Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 3 DIREITO PROCESSUAL AMBIENTAL Prof. Alexandre Pontes Batista 02 INTRODUÇÃO Olá! Seja bem-vindo a mais uma parte do nosso estudo! Neste tema, vamos começar a analisar a Ação Civil Pública, conhecendo o conjunto de normas formado pelas Leis n° 7.347/85 e n° 8.078/90 (CDC), chamado de microssistema processual coletivo. Vamos perceber que as disposições do Código de Processo Civil apenas serão aplicadas supletivamente, no que couber, pois o CPC contém regras e princípios, em sua maioria, ligados a direitos individuais disponíveis. Outra parte do estudo será a Lei n° 7.347, a qual é uma norma de natureza eminentemente processual, quase todos seus artigos tratam de normas procedimentais para tutelar os direitos metaindividuais. E encerraremos com a abordagem da legitimação ativa na Ação Civil Pública, além da passiva. No material on-line tem o vídeo do Professor Alexandre apresentando melhor tudo o que veremos neste tema. Não deixe de assistir. PROBLEMATIZAÇÃO Senhor "A", brasileiro, advogado devidamente inscrito na OAB, quite com suas obrigações eleitorais, é morador de uma cidade litorânea. No bairro onde mora está instalada uma peixaria. Nos últimos meses, em razão do aumento do movimento, a peixaria aumentou suas instalações e começou, além de vender peixes, a processar e vender os derivados do pescado. Senhor "A" percebeu que os dejetos dos produtos da peixaria são jogados diretamente no mar sem nenhum tratamento, ocasionando visível degradação do meio ambiente local. Ele diligenciou por dez vezes até a Prefeitura Municipal de sua cidade e pediu a adoção de alguma medida administrativa para cessar a degradação ambiental, mas a Prefeitura Municipal se manteve inerte. Diante do exposto, senhor "A" quer que os entes responsáveis adotem alguma medida jurídica para cessar a atividade ilegal da peixaria bem como obrigá-la a reparar o dano já causado. Sendo assim, qual medida seria adequada? Não precisa responder agora, nós vamos falar sobre isto novamente no final do nosso estudo. 03 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS Para você conseguir compreender bem o estudo, é importante você ter noção das práticas sobre a ação civil pública. O Professor Alexandre vai te ajudar com isso no vídeo disponível lá no material on-line. A ação Civil Pública é regulada principalmente pelas disposições da Lei n° 7.347/85. O art. 19 da LACP determina que as regras do CPC serão aplicadas quando não contrariar as normas da ação civil pública. Já o art. 21 da LACP determina que os arts. 81 ao 104 (título III) do CDC se aplicam na defesa dos direitos difusos lato sensu. Esse conjunto de normas formado pelas Leis n° 7.347/85 e n° 8.078/90 (CDC) é chamado de microssistema processual coletivo. Destaca-se que as disposições do CPC apenas serão aplicadas supletivamente, no que couber, pois ele contém regras e princípios, em sua maioria, ligados a direitos individuais disponíveis. A Ação Civil Pública, a Ação Popular e o Mandado de Segurança Coletivo são os instrumentos mais úteis de defesa dos direitos metaindividuais. A Ação Civil Pública Ambiental tem a natureza jurídica de garantia fundamental, com a finalidade de proteger o direito indisponível ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. A LACP (Lei da Ação Civil Pública – Lei n° 7.347 de 1985) é oriunda de estudos realizados por juristas na década de 70, influenciados pela class action de países do sistema common law, pois com o desenvolvimento das relações jurídicas da sociedade e pela necessidade de proteger os direitos metaindividuais, foi verificado que havia a necessidade de desenvolver instrumentos jurídicos mais adequados. Para a tutela dos direitos metaindividuais, como o direito ao meio ambiente equilibrado, o sistema do CPC de 1973 não era adequado por ser individualista, isto é, não se preocupando em sistematizar a tutela de direitos supraindividuais. De acordo com o art. 1º da Lei n° 7.347/85, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente serão regidas pelas suas disposições. A Lei n° 7.347 é uma norma de natureza eminentemente processual, quase todos seus artigos tratam de normas procedimentais para tutelar o meio ambiente; o consumidor; bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; a ordem econômica; a 04 ordem urbanística, a honra e dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos e o patrimônio público e social. A Ementa da Lei n° 7.347/85 deixa claro sua natureza procedimental/processual: “disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências”. Os art. 10 e 13 são normas de direito material. O art. 10 tipifica o crime de retardar ou omitir o atendimento a uma requisição do Ministério Público. E o art. 13 criou um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. Portanto, após essa parte introdutória, vamos estudar todos os 23 artigos da Lei n° 7.347/85 e os artigos 81 a 104 da Lei n° 8.078/1990. Legitimidade Ativa Para iniciar esta parte do nosso estudo, o Professor Alexandre vai falar sobre as questões controvertidas da legitimidade ativa lá no vídeo disponível no material on-line. Não deixe de assistir. A legitimação ativa na Ação Civil Pública está estabelecida nos arts. 127, e 129, III, § 1.º, da CRFB, no art. 5.º, caput e § 4.º, da LACP; e nos arts. 82, caput e § 1.º, e 91, do CDC. São os seguintes legitimados ativos: O Ministério Público, destacando nesse caso, que a CRFB determina ser função institucional do MP promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; Defensoria Pública (por força da Lei n° 11.448/2007); As entidades políticas, inclusive o Distrito Federal, com previsão expressa na Lei n° 11.448/2007; As entidades da Administração Pública Indireta, ou seja, as autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista; e A associação que atenda as condições: formal, temporal e institucional. 05 O Poder Público e as outras associações legitimadas possuem a faculdade de habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes. A legitimidade para propositura de Ação Civil Pública é concorrente e disjuntiva, pois os cinco legitimados podem atuar de forma independente. Diferentemente da Ação Popular e do Mandado de Segurança, o cidadão (pessoa física) não é legitimado para a propositura de uma Ação Civil Pública. Entretanto, a Lei n° 7.347/85 conferiu a qualquer pessoa o direito de provocar a iniciativa do Ministério Público nos casos de lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente, informando-lhe sobre fatos que constituam objeto da Ação Civil Pública Ambiental. Por sua vez, o servidor público tem a obrigação de provocar a iniciativa do MP quando tiver conhecimento de lesão ou ameaça de lesão aos recursos naturais. Leia no link a seguir uma reportagem como exemplo da legitimidade do IBAMA para propor uma ação civil pública. Acesse pelo material on-line. http://www.conjur.com.br/2013-jan-15/ibama-propor-acao-civil-publica-reparacao-dano-ambiental CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 O Ministério Público De acordo com a CRFB incumbe ao Ministério Público a promoção de ações civis públicas para a defesa do patrimônio público e social, do meio ambiente, e de outros interesses difusos e coletivos. Logo, não se exige do Ministério Público pertinência temática. No tocante ao Ministério Público, a regra é a presunção da legitimidade e interesse de agir. Contudo, entende-se que esta premissa poderá ser flexibilizada em situações pontuais. Por exemplo, se o Ministério Público do Estado da Bahia ajuizar ação civil pública para proteger recursos ambientais do Estado do Rio Grande do Sul, apenas poderá ser admitido como autor se demonstrar que a atividade degradante poderá afetar diretamente a Bahia, sob pena de usurpar funções institucionais do parquet gaúcho. (AMADO, 2014) O Ministério Público, caso não atue no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. Leia no link a seguir uma notícia sobre a necessidade de atuação do MP nas ações civis públicas. http://www.conjur.com.br/2015-out-28/acao-civil-publica-presenca-mp- nula-decide-trt 06 A lei autoriza de forma expressa a formação de litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos difusos. Destaca-se que em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. Defensoria Pública A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para propor Ação Civil Pública, não precisando comprovar pertinência temática, mas deve demonstrar atribuição institucional. Nos termos do art. 134 da Constituição Federal, a Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 do art. 5.º, LXXIV (o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos). Nesse sentido, vejamos o seguinte julgado do STJ: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL NOS EMBARGOS INFRINGENTES. PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM FAVOR DE IDOSOS. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE EM RAZÃO DA IDADE TIDO POR ABUSIVO. TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DEFESA DE NECESSITADOS, NÃO SÓ OS CARENTES DE RECURSOS ECONÔMICOS, MAS TAMBÉM OS HIPOSSUFICIENTES JURÍDICOS. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS. 1. Controvérsia acerca da legitimidade da Defensoria Pública para propor ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores idosos, que tiveram seu plano de saúde reajustado, com arguida abusividade, em razão da faixa etária. (...) 5. O Supremo Tribunal Federal, a propósito, recentemente, ao julgar a ADI 3943/DF, em acórdão ainda pendente de publicação, concluiu que a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública, na defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais 07 homogêneos, julgando improcedente o pedido de declaração de inconstitucionalidade formulado contra o art. 5.º, inciso II, da Lei n.º 7.347/1985, alterada pela Lei n.º 11.448/2007 ("Art. 5.º - Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: ... II - a Defensoria Pública"). (...). (EREsp 1192577/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/10/2015, DJe 13/11/2015). A Associação A associação deverá atender algumas condições para possuir a legitimidade ativa para propor uma Ação Civil Pública Ambiental. A lei determina que ela, para possuir legitimidade ativa, deverá concomitantemente (legitimação condicionada): Estar constituída há pelo menos 1 (um) ano (Condição Temporal)/ nos termos da lei civil (Condição Formal); e Incluir, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (a condição institucional). A associação deverá demonstrar em juízo a pertinência temática, ou seja, a associação para ser legitimada ativa na ação civil pública ambiental, deverá ter em seu estatuto a finalidade institucional de proteger o meio ambiente. Nesse sentido, vejamos o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça: “AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÕES COLETIVAS. LEGITIMIDADE. ASSOCIAÇÃO. CONDIÇÃO INSTITUCIONAL NÃO PREENCHIDA. 1. No que tange à titularidade da ação coletiva, prevalece a teoria da representação adequada proveniente das class actions norte- americanas, em face da qual a verificação da legitimidade ativa passa pela aferição das condições que façam do legitimado um representante adequado para buscar a tutela jurisdicional do interesse pretendido em demanda coletiva. 2. A LACP (art.5º) legitima não apenas órgãos públicos à defesa dos interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos. Também as associações receberam tal autorização. No entanto, 08 contrariamente aos demais habilitados, possuem (as associações) legitimação condicionada. 3. O exercício do direito de ação por parte das associações demanda o cumprimento de condições: (i) a condição formal, que exige constituição nos termos da lei civil; a (ii) condição temporal, referente à constituição há pelo menos um ano; e (iii) a condição institucional, que exige que a associação tenha dentre os seus objetivos estatutários a defesa do interesse coletivo ou difuso. 4. As associações que pretendem residir em juízo na tutela dos interesses ou direitos metaindividuais devem comprovar a chamada pertinência temática. Cumpre-lhes demonstrar a efetiva correspondência entre o objeto da ação e os seus fins institucionais. 5. A agravante não observa o requisito da representatividade adequada, consubstanciado na pertinência temática, visto que seu objetivo primordial é atuar em defesa de bares e restaurantes da Cidade de São Paulo. A previsão genérica estatutária de defesa dos interesses do setor e da sociedade não a legitima para a ação coletiva. 6. Agravo regimental não provido. (AgRg nos EDcl nos EDcl no REsp 1150424/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe 24/11/2015)”. É necessário que a norma prevista no inciso V do art. 5º da LACP deva ser interpretado de forma extensiva, pois, como no caso da associação de moradores, a proteção ambiental poderá ser posta como um meio para alcançar a finalidade da associação, qual seja, uma sadia qualidade de vida numa cidade sustentável. Essa matéria foi objeto do Informativo do STJ n° 0442 de agosto de 2010, no seguintes termos: “STJ. Segunda Turma. ACP. PRESERVAÇÃO. CONJUNTO ARQUITETÔNICO. A associação de moradores recorrente, mediante ação civil pública (ACP), busca o sequestro de importante conjunto arquitetônico incrustado em seu bairro, bem como o fim de qualquer atividade que lhe deprede ou polua, além da proibição de construir nele anexos ou realizar obras em seu exterior ou interior. Nesse contexto, a legitimidade da referida associação para a ACP deriva de seu 09 próprio estatuto, enquanto ele dispõe que umdos objetivos da associação é justamente zelar pela qualidade de vida no bairro, ao buscar a manutenção do ritmo e grau de sua ocupação e desenvolvimento, para que prevaleça sua feição de zona residencial. Sua legitimidade também condiz com a CF/1988, pois o caput de seu art. 225 expressamente vincula o meio ambiente à sadia qualidade de vida. Daí a conclusão de que a proteção ambiental correlaciona-se diretamente com a qualidade de vida dos moradores do bairro. Também a legislação federal agasalha essa hipótese, visto reconhecer que o conceito de meio ambiente encampa o de loteamento, paisagismo e estética urbana numa relação de continência. Destaca- se o teor do art. 3º, III, a e d, da Lei n° 6.938/1981, que dispõe ser poluição qualquer degradação ambiental oriunda de atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde e o bem-estar da população ou atinjam as condições estéticas do meio ambiente. Em suma, diante da legislação vigente, não há como invocar a falta de pertinência temática entre o objeto social da recorrente e o pleito desenvolvido na ação (art. 5º, V, b, da Lei n° 7.347/1985). REsp 876.931-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/8/2010”. Sobre a condição temporal (requisito especial de constituição há um ano), ela é necessária para evitar que sejam criadas associações casuísticas apenas para propor uma ação civil pública. Mas o art. 5º, § 4°, da Lei n° 7.347/85, autoriza o juiz a dispensar esse requisito quando houver manifesto de interesse social evidenciado pela dimensão ou caracterizado como dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. Podemos citar como exemplo, o caso em que moradores atingidos por um desastre oriundo de uma administração irresponsável de uma empresa, sofram danos de grande monta, e essa empresa se nega a indenizá-los. As vítimas formam uma associação para requerer ao Poder Judiciário que obrigue essa empresa a reparar os danos. Nesse caso, o juiz pode dispensar o requisito temporal (vide a tragédia ambiental em Mariana/MG e acidentes aéreos em que as empresas não promovem a devida indenização). Legitimidade Passiva O Professor Alexandre vai explicar tudo sobre as questões controvertidas da legitimidade passiva. Acesse o vídeo pelo material on-line e não deixe de assistir. O art. 225 da CRFB em seu parágrafo 3º estabelece que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, 010 pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. O art. 1º da LACP estabelece que as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados, entre outros, ao meio ambiente, deverão figurar no polo passivo da demanda. O art. 3º, IV, da Lei n° 6.938/81, define como poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. Analisando de forma conjunta o § 3º, do art. 225, da CRFB; o art. 1º da LACP; e o inciso IV, do art. 3º, da Lei n° 6.938/81, podemos concluir que todos os poluidores, pessoas físicas ou jurídicas, entes públicos ou privados, poluidores diretos ou indiretos, ativos ou omissivos terão legitimidade passiva ad causam, sendo solidária a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais, não sendo, portanto, obrigatória a formação do litisconsórcio passivo. Vamos ver como isso funciona na prática? No link a seguir tem uma notícia falando exatamente sobre uma decisão do STJ a respeito do que estamos falando. Confira acessando pelo material on-line. http://www.conjur.com.br/2013-jul-03/litisconsorcio-nao-necessario-acao- civil-publica-dano-ambiental Segue a ementa de interessantíssimo julgamento do STJ: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA "A" DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL. DISPOSITIVO CONSIDERADO VIOLADO CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 DO QUAL NÃO SE EXTRAI A TESE SUSTENTADA. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA SÚMULA N. 284 DO STF. 1. Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Paraná para responsabilização por danos causados ao meio ambiente em áreas às margens e nos próprios Rios Sem Passo e Mourão, bem como às margens do Reservatório da Usina Mourão I. O feito foi ajuizado contra os proprietários dos lotes nessas áreas, a União, o Estado do Paraná, o Município de Campo Mourão e a Companhia Paranaense de Energia, com pedido de condenação consistente na obrigação de fazer, referente à completa reposição florestal das propriedades apontadas - inclusive retirada de bovinos e lavouras em área de preservação permanente (faixa de cem 011 metros a contar do último ponto atingido pela lâmina d'água). A sentença julgou procedente os pedidos para condenar os réus à reparação dos danos ambientais, situação que foi mantida pelo acórdão de origem. 2. Recorre a União alegando ilegitimidade passiva, ao argumento de que sua competência ambiental foi descentralizada mediante a criação do Ibama, de forma que não há omissão daquele que não tem o dever jurídico de impedir ou fiscalizar. (...) 3. A recorrente aponta violação ao art. 6º da Lei n° 6.938/31, que dispõe que "[o]s órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA" (negrito acrescentado). 4. Da leitura do dito dispositivo tido como malferido não se depreende a afirmação do recorrente de que toda competência da União relativa a danos ao meio ambiente foi descentralizada mediante criação do Ibama. Muito pelo contrário, o que fala o artigo de lei é exatamente que a União, além de outras entidades, são responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, e constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente. (...) 5. Recurso especial não conhecido. (REsp 1266920/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/02/2012, DJe 14/02/2012)”. Para aclarar o tema, devemos citar o seguinte julgamento do Superior Tribunal de Justiça: “ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. LEGITIMIDADE PASSIVA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. IBAMA. DEVER DE FISCALIZAÇÃO. OMISSÃO CARACTERIZADA. 012 1. Tratando-se de proteção ao meio ambiente, não há falar em competência exclusiva de um ente da federação para promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo. 2. O Poder de Polícia Ambiental pode - e deve - ser exercido por todos os entes da Federação, pois se trata de competência comum, prevista constitucionalmente. Portanto, a competência material para o trato das questões ambiental é comum a todos os entes. Diante de uma infração ambiental, os agentes de fiscalização ambiental federal, estadual ou municipal terão o dever de agir imediatamente, obstando a perpetuação da infração. 3. Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, logo responderá pelos danos ambientais causados aquele que tenha contribuído apenas que indiretamente para a ocorrência da lesão. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1417023/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2015, DJe 25/08/2015)”. CCDD– Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 013 REVENDO A PROBLEMATIZAÇÃO Agora que você já viu todo o conteúdo teórico, vamos voltar ao nosso problema exposto lá no início do estudo. E então, qual a medida mais adequada no caso da atividade ilegal da peixaria? a. Propor uma Ação Civil Pública visando responsabilizar os autores dos danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente. b. Senhor "A" poderia informar ao Ministério Público a ocorrência do dano e entregar ao órgão do MP documentos que comprovem a ocorrência do dano e a omissão da Prefeitura Municipal. c. Senhor "A" deve requerer a associação de moradores do bairro que busca a manutenção do bem-estar dos moradores que entre com uma Ação Civil Pública para que sejam reparados os danos causados ao meio ambiente. Para consultar o feedback de cada uma das alternativas, acesse o material on-line. 014 SÍNTESE Chegamos ao final de mais um tema. Aprendemos que a ação civil pública tem a natureza jurídica de garantia fundamental, com a finalidade de proteger o direito fundamental indisponível ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Vimos que para a tutela dos direitos metaindividuais, como o direito ao meio ambiente equilibrado, o sistema do Código de Processo Civil de 1973 não era adequado por ser individualista, não se preocupando em sistematizar a tutela de direitos supraindividuais, além de conhecermos quem são os legitimados ativos para propor a ACP. Sobre a legitimidade ativa notamos que, analisando de forma conjunta o § 3º, do art. 225, da CRFB, o art. 1º da LACP e o inciso IV, do art. 3º, da Lei 6.938/81, todos os poluidores, pessoas físicas ou jurídicas, entes públicos ou privados, poluidores diretos ou indiretos, ativos ou omissivos terão legitimidade passiva da causa, sendo solidária a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais, não sendo, portanto, obrigatória a formação do litisconsórcio passivo. Para relembrar tudo o que vimos neste tema, acesse o material on-line e assista ao vídeo em que o Professor Alexandre recapitula esta parte do nosso estudo. 015 REFERÊNCIAS AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito ambiental esquematizado. 5.ª ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. ANDRADE, Adriano. MASSON, Cleber. ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos esquematizado. 4ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 12ª ed. – Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2010. DIDIER JR., Fredie. BRAGA, Paulo Sarna. OLIVEIRA. Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. Volume 2. 10ª ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. DIDIER JR., Fredie. ZANETI JR, Hermes. Curso de Direito Processual Civil: processo coletivo. Volume 4. 9ª ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2014. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14ª ed. rev., ampl. e atual. em face da Rio+20 e do novo “Código” Florestal. São Paulo: Saraiva, 2013. GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Direitos difusos e coletivos II. São Paulo: Saraiva, 2012. GALLI, Marcelo. Defensoria Pública pode propor ação civil pública, decide Supremo. Revista Eletrônica Consulto Jurídico. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2015-mai-07/defensoria-publica-propor-acao-civil- publica-decide-supremo >. Acesso em: 5 jan. 2017. MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 20ª ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2007. 016 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sergio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil. Volume 1. Revista dos Tribunais. São Paulo. 2015. MARINS, Jomar. Ação civil pública sem presença do Ministério Público é nula, decide TRT-4. Revista Eletrônica Consulto Jurídico. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2015-mai-07/defensoria-publica-propor-acao-civil- publica-decide-supremo >. Acesso em: 5 jan. 2017. MARINS, Jomar. Ibama pode propor Ação Civil Pública Ambiental. Revista Eletrônica Consulto Jurídico. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2013-jan- 15/ibama-propor-acao-civil-publica-reparacao-dano-ambiental>. Acesso em: 5 jan. 2017. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Ações constitucionais. 2ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo, volume único. 2ª ed., rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. TARTUCE, Flávio. Manual de direito do consumidor: direito material e processual. 3ª ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 5ª edição. São Paulo: JusPodivm, 2015.
Compartilhar