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Práticas de escrita I

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS – PRÁTICAS DA ESCRITA ACADÊMICA 
Profª Maria Emília Cruz Tôrres
I - A LEITURA E O TEXTO
Medeiros (2011) parte do ponto de vista de que a linguagem não pode ser estudada separadamente da sociedade que a produz e de que para sua constituição entram em jogo processos histórico-sociais. Daí que a linguagem não pode ser considerada um produto. E a leitura é produzida, uma vez que o leitor interage com o autor do texto. Esta noção leva em consideração que o texto é o lugar de interação entre falante e ouvinte, o autor e leitor. Além disso, ao dizer algo, ou ao escrever algo, essa pessoa o diz ou escreve de algum lugar da sociedade para alguém que ocupa algum lugar na sociedade. E isto faz parte do sentido. Segundo Eni Pulcinelli Orlandi (1987, p. 180 ):
O texto não é uma unidade completa, pois sua natureza é intervalar. Sua unidade não se faz nem pela soma de interlocutores nem pela soma de frases. O sentido do texto não está em nenhum dos interlocutores especificamente, está no espaço discursivo dos interlocutores; também não está em um ou outro segmento isolado em que se pode dividir o texto, mas sim na unidade a partir da qual eles se organizam. Daí haver uma característica indefinível no texto que só pode ser apreendida se levarmos em conta sua totalidade.
Uma reflexão sobre leitura deve levar em conta aspectos da linguagem que se podem observar pela análise do discurso. Esta, por sua vez, pode ser vista como forma de conhecimento da linguagem, ou uma forma específica de ver a linguagem.
Considerando-o dessa forma, o texto não é objeto pronto, acabado. É aparentemente acabado (tem começo, meio e fim). A análise do discurso traz à tona sua incompletude, suas condições de produção. Ora, como o texto se relaciona com a situação (contexto sociocultural, histórico, econômico, com os interlocutores) e com outros textos (intertextualidade), isto lhe dá um caráter de incompletude, de não acabado. 
A legibilidade de um texto depende não só da coesão gramatical de suas frases, da coerência de suas idéias com relação ao contexto de situação (consistência lógica das idéias), da sinalização de tópicos, mas também da relação do leitor com o texto e com o autor. Orlandi (1987, p. 183) afirma: 
De um lado, a legibilidade não é uma questão de tudo ou nada mas uma questão de graus, e, de outro, gostaríamos de dizer que a legibilidade envolve outros elementos além da boa formação de sentenças, da coesão textual, da coerência. Ou, dito de outra forma, um texto pode ter todos esses elementos em sua forma optimal e não ser compreendido. Do nosso ponto de vista, então, é preciso considerar, no âmbito da legibilidade, a relação do leitor com o texto e com autor, a relação de interação que a leitura envolve.
Consideramos, então, que o TEXTO é um todo significativo, elaborado em partes que o entrelaçam; da mesma forma é o PARÁGRAFO. 
Tomemos como exemplo o texto: A aceleração da aprendizagem
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	Uma proposta pedagógica de aceleração da aprendizagem necessita resgatar teorias educacionais bem-sucedidas e conjugá-las na prática pedagógica em favor dos alunos. Não se trata, portanto, de dogmatismos teóricos e, sim, de ecletismo responsável e consequente.
	Destaca-se, nesse conjunto de princípios referenciais, o fortalecimento da auto-estima dos alunos, para acelerar a aprendizagem daqueles que apresentam defasagem idade-série.
	O trabalho voltado para o fortalecimento da autoestima começa por aquele olhar novo, vivificador, estimulador de todos os agentes da escola sobre os alunos, sobre todos os alunos. Mas, efetivamente, deve configurar-se em ações concretas, consistentes e coerentes, no sentido de desmontar qualquer sentimento de inferioridade em termos de aprendizagem, pela construção de uma prática de sucessos constantes.
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	Assim, essa autoestima será reconstruída pela própria via de aprendizagem. Isso significa que, no contexto do próprio processo pedagógico de desenvolvimento dos conteúdos escolares, o aluno pode elevar seu autoconeito, sentindo-se cada vez mais seguro para participar, questionar, refutar, argumentar, analisar, decidir.
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O texto-modelo compõem-se de 4 parágrafos, indicados por um afastamento da margem esquerda da folha. Ele serve para dividir o texto (um todo), em partes menores e é uma unidade redacional.
As ideias ão, assim distribuídas:
No 1º parágrafo tem-se a ideia principal: apresentação das características de uma proposta pedagógica específica.
O 2º e 3º parágrafos apresentam o desenvolvimento da ideia principal:
2º parágrafo: exposição de um dos princípios que fundamentam a proposta: fortalecimento da autoestima
3º parágrafo: detalhamento do que significa o fortalecimento da autoestima.
No 4º parágrafo, tem-se a conclusão da ideia principal: autoestima elevada propicia segurança no processo de ensino-aprendizagem.
Igualmente ao texto, o parágrafo também se estrutura em: 
ideia principal - desenvolvimento - conclusão
Para Othon Moacyr Garcia (2008), o parágrafo se constitui por um ou mais períodos, em que se desenvolve determinada ideia central ou principal ou nuclear, chamada também de tópico frasal, a que se agregam outras secundárias, relacionadas pelo sentido e decorrentes dela.
Não há falar-se que a obrigatoriedade de moldes rígidos para a cosntrução do parágrafo inexiste. Entretanto, recomenda-se esse tipo, além de que se deve pensar também que pode haver variações dependendo do gênero de texto, das preferências do autor, e do arbítrio pessoal. 
A extensão do parágrafo é variável dependendo do assunto, da sua profundidade, e da complexidade dos conceitos apresnetados.
Analisando-se o 3º parágrafo, observa-se a seguinte estrutura:
a. Tópico frasal: “O trabalho voltado para o fortalecimento da autoestima do aluno começa por aquele olhar novo...”
b. Desenvolvimento: “Vivificador, estimulador de todos os agentes da escola sobre os alunos, sobre todos os alunos. Mas, efetivamente, deve configurar-se em ações concretas, consistentes e coerentes...”
c. Conclusão: “... no sentido de desmontar qualqeur sentimento de inferioridade em termos de aprendizagem, pela construção de uma prática de sucessos constantes.”
Modos de escrita da ideia -tese – tópico frasal – ideia nuclear, etc.
De modo geral, a ideia principal encontra- se no início do parágrafo, mas, algumas vezes, por motivos estilísticos, desloca-se dessa posição, ou se dilui no parágrafo. Daí, algumas vezes termos de reler o texto mais de uma vez até encontrarmos essa ideia nuclear, pois é apenas a partir desse reconhecimento que conseguiremos compreender o texto em sua totalidade comunicativa. Os parágrafos podem iniciar-se por: 
Declaração (afirmativa, negativa, duvidosa)
Ex.: Nenhuma comunidade linguística pode se considerar composta de indivíduos que falam uma língua em todos os pontos idênticos.
Pergunta
 Ex.: Será que a violência ignora que muitas vezes não lhe cabe outro destino do que o do bumerangue, voltando ao ponto de partida, com efeito oposto ao do arremesso com que partiu? 
Definição
 É o método frequente na linguagem didática.
 Ex.: Os pulsares são estrelas que, dentro de uma fantástica 	peridiodicidade, emitem fortes lampejos de energia.
Divisão
Predomina também no discurso didático.
Ex.: A cadeira de Língua Portuguesa da 1ª série divide-se em duas partes: LP I, em que se ensinam noções de gramica, e LP II, em que se prioriza o estudo de textos.
O desenvolvimento (do parágrafo)
É o desdobramento da ideia principal ou nuclear, ou tópico frasal, na sua explanaçãono parágrafo. São várias as modalidades, vejamos algumas:
Por definição
Essencial: localiza-se o termo a ser definido no gênero a que pertence e identifica-se a diferença específica do termo em relação aos demais gêneros.
 Ex.: Muitas vezes as pessoas fazem do hedonismo a sua meta existencial (ideia principal). Hedonismo é a doutrina filosófica que faz do prazer a finalidade da vida.
(observe que é como se se perguntasse: o que é hedonismo? É uma doutrina filosófica (gênero). Qualquer doutrina filosófica é hedonismo? Não, apenas a que faz do prazer a finalidade da vida (diferença específica).

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