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44 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Unidade II 5 10 15 20 4 DIREITO DO TRABALHO O direito do trabalho é o ramo do direito que vai estudar o trabalho subordinado e as proteções a este. Após discorrer sobre as definições subjetivistas e objetivistas, Nascimento (1983, p. 32) apresenta sua definição mista: (...) Postas estas considerações, é possível definir direto do trabalho como ramo da ciência do direito que tem por objeto as normas jurídicas e os princípios que disciplinam as relações de trabalho subordinado, determinam os seus sujeitos e as organizações destinadas à proteção desse trabalho em sua estrutura e atividade. Outro conceito que merece destaque é o de Magano (apud Manus, 2002, p. 22): O conjunto de princípios, normas e instituições, aplicáveis à relação de trabalho e situações, tendo em vista a melhoria da condição social do trabalhador, através de medidas protetoras e da modificação das estruturas sociais. 4.1 Conceito de empregado e empregador A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 3°, apresenta o conceito legal de empregado: Art. 3º. Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. 45 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Parágrafo único. Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual. Nota-se que, dentro desse conceito, encontram-se alguns requisitos para caracterização da figura do empregado, quais sejam: • pessoa física; • prestar serviço de natureza não eventual: constante ou contínua; • ao empregador: a favor do empregador e não de modo autônomo. É o empregador que assume os riscos do trabalho; • salário: trata-se de contrato oneroso; o salário é a contraprestação do serviço; • sob dependência: é a subordinação hierárquica. O trabalho é orientado e fiscalizado pelo empregador. Colaborando com essa ideia, Martins (2003, p. 143): Da definição de empregado temos que analisar cinco requisitos: (a) pessoa física; (b) não eventualidade na prestação de serviços; (c) dependência: (d) pagamento de salário; (e) prestação de serviço. No parágrafo único, apresenta a ideia da igualdade que deve haver entre as pessoas, como já comentado no artigo 5° da Constituição. O conceito legal de empregador está no artigo 2° da Consolidação das Leis do Trabalho: Art. 2º. Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade 5 10 15 20 25 46 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. § 1º. Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados. § 2º. Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas. Nesse conceito, verifica-se a amplitude da figura do empregador; apesar de o legislador mencionar a empresa, até os entes despersonalizados poderão assumir o papel de empregador. É fundamental que assuma os riscos da atividade econômica. Vale ressaltar que, frequentemente, as organizações estão assumindo riscos por não compreenderem os conceitos ora estudados. Nos dias atuais, não é pouco frequente, pretendendo-se reduzir custos, uma empresa que, assumindo os riscos da atividade, contrata uma pessoa para prestação de serviços de modo habitual, sob sua subordinação hierárquica e mediante salário e denomina o contrato de prestação de serviços. Como já foi dito, não interessa o nome das coisas, mas sim o regime jurídico adotado. Fácil compreender que, no exemplo apresentado, existe um verdadeiro contrato de trabalho, simulando-se um contrato de prestação de serviços. 5 10 15 20 25 30 47 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 4.2 Justa causa Entendidos os conceitos de empregado e empregador, observa-se que a Constituição Federal apresenta uma gama de direitos para os trabalhadores, entre eles “relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos”. A justa causa vem caracterizada nos artigo 482 e 483 da Consolidação das Leis do Trabalho: Art. 482. Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: a) ato de improbidade; b) incontinência de conduta ou mau procedimento; c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço; d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena; e) desídia no desempenho das respectivas funções; f) embriaguez habitual ou em serviço; g) violação de segredo da empresa; h) ato de indisciplina ou de insubordinação; i) abandono de emprego; 5 10 15 20 25 48 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; l) prática constante de jogos de azar. Parágrafo único. Constitui igualmente justa causa para dispensa de empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito administrativo, de atos atentatórios à segurança nacional (Incluído pelo Decreto-lei nº 3, de 27.1.1966). Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; 5 10 15 20 25 49 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importânciados salários. § 1º. O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. § 2º. No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho. § 3º. Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo (Incluído pela Lei nº 4.825, de 5.11.1965). No artigo 484, o legislador preocupou-se com a culpa recíproca do empregador e do empregado na rescisão do contrato de trabalho: Art. 484. Havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do contrato de trabalho, o tribunal de trabalho reduzirá a indenização a que seria devida em caso de culpa exclusiva do empregador, por metade. 4.3 Direito constitucional do trabalho Segue texto de lei, retirado do site <http://www.presidencia. gov.br/legislacao/>, referente aos artigos 6º ao 11° da 5 10 15 20 25 50 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988: Art. 6o. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 26, de 2000). Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III – fundo de garantia do tempo de serviço; IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; 5 10 15 20 25 51 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; XI – participação nos lucros, ou resultados, desvincula- da da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998); XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho (vide Decreto-lei nº 5.452, de 1943); XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal (vide Decreto-lei nº 5.452, art. 59 § 1º); 5 10 15 20 25 52 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei; XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXIV – aposentadoria; XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006); XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei; XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; 5 10 15 20 25 53 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000); XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998); XXXIV – igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social. Art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: 5 10 15 20 25 30 54 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 I – a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; II – é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;IV – a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; V – ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; VI – é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; VII – o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais; VIII – é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. 5 10 15 20 25 55 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. Art. 9º. É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º. A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º. Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores. 5 DIREITO DO CONSUMIDOR A Constituição de 1988 garante, no artigo 5º, inciso XXXII, a defesa do consumidor. O Código de Defesa do Consumidor foi publicado em 11 de setembro de 1990, constando de seu artigo 118, que entraria em vigor 180 dias após a sua publicação. A referida norma realmente criou uma modificação de comportamento no mercado, seja por parte dos consumidores ou dos fornecedores. Aliás, para esse estudo, tais figuras são fundamentais. 5 10 15 20 25 56 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 5.1 Conceito de consumidor O artigo 2º do Código define consumidor: Art. 2°. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Da leitura do referido dispositivo legal, depreende-se que não apenas quem adquire o produto é o consumidor; por esta razão, Nery Júnior (apud Fazzio Júnior, 2003, p. 594-5) menciona que existem quatro conceitos de consumidor: Conceito-padrão ou standard (art. 2°, caput), segundo o qual consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto ou utiliza serviço como destinatário final; coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo (art. 2°, parágrafo único), a fim de possibilitar a propositura da class action prevista no artigo 81, parágrafo único, nº III; vítimas do acidente de consumo (art.17), a fim de que possa valer-se dos mecanismos e instrumentos do CDC na defesa de seus direitos; aquele que estiver exposto às práticas comerciais (publicidade, oferta, cláusulas gerais dos contratos, práticas comerciais abusivas, etc.) (art.29). 5 10 15 20 25 57 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Dos conceitos mencionados, percebe-se a amplitude e o detalhamento dado pelo legislador às relações de consumo, que a seguir serão estudadas. 5.2 Conceito de fornecedor O legislador também se esmerou ao definir a figura do fornecedor no artigo 3º do Código ora estudado: Art. 3°. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1°. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2°. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Fazzio Júnior (2003, p. 596) menciona que, no CDC, fornecedores são: --o produtor; --o fabricante; --o construtor; --o importador; --o empresário comerciante (fornecedor subsidiário). 5 10 15 20 25 58 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 5.3 Política nacional de consumo Entendidos os conceitos, mister se faz compreender alguns princípios do Código de Defesa do Consumidor, que estão disciplinados nos artigos 4º e 5°: Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995): I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II – ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho; III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre 5 10 15 20 25 59 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV – educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V – incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI – coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII – racionalização e melhoria dos serviços públicos; VIII – estudo constante das modificações do mercado de consumo. Art. 5°. Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintesinstrumentos, entre outros: I – manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; II – instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; III – criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; 5 10 15 20 25 60 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 IV – criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; V – concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. Bittar (1991, p. 29-30) brilhantemente discorre sobre os princípios do Código, ensinando: Da análise desses elementos, pode-se observar que, basicamente, na delineação do Código, foi assentada a tutela do consumidor sob tríplice controle: o do Estado, o do consumidor e de suas entidades de representação e o do próprio fornecedor, prevendo-se ações de ordem privada e também públicas para a garantia e a efetivação de seus direitos. Continua o autor: Com fulcro nos princípios apontados, foram editadas normas protetivas, que o Código declara de ordem pública e de interesse social, a significar que não poderão ser alteradas, ou substituídas pela vontade das partes, considerando-se nula qualquer convenção em contrário (art.1º). 5.4 Direitos básicos do consumidor O Código apresenta os direitos básicos do consumidor nos artigos 6° e 7º: Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; 5 10 15 20 25 61 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX – (Vetado); X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 5 10 15 20 25 30 62 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Art. 7°. Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expe- didos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. Da leitura dos dispositivos mencionados, algumas considerações devem ser feitas. Inicialmente, que os direitos contemplados não são taxativos, como se pode verificar da leitura do caput do artigo 7º. Outro aspecto que merece destaque é que esses direitos são decorrentes da disposição constitucional contida no inciso XXXII do artigo 5º da Constituição Federal e, portanto, cláusula pétrea no dizer de Fazzio Júnior (2003, p. 595): Pode-se afirmar, sem qualquer exagero, que a preservação da segurança física e jurídica do consumidor é cláusula pétrea da CF, que exterioriza na titulação do CDC, como código defensivo. 5.5 Práticas comerciais No capítulo V, o Código disciplina as práticas comerciais mencionando a oferta, a publicidade, as práticas abusivas e os critérios que devem ser respeitados nas cobranças de dívidas: Da Oferta Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de 5 10 15 20 25 63 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto. Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei. Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial. Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; 5 10 15 20 25 30 64 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 II – aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III – rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. Seção III Da publicidade Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1°. É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão,capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2°. É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite a violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz 5 10 15 20 25 65 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3°. Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. § 4°. (Vetado). Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. Seção IV Das práticas abusivas Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994): I – condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; II – recusar atendimento às demandas dos consu- midores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes; III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; 5 10 15 20 25 66 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; VI – executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; VII – repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; VIII – colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); IX – recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994); X – elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços (Incluído pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994); XI – dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999; XII – deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério (Incluído pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995); 5 10 15 20 25 30 67 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 XIII – aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido (Incluído pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999). Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento. Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços. § 1º. Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor. § 2°. Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contraentes e somente pode ser alterado mediante livre negociação das partes. § 3°. O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio. Art. 41. No caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos ao regime de controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar os limites oficiais sob pena de não o fazendo, responderem pela restituição da quantia recebida em excesso, monetariamente atualizada, podendo o consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. 5 10 15 20 25 30 68 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Seção V Da cobrança de dívidas Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Seção VI Dos bancos de dados e cadastros de consumidores Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes. § 1°. Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos. § 2°. A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele. § 3°. O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua 5 10 15 20 25 69 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas. § 4°. Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público. § 5°. Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores. Art. 44. Os órgãos públicos de defesa do consumidor manterão cadastros atualizados de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, devendo divulgá-lo pública e anualmente. A divulgação indicará se a reclamação foi atendida ou não pelo fornecedor. § 1°. É facultado o acesso às informações lá constantes para orientação e consulta por qualquer interessado. § 2°. Aplicam-se a este artigo, no que couber, as mesmas regras enunciadas no artigo anterior e as do parágrafo único do art. 22 deste código. As ofertas e propagandas realizadaspara atrair os consumidores vinculam os fornecedores. É sempre prudente, nas relações de consumo, manter todas as informações obtidas antes da elaboração dos contratos, pois elas obrigam os fornecedores. Fica claro, também, o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor; daí a ideia de o Código tratá-lo como hipossuficiente. 5 10 15 20 25 30 70 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 As cobranças de dívidas não podem utilizar meios vexatórios; sua cobrança indevida obriga o fornecedor ao pagamento em dobro. A propaganda enganosa e a abusiva não se confundem. Fazzio Júnior (2003, p. 607) ensina: Não são a mesma coisa. A primeira diz respeito à exploração da situação de inferioridade do consumidor; a segunda, danosa ainda que potencialmente, ofende a ordem pública, os direitos fundamentais e os valores sociais. 5.6 Da proteção contratual Os contratos também foram minuciosamente tratados pelo legislador, deixando, mais uma vez, reforçada a ideia da hipossuficiência do consumidor. Esmerou-se em detalhes; nota-se que no parágrafo terceiro do artigo 54, recém-introduzido pela Lei nº 11.785, de 22 de setembro de 2008, preocupou-se com o tamanho do corpo da letra dos contratos de adesão. Fica claro que as partes não podem disciplinar de modo livre todas as cláusulas contratuais; as normas do Código são de ordem pública e, portanto, o desrespeito aos seus princípios tornarão a cláusula ou o contrato nulos de pleno direito. Segue texto de lei, retirado do site <http://www.presidencia. gov.br/legislacao/>, referente à parte do Código de Defesa do Consumidor sobre os contratos: Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. 5 10 15 20 25 30 71 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos. Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados. Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito. Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações. 5 10 15 20 25 30 72 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Seção II Das cláusulas abusivas Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsa- bilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III – transfiram responsabilidades a terceiros; IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; V – (Vetado); VI – estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII – determinem a utilização compulsória de arbitragem; VIII – imponham representante para concluir ou rea- lizar outro negócio jurídico pelo consumidor; 5 10 15 20 25 73 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 IX – deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII – obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; XIV – infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; XV – estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; XVI – possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias. § 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II – restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; 5 10 15 20 25 74 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. § 2°. A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes. § 3°. (Vetado). § 4°. É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes. Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I – preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II – montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III – acréscimos legalmente previstos; IV – número e periodicidade das prestações; V – soma total a pagar, com e sem financiamento. 5 10 15 20 25 75 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - Cor re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 § 1°. As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação (Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996). § 2º. É assegurada ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos. § 3º. (Vetado). Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado. § 1°. (Vetado). § 2º. Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo. § 3°. Os contratos de que trata o caput deste artigo serão expressos em moeda corrente nacional. Seção III Dos contratos de adesão 5 10 15 20 25 76 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. § 1°. A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato. § 2°. Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior. § 3°. Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo 12, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor (Redação dada pela Lei nº 11.785, de 2008). § 4°. As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. § 5°. (Vetado). 6 DIREITO ADMINISTRATIVO O direito administrativo é um ramo do direito público que vai estudar a administração pública. Fuhrer e Milaré (1996, p. 110) explicam: “Direito administrativo é o conjunto de normas que regem administração pública”. Referindo-se aos atos administrativos e aos poderes e deveres do administrador público, Fuhrer e Milaré (1996, p. 111) demonstram: 5 10 15 20 25 30 77 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 a) atributos do ato administrativo Imperatividade Presunção de legitimidade Auto-executoriedade b) requisitos do ato administrativo Agente capaz Objeto lícito Forma prescrita ou não proibida Legalidade Moralidade Finalidade de atender ao interesse público e aos objetivos da lei Publicidade Competência do agente Motivação dada pela lei ou justificada pelo agente c) poderes e deveres do administrador público Dever de eficiência Dever de probidade Dever de prestar contas Poder-dever de agir – o administrador público não pode deixar de agir no exercício de suas funções. Os atos administrativos podem ser vinculados ou discricionários; no primeiro, o Poder Público deve praticar nos estreitos limites determinados pela lei; no segundo, há uma certa liberdade para sua decisão. Mello (1995, p. 229) diz: Atos vinculados seriam aqueles em que, por existir prévia e objetiva tipificação legal do único possível comportamento da Administração em face de situação igualmente em termos de objetividade absoluta, a Administração ao expedi-los não interfere com apreciação subjetiva alguma. Atos discricionários, pelo contrário, seriam os que a Administração pratica com certa margem de liberdade de avaliação ou de decisão segundo 5 10 15 78 Unidade II Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 critérios de conveniência e oportunidade formulados por ela mesma, ainda que adstrita à lei reguladora da expedição deles. Os contratos administrativos sempre devem ser precedidos de licitação pública, que podem ser das seguintes espécies, conforme o quadro a seguir apresentado por Fuhrer e Milaré (1996, p. 118): Espécies de licitação Concorrência (contratos grandes) Tomada de preços (contratos médios) Convite (contratos pequenos) Concurso (trabalhos técnicos, científicos ou artísticos) Leilão (venda de bens móveis inservíveis ou produtos apreendidos). A necessidade de licitação é para que o Poder Público contrate sempre o melhor serviço ou obra ao melhor custo. Referências bibliográficas BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. BITTAR, Carlos Alberto. Direito do consumidor: código de defesa do consumidor. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Malheiros,1993. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. DENARI, Zelmo. Curso de direito tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. 5 10 79 INSTITUIÇÕES DE DIREITO Re im pr es sã o de 2 00 9: R ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: L éo 1 2/ 11 /0 9 DOWER, Nelson Godoy Bassil. Instituições de direito público e privado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. FUHRER, Maximilianus Cláudio Américo; MILARÉ, Édis. Manual de direito público e privado. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo de direito. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2003. _________________. Instituições de direito público e privado. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. 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