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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO RICARDO LUIS FAGUNDES Itajaí, maio de 2010. UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO RICARDO LUIS FAGUNDES Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Profª Msc. Rosane Maria Rosa Itajaí, maio de 2010 AGRADECIMENTO A Deus, pelo amparo nas horas difíceis; A meus familiares, pelo incentivo, apoio e compreensão; a Orientadora, Professora Rosane, pelas informações e orientações recebidas durante a realização deste estudo. 3 Dedicatória A minha mãe, pelo amor e carinho, na dedicação da construção de minha educação, e pelo exemplo de vida. Porque você fez, faz e fará sempre parte de minha história. 4 TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, maio de 2010 RICARDO LUIS FAGUNDES Graduando PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando RICARDO LUIS FAGUNDES, sob o título ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO, foi submetida em 09 de junho de 2010 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: profª Msc. Rosane Maria Rosa, orientadora e presidente da Banca; Silvio Noel de Oliveira Junior, examinador, e aprovada com a nota _______. Itajaí, maio de 2010 Profª M.sc, Rosane Maria Rosa Orientadora e Presidente da Banca Prof. MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002 CLT Consolidação das Leis do Trabalho CRFB Constituição Da Republica Federativa do Brasil JT Justiça do Trabalho OIT Organização Internacional do Trabalho OMS Organização Mundial de Saúde TRT/12 Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região TST Tribunal Superior do Trabalho ROL DE CATEGORIAS Assédio Moral: Conjunto de ações depreciativas, sistemáticas e prolongadas contra um subordinado, que tem por objetivo destruir seu equilíbrio psicológico, tornando-o refém do medo por conta de perseguições injustificadas.1 Contrato: Acordo tácito ou expresso mediante o qual ajustam as partes pactuantes direitos e obrigações recíprocas2. Contrato de Trabalho: Negócio Jurídico expresso ou tácito mediante o qual uma pessoa natural obriga-se perante pessoa natural, jurídica ou ente despersonificada a uma prestação pessoal, não – eventual, subordinada e onerosa de serviços.3 Dano: Lesão a um interesse jurídico tutelado, patrimonial ou não, causado por ação ou omissão do sujeito infrator.4 Direito do Trabalho: O conjunto de princípios e regras aplicáveis às relações individuais e coletivas que nascem ente os empregadores privados – ou equiparados – os que trabalham sob sua direção e de ambos com o Estado, por ocasião do ou eventualmente fora dele.5 Princípios: São linhas diretrizes que informam algumas normas e inspiram direta ou indiretamente uma série de soluções, pelo que, podem servir para promover, e embasar a aprovação de normas, orientarem a interpretação das existentes e resolver os casos não previstos.6 1 SOUZA, Jorge Dias. As Chefias Avassaladoras. Novo Século. São Paulo. 2009. p. 28-29. 2 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de trabalho: Caracterização, distinções e efeitos. São Paulo LTr. 1999. p.15. 3 DELGADO, Maurício Godinho.Contrato de trabalho: Caracterização, distinções e efeitos. São Paulo LTr. 1999. p.16. 4 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. 5 ed. rev. e. atual. 2007. p. 36 5 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 20 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 172 6 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. Tradução de Wagner D. Giglio. 5 ed. São Paulo: LTr, 1997. p. 16. viii Responsabilidade Civil: Atividade danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, as conseqüências do seu ato (obrigação de reparar)7 7 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. 5 ed. rev. e. atual. 2007. p. 9. SUMÁRIO RESUMO........................................................................................... XI INTRODUÇÃO .................................................................................. 12 CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 14 FUNDAMENTOS DO DIREITO DO TRABALHO .............................. 14 1.1 EVOLUÇÃO MUNDIAL DO TRABALHO HUMANO ..................................... 14 1.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO BRASIL ...................... 20 1.3 CONCEITOS E PRINCIPIOS NO DIREITO DO TRABALHO ........................ 25 1.3.1 Princípios atinentes ao Direto do Trabalho. ........................................... 25 1.3.2 Principio da dignidade da pessoa humana ............................................. 26 1.3.3 Principio da proteção ................................................................................ 28 1.3.4 Principio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas ....................... 30 1.3.5 Principio da primazia da realidade........................................................... 31 1.3.6 Principio da continuidade da relação de Emprego ................................ 32 1.4 CONTRATO DE TRABALHO ........................................................................ 33 1.4.1 Conceito de Empregado ........................................................................... 35 1.4.2 Conceito Empregador ............................................................................... 36 CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 38 ASSÉDIO MORAL ............................................................................ 38 2.1 DENOMINAÇÃO NO MUNDO, CONCEITO E CARACTERISTICAS ............ 38 2.1.1 Denominação no mundo ........................................................................... 38 2.1.2 Conceito e características ........................................................................ 40 2.1.3 Especies de assédio moral ....................................................................... 44 2.1.3.1 Assédio Moral vertical ou descendente (assimétrico) ....................................442.1.3.2 Assédio Moral Horizontal ..................................................................................45 2.1.3.3 Assédio Moral Misto ..........................................................................................46 2.1.3.4 Assédio Moral Ascendente ...............................................................................47 2.2 SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL ................................................................ 48 2.3 O ASSÉDIO MORAL NO CENÁRIO MUNDIAL ............................................ 52 2.3.1 Organização Internacional do Trabalho (OIT) ......................................... 52 2.3.2 Legislação no Direito Comparado ........................................................... 54 2.3.3 Tutela jurídica com Relação ao Assédio Moral no Brasil ...................... 63 x 2.3.4 Tutela Jurídica Genérica ........................................................................... 63 2.3.5 Tutela Jurídica Específica ........................................................................ 69 CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 72 ASSÉDIO MORAL: RESPONSABILIDADE CIVIL, QUANTUM INDENIZATÓRIO .............................................................................. 72 3.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PRÁTICA DO ASSÉDIO MORAL . 72 3.2 QUANTUM INDENIZATÓRIO ........................................................................ 76 3.3 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL ........................................................ 77 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 83 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 85 RESUMO A presente monografia tem como finalidade o estudo da figura denominada Assédio Moral no Ambiente de Trabalho, para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI; tendo como objetivo geral, analisar a evolução histórica do Direito do Trabalho no mundo e buscar o enlace com os acontecimentos históricos no Brasil. O destaque dos principais princípios que norteiam o Direito do Trabalho, compreendendo o conceito e a caracterização do contrato de trabalho. Os objetivos específicos que foram a base deste trabalho centraram-se em conceituar Assédio Moral; compreender as suas Características destacando como é denominado o Assédio Moral em outros países, trazendo suas espécies; analisando a legislação brasileira com relação ao Assédio Moral no ambiente de trabalho. Deste modo, no decorrer do estudo, percebeu-se que, em diversos países já existem leis que coíbem este tipo de violência no âmbito do trabalho, enquanto que no Brasil, está apenas se iniciando com a elaboração de projetos de lei que visam criar uma base legal para julgar os atos que são cometidos no mundo do trabalho. Porém, já se observa que a jurisprudência caminha no sentido de que é passível de punição aquele que comete o Assédio Moral. INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto a análise da figura do Assédio Moral No Ambiente de Trabalho O seu objetivo é a produção de uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, para analisar o procedimento jurídico com relação ao Assédio Moral no ambiente de trabalho. Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de apresentar os aspectos históricos do Direito do Trabalho, sua evolução no mundo e os principais acontecimentos que constituíram o Direito do Trabalho no Brasil, trazendo à baila os principais princípios que norteiam o Direito do Trabalho, para posteriormente analisar como ocorre o Contrato de Trabalho, servindo como estudo introdutório para melhor compreensão do tema proposto No Capítulo 2, tratando do Assédio Moral no ambiente de Trabalho, através de seu conceito e suas características, analisando as espécies de Assédio Moral, estabelecendo o que não caracteriza assédio moral, enfatizando-se a legislação vigente em outros países. Ainda, destacar diferenças existentes no entendimento e tratamento do assédio moral no direito comparado, verificando se há tutela jurídica especifica sobre o Assédio Moral no ordenamento jurídico do Brasil. No Capítulo 3, destaca-se a Responsabilidade Civil pela prática de Assédio Moral no Ambiente de Trabalho, observando os critérios que serão avaliados pelo julgador no que se refere ao “quantum” indenizatório, completando desta forma com o entendimento jurisprudencial de nossos tribunais. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o Assédio Moral no Ambiente de Trabalho. 13 Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: 1. No ordenamento jurídico brasileiro existe legislação específica a respeito do Assédio Moral no Ambiente de Trabalho. 2. As conseqüências jurídicas do Assédio Moral no Ambiente de Trabalho podem ir desde uma simples indenização ao causador do Assédio como também, a implementação de legislação específica a respeito. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação8 foi utilizado o Método Indutivo9, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano10, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente11, da Categoria12, do Conceito Operacional13 e da Pesquisa Bibliográfica14. 8 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83. 9 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86. 10 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26. 11 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54. 12 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25. 13 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37. 14 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209. CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS DO DIREITO DO TRABALHO 1.1 EVOLUÇÃO MUNDIAL DO TRABALHO HUMANO Nesta seção, destacam-se aspectos pertinentes à evolução histórica do Direito do Trabalho, com relação ao seu contexto histórico no mundo e as conseqüências que advieram para o Brasil, identificando os princípios que norteiam o Direito do Trabalho e suas características. Ao longo da história e da evolução humana o homem sempre trabalhou, visando a sua sobrevivência. O homem tem um apego instintivo à vida, por isso luta por ela.15 A forma mais primitiva de trabalho foi a escravidão, período da historia em queo escravo não era visto como um ser humano, mas como um objeto, sem qualquer direito. Neste período sequer se cogitava falar em mecanismos de proteção ao trabalhador. Ferreira afirma que: Esse juízo de valor era tão impregnado nas civilizações antigas que ao escravo não era concedida nem mesmo personalidade jurídica. Ele não era visto como um ser humano, mas como objeto de propriedade do cidadão.16 Neste período os escravos eram obrigados a executar serviços manuais exaustivos, especialmente, porque este gênero de trabalho era considerado impróprio e até desonroso para os homens válidos e livres. 15 GIRARDI, Leopoldo Justino.O Trabalho no Direito. Coli Gráfica e Editora Ltda, 2005.p.21 16 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas Relações de Trabalho. 2ª ed. CAMPINAS; Russel editores, 2010.p.21 15 Neste sentido Martins, complementa: O escravo, portanto, não era considerado sujeito de direito, pois era propriedade do dominus, neste período, constatamos que trabalho do escravo continuava no tempo, até de modo indefinido, ou mais precisamente até o momento em que o escravo vivesse ou deixasse de ter essa condição. Entretanto não tinham direito, apenas o de trabalhar.17 Já a servidão da gleba foi o regime de trabalho nos feudos. Os servos não eram livres, mas diferenciavam dos escravos por não serem simples objetos de direito. Contudo, aproximavam-se muito da condição de escravos, ao serem objeto de cessão.18 A desvalorização desumana do trabalho somente passou a perder seu significado, enraizado durante séculos, a partir do século XVIII, quando pelos acontecimentos deflagrados pela Revolução Francesa e Revolução Industrial que romperam com as antigas tradições e concepções, criando um fundamento para a constituição de uma nova sociedade ajustada a valores que não se confrontariam como a liberdade, igualdade e fraternidade contra capital, produção e lucro.19 Os novos ideais difundidos por pensadores iluministas fundaram a base teórica para uma transformação radical que culminou na Revolução Francesa, em 1789, e na Revolução Industrial.20 A partir da Revolução francesa (1789), com a afirmação do lema revolucionário Igualdade, liberdade e Fraternidade, o trabalho afirmou-se com uma instituição própria de pessoas livres, consagrando o trabalho com a atividade livremente prestada.21 Com a Revolução Industrial, o sistema de produção manufatureira foi profundamente modificado, eis que, a máquina a vapor potencializou o esforço humano, introduzindo a linha e montagem e a produção em 17 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22. Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 38 18 CAMINO, Domingos Sávio. Curso Individual do trabalho. 2ed. Porto Alegre. Síntese, 1999.p.26-27. 19 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p.24. 20 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p.24 21 DORNELES, Leandro do Amaral de. A Transformação do direito do Trabalho: da lógica da preservação à lógica da flexibilização. São Paulo:LTr, 2002. p.20 16 larga escala, e os frutos da produção passara a ser divididos entre os proprietários das máquinas e o operário que as operava, ou seja, é a divisão entre o capital e o trabalho.22 Assim, a Revolução Industrial encerrou a transição entre o feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Neste período também surgiu primitivamente o Direito do Trabalho, todavia, o trabalhador prestava serviços em condições insalubres, sujeitos a incêndios, explosões, intoxicação por gases, inundações, desmoronamento, prestando serviço por baixos salários e sujeito a várias horas de trabalho com pouquíssimas garantias quanto à manutenção do Contrato de Trabalho e, principalmente, o seu cumprimento.23 Neste contexto Nascimento assevera: O direito do trabalho surgiu como conseqüência da questão social que foi precedida da Revolução industrial do século XVIII e da reação humanista que se propôs a garantir ou preservar a dignidade do ser humano ocupado no trabalho das indústrias, que, com o desenvolvimento da ciência, deram nova fisionomia ao processo de produção de bens na Europa e em outros continentes, A necessidade de dotar a ordem jurídica de uma disciplina para reger as relações individuais e coletivas de trabalho cresceu no envolvimento das “coisas novas” e das “idéias novas”, (...).24 O autor,ainda, afirma: A expressão questão social não havia sido formulada antes do século XIX, quando os efeitos do capitalismo e as condições da infra- estrutura social se fizerem sentir com muita intensidade, acentuando- se um amplo empobrecimento dos trabalhadores, inclusive, dos artesões, pela insuficiência competitiva em relação á indústria que florescia.Também a agricultura sofreu o impacto da época, com os novos métodos de produção adotados em diversos países e com as oscilações de preço subseqüentes. A família viu se atingida pela mobilização da mão-de-obra feminina e dos pelas fabricas.Os desníveis entre classes sociais fizeram-se sentir de tal modo que o 22 MARTINS FILHO, Ives Ganda da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. 13.ed.atual e ampl. São Paulo, 2005.p.4. 23 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22. Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 39 24 NASCIMENTO. Amauri mascaro. Curso de direito do trabalho. 20. ed. ver.e atual. São Paulo:Saraiva, 2005.p.4 17 pensamento humano não relutou em afirmar a existência de uma séria perturbação ou problema social.25 Com a máquina aumentava-se a produção e diminua-se o braço operário, com desemprego e exploração da mão de obra feminina e infantil.26 Para Nascimento essa falta de garantia de condições poderia ocasionar riscos aos trabalhadores: A precariedade das condições de trabalho durante o desenvolvimento do processo industrial, sem revelar totalmente os riscos que poderia oferecer a saúde e integridade física do trabalhador, assumiu,às vezes, aspecto grave.27 Neste contexto a lição de Martins quando aborda a Lei Peel, promulgada em 1802, com objetivo de garantir direitos dos trabalhadores: A Lei Peel, de 1802, na Inglaterra, pretendeu dar amparo aos trabalhadores, disciplinado os trabalhos dos aprendizes paroquianos nos moinhos e que eram entregues aos donos de fábrica. A jornada de trabalho foi limitada em 12 horas, excluindo-se os intervalos para refeições.o trabalho não poderia iniciar-se antes da 6 horas e terminar após as 21 horas. Deveriam ser observadas normas relativas à educação e higiene, Em 1819, foi aprovada a lei tornando ilegal o emprego de menores de 09 anos. O horário de trabalho dos menores de 16 era de 12 horas diárias, nas prensas de algodão.28 Nascimento também aborda o tema: Com essas lutas sociais, agitações, paradas de trabalho, prisões, mortes, desordens de toda ordem, voltou-se ao Estado para a nova realidade social. Nessa Cresciam as novas ideologias de protesto e de contestação através do “Manifesto Comunista” (1848). Desde aí, com sentido revolucionário ou simplesmente reformista, não parou mais a reivindicação dos trabalhadores por melhores condições de vida.29 25 NASCIMENTO. Amauri mascaro. Curso de direito do trabalho.p.9 26 MORAES FILHO,Evaristo de; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 9. Ed. São Paulo: LTr, 2003.p. 67. 27 NASCIMENTO. Amauri mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 20. 28 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p. 41 29 NASCIMENTO. Amauri mascaro.Curso de direito do trabalho. p. 15. 18 Diante destes acontecimentos a intervenção estatal nas Relações de Trabalho foi inevitável para criar mecanismos legais a fim de garantir o bem estar social e melhorar as condições de trabalho. Martins “apud” Galart Folch relata: O trabalhador passa a ser protegido juridicamente e economicamente. E como afirma Galart Folch: deve assegurar uma superioridade jurídica ao empregado em função de se sua inferioridade econômica. A Lei passa estabelecer normas mínimas sobre condições de trabalho, que devem ser respeitadas pelo empregador.30 Neste sentido o Estado, consciente de que não pode deixar o mundo do trabalho à mercê dos interesses dos donos do capital, intervém no mercado de trabalho e impõe limites à liberdade do empregador.31 No novo modo capitalista de organizar a sociedade, era necessário aliar o capital à força de trabalho, eis que o trabalho adquiriu um sentido muito maior que apenas garantir a sobrevivência do trabalhador e sua família, transformou-se em necessidade social, em um direito e, também, um dever, diante do papel que passou a desempenhar na sociedade.32 Com o fim da Primeira Grande guerra (1919), ganha o Direito do Trabalho a sua posição definitiva e preponderante nos quadros internacionais e nacionais. Cria-se no Tratado de Versalhes a Organização internacional do Trabalho, a função precípua de estudar e promover a melhoria da condição dos trabalhadores do Mundo.33 Outro marco importante para história do Direito do Trabalho a nível internacional foi a promulgação da Constituição do México (1917), que em sua disposições, tratava de vários aspectos trabalhistas.34 30 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p. 40 31 GIRARDI, Leopoldo Justino.O Trabalho no Direito.p.24 32 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p.25 33 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES ANTONIO Carlos flores de. Introdução ao Direito do Trabalho. p. 74. 34 NASCIMENTO, Amauri mascaro. Curso de direito do trabalho. p.31/34. 19 Tendo em vista, a nova visão da política do trabalho houve a necessidade de elaboração de legislação trabalhista. Nesse sentido, após a assinatura do Tratado de Versalhes, a Constituição de Weimar, de 11 de agosto de 1919, foi a primeira a inserir um capítulo especial sobre a ordem econômica e social, e posteriormente, as constituições foram incorporando a nova ordem social em todo o mundo, onde as legislações começaram a disciplinar medidas protetivas ao trabalhador, visando seu bem-estar, saúde física e mental.35 A própria Igreja demonstrou séria preocupação nessa incansável guerra entre o capital e o trabalho.36 Sendo que a própria Igreja católica, a partir da Encíclica Rerum Novarum (1981) do Papa Leão XIII, vem periodicamente demonstrando sua preocupação com o problema trabalhista, sendo os mais importantes documentos além de 1891, as Encíclicas Quadragesimo Anno (1931 de pio XI, Mater et Magistra (1961) de João XXII,octagesima Adveniens (1971) de Paulo VI, Laborem Exercens (1981) e Centesimus Annus (1991) de João Paulo II.37 Ferreira complementa que a Rerum Novarum proclamava a união das classes capitalista e trabalhadora, pois, nas palavras de Leão XIII, citadas por Segadas Viana, havia: Imperiosa necessidade de uma da outra; não pode haver capital sem trabalho nem trabalho sem capital. A concorrência traz consigo a orem e beleza; ao contrário, de um conflito perpétuo, não podem resultar senão confusão e lutas selvagens.38 Apesar de as relações humanas, de um modo geral, sofrerem com as crises e valores que assola todo o globo, o trabalho continua sendo um direito-dever social.39 35 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p.26 36 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho.p.25 37 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Curso de legislação social, 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 21. 38 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho p.25 39 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho p.26 20 1.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO BRASIL Gomes e Gottschalk traçam a conceituação histórica do Direito do Trabalho em quatro momentos importantes: 1ª fase, da Proclamação da independência (1822) até a Abolição da Escravatura (1888); 2ª fase, da abolição da Escravatura até a Revolução de 1930 e 3ª fase, da Revolução de 1930, até nossos dias.40 No Brasil, desde o descobrimento (1500), até a abolição da escravatura (1888), o regime de trabalho adotado foi basicamente o escravo, no qual índios e negros eram vistos como bens e não seres humanos com personalidade jurídica. A Constituição do Império em 1824 abordava a liberdade de trabalho, estabelecendo em seu art. 179 a liberdade de qualquer gênero de Trabalho, desde que não afronta-se com costumes públicos, a segurança e a saúde dos cidadãos, assim como aboliu as corporações de ofício.41 Sobre a constituição liberal de 25 de março de 1824, Moraes Filho destaca: Procurou ela absorver os princípios da Revolução Francesa, com longa declaração de direitos individuais (art. 179).Em suas alíneas 24,25 e 26, proclama a liberdade de ofício e assegura o privilégio de invenção. Trabalho livre continua sendo regulado pelas disposições 29 a 35 do livro IV das Ordenações do reino.42 Apesar das disposições contidas na Constituição do Império em 1824, não se falava legalmente em abolição da escravidão, de modo que o Trabalho continuou sendo executado pelos escravos que, ainda, mantinham o mesmo estigma de coisa, propriedade e não de seres humanos.43 40 GOMES, Orlando: Gottschlk, Élson. Curso de direito do trabalho.13 ed. Rio de janeiro; Forense, 1994, p.7. 41 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 65 a 66. 42 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES Introdução ao Direito do Trabalho. p 75 43 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p.27 21 A partir da Lei Áurea assinada em 1888, que: “o trabalho passou a ser exercido como atividade digna de ser exercida por qualquer humano, com abolição a Escravatura”.44 Ao mesmo tempo em que o Brasil desfrutava o marco histórico, ou seja, abolição da escravatura, a Europa eclodia com os ideais liberais e o individualismo norte americano, neste contexto que surge a Constituição de 1891. Liberal e individualista vislumbrava um Estado mínimo, não fazendo menção a quaisquer garantias ao trabalho humano.45 O movimento de outubro de 1930 foi base para a era da chamada questão social.46 Para Delgado a Revolução de 1930 foi marcada pelo inicio da oficialização do direito, na qual firmou: “a estrutura jurídica e institucional de um novo modelo trabalhista até o final da ditadura getulhista (1945)”.47 Neste contexto ressalta Martins: Por uma intensa atividade administrativa e legislativa do estado, em consonância com o novo padrão de gestão sócio-político que se instaura no país com a derrocada, em 1930, da hegemonia exclusivamente do segmento agro-exportador de café. O Estado ampliou, também, á área da chamada questão social, implementando diversificadas ações combinadas. Getúlio era rigoroso e reprimia qualquer manifestação operária e, para contrabalançar, instaurou um novo modelo de organização do sistema jus trabalhista, através de minuciosa legislação.48 Sobre a Revolução de 1930, SAAD, complementa: Com a revolução de 1930, as leis de proteção ao trabalho se amiudaram, muitas vieram antes que as classes interessadas reivindicassem as vantagens nelasinscritas. (...) temos que reconhecer que o nosso legislador, a o antecipar-se a tais crises, se assemelha a um inteligente engenheiro social que abre sulcos no 44 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p.27 45 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p.27 46 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Ltr, 2003. p. 110. 47 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho.p.56 48 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, p.43. 22 terreno social para que o processo evolutivo das instituições tenha surgimento de modo mais suave, sem choques e sobressaltos.49 Com a Revolução de 1930 conferiu maior ímpeto à questão social do Trabalho no Brasil.50 O Legislador da Constituição de 1934 se preocupou com a questão social no Brasil numa abordagem social-democrata, Ferreira assevera, que: Alem de limitar o direito de o direito de propriedade, concedeu uma serie de direitos e proteções aos trabalhadores, bem como o direito de organização e representação sindical. O direito à subsistência está inserto no capitulo Dos direitos e garantias individuais.51 Martins afirma que constituição de 1937, foi à primeira constituição a tratar especificamente do Direito do Trabalho, na qual foi dada maior liberdade e autonomia sindical, complementando que: A Constituição de 1937 institui os sindicatos únicos, impostos por Lei vinculada ao estado (...) podendo haver intervenção estatal direto em suas atribuições. Foi criado o imposto sindical, como uma forma de submissão das entidades de classe ao estado, pois este participava do produto de arrecadação.52 Com o golpe de Estado, foi outorgada a Carta de 1937, a qual estabeleceu um Estado interventor.53 Nesta época da história já haviam surgido diversos diplomas legais trabalhistas, no entanto, de forma desordenada na medida em que algumas profissões eram beneficiadas com leis especificas e outras não tinham qualquer amparo legal, então se verificou a necessidade de uniformização das leis laborativas. 49 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das leis do trabalho; comentada. 35 ed. São Paulo: ltR, 2002.P. 20. 50 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 28. 51 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 28. 52 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, p.44. 53 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 28. 23 Sobre Consolidação das leis do trabalho, Girardi discorre: Getúlio Vargas, robustecido no poder pelo Estado Novo, publicou a Consolidação das Leis do Trabalho no dia 01.05.1943, através do Decreto Lei 5.452. Na consolidação estão os princípios gerais do direito do trabalho, as normas que tratam da tutela do trabalho, as normas de nacionalização, as regras do contrato individual do trabalho, as normas que regem as convenções coletivas de trabalho, bem como as leis que regem toda a organização sindical, a fiscalização do cumprimento das normas, a organização da Justiça do trabalho, assim como as regras processuais das ações trabalhistas.54 Neste contexto, a consolidação não veio como um código, pois, teve como função reunir as leis já existentes e não a criação de leis novas55 Em 1967, a Constituição, fruto do golpe militar de 1964, estabelecia a valorização do trabalho humano como condição da dignidade humana, consoante um dos dispositivos que proibia a diferença salarial e a estipulação de critérios de admissão conforme sexo, cor e estado civil.56 Mas foi a Constituição de 1.988 que realmente incorporou a questão social no ordenamento jurídico pátrio. Ferreira aborda o tema: Com a Constituição de 1988, a valorização do trabalho humano bem como o valor social do trabalho passou a ser pré-requisitos para o crescimento econômico, significando que cabe ao estado prover os meios de garanti-los, e a sociedade, promovê-los. Eros Grau, mantendo o mesmo raciocínio, ensina que a valorização do trabalho humano e o valor social do trabalho “portam em si evidentes potencialidades transformadoras”, e na medida em que interagem com os demais princípios constitucionais, “expressam prevalência dos valores sociais do trabalho na conformação da ordem econômica”. 57 54 GIRARDI, Leopoldo Justino.O Trabalho no Direito.p.41 55 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 75/76. 56 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 29. 57 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 29. 24 Nascimento discorre sobre os direitos trabalhistas garantidos pela Carta Magna de 1988: Modificações expressivas foram, entre outras, a redução da jornada de trabalho de 48 para 44 horas, a generalização do fundo de garantia com a conseqüente supressão da estabilidade decenal, a criação de uma indenização prevista para os casos de dispensa arbitrária, a elevação do adicional de horas extras para o mínimo de 50%, o aumento em 1/3 da remuneração das férias, a ampliação da licença da gestante para 120 dias, a criação da licença-paternidade, de 5 dias, a elevação da idade mínima de admissão no emprego para 14 anos, a descaracterização, como forma destinada a incentivar a iniciativa patronal, da natureza salarial da participação nos lucros, a instituição da figura do representante dos trabalhadores nas empresas com mais de 200 empregados, a reformulação da obrigatoriedade de creches e pré-escolas e a inclusão,a gora em nível constitucional, de três estabilidades especiais, a do dirigente sindical, a do dirigente das Comissões internas de Prevenção de Acidentes e a das empregadas gestantes, Regulamentando a Constituição Federal de 1.988, o Congresso nacional aprovou a Lei de Greve (Lei n. 7.783, de 28-6-1989); promulgou, também, lei sobre política salarial (Lei 7.788, de 3-7-1989), a lei sobre salário mínimo(Lei n. 7.789, de 3.7.19890 e a lei sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (Lei n. 8.036, de 11-5-1990).58 Isto implica em dizer que a ordem constitucional inaugurada pela Constituição de 1988 dá prioridade à valorização do trabalho humano sobre os demais valores da economia.59 Neste sentido, destaca-se a chamada 4ª Revolução industrial baseada na informação e no conhecimento, sobre o tema arrazoa Ferreira: Tal realidade, marcada pela dinamização dos mercados internacionais, cada vez mais voláteis, especulativos e instáveis, acabou gerando uma supervalorização e conseqüente intensificação da técnica, da competitividade e da flexibilidade, detrimento de outros valores de cunho humanístico como o primado do sobre o produto de seu trabalho, ou mesmo a dignidade da pessoa humana. Aliás, tal inversão de valores é inerente ao próprio sistema capitalista de produção, o qual atribui maior valor ao lucro gerado pelo trabalho humano do que ao trabalhador que deu origem à produção.60 Deste modo, atualmente dentro deste contexto globalizado os trabalhadores vivem a constante opressão da ameaça do desemprego, bem como 58 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 75/76. 59 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 29. 60 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 32 25 obrigação de estar preparados para uma competição desumana. Tais fatores só tentem a gerar empregados estressados, com a saúde física e psicológica debilitada e se tornarem profissionais improdutivos. Este é o sistemaperfeito para o surgimento do Assédio Moral. 1.3 PRINCIPIOS DO DIREITO DO TRABALHO 1.3.1 Princípios atinentes ao Direto do Trabalho. Princípio é o começo de qualquer ciência, ou seja, é a pedra angular de qualquer sistema jurídico. Mello esclarece que: Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico61 No mesmo sentido Reale ensina: Princípios são verdadeiros fundamentos de um sistema de conhecimento, como tais admitidos, por serem evidentes ou por terem sido comprovados, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e práxis.62 Entende-se que os Princípios são preposições básicas fundamentais de uma ciência que servirão de alicerce para as estruturações subseqüentes. Neste sentido é a lição de Rodriguez: (...) linhas diretrizes que informa algumas normas e inspiram dieta ou indiretamente uma série de soluções, pelo que, podem servir para 61 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 8 ed. São Paulo; Malheiros, 1997, p. 573. 62 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 4 ed. São Paulo, 1997, p. 299. 26 promover e ambas a aprovação de normas, orientara interpretação das existentes e resolver os casos não previstos.63 Como visto são diversos os princípios aplicáveis as relações de trabalho, todavia, neste se apontam, apenas alguns deles, como forma de enriquecer o presente trabalho. 1.3.2 Principio da dignidade da pessoa humana Um dos basilares princípios constitucionais gerais que protegem as relações de trabalho é à dignidade da pessoa humana. O respeito à dignidade da pessoa humana, tornou-se a pedra angular, após o término da Segunda Guerra, em reação as atrocidade do nazifacismo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações Unidas em 1948, enunciava em seu artigo 1º que “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.64 Neste sentido é o ensinamento de Araújo: È importante para o Estado que o homem tenha trabalho e que realize com respeito a sua dignidade e cidadania. Outrossim, o resultado dessa atividade possibilita o bem-estar, a segurança e a sobrevivência do trabalhador e daqueles que dele diretamente dependem. Atende, ainda, ao progresso econômico.65 Neste contexto é de importância o ensinamento de Sarlet, que afirma: Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, 63 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. Tradução de Wagner D. Giglio. 5 ed. São Paulo: LTr, 1997.p.16. 64 MORAES, Maria Cecília Bodin de. O conceito da dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. Constituição, Direitos Fundamentais e Direitos Privado. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003. p. 114 e 115. 65 ARAÚJO. Eneida melo Correia de . As Relações de trabalho: Uma Perspectiva. São Paulo; Ltr, 2003. P. 36. 27 além de proporcionar e promover sua participação ativa e co- responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.66 Nas palavras de Ribas o Princípio da dignidade da pessoa humana é um verdadeiro baluarte para direcionar os demais princípios e normas constitucionais e infraconstitucionais (...). “Portanto, não pode ser desconsiderado nas relações de trabalho também.”67 Complementando Hádassa Ferreira, “a dignidade da pessoa do trabalhador passa a constituir uma das finalidades da ordem econômica, devendo ser princípio informador da própria organização do trabalho”.68 Outro Princípio que está fortemente ligado com a dignidade e que tem como escopo a proteção do trabalhador é o da não discriminação. A Declaração da OIT sobre os princípios e direitos fundamentais no trabalho, tem como objetivo, dentre outros, eliminar a discriminação com relação ao trabalhador. Declara que todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as convenções aludidas, têm um compromisso derivado do fato de pertencer à Organização de respeitar, promover e tornar realidade, de boa fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é: a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; c) a abolição efetiva do trabalho infantil; e d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. 69 A cerca do tema Sussekind ensina: O princípio da não discriminação, que proíbe diferença de critério de admissão, de exercício de funções e salário por motivo de sexo, cor ou estado civil (art. 7°, XXX), ou de critérios de admissão e de salários em razão de deficiência física (art. XXXI) e, bem assim, que 66 SARLET, Ingo W. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de Federal de 1988. . Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2003.p.62 67 RIBAS, Geórgia. Os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade e o princípio da não discriminação na relação de emprego. Revista LTr.;Legislação do Trabalho, ano 70, n/09, setembro de 2006.p 68 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 93 69 http://www.oitbrasil.org.br/normas.php. acesso 17/04/2.010 28 se distinga, na aplicação das normas gerais, entre os respectivos profissionais (art. XXXII). Este princípio, consagrado pelo Direito Internacional, deve, entretanto, ser aplicado tendo em conta que não fere a isonomia tratarem-se desigualmente situações desiguais.70 Assim o combate à discriminação contra o trabalhador decorre do Princípio constitucional da isonomia, ou seja, aquele que assegura a igualdade entre as pessoas independentemente das suas condições ou características, com objetivo assegurar tratamento digno. 1.3.3 Principio da proteção Conforme ensinamentos de Rodriguez, o princípio da proteção engloba outros princípios que favorecem o trabalhador, sendo eles in dúbio pro operário, da norma mais favorável e da condição mais benéfica 71 Aplicação do Princípio in dúbio pro operário é simples, ou seja, havendo na lei duas ou mais interpretações possíveis, prevalecerá a mais benéfica ao trabalhador. Neste sentido o Principio da Proteção é aquele que utiliza da regra que mais favorecer o trabalhador na relação empregatícia 72 Apesar do Princípio in dúbio pro operário dar ao aplicador da Lei, na dúvida quanto à interpretação da norma, a escolha entre as interpretações legais viáveis, sendo que a norma a ser aplicada deverá ser a mais benéfica ao trabalhador, desde que não afronte a vontade do legislador, ou versar sobre matéria probatória73 Sussekind perfilha o mesmo entendimento: O princípio in dúbio pro operário, que aconselha o intérprete a escolher, entre duas ou mais interpretações viáveis, a mais favorável 70 SUSSEKIND, Arnaldo.Curso de direito do trabalho. 2.ed.atual. Rio de Janeiro, 2004. p. 155. 71 RODRIGUEZ, AMÉRICO PLÁ. Princípios de Direito do Trabalho. p.28-29. 72 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p. 61 73 LIMA, Francisco Meton Marques de. Princípios de Direito do Trabalho na lei e na jurisprudência. 2ª ed., São Paulo: LTr, 1997.p.81 29 ao trabalhador, desde que não afronte a nítida manifestação do legislador, nem se trate probatória.74 Já o princípio da norma mais favorável está esboçada no art. 468, caput, da CLT, que assim dispõe: Art. 468 Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e, ainda, assim, desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Nascimento esclarece o significado do princípio da norma mais favorável: Havendo duas ou mais normas jurídicas trabalhistas sobre a mesma matéria, será hierarquicamente superior, e, portanto aplicável ao caso concreto, a que oferecer maiores vantagens ao trabalhador, dando-lhe condições mais favoráveis, salvo no caso de leis proibitivas.75 Assim, entende-se que havendo varias normas jurídicas aplicáveis a uma mesma situação, prefere-se aquela mais benéfica ao empregado.76 Neste sentido enquanto no princípio in dubio pro operario há apenas uma lei que se sujeita a mais de uma interpretação, pelo que prevalecerá a interpretação mais favorável; já no princípio da norma mais favorável há duas ou mais leis sobre a mesma matéria, prevalecendo, então, a lei mais favorável. O princípio da norma mais benéfica prevê o respeito aos direitos adquiridos, segundo a lição de Martins: A condição mais benéfica ao trabalhador dever ser entendida como o fato de que vantagens já conquistadas, que são mais benéficas ao trabalhador, não podem ser modificadas para pior. È a aplicação da regra do direito adquirido (art. 5°, XXXVI, da CF), do fato de o trabalhador já ter conquistado certo direito, que não pode ser modificado, no sentido de se outorgar uma condição desfavorável ao 74 SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de direito do trabalho. 2.ed.atual. Rio de Janeiro, 2004. P. 113. 75 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho.p. 291 76 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de Direito do trabalho., p. 65. 30 obreiro. Ao menor aprendiz é garantido o salário mínimo horário, salvo condição mais favorável (§ 2° do art. 428 da CLT).77 Com este princípio percebe-se a existência de uma situação concreta, anteriormente reconhecida, e que determina que ela deva ser respeitada, na medida em que esta seja mais favorável ao trabalhador que a nova norma aplicável.78 1.3.4 Principio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas Com referência ao Princípio da Indisponibilidade dos direitos trabalhistas Delgado ensina: Para a ordem justrabalhista não serão válidas quer a renúncia, quer a transação que importe objetivamente em prejuízo do trabalhador (art. 468, CLT). Por essa razão, em face da amplitude do princípio por além do ato meramente unilateral, ele melhor estaria enunciado através da abrangente expressão princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas.79 Este princípio assegura a irredutibilidade salarial, revelando-se como espécie do gênero da inalterabilidade contratual lesiva. No mesmo sentido Sussekind assevera: Daí decorre o princípio da irrenunciabilidade (indisponibilidade ou inderrogabilidade), consagrado no Brasil pelo art. 9° da CLT, que é intenso na formação e no curso da relação de emprego, e que se não confunde com a transação, quando há res dúbia ou res litigiosa no momento ou após a cessação do contrato de trabalho. A partir dos anos 80, entretanto, como vimos na Primeira Parte deste livro (Cap.II, seção X), muitos países flexibilizaram a a aplicação das normas legais trabalhistas, e abriram fendas no princípio da irrenunciabilidade. Na maior parte das vezes, como no Brasil, além da adoção de disposições legais flexíveis, permite a alteração das condições de trabalho restritas a determinadas hipóteses, quase sempre mediante a participação de sindicatos representativos dos trabalhadores.80 77 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p. 97 78 RODRIGUEZ, AMÉRICO PLÁ. Princípios de Direito do Trabalho. p.60. 79 DELGADO, Mauricio Godinho. introdução ao direito do trabalho.p.157. 80 SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de direito do trabalho. p. 112. 31 Apreende-se que o objetivo em si da proteção oferecida por tal princípio é garantir ao trabalhador perceber a contraprestação a que faz jus por seu trabalho, de maneira estável, não sujeita as oscilações da economia e a instabilidade do mercado e, por extensão, assegurar a satisfação de um conjunto, ainda que eventualmente mínimo, de suas necessidades, entre as quais a alimentação. 1.3.5 Principio da primazia da realidade Para Sussekind: “o principio da primazia da realidade, em razão do qual a relação objetiva evidenciada pelos fatos define a verdadeira relação jurídica estipulada pelos contratantes, ainda, que sob capa simulada, não correspondente à realidade”.81 Completa-se que aplicação no Direito do Trabalho vem demonstrar a maior valoração que possui o fato real do que aquilo que consta em documentos formais. No mesmo sentido Saad, ensina: No contrato de trabalho, se houver discrepância entre seu conteúdo e o que realmente faz o trabalhador, há que se levar em conta o que este realiza na prática. Em nenhuma hipótese, o que se escreveu ou se estipulou num contrato há de sobrepujar as condições reais em que é prestado o serviço. È claro que as considerações têm subjacente a certeza de que o contrato-realidade é mais vantajoso ao trabalhador do que aquele formalizado num documento. Pode ocorrer o contrário, hipótese em que há de prevalecer o contrato escrito.82 Deste modo o Princípio da Realidade sobre a forma constitui poderoso instrumento para a pesquisa e encontro da verdade real em uma situação em litígio.83 81 SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de direito do trabalho. p. 129 82 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de Direito do trabalho., p. 68. 83 DELGADO, Mauricio Godinho. Introdução ao direito do trabalho.p.156. 32 1.3.6 Principio da continuidade da relação de Emprego O princípio da continuidade da relação de emprego está delineado nos artigos 10 e 448 da CLT: “Art. 10 da CLT – Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados.” “Art. 448 da CLT – A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.” A acerca do tema é o ensinamento de Delgado: “informa tal princípio que é de interesse do Direito do Trabalho a permanência do vinculo empregatício, com a integração do trabalhador na estrutura e dinâmica empresariais”.84 Este princípio é francamente favorável ao trabalhador, na medida em que com o passar do tempo incorporam-se ao seu patrimônio jurídico vantagens alcançadas pelas negociações coletivas e pelas inovações legislativas e, principalmente, aquelas de caráter pessoal, como por exemplo, promoções e adicionais que, por sua habitualidade, passam a integrar o contrato de trabalho. Além de vantagens diretas, que possuem uma natureza eminentemente econômica como as supracitadas, não resta dúvida que um vínculo de trabalho duradouro testemunha progressos pessoais e familiares do trabalhador, já que a estabilidade no emprego oferece uma base mais sólida, inclusive e principalmente no aspecto social, permitindo que o trabalhadordesfrute de bem estar físico, mental e social. 84 DELGADO, Mauricio Godinho. introdução ao direito do trabalho.p.155 33 1.4 CONTRATO DE TRABALHO O artigo 442 da CLT define o conceito de Contrato de Trabalho: "contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego".85 Moraes Filho diz que o Contrato de Trabalho “é um ato jurídico bilateral, que depende da livre manifestação da vontade de ambas as partes, para que sua celebração seja válida e possa surtir todos os efeitos práticos garantidos pela ordem jurídica”.86 Magano ensina que Contrato de Trabalho é: “negocio jurídico pelo qual uma pessoa física se obriga, mediante remuneração a prestar serviços não eventuais, a outra pessoa ou entidade, sob a direção de qualquer das ultimas”.87 Nascimento define a relação de emprego como “relação jurídica de natureza contratual tendo como sujeitos o empregado e o empregador e como objeto o trabalhado subordinado, continuado e assalariado”.88 Assim, o contrato de trabalho é o negocio jurídico entre uma pessoa física (empregado) e uma pessoa física ou jurídica (empregador) sobre condições de trabalho. O objeto do Contrato de Trabalho é a prestação de serviço subordinado e não eventual do empregado ao empregador, mediante o pagamento de salário. Neste sentido, o Contrato de Trabalho deve ter objeto lícito e moral.89 Sob este aspecto leciona Carrion: Os contratos exigem para sua validade, além da capacidade do agente e forma especial, se previsto, que seu objeto não seja nem 85 Decreto Lei Nº 5.452, de 1º de Maio de 1943. 86 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES Introdução ao Direito do Trabalho. p. 242. 87 MAGANO, Octavio Bueno. Manual de direito do trabalho; parte geral. 4ed. São Paulo; LTr, 1991. p. 07. 88 NASCIMENTO, AMAURI Mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 514. 89 NASCIMENTO, AMAURI Mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 515. 34 ilícito, nem impossível. A doutrina e a jurisprudência assim também o entendem, e deixam de reconhecer quaisquer direitos ao empregado; (..) é o caso da cozinheira de ca de lenocínio, (...) o arrecadador de jogo de bicho com referência a quem o banca etc.90 Com referência a natureza jurídica do Contrato de Trabalho existem duas teorias: A Contratualista, ou seja, é a teoria que considera a relação entre empregado e empregador é um Contrato; o seu fundamento reside numa tese; a vontade das partes é a causa insubstituível e única que pode constituir o vínculo jurídico.91 E a anticontratualista, ao contrário, sustenta que a empresa é uma instituição, na qual há uma situação estatutária e não contratual; o estatuto prevê as condições de trabalho, que são prestadas sob a autoridade do empregador, que é detentor do poder disciplinar. O entendimento de Delgado é de que a relação entre empregado e empregador é de natureza contratual, pois depende única e exclusivamente da vontade das partes para a sua formação e aperfeiçoamento, existindo, então, um acordo de vontades entre as partes.92 Nascimento observa: A relação a jurisprudência pátria de emprego é uma relação social que se transforma em relação jurídica porque disciplinada pelo direito. À vontade, manifestada de modo escrito, verbal ou meramente tácito, está sempre na base de toda relação jurídica entre empregado e empregador.93 Delgado critica essa teoria ao afirmar: Já o institucionalismo e a teoria da relação de trabalho apreendem a escassa liberdade e vontade obreiras para concluir que esses sois elementos não são relevantes à configuração da relação empregatícia – uma concepção de gestão trabalhista sumariamente 90 CARRION, Valetim. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31. Ed. Atual. São Paulo: saraiva, 2006. p.284. 91 NASCIMENTO, AMAURI Mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 515. 92 DELGADO, Mauricio Godinho. introdução ao direito do trabalho.p. 238. 93 NASCIMENTO, AMAURI Mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 515. 35 autoritária, em que a liberdade e a vontade dos trabalhadores, de fato, não haveriam de cumprir qualquer papel lícito ou ponderável.94 Na teoria anticontratualismo, há os que sustentam que a empresa é uma instituição; em decorrência não poderia existir uma relação contratualista e sim estatutária entre as partes do referido pacto, em que o estatuto prevê as condições do trabalho, mediante o poder disciplinar do empregador. 95 1.4.1 Conceito de Empregado O conceito de empregado está disposto no art. 3° da CLT: “considera-se empregado toda a pessoa física que prestar serviço de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário” 96 Gomes e Gottschalk definem os requisitos indispensáveis para caracterização de empregado: A Consolidação das Leis do trabalho define-o como toda pessoa física que prestar serviço de natureza não eventual a empregador, sob a sua dependência deste e mediante salário. A pessoa natural pode ser empregada. Uma pessoa jurídica não pode ter essa qualidade. (..) As pessoas jurídica, dada a sua natureza, são incapazes de prestar um serviço. Como observa Passarelli, inábeis para produzir próprio sob dependência de outra pessoa, as pessoas jurídicas são absolutamente privadas da capacidade jurídica de trabalho, e por isso não podem assumir a posição de devedoras de trabalho subordinado. Para alguém assuma a condição de empregado, não há restrições decorrentes de sexo, de cor, do estado civil, da idade,a graduação ou da categoria.97 Assim,o empregado deve ser pessoa física ou pessoa natural, titular de direitos e deveres. Há, portanto, características indispensáveis para identificar a figura do empregado, quais sejam: prestação de serviços realizados por pessoa física; não eventual; sob dependência e mediante salário. 94 DELGADO, Mauricio Godinho. introdução ao direito do trabalho.p. 245. 95 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho.p. 549. 96 Decreto Lei Nº 5452, de 1º de Maio de 1943 97 GOMES, Orlando; Gottschalk, Èlson. p.69 36 Outro requisito indispensável é a onerosidade, sobre o tema Nascimento discorre: Assim, o empregado que originariamente teria como seus frutos do seu trabalho, pelo contrato de trabalho transfere essa titularidade ao destinatário, ou empregador, recebendo uma retribuição, daí o caráter oneroso do trabalho regulamentado pelas normas jurídicas trabalhistas. De um lado, a denominada alienação ou trabalho por conta alheia, de outro lado, a remuneração ou salário pago porque há essa alienação.98 Desta Forma, entende-se que o requisito da onerosidade nada mais é que o direito de receber pela execução do trabalho. 1.4.2 Conceito Empregador O Artigo 2° Consolidação das Leis do trabalho defi ne o conceito de empregador: Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. § 1º - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.99 No entanto, a maioria dos doutrinadores, entre estes, Oliveira discorda da figura do empregador como sendo uma empresa, diz que “o empregador não se confunde somente com a empresa, mas abrangem outros que não tenham sequer finalidade econômica”.100 98 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Cursode direito do trabalho. p. 595 99 Decreto Lei N. 5.452, de 1º de Maio de 1943. 100 OLIVEIRA. Francisco Antonio de. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 3 ed. ver., atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. P. 37. 37 Neste sentido são compreendidas também as pessoas físicas, como profissionais liberais e o próprio empregador doméstico que não possuem empresa ou mesmo estabelecimento comercial.101 Sobre o mesmo tema, também discorre Morais Filho: De qualquer modo, sumariamente, vemos que, dentro da melhor técnica jurídica, somente uma pessoa natural ou jurídica pode revestir-se da qualidade de empregador, sujeito de direitos e obrigações. Pode ser um simples indivíduo, uma firma individual, uma firma societária ou coletiva, uma instituição ou fundação de qualquer espécie, com ou sem finalidade econômica. Quisemos com isso acabar com a ambigüidade e as confusões do art. 2ª da CLT, que coloca empresa como empregador, atribuindo-lhe qualidades subjetivas de titularidade de direitos e obrigações da propriedade ou da titularidade de uma pessoa natural ou jurídica, nada mais. Estame que é, a rigor, sujeito de direito.102 Carrion completa expondo que: “O vocabulário “empresa” é usado como pessoa física ou jurídica que contrata, dirige assalaria o trabalho subordinado”.103 Sustenta também expressão “empregador é a empresa” é muito criticada na medida em que “empresa” é o conjunto de bens materiais, imateriais e pessoas para obtenção de certo fim.104 101 OLIVEIRA. Francisco Antonio de. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. p.37 102 MORAES FILHO, Evaristo de ; Moraes , Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. p. 260-261 103 CARRION, Valetim. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p.28. 104 CARRION, Valetim. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p.28. CAPÍTULO 2 ASSÉDIO MORAL Nesta seção, destacam-se aspectos pertinentes ao Assédio Moral, mais precisamente com relação ao seu conceito, comportamentos, conseqüências e efeitos do Assédio Moral no trabalhador, de forma a se obter maiores subsídios a respeito do tema. 2.1 DENOMINAÇÃO NO MUNDO, CONCEITO E CARACTERISTICAS 2.1.1 Denominação no mundo A expressão Assédio Moral é recente no universo do trabalho, apesar de maus-tratos e humilhações serem praticadas desde o início das relações de trabalho.105 Desde os primórdios da antiguidade até os dias atuais, o trabalhador está sujeito a sofrer com as formas perversas despendidas por seu superior hierárquico no trabalho. O fenômeno Assédio Moral está mundialmente alastrado e recebe várias denominações conforme a língua de cada país. Inclusive, no Brasil recebe diversas denominações, tais como: humilhação no trabalho, violência moral ou psicológica, assédio psicológico no trabalho, terror ou terrorismo psicológico no trabalho, psico terror, tirania nas relações de trabalho, coação moral no ambiente de trabalho, molestamento moral e manipulação perversa.106 Complementa Souza e Cavalcanti Júnior: No direito comparado, a questão do assédio ganhou relevância no início dos anos oitenta, quando o psiquiatra Heiz Leymann, na Suécia, relacionou a ampla casuística de doentes em tratamento por 105 AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio moral: o direito à indenização pelos maus-tratos e humilhações sofridos no ambiente do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006.p.17 106 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de trabalho.2ª Ed. (ano 2009), 2ª reimpr/. Curitiba: Jaruá, 2010.p.40 39 problemas psicológicos, dificuldades que essas pessoas relatavam em acerca do local de trabalho, Ao mesmo tempo, outros países do mundo ocidental também desenvolveram seus estudos e pesquisas acerca do tema.107 Souza e Cavalcanti Júnior assevera que “Na frança, por sua vez, o assédio moral passou a ser conhecido por harcélement moral, por meio da obra da psicóloga francesa Marie France Hirigoyen, Harcélement moral: La violence perverse au quotidien”.108 Alkimin afirma que: “no japão, o assédio moral é conhecido como ijime, que significa a pratica da violência moral em todos os setores da vida pessoa, ou seja, na escola, família, ambiente de trabalho etc.109 O mesmo Autor, ainda, afirma: Na Italia, a denominação adotada é mobbing, como sinônimo de violência silenciosa, acontecida na esfera psíquica do outro, sendo na região de Lazio, aprovada a Lei 16, de 11.07.2002, que tem por objetivo “prevenir e combater o fenômeno do mobbing no local de trabalho”, na qual são indicadas as finalidades e definição do mobbing, além de estabelecer medidas de prevenção e informação.110 Na Inglaterra, por exemplo, o mesmo fenômeno foi denominado como bullying at workplace, que significa tratar com grosseria, desumanidade, tirania.111 Também nas palavras de Alkimin: “em Portugal, já há um Projeto de Lei 252, inc. III da Assembléia da República cujo titulo é: “Proteção 107 SOUZA, Fabio Tomás, CAVALCANTI JUNIO, Normando Augusto. O assédio moral no trabalho. Brasília: Fortium, 2006. p.41/42. 108 SOUZA, Fabio Tomás, CAVALCANTI JUNIO, Normando Augusto. O assédio moral no trabalho. p.41/42. 109 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de trabalho.2ª Ed. (ano 2009), 2ª reimpr/. Curitiba: Jaruá, 2010.p.41 110 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de trabalho.p.40 111 SOUZA, Fabio Tomás, CAVALCANTI JUNIO, Normando Augusto. O assédio moral no trabalho p.41/42. 40 laboral Contra o Terrorismo psicológico ou assédio Moral”, utilizando uma ou outra denominação. ”112 Nos Estados Unidos a denominação adotada é harassmente, cujo significado é ataques constantes e repetitivos que tem como objetivo destruir a vitima. A Itália adotou em seu Código Civil assegurando a tutela antimobbing defendendo a moral do empregado, na qual abrange a garantia dos direitos de personalidade e dignidade e integridade física e psíquica do trabalhador, inclusive, obrigando o empregador a promover ambiente de trabalho sadio e livre de constrangimentos.113 Assim, independentemente da denominação adotada por cada país o objetivo é o mesmo, ou seja, proteger o empregado no ambiente de trabalho contra a prática do Assédio Moral. 2.1.2 Conceito e características O fato de que o Assédio Moral sempre existiu nas relações de trabalho, todavia, nos últimos tempos vem se tornado um dos problemas mais prementes na medida em que a própria evolução da sociedade vem sofrendo os efeitos da globalização, bem como da era da tecnologia o que naturalmente aumenta a competição entre trabalhadores e as próprias empresas propiciando aos agressores ambiente adequado para pratica do Assédio Moral. Hirigoyen conceitua Assédio Moral como: Toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu trabalho ou degradar o ambiente de trabalho.114 112 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de trabalho.p.41 113 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de trabalho..p.41 114 HIRIGOYEM, Marie-France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Tradução Rejane Janowitzer.4 ª ed.. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.p.17 41 Ainda, a respeito da conceituação de Assédio Moral, Aguiar cita que: Assédio Moral são os maus-tratos aplicados aos indivíduos nas organizações, derivados de uma lógica perversa na relação de poder existente nesses locais, manifestadacomo produto das relações autoritárias sob as mais diversas formas de perseguições e atritos entre chefes e subordinados, ou até entre colegas da mesma hierarquia funcional, configurando-se como um fenômeno destruidor da convivência pacífica, da coexistência harmônica e produtiva dos indivíduos no ambiente de trabalho. 115 No entanto, tem-se a dificuldade na doutrina para traçar um conceito sobre o Assédio Moral e estabelecer critérios objetivos que o definam.116 Deste modo os conceitos mostram por si a dificuldade existente na verificação das condutas caracterizadoras do Assédio Moral, assim sempre haverá certo grau de subjetividade no julgamento do que é abusivo hostil e degradante.117 Neste sentido, é necessário antes de tudo traçar as características do Assédio Moral com objetivo de identificá-lo no caso concreto de forma objetiva e não subjetiva. 118 Segundo o Ferreira o primeiro ponto a ser destacado para identificar o assédio moral é: “necessária a violação da dignidade do trabalhador por condutas abusivas desenvolvidas dentro do contexto profissional” 119 Outro elemento essencial à caracterização do assédio moral é a intencionalidade do ato, elemento que se revela como resultado dessa 115 AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio moral: o direito à indenização pelos maus-tratos e humilhações sofridos no ambiente do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006. p.17 116 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 42 117 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 43 118 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 44 119 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 43 42 perversidade, e que é verificado justamente com a repetição e duração no tempo das condutas abusivas do Ato.120 . Neste sentido, Barreto elucida: (...) á exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado (s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego121 Ferreira complementa: O assédio moral não se restringe ao ambiente físico de trabalho. É forçoso reconhecer que o ambiente de trabalho compreende não apenas o local e as instalações físicas onde o trabalho é realizado, mas, também o ambiente psicológico. Todavia, é imprescindível que o processo do assediador seja praticado durante o exercício do trabalho. Dessa forma, o assédio moral não se confunde com questões pessoais entre colegas de trabalho. 122 Desta forma, entende-se o que Assédio Moral caracteriza-se pela intenção de prejudicar a dignidade do trabalhador, sendo praticado de forma repetitiva. Neste sentido, Remata Ferreira: Em síntese, o assédio moral envolve a evidência de intenções por parte do agressor. Apesar de tormentosa a demonstração de intenções, é possível pressupô-las mediante a constatação de dois elementos: a repetição e o prolongamento no tempo das condutas abusivas.123 120 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 45 121 BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde, trabalho – uma jornada de humilhações. São Paulo; educ, 2000. Disponível em: http://www.partes.com.br/assediomoral/identificando.asp#_ftn2.>. Acesso em: 14/04/2.010. 122 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 44 123 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. p. 49 43 Neste contexto, ainda é importante trazer a baila o ensinamento de Alkimim, na qual de forma sucinta identifica os elementos caracterizadores do assédio moral: a)Sujeitos: sujeito ativo (assediador) empregador ou qualquer superior hierárquico; colega de serviço ou subordinado em relação ao superior hierárquico; sujeito passivo (vítima/assediado) empregado ou superior hierárquico no caso do assédio praticado por subordinado; b)Conduta comportamentos a atos atentatórios aos direitos de personalidade; c) Reiteração e sistematização; d) consciência do agente.124 Glökner compendiou os conceitos: Podemos conceituar o assédio moral, como sendo toda a conduta abusiva através de gestos, palavras, comportamentos, atitudes, que atente, seja pela repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade física de um trabalhador, ameaçando seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho. Trata-se, portanto, da exposição de um trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, feitas de forma repetitiva e prolongada durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções.125 Que caracteriza o terror psicológico é a freqüência e repetição das humilhações dentro de certo lapso de tempo. Nesta direção Hirigoyen afirma: O assédio moral caracteriza-se antes de tudo pela repetição. São atitudes, palavras, comportamentos, que, tomados separadamente, podem parecer inofensivos, mas, cuja repetição e sistematização os tronam destruidores.126 Deste modo, verifica-se que este tipo de problema ocorre não só entre chefes e subordinados, mas vice-versa e entre colegas de trabalho com 124 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de trabalho.p.43 125 GLÖKNER, Cezar Luíz Pacheco. Assédio moral no trabalho. São Paulo: IOB Thomson, 2004. p.19. 126 HIRIGOYEM, Marie-France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. p.30 44 vários objetivos, entre eles o de forçar a demissão da vítima, o seu pedido de aposentadoria precoce, uma licença para tratamento de saúde, uma remoção ou transferência. 2.1.3 Especies de assédio moral Alkimin descreve ás espécies de Assédio Moral: “vertical descendente (parte do superior em relação aos seus subordinados); horizontal simples ou coletivo (parte de um ou mais trabalhadores em relação ao colega de serviço); vertical ascendente (de um ou mais assalariados em relação ao superior hierárquico)” .127 2.1.3.1 Assédio Moral vertical ou descendente (assimétrico) Segundo Hirigoyen, o assédio vertical descendente vem da hierarquia128 afirmando que: “o assédio moral vindo de um superior hierárquico tem conseqüências muito mais graves sobre a saúde, pois a vitima se sente ainda mais isolada e tem mais dificuldades par achar a solução do problema”.129 Sobre o tema Ferreira discorre: A relação descendente, ou assimétrica, na qual o assédio moral emana da hierarquia. Dentro dessa relação, as causas que levam ao processo assediador são diversas, conforme destaca Hirigoyen: Há o objetivo puro e simples de eliminar-se a vítima para valorizar o próprio poder (do agressor); há também, a finalidade de levar a vitima a pedir demissão, o que eliminaria custos adicionais e impediria procedimentos judiciais; e, ainda, há própria gestão de empresa que incentiva e aprova o assédio moral como o meio de administrar seus empregados.130 Destaca-se que esse tipo de assédio é proveniente do empregador, compreendido na expressão o empregador propriamente dito, bem 127 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na relação de trabalho.p.61 128 HIRIGOYEM, Marie-France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. p.112 129
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