Buscar

caracterizacao clinica ,metabolica e hormonal de portadores de lipodistrofia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 99 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 99 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 99 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CECÍLIA PACHECO ELIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA, METABÓLICA E HORMONAL DE PORTADORES 
DE LIPODISTROFIA PARCIAL FAMILIAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
2015
 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
 
 
 
 
CECÍLIA PACHECO ELIAS 
 
 
 
 
 
 
CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA, METABÓLICA E HORMONAL DE PORTADORES 
DE LIPODISTROFIA PARCIAL FAMILIAR 
 
 
 Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde, Universidade 
de Brasília, como requisito parcial à obtenção do 
Título de Mestre em Ciências da Saúde. 
 
 
Orientadora: Dra. Angélica Amorim Amato 
Co-Orientadora: Dra. Daniela Espíndola Antunes 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
2015 
 
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio 
convencional ou eletrônico, para fins de ensino, estudo ou pesquisa, desde que 
citada a fonte. 
 
 
 
CECÍLIA PACHECO ELIAS 
 
 
 
 
 
 
CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA, METABÓLICA E HORMONAL DE PORTADORES 
DE LIPODISTROFIA PARCIAL FAMILIAR 
 
 
 Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde, Universidade 
de Brasília, como requisito parcial à obtenção do 
Título de Mestre em Ciências da Saúde. 
 
 Área de concentração: Fisiopatologia Médica 
 
 
Aprovado em: 21 de agosto de 2015 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Profa. Dra. Angélica Amorim Amato (Presidente) 
Universidade de Brasília 
 
Prof. Dr. Luiz Augusto Casulari Roxo de Motta 
Universidade de Brasília 
 
Prof. Dr. Nelson Rassi 
Universidade Federal de Goiás 
 
Profa. Dra. Maria de Fátima de Borin (Suplente) 
Universidade de Brasília 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, meu fiel guardião, por me permitir ser abençoada todos os dias. 
Aos meus avós Cecílio (i.m.), Catarina (i.m.) e Alice (i.m.), meus exemplos de 
vida; a demonstração de que é possível vencer com humildade e simplicidade. 
Aos meus pais, Carlos Luz e Maria José, meus exemplos de amor e 
dedicação, minha eterna gratidão por estarem sempre ao meu lado, me 
oferecerendo todas as oportunidades para vencer e ser feliz. 
À minha irmã Carla, meu exemplo de companheirismo, por também estar 
sempre ao meu lado, me ensinando a ser mais forte e madura. 
Ao meu amor Paulo Júnior, por compreender meus momentos de ausência 
nesses dois anos e por trazer felicidade e paz à minha vida. 
À minha madrinha Rosane, a quem tanto admiro, obrigada pela felicidade de 
tê-la sempre presente nas minhas conquistas, com sua torcida sincera. 
À minha orientadora, professora Angélica, que se tornou um exemplo não 
apenas de profissional, mas de ser humano. Foi um grande presente de Deus e 
sorte ter alguém tão especial nessa conquista. Obrigada pelos ensinamentos, 
dedicação, paciência e por me confortar nos meus momentos de ansiedade. 
À minha co-orientadora, professora Daniela, meu sincero agradecimento por 
me confiar sua idéia original do projeto e por essa oportunidade de estudo, pelas 
orientações e pelos ensinamentos de didática durante as atividades em docência. 
À Michella e Caroline, pela ajuda e dedicação na área de biologia molecular, 
obrigada por fazerem parte da nossa equipe de pesquisa e pela oportunidade de 
prosseguir os estudos nessa área genética. 
À amiga Ana Paula, essencial nesta conquista, muito obrigada, de coração, 
por me acrescentar e acalmar com suas palavras de sabedoria nos meus momentos 
de inexperiência, pela companhia e ajuda durante o curso das matérias, enfim, por 
contar com sua amizade nesta trajetória. 
Aos queridos amigos que moram em Brasília (Patrícia, Pedro, Ana Luiza, 
Camila e Luciana), que me acolheram com tanto carinho em suas casas. Agradeço a 
amizade verdadeira e o apoio especial de vocês. 
Ao Dr. Leonardo Normanha, que gentilmente cedeu a oportunidade de 
relização dos exames de DEXA no Instituto Goiano de Radiologia. 
Ao Laboratório Núcleo, pelo apoio na realização dos exames laboratoriais. 
 
À amiga Roberta a ao Dr. Vinícius, pelo apoio na avaliação cardiológica dos 
pacientes. À Clínica Ser e à colega Cristine, por completar o apoio para realização 
dos exames de ultrassom. 
À Dra. Patrícia Mory e Dra. Regina Moisés, pela oportunidade de realização 
do estudo do gene LMNA em duas pacientes do estudo. 
Aos meus ex-preceptores da residência de Endocrinologia do HGG, meus 
exemplos de profissionais, obrigada por todos os ensinamentos médicos e de vida, 
que até hoje me oferecem. Agradeço, em especial, ao Dr. Haroldo Souza, que me 
ajudou (de forma incondicional) nos períodos em que precisei me ausentar das 
atividades do HGG. 
Às queridas amigas da Endocrinologia (Letícia, Cassiana, Juliana e Suzeth), 
que estão presentes de forma especial em minha vida pessoal e profissional, com 
palavras alegres, de amizade, carinho e incentivo. 
Aos pacientes, que participaram de forma voluntária, prestativa e com o olhar 
de esperança e humildade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Humildade não é se declarar pequeno. Humildade é reconhecer suas forças 
e suas fraquezas e, perante isso, buscar o seu melhor.” 
(Projota) 
 
 
RESUMO 
 
Introdução: As lipodistrofias são condições raras, caracterizadas por redistribuição 
anormal da gordura corporal. A lipodistrofia parcial familiar (LPF) caracteriza-se por 
perda variável de tecido adiposo subcutâneo periférico (membros e glúteos) e 
acúmulo de gordura em outras regiões. Há seis variantes de LPF descritas e foram 
identificadas mutações em cinco genes. Manifestações clínicas incluem resistência 
insulínica (RI) e outros componentes da síndrome metabólica (SM). 
Objetivo: Caracterização clínica, metabólica e hormonal de portadores de LPF. 
Métodos: Foram selecionados pacientes com achados clínicos sugestivos de LPF, 
acompanhados em dois hospitais públicos de Goiânia. Foram avaliadas medidas 
antropométricas [índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal (CA), 
relação cintura/quadril e índice de adiposidade corporal], variáveis bioquímicas e 
hormonais (glicemia, hemoglobina glicada, perfil lipídico, transaminases, PCR, 
cálcio, fósforo, PTH, 25OHD, insulina, leptina, TSH, T4 livre, T3, gonadotrofinas e 
androgênios; resistência insulínica foi avaliada com o índice HOMA-IR). O eixo 
hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) foi avaliado com medidas basais (cortisol, ACTH, 
cortisol salivar noturno e cortisol livre urinário) e dinâmicas (testes de supressão com 
0,5 e 1 mg de dexametasona). Foi realizado ultrassom (US) pélvico nas mulheres, 
para avaliação de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), e US de abdome para 
rastreamento de esteatose hepática (EH). Avaliação cardiovascular foi considerada 
através de exames de ecodopplercardiograma e teste ergométrico. A composição 
corporal foi avaliada pelo método de absorciometria radiológica de dupla energia 
(DEXA), incluindo a razão de massa de gordura troncular sobre a dos membros 
inferiores (FMR). A correlação de medidas antropométricas e relacionadas à 
composição corporal, com variáveis bioquímicas e hormonais, foi avaliada pelo teste 
de Spearman. Resultados: Foram analisados 6 pacientes (5 mulheres e 1 homem), 
entre 17 e 42 anos. Observou-se heterogeneidade fenotípica e perda menos 
acentuada de tecido adiposo periférico nos pacientes mais jovens. O único paciente 
do sexo masculino incluído foi o que apresentou o fenótipo menos grave. Todos os 
pacientes apresentaram resistência insulínica (RI) e 3 exibiramredução da 
concentração circulante de leptina. SOP foi diagnosticada nas 5 mulheres avaliadas. 
Todos os pacientes apresentaram EH e componentes da SM. RI acentuada foi 
observada em 4 pacientes, dos quais 3 não apresentavam obesidade. Nenhum dos 
pacientes apresentou hipercortisolismo. O estudo da composição corporal por DEXA 
envidenciou aumento da quantidade de gordura central e redução da quantidade de 
gordura periférica (FMR > 1,2 e aumento da taxa androide/ginoide). Não houve 
correlações significativas entre medidas antropométricas e da composição corporal 
com variáveis bioquímicas ou hormonais, embora a FMR tenha se correlacionado 
melhor com alterações bioquímicas e hipoleptinemia, quando comparada à CA. 
Conclusão: Foram observadas RI e componentes da SM em todos os pacientes. O 
fenótipo lipodistrófico foi mais leve nos indivíduos mais jovens. Não foram 
observadas alterações do eixo HHA. A avaliação da composição corporal por DEXA 
foi mais sensível que as medidas antropométricas para evidenciar as modificações 
da distribuição de gordura na LPF. Não foram observadas correlações significativas 
entre medidas antropométricas e relacionadas à composição corporal com variáveis 
bioquímicas e hormonais nos pacientes investigados. 
Palavras-chave: tecido adiposo; lipodistrofia; resistência insulínica; síndrome 
metabólica; composição corporal; eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. 
 
ABSTRACT 
 
Background: Lipodystrophies are rare conditions characterized by abnormal 
redistribution of body fat. Familial partial lipodystrophy (FPL) is associated with a 
variable loss of peripheral subcutaneous adipose tissue (legs, arms and gluteal 
reagion) and fat accumulation in other regions. Six FPL variants associated with 
mutations at 5 loci have been described. Clinical manifestations include insulin 
resistance (IR) and other components of the metabolic syndrome (MS). This study 
aims to describe clinical, metabolic and hormonal features of FPL. 
Methods: Patients with clinical features of the syndrome followed at two public 
hospitals in Goiania were included, and had anthropometric (body mass index, IMC, 
abdominal circumference, AC, waist to hip ratio, WHR, and body adiposity index), 
biochemical and hormonal (fasting glucose, glycated hemoglobin, lipid profile, liver 
enzymes, CRP, calcium, phosphorus, PTH, 25OHD, insulin, leptin, TSH, free T4, T3, 
gonadotrophis and androgens) measures analyzed. The hypothalamic-hypophyseal-
adrenal (HHA) axis was assessed by both basal (cortisol, ACTH, nocturnal cortisol 
and urinary free cortisol) and dynamic (0.5 and 1 mg dexamethasone suppression 
tests) tests. Polycistic ovary syndrome (POS) was investigated by pelvic ultrasound 
and hepatic steatosis was assessed with an abdominal ultrasound. Cardiovascular 
evaluation was considered through echocardiogram and ergometric test. Body 
composition was analyzed with dual X-ray energy absorciometry (DEXA), including 
the ratio of troncular fat and legs (FMR). Correlation between clinical, anthropometric, 
biochemical, hormonal and body composition-related variables was analyzed by 
Spearman’s tests. Results: Six (five female and 1 male) patients aged 17 to 42 
years were included. Fat distribution was heterogeneous and younger patients had 
lower intensity loss of peripheral adipose tissue. The only male patient included was 
the one with the less severe phenotype. All patients exhibited insulin resistance (IR) 
and 3 exhibited reduced serum leptin levels. POS syndrome was present in all 5 
female patients included. All patients had components of metabolic syndrome and 
hepatic steatosis. None of the patients had biochemical signs of hypercortisolism. 
Body composition assessed by DEXA showed an increase in central body fat and 
reduced peripheral body fat (FMR > 1.2 and increased android/ginoid rate). There 
were no significant correlations between clinical, anthropometric, biochemical, 
hormonal and body composition-related variables, although FMR seemd to correlate 
better with biochemical abnormalities and hypoleptinemia than AC. Conclusion: IR 
and features of MS were seen in all 6 patients with FPL, and the lipodystrophic 
phenotype was less severe in younger patients. There were no abnormalities in HHA 
activity. Body composition assessed by DEXA showed increased sensitivity to detect 
abnormalities in fat distribution when compared to anthropometric measures. There 
were no significant correlations between clinical, anthropometric, biochemical, 
hormonal and body composition-related variables. 
 
 
Keywords: adipose tissue; lipodystrophy; insulin resistance; metabolic syndrome; 
body composition; hypothalamic-hypophyseal-adrenal axis. 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1. Aspectos fisiológicos das adipocinas secretadas pelo tecido adiposo. 
 
Figura 2. Formação da gotícula de gordura no adipócito. 
 
Figura 3. Fotografias da paciente P1, com fenótipo típico da lipodistrofia (perda de 
gordura em regiões de membros e glúteo), evidenciando o aspecto de 
pseudohipertrofia muscular e flebomegalia. 
 
Figura 4. Fotografias da paciente P3, também com fenótipo típico de perda adiposa 
periférica da lipodistrofia parcial familiar. Nota-se o acúmulo adiposo dorsocervical, 
troncular e abdominal. 
 
Figura 5. Fotografias da paciente P5, com apresentação fenotípica lipodistrófica. Os 
locais de acúmulo anormais de gordura são evidentes (face, pescoço, 
supraclavicular, troncular e abdominal), com aspecto cushingoide. 
 
Figura 6. Fotografias das pacientes P3 (A, B) e P4 (C, D), mostrando acantose 
nigricans acentuada em regiões cervical e axilar. 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1. Características clínicas dos seis pacientes com diagnóstico clínico 
sugestivo de lipodistrofia parcial familiar. 
 
Tabela 2. Características antropométricas dos seis pacientes com diagnóstico clínico 
sugestivo de lipodistrofia parcial familiar. 
 
Tabela 3. Características bioquímicas dos seis pacientes com diagnóstico clínico 
sugestivo de lipodistrofia parcial familiar. 
 
Tabela 4. Características hormonais dos seis pacientes com diagnóstico clínico 
sugestivo de lipodistrofia parcial familiar. 
 
Tabela 5. Comorbidades metabólicas e resultado da avaliação cardiovascular dos 
seis pacientes com diagnóstico clínico sugestivo de lipodistrofia parcial familiar. 
 
Tabela 6. Avaliação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal dos seis pacientes com 
diagnóstico clínico sugestivo de lipodistrofia parcial familiar. 
 
Tabela 7. Avaliação da composição corporal por DEXA dos seis pacientes com 
diagnóstico clínico sugestivo de lipodistrofia parcial familiar. 
 
Tabela 8. Correlação entre a idade e variáveis antropométricas, medidas da 
composição corporal (DEXA) e metabólicas, nos seis pacientes com diagnóstico 
clínico de LPF. 
 
Tabela 9. Correlação entre a FMR e variáveis metabólicas, nos seis pacientes com 
diagnóstico clínico de LPF. 
 
Tabela 10. Correlação entre a CA e variáveis metabólicas, nos seis pacientes com 
diagnóstico clínico de LPF. 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
%TBF - percentual de gordura corporal total 
11HSD1 - 11-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 1 
AACE – American Association of Clinical Endocrinologists - Associação Americana 
de Endocrinologistas Clínicos 
ACTH – hormônio adrenocorticotrófico 
AGL- ácidos graxos livres 
AGPAT2 – gene que codifica a 1-acylglycerol-3-phosphate O-acyltransferase 2 
AKT2 - gene v-AKT murine thymoma oncogen homolog 2 (AKT2) ou gene da 
proteinoquinase B (PKB) 
ALT- Aspartato alaninotransferase 
AST - Aspartato aminotransferase 
BIA- bioimpedanciometria 
BSCL2- gene codificador da seipina 
C/EBP- proteínas de ligação ao acentuador CCAAT 
CA- circunferência abdominal 
CAV1 –gene codificador da caveolina 1 
CBG- cortisol-binding globulin - globulina ligadora do cortisol 
CCAAT – citosina-citosina-adenina-adenina- timina 
CIDEC- gene que codifica a proteína cell death-inducing Dffa-like effector C 
CLU- cortisol livre urinário de 24 horas 
CPD- cortisol pós-dexametasona oral 
CQ- circunferência do quadril 
CT- colesterol total 
DAC- doença arterial coronariana 
DEXA – dual-energy x-ray absorptiometry - absorciometria de raio X de dupla 
energia 
Dexa- dexametasona 
DHEA- deidroepiandrosterona 
DLP - dislipidemia 
DM – diabetes mellitus 
EH- esteatose hepática 
 
FMR – fat mass ratio –razão de massa de gordura (tronco/ membros inferiores) 
FSH- hormônio folículoestimulante 
GGT – Gamaglutamiltransferase 
GH- growth hormone - hormônio do crescimento 
Gj- glicemia de jejum 
GPP- glicemia pós-prandial 
HAS- hipertensão arterial sistêmica 
HbA1c – hemoglobina glicada A1c 
HC-UFG – Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás 
HDL- lipoproteína de alta densidade 
HGG- Hospital Geral de Goiânia – Dr. Alberto Rassi 
HHA- eixo hipotálamo-hipófise-adrenal 
HIV - Human Immunodeficiency Virus - Vírus da Imunodeficiência Humana 
HOMA-IR- homeostatic model assessement, insulin resistance - modelo de avaliação 
da homeostase para resistência à insulina 
IAC – índice de adiposidade corporal 
IDF- International Diabetes Federation - Federação Internacional de Diabetes 
IGF-1- insulin-like growth fator 1- Fator de crescimento semelhante à insulina 
IGFBPs- insulin-like growth factor-binding protein – fator de crescimento ligada a 
proteína semelhante a insulina 
IL-1- interleucina 1-β 
IL-6 – interleucina 6 
IMC- índice de massa corporal 
LDL lipoproteína de baixa densidade 
LH- hormônio luteinizante 
LMNA – gene codificador da lamina nuclear A/C 
LPF- lipodistrofia parcial familiar 
MCP-1- proteína quimiotáxica do monócito- 1 
MMII- membros inferiores 
PAI-1 – inibidor do ativador de plasminogênio-1 
PCRUS- proteína C reativa ultrassensível 
PLIN1- gene que codifica a perilipina 1 
PPARγ ou PPARG - peroxisome proliferator-activated receptor gamma - receptor 
gama ativado por proliferadores peroxissomais 
 
PTH- paratormônio 
PTRF- fator de transcrição da caveolae 
RCQ- relação cintura/quadril 
RI – resistência insulínica 
RM- ressonância magnética 
SC- síndrome de Cushing 
SDHEA- sulfato de deidroepiandrosterona 
SHBG – sex hormone binding globulin - globulina ligadora de hormônios (esteroides) 
sexuais 
SM- síndrome metabólica 
SOP- síndrome dos ovários policísticos 
SREBP-1 – sterol-regulatory elemento-binding protein 1 c 
T3L – hormônio triiodotironina - fração livre 
T4L – hormônio tetraiodotironina- fração livre 
Taxa A/G – taxa de massa de gordura androide/ ginoide 
TC – tomografia computadorizada 
TG - triglicerídeos 
TNF-α – fator de necrose tumoral α 
TOTG – teste oral de tolerância a glicose 
TSH- hormônio tireotrófico (tireoestimulante) 
US- ultrassom 
Vaspin – visceral adipose tissue-derived serpin – serpina derivada do tecido adiposo 
visceral 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17 
2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 19 
2.1 TECIDO ADIPOSO E SUA RELEVÂNCIA CLÍNICA........................................ 19 
2.2 SÍNDROMES LIPODISTRÓFICAS .................................................................. 21 
2.3 LIPODISTROFIA PARCIAL FAMILIAR ............................................................ 23 
2.3.1 Achados Clínicos para Suspeita Diagnóstica ............................................ 27 
2.3.2 Eixos Hormonais ....................................................................................... 28 
2.3.2.1 Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal ...................................................... 28 
2.3.2.2 Outros eixos hormonais ...................................................................... 29 
2.3.3 Adipocinas na Síndrome Lipodistrófica ..................................................... 30 
2.3.4 Métodos de Avaliação da Composição Corporal ...................................... 30 
2.3.5 Perspectivas Terapêuticas ........................................................................ 31 
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 33 
3.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 33 
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 33 
4 MÉTODOS ............................................................................................................. 34 
4.1 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ........................................................................... 34 
4.2 DESENHO DO ESTUDO E CRITÉRIOS DE SELEÇÃO ................................. 34 
4.3 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E ANTROPOMÉTRICAS ............................. 35 
4.4 AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA E HORMONAL BASAL ........................................ 37 
4.5 AVALIAÇÃO DO EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL ........................ 39 
4.6 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL ................................................ 40 
4.7 AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA E CARDIOVASCULAR ..................... 41 
4.8 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................ 41 
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 42 
5.1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DOS PORTADORES DE LIPODISTROFIA 
PARCIAL FAMILIAR ESTUDADOS ....................................................................... 42 
5.2 CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS DOS PORTADORES DE 
LIPODISTROFIA PARCIAL FAMILIAR ESTUDADOS .......................................... 48 
5.3 CARACTERÍSTICAS HORMONAIS DOS PORTADORES DE LIPODISTROFIA 
PARCIAL FAMILIAR ESTUDADOS ....................................................................... 49 
 
5.4. AVALIAÇÃO DE OUTRAS COMORBIDADES METABÓLICAS E DOENÇA 
CARDIOVASCULAR ............................................................................................. 52 
5.5 AVALIAÇÃO DO EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL ........................ 54 
5.6 ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CORPORAL POR DEXA .................................. 56 
5.7 RESULTADOS ANALÍTICOS .......................................................................... 56 
6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 58 
6.1 RECONHECIMENTO CLÍNICO DA LIPODISTROFIA PARCIAL FAMILIAR ... 58 
6.2 ACHADOS BIOQUÍMICOS E METABÓLICOS ................................................ 59 
6.3 PERFIL HORMONAL ....................................................................................... 60 
6.3.1 Leptinemia ................................................................................................. 60 
6.3.2 Atividade do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal ........................................ 62 
6.3.3 Outros Eixos Hormonais ........................................................................... 64 
6.4 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL ................................................ 65 
6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS ........................... 67 
7 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 68 
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 69 
17 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A maiorcompreensão do tecido adiposo como órgão endócrino permitiu o 
reconhecimento de síndromes relacionadas a anormalidades na distribuição da 
gordura corporal, denominadas lipodistrofias. A condição clínica lipodistrófica 
envolve um grupo bastante heterogêneo de doenças raras, caracterizado por 
diferentes graus de perda de tecido adiposo, essencialmente subcutâneo, além de 
poder estar associado a depósitos aumentados de gordura em outros segmentos 
corporais, como tronco e abdome. A classificação das síndromes lipodistróficas é 
baseada na extensão ou padrão de perda de gordura (generalizada ou parcial), 
assim como em seu caráter genético ou adquirido (1-6). 
Dentre as síndromes lipodistróficas hereditárias, o subtipo parcial demonstra 
importância científica por representar um modelo “natural” para compreensão das 
funções metabólicas dos diferentes depósitos de tecido adiposo. Pacientes com 
lipodistrofia parcial familiar (LPF) apresentam grande diversidade fenotípica (2,5,6). 
São descritas seis variantes clínicas, conforme as decobertas genéticas. Até o 
momento, já foram identificados cinco genes envolvidos, com destaque para o gene 
codificador da lamina nuclear A/C (LMNA) e o gene que codifica o receptor gama 
ativado por proliferadores peroxissomais (PPARγ) (1-3). A perda de gordura 
subcutânea nas extremidades e região glútea, classicamente próxima ao período 
puberal, representa característica comum das variantes clínicas da doença. 
Contudo, a perda adiposa pode se iniciar em qualquer fase da vida, desde a infância 
até a idade adulta (1,6,7). 
Alterações metabólicas são frequentes na LPF, destacando-se a resistência 
insulínica (RI) e componentes da síndrome metabólica (SM), como diabetes mellitus 
tipo 2 (DM 2) de início precoce, hipertrigliceridemia grave e baixas concentrações 
séricas de lipoproteína de alta densidade (HDL). Outras manifestações comuns são 
hipertensão arterial (HAS), esteatose hepática (EH), Síndrome dos Ovários 
Policísticos (SOP) e acantose nigricans (2,3,6-8). 
 A gravidade das complicações parece estar mais relacionada ao grau de 
perda de gordura subcutânea, o que é consistente com o papel protetor deste 
depósito, do ponto de vista metabólico (2,3). A redistribuição e deposição ectópica 
da gordura corporal, com maior acúmulo de triglicerídeos em órgãos como fígado, 
18 
 
coração e músculo esquelético, contribuem para o desenvolvimento de resistência 
insulínica aumentada (3,9). Além disso, a alteração da liberação de adipocinas nos 
pacientes lipodistróficos, como redução da liberação de adiponectina e leptina, 
apresentam importante papel no comprometimento à sensibilidade insulínica (7,10). 
A RI acentuada é observada mesmo na ausência de obesidade (2,3,9). 
Os indivíduos com LPF frequentemente são confundidos com portadores de 
síndrome de Cushing (SC), dada a sua similaridade fenotípica com o 
hipercortisolismo (1,2,11). É possível que exista uma hiperativação do eixo 
hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), à semelhança do que ocorre na obesidade 
comum (12), mas este aspecto ainda não foi estudado especificamente na LPF, para 
nosso conhecimento. 
A diversidade de fenótipos na LPF pode estar associada a mutações 
autossômicas dominantes (mais comum) ou recessivas. Os estudos em biologia 
molecular, envolvendo a síndrome, ainda são insuficientes para elucidação completa 
de suas bases genéticas, uma vez que quantidade considerável de pacientes com 
fenótipo clínico não apresenta mutação em nenhum dos genes candidatos (2,3,13). 
A grande variabilidade fenotípica e clínica da LPF, com formas típicas e 
atípicas descritas na literatura, tornam necessários mais estudos envolvendo a 
caracterização clínica, bioquímica e hormonal de portadores desta condição, visto 
que o diagnóstico ainda é essencialmente clínico, devido à dificuldade prática do 
diagnóstico molecular. É possível, também, que a raridade da doença deva-se, em 
parte, ao subdiagnóstico, uma vez que muitos pacientes são considerados 
portadores de obesidade ou síndrome metabólica comum (2,7,9). Nesse contexto, 
documentos que auxiliem o reconhecimento desta condição pela comunidade clínica 
se fazem necessários. 
A melhor caracterização clínica, bioquímica e hormonal de portadores de 
lipodistrofias, assim como de sua fisiopatologia, poderá contribuir para o 
reconhecimento mais precoce da doença e de suas complicações e, 
consequentemente, para melhor abordagem terapêutica, possível prevenção de 
consequências graves (como mortalidade por doença cardiovascular precoce), 
estudo e orientação dos familiares. Além disso, a caracterização de eixos hormonais 
em pordadores de LPF apresenta o potencial de contribuir para melhor 
entendimento das funções metabólicas do tecido adiposo e de suas interferências 
com outros eixos hormonais e sistemas orgânicos (14). 
19 
 
2 REVISÃO DE LITERATURA 
 
2.1 TECIDO ADIPOSO E SUA RELEVÂNCIA CLÍNICA 
 
O tecido adiposo humano tem se revelado tema de grande interesse 
científico, sobretudo a partir da década de 1990, quando deixou de ser interpretado 
como um simples isolante térmico e depósito de gordura e ganhou destaque como 
um verdadeiro órgão endócrino (15,16). A importância metabólica do tecido adiposo, 
em grande parte, advém da sua capacidade de secretar hormônios e apresentar 
receptores, de modo a influenciar o balanço energético (incluindo mecanismos de 
fome e saciedade), sensibilidade e secreção insulínica, metabolismo lipídico e 
função endotelial, além de desempenhar funções em respostas inflamatórias e 
imunológicas, conforme apresentado na Figura 1 (16,17). Os hormônios secretados 
pelo tecido adiposo recebem a denominação de adipocinas e suas ações interferem 
em órgãos como fígado, coração, pâncreas e músculo esquelético (17,18). 
Entre as adipocinas, a leptina foi a primeira a ser identificada, em 1994, e 
destacou o importante papel do tecido adiposo na homeostase enérgica corporal. A 
partir de então houve a identificação de diversos desses hormônios. Os efeitos 
fisiológicos das adipocinas deixaram clara a relação entre obesidade e doenças do 
tecido adiposo com desfechos metabólicos e cardiovasculares (18). 
 
 
Figura 1. Aspectos fisiológicos das adipocinas secretadas pelo tecido adiposo. Adaptado de 17. 
 
20 
 
A compreensão de doenças associadas ao tecido adiposo, sobretudo aquelas 
de etiologia genética, envolve o conhecimento do processo de adipogênese e toda 
sua complexidade envolvendo a determinação e diferenciação adipocitária. Os 
adipócitos são derivados das células tronco do mesoderma e o processo de 
adipogênese é regulado por fatores de transcrição (dentre eles, destacamos o 
PPAR e as proteínas de ligação ao acentuador CCAAT, C/EBP), além de sofrer 
influência de fatores ambientais e de vias de sinalização endógenas (15,19). 
É importante ressaltar que nem todos os adipócitos são iguais do ponto de 
vista morfofuncional e nem sempre é a quantidade de gordura que será o 
determinante do processo saúde-doença, mas sim o local onde se deposita. As 
diferenças metabólicas entre distintos depósitos de tecido adiposo são hoje bem 
estabelecidas, assim como suas correlações clínicas peculiares (19-21,24), 
conforme apresentado no Quadro 1. 
 
 Quadro 1 - Comparação entre o adipócito visceral e o subcutâneo (20,21,24) 
Característica Adipócito Visceral Adipócito Subcutâneo 
Volume Maior Menor 
Capacidade de diferenciação 
e proliferação 
 
Baixa 
 
Alta 
Número de receptores 
beta-adrenérgicos 
Maior Menor 
Número de receptores de 
insulina 
Menor 
(maior RI) 
Maior 
(maior RI) 
Lipólise 
Maior taxa de liberação 
de AGL 
Menor taxa de liberação deAGL 
Capacidade de armazenar 
gordura 
Menor Maior 
 RI: resistência insulínica; AGL: ácidos graxos livres 
 
O adipócito visceral, devido à sua menor capacidade de armazenamento 
lipídico, libera quantidade relevante de ácidos graxos livres, que se depositam de 
forma anormal em órgãos como fígado, pâncreas e músculo esquelético, 
acarretando disfunção mitocondrial e resistência insulínica nestes tecidos (22-24). 
Esse processo é denominado deposição ectópica de gordura e suas consequências 
metabólicas adversas são conhecidas como lipotoxicidade. A gordura visceral 
representa, assim, importante fator preditor de complicações associadas à 
resistência insulínica e síndrome metabólica, enquanto a gordura subcutânea, 
especialmente gluteofemoral, demonstra apresentar um efeito protetor do ponto de 
21 
 
vista metabólico (20-22,24). 
Esses aspectos, em conjunto, indicam a relevância clínica do tecido adiposo, 
extensamente estudado nos últimos 20 anos, não somente pelas condições 
associadas à sua disfunção, mas também pelo potencial terapêutico das adipocinas 
na abordagem dessas patologias (17,18). 
 
2.2 SÍNDROMES LIPODISTRÓFICAS 
 
No processo de descobertas científicas relacionadas ao tecido adiposo, 
emergiu o conhecimento de um grupo de doenças associadas à distribuição da 
gordura corporal que, embora raras, representam um modelo particular de estudo da 
biologia do adipócito. Esse grupo de doenças corresponde às lipodistrofias, 
condições que se caracterizam essencialmente pela perda, seletiva ou total, de 
tecido adiposo (1-6). Nas formas seletivas, associado à lipoatrofia, pode haver 
acúmulo anormal (hipertrofia) de tecido adiposo em outras regiões, também de 
forma variável (2-7,11). 
As síndromes lipodistróficas foram descritas na literatura há mais de 100 
anos, mas os progressos nos estudos de biologia molecular se tornaram mais 
evidentes nas últimas duas décadas, no intuito de elucidar suas bases genéticas. As 
lipodistrofias genéticas apresentam prevalência estimada menor do que 1 a cada 1 
milhão de casos detectados. Entretanto, especula-se que somente 1/4 dos pacientes 
sejam reconhecidos (2). 
A classificação dessas doenças é baseada na extensão ou padrão de perda 
de gordura (generalizada ou parcial/seletiva), assim como em seu caráter genético 
ou adquirido. Dessa forma, uma classificação simplificada permite destacar quatro 
subtipos: (i) lipodistrofia congênita generalizada (Síndrome de Berardinelli-Seip); (ii) 
lipodistrofia adquirida generalizada (Síndrome de Lawrence); (iii) lipodistrofia parcial 
familiar (LPF) e (iv) lipodistrofia parcial adquirida, destacando-se neste grupo a 
lipodistrofia mais frequente, associada ao tratamento antirretroviral em pacientes 
com vírus da imunodeficiência humana (HIV), e a Síndrome de Barraquer-Simons, 
de possível etiologia autoimune (2-7,11). 
A característica central das lipodistrofias é a perda do tecido adiposo 
subcutâneo e, com isso, são comuns resistência insulínica e alterações metabólicas 
a ela associadas, como diabetes mellitus, hipertrigliceridemia e esteatose hepática. 
22 
 
A gravidade das complicações metabólicas parece ser proporcional ao grau de 
perda da gordura subcutânea (2,3,7,9). No entanto, essas alterações metabólicas 
podem não estar presentes ou acontecer de forma leve em alguns subtipos de 
lipodistrofia, como na Síndrome de Barraquer-Simons (7,9). O quadro 2 apresenta, 
resumidamente, os aspectos clínicos das principais síndromes lipodistróficas. 
 
Quadro 2 - Classificação e aspectos clínicos das principais lipodistrofias (9) 
Classificação Etiologia Principais aspectos 
Lipodistrofias Genéticas 
1. Generalizada 
 
Síndrome de Berardinelli-Seip 
Mutações nos genes 
AGPAT2, BSCL2, PTRF e 
CAV1 
Lipodistrofia generalizada 
grave, acantose nigricans, 
hiperfagia, hiperlipidemia, 
hiperinsulinemia, diabetes 
2. Lipodistrofia Parcial Familiar 
 
Tipo 1 (Kobberling) Desconhecida 
Perda adiposa subcutânea em 
membros e glúteos; 
lipohipertrofia em regiões de 
face, pescoço e/ou tronco; 
diabetes e hipertrigliceridemia 
Tipo 2 (Dunnigan) Mutações no gene LMNA 
Tipo 3 Mutação no gene PPARG 
Tipos 4, 5 e 6 
Mutação nos genes AKT2, 
PLIN1 e CIDEC 
Lipodistrofias Adquiridas 
 
1. Generalizada 
 
Síndrome de Lawrence 
Desconhecida Ausência generalizada de 
tecido adiposo, resistência 
insulínica, diabetes, esteatose 
hepática 
Associada a paniculite 
2. Parcial 
Síndrome Barraquer-Simons 
Desconhecida Perda assimétrica da gordura 
subcutânea, desordens 
metabólicas leves 
 
Associada a autoimunidade 
Lipodistrofia associada ao HIV Drogas antirretrovirais 
Lipoatrofia periférica e face, 
lipohipertrofia dorsocervical e 
central, diabetes, dislipidemia 
 
Os instrumentos para classificação das lipodistrofias parecem simples e de 
fácil compreensão. Entretanto, nem sempre são suficientes para o reconhecimento 
23 
 
da doença, visto que se trata de um grupo heterogêneo tanto no quesito clínico (com 
padrões variáveis de perda adiposa e manifestações clínicas em um mesmo subtipo 
de lipodistrofia), quanto genético (7). Considerando as dificuldades diagnósticas e na 
tentativa de organizar achados clínicos que permitam o reconhecimento das 
lipodistrofias, foi desenvolvido um consenso pela Associação Americana de 
Endocrinologistas Clínicos, publicado no ano de 2013, e apresentado no Quadro 3 
(7). 
 
Quadro 3 - Características que aumentam a suspeita clínica das lipodistrofias (7) 
Característica central da lipodistrofia 
 Perda ou ausência de gordura 
Característica clínica central para a lipodistrofia parcial familiar 
 Perda da gordura subcutânea corporal, tipicamente próxima ou pouco depois da 
puberdade, em extremidades e/ou glúteos 
 Acúmulo de gordura em face, pescoço ou região intra-abdominal 
Características de suporte clínico para lipodistrofia 
 Presença de diabetes com evidência de resistência insulínica grave 
 Outras evidências de resistência insulínica grave 
- acantose nigricans 
- SOP ou sintomas de hiperandrogenismo, oligomenorreia e/ou ovários policísticos 
 Presença de hipertrigliceridemia 
 Evidência de esteatose hepática ou esteatohepatite 
 História familiar de aparência física semelhante e/ou história de perda adiposa 
 Musculatura proeminente e flebomegalia em extremidades 
 Hiperfagia 
 Hipogonadismo secundário (homens) ou amenorreia (mulheres) 
SOP: Síndrome dos Ovários Policísticos 
 
2.3 LIPODISTROFIA PARCIAL FAMILIAR 
 
Entre as lipodistrofias hereditárias, o subtipo parcial familiar tem sido alvo de 
diversas pesquisas, contribuindo para compreensão das funções metabólicas do 
tecido adiposo subcutâneo. A primeira descrição da síndrome de LPF foi realizada 
por Wier-Mitchell em 1885 (9). Quase 90 anos depois, foi identificado o primeiro 
gene relacionado à doença (o gene LMNA) e, desde então, foram identificados 
24 
 
outros genes associados à síndrome, permitindo classificar a LPF em seis subtipos 
principais. A maior parte dos pacientes apresenta padrão de herança autossômica 
dominante (2,3,6,9). A real prevalência da LPF não é bem estabelecida, por 
depender de casos esparsos relatados, dada a raridade da doença (9). Além disso, 
estima-se um provável subdiagnóstico desses pacientes (2,7). 
A LPF tipo 1 é também denominada síndrome de Kobberling, em alusão ao 
autor que a descreveu em 1975, caracterizando-a como perda significativa do tecido 
adiposo subcutâneo nos membros e glúteos em pacientes com diabetes e 
hipertrigliceridemia. Trata-se de entidade rara, com menos de 20 casos descritos na 
literatura e ainda nãose conhece seu padrão de herança e etiologia. A maior parte 
dos casos publicados foi no sexo feminino (9). Um recente estudo questionou se 
seria mais uma condição subdiagnosticada do que propriamente rara (25). 
A LPF tipo 2 é destacada como a variante mais comum, com prevalência 
estimada de 1 em 15 milhões de casos (5) e com a maior quantidade de casos 
descritos na literatura (> 300 casos). Também recebe a denominação de Síndrome 
de Dunnigan, em alusão ao autor que descreveu a doença pela primeira vez no ano 
de 1974 (9). A base genética envolve o gene que codifica a lamina A/C (LMNA), com 
12 exons e localizado no cromossomo 1q21-22 (26,27). Um aspecto interessante da 
LPF tipo 2 é sua grande variabilidade fenotípica, mesmo entre pacientes com uma 
mesma mutação (2,11,28). 
Os mecanismos resultantes da mutação no LMNA parecem envolver tanto 
alterações estruturais da lamina nuclear, quanto interferências nos comandos de 
transcrição, na organização da heterocromatina ou na função e posicionamento dos 
poros nucleares (13,27). Neste subtipo da LPF, são encontradas formas típicas e 
atípicas de lipodistrofia parcial; nestas últimas a perda periférica de tecido adiposo 
subcutâneo é mais sutil (27,28). Mutações no LMNA podem resultar em outras 
doenças, entre elas distrofias musculares, cardiomiopatias e defeitos da condução 
nervosa. Esse amplo espectro fenotípico caracteriza as chamadas “laminopatias”, 
termo que vem sendo utilizado para descrever as várias doenças relacionadas a 
mutações neste gene (13,22,27,28). No caso da síndrome de Dunnigan, a 
característica clínica predominante é a resistência insulínica, de forma que esta 
variante de LPF é referida como uma “laminopatia metabólica”. Além disso, há 
indícios de que a presença de mutações no LMNA não seja tão incomum em 
portadores de SM, sem os achados clássicos da síndrome de Dunnigan (29). 
25 
 
A LPF tipo 3 está associada ao gene que codifica um fator de transcrição com 
importante função na adipogênese e na homeostase metabólica: o receptor gama 
ativado por proliferadores peroxissomais (PPAR). Esta forma de LPF parece ser a 
segunda mais frequente e o primeiro caso foi relatado em 2003 (9). O PPAR é um 
membro da superfamília dos receptores nucleares e regula a expressão de genes 
envolvidos na diferenciação adipocitária, metabolismo lipídico, resposta inflamatória, 
sensibilidade insulínica e proliferação celular. Mutações no PPARγ que acarretam 
LPF são consideradas de baixa frequência na literatura, com estimativa de 1 em 
100.000 casos nos descendentes norte-europeus (30). 
Existem dois mecanismos propostos para explicar a fisiopatogenia da LPF por 
mutações do PPARγ: a “dominância negativa” (interferência direta do produto do 
alelo mutado sobre a função do alelo sem mutação) ou “haploinsuficiência”, que 
acarretaria redução da expressão do gene em 50% (13). Os pacientes com essa 
forma de LPF apresentam um fenótipo mais leve de perda de tecido adiposo 
subcutâneo periférico, porém as complicações metabólicas da resistência insulínica 
aparecem com maior gravidade, o que sugere que a mutação do PPARG tenha 
impacto sobre outros sítios chave da ação da insulina, além do tecido adiposo 
(3,13). 
Por representarem os dois subtipos mais frequentemente descritos de LPF, é 
possível encontrar na literatura algumas comparações entre a LPF tipo 2 e a LPF 
tipo 3, conforme apresentado no Quadro 4. 
 
Quadro 4 - Comparações entre as duas variantes mais comuns de lipodistrofia parcial 
familiar (13) 
Características LPF tipo 2 LPF tipo 3 
Idade comum de início Puberdade Mais tardio 
Perda adiposa periférica subcutânea Mais grave Sutil (MMII: predomínio distal) 
Depósito troncular Menor Maior 
Acantose nigricans Presente Tipicamente presente 
Hirsutismo Raro Comum 
SOP Infrequente Frequente 
Complicações metabólicas 
Menor 
gravidade 
Maior gravidade e mais precoces 
LPF: lipodistrofia parcial familiar; MMII: membros inferiores; SOP: síndrome dos ovários policísticos; 
DM: diabetes mellitus. 
26 
 
O subtipo 4 da LPF envolve mutação missense no gene v-AKT murine 
thymoma oncogen homolog 2 (AKT2) ou gene da proteinoquinase B (PKB), que 
exerce importante papel na sinalização insulínica. Esta mutação foi descrita no ano 
de 2004, em uma família com quadro de resistência insulínica acentuada, na idade 
adulta, exibindo transmissão dominante em heterozigoze (31). Em estudo posterior 
que objetivou investigar o papel deste gene nas lipodistrofias parciais e em doenças 
metabólicas comuns, foi observada baixa frequência de mutações no AKT2/PKB 
entre portadores de LPF e não foi observada associações entre variantes comuns 
deste gene e alterações metabólicas frequentes, como diabetes mellitus tipo 2 (32). 
A LPF tipo 5, com padrão de herança autossômica dominante (33), está 
relacionada à mutação no gene que codifica a perilipina 1 (PLIN1), localizado no 
cromossomo 15q26. Esta proteína está presente de forma abundante na gotícula de 
gordura no adipócito, mais especificamente em sua superfície, e desempenha 
funções críticas na regulação do armazenamento lipídico e da lipólise (27). A 
proteína mutada apresenta falha no seu papel de inibir a lipólise em condição basal 
e resulta em gotículas lipídicas de tamanho reduzido no adipócito, com fibrose e 
infiltração de macrófagos no tecido adiposo (11). Recentemente, foi descrita uma 
nova mutação frameshift em heterozigoze em duas famílias não relacionadas, em 
indivíduos que apresentavam resistência insulínica grave e componentes da 
síndrome metabólica, refratários a tratamento clínico (34). 
O subtipo 6 da LPF foi descrito inicialmente como uma forma de lipodistrofia 
de padrão de herança autossômico recessivo em uma paciente jovem, com fenótipo 
de perda adiposa subcutânea periférica, associada a hipertrigliceridemia acentuada 
e diabetes com perfil resistente à insulina (35). O gene associado à LPF tipo 6 é o 
CIDEC, codificador da proteína cell death-inducing Dffa-like effector C, que participa 
da diferenciação do pré-adipócito e da formação da gotícula de gordura. A proteína 
mutante apresenta falha na capacidade de aumentar o tamanho da gotícula de 
gordura, levando-a a um aspecto multiloculado (27). 
Esses três últimos subtipos de LPF são bastante raros, com casos isolados 
descritos na literatura. A caracterização fenotípica desses pacientes ainda não é 
bem definida (9). 
A elucidação da base genética de algumas formas de LPF estabeleceu a 
importância de cinco genes para a biologia do tecido adiposo e a identificação de 
mutações dos genes PLIN1 e CIDEC, especificamente, definiu a importância da 
27 
 
gotícula de gordura no adipócito, como uma organela funcional crítica para a 
homeostase energética (3,22,27). Uma representação esquemática da formação da 
gotícula lipídica é apresentada na Figura 2. 
 
 
Figura 2. Formação da gotícula de gordura no adipócito. Adaptado de 2. 
 
Apesar dos avanços da biologia molecular, um número considerável de 
pacientes permanece sem elucidação da base genética da LPF. Análises genômicas 
de sequências conhecidas dos genes LMNA e PPARG demonstraram que 
aproximadamente 50% dos pacientes não apresentam nenhuma mutação (13). Essa 
dificuldade de determinação genotípica remete à hipótese de que possivelmente 
existam outros genes candidatos da doença, que ainda precisam ser identificados. 
 
2.3.1 Achados Clínicos para Suspeita Diagnóstica 
 
Os achados clínicos semelhantes a todas as formas de LPF descritas incluem 
perda de gordura subcutânea nas extremidades e região glútea, resultando em 
pseudohipertrofia muscular e flebomegalia. Esses aspectos classicamente ocorrem 
próximo do períodopuberal, mas a idade de início pode variar e acontecer fora da 
puberdade (1,6,7). O reconhecimento fenotípico é mais fácil nas mulheres, o que 
justifica o maior número de casos descritos na literatura serem do sexo feminino 
(6,7). Nos homens, além da dificuldade de percepção dos aspectos de 
28 
 
pseudohipertrofia muscular e flebomegalia, soma-se o fato de naturalmente 
apresentarem menor quantidade de tecido adiposo na região glútea e pernas (3). 
Comorbidades metabólicas são frequentes na LPF, muitas relacionadas ao 
processo de resistência insulínica acentuada. Dentre os componentes da SM e suas 
complicações, destacam-se diabetes mellitus tipo 2, hipertrigliceridemia grave (risco 
de pancreatite), baixas concentrações séricas de lipoproteína de alta densidade 
(HDL), doença hepática gordurosa não alcoólica, hipertensão arterial sistêmica e 
doença arterial coronariana (que pode se manifestar antes dos 40 anos) (2-7). A 
história familiar, com a presença de fenótipo lipodistrófico, complementa a suspeita 
clínica da doença (7). 
No Quadro 5, estão descritas as características clínicas da LPF. 
 
Quadro 5 - Achados clínicos no subtipo de lipodistrofia parcial familiar (7) 
Idade de início Infância até idade adulta 
Locais de perda de gordura 
Extremidades superiores a 
Extremidades inferiores a 
Glúteo a 
Tronco b 
Locais de acúmulo/depósito de gordura 
Face e pescoço b 
Intra-abdominal b 
Outros achados 
Acantose nigricans b 
Hepatomegalia ou Esteatose hepática b 
Hirsutismo b 
Hiperandrogenemia em mulheres b 
Hiperfagia b 
a
 achado essencial 
b
 achado que pode estar presente 
 
2.3.2 Eixos Hormonais 
 
2.3.2.1 Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal 
 
Alterações periféricas e/ou centrais da ação do cortisol parecem estar 
envolvidas no desenvolvimento da SM associada à obesidade. Alterações discretas 
da atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), tais como elevação das 
29 
 
concentrações circulantes de ACTH pela manhã e alterações de sua pulsatilidade 
(36), maior responsividade do eixo HHA a neuropeptídeos (37), aumento da 
produção de cortisol (38) e diminuição da supressão do cortisol em resposta a 
baixas doses de dexametasona (39-41) são observadas na SM. Estudos recentes 
mostram maior produção periférica de cortisol especialmente no tecido adiposo, 
mediada pela enzima 11-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 1 (11HSD1), em 
concordância com as observações de aumento da expressão e atividade desta 
enzima em depósitos de gordura visceral de indivíduos obesos e/ou com SM, o que 
sugere o possível papel do hipercortisolismo tecidual na síndrome (42-44). 
Obesidade, síndrome metabólica e também o diabetes não compensado 
podem representar situações de provável hipercortisolismo funcional, em que é 
possível que não ocorra supressão da secreção do cortisol em resposta a baixas 
doses de dexametasona oral, mas somente em resposta a doses mais elevadas (2 
mg), o que sugere que nestas situações haja maior ativação do eixo HHA (45). 
A presença de características da SM na LPF e as similaridades fenotípicas da 
LPF com o hipercortisolismo justificam que frequentemente indivíduos com LPF 
sejam confundidos com portadores de síndrome de Cushing (1,2,11). Entretanto, 
não existem estudos sobre a atividade do eixo HHA na LPF, para nosso 
conhecimento, descritos na literatura. É possível que exista hiperativação do 
mesmo, à semelhança do que ocorre na SM comum, não relacionada 
especificamente à LPF. Contudo, esse aspecto ainda não foi explorado. 
 
2.3.2.2 Outros eixos hormonais 
 
Alterações de outros eixos hormonais já foram observadas na LPF. Em 
mulheres portadoras desta condição, são frequentes oligomenorreia e 
hiperandrogenemia (sobretudo hirsutismo), atribuídas à resistência insulínica sobre a 
atividade ovariana, caracterizando um quadro compatível com SOP (2,7,9,11). A 
fertilidade, entretanto, pode estar preservada, mesmo em pacientes com 
características da SOP (5,7). 
Estudos envolvendo o eixo tireoideano são pouco frequentes, porém já foram 
sugeridas alterações do metabolismo tecidual dos hormônios tireoideanos, nas 
regiões lipoatróficas de pacientes com LPF tipo 2 (46). Não há dados a respeito do 
eixo somatotrófico e do metabolismo ósseo especificamente em pacientes com LPF, 
30 
 
para nosso conhecimento. 
 
2.3.3 Adipocinas na Síndrome Lipodistrófica 
 
A lipodistrofia, em geral, cursa com redução das concentrações circulantes de 
adiponectina e leptina (10,47), compatível com a perda do tecido adiposo 
subcutâneo. As concentrações dessas adipocinas parecem ser inversamente 
proporcionais ao grau de resistência insulínica e a redução sérica das mesmas está 
associada a aumento do risco cardiovascular na doença (47). 
Estudos envolvendo outras adipocinas não são frequentes. Concentrações 
circulantes de TNF- (citocina pró-inflamatória) estão aumentadas e parecem 
proporcionais à massa de gordura total. As concentrações séricas de IL-6, IL-1 e 
resistina, por sua vez, não demonstraram correlação com características da SM em 
pacientes com LPF 2 (47). 
 
2.3.4 Métodos de Avaliação da Composição Corporal 
 
Métodos não invasivos de avaliação objetiva da composição corporal são 
empregados em pacientes com LPF, com o intuito de caracterizar melhor o perfil de 
redistribuição da gordura corporal e avaliar critérios que permitam diferenciar os 
subtipos da síndrome. 
Em estudo com imagens de ressonância magnética (RM), envolvendo 22 
mulheres com diferentes tipos de lipodistrofias (48), foi observado aumento 
significativo da quantidade de gordura supraclavicular na LPF tipo 2 e diminuição da 
gordura subcutânea abdominal, dos membros inferiores (coxas e panturrilhas) e da 
região glútea. Pacientes com LPF tipo 3, por sua vez, apresentaram nesse estudo 
aumento da gordura subcutânea abdominal e da supraclavicular, e demonstraram 
menor magnitude de perda nas regiões dos membros inferiores e glúteos, quando 
comparados com portadores da síndrome de Dunnigan (LPF tipo 2). A quantidade 
de gordura visceral foi significativamente aumentada nestes pacientes (48). 
Um potencial marcador das lipodistrofias, nos exames de RM, parece ser a 
região média das coxas, que exibe perda adiposa significativa nos pacientes 
lipodistróficos (13). 
Tischa Joy et al. (2009) estudaram 13 mulheres portadoras de LPF tipo 2, 
31 
 
com o objetivo de correlacionar a adiposidade no tronco medida por RM com 
medidas clínicas simples, como índice de massa corporal (IMC), circunferência 
abdominal (CA) e relação cintura/quadril (RCQ); e medidas determinadas pelo 
método de bioimpedanciometria (BIA). Observaram que houve correlação do IMC 
com a massa de tecido adiposo subcutâneo, ao passo que nenhuma medida clínica 
antropométrica se correlacionou com a massa de tecido adiposo visceral. A 
porcentagem de gordura total foi a variável que melhor se correlacionou com as 
adiposidades visceral e subcutânea (49). Nesse mesmo estudo, os autores tentaram 
validar uma equação preditora de adiposidade que fosse de fácil aplicabilidade 
clínica, a partir de variáveis simples e medidas de BIA. Concluíram que a equação 
era adequada apenas para estimar gordura visceral e que a medida do tecido 
adiposo subcutâneo é mais confiável quando realizada por meio de exames como 
tomografia computadorizada (TC) e RM (49). 
O método de absorciometria de raio X de dupla energia (DEXA) também é 
avaliado em pacientes lipodistróficos e tem a vantagem de apresentar maior 
facilidade de execução na prática clínica. A maioria desses estudos é conduzida em 
portadores de lipodistrofia relacionada à infeção pelo vírus daimunodeficiência 
humana (HIV) e há poucos estudos envolvendo, especificamente, portadores de 
LPF. Em estudo com portadores de lipodistrofia por HIV, foi estabelecida uma forma 
objetiva de quantificação da perda de gordura subcutânea, por meio da 
determinação da razão da massa de gordura (“fat mass ratio” ou FMR), que 
representa a razão entre a porcentagem da massa de gordura do tronco e dos 
membros inferiores (50). Em outro estudo, com portadores de LPF tipo 2, foi possível 
sugerir o ponto de corte da FMR de 1,2 para caracterizar esta forma de LPF, e 
enfatizando a DEXA como um método útil para avaliação objetiva da composição 
corporal neste subgrupo de pacientes (51). Os autores também compararam, em 
outro estudo, o valor da FMR de portadores de diferentes subtipos de lipodistrofia e 
observaram que esta medida pode ajudar a diferenciar formas parciais adquiridas 
(FMR < 1,0) das parciais familiares (FMR > 1,0) (52). 
 
2.3.5 Perspectivas Terapêuticas 
 
Não há, até o momento, abordagem terapêutica capaz de reverter a perda de 
tecido adiposo na LPF, de forma que o principal objetivo terapêutico é a melhora das 
32 
 
alterações metabólicas (2). Mudanças no estilo de vida, com medidas dietéticas e de 
atividade física, são consideradas necessárias, porém não há estudos clínicos que 
avaliem o impacto destas mudanças em pacientes com lipodistrofia (8). 
Frequentemente, terapias convencionais das alterações metabólicas, como 
metformina, estatinas, fibratos e glitazonas, são inefetivas, embora frequentemente 
prescritas. O uso das glitazonas, especificamente, pode induzir a adipogênese em 
determinados sítios de tecido adiposo, mas não é estabelecido como o tratamento 
de escolha nestes pacientes (2,8). 
A cirurgia plástica pode ajudar na distribuição anormal da gordura corporal, 
visto que grande parte desses pacientes apresentam desabilidades sociais devido à 
imagem corporal lipodistrófica (2,8,11). Cirurgia bariátrica, pela técnica do bypass 
gástrico, já foi realizada em pacientes com LPF e demonstra benefícios metabólicos 
glicêmicos e lipídicos, sugerindo ser uma opção terapêutica viável nos casos 
refratários ao tratamento clínico, independente do grau da obesidade (53,54). 
Uma terapia específica que vem se mostrando promissora e segura é a 
administração subcutânea da metreleptina, um análogo da leptina humana. No 
momento, é aprovada nos Estados Unidos para casos de lipodistrofias 
generalizadas, mas está sendo estudada também em pacientes com lipodistrofias 
parciais. Os resultados deste tratamento na LPF incluem melhora da sensibilidade 
insulínica e da lipotoxicidade periférica, com redução da hipertrigliceridemia, melhora 
do controle glicêmico e da esteatose hepática (55-58). Sua efetividade parece ser 
independente do grau de hipoleptinemia (59), porém um estudo recente sugeriu que 
seja menor em pacientes com leptinemia superior a 4 ng/mL (55). Pacientes com 
alterações metabólicas leves da doença (triglicérides < 500 mg/dL e/ou hemoglobina 
glicada < 8%) parecem também não se beneficiar da terapia com metreleptina (55). 
 
33 
 
3 OBJETIVOS 
 
3.1 OBJETIVO GERAL 
 
 Investigar alterações clínicas, metabólicas e bioquímicas em portadores de 
lipodistrofia parcial familiar. 
 
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 Estudar nos portadores de LPF: 
o Os eixos gonadotrófico, somatotrófico, tireotrófico e corticotrófico. 
o O metabolismo mineral. 
o A composição corporal, pelo método de DEXA. 
o O rastreamento de doença arterial coronariana (DAC). 
o A presença de esteatose hepática. 
o A correlação de medidas antropométricas e relacionadas à composição 
corporal com variáveis clínicas, metabólicas e hormonais. 
34 
 
4 MÉTODOS 
 
4.1 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS 
 
O estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa com Seres 
Humanos, da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (parecer 
número 547817, ANEXO I), do Hospital Geral de Goiânia (parecer número 1020651, 
ANEXO II) e do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (parecer 
número 1095631, ANEXO III). O estudo foi conduzido de acordo com a Resolução 
número 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Os pacientes tiveram a 
participação condicionada à assinatura do Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido, após receberem informações detalhadas sobre a pesquisa e seus 
objetivos. 
 
4.2 DESENHO DO ESTUDO E CRITÉRIOS DE SELEÇÃO 
 
Trata-se de estudo observacional e transversal, com componentes descritivo 
e analítico, que incluiu pacientes com critérios clínicos de LPF, acompanhados 
ambulatorialmente nos serviços de Endocrinologia de duas instituições públicas de 
Goiânia (Hospital Geral de Goiânia Dr Alberto Rassi - HGG - e Hospital das Clínicas 
da Universidade Federal de Goiás - HC/UFG). 
Foram incluídos pacientes de ambos os sexos, com diagnóstico clínico de 
LPF, definido de acordo com as características clínicas que aumentam a suspeição 
de lipodistrofia, propostas pela Associação Americana de Endocrinologia (AACE, 
American Association of Clinical Endocrinologists) (7). Essas características incluem: 
(i) perda progressiva e gradual de gordura subcutânea na região glútea e 
extremidades; (ii) pseudohipertrofia muscular e/ou flebomegalia nos membros; (iii) 
depósitos de tecido gorduroso nas regiões facial, cervical ou intra-abdominal; (iv) 
presença de acantose nigricans ou características clínicas compatíveis com 
síndrome dos ovários policísticos, (v) hipertrigliceridemia, disglicemias, doença 
hepática gordurosa não alcoólica; e (vi) história familiar com aparência física 
semelhante ao fenótipo de LPF. 
35 
 
Foram excluídos indíviduos com síndrome metabólica sem o fenótipo 
lipodistrófico e pacientes em tratamento para doenças autoimunes ou em uso de 
terapia antirretroviral. 
 
4.3 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E ANTROPOMÉTRICAS 
 
A coleta dos dados clínicos foi realizada por uma única pesquisadora, médica 
endocrinologista, por meio de avaliação clínica detalhada e revisão do prontuário 
médico. 
Na anamnese, foram coletadas informações a respeito das seguintes 
variáveis: 
 Idade (anos). 
 Sexo. 
 Motivo inicial da procura a atendimento médico. 
 Percepção própria do paciente a respeito da distribuição anormal de gordura 
e em que idade ocorreu o início dessa anormalidade. 
 Sintomas apresentados pelo paciente. 
 Irregularidade menstrual (mulheres). 
 Comorbidades existentes. 
 Medicações em uso. 
 Antecedentes gestacionais (mulheres). 
 Hábitos de vida (tabagismo, etilismo, atividade física e dieta). 
 História familiar de fenótipo lipodistrófico e/ou de doença arterial coronariana 
precoce. 
 
 No exame físico, foram observadas características clínicas compatíveis com a 
síndrome lipodistrófica, sobretudo o aspecto central da perda adiposa em 
extremidades e glúteo, associada ou não a depósitos anormais de gordura (face, 
pescoço, supraclavicular, tronco e abdome). As demais observações clínicas 
encontram-se a seguir, assim como as medidas realizadas na avaliação física: 
 Sinais de resistência insulínica, como a acantose nigricans. 
 Avaliação da pilificação corporal em mulheres, com avaliação da pontuação 
do escore de Ferriman (60), considerando hirsutismo quando pontuação ≥ 8. 
36 
 
 Peso (kg), altura (m) e cálculo do índice de massa corporal (peso em kg 
dividido pela altura em metros, ao quadrado, kg/m2). 
 Circunferência (perímetro) abdominal (medida no ponto médio entre o rebordo 
costal e a crista ilíaca, em cm). 
 Circunferência (perímetro) do quadril (medida na linha transtocanteriana, em 
cm). 
 Relação cintura/quadril(razão entre a medida da cintura e a circunferência do 
quadril). 
 Pressão arterial (aferida no membro superior – braço, em mmHg). 
 
O índice de adiposidade corporal (IAC) foi obtido em porcentagem (%), com a 
seguinte fórmula (61): 
(circunferência do quadril/ estatura1,5) – 18 
 
O estado nutricional, com base no valor do IMC, foi classificado de acordo 
com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (62), conforme 
apresentado no Quadro 6. 
 
 Quadro 6. Classificação do IMC, segundo a Organização Mundial da Saúde (62) 
IMC (kg/m
2
) Classificação 
< 18,5 Abaixo do peso 
18,5 a 24,9 Saudável 
24,9 a 29,9 Sobrepeso 
30,0 a 34,9 Obesidade grau I 
35,0 a 39,9 Obesidade grau II 
≥ 40 Obesidade grau III 
 
A circunferência (perímetro) abdominal foi classificada em aumentada (o) de 
acordo com os valores recomendados pela Federação Internacional de Diabetes 
(IDF), ou seja, acima de 80 cm para mulheres e de 90 cm para homens (63). A 
relação cintura/quadril (RCQ) foi considerada aumentada de acordo com os critérios 
recomendados pela Organização Mundial de Saúde (62), ou seja, acima de 0,85 
para mulheres e de 0,9 para homens. 
37 
 
Os critérios adotados para diagnóstico de SM foram os recomendados pela 
Federação Internacional de Diabetes (63), apresentados no Quadro 7. 
 
Quadro 7 - Critérios diagnósticos para síndrome metabólica (63) 
Diagnóstico na presença de 3 ou mais critérios 
Circunferência abdominal aumentada (população sul-americana) 1 
Homens > 90 cm 
Mulheres > 80 cm 
Triglicerídeos 2 ≥ 150 mg/dL 
HDL-colesterol2 
Homens < 40 mg/dL 
Mulheres < 50 mg/dL 
Pressão arterial 2 ≥ 130/85 mmHg 
Glicemia jejum ≥ 100 mg/dL ou diagnóstico prévio de diabetes 
1 Componente obrigatório 
2 ou em vigência de tratamento específico 
 
4.4 AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA E HORMONAL BASAL 
 
Em uma primeira etapa, os pacientes foram submetidos à coleta de amostra 
de sangue venoso, às 8 horas da manhã, após jejum noturno de 12 horas, para 
dosagem das variáveis descritas no Quadro 8. Apenas a glicemia pós-prandial não 
foi avaliada nessas condições. 
38 
 
Quadro 8 - Variáveis bioquímicas e hormonais determinadas nos sujeitos participantes do 
estudo 
Variável Método Valor de referência 
Glicose em jejum Enzimático 70 a 99 mg/dL 
Glicose 2h pós 75g de dextrosol via oral 1 Enzimático < 140 mg/dL 
Glicose pós-prandial 2 Enzimático < 140 mg/dL 
Hemoglobina glicada (HbA1c) HPLC < 6,5% 3 
Insulinemia em jejum 4 Quimioluminescência ≤ 29 µU/mL 
Colesterol total Vitalab Selectra < 200 mg/dL 
Colesterol LDL Vitalab Selectra < 130 mg/dL 
Colesterol HDL Vitalab Selectra 
> 45 mg/dL (H) 
> 50 mg/dL (M) 
Triglicerídeos Vitalab Selectra < 150 mg/dL 
Aspartato aminotransferase (AST) Automatizado 
Architect 
5-34 U/L 
Aspartato alaninotransferae (ALT) Automatizado 
Architect 
≤ 55 U/L 
Gamaglutamiltransferase (GGT) Automatizado 
Architect 
9-36 U/L 
Ácido úrico Selectra/Architect 
3,5-7,2 mg/dL (H) 
2,6-6,0 mg/dL (M) 
Leptina Radioimunoensaio 
< 7,4 ng/mL (H) 
< 14,7 ng/mL (M) 
Proteína C reativa ultrassensível Nefelometria < 1mg/dL 
TSH Quimioluminescência 0,3-4,9 µIU/mL 
T4 livre Quimioluminescência 0,7-1,48 ng/dL 
T3 livre Quimioluminescência 1,7-3,7 pg/mL 
Cálcio Selectra/Architect 8,4-10,2 mg/dL 
Fóforo Selectra/Architect 2,3-4,7 mg/dL 
Paratormônio (PTH) Quimioluminescência 15-68 pg/mL 
25-hidroxivitamina D Quimioluminescência ≥ 30 ng/mL 
Fator de crescimento semelhante à insulina 
(IGF-1) 
Quimioluminescência Conforme faixa etária 
Prolactina Quimioluminescência 
3,3-19,4 ng/mL (H) 
5,1-26,5 ng/mL (M) 
Testosterona total Quimioluminescência 
142-923 (H) 
10,8-56,9 (M) 
Globulina ligadora de esteroides sexuais 
(SHBG) 
Quimioluminescência 11,7-137 nmol/L 
Hormônio foliculoestimulante (FSH) Quimioluminescência 
0,9-11,9 mUI/mL (H) 
3,0-8,0 (M) 5 
Hormônio luteinizante (LH) Quimioluminescência 
0,5-12,0 mUI/mL (H) 
1,8-11,7 (M) 5 
1
 Avaliada somente em pacientes sem diagnóstico prévio de diabetes mellitus e com glicemia de 
jejum < 126 mg/dL. 
2
 Avaliada somente em pacientes com diagnóstico prévio de diabetes mellitus. 
3
 Valores entre 5,7 e 6,4% representam pré-diabetes. 
4
 Avaliada na ausência de uso de insulina. 
5
 Fase folicular do ciclo. 
H: homens; M: mulheres 
 
 A partir dos resultados da glicemia em jejum e da insulinemia em jejum, foi 
calculado o HOMA-IR (homeostatic model assessement, insulin resistance), com a 
39 
 
utilização da seguinte fórmula (64): 
 
HOMA-IR = glicemia (em mmol/L) x insulinemia (mUI/mL) 
 22,5 
A evidência de resistência insulínica foi considerada se HOMA-IR > 2,7. 
Nas mulheres com irregularidade menstrual, com o intuito de investigar a 
presença da SOP, foi realizada a determinação da concentração circulante de outros 
androgênios, apresentados no Quadro 9. 
 
Quadro 9 - Androgênios séricos avaliados para investigação da síndrome dos ovários 
policísticos1 
Variável
2
 Método Valor de referência 
Deidroepiandrosterona (DHEA) Radioimunoensaio 0,8-10,5 ng/mL 
17-hidroxiprogesterona Radioimunoensaio 
Folicular: 11-108 ng/dL 
Luteal: 95-500 ng/dL 
Sulfato de Deidroepiandrosterona (SDHEA) Quimioluminescência Conforme faixa etária 
Androstenediona Quimioluminescência 0,4-4,1 ng/mL 
1
 Além da dosagem da testosterona total. 
2
 Avaliação realizada na ausência de uso de contraceptivos hormonais orais. 
 
 
 A presença da SOP foi investigada de acordo com os critérios recomendados 
no Consenso Internacional de Rotterdam (65), apresentado no Quadro 10. 
 
Quadro 10 - Critérios do Consenso Internacional de Rotterdam para diagnóstico da 
síndrome dos ovários policísticos 
Diagnóstico na presença de 2 dos 3 critérios: 
1. Oligomenorreia e/ou anovulação 
2. Sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo1 
3. Ovários policísticos caracterizados por exame ultrassonográfico2 
1
 excluindo outras etiologias de hiperandrogenismo 
2 
presença de pelo menos um dos seguintes achados: 12 ou mais folículos medindo entre 2-9 mm 
de diâmetro ou volume ovariano aumentado (> 10 cm
3
) 
4.5 AVALIAÇÃO DO EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL 
 
 O eixo HHA foi avaliado com as dosagens basais apresentadas no Quadro 11 
e também por meio de testes dinâmicos. 
40 
 
Quadro 11 - Avaliação basal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal 
Variável Método Valor de referência 
Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) Eletroquimioluminescência 7,2-63,3 pg/mL 
Cortisol às 8h Quimioluminescência 3,7-19,4 µg/dL 
Cortisol livre urinário de 24 h (3 amostras) Quimioluminescência 4,3-176 µg 
Cortisol salivar às 23h Eletroquimioluminescência <9,7 nmol/L 
Globulina ligadora de cortisol (CBG) Radioimunoensaio 
25 – 55 mcg/L (H) 
40 – 154 mcg/L (M) 
 
Em uma segunda etapa, após intervalo de até 15 dias da realização das 
dosagens hormonais basais, procedeu-se a avaliação da supressibilidade do eixo 
HHA, por meio dos testes de supressão com baixas doses de dexametasona. Foi 
realizada supressão com 0,5 mg de dexametasona e, após 7 dias, teste de 
supressão com 1 mg de dexametasona, ambos administrados às 23 horas da noite e 
coleta da amostra de sangue venoso para dosagem sérica de cortisol às 8 horas da 
manhã do dia seguinte. Foi considerada ausência de supressão do cortisol em 
resposta à dexametasona a presença de cortisol sérico maior que 1,8 µg/dL. Os 
pacientes que não apresentassem supressão em resposta à administração de 1 mg 
de dexametasona, seriam submetidos ao teste de supressão com 2 mg de 
dexametasona. Este teste consiste na administração de 1 comprimido de 0,5 mg de 
dexametasona a cada 6 horas, durante 2 dias, com coletade amostra de sangue 
venoso para dosagem sérica de cortisol às 8 horas da manhã do dia seguinte 
(terceiro dia), conforme recomendação da Sociedade Endócrina Norte-Americana 
para avaliação de prováveis casos de estados “pseudocushing” (45). 
 
4.6 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL 
 
O estudo da composição corporal foi realizado pelo método de absorciometria 
de raio X de dupla energia (DEXA, dual-energy X-ray absorptiometry), com o 
densitômetro GE Lunar iDXA System (Encore 2011). Essa avaliação permitiu a 
determinação das seguintes variáveis: 
 gordura corporal total (%). 
 gordura troncular (%). 
 gordura nos membros inferiores (%). 
 gordura dos membros superiores (%). 
 taxa da massa de gordura androide/ginoide (T A/G), correspondendo à divisão da 
massa androide pela massa ginecoide. 
41 
 
A taxa de massa adiposa (fat mass ratio - FMR) foi calculada com a fórmula: 
FMR = [gordura no tronco (%)] / [de gordura nos membros inferiores (%)] (66). 
 
4.7 AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA E CARDIOVASCULAR 
 
Todos os pacientes foram avaliados quanto à presença de esteatose hepática 
com a realização de ultrassonografia do abdome superior (aparelho Philips HD.XE, 
transdutor 3,5 MHz). As mulheres também foram submetidas à avaliação 
complementar de SOP com ultrassom pélvico, com o uso do mesmo equipamento. 
Os pacientes foram submetidos à avaliação cardiovascular, com 
ecodopplercardiograma e teste ergométrico. Neste último exame, foram avaliados 
critérios clínicos e eletrocardiográficos de insuficiência coronariana (avaliados nas 
condições de repouso, durante o esforço e durante a recuperação). 
 
4.8 ANÁLISE DOS RESULTADOS 
 
Os dados clínicos, antropométricos e os resultados dos exames realizados 
foram organizados em tabelas, de forma a descrever o perfil dos pacientes com LPF. 
Os resultados foram apresentados de forma descritiva, devido ao pequeno número 
amostral. 
As variáveis clínicas (idade), antropométricas (CA, IMC e RCQ) e 
relacionadas à composição corporal por DEXA (%gordura total, %gordura troncular, 
FMR e taxa A/G), foram correlacionadas com variáveis metabólicas e hormonais, 
aplicando-se o coeficiente de correlação de Spearman, com a utilização do 
programa GraphPad Prism, versão 5.0. Foram considerados significativos resultados 
de valor p < 0,05. Valores de r positivos abaixo de 0,5 foram considerados 
sugestivos de correlação positiva fraca, valores entre 0,5 e 0,8, de correlação 
positiva moderada, e superiores a 0,8, de correlação positiva forte. O mesmo padrão 
foi considerado para correlações negativas (r < -0,8, correlação negativa forte; r 
entre -0,8 e -0,5, correlação negativa moderada; r > -0,5, correlação negativa fraca). 
42 
 
5 RESULTADOS 
 
 Foram incluídos seis pacientes com achados clínicos centrais sugestivos da 
síndrome de LPF (P1 a P6). Serão apresentadas, inicialmente, as características 
clínicas, bioquímicas e hormonais dos pacientes incluídos e, em seguida, os 
resultados das correlações verificadas entre algumas dessas variáveis. 
 
5.1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DOS PORTADORES DE LIPODISTROFIA 
PARCIAL FAMILIAR ESTUDADOS 
 
Cinco pacientes analisados eram do sexo feminino e um paciente do sexo 
masculino (P2). A faixa de idade variou de 17 a 42 anos (Tabela 1). Os pacientes 
pertenciam a quatro famílias não relacionadas, com graus de parentesco entre os 
pacientes 1 e 2 (tia e sobrinho) e 5 e 6 (mãe e filha). 
Todos os pacientes apresentaram a característica central da lipodistrofia 
parcial familiar, representada pela perda de tecido adiposo nos membros e/ou região 
glútea. Contudo, os fenótipos de perda foram variados e a perda foi atípica (sutil) 
nos três pacientes mais jovens (P2, P4 e P6). Os aspectos de pseudohipertrofia 
muscular e flebomegalia foram mais aparentes nas pacientes P1, P3 e P5, que 
apresentaram o fenótipo típico da perda adiposa periférica da LPF (Figuras 4, 5 e 6). 
A redistribuição da gordura corporal, com aumento do depósito adiposo nas regiões 
de face e pescoço, foi um achado comum no exame físico dos pacientes. Com 
exceção da paciente P1, o acúmulo de gordura também foi observado nas regiões 
troncular e abdominal, com intensidades variáveis. 
 
43 
 
 
Figura 3. Fotografias da paciente P1, com fenótipo típico da lipodistrofia (perda de gordura em 
regiões de membros e glúteo), evidenciando o aspecto de pseudohipertrofia muscular e flebomegalia. 
 
 
Figura 4. Fotografias da paciente P3, também com fenótipo típico de perda adiposa periférica da 
lipodistrofia parcial familiar. Nota-se o acúmulo adiposo dorsocervical, troncular e abdominal. 
44 
 
 
Figura 5. Fotografias da paciente P5, com apresentação fenotípica lipodistrófica. Os locais de 
acúmulo anormais de gordura são evidentes (face, pescoço, supraclavicular, tronco e abdome), com 
aspecto cushingoide. 
 
Acantose nigricans foi evidente em todos os pacientes, sobretudo nas regiões 
cervical e axilar (Figura 7). Entre os sinais físicos de hiperandrogenemia nas 
mulheres, hirsutismo foi o mais frequentemente observado. 
 
 
45 
 
 
A B 
 
C D 
Figura 6. Fotografias das pacientes P3 (A, B) e P4 (C, D), mostrando acantose nigricans acentuada 
em regiões cervical e axilar. 
 
A distribuição anormal do tecido adiposo não se destacou como manifestação 
clínica inicial descrita pelos pacientes. Esse aspecto foi mencionado apenas quando 
os pacientes foram questionados sobre a percepção de alterações na gordura 
corporal, e a idade em que isso ocorreu variou entre 8 a 25 anos, correspondendo 
ao período puberal na paciente P1. Em três mulheres, o motivo inicial de busca de 
atendimento no serviço de Endocrinologia foi relacionado a características da 
síndrome dos ovários policísticos (como hirsutismo e irregularidade menstrual). Uma 
das mulheres (P5) foi encaminhada ao serviço de Endocrinologia após diagnóstico 
de doença arterial coronariana precoce (infarto agudo do miocárdio aos 36 anos), 
para investigação de síndrome de Cushing. Os outros dois pacientes (P2 e P6) eram 
familiares de duas pacientes em acompanhamento e foram convidados para 
avaliação no serviço de Endocrinologia em razão da semelhança do fenótipo. 
 
46 
 
Tabela 1 - Características clínicas dos seis pacientes com diagnóstico clínico sugestivo de lipodistrofia parcial familiar 
 P1 P2 P3 P4 P5 P6 
Idade (anos) 
 
33 
 
20 
 
42 
 
17 
 
41 
 
24 
Motivo inicial do 
atendimento médico 
 
Hirsutismo e 
ganho ponderal 
História 
familiar 
Hirsutismo e 
oligomenorreia 
Hirsutismo Investigação de 
SC 
História familiar 
Idade inicial da 
distribuição anormal de 
gordura 
 (anos) a 
 
12 8 25 Não definido 20 23 
Sítios de perda de TA 
 
Membros e 
glúteo b 
MMII e glúteo 
(discreta) 
Membros e 
glúteo
 b
 
MMII e glúteo 
(discreto) 
Membros e 
glúteo
 b
 
Glúteo 
(discreto) 
Sítios de aumento de TA Pescoço, 
supraclavicular 
Face, pescoço 
e tronco 
Face, pescoço, 
tronco e 
abdome 
Face, pescoço, 
tronco e abdome 
Face, pescoço 
supraclavicular, 
tronco e 
abdome 
Face, pescoço, 
tronco e 
abdome 
Acantose nigricans 
 
Cervical, axilar, 
dorso 
 
Cervical, 
axilar, dorso 
 
Cervical, axilar, 
dorso, inguinal 
 
Cervical, axilar, 
dorso, inguinal 
 
Cervical, axilar 
 
 
Cervical, axilar 
 
 
Escore de Ferriman d 8 d Não se aplica 16 29 12 6d

Outros materiais