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DIREITO CIVIL I - CCJ0006
Semana Aula: 1
O Código Civil Brasileiro
Tema
O Código Civil Brasileiro
Palavras-chave
Direito Privado - Código Civil - Constituição da República - Repersonalização
Objetivos
- Discorrer sobre a importância da disciplina Direito Civil I para os objetivos do curso e empregabilidade do aluno.
- Apresentar as competências e habilidades desenvolvidas, em articulação com outras disciplinas do curso.
- Discorrer sobre a metodologia de ensino centrada na resolução de casos concretos.
- Apresentar a bibliografia básica e complementar.
- Apresentar o Plano de Ensino e o Mapa Conceitual da Disciplina.
- Orientar a utilização do material didático.
- Contextualizar o Direito Civil como principal ramo do Direito Privado.
- Fornecer ao aluno o campo estrutural do Código Civil Brasileiro e sua base principiológica.
- Discorrer sobre a relação do Direito Civil com a Constituição Federal de 1988.
Estrutura de Conteúdo
Unidade I - O Código Civil Brasileiro.
 
O Direito Civil como ramo do Direito Privado.
O fenômeno da codificação.
A codificação civil brasileira.
O Código Civil de 2002: estrutura, princípios norteadores e campo de incidência. 
Direito Civil e a Constituição da República de 1988.
Procedimentos de Ensino
O professor deve iniciar apresentando aos discentes o plano de ensino, o mapa conceitual, a metodologia e a bibliografia. Deverá ainda orientar os alunos acerca da utilização do material didático.
 1.1. O Direito Civil como ramo do Direito Privado
O professor deverá fazer uma breve revisão do conteúdo administrado no semestre anterior na disciplina Introdução ao Estudo do Direito, especialmente com relação ao conceito de direito, relação entre Direito e Moral, fontes do Direito e classificação dos vários ramos do Direito.
O Direito Civil deve ser identificado como principal ramo do Direito Privado, bem como instrumento de realização dos direitos fundamentais no âmbito das relações privadas, regulando as relações entre os particulares com fundamento em na igualdade jurídica e na autodeterminação. O direito civil extrai seu nome do latim cives (cidadãos) e se dirige ao núcleo da vida em sociedade, ou seja, às relações sociais travadas de pessoa a pessoa, desde o nascimento até a morte, ou até mesmo antes daquele e depois desta.
Para ilustrar a diferença entre moral e direito em termos práticos, sugere-se que seja trabalhado em sala de aula o seguinte precedente do STJ: 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. CARÁTER INFRINGENTE INCOMPATÍVEL COM A VIA INTEGRATIVA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL. FAMÍLIA. DANOS MATERIAIS E MORAIS. ALIMENTOS. IRREPETIBILIDADE. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE FIDELIDADE. IMPUTAÇÃO AO CÚMPLICE DA TRAIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.  INDENIZAÇÃO. JUROS MORATÓRIOS. PERCENTUAL.
1. Não se reconhece a negativa de prestação jurisdicional alegada quando o acórdão embargado encontra-se suficientemente fundamentado, abordando, com a profundidade adequada, toda a matéria devolvida a esta Corte Superior em sede de recurso especial.
2. O intuito infringente contido nas razões dos declaratórios é incompatível com a via recursal integrativa.
3. O dever de fidelidade recíproca dos cônjuges é atributo básico do casamento e não se estende ao cúmplice de traição a quem não pode ser imputado o fracasso da sociedade conjugal por falta de previsão legal.
4. O Superior Tribunal de Justiça firmou posicionamento no sentido de que os juros serão calculados à base de 0,5% ao mês, nos termos do artigo 1.062 do Código Civil de 1916 até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002). A partir da vigência do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002), os juros moratórios deverão observar a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (artigo 406). Atualmente, a taxa dos juros moratórios a que se refere o referido dispositivo é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC.
5. Embargos de declaração acolhidos apenas para esclarecer o percentual dos juros moratórios em virtude da condenação decorrente do provimento do recurso especial.
(EDcl no REsp 922.462/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/04/2014, DJe 14/04/2014)
Por outro viés, recente julgado da 2ª Vara Cível Governador Valadares - Minas Gerais TJMG, entendeu por responsabilizar ex-marido e amante por indenizar a mulher traída. (disponível em https://mae.tips/justica-decidiu-ex-marido-e-amante-terao-que-pagar-indenizaçao-mulher-traida)
1.2. O fenômeno da codificação.
Código é uma lei que busca disciplinar relações jurídicas da mesma natureza (civis, penais, trabalhistas etc.), organizando e sistematizando o direito material. Não se pode confundir código com consolidação, compilação e estatuto.
Sob o ponto de vista histórico, todo Código deve ser visto como ponto de chegada, pois, embora tente projetar comportamentos futuros reflete acontecimentos passados e a sociedade atual – por isso que a codificação deve evitar ao máximo a descrição de situações circunstanciadas e casuísticas, eis que o risco de se tornar obsoleta é muito maior.
A codificação apresenta vantagens e desvantagens:
Vantagens
- unificação do Direito vigente em uma determinada sociedade a partir de critérios uniformes;
- estudo sistematizado do Direito;
 
Desvantagens
- fossilização do Direito, impedindo o desenvolvimento e o curso natural da evolução jurídica. Isso ocorreu principalmente nos Códigos oitocentistas, cujo modelo foi o Código Napoleão, em que os valores predominantes eram a propriedade e a autonomia da vontade.
- a legislação codificada atende às exigências da vida social apenas no instante em que é estabelecida;
- o apego à letra pura da Lei torna-se mais evidente, como se inexistisse Direito fora do Código.
 "A principal desvantagem da codificação, e talvez a única, segundo a maioria dos autores, seria a rigidez, o que implica na dificuldade de sua alteração (...)
Entretanto, em termos científicos, não nos convence o argumento porquanto calcado em razões de ordem estritamente psicológicas. A apontada 'rigidez' é fruto tão somente da mentalidade do jurista que, acostumado a trabalhar com determinados e conhecidos textos, torna-se inconscientemente conservador e avesso a mudanças.
Demais disso, a alteração de um código, para fins de adaptação da ordem jurídica, não se dá, exclusivamente, pela alteração formal dos dispositivos normativos"
(DELGADO, Mario Luiz. Codificação e descodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 70-71).
 
1.3. A codificação civil brasileira.
Antes do Código de 1916, o direito civil brasileiro era regulamentado pelas Ordenações Filipinas de 1603, com algumas adaptações. Até mesmo após a independência o Brasil não acabou com a aplicação deste diploma português, pois a Constituição de 1824 recepcionou as Ordenações.
A Constituição do Império (1824) trazia disposição expressa pela elaboração de um Código Civil. A primeira manifestação nesse sentido foi a Consolidação das Leis Civis (1855) elaborada por Teixeira de Freitas, que foi o mesmo que redigiu o primeiro esboço do Código Civil. Este esboço, porém, não foi aceito.
Depois de várias outras tentativas de codificação, o projeto de Clóvis Beviláqua, de forte influência pandectista, foi aceito em 1899, aprovado em 1915, promulgado em 1916, com vigência a partir de 1917.
 Códigos Históricos que influenciaram a codificação brasileira
- Código de Napoleão (1804): tentativa de aproximação com o Direito Romano; individualista e burguês. Inspirou os chamados códigos oitocentistas e refletia o pensamento jurídico e político do Estado Liberal. O Código Civil brasileiro de 1916 refletia valores do iluminismo e do Estado Liberal e tinha por pilares fundamentais a família, a propriedade e o contrato.
- BGB (1900): até então, o direito privado alemão era demais fracionado. O direitocivil foi, então, sistematizado e organizado em um código aberto, pois Savigny entendia que para que o Código conseguisse ultrapassar barreiras espaciais e temporais, deveria conter princípios jusnaturalistas. Apartou-se do casuísmo e priorizou princípios abstratos e generalizados, como uma das formas de dar segurança ao direito e garantir que a legislação não se tornasse logo obsoleta. Foi o primeiro Código a dividir-se em uma parte geral e mais quatro livros especiais, ao lado de uma lei de introdução ao Código Civil. O BGB influenciou a estrutura formal do Código Civil brasileiro de 1916 (parte geral e livros especiais).
 As cláusulas gerais e os conceitos jurídicos indeterminados
1.4. O Código Civil de 2002: estrutura, princípios norteadores e campo de incidência.
O Código Civil de 2002, seguindo a linha do Código de 1916, também é dividido em uma parte geral e livros especiais. Além da inserção de um livro sobre o direito de empresa (unificação do direito privado), a ordem de disposição dos livros que compõem a parte especial do atual Código reflete a tentativa do legislador de sistematizar o Direito Civil, conferindo lógica e coesão ao texto codificado.
 Estrutura do Código Civil de 1916: Parte Geral e Parte Especial (Família, Direito das Coisas, Obrigações e Sucessões).
Estrutura do Código Civil de 2002: Parte Geral e Parte Especial (Obrigações, Empresa, Direito das Coisas, Família e Sucessões).
 Três princípios fundamentais do Código Civil de 2002:
a) ETICIDADE: superar o apego do antigo Código ao rigor formal. O atual Diploma alia os valores técnicos aos valores éticos. Por isso percebe-se, muitas vezes a opção por normas genéricas ou cláusulas gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual.
O mundo contemporâneo testemunha a preocupação constante dos doutrinadores jurídicos, políticos e sociais com a necessidade das relações do homem com os seus e do Estado com os seus administrados serem fortalecidas com a prática de condutas éticas. Afirma que a ética é delimitadora do comportamento humano, abrangendo a realidade que o cerca e influenciando a estrutura dos fatos e atos produzidos pelo cidadão. Declara que o Código Civil apresenta-se em forma de sistema vinculado a dois pólos: um formado em eixo central; o outro concentrado em um sistema aberto. O professor pode concluir definindo que a eticidade o Código Civil visa imprimir eficácia e efetividade aos princípios constitucionais da valorização da dignidade humana, da cidadania, da personalidade, da confiança, da probidade, da lealdade, da boa-fé, da honestidade nas relações jurídicas de direito privado.
b) A SOCIALIDADE: Está presente no novo Código a socialidade em detrimento do caráter individualista do antigo Diploma civilista. Daí o predomínio do social sobre o individual. Um exemplo interessante neste sentido é o da função social da propriedade A Constituição da República deu uma fisionomia funcional social ao direito de propriedade, que no seu art. 5º,inciso XII, ao lado de garantir o direito de propriedade, logo em seguida no inciso XXIII.
A funcionalização do direito de propriedade importa em dar-lhe uma determinada finalidade, que na propriedade rural significa ser produtiva (art. 186) e na urbana quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressa no plano diretor (art. 182, § 2º). Tal novidade acabou por refletir-se na elaboração do novo Código Civil, em seu art. 1228, o que se mostra coerente com a inscrição de novos princípios norteadores, especialmente o da Socialidade, que vem tentar a superação do caráter manifestamente individualista do Diploma revogado, reflexo mesmo da publicização do Direito Civil, admitindo ainda a propriedade pública dos bens cuja apreensão individual configuraria um risco para o bem comum.
De lapidar redação, o § 1.º do art. 1228 estabelece que "O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas." Também digno de transcrição o § 2.º: "São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem."
c) OPERABILIDADE: Diversas soluções normativas foram tomadas no sentido de possibilitar uma compreensão maior e mais simplificada para sua interpretação e aplicação pelo operador do Direito. Exemplo disso foram as distinções mais claras entre prescrição e decadência e os casos em que são aplicadas; estabeleceu-se a diferença objetiva entre associação e sociedade, servindo a primeira para indicar as entidades de fins não econômicos, e a última para designar as de objetivos econômicos
 
1.5. Direito Civil e a Constituição da República de 1988.
Em relação a este item a ser desenvolvido pelo docente, uma sugestão é a de se começar afirmando que o Código Civil sempre representou o centro normativo de direito privado, por se preocupar em regular com inteireza e completude as relações entre particulares. Desta forma, o aluno será instado a perceber que existia uma verdadeira cisão na estrutura jurídica liberal no sentido de que a Constituição apenas deveria se preocupar em regular a dinâmica organizacional dos poderes do Estado, enquanto que ao Código Civil era reservado o regime das relações humanas, o espaço sagrado e inviolável da autonomia privada.
É exatamente nesta linha que surge a codificação de 1916, sendo fortemente influenciada pelo Código Napoleônico de 1804 e pelo BGB da Alemanha de 1896. Com aspirações de um jusnaturalismo racionalista, o Código Civil de 1916 defende os valores do patrimonialismo e de um excessivo individualismo inerentes às codificações liberais (aqui vale recordar as noções sobre as diversas correntes jusnaturalistas que o aluno aprendeu em IED, no período anterior).
Desta maneira, conferia-se ao Código o papel de garantia e regulação das relações privadas mediante a efetivação dos valores de um iluminismo liberalista. A codificação civil de 1916, então, surgiu impelida pelas ideias libertárias da burguesia ascendente, que visava à consolidação dos valores de um patrimonialismo e individualismo nas relações privadas. Assim, pelo liberalismo econômico, a Constituição exerceria um papel meramente interpretativo, somente podendo ser aplicada diretamente em casos excepcionais de lacunas dos códigos, a quem realmente caberia a missão de regular e equilibrar as relações interpessoais.
Neste sentido, o Código Civil se transforma numa verdadeira constituição do direito privado, buscando proteger o indivíduo contra as ingerências do Estado.
Importante ressaltar ao aluno, ainda que não seja o objetivo primordial desta aula, que o Código Civil de 1916 surgiu com um século de atraso das codificações individualistas e voluntaristas da Alemanha e da França, onde já se iniciavam as demandas por um maior intervencionismo estatal e pelo controle dos desequilíbrios das relações econômicas. Mas, mesmo assim, o Código de 1916 permaneceu ancorado neste modelo abstrato e totalmente inerte à realidade social e a crescente complexidade das relações humanas.
Esse excessivo individualismo e a liberdade sem limites ocasionaram grandes desigualdades sociais. Houve a necessidade de o Estado interferir nas relações de direito privado para minimizar essas desigualdades e limitar a liberdade dos indivíduos protegendo as classes menos favorecidas, em busca de uma igualdade substancial.
Aos poucos o Código Civil vai perdendo o seu papel de Constituição do direito privado. A ideia de código concebido como um sistema fechado foi sendo destruída, surgindo diversas leis especiais e, aos poucos, o Direito Civil foi se fragmentando.
Assim, a Constituição assume um novo papel de regência das relações privadas, conferindo uma nova unidade do sistema jurídico. A posição hierárquicada Constituição e sua ingerência nas relações econômicas e sociais possibilitam a formação de um novo centro unificador do sistema, definindo seus verdadeiros pilares e pressupostos de fundamentação.
Desta forma, a constitucionalização do Direito privado não importa em apenas conferir à constituição a superioridade hierárquica conformadora do ordenamento jurídico, mas, acima disto, quer proporcionar uma releitura dos velhos institutos e conceitos do âmbito privado, visando à concretização dos valores e preceitos constitucionais. A Constituição passa, assim, a definir os princípios e as regras relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade, como a função social da propriedade, organização da família e outros. Assim, foi se derrubando o paradigma individualista do Estado Liberal e do cidadão dotado de patrimônio, e passou-se a adotar um novo paradigma. As constituições começaram a trazer em seu bojo regras e princípios típicos de direito civil e a valorizar a pessoa colocando-a acima do patrimônio. Passou-se a buscar a justiça social ou distributiva e, aos poucos, a liberdade foi sendo limitada, com a finalidade de se alcançar uma igualdade substancial. É importante distinguir, por fim, a Constitucionalização do Direito Civil da publicização do direito privado. Muitos doutrinadores confundem essas duas situações, mas elas são distintas. 
A primeira é a análise do direito privado com base nos fundamentos constitucionalmente estabelecidos. É a aplicação dos mandamentos constitucionais no direito privado. Já a segunda é o processo de intervenção estatal no direito privado, principalmente mediante a legislação infraconstitucional. Por fim, é importante que o professor destaque para o aluno que a norma constitucional, apesar da resistência de alguns setores da doutrina, passa a ser diretamente aplicável às relações privadas. Note-se que a Constituição, por ser um sistema de normas, é dotada de coercibilidade e imperatividade e, sendo assim, é perfeitamente suscetível de ser aplicada nas relações de direito privado. E aqui é importante exemplificar, utilizando, por exemplo, o direito de família.
A Constituição de 1988, refletindo as mudanças nas relações familiares ocorridas ao longo do século XX deu um novo perfil aos institutos do direito de família.
Assim o novo CC teve que adaptar-se aos novos ditames constitucionais aprofundando-os:
- União Estável – reconhecida como entidade familiar;
- Maioridade Civil: aos 18 anos; 
- Regime de bens: pode ser alterado por acordo entre os cônjuges;
- Exames de DNA para comprovação de paternidade: a recusa implica em reconhecimento da filiação;
- Filhos nascidos fora do casamento: não há mais distinção entre filhos de qualquer origem;
- Guarda dos filhos em caso de separação: os filhos podem ficar com o pai ou a mãe;
- Testamento: não mais precisa ser feito à mão pelo testador;
- Sucessão: o cônjuge passa a ser herdeiro necessário, mas se efetivamente herdará ou não dependerá do regime de bens do casamento.
 Destaque-se ainda que o STF tem constantemente ressaltado a influência dos direitos fundamentais no Direito Civil, que assumiu seu papel como instrumento para assegurar o pleno desenvolvimento da pessoa (a exemplo de decisões emblemáticas como a ADI 4277- união homoafetiva, Resolução 175 do CNJ sobre a possibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo).
Estratégias de Aprendizagem
Sugere-se que o professor realize atividades com ao menos um dos filmes indicados no item cinemateca do material didático (pp. 16, 26, 33 e 34).
Indicação de Leitura Específica
Material didático:
CURIA, Luiz Roberto e RODRIGUES, Thais Camargo de Campos (col.) et al. Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 15-37.
Recursos
·     Quadro e pincel
·     Projetor
·     Datashow
Aplicação: articulação teoria e prática
Caso concreto
Rebeca comprou terreno em loteamento empreendido por Amaranta. Sem que constasse do instrumento contratual, Amaranta garantiu a Rebeca que teria vista definitiva a um belo monte, que era a grande atração do empreendimento, tendo inclusive assegurado que a legislação local não permitia edificações nos terrenos a frente do seu. Após alguns meses da aquisição do terreno, Amaranta solicitou uma alteração no plano de urbanização da cidade, que passou a permitir a edificação nos lotes em frente ao terreno de Rebeca, fazendo com que ela perdesse a visão para o monte.
Inconformada, Amaranta moveu uma ação contra Rebeca, tendo obtido êxito porque o órgão jurisdicional entendeu que pela boa-fé objetiva, existe um dever de não adotar atitudes que possam frustrar o objetivo perseguido pela autora, ou que possam implicar, mediante o aproveitamento da antiga previsão contratual, a diminuição das vantagens ou até infligir danos ao contratante. 
Diante dos fatos narrados acima e com base no conteúdo das aulas desta semana, responda:
a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral? Em caso afirmativo, explique o porquê de a boa-fé objetiva adequar-se ao conceito de cláusula geral. Em caso negativo, indique de maneira justificada a que categoria pertence a boa-fé objetiva.
b) Qual(is) dos princípios estruturantes do CC/2002 foi(ram) levado(s) em consideração para que o magistrado interpretasse a boa-fé objetiva? Justifique.
 
Questão objetiva
 
(MP/GO – 2005) O atual Código Civil optou “muitas vezes, por normas genéricas ou cláusulas gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual, a fim de possibilitar a criação de modelos jurídicos hermenêuticos, quer pelos advogados quer pelos juízes para a contínua atualização dos preceitos legais” (trecho extraído do livro História do novo Código Civil, de Miguel Reale e Judith Martins-Costa). Considerando o texto, é correto afirmar que:
 
a) Cláusulas gerais são normas orientadoras sob a forma de diretrizes, dirigidas precipuamente ao juiz, vinculando-o ao mesmo tempo em que lhe dão liberdade para decidir,  sendo que tais cláusulas restringem-se à Parte Geral do Código Civil.
 
b) Aplicando a mesma cláusula geral, o juiz não poderá dar uma solução em um determinado caso, e solução diferente em outro.
 
c) São exemplos de cláusulas gerais: a função social do contrato como limite à autonomia
privada e que no contrato devem as partes observam a boa-fé objetiva e a probidade.
 
d) As cláusulas gerais afrontam o princípio da eticidade, que é um dos regramentos básicos que sustentam a codificação privada
Avaliação
Caso concreto 01
a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral, eis que traduz-se como verdadeira "janela deixada pelo legislador civil em razão da mobilidade da vida", como "técnica legislativa que conforma o meio hábil para permitir o ingresso, no ordenamento codificado, de princípios valorativos ainda não expressos legislativamente, de standarts, arquétipos exemplares de comportamento, de deveres de conduta não previstos legislativamente (e, por vezes, nos casos concretos, também não advindos da autonomia privada), de direitos e deveres configurados segundo os usos do tráfego jurídico, de diretivas econômicas, sociais e políticas, de normas (...) (excerto extraído da página 30 do material didático).
b) O princípio em questão é o da eticidade, que deve sempre orientar o magistrado na interpretação das cláusulas gerais.
 
Questão objetiva 01
Alternativa C
Indicação de leitura suplementar: DELGADO, Mario Luiz. Codificação e descodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011.
Considerações Adicionais
�
DIREITO CIVIL I - CCJ0006
Semana Aula: 2
Pessoa natural
Tema
	Pessoa natural
Palavras-chave
Pessoa - personalidade - capacidade - nascituro
Objetivos
- Discorrer sobre as diversas concepções acerca das pessoas no âmbito das relações jurídicas;
- Introduzir o entendimento do conceito e modos de aquisição da personalidade jurídica;
- Apresentar a questão conflituosaa respeito da natureza jurídica do nascituro;
- Prover ao aluno os conhecimentos relativos à noção de capacidade civil das pessoas naturais, diferenciando os institutos da personalidade e da capacidade;
- Discorrer sobre as diversas limitações à capacidade jurídica plena: incapacidade absoluta, relativa, analisando sob a ótica da Lei 13.146/15.
- Emancipação
Estrutura de Conteúdo
Unidade II - A Pessoa Natural.
A personalidade jurídica: conceito e aquisição.
Tutela jurídica do nascituro. 
Personalidade e Capacidade: capacidade de direito e capacidade de fato. A incapacidade. As restrições de direito. (Análise de acordo com a Lei 13.146/2015) 
Suprimento e cessação da incapacidade civil. Distinção entre tutela e curatela.
Procedimentos de Ensino
1. A personalidade jurídica: conceito e aquisição.
Iniciaremos demarcando que é o próprio homem, isto é, o ser humano individualmente considerado como sujeito de direitos e obrigações. Vale salientar, que as expressões pessoa física e pessoa natural são sinônimas, apenas com a ressalva que esta (pessoa natural) foi a locução adotada pelo Código Civil brasileiro, enquanto que aquela (pessoa física) foi adotada pelas legislações tributárias. 
Feita esta ressalva, continuaremos, no sentido de introduzir ao aluno o conceito de que personalidade civil ou Jurídica é a capacidade que as pessoas têm de serem titulares de direitos e obrigações. Personalidade não é um atributo natural, isto é, não está necessariamente vinculado ao ser humano. Se assim fosse, a pessoa jurídica não teria personalidade. Por isso se diz que a personalidade é um atributo jurídico. O início da personalidade civil ocorre a partir do momento em que a pessoa nasce com vida, encerrando-se quando de sua morte.
Por outro lado, a personalidade é, também, um valor ético emanado do princípio da dignidade da pessoa humana e da consideração pelo direito civil do ser humano em sua complexidade. (Rafael Garcia Rodrigues). É objeto de tutela privilegiada pela ordem constitucional. O art. 1º, CC, porém, está relacionado à personalidade enquanto aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres na ordem civil.
Capacidade de direito: confunde-se com a própria personalidade jurídica. É a ela que se refere o caput do art. 1.
Capacidade de fato: medida da personalidade. Aptidão para exercer pessoalmente os direitos e deveres adquiridos/contraídos em decorrência da personalidade.
O início da personalidade civil ocorre a partir do momento em que a pessoa nasce com vida, encerrando-se quando de sua morte. Portanto, enquanto a pessoa viver terá personalidade. É o que o art. 2º do Código Civil diz: "A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro". Do próprio texto da lei temos então que são dois os requisitos para a caracterização da personalidade da pessoa natural: o nascimento e a vida.
As principais teorias sobre o início da personalidade são:
a) Teoria natalista ou do nascimento: a personalidade inicia com o nascimento com vida, independente do critério de viabilidade desta vida.
b) Teoria concepcionista: a personalidade inicia desde a concepção. 
c) Teoria da personalidade condicional: a personalidade civil do nascituro é condicional, dependendo do evento do nascimento. Tal condição, para os adeptos desta teoria, é suspensiva e enquanto não ocorrer o nascimento com vida existe apenas expectativa de direito. Maria Helena Diniz defende que enquanto não nascer com vida há apenas personalidade formal (relativa aos direitos de personalidade) e, uma vez implementada a condição suspensiva ocorre a aquisição da personalidade material.
No Brasil discute-se se o Código Civil adotou a teoria natalista ou a teoria concepcionista. Tanto doutrina quanto jurisprudência dividem-se quanto ao ponto. O STF, no julgamento da ADI 3.510 firmou o entendimento de que o Brasil adotou a teoria natalista, ao passo que em precedente mais recente (2014), o STJ afirmou que a teoria natalista foi superada em razão da evolução do reconhecimento dos direitos do nascituro:
 
DIREITO CIVIL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ABORTO. AÇÃO DE COBRANÇA.
SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO. ART. 2º DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. EXEGESE SISTEMÁTICA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE ACENTUA A CONDIÇÃO DE PESSOA DO NASCITURO. VIDA INTRAUTERINA. PERECIMENTO. INDENIZAÇÃO DEVIDA.
ART. 3º, INCISO I, DA LEI N. 6.194/1974. INCIDÊNCIA.
1. A despeito da literalidade do art. 2º do Código Civil - que condiciona a aquisição de personalidade jurídica ao nascimento -, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais de que não há essa indissolúvel vinculação entre o nascimento com vida e o conceito de pessoa, de personalidade jurídica e de titularização de direitos, como pode aparentar a leitura mais simplificada da lei.
2. Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a condição de pessoa, titular de direitos: exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º e 45, caput, do Código Civil; direito do nascituro de receber doação, herança e de ser curatelado (arts. 542, 1.779 e 1.798 do Código Civil); a especial proteção conferida à gestante, assegurando-se-lhe atendimento pré-natal (art. 8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à saúde do nascituro); alimentos gravídicos, cuja titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei n. 11.804/2008); no direito penal a condição de pessoa viva do nascituro - embora não nascida - é afirmada sem a menor cerimônia, pois o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CP) sempre esteve alocado no título referente a "crimes contra a pessoa" e especificamente no capítulo "dos crimes contra a vida" - tutela da vida humana em formação, a chamada vida intrauterina (MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63; NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 658).
3. As teorias mais restritivas dos direitos do nascituro - natalista e da personalidade condicional - fincam raízes na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava, essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta. Reconhecem-se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou de bens imateriais da pessoa - como a honra, o nome, imagem, integridade moral e psíquica, entre outros.
4. Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os demais.
5. Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe o art. 3º da Lei n.6.194/1974.
Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina.
6. Recurso especial provido.
(REsp 1415727/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014)
 
2. Tutela jurídica do nascituro
 
Em decorrência da parte final do art. 2o, CC, o nascituro faz jus, dentre outros, aos seguintes direitos:
 
a) Titularidade de direitos personalíssimos (vida, proteção pré natal etc.). Nesse aspecto, vale ressaltar os enunciados 1 e 2, da I Jornada de Direito Civil:
Enunciado n. 1. A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos dapersonalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.
Enunciado n. 2: Sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.
b) Receber doação;
c) Direitos sucessórios (herança e/ou legado);
d) Direito a um curador do ventre;
e) Alimentos para garantir uma gravidez saudável (Lei n. 11.804).
 
3. A incapacidade. As restrições de direito.
 
A capacidade de fato pode ser entendida como a medida da personalidade, ou seja, é a possibilidade de pessoalmente serem exercidos direitos e contraídas obrigações. Nesse aspecto, a capacidade pode ser plena (capacidade de direito + capacidade de fato) ou limitada - temos aí o fenômeno da incapacidade.
Incapaz, portanto, é aquele que sofre restrições ao exercício pessoal de direitos e obrigações. A incapacidade pode ser absoluta ou relativa.
Os absolutamente incapazes somente podem praticar atos da vida civil mediante representação, sob pena de nulidade do ato. A Lei n. 13.146, de 06/07/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), em seu art. 114, alterou o art. 3º, CC, de modo a considerar absolutamente incapaz apenas o menor de 16 anos (há revogação expressa dos incisos do art. 3o, CC, no art. 123, II, do Estatuto da Pessoa com Deficiência). Assim, as pessoas que por enfermidade ou deficiência mental que não tiverem necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil (antigo inciso II do art. 3º, CC) e os que, mesmo por causa transitória não puderem exprimir a sua vontade (antigo inciso III do art. 3º, CC) não são mais considerados absolutamente incapazes.
Enunciado n. 138, III Jornada de Direito Civil: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3o é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto.
 
O Estatuto da Pessoa com Deficiência entrou em vigor no dia 02/01/2016.
 
Os relativamente incapazes, porém, podem praticar atos da vida civil desde que assistidos, sob pena de anulabilidade do ato. O art. 4o, do CC, com a nova redação conferida pela Lei n. 13.146 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), elenca os relativamente incapazes: os maiores de 16 e menores de 18 anos; os ébrios habituais e os viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade e os pródigos.
 
Percebe-se, portanto, que o Estatuto da Pessoa com Deficiência provocou uma profunda alteração no regime da capacidade civil, alinhando-se à Convenção Internacional da Pessoa com deficiência, de 2007 (Nova York). O Brasil ratificou a Convenção em 2008 e a incorporou no direito brasileiro por meio do Decreto nº 3949/2009, já na forma do art. 5º § 3º, CRFB, recebendo, portanto, o status de emenda constitucional.
 
Para facilitar a visualização das alterações, segue quadro comparativo:
Incapacidade absoluta (art. 3º, CC):
 
	REDAÇÃO ORIGINAL DO CÓDIGO CIVIL
	REDAÇÃO APÓS O ESTATUTO
	Menores de 16 anos
	Apenas os menores de 16 anos
	Os que, por enfermidade ou doença mental não tiverem o discernimento necessário para a prática dos atos da vida civil
	
	Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir a sua vontade
	
 
           Incapacidade relativa (art. 4º, CC):
 
	REDAÇÃO ORIGINAL DO CÓDIGO CIVIL
	REDAÇÃO APÓS O ESTATUTO
 
 
 
	 
 
 
Os maiores de 16 e menores de 18 anos
	 
 
 
Os maiores de 16 e menores de 18 anos
	Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido
	 
Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos
	Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo
	Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade
	Os pródigos
	Os pródigos
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ainda o Estatuto da Pessoa com Deficiência fez uma pequena alteração no parágrafo único do art. 4o, CC, sem, contudo, modificar o conteúdo: a capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial (a redação original do dispositivo falava que a capacidade dos índios será regulada por legislação especial).
4. Suprimento e cessação da incapacidade civil.
Os absolutamente incapazes somente poderão praticar atos da vida civil mediante representação, enquanto os relativamente incapazes devem ser assistidos.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência provocou alteração com relação ao suprimento da incapacidade: a nova redação do art. 1767, CC, determina que apenas os que por causa transitória ou permanente não puderem exprimir a sua vontade; os ébrios habituais e viciados em tóxicos e os pródigos estarão sujeitos à curatela. 
Outro ponto importante de modificação do Estatuto da Pessoa com Deficiência foi a introdução da Tomada de Decisão Apoiada. O art. 116, Estatuto, inseriu o art. 1783-A no CC, que disciplina Tomada de Decisão Apoiada, consistente no "processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos duas pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre os atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer a sua capacidade". A Tomada de Decisão Apoiada prestigia, portanto, a autonomia da pessoa com deficiência.
Experiências exitosas em países como a Áustria, a Alemanha (excluíram a curatela), Bélgica, Itália (não excluem a curatela, mas a deixam em segundo plano), França (convive com a curatela). O modelo sueco do ombudsperson. O modelo brasileiro assemelha-se mais ao modelo francês.
Há muitas dúvidas sobre como o Estatuto da Pessoa com Deficiência irá conviver com institutos bastante conhecidos e tradicionais do direito civil brasileiro, como a interdição e a curatela. 
Regra geral, a incapacidade cessa quando a pessoa atinge os 18 anos de idade, momento em que atinge a capacidade civil plena. No entanto, é possível que o menor tenha a aquisição de sua capacidade plena antecipada de virtude das hipóteses elencadas nos incisos do parágrafo único do art. 5°. É o que se chama de emancipação.
Enunciado n. 3, I Jornada de Direito Civil: A redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção previstas em legislação especial.
Enunciado n. 397, da V Jornada de Direito Civil: a emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por ato de vontade.
Enunciado n. 530, VI Jornada de Direito Civil: a emancipação, por si, não elide a incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Principais alterações introduzidas pela Lei 13.146/2015
 A Lei 13.146/2015, conhecida como Estatuto da pessoa com deficiência, entrou em vigor em janeiro de 2016. Pode ser considerada um marco na abordagem social e jurídica do portador de deficiência física e mental, assumindo uma posição com foco na liberdade do portador de transtorno de deficiência mental, visando a promoção da autonomia individual, liberdade e acessibilidade. Esta norma alterou importantes dispositivos do Código civil, em especial no tocante à capacidade, à curatela, criou o Instituto da tomada de decisão apoiada, dentre outro aspectos. Dentre as principais alterações podemos destacar as que se seguem:
1. Capacidade na legislação anterior: O artigo 3° do Código Civil dispunha que aqueles que por enfermidade ou deficiência mental não tivessem o necessário discernimento para prática dos atos da vida civil (inciso II) e os que não pudessem exprimir sua vontade, mesmo por causa transitória (inciso III), eram absolutamente incapazes. Já o artigo 4° tratava dos relativamente incapazes, incluindo-seaqueles que por deficiência mental tivessem o discernimento reduzido (inciso II, final) e aqueles excepcionais, sem desenvolvimento mental completo (inciso III).
Capacidade conforme a Lei 13.146/2015: Aqueles que não podem exprimir a vontade por causa transitória passam a ser considerados relativamente incapazes.
O inciso II do art. 3º foi revogado. Foi dada nova redação ao art. 4º, suprimindo aqueles que por deficiência mental tem seu discernimento reduzido e os excepcionais do rol dos relativamente incapazes.
Obs: Embora no plano civil, a regra passe a ser a capacidade do deficiente mental (a ser avaliada caso a caso), para o Direito Penal, continuam a ser inimputáveis (art. 26, Código Penal)
2. Quanto a obrigação de indenizar: Nos termos do art. 928 do Código Civil, o incapaz responde subsidiariamente com seus próprios bens.
Pela Lei 13.146/2015: Não mais prevalece regra da subsidiariedade: deficiente mental responde diretamente com seus bens.
3. Quanto a curatela: Pelo Código Civil atual, portadores de deficiência mental, em regra, eram submetidos ao instituto da Curatela.
Pela Lei 13.146/2015: Curatela passa a ter caráter excepcional (art. 84, Estatuto) e compreende apenas aspectos patrimoniais e negociais, conservando-se a autonomia do deficiente no que tange a seu próprio corpo, sexualidade, matrimônio, educação, saúde e voto. Juiz é apoiado por equipe multidisciplinar na decisão. Juiz deve levar em conta vontade e preferência do interditando na escolha do curador (1.772 Código Civil). Com a entrada em vigor do NCPC, extingue a equipe multidisciplinar, mas juiz pode contar com auxílio de especialista (art. 751, novo CPC).
Art. 1772 do Código Civil será revogado (preferência do interditando para escolher curador).
4. Os legitimados para requerer a interdição, segundo disposição do art.1768 do Código Civil seriam os pais ou tutores, cônjuge ou qualquer parente, MP.
De acordo com o Estatuto foi incluído o inciso IV no artigo 1768, Código Civil pelo qual o próprio deficiente passa a figurar como legitimado.
5. Quanto à possibilidade de prestar testemunho: os que por enfermidade ou retardamento mental não tivessem discernimento para os atos da vida civil não eram admitidos como testemunha (228, II CC, redação antiga).
Pela nova redação introduzida pela Lei13.146/2015, o inciso II do art.228, foi revogado e foi inserido o §2ºe assim: deficientes podem ser admitidos como testemunha, em igualdade de condições com as demais pessoas, assegurados todos os recursos de tecnologia assistida.
6. Quanto à nulidade do casamento: de acordo com o art. 1548, I, do Código Civil o casamento daquele que não pudesse manifestar sua vontade era considerado nulo. 
Segundo o Estatuto o portador de deficiência mental em idade núbil poderá contrair matrimônio ou união estável, constituindo família, expressando sua vontade diretamente ou por meio de responsável ou curador (1550 §2º). Poderá também exercer a guarda e adoção, como adotando ou adotante em igualdade com as demais pessoas (6, VI estatuto).
7. Quanto ao sufrágio, o art. 76 da Lei 13.146/2015 passa a assegurar o direito de votar e ser votado, garantindo a acessibilidade no local de votação, bem como a possibilidade de o deficiente ser assistido por pessoa de sua escolha no momento do voto. Garante-se também a acessibilidade ao conteúdo de propagandas e debates eleitorais, como, por exemplo, intérprete de Libras.
 
Espécies de emancipação:
a) Voluntária (art. 5, parágrafo único, I, primeira parte): concessão dos pais, em comum acordo. É indispensável o consentimento harmônico dos pais, pois ambos são titulares do poder familiar (art. 1.631, CC/2002). Só é aceita, nesta espécie de emancipação, o consentimento de apenas um dos pais na falta ou impedimento do outro, pois, nesta hipótese, o poder familiar é exercido com exclusividade.
A emancipação voluntária, por ser uma concessão, não pode ser requerida pelo menor e independe de homologação judicial.
b) Judicial: é concedida pelo juiz em dois casos:
- Na discordância entre os pais;
- Quando o menor encontra-se sob tutela (art. 5°, parágrafo único, I, segunda parte). Neste caso, o tutor deve requerer a emancipação ao juiz, que decidirá de modo a melhor proteger o interesse do menor.
c) Legal: independe de concessão dos pais ou do juiz, pois opera ope legis nos seguintes casos:
- Casamento (art. 5°, parágrafo único, II): o menor casado deve ter poderes suficientes para praticar pessoalmente os atos da vida civil.
Deve-se lembrar que, por força do art. 1.517, CC/2002, entre a idade núbil (16 anos) e os 18 anos completos, o menor precisa de autorização dos pais ou representantes legais para que possam se casar. 
 
O Estatuto da Pessoa com Deficiência também alterou disposições acerca da manifestação do consentimento de pessoa com deficiência para casar (art. 1550 § 2o); isso, todavia, não significa que a pessoa com deficiência que contrair matrimônio será emancipada, eis que a emancipação se destina apenas ao menor de idade, excluindo, pois, as outras hipóteses de incapacidade.
 
A separação judicial não possui o condão de retornar o menor ao estado de incapacidade. O casamento nulo só faz retornar ao estado de incapacidade quando o menor agir de má-fé, pois o casamento nulo produz efeitos ao cônjuge de boa-fé.
 
- Exercício de emprego público efetivo (art. 5°, parágrafo único, III). A lei usou o termo emprego público para referir-se tanto a cargo, quanto emprego. Exige-se que seja efetivo, excluindo, dessa forma, os temporários.
 
- Colação de grau em curso de ensino superior (art. 5°, parágrafo único, IV). 
 
- Empresa ou existência de relação de emprego, desde que o menor, em decorrência disso, possa prover seu próprio sustento (art. 5°, parágrafo único, V).
Discute-se sobre a possibilidade de o menor empresário estar sujeito à falência, pois a emancipação não importa em antecipação da imputabilidade penal. Por isso, há quem entenda que o menor empresário submete-se às regras da insolvência civil, e não da falência.
Estratégias de Aprendizagem
O Estatuto da Pessoa com Deficiência provocou uma série de alterações no regime das capacidades civis. Procure analisar as indicações, ainda que não obrigatórias, no roteiro de estudos dessa semana e complemente com pesquisas na internet sobre o assunto.
Indicação de Leitura Específica
Material didático:
CURIA, Luiz Roberto e RODRIGUES, Thais Camargo de Campos (col.) et al. Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 47-53.
FERREIRA, Luiz Antônio Miguel e GALINDO, Bruna Castelane. Do sobrenome do padrasto e da madrasta. Considerações a respeito da lei 11.924/2009. Disponível em http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao_infancia_juventude/doutrina/doutrinas_artigos/Considera%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20a%20Lei%2011924-09.pdf Acesso em 07.jan.2010.
Recursos
Quadro e pincel
Projetor
Data show
Aplicação: articulação teoria e prática
Caso concreto
Renata deu à luz sua filha Mariza, que, em razão de má formação na gestação, sobreviveu por algumas horas e veio a falecer pouco depois do parto. Considerando que o pai de Mariza faleceu dias antes do nascimento e em dúvida sobre as consequências dos fatos narrados, Renata procura um advogado que afirma que com o nascimento Mariza adquiriu personalidade e capacidade de direito, mas não titularizou direitos subjetivos e, ao morrer, não haveria potencial sucessão. Assiste razão ao advogado? E se Mariza fosse natimorta, quais seriam as consequências?
 
Questão objetiva
(OAB - XVI EXAME UNIFICADO/2015) Os tutores de José consideram que o rapaz, aos 16 anos, tem maturidade e discernimento necessários para praticar os atos da vida civil. Por isso, decidem conferir ao rapaz a sua emancipação. Consultam, para tanto, um advogado, que lhes aconselha corretamente no seguinte sentido:
a) José poderá ser emancipado em procedimento judicial, com a oitiva do tutor sobre as condições do tutelado.
b) Josépoderá ser emancipado via instrumento público, sendo desnecessária a homologação judicial.
c) José poderá ser emancipado via instrumento público ou particular, sendo necessário procedimento judicial.
d) José poderá ser emancipado por instrumento público, com averbação no registro de pessoas naturais.
Avaliação
Caso concreto
Como Mariza nasceu com vida, embora tenha falecido pouco depois do parto, adquiriu personalidade e consequentemente a capacidade de direito. Porém, a capacidade para suceder é conferida ao nascituro sob a forma de expectativa de direitos e por isso Mariza integrou a cadeia sucessória do seu pai que já era falecido quando a mesma nasceu. Dessa forma, Mariza incorporou ao seu patrimônio a herança deixada por seu pai e como faleceu logo em seguida, a referida herança passará a sua mãe que é sua ascendente viva.
Se Mariza fosse natimorta não teria adquirido personalidade nem capacidade de direito e assim não teria herdado de seu pai e tampouco transferido a sua mãe a referida herança.
Questão objetiva
Alternativa A.
Considerações Adicionais
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DIREITO CIVIL I - CCJ0006
Semana Aula: 3
Pessoa natural - Parte II
Tema
Pessoa natural: Elementos individualizadores da pessoa natural.
 
Palavras-chave
Nome; estado civil; domicílio,
Objetivos
- Compreender a importância do nome civil como elemento externo distintivo da personalidade jurídica da pessoa.
- Analisar as exceções à imutabilidade do nome;
- Identificar os diversos estados civis da pessoa natural e o tratamento reservado pelo Código Civil brasileiro. 
- Identificar nos dispositivos legais a regulação do estado civil.
- Identificar o instituto do domicílio, suas modalidades, e distinções com institutos afins.
Estrutura de Conteúdo
Unidade II - A Pessoa Natural (continuação).
 
Elementos individualizadores da pessoa natural: o nome civil, o estado civil e o domicílio.
 
O fim da personalidade civil. Efeitos jurídicos da morte. Comoriência: caracterização e efeitos jurídicos.
 
Morte presumida: caracterização e efeitos jurídicos.
 
Ausência: caracterização, procedimento e efeitos jurídicos.
Procedimentos de Ensino
1. O nome civil.
Para o direito, existem então as pessoas naturais, seres humanos que, enquanto pessoas, têm reconhecida sua personalidade, e as pessoas jurídicas, entes formados pela associação de indivíduos ou de patrimônio voltada para determinado fim comum a que o direito ressalva uma personalidade jurídica independente das de seus idealizadores. Neste ponto o professor deve focar na pessoa natural.
 O registro civil do nascimento da pessoa natural dota de formalidade e publicidade aquele fato jurídico que é o nascimento com vida, início da personalidade civil; apresenta o indivíduo à sociedade, dando eficácia à sua personalidade. Neste sentido, sua natureza é declaratória, afinal, "a pessoa humana dele não precisa para receber a sua qualidade de pessoa, [...]. Assim, a personalidade civil começa do nascimento com vida [...]"
O nome, assim como o pseudônimo utilizado para finalidades lícitas (art. 19, CC), por ser direito de personalidade, goza de proteção jurídica, não podendo ser empregado em publicações ou representações que exponham a pessoa ao desprezo público (art. 17, CC), nem utilizado sem autorização para fins comerciais (art. 18, CC).
Enunciado n. 278, IV Jornada de Direito Civil: A publicidade que divulgar, sem autorização, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de identifica-la, constitui violação a direito de personalidade.
 
Elementos que integram o nome
De acordo com o art. 16, CC, o nome é composto pelo prenome ou nome próprio e pelo sobrenome, patronímico ou apelidos de família. Alguns nomes apresentam também o chamado agnome, que é um elemento diferenciador dos demais membros da família que têm o mesmo nome (Junior, Neto, Bisneto, Segundo etc.). Há ainda o vocatório ou profissional, que consiste em uma espécie de abreviação do nome completo da pessoa (ex. o vocatório da jurista Rosa Maria Barreto Boriello de Andrade Nery é Rosa Nery).
 
O princípio da imutabilidade do nome
Como regra o nome não pode ser alterado, salvo em circunstâncias especiais e extraordinárias, previstas principalmente na Lei dos Registros Públicos. A jurisprudência e a legislação esparsa têm reconhecido outros casos de temperamento do princípio da imutabilidade do nome.
Assim é que fogem à regra da imutabilidade do nome as seguintes situações:
a) Correção de registro errado;
b) Nomes que exponham seu portador ao ridículo (art. 55, Lei 6.015/73). Por vezes não é só o prenome, mas sim a composição do prenome e sobrenome que caracterizam o nome vexatório.
c) Nome de registro não é o que a pessoa é reconhecida na sociedade;
d) Inclusão de apelido público e notório;
e) Proteção de vítimas e testemunhas (Lei 9.907/99 e art. 58 da LRP)
f) Cônjuges;
g) Uso prolongado;
h) Inclusão de nome de descendente;
i) Inclusão de sobrenome de padrasto ou madrasta;
j) Nomes homônimos;
k) Modificação do prenome do adotado (art, 47, ECA).
l) União Estável: Enunciado n. 99, I Jornada de Direito Civil: O Art. 1.565, § 2º, do Código Civil não é norma destinada apenas às pessoas casadas, mas também aos casais que vivem em companheirismo, nos termos do Art. 226, caput e §§ 3º e 7º, e não revogou o disposto na Lei nº 9.263/96
m) Tradução de nome estrangeiro (art. 43, III, EE). O Estrangeiro também pode alterar o nome se estiver comprovadamente errado e se tiver sentido pejorativo ou expuser o titular ao ridículo.
n) Transgenitalização. Enunciado n. 42, I Jornada de Saúde do CNJ: quando comprovado o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, resultando numa incongruência entre a identidade determinada pela anatomia de nascimento e a identidade sentida, a cirurgia de transgenitalização é dispensável para a retificação de nome no registro.
o) Maioridade civil (art. 56, LRP). Nessa e na hipótese de retificação o nome pode ser alterado peloa via administrativa. Nos demais casos apenas judicialmente. Obs: atentar para o prazo decadencial de 1 ano após completada a maioridade, salvo em circunstâncias espciais devidamente justificadas no pedido de alteração.
 
Importante referir que as hipóteses acima são exemplificativas, constantemente a jurisprudência traz novas situações. Jurisprudência do STJ sobre alteração do nome:
 
DIREITO CIVIL. REGISTROS PÚBLICOS. POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DE PATRONÍMICO PATERNO NO FINAL DO NOME DO FILHO, AINDA QUE EM ORDEM DIVERSA DAQUELA CONSTANTE DO NOME DO PAI.
Admite-se, excepcional e motivadamente, após apreciação judicial, a retificação de registro civil para inclusão de patronímico paterno no final do nome do filho, ainda que em ordem diversa daquela constante do nome do pai, se comprovado que tal retificação se faz necessária para corresponder, adequadamente, à forma como aquele e sua família são conhecidos no meio social em que vivem. A regra geral, no direito brasileiro, é a da imutabilidade ou definitividade do nome civil, mas são admitidas exceções, como a prevista no art. 57 da Lei n. 6.015/1973, hipótese na qual se enquadra o caso, que exige motivação, audiência do Ministério Público e prolação de sentença judicial. A lei, todavia, não faz nenhuma exigência no que tange à observância de determinada ordem quanto aos apelidos de família, seja no momento do registro do nome do indivíduo ou por ocasião da sua posterior retificação. Ademais, inexiste proibição legal de que a ordem do sobrenome dos filhos seja distinta daquela presente no sobrenome dos pais. REsp 1.323.677-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/2/2013.
 
DIREITO CIVIL. REGISTRO CIVIL. RETIFICAÇÃO PARA O NOME DE SOLTERIA DA GENITORA.
É possível a alteração no registro de nascimento para dele constar o nome de solteira da genitora, excluindo o patronímico do ex-padrasto. O nome civilé reconhecidamente um direito da personalidade, porquanto é o signo individualizador da pessoa natural na sociedade, conforme preconiza o art. 16 do CC. O registro público da pessoa natural não é um fim em si mesmo, mas uma forma de proteger o direito à identificação da pessoa pelo nome e filiação, ou seja, o direito à identidade é causa do direito ao registro. O princípio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança jurídica, razão pela qual deve espelhar a realidade presente, informando as alterações relevantes ocorridas desde a sua lavratura. Assim, é possível a averbação do nome de solteira da genitora no assento de nascimento, excluindo o patronímico do ex-padrasto. Ademais, o ordenamento jurídico prevê expressamente a possibilidade de averbação, no termo de nascimento do filho, da alteração do patronímico materno em decorrência do casamento, o que enseja a aplicação da mesma norma à hipótese inversa princípio da simetria, ou seja, quando a genitora, em decorrência de divórcio ou separação, deixa de utilizar o nome de casada, conforme o art. 3º, parágrafo único, da Lei 8.560/1992. Precedentes citados: REsp 1.041.751-DF, DJe 3/9/2009, e REsp 1.069.864-DF, DJe 3/2/2009. REsp 1.072.402-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/12/2012.
 
ACRÉSCIMO DE SOBRENOME DO CÔNJUGE APÓS A CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO.
Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da celebração do casamento, porém deverá ser por meio de ação judicial. O registro de nascimento da pessoa natural, com a identificação do nome civil, em regra é imutável. Contudo, a lei permite, em determinas ocasiões, sua alteração. Ao oficial de cartório somente é permitido alterar um nome, independente de ação judicial, nos casos previstos em lei, como é a hipótese do art. 1565, § 1º do CC, o qual possibilita a inclusão do sobrenome de um dos nubentes no do outro, durante o processo de habilitação do casamento. A Turma entendeu que essa possibilidade deve-se estender ao período de convivência do casal, enquanto perdurar o vínculo conjugal. Porém, nesta hipótese, o nome deve ser acrescido por intermédio da ação de retificação de registros públicos, nos termos dos artigos. 57 e 109 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973). REsp 910.094-SC, Rel. Raul Araújo, julgado em 4/9/2012.
 
SOBRENOME. SUPRESSÃO.
A Turma negou provimento ao recurso especial interposto pela família judaica que pretendia suprimir o patronímico paterno sob a alegação de que o referido sobrenome não a identificava como pertencente ao judaísmo. De acordo com a Min. Relatora, o art. 56 da Lei n. 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos) é norma cogente e estabelece a imutabilidade do apelido de família como garantia de segurança jurídica, porquanto ele constitui sinal identificador da origem do indivíduo. Salientou que o patronímico, antes de pertencer à pessoa, pertence a um grupo familiar com história e reputação próprias, e a impossibilidade de sua supressão está relacionada à necessidade de preservação dos direitos de personalidade. Asseverou, ainda, que as consequências desse ato poderiam ser especialmente prejudiciais aos filhos no futuro, que não teriam qualquer elemento hábil a vinculá-los à família paterna. Por fim, consignou que o art. 1.565, § 1º, do CC/2002 não permite a supressão ou substituição do nome dos nubentes, mas apenas faculta a qualquer deles o acréscimo do sobrenome do outro. REsp 1.189.158-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/12/2010.
 
REGISTROS. FILHOS. RETIFICAÇÃO. NOME. GENITORA.
In casu, a recorrida ajuizou, na origem, ação de retificação de registro civil de seus filhos menores sob a alegação de que, em decorrência de separação judicial convertida em divórcio, passou a usar seu nome de solteira. Assim, tal retificação evitaria que futuros documentos de seus filhos fossem emitidos com o nome incorreto da genitora, como também situações que alega embaraçosas. A sentença concedeu parcialmente o pedido para que constasse à margem dos assentamentos de nascimento dos três filhos da autora, ora recorrida, que a genitora dos registrados, após divorciar-se voltou a assinar o nome de solteira, permanecendo inalterados seus demais dados, o que foi confirmado em grau de apelação. No REsp, o recorrente sustenta, entre outras questões, que a finalidade do registro é comprovar a filiação e a própria existência da pessoa, constituindo direito personalíssimo que não pode ser alterado, exceto pelo próprio titular do direito. Dessa forma, a recorrida não poderia, em defesa de interesse seu, pretender a alteração dos assentos de nascimento de seus filhos. A Turma negou provimento ao recurso pelos fundamentos, entre outros, de que o princípio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança jurídica. Por isso necessita espelhar a verdade existente e atual e não apenas aquela que passou. Desse modo, no caso em foco, é admissível a alteração no registro de nascimento dos filhos para a averbação do nome de sua mãe que, após a separação judicial, voltou a usar o nome de solteira. Observou-se que não ocorreu prejuízo aos menores em razão da averbação do nome de solteira de sua mãe, diante do divórcio levado a efeito. Precedente citado: REsp 1.069.864-DF, DJe 3/2/2009. REsp 1.123.141-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/9/2010.
 
RETIFICAÇÃO. REGISTRO. NASCIMENTO. 
Trata-se de matéria inédita entre os julgamentos deste Superior Tribunal, em que menor, representada por sua mãe, pretende a retificação de seu registro de nascimento para acrescentar o patronímico de sua genitora, omisso na certidão, além de averbar a alteração para o nome de solteira da sua mãe, que voltou a usá-lo após a separação judicial e é grafado muito diferente daquele de casada, tudo no intuito de facilitar a identificação da criança no meio social e familiar. O pai da menor não se opôs, mas o MP recorreu quanto à averbação do nome da mãe concedida pelas instâncias ordinárias, uma vez que o registro de nascimento deve refletir a realidade da ocasião do parto, o que impediria tal averbação nos termos das Leis ns. 6.015/1973 e 8.560/1992. A Min. Relatora observou que, no caso dos autos, conforme comprovado nas instâncias de 1º e 2º grau, há a situação constrangedora de mãe e filha terem que portar cópia da certidão de casamento com a respectiva averbação para comprovarem a veracidade dos nomes na certidão de nascimento, bem como não existe prejuízo para terceiros, o que afastaria o pleito do MP. Os interesses da criança estariam acima do rigorismo dos registros públicos por força do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ademais, essa é a solução mais harmoniosa e humanizada. Com essas considerações, entre outras, a Turma não conheceu do recurso do MP. REsp 1.069.864-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2008.
 
Superior Tribunal de Justiça  STJ. 
RECURSO ESPECIAL Nº 605.708  RJ (2003/0199850-1) 
RELATOR: MINISTRO CASTRO FILHO 
RECORRENTE: NORMA BARROS FERREIRA 
ADVOGADO: LUIZ VICENTE LADEIRA GUIMARÃES 
EMENTA 
DIREITO CIVIL. ALTERAÇÃO DO ASSENTAMENTO DE NASCIMENTO NO REGISTRO CIVIL APÓS A MAIORIDADE. ACRÉSCIMO DO SOBRENOME DOS PAIS DE CRIAÇÃO. ARTIGO 56 DA LEI Nº 6.015/73. ADMISSIBILIDADE. 
I. Não é absoluto o princípio da imutabilidade do nome de família, admitindo-se, excepcionalmente, a alteração do patronímico, desde que presentes a justa motivação e a prévia intervenção do Ministério Público. No caso dos autos, presentes os requisitos autorizadores, já que pretende a recorrente, tão-somente, prestar uma homenagem àqueles que a criaram, acrescendo ao seu assento de nascimento o nome de família daqueles que considera seus pais verdadeiros, nada obsta que se autorize a alteração.
Recurso conhecido e provido, com as ressalvas do relator.
 
POSSIBILIDADE DA INSERÇÃO DO SOBRENOME DO PADRASTO/MADRASTA NO NOME DO ENTEADO/ENTEADA COMO DECORRÊNCIA DO AFETO. 
A lei 11.294/09, que inseriu o § 8º no artigo 57 da Leidos Registros Públicos (6.015/73) é também chamada por muitos de "Lei Clodovil" e encontra-se inserida nos novos rumos do direito de família, que reconhece (e até mesmo privilegia) a paternidade e a maternidade sócio-afetiva e no intenso processo de constitucionalização do direito civil. Para a inclusão do patronímico do padrasto ou madrasta, a lei exige, em linhas gerais, apenas a concordância expressa deste, bem como o "motivo ponderável", após decorrido um prazo de cinco anos.
TJ-RS – Agravo de Instrumento AI 70055413462 (TJ-RS), publicado em 08/07/2013. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, julgado em 04/07/2013.
 
REGISTRO CIVIL. RETIFICAÇÃO. MUDANÇA. SEXO. 
 A questão posta no REsp cinge-se à discussão sobre a possibilidade de retificar registro civil no que concerne a prenome e a sexo, tendo em vista a realização de cirurgia de transgenitalização. A Turma entendeu que, no caso, o transexual operado, conforme laudo médico anexado aos autos, convicto de pertencer ao sexo feminino, portando-se e vestindo-se como tal, fica exposto a situações vexatórias ao ser chamado em público pelo nome masculino, visto que a intervenção cirúrgica, por si só, não é capaz de evitar constrangimentos. Assim, acentuou que a interpretação conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei de Registros Públicos confere amparo legal para que o recorrente obtenha autorização judicial a fim de alterar seu prenome, substituindo-o pelo apelido público e notório pelo qual é conhecido no meio em que vive, ou seja, o pretendido nome feminino. Ressaltou-se que não entender juridicamente possível o pedido formulado na exordial, como fez o Tribunal a quo, significa postergar o exercício do direito à identidade pessoal e subtrair do indivíduo a prerrogativa de adequar o registro do sexo à sua nova condição física, impedindo, assim, a sua integração na sociedade. Afirmou-se que se deter o julgador a uma codificação generalista, padronizada, implica retirar-lhe a possibilidade de dirimir a controvérsia de forma satisfatória e justa, condicionando-a a uma atuação judicante que não se apresenta como correta para promover a solução do caso concreto, quando indubitável que, mesmo inexistente um expresso preceito legal sobre ele, há que suprir as lacunas por meio dos processos de integração normativa, pois, atuando o juiz supplendi causa, deve adotar a decisão que melhor se coadune com valores maiores do ordenamento jurídico, tais como a dignidade das pessoas. Nesse contexto, tendo em vista os direitos e garantias fundamentais expressos da Constituição de 1988, especialmente os princípios da personalidade e da dignidade da pessoa humana, e levando-se em consideração o disposto nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, decidiu-se autorizar a mudança de sexo de masculino para feminino, que consta do registro de nascimento, adequando-se documentos, logo facilitando a inserção social e profissional. Destacou-se que os documentos públicos devem ser fiéis aos fatos da vida, além do que deve haver segurança nos registros públicos. Dessa forma, no livro cartorário, à margem do registro das retificações de prenome e de sexo do requerente, deve ficar averbado que as modificações feitas decorreram de sentença judicial em ação de retificação de registro civil. Todavia, tal averbação deve constar apenas do livro de registros, não devendo constar, nas certidões do registro público competente, nenhuma referência de que a aludida alteração é oriunda de decisão judicial, tampouco de que ocorreu por motivo de cirurgia de mudança de sexo, evitando, assim, a exposição do recorrente a situações constrangedoras e discriminatórias. REsp 737.993-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/11/2009 (ver Informativo n. 411).
O recorrente autor, na inicial, pretende alterar o assento do seu registro de nascimento civil, para mudar seu prenome, bem como modificar o designativo de seu sexo, atualmente constante como masculino, para feminino, aduzindo como causa de pedir o fato de ser transexual, tendo realizado cirurgia de transgenitalização. Acrescenta que a aparência de mulher, por contrastar com o nome e o registro de homem, causa-lhe diversos transtornos e dissabores sociais, além de abalos emocionais e existenciais. Assim, a Turma entendeu que, tendo o recorrente se submetido à cirurgia de redesignação sexual nos termos do acórdão recorrido, existindo, portanto, motivo apto a ensejar a alteração do sexo indicado no registro civil, a fim de que os assentos sejam capazes de cumprir sua verdadeira função, qual seja, a de dar publicidade aos fatos relevantes da vida social do indivíduo, deve ser alterado seu assento de nascimento para que nele conste o sexo feminino, pelo qual é socialmente reconhecido. Determinou, ainda, que das certidões do registro público competente não conste que a referida alteração é oriunda de decisão judicial, tampouco que ocorreu por motivo de redesignação sexual de transexual. REsp 1.008.398-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/10/2009.
 
2. Estado civil
Ao nascer, como ao longo da existência, a pessoa possui determinadas características que a qualificam juridicamente. Ao complexo de atributos, com efeitos jurídicos, que determina a condição da pessoa perante a sociedade, chamamos estado. Diz-se estado civil a posição jurídica que alguém ocupa, em determinado momento, dentro do ordenamento jurídico. Segundo o Prof. Francisco Amaral:
"O estado nasce de fatos jurídicos, como o nascimento, a idade, a filiação, a doença; de atos jurídicos, como o casamento, a emancipação; de decisões judiciais, como a separação, o divórcio, a interdição. Tais circunstâncias levam a caracterização de três estados: o familiar, o político e o pessoal ou individual".
Para o Direito Civil, importa o estado do indivíduo de filho, de solteiro, casado, viúvo, separado ou divorciado. Tudo isso gera efeitos jurídicos no âmbito do direito de família, como também importa o estado de maior idade, menor idade, emancipação, interdição, ausência, sexo masculino ou feminino, gerando efeitos no âmbito dos direitos da personalidade. O estado político, de brasileiro ou estrangeiro, importa ao direito constitucional. Em relação ao nosso estudo, destaca-se o estado individual, em que se enquadra o sexo (status sexual).
Os estados individuais, em geral, são atributos da personalidade, ou seja, integram-na. E, por isso, são protegidos pelos direitos da personalidade (que será tema da próxima semana). Além disso, é também objeto de um direito subjetivo, o direito de estado, que protege o interesse da pessoa no reconhecimento e no gozo desse estado .Amaral releva, ainda, o fato de constituir um direito absoluto, oponível a toda a sociedade, que, portanto, todos devem respeitar; e público por ser reconhecido e protegido pelo Estado.  (AMARAL, Francisco. Direito Civil: introdução. 2ª ed. aum. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 1998)
O registro gera a presunção relativa do estado da pessoa, vez que é ele que dota de oponibilidade erga omnes as situações jurídicas da pessoa perante a sociedade. Contudo, nem sempre a realidade jurídica retrata a realidade fática e, por isso, existem as ações de estado, afinal, é muitas vezes necessário defender seu estado contra eventuais atentados aos direitos dele decorrentes. Elas têm por objetivo criar, modificar ou extinguir um estado, e aí, a sentença será constitutiva; ou reconhecer um estado pré-existente o guarnecendo de eficácia jurídica, quando a sentença será declaratória. 
Os atos que produzem alterações no estado das pessoas devem ser registrados ou averbados, conforme determinam os arts. 9o e 10, respectivamente, CC.
 
A questão do transexual
Ocorre que, o transexual, quando do seu nascimento, no registro civil, foi classificado segundo o seu aspecto sexual anatômico externo como pertencente a um dos sexos, ou feminino ou masculino. Este, assentado em registro público, é o sexo civil. Porém, ressalvamos, neste momento, que a avaliaçãoda fisionomia não é a única para a determinação do sexo de um indivíduo. A averiguação do status sexual requer a conjugação dos aspectos biológico, psíquico e comportamentais. Somente o conjunto desses aspectos será capaz de apontar com maior fidelidade e compromisso a qual dos dois sexos pertence a pessoa. A regra, contudo, é que os três aspectos correspondam revelando uma identidade sexual, mas esta convergência harmônica pode não ocorrer.
No caso do transexual operado, que possuía, em primeiro plano aquela inadequação corporal com a psiquê, o sexo civil, determinando comportamento na vida civil, na esfera jurídica e social em geral, imporá barreira para a realização da identidade sexual da pessoa.
Existe um interesse juridicamente relevante no gozo da identidade sexual. O conteúdo de tal interesse da pessoa é representado, essencialmente, no reconhecimento, sob todos os aspectos da vida social, privada e pública, como sendo a mesma pertencente ao próprio sexo.
Com o transexual isso não acontece. Nesse segundo momento, então, a principal inadequação é a factual com a jurídico-formal. Se o registro tem publicidade, autenticidade, eficácia, não existe reconhecimento social da situação daquele indivíduo, do seu estado. A identidade sexual transcende o aspecto morfológico, encontra-se no campo da identificação psíquica de se pertencer a determinado gênero sexual que se externa com o comportamento. 
A identidade sexual integra a identidade pessoal. O Professor Leoni, sobre o direito à identidade, citando Lorenzetti, sinaliza que o indivíduo possui identidade estática e dinâmica. "A identidade estática" compreende o nome, a identificação física, a imagem. Isto está protegido pelas leis referentes ao nome, à capacidade e ao estado civil. Essa é, então, a resguardada pelo direito à identidade. O direito à identidade sexual como direito à identidade pessoal, constitui direito da personalidade e integra aspecto do estado do indivíduo. (OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes de. Direito Civil: teoria geral do direito civil. 2ª ed. atual. e amp. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000).
Obs: atentar para o prazo decadencial de 1 ano após completada a maioridade, salvo em circunstâncias especiais devidamente justificadas no pedido de alteração.
Enunciado n. 43, I Jornada de Direito de Saúde do CNJ: é possível a retificação do sexo jurídico sem a realização da cirurgia de transgenitalização.
 
3. Domicílio
O conceito de Domicílio Civil da pessoa natural é determinado pela combinação dos artigos 70 e 71 do NCC. Apenas encontraremos o domicílio civil se preenchermos os dois requisitos determinados no artigo 70 do NCC que são:
Residência - é o objeto do conceito, sendo este palpável. É o elemento externo e visível. Ex: uma casa, um prédio, um apartamento.
Ânimo definitivo - este é o elemento interno do domicílio civil. Sendo evidenciado por reflexos do indivíduo que demonstram seu interesse em permanecer em tal domicílio. Ex: receber correspondência, receber as contas.
Alguns autores determinam que o domicílio civil é constituído por um elemento objetivo e outro subjetivo. O elemento objetivo é o objeto do conceito de residência. O elemento Subjetivo é o elemento interno, o ânimo definitivo. 
No modelo brasileiro, reforçado pelo Código Civil, toda pessoa, natural ou jurídica - de direito público interno ou de direito privado -, tem domicílio, que representa a fixação do lugar em que o sujeito, ativo ou passivo, da relação jurídica será encontrado, o qual expressa o centro nevrálgico de onde se irradiam interesses juridicamente relevantes. 
O domicílio significa uma garantia jurídica, haja vista que funciona como cidadela em que se guarnecem os interesses sócio-jurídicos das pessoas naturais ou das pessoas jurídicas. 
Com o domicílio, desenha-se o perímetro em que se fixa o espaço jurídico dentro do qual se enclausura o titular, projetando feixes que se traduzem em direitos e obrigações. 
Do enraizamento da residência decorre o domicílio, como fenômeno material e psíquico que se projeta no âmbito em que prosperam as relações jurídicas. Sem residência, inexiste domicílio; sem domicílio, fragiliza-se o pleno exercício dos direitos civis, do nascimento à morte. 
De tão importante, o domicílio da pessoa natural, mesmo que não tenha residência habitual, será o lugar onde for encontrada. 
Na configuração traçada pelo Código Civil, fala-se em: 
a) domicílio da pessoa natural; 
b) domicílio da pessoa jurídica, de direito público interno ou de direito privado; 
c) domicílio necessário; 
d) domicílio legal; 
e) domicílio eleito. 
Admite-se a existência de mais de um domicílio tanto para a pessoa natural quanto para a pessoa jurídica de direito privado, razão porque se diz que o legislador perfilhou a escola que cultiva a pluralidade de domicílio.
Domicílio da pessoa natural (física) - Em conformidade com a definição legal, o domicílio da pessoa natural "é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo". Dois elementos se exigem para a definição do domicílio da pessoa natural: 
a) a residência; e 
b) o ânimo definitivo. 
A residência é mais do que um fenômeno material, mediante o qual se distingue da moradia, que se traduz na certeza de que é episódica e transitória, sem o estaqueamento aprofundado, capaz de fixar a disposição perene ou definitiva. Ao residir, a pessoa mora com perenidade ou longevidade, fenômenos de cuja realidade se extrai a premissa de que há o ânimo de estabelecer o lugar como seu domicílio. Releva lembrar que, na hipótese em que a pessoa natural, por vontade ou necessidade, tenha mais de uma residência, onde, alternadamente, viva, reputar-se-á domicílio qualquer uma delas. 
Considera-se, ainda, domicílio o local em que a pessoa natural desenvolva a sua profissão. Por conseguinte, pluralizam-se os domicílios da pessoa natural, quando exerce atividade profissional, haja vista que passam a ser, pelo menos, dois: 
a) o local em que estabelece a sua residência com ânimo definitivo; e 
b) o local em que pratica a sua atividade profissional. 
Se a profissão for explorada e exercitada em lugares diversos, em que se lhe concentram os interesses, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. Cabe advertir que não será qualquer emprego ou relação jurídica, por cuja execução se produza atividade laboral, que se capacitará a desenhar o local do trabalho como se domicílio fosse. 
Domicílio profissional não se confunde com o simples local de trabalho, categorias jurídicas que se diferenciam ideológica, social e juridicamente. Na identidade do domicílio profissional, impõe-se a presença de elementos em conformidade com os quais se caracteriza o exercício da profissão, que granjeia a certeza de que se trata de um sinal eloquente capaz de diferenciá-lo do trabalho ordinário e dependente. É preciso que se exerça atividade profissional fim, com domínio sobre o comando técnico, administrativo e econômico, e não atividade profissional meio, para que se possa caracterizar o local, também, como domicílio.
Com efeito, não se estimula a assertiva de que o empregado comum, com vínculo jurídico subordinante e protagonista de uma relação jurídica, cujo desfazimento pode se consumar unilateralmente, pelo simples exercício da vontade de seu empregador, transforme o local em que presta serviço como extensão de seu domicílio, ainda que lá consuma jornada diária. Cabe ressaltar que o domicílio profissional não abrange e não argola toda e qualquer relação da pessoa natural, mas somente aquela a que estiver conectado por força de amarras que concernem à profissão. 
A atração do domicílio, no caso, depende da ligação entre o exercício da profissão e o local. Destaque-se que a pessoa natural pode ter: 
a) mais de um domicílio doméstico; 
b) mais de um domicílio profissional; e 
c) domicílio doméstico e domicílio profissional.
 
Estratégias de Aprendizagem
O caso concreto da semana foi

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