e define a sua organização administrativa. 2.2 Poder constituinte Poder constituinte significa o poder de criar ou modificar uma Constituição. Chama-se poder constituinte originário aquele que tem competência para criar uma Constituição, e derivado o de modificar (emendar) parcialmente a Constituição. O poder constituinte originário, no dizer de Kelsen (apud Bastos, 1990, p. 26), “se apoia na norma básica fundamental, 5 10 15 20 25 20 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 que não é uma norma legal positiva (posta), mas uma norma pressuposta”. Nota-se que o poder constituinte originário não sofre limitações de normas postas, diferentemente do poder constituinte derivado, que sofre, entre outras limitações, as das chamadas cláusulas pétreas, contidas no artigo 60, § 4º da Constituição Federal, a seguir transcrito: § 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. 2.3 Controle jurisdicional de constitucionalidade das leis Sabendo-se que a Constituição é a lei maior de um país, por óbvio, todas as normas deverão estar em absoluta harmonia com seu texto. Havendo conflito entre uma norma e a Constituição, deverá o Judiciário se manifestar. Resta saber quem poderá julgar uma norma inconstitucional. O controle de constitucionalidade das leis é concentrado quando apenas um tribunal decide se a norma é ou não constitucional. Quando qualquer tribunal pode decidir, dizemos que o controle é difuso. No Brasil, o controle de constitucionalidade das leis é misto, pois somente o Supremo Tribunal Federal pode decidir de modo principal em um processo sobre a constitucionalidade de uma 5 10 15 20 25 21 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 norma. Já de modo incidental, ou seja, para um determinado caso concreto, qualquer juiz pode decidir sobre a constitucionalidade de uma norma. 2.4 Espécies de Constituição Os autores classificam as constituições quanto à forma, à mutabilidade e à origem. Quanto à forma, podem ser escritas ou costumeiras, segundo Temer (1991, p. 28-9): São escritas aquelas cuja preceituação estruturadora do Estado vem documentada em um texto. Costumeiras são as que se fundamentam nos usos e nos costumes cristalizados pela passagem do tempo e obedecidos por aqueles aos quais se dirigem. Exemplo único, atualmente, é o da Constituição inglesa que, entretanto, se assenta em textos escritos, como a Carta, o Bill of Rights, o Petition of Rights e Act Of Habeas Corpus. Continua o autor apresentando a classificação quanto à origem: É promulgada aquela que se origina de Assembleia popular eleita para exercer a atividade constituinte. É outorgada aquela positiva por um indivíduo ou por um grupo que não recebeu, do povo, diretamente, o poder para exercer a função constituinte. Ainda Temer (1991, p. 29), quanto à mutabilidade, discorre: É rígida aquela que demanda processo especial e qualificado para a sua modificação, da qual deriva a criação de norma constitucional. 5 10 15 20 25 22 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 É flexível aquela inexigente do aludido processo especial, sendo aplicável procedimento legislativo comum para sua modificação. É semirrígida a que existe para modificação de parte de seus dispositivos processo especial e mais difícil do que o comum e em outra parte, procedimento legislativo comum. 2.5 Do Estado O termo Estado, para definir a sociedade politicamente organizada, foi utilizado pela primeira vez por Maquiavel, no seu clássico livro O Príncipe. Fuhrer e Milaré (1996, p. 59) conceituam o Estado como sendo “a pessoa jurídica formada por uma sociedade que vive num determinado territórioe subordinada a uma autoridade soberana”. Os autores, a seguir, mencionam os elementos básicos do Estado: povo, território e poder soberano. O Brasil é uma república presidencialista, federativa, sendo o poder tripartido em Executivo, Legislativo e Judiciário. Esses poderes devem ser harmônicos e independentes entre si. 2.6 Formas e regimes de governo Sendo o governo elemento essencial do Estado, o estudo de suas formas e seus regimes é de fundamental importância. Hoje, pode-se falar que as formas de governo são monarquia e república, e o regime de governo pode ser parlamentarista ou presidencialista. Impossível imaginar o direito sem estar vinculado à ideia de Estado democrático. Sendo assim, o estudo das formas e dos regimes de governo somente pode ser concebido como: • república presidencialista; • república parlamentarista; • monarquia parlamentarista. 5 10 15 20 25 23 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Dentro dessa ideia, vamos compreender inicialmente a forma de governo. A monarquia é a forma de governo na qual o chefe de Estado é o rei e se caracteriza pela vitaliciedade e hereditariedade do cargo. Dallari (1991, p. 191) apresenta como característica da monarquia a irresponsabilidade, do seguinte modo: Irresponsabilidade. O monarca não tem responsabilidade política, isto é, não deve explicações ao povo ou a qualquer órgão sobre os motivos pelos quais adotou certa orientação política. Já na república, o chefe de Estado é o presidente, sendo o cargo temporário e eletivo; diferente do comentário sobre a monarquia, Dallari (1991, p. 193) apresenta a responsabilidade como característica da república: Responsabilidade. O chefe do Governo é politicamente responsável, o que quer dizer que ele deve prestar contas de sua orientação política, ou ao povo diretamente, ou a um órgão de representação popular. O quadro abaixo pode mostrar as vantagens e desvantagens das formas de governo mencionadas: Monarquia República O fato de o rei não ser eleito está acima de paixões políticas transitórias. O presidente, para ser eleito, precisa assumir compromisso com a população. O fato de o rei não ser eleito evita conflitos com o parlamento. O presidente eleito pela população dever estar em sintonia com o parlamento, que também representa a população. Os regimes de governo são presidencialismo e parlamentarismo. Matéria veiculada na revista Veja, de 17 de março 1993 (p. 40), apresenta o parlamentarismo do seguinte modo: 5 10 15 20 24 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Parlamentarismo – O que é • Chefe de Estado e chefe de governo são funções exercidas por duas pessoas diferentes – o primeiro, o rei (nas monarquias) ou o presidente (nas repúblicas), e o segundo, o primeiro-ministro. • Poder Executivo trabalha em estreita associação com Poder Legislativo. • Chefe de governo (primeiro-ministro) é eleito pelo parlamento. • Programa de governo tem de ser votado e aprovado pelo parlamento. • Primeiro-ministro e restante do gabinete podem ser destituídos por moção de desconfiança aprovada pelo parlamento. Em contrapartida, o parlamento pode ser dissolvido pelo chefe de Estado. Adiante, apresenta os aspectos favoráveis e contrários à instituição desse regime de governo (Revista Veja, 1993, p. 44): Argumentos pró Argumentos contra É mais flexível. Se um governo não está funcionando, é derrubado, sem que seja preciso esperar o fim do mandato. É instável. A facilidade em derrubar governos leva à descontinuidade administrativa. Oferece maiores garantias contra golpes. Se um governo vai mal, destitui-se o governo, não o regime. Quando se fazem presentes as condições para o golpe, não há sistema que segure. As ditaduras fascistas europeias surgiram em regimes parlamentaristas. É mais harmonioso. Se o Executivo trabalha associado ao Legislativo, não há conflito entre os dois poderes. Promove a confusão dos poderes, ao misturar Executivo e Legislativo, que assim ficam sem condições de checar um ao outro. É mais colegiado. Portanto, menos personalista. Por isso mesmo, mais democrático e menos arbitrário. Tende ao elitismo, ao confinar a escolha do governo a um grupo de políticos. Deputados ficam mais responsáveis, pois são sócios do governo e, portanto, têm seus destinos ligados a seu sucesso ou fracasso. Tende ao imobilismo, ao depender de consensos partidários ou decisões colegiadas. Ministros ficam mais responsáveis, pois são obrigados a prestar conta de seus atos ao Parlamento. É pouco familiar aos brasileiros. 5 10 15 25 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Sobre o presidencialismo, a mencionada revista (1993, p. 41) discorre do modo a seguir: Presidencialismo – O que é • Chefe de Estado e chefe de governo são funções que se confundem numa só pessoa – o presidente da república. • Poder Executivo é nitidamente separado do Poder Legislativo. Pratica-se de forma rígida a doutrina da separação dos poderes. • Chefe de governo (o presidente, em uma de suas funções) é eleito diretamente pelo povo. • Programa de governo é de autoria e responsabilidade exclusiva do presidente. • Mandato do presidente é fixo, bem como o dos membros do parlamento. Eles só se interrompem, ou se renovam, na data predeterminada para as eleições seguintes, a não ser nos casos excepcionais e graves do impeachment, no que se refere ao presidente, e da cassação, no que se refere aos parlamentares. Apresentando os argumentos a favor e contrários à instituição desse sistema de governo (Revista Veja, 1993, p. 45): Argumentos pró Argumentos contra É mais democrático. Reúne excessivos poderes nas mãos de um só homem. Oferece a garantia de que o Executivo será vigiado pelo Legislativo, uma vez que ambos os poderes são independentes. Apela às emoções fáceis e resvala para a demagogia ao apoiar-se numa concepção carismática da autoridade. É mais ágil, ao prescindir de consultas ou consensos partidários para as decisões. Tende às crises e aos impasses, ao propiciar frequentes confrontos entre os poderes Executivo e Legislativo. É mais progressista, no Brasil, onde o Congresso historicamente tem-se revelado mais resistente do que o Executivo aos avanços sociais e econômicos. Se reflete o desejo do eleitorado num determinado momento, pode deixar de fazê-lo logo no momento seguinte, e, no entanto, tem-se de aguentar o presidente até o fim, uma vez que o mandato é fixo. É mais estável, ao estabelecer mandato fixo para o chefe de governo. A tradição brasileira de golpes, suicídio, renúncia e impeachment demonstrou que não funciona. É mais simples e de mais fácil compreensão pelos brasileiros, e mais de acordo com as tradições do país. 5 10 15 20 26 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 2.7 Dos direitos e deveres individuais e coletivos O capítulo da Constituição Federal que menciona os direitos e garantias fundamentais traz uma das principais conquistas da civilização em prol da pessoa humana, conforme mencionam os autores Fuhrer e Milaré (1996, p. 81). Neste capítulo, a Constituição Federal apresenta uma gama extensa de direitos. Destaca-se, entre outros, o direitoà herança, acesso ao judiciário, direito adquirido, aspectos de direito penal, da propriedade, liberdade de culto, liberdade de associação, direitos dos autores de inventos, entre outros. Não é pouco frequente, em períodos eleitorais, candidatos falarem em alterar certos dispositivos contidos no artigo 5º da Constituição Federal. Importante saber que esse dispositivo é cláusula pétrea da Constituição e, portanto, os direitos nele contemplados não podem ser retirados nem por emenda constitucional. Essa afirmação pode ser comprovada com a leitura do artigo 60, § 4º, já comentado. Vale a pena enfatizar a ideia de que o constituinte, ao inserir esse dispositivo, pretendeu afastar qualquer possibilidade de alteração do texto constitucional no que concerne aos dispositivos mencionados, em especial àqueles tratados no artigo 5º da Constituição Federal do Brasil. Assim, supondo que em uma emenda à Constituição pretende-se proibir a liberdade de culto ou implantar a pena de morte no Brasil, fácil concluir que seria inconstitucional, pois a liberdade de culto e a inviolabilidade do direito à vida estão contidas no artigo 5º, que é cláusula pétrea e, portanto, não pode ser modificado. Esse artigo contempla ainda um dos princípios fundamentais do direito — o da legalidade. Reza o artigo 5º, inciso II, o seguinte: “II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. 5 10 15 20 25 30 27 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Outros princípios contidos no artigo 5º e seus incisos merecem ser comentados. O princípio da igualdade entre homens e mulheres significa dizer que os iguais devem ser tratados de modo igual, e os desiguais, de modo desigual, na medida de sua desigualdade. A integridade física não permite a tortura nem o tratamento desumano ou degradante, não permite violação do direito à vida, assegura aos presos o respeito à integridade física. A liberdade de pensamento, culto, crença religiosa, expressão da atividade artística, científica, de comunicação do exercício de qualquer trabalho ou profissão, o respeito ao sigilo profissional deixam de modo claro o espírito democrático que inspirou a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Dentro desse mesmo espírito democrático, o constituinte garante a liberdade de associação, obviamente, sendo vedado aquele de caráter paramilitar, a liberdade de reunião, de locomoção. A vida privada, a honra e a imagem também foram preocupações para o constituinte, garantindo-se a inviolabilidade da casa, do sigilo de correspondência e da comunicação. Garante o direito à propriedade, mas não de modo ilimitado, pois determina que esta deve atender a sua função social. No âmbito de direito penal, reconhece a instituição do júri, determina a individualização das penas, garante a estrita legalidade, somente permite a prisão por ordem judicial ou flagrante delito, assegurando diversos direitos dos presos. Garante o direito de petição, de obtenção de certidões e informações dos Poderes Públicos. Prevê alguns institutos fundamentais de direito processual, tais como a inafastabilidade do Poder Judiciário de qualquer lesão ou ameaça de direito. 5 10 15 20 25 30 28 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 O habeas corpus contra a ilegalidade, violência ou coação à liberdade de locomoção. Veja-se que os dois últimos institutos comentados foram abolidos quando do Ato Institucional nº 5, mostrando, mais uma vez, o espírito democrático que pairava na Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Ainda estão previstos no artigo 5º da Constituição Federal o mandado de segurança contra lesão ou ameaça a direito líquido e certo e o habeas data para assegurar o conhecimento ou a retificação de informações constantes em bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público. Por fim, merece destaque a ação popular, garantida a qualquer cidadão sua propositura, contra ato lesivo ao patrimônio público. Segue texto de lei retirado do site <http://www.presidencia. gov.br/legislacao/>, referente ao artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988: Título II Dos direitos e garantias fundamentais Capítulo I Dos direitos e deveres individuais e coletivos Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; 5 10 15 20 25 29 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 5 10 15 20 25 30 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunica- ções telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (vide Lei nº 9.296, de 1996); XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridadecompetente; XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; 5 10 15 20 25 30 31 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; XXII – é garantido o direito de propriedade; XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; 5 10 15 20 25 32 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XXVIII – são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas; XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; XXX – é garantido o direito de herança; XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”; XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (Regulamento); 5 10 15 20 25 30 33 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 5 10 15 20 34 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; 5 10 15 20 25 35 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião; LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 5 10 15 20 25 36 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; 5 10 15 20 25 30 37 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; LXVIII – conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por “habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável 5 10 15 20 25 38 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXII – conceder-se-á “habeas-data”: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito; 5 10 15 20 25 39 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 LXXVII – são gratuitas as ações de “habeas-corpus” e “habeas-data”, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania. LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. § 2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 4º. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). 3 DIREITO CIVIL (DA VALIDADE DOS ATOS JURÍDICOS) Quando apresentados os ramos do direito, deve-se entender que a divisão é feita para fins didáticos e, por óbvio, para facilitar 5 10 15 20 25 40 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 a vida dos estudiosos. O direito é único e, frequentemente, vale-se de institutos de um ramo do direito para compreender outro ramo. De fundamental importância para o estudo, de agora em diante, é compreender a validade dos atos jurídicos, prevista no Código Civil Brasileiro. Deixa-se claro que os atos jurídicos são anuláveis se forem praticados com dolo, coação, erro ou fraude contra credores. Texto elaborado em coautoria com Eduardo Gutierrez sobre o assunto, será elucidativo para compreender o assunto em estudo. Mello e Gutierrez (2004, p. 84–6) explicam: (...) sendo assim o presente artigo vai considerar a validade dos atos jurídicos prevista no Código Civil Brasileiro; posteriormente serão examinados o Código Tributário Nacional e a Constituição da República Federativa do Brasil. O antigo Código Civil Brasileiro (Lei 3.071 de 1° de janeiro de 1916) relacionava os requisitos de validade dos atos jurídicos, determinando, em seu artigo 145, os casos em que é nulo o ato jurídico, do seguinte modo: Art. 145. É nulo o ato jurídico: I – quando praticado por pessoa absolutamente incapaz (art. 5º); II – quando for ilícito, ou impossível, o seu objeto; III – quando não revestir a forma prescrita em lei (arts. 82 e 130); IV – quando for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; 5 10 15 20 25 41 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 V – quando a lei taxativamente o declarar nulo ou lhe negar efeito. Art. 146. As nulidades do artigo antecedente podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. Devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do ato ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las ainda a requerimento das partes. No artigo 147, determinava as situações em que era possível tornar o ato jurídico anulável, do seguinte modo: Art. 147. É anulável o ato jurídico: I – por incapacidade relativa do agente (art. 6º); II – por vício resultante de erro, dolo, coação, simulação, ou fraude (arts. 86 a 113). Seguindo a mesma orientação com algumas alterações,que são irrelevantes para nosso estudo, o novo Código Civil Brasileiro (Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002), que entrou em vigor em 10 de janeiro de 2003, disciplina os atos jurídicos nulos, assim: Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 5 10 15 20 25 42 Unidade I Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 IV – não revestir a forma prescrita em lei; V – for preterida alguma solenidade que a lei consiste essencial para sua validade; VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas substituirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º. Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2º. Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Adiante, disciplina os atos jurídicos anuláveis, assim: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; 5 10 15 20 43 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Verifica-se que a legislação civil determina de modo absolutamente claro quais são as situações passíveis de anular ou de tornar um ato nulo. Sendo assim, as normas sempre deverão ser interpretadas considerando as hipóteses de anulação, ou nulidade, dos atos jurídicos, disciplinada no direito civil. 5
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