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REspe 0000333-79.2012.6.16.0000

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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL 
ACÓRDÃO 
RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N° 333-79.2012.6.16.0000 - CLASSE 32—
CURITIBA - PARANÁ 
Relator: Ministro Henrique Neves da Silva 
Recorrente: Ministério Público Eleitoral 
Recorridos: Carlos Roberto de Mello Torres Me e outro 
Advogados: Soiane Montanheiro dos Reis e outro 
ELEIÇÕES 2012. DOAÇÃO ELEITORAL. LIMITE. FIRMA 
INDIVIDUAL. PESSOA NATURAL. 
1. A firma individual, também denominada empresa 
individual, nada mais é do que a própria pessoa natural 
que exerce atividade de empresa nos termos do art. 966 
do Código Civil. 
2. A equiparação do empresário ou da empresa 
individual a uma pessoa jurídica por ficção jurídica para 
efeito tributário não transmuta a sua natureza. 
3. As doações eleitorais realizadas por firmas individuais 
devem observar os limites impostos às pessoas físicas de 
acordo com o art. 23, § j0, 1 da Lei n° 9.504197. 
4. Entendimento que não se aplica às "empresas 
individuais de responsabilidade limitada - EIRELI", 
criadas pela Lei n° 12.441, de 11 de julho de 2011, que 
alterou a redação do art. 44 e introduziu o art. 890-A, 
ambos do Código Civil, as quais estão, em princípio, 
sujeitas aos limites impostos às pessoas jurídicas. 
Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por 
maioria, em desprover o recurso, nos termos do voto do Relator. 
Brasília, 1 0 de bfil)de 2014.
/ 
MINISTR HENRIQE NEVES DA Si VA - RELATOR
REspe n° 333-79.2012.6.16,0000/PR	 2
RELATÓRIO 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA: 
Senhor Presidente, o Ministério Público Eleitoral interpôs recurso especial 
(fls. 208-217) contra o acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná que 
rejeitou matéria preliminar e, no mérito, deu provimento ao recurso interposto 
por Carlos Roberto de Mello Torres ME e Carlos Roberto de Mello Torres, para 
reformar a sentença e julgar improcedente a representação por doação acima 
do limite legal (fls. 196-203). 
O acórdão regional possui a seguinte ementa (fi. 197): 
Recurso eleitoral. Eleições 2010. Representação. Firma individual. 
Art. 23, § 1°, i da lei n° 9.504197. Prova lícita. Doação dentro do 
permissivo legal. Recurso provido 
1. A demanda foi ajuizada pelo Procurador Regional Eleitoral dentro 
do prazo de 180 dias contados da data da diploma ção e seguindo 
entendimento do Tribunal Superior Eleitoral e dessa Corte, não 
houve decadência. 
2. A firma individual não tem personalidade jurídica própria e 
independente da pessoa física, cuidando-se da mesma pessoa. 
3. Recurso provido. 
Os principais fundamentos do acórdão recorrido foram 
lançados nos seguintes termos (fls. 202-203): 
[...J 
É certo, porque afirmado na inicial, provado por documentos e não 
contestado pelos recorridos que no ano anterior ao pleito, ou seja, 
em 2009, a empresa doadora declarou faturamento bruto no 
montante de R$ 601.431,79 (seiscentos e um mil quatrocentos trinta 
e um reais e setenta e nove centavos), efetuando doação no valor de 
R$ 24.515,00 (vinte e quatro mil quinhentos e quinze reais) à 
campanha eleitoral de 2010 do deputado estadual Juliano Borghetti 
Em relação ao mérito, se vê que a matéria está disciplinada pelo 
artigo 23 e seus §, da Lei n° 9.504197, que prescrevem: 
"Art. 23. Pessoas físicas poderão fazer doações em dinheiro ou 
estimáveis em dinheiro para campanhas eleitorais, obedecido o 
disposto neste Lei.
REspe no 333-79.2012.6.16.0000/PR	 3 
§ 10 As doações e contribuições de que trata este artigo ficam 
limitadas: 
- no caso de pessoa física, a dez por cento dos 
rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição; 
II - no caso em que o candidato utilize recursos próprios, ao 
valor máximo de gastos estabelecido pelo seu partido, na 
forma desta Lei. 
§ 2° Toda doação a candidato especifico ou a partido deverá 
ser feita mediante recibo, em formulário impresso ou em 
formulário eletrônico, no caso de doação via internet, em que 
constem os dados do modelo constante do Anexo, dispensada 
a assinatura do doador. 
§ 3° A doação de quantia acima dos limites fixados neste artigo 
sujeita o infrator ao pagamento de multa no valor de cinco a 
dez vezes a quantia em excesso. 
( ... )" grifei. 
Esta Corte Eleitoral, em decisão de minha relatoria, decidiu 
recentemente que na firma individual, a pessoa jurídica se confunde 
pessoa física: 
"EMENTA. RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2010. 
REPRESENTAÇÃO. DOAÇÃO DENTRO DO PERMISSIVO 
LEGAL. FIRMA INDIVIDUAL. 
4. Decisão do Tribunal Superior Eleitoral, em 09/06120 1 1, no 
sentido de que a competência para processar e julgar a 
representação por doação de recursos acima do limite legal é 
do juízo eleitoral do domicílio do doador. Remessa dos autos 
ao juízo eleitoral do local em que se encontra a sede da 
pessoa jurídica doadora. 
S. A demanda foi ajuizada pelo Procurador Regional Eleitoral 
dentro do prazo de 180 dias contados da data da diplomação. 
6. A firma individual não tem personalidade jurídica própria e 
independente da pessoa física, cuidando-se da mesma 
pessoa. 
7. Recurso não provido, mantendo a decisão por fundamento 
diverso." 
(TRE/PR. RE n° 1117-90.2011.6.16.0000, Relator: Luciano 
Carrasco, julgado em 1810412012). 
Logo, não atingiu o valor máximo previsto em lei,ou seja, o limite 
estabelecido pelo 1° do ant. 23 da Lei 9.504/97. Não que se falar, 
então, em ilícito. 
1 . . .1	
o
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/PR	 4 
O Ministério Público Eleitoral sustenta em seu recurso especial, 
em suma, que:
a) o acórdão regional, ao decidir que a pessoa jurídica de 
firma individual se confunde com a pessoa física e aplicar o 
limite previsto no art. 23 da Lei n° 9.504197, afrontou o § 10 do 
art. 81 da Lei n° 9.504197, pois ficou incontroverso nos autos 
que houve doação no valor de R$ 24.515,00 pela pessoa 
jurídica recorrida, devendo ser aplicado o limite de 2% do 
faturamento bruto imposto às pessoas jurídicas; 
b) se a doação foi realizada em nome da pessoa jurídica e 
com seus fundos, ainda que se trate de firma individual, não 
existe nenhuma confusão entre a pessoa jurídica e a pessoa 
física, tampouco deve ser aplicado o dispositivo legal indevido; 
c) o acórdão regional divergiu de acórdãos proferidos pelos 
Tribunais Regionais Eleitorais do Distrito Federal e do Ceará 
sobre a matéria. 
Requer o conhecimento e o provimento do recurso especial, a 
fim de que seja reformado o acórdão regional e aplicadas as 
sanções previstas nos § 20 e 30 do art. 81 da Lei n° 9.504197. 
Carlos Roberto de Mello Torres ME e Carlos Roberto de Mello 
Torres ofereceram contrarrazões (fis. 249-253), nas quais defendem o não 
provimento do recurso especial, ao argumento de que não houve violação ao 
art. 81, § 1 0, da Lei n° 9.504197, pois o patrimônio da firma individual se 
confunde com o da pessoa física, não havendo falar em extrapolação do limite 
legal da doação no presente caso. Citam precedentes de outros tribunais para 
fundamentar sua tese. 
A douta Procuradoria-Geral Eleitoral opinou pelo provimento do 
apelo especial, assinalando que houve ofensa ao art. 81, § 1 1 , da Lei 
n° 9.504197, porquanto, ainda que o empresário individual não seja 
propriamente uma pessoa jurídica, tem o mesmo tratamento de uma.	
o
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/PR
	
5 
Ressalta que o legislador, ao prever o limite de 2% às pessoas 
jurídicas, quis atingir os empresários como um todo, pois estes possuem 
patrimônio maior do que o das pessoas físicas. 
Argumenta que, se os recorridos quisessem realizar doação 
cujo limite correspondesse a 10% dos rendimentos auferidos, deveriam ter 
realizado a doação na qualidade de pessoa física e não de empresa individual. 
É o relatório.
VOTO 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Senhor Presidente, o recurso é tempestivo. Os autos foram 
recebidos em secretaria em 27.7.2012,sexta-feira (fl. 206), e o recurso 
especial foi interposto em 30.7.2012 (fl. 208), pela Procuradora Regional 
Eleitoral.
O recorrente alega ofensa ao § 1 0 do art. 81 da Lei 
n° 9.504197, sob o argumento de que o Tribunal de origem aplicou o limite para 
doações de pessoas físicas à doação eleitoral efetuada pela empresa 
individual Carlos Roberto de Mello Torres ME. 
Como se vê, a Corte Regional Eleitoral deu provimento a 
Recurso Eleitoral sob o fundamento de que o limite a ser aplicado à doação 
eleitoral feita por firma individual é o constante do art. 23 da Lei n° 9.504197, 
não aquele prescrito no § 1 1 do art. 81 da mesma lei, uma vez que em tais 
situações haveria confusão entre a pessoa jurídica e a pessoa física. 
O recurso especial aponta divergência em relação à 
interpretação das normas da Lei n° 9.504, de 1997, pois os Tribunais 
Regionais Eleitorais do Distrito Federal e do Ceará consideram que as doações 
realizadas pelas firmas individuais devem observar o limite de 2% do 
faturamento bruto da empresa (art. 81, §1 0), enquanto o Tribunal Regional
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/ pR	 6 
Eleitoral do Paraná considerou, no presente caso, ser cabível a aplicação do 
limite de 10% (dez por cento) atribuído às pessoas físicas (art. 23). 
Realmente, ainda que não se tenha realizado um perfeito 
cotejo dos acórdãos paradigmas, é possível vislumbrar a divergência de 
entendimentos.
Aliás, em rápida e incompleta pesquisa que realizei para 
elaboração deste voto, verifiquei que o próprio Tribunal Regional Eleitoral do 
Paraná, posteriormente, modificou o seu entendimento passando a considerar 
que as doações realizadas por firmas individuais sejam limitadas de acordo 
com a regra do art. 81 da Lei das Eleições, que trata das pessoas jurídicas. 
Em igual sentido, estabelecendo o limite de 2%, entendem os 
Tribunais Regionais Eleitorais do Distrito Federal, do Ceará, do Pará. 
De forma diversa, considerando que as firmas individuais 
devem ser equiparadas às pessoas físicas, existem diversos julgados das 
cortes regionais de São Paulo, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, 
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Rondônia. 
Há também acórdão do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia 
reconhecendo a unidade patrimonial entre a pessoa física e a empresa 
individual, que possibilitaria, inclusive, a soma da receita e dos rendimentos 
para aferição da base de cálculo do limite de doação. 
Assim, conheço do recurso para que o Tribunal Superior 
Eleitoral possa pacificar a jurisprudência em torno da questão jurídica e definir 
se as doações realizadas pelas firmas individuais devem ser computadas de 
acordo com a regra do art. 23 ou do art. 81, §1 1, da Lei das Eleições. 
Anoto, desde logo, que a hipótese dos autos não cuida das 
"empresas individuais de responsabilidade limitada - EIRELI", que foram 
criadas pela Lei n° 12.441, de 11 de julho de 2011, que alterou a redação do 
art. 44 e introduziu o art. 890-A, ambos do Código Civil. 
Aliás, as alterações introduzidas na Lei n° 12.441 somente 
entraram em vigência a partir de janeiro de 2012, razão pela qual não há 
sequer como se cogitar de pessoa jurídica que tenha exercido atividade no ano
REspe n° 333-79.2012.6.16,0000/PR	 7 
anterior ao da última eleição, pressuposto básico para que se possa efetuar 
doações.
A hipótese cuida do exercício da atividade empresarial prevista 
no art. 966 do Código Civil: 
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de 
bens ou de serviços. 
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce 
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, 
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o 
exercício da profissão constituir elemento de empresa. 
A caracterização e os elementos da empresa individual foram 
examinados no voto da eminente Ministra Nancy Andrighi, no julgamento do 
REsp n° 594.832/RO, na Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, 
DJ de 1 1.8.2005, do qual transcrevo o seguinte trecho: 
Discorrendo sobre a empresa individual, ensina Rubens Requião que 
"o comerciante singular, vale dizer, o empresário individual, é a 
própria pessoa física ou natural, respondendo os seus bens 
pelas obrigações que assumiu, quer sejam civis, quer 
comerciais. A transformação da firma individual em pessoa jurídica 
é um ficção de direito tributário, somente para efeito de imposto de 
renda" (Curso de Direito Comercial, Saraiva, 1975, v.40, p. 55). 
No mesmo sentido os ensinamentos de Carvalho de Mendonça, para 
quem "a firma individual é uma mera ficcão Jurídica, com fito de 
habilitar a pessoa física a praticar atos de comércio, 
concedendo-lhe algumas vantagens de natureza fiscal. Por isso, 
não há bipartição entre a pessoa natural e a firma por ele 
constituída. Uma e outra fundem-se, para todos os fins de 
direito, em um todo único e indivisível. Uma está compreendida 
pela outra. Logo, quem contratar com uma está contratando 
com a outra e vice versa... A firma do comerciante singular gira 
em círculo mais estreito que o nome civil, pois designa 
simplesmente o sujeito que exerce a profissão mercantil. Existe 
essa separação abstrata, embora aos dois se aplique a mesma 
individualidade. Se em sentido particular uma é o 
desenvolvimento da outra, é, porém, o mesmo homem que vive 
ao mesmo tempo a vida civil e a vida comercial "(Tratado de 
Direito Comercial Brasileiro, Ed. Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 
1957, 6a edição, v. II, p. 1661167) 
Assim, o empresário individual é a própria pessoa física ou 
natural, respondendo os seus bens pelas obrigações que 
assumiu, quer civis quer comerciais. Esse também o 
entendimento jurisprudencial reiterado. Confira-se: JTA CSP,
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/ p R	 8 
1261100; JTACSP 135179; JTACSP, 1451140; LEX - JTJ, 2601338. 
JTJ, 2031198 JTJ, 1421212 (sem grifos no origina!). (Grifo nosso]. 
Mais recentemente, a 31 Turma do STJ, em acórdão da lavra 
do Mm. Paulo de Tarso Sanseverino, verificou a possibilidade de sucessão 
processual da firma individual por seu titular, mantendo a decisão monocrática 
proferida, no que interessa ao presente caso, nos seguintes termos: 
Conforme afirmado no acórdão recorrido, a firma individual não 
possui "personalidade distinta em relação à pessoa natural" não 
sendo "pessoas jurídica nos termos do art. 44 do CC" 
(Resp 12603321AL, Rei. Min. Herman Benjamin). 
Desta forma, como a firma individual e a sua titular detém uma 
única personalidade jurídica, sequer se poderia considerar ter 
havido a substituição do pólo ativo processual. 
Na verdade, a titular da pretensão indenizatória sempre figurou no 
pólo ativo, ainda que sob a denominação da firma individual de que 
era detentora. 
(AgRg no Ag n° 1.327.245, DJEde 29.2.2012, grifo nosso.) 
No precedente indicado na decisão acima - REspe 
n° 1.260.332/AL, a 2a Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu que a 
firma individual, não contemplada no art. 44 do Código Civil, não poderia ser 
considerada como pessoa jurídica, como se vê da respectiva ementa do 
julgado:
TRIBUTÁRIO. SIMPLES FEDERAL. LEI 9.31711996. 
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS. SERVIÇO PRESTADO 
POR MEIO DE MÉDICOS E ENFERMEIROS. 
EXCLUSÃO. 
(...)
4. O conceito de "pessoa jurídica" é dado pelo Código Civil, e 
é a ele que devemos recorrer no momento de interpretar a 
norma tributária (art. 109 do CTN). 
5. Nos termos do art. 44 do CC, são pessoas jurídicas de 
direito privado as associações, as sociedades, as fundações, as 
organizações religiosas e os partidos políticos. 
6. Discutível seria estender o alcance da norma tributária, 
como fez o TRF, para abranger os profissionais liberais ou 
mesmo empresários individuais, que, como sabemos, são 
destituídosde personalidade distinta em relação à pessoa 
natural, ou seja, não são pessoas jurídicas nos termos do art. 44 
do CC.
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/PR 
7. O texto legal não prima pela melhor técnica, mas é impossível 
afirmar que profissionais liberais são pessoa jurídica e que 
sociedades limitadas não têm essa qualificação, ao interpretar o 
art. 90, XIII, da Lei 9.31711996, agredindo frontalmente o conceito 
jurídico correspondente (art. 44 do CC). 
8. É incontroverso que a atividade-fim do recorrido, laboratório de 
análises clínicas, é realizada pelo serviço profissional de médicos e 
enfermeiros, de modo que incide a vedação de ingresso no Simples 
Federal prevista no art. 90, XIII, da Lei 9.31711996. 
9. Recurso Especial provido. 
(REspe n° 1.260.332, rei. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, 
julgado em 1 0 .9.2011, DJE de 12.9.2011, grifo nosso.) 
A doutrina também reconhece a unicidade patrimonial entre a 
pessoa física e a firma individual, além das abalizadas palavras de Rubens 
Requião e Carvalho de Mendonça, citados no voto da eminente Ministra Nancy 
Andrighi acima transcrito, é elucidativa a lição de Fábio Ulhôa Coelho: 
É possível, porém, a exploração da atividade econômica por uma 
pessoa física. Normalmente, a atividade será de modesta dimensão, 
com pouquissímos ou nenhum empregado, faturamento diminuto, 
pequena importância para a economia local. Se não for informal - 
traço, aliás comum na hipótese -, o empresário pessoa física terá 
registro na Junta Comercial e nos cadastros de contribuintes como 
firma individual. Note-se que esta é apenas uma espécie de nome 
empresarial (Cap. 6, item 9.1) e não representa nenhum mecanismo 
de presonalização ou separação patrimonial. O empresário 
individual, ao providenciar os registros obrigatórios por lei, não 
está constituindo um novo sujeito de direito, com autonomia 
jurídica, mas simplesmente regularizado a exploração de 
atividade econômica. Há uma grande confusão conceitual neste 
campo, principalmente porque, sob a perspectiva do direito tributário, 
muitas vezes, encontram-se sob o mesmo regime de obrigações 
instrumentais o empresário individual e algumas sociedades. É 
necessário, contudo, ressaltar que a firma individual não é sujeito de 
direito, mas categoria de nome empresarial. O sujeito - isto é, o 
credor, devedor, contratante, demandante, demandado, falido, 
concordatário etc. - será sempre a pessoa física do empresário 
individual, identificado pela firma que levou a registro. E erro técnico 
grosseiro dizer, por exemplo, que foi decretada a falência dde firma 
individual ou propor ação individual e pretender distinguir bens da 
firma. Como não se trata de sujeito de direito, mas simples categoria 
registrária, a firma não contrata, não pode falir, demandar ou ser 
demandada, titularizar domínio ou posse sobre coisas, nem exercer 
qualquer atributo próprio das pesoas ou dos entes 
despersonalizados ( COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de Direito 
Comercial. Saraiva: São Paulo, 2002, p. 385-386). [negritei].
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/PR	 lo 
Assim, a firma individual, também denominada de empresa 
individual, nada mais é do que a própria pessoa natural que exerce atividade 
de empresa e responde com os seus próprios bens pelas obrigações 
assumidas.
Nessa linha, inclusive, o Superior Tribunal de Justiça já 
reconheceu que "É assente em vertical sede doutrinária que 'A 
impenhorabi/idacie da Lei n° 8.009190, ainda que tenha como destinatários as 
pessoas físicas, merece ser aplicada a certas pessoas jurídicas, às firmas 
Individuais, às pequenas empresas com conotação familiar, por exemplo, 
por haver identidade de patrimônios" (FACHIN, Luiz Edson. "Estatuto 
Jurídico do Patrimônio Mínimo", Rio de Janeiro, Renovar, 2001, p. 154)" 
(STJ, la T., REspe n°621.399, rei. Min. Luiz Fux, j. de 19.4.2005). 
A douta Procuradoria-Geral Eleitoral reconhece no parecer 
proferido nesta instância que "o empresário individual é pessoa física, titular de 
empresa, cujo exercício se faz sob uma firma, constituída a partir do seu nome. 
Embora possua CNPJ e tenha tratamento de pessoa jurídica, não possui 
personalidade jurídica ". Entretanto, assevera que: 
Nessa esteira, ainda que não seja propriamente uma pessoa jurídica, 
o empresário individual tem tratamento de uma, possuindo, inclusive, 
alguns privilégios, como incentivos fiscais, simplificação contábil, 
facilitação de acesso ao crédito e preferências nas licitações. 
Por outro lado, ao prever o limite de doações no percentual de 2% às 
pessoas jurídicas, quis o legislador atingir os empresários como um 
todo, pois estes, em sua grande maioria, possuem um patrimônio 
bem maior que o das pessoas físicas, cujo limite de doação é maior 
(10% dos rendimentos auferidos no ano anterior das eleições). 
Assim, o limite de doações aplicável aos empresários individuais 
deve ser o mesmo daquele aplicado às pessoas jurídicas. 
Ademais, cumpre consignar que, caso os recorridos quisessem 
realizar doação cujo limite correspondesse a 10% dos rendimentos 
que auferiram no ano anterior à eleição, deveriam - e poderiam - ter 
realizado a doação na qualidade de pessoa física, e não através de 
sua empresa individual. 
Realmente, é certo que o art. 150 do Regulamento do Imposto 
de Renda (Decreto n° 3000199), reproduzindo a regra do art. 2 1 do Decreto-Lei 
n° 1.706, de 1979, prevê que: "As empresas individuais, para os efeitos do 
imposto de renda, são equiparadas às pessoas jurídicas".
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/PR	 11 
Do mesmo modo, a Lei Complementar n° 123, de 2006, que 
Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte 
e altera diversas normas, ao considerar, no seu art. 3 0 , como microempresa o 
empresário referido no art. 966, do Código Civil, desde que observadas 
determinadas condições, confere, entre outros direitos, o tratamento tributário 
diferenciado, simplifica as relações de trabalho, cria estímulos e estabelece, 
entre outras, regras civis e empresárias desburocratizadas. 
Entretanto, a norma que estabelece equiparação entre 
pessoas reconhece intrinsicamente que os envolvidos são distintos e, apenas 
para os efeitos previstos na lei, devem ser considerados iguais. 
A equiparação do empresário ou da empresa individual a uma 
pessoa jurídica por ficção jurídica não transmuta a natureza da pessoa física 
equiparada.
Por outro lado, o argumento de que os empresários individuais 
teriam patrimônio superior ao das demais pessoas físicas, d.v., não procede. 
Basta recordar que, a teor do disposto no parágrafo único do 
art. 966 do Código Civil, são excluídos da condição de empresário aqueles que 
exercem "profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística". 
Além disso, os trabalhadores autônomos, cujos ganhos são 
ilimitados, representam grande e significativa parcela da economia brasileira, 
sem mencionar aqueles que vivem na informalidade. 
De qualquer sorte, diferenciar as pessoas físicas a partir das 
atividades que exercem acarretaria intolerável desigualdade de direitos 
individuais. As pessoas físicas que se dedicam ao exercício de atividade 
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços 
possuiriam um limite de doação para campanhas eleitorais, ao passo que 
aqueles que exercem, por exemplo, a atividade artística ou são autônomos 
estariam sujeitos a patamar superior reconhecido ao trabalhador assalariado. 
Entendo que também não prospera o argumento de que para 
fazer jus ao limite superior, os recorridos poderiam realizar a doação pela 
pessoa física e não pela firma individual. Essa alegação significa dizer que no
REspe n o 333-79.20126.16.0000/pR	 12 
recibo eleitoral deveria constar o CPF e não o CNPJ, apesar de o doador ser, 
em ambas as situações, a mesma pessoa física que reúne os dois númerosde 
identificação.
Por fim, mas como principal fundamento deste voto, entendo 
ser necessário reconhecer que a firma individual, como o próprio nome diz, é 
exercida exclusivamente por uma única pessoa física, que, além de 
empresário, é eleitor. 
Assim, ao contrário das sociedades cujos interesses estão 
voltados ao objetivo social da empresa previsto nos estatutos ou no contrato 
social e derivam da concorrência de vontades dos seus sócios - em alguns 
casos inclusive estrangeiros - as firmas individuais refletem a própria e 
exclusiva vontade de uma única pessoa física - o empresário ou, em última 
análise, o eleitor. 
Por essas razões, voto no sentido de conhecer e negar 
provimento ao recurso especial do Ministério Público Eleitoral, mantendo 
o acórdão que julgou improcedente a representação. 
ESCLARECIMENTOS 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO NORONHA: A questão 
não está em discussão, Ministro Henrique Neves da Silva, mas, penso que 
mereceria tratamento diferenciado a firma individual, pessoa física, da 
EIRELI - empresa individual de responsabilidade limitada -, ou seja, da 
empresa que tenha patrimônio afetado. Quando se trata de EIRELI, é 
necessário que se dê tratamento diferenciado, porque o seu patrimônio é 
destinado ao comércio. Se se sair da EIRELI, estaria no limite de pessoas 
jurídicas.
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Concordo com Vossa Excelência. Até porque todos os fundamentos,
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/ pR	 13 
para dizer que uma firma individual não é uma pessoa jurídica, caíram em 
relação à EIRELI. Ela será analisada... 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO NORONHA: Será uma 
outra questão. Mas também entendo que é uma equiparação puramente para 
efeitos tributários, apenas para isso. O patrimônio é o mesmo, não há distinção 
patrimonial alguma, a personalidade jurídica é a mesma da pessoa física, ou 
seja, quem se compromete é o patrimônio de todos; não vejo razão para 
distinção neste ponto. 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Fiquei com muita dúvida e estudei bastante a matéria. O 
fundamental, para mim, é que essa empresa é uma pessoa, é um eleitor. A 
empresa é o eleitor. 
Se compararmos a empresa, indiretamente teríamos que 
assim proceder com os candidatos, para os quais também é expedido CNPJ - 
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica. Entendemos que as doações de 
candidatos para outros candidatos devem observar os limites da pessoa física. 
É uma matéria nova nesta Corte; não encontrei qualquer 
precedente, nem decisão monocrática. 
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (Presidente): Vossa 
Excelência está desprovendo o recurso do Ministério Público Eleitoral. 
VOTO 
A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Senhor 
Presidente, a questão penso estar muitíssimo bem posta pelo eminente 
Relator.
Acompanho a integralidade de seu voto.	
o
REspe no 333-79.2012,6.16,0000/pR	 14
VOTO (vencido) 
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: Senhor Presidente, o 
art. 980-A da Lei n o 12.44112011 dispõe que: 
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será 
constituída por uma únicà pessoa titular da totalidade do capital 
social, devidamente integralizado [ou seja, deve ser integralizado de 
imediato], que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-
mínimo vigente no País. 
§ 1 0 O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da 
expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da 
empresa individual de responsabilidade limitada. 
§ 20 A pessoa natural que constituir empresa individual de 
responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única 
empresa dessa modalidade. 
§ 31 A empresa individual de responsabilidade limitada também 
poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade 
societária num único sócio, independentemente das razões que 
motivaram tal concentração. 
§ 40 (VETADO). 
§ 50 Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade 
limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer 
natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos 
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que 
seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade 
profissional. 
§ 60 Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, 
no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. 
Senhor Presidente, tenho posicionamento contrário - e já 
proferi voto no Supremo Tribunal Federal - à participação de pessoas jurídicas 
no processo eleitoral. 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Ministro Dias Toifoli, Vossa Excelência permite um esclarecimento? 
É que iniciei meu voto dizendo que essa alteração do 
art. 980-A, bem como a do art. 44, ambas introduzidas pela Lei 
n° 12.44112011, não é a hipótese dos autos. Foi o que disse o Ministro João 
Otávio de Noronha. Quanto a essas empresas, nós as examinaremos em 
casos futuros, uma vez que essa Lei vigora a partir de janeiro de 2012.
REspe no 333-79.2012.6.160000/pR	 15 
O que estou dizendo é que, neste caso e nos precedentes que 
identifiquei, não é hipótese de empresa individual de responsabilidade 
limitada - EIRELI, a qual, sim, poderemos considerar como pessoa jurídica, 
até porque houve a alteração do art. 44, para, dentre as pessoas de direito 
privado, incluir esse tipo de empresa; mas isso no futuro. 
No presente caso, são as firmas individuais em que 
simplesmente a pessoa exercia e requeria o CNPJ por equiparação. Faço, 
então, essa distinção para deixar claro: a questão da EIRELI, das empresas 
individuais de responsabilidade limitada, criadas a partir de 2012, não está 
sendo examinada, neste caso. 
Aqui, examino apenas o exercício das atividades de 
empresário, nos termos do art. 966 do Código Civil. 
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: Sim, eu sei, de 
qualquer sorte, tenho essa posição, no sentido do não cabimento de doação 
por pessoa jurídica. E o próprio fato de Vossa Excelência estar distinguindo 
essas pessoas unipessoais, essas pessoas jurídicas formadas por um único 
participante, um único interessado, mesmo que não tenha - no caso dos autos 
- a qualidade do que está disposto no art. 40 do Código Civil, ou seja, da 
relação das pessoas jurídicas ali colocadas, mas é uma pessoa jurídica. 
Eu tenderia a acompanhar o Ministro Relator se a doação 
fosse para o próprio "sócio-candidato", o próprio empresário, a própria pessoa 
natural.
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: Mas, 
no caso, não há sócio, Ministro Dias Toifoli. O dono de uma pequena padaria, 
por exemplo, está fora do processo eleitoral de doações, o dono da quitanda 
também está fora do processo eleitoral de doações. 
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: Se o próprio 
interessado, se o próprio criador desta empresa é candidato e doa para si 
mesmo, até admitiria essa possibilidade de extrapolar os 2% de pessoa 
jurídica, 10% de pessoa física, porque ele é o único participante da empresa e 
ele é candidato. Mas aqui é uma empresa unipessoal que está a doar para 
terceiro candidato. Não consigo entender, de maneira nenhuma, como é que v
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/PR	 16 
alguma empresa tenha no seu objeto social doação para campanha eleitoral. 
Não consigo enxergar o objetivo empresarial dessa doação. 
Senhor Presidente, tenho dificuldade em acompanhar o voto 
de Sua Excelência no sentido de placitar aquilo que foi decidido, neste caso 
concreto, pelo Estado do Paraná, permitindo a doação no limite de pessoa 
natural, quando se trata de uma doação de pessoa jurídica. 
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (Presidente): Acima 
de 2% do faturamento. 
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: Exatamente. Dou 
provimento ao recurso do Ministério Público Eleitoral para fins de reformar o 
acórdão recorrido e julgar procedente a representação. Na verdade, é 
restabelecer a decisão de primeiro grau. Pensoque foi pela procedência. 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Exatamente. O voto de Vossa Excelência restabeleceria a sentença. 
VOTO 
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES: Senhor 
Presidente, acompanho o Relator. 
VOTO (vencido) 
A SENHORA MINISTRA LAURITA VAZ: Senhor Presidente, 
pela leitura que fiz da questão já havia inclusive conversado com o Ministro 
Relator a respeito, porque estou com um caso idêntico para ser apreciado e já 
havia firmado o meu entendimento no sentido de que haveria ofensa ao 
artigo 81, § 1 0, da Lei n°9.504/97, na espécie narrada nos autos. 
Entendo que, embora o empresário individual não seja 
propriamente uma pessoa jurídica, deve ter o mesmo tratamento desta.	4
REspe no 333-79.2012.6.16.0000/ pR	 17 
Se se considera a empresa como sendo realmente jurídica, a 
doação deveria se dá como pessoa jurídica e não como pessoa natural. 
Eu já havia firmado o mencionado ponto de vista e, agora, o 
voto do e. Ministro Dias Toffoli veio corroborar o meu entendimento. 
Acompanho a divergência. 
VOTO 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: 
Senhor Presidente, as coisas não podem mudar para continuar como estamos. 
Houve a criação do patrimônio de afetação disposto numa lei, 
e agora inserido no Código Civil, na parte da sociedade, como empresa 
individual de responsabilidade limitada - EIRELI -, criou-se um patrimônio de 
afetação. Esta sim equiparada à pessoa jurídica ou tem natureza de pessoa 
jurídica, até permite a lei que ela escolha a forma de organização societária. 
Diferente e muito diferente é a firma individual comum, 
tradicional. O art. 980-A da Lei n° 12.44112011 é uma grande aspiração do 
mundo comercial brasileiro no sentido de limitar a responsabilidade do 
comerciante individual ou do empresário individual. Só quem opta por esse 
sistema está sujeito à incidência do artigo 980-A. Quem não opta é um 
comerciante individual, na verdade, é uma pessoa física, o seu patrimônio 
responde integralmente pelo pagamento das obrigações, pelo pagamento das 
dívidas. Então, são situações diferentes. 
Na realidade, a equiparação à pessoa jurídica foi introduzida 
no direito brasileiro apenas para efeito de Imposto de Renda e Imposto sobre 
Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Só para isso. 
Mera equiparação para fins de contabilidade de Direito Tributário. Já o 
patrimônio de afetação, do sistema germânico, que vem do sistema inglês, 
introduzido no artigo 980-A, muda totalmente, cria uma responsabilidade 
limitada a um patrimônio destacado pelo comerciante individual e só esse
REspe n1 333-79.2012,6.16.0000/pR	 18 
patrimônio responderá pelo pagamento de suas dívidas. Então a situação é 
diferente.
Há ainda uma questão curiosa: tomamos, por exemplo, uma 
sociedade de economia mista pequena em que o sócio pode doar como 
pessoa física tendo um limite maior. Qual a diferença, no campo pragmático, 
das pequenas sociedades de responsabilidade limitada e a empresa individual 
de responsabilidade limitada? Nenhuma. Praticamente uma tem um sócio e a 
outra tem dois sócios. A que tem dois, o sócio pode doar como pessoa física e 
a quem tem apenas um não pode. 
A lei distinguiu aquilo que o intérprete não pode deixar de 
observar. Por isso, peço vênia ao Ministro Dias Toifoli e à Ministra Laurita Vaz, 
porque tenho a mais plena convicção de que aqui a incidência é de uma 
pessoa natural.
Acompanho o eminente Relator. 
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: Com todo respeito aos 
votos já proferidos e que formaram a maioria, mas o que tenho aqui no pregão 
é "Recorrido: Carlos Roberto de Meio Torres - ME". Esse "ME" não indica um 
sobrenome, mas uma microempresa. 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: 
Microempresa é apenas uma qualificação para obter benefícios fiscais. Nada 
mais. Eu posso ser um comerciante individual grande e posso ser um 
comerciante individual pequeno. 
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: O recurso saiu da 
microempresa, não saiu da pessoa natural. Mas o que constou na prestação 
de contas? Constou na prestação de contas Carlos Roberto Torres? Não. 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: Se eu 
quero expor meu patrimônio, por exemplo, um grande proprietário de uma 
fazenda agrícola no agronegócio não é microempresa, mas uma pessoa física. 
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: Agora, se o Relator 
disser que o "ME" faz parte do patronímico do cidadão...
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/pR	 19 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: O que 
qualifica a pessoa jurídica não são esses adminículos do nome. 
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (Presidente): Teria 
doado duplamente, como pessoa natural e como pessoa jurídica? 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Não. Eu explico no voto que a inclusão dele como microempresa 
decorre do art. 30 da Lei Complementar n° 123/2006 que equipara à 
microempresa o empresário referido no artigo 966 do Código Civil. É uma 
ficção jurídica em que o empresário pessoa física é equiparado a uma 
microempresa. Por isso recebe o nome "Microempresa" e a inscrição no CNPJ, 
mas no fim, ao cabo é uma pessoa física. 
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (Presidente): 
Pergunto a Vossa Excelência: mesmo considerada, especialmente a ficção, é 
uma pessoa jurídica ou uma pessoa natural? 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Para efeito tributário é uma pessoa jurídica, por conta do art. 150 do 
Decreto n° 3.000/1 999. 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: Eu 
permito divergir de que ela seja uma pessoa jurídica, ela é uma pessoa natural. 
A equiparação é meramente para efeitos tributários, não muda a 
personalidade. Ela é por tudo e em tudo uma pessoa natural, tanto é assim 
que todo o patrimônio do comerciante individual responde pelo pagamento das 
dívidas contraídas no seio da atividade empresarial. 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Daí, inclusive, que se criou a figura da empresa de responsabilidade 
limitada a partir do ano de 2012 e que é a análise que iremos fazer em outros 
casos.
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: É 
aquilo que chamamos em Direito Comercial de sociedade unipessoal. 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Eu até adianto meu ponto de vista referente à empresa individual de
REspe n° 333-79.2012.6.16.0000/ pR	 20 
responsabilidade limitada, tratada no artigo 980-A e que modifica o artigo 44 do 
Código Civil: entendo que o limite de doação será de 2%. Como o artigo 44 do 
Código Civil foi modificado, então ela passou a ser uma pessoa jurídica. 
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: È 
assim porque tem um patrimônio de afetação. 
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA 
(Relator): Mas não é o caso que estamos examinando. 
VOTO (vencido) 
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (Presidente): 
Senhores Ministros, embora aqueles que formam a maioria ainda estejam 
discutindo, peço vênia ao Relator para acompanhar a divergência, e empresto 
ao artigo 23 interpretação estrita: ou se tem o envolvimento de pessoa natural 
ou de pessoa jurídica, pouco importando consubstanciar esta última uma 
microempresa - daí as duas letras "ME" contidas no cabeçalho do próprio 
processo: Carlos Roberto de Meio Torres ME. E "ME", como ressaltado pelo 
Ministro Dias Toifoli, não é patronímico.	 4 ^ 
Por isso acompanho Sua Excelência.
REspe no 333-79.2012.6.16.0000IpR	 21
EXTRATO DA ATA 
REspe no 333-79.2012.6.1 6.0000/PR. Relator: Ministro 
Henrique Neves da Silva. Recorrente: Ministério Público Eleitoral. Recorridos: 
Carlos Roberto de Mello Torres Me e outro (Advogados: Soiane Montanheiro 
dos Reis e outro). 
Decisão: O Tribunal, por maioria, desproveu o recurso, nos 
termos do voto do Relator. Vencidos os Ministros Dias Toifoli, Laurita Vaz e 
Marco Aurélio.
Presidência do MinistroMarco Aurélio. Presentes as Ministras 
Laurita Vaz e Luciana Lóssio, os Ministros Dias Toifoli, Gilmar Mendes, João 
Otávio de Noronha e Henrique Neves da Silva, e o Vice-Procurador-Geral 
Eleitoral, Eugênio José Guilherme de Aragão.
SESSÃO DE 10.4.2014.

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