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CURSO: CURSO COMPLETO PROCESSO PENAL DISCIPLINA: PROCESSO PENAL PROFESSOR: MARCOS PAULO AULA 4 BLOCO: 1-4 MATÉRIA: EXECUÇÃO PENAL Leis e artigos importantes: • Art. 112, LEP • Lei 11.343 • Lei 6.368 • Lei 8.072 TEMA: EXECUÇÃO PENAL PROFESSOR: MARCOS PAULO PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIME ART. 112, LEP Em princípio, pelo regramento geral, existem 2 requisitos para a progressão: • Cumprimento de 1/6 da pena (independentemente de primariedade ou reincidência) • Bom comportamento carcerário A rigor, o bom comportamento carcerário é avaliado pela TFD (transcrição de ficha disciplinar), ou seja, 12 meses sem registro de faltas graves. O STJ, entretanto, mostrou em julgado recente o entendimento de que bom comportamento carcerário deve ser encarado de forma ampla, global, sendo a TFD apenas um dos referenciais, devendo outros elementos serem considerados na aferição desse bom comportamento carcerário. Como esse julgado é um leading case, e como a execução é judicialiforme, não deve ser analisado como fosse o entendimento do STJ, especialmente porque o juiz da execução fica muito difícil do que ocorre no cumprimento da pena, não disponde de outros elementos para avaliação do comportamento carcerário além da TFD. Curso: Curso Completo de Direito penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 4 - Bloco: 1-4 A parte final do dispositivo “respeitadas as normas que vedam a progressão” deve ser ignorado, já que se referia aos crimes hediondose o STF declarou a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado e também do regime inicialmente fechado, sendo sempre possível a progressão. A redação original do art. 112, LEP, estabelecia, ainda, mais um requisito para a progressão: exame criminológico. Mas ele foi expressamente eliminado pela Lei 10.792. diante disso, questionou-se: ele não pode mais ser determinado, ou apenas deixou de ser obrigatório? Posição minoritária - prova para a DP – se o exame criminológico não é mais requisito para a progressão, exigi-lo traduz constrangimento ilegal (ao criar um óbice a mais à liberdade do condenado). Isso ofenderia, ainda, o devido processo legal e a legalidade penal estrita. Posição majoritária – o exame criminológico não é mais peça obrigatória, o que não significa que o juízo da execução não possa determiná-lo fundamentadamente, isto é, com base em dados concretos. A fundamentação não deve ser abstrata; é necessária fundamentaçào concreta. Nesta linha, destaca-se a Súmula vinculante n. 26, do STF, em sua parte final, e a Súmula 439, STJ. Em tese, deferimento ou indeferimento da progressão de regime desafia agravo em execução. Mas, no caso de indeferimento da progressão, pode-se pensar em um HC se o exame criminológico foi exigido sem fundamentação ou com fundamentaçào abstrata, e o pedido, no HC, é para que o juízo da execução imediatamente aprecie o pedido de progressão. Se o indeferimento foi pautado no exame criminológico determinado com fundamentos concretos, impensável o HC substitutivo, sendo adequado o agravo, porque haverá rediscussão probatória. Em prova para a DP, em fase específica, o pedido a ser formulado no HC será que o Tribunal, desde já, defira a progressão, já que o juiz da execução, indevidamente, negou a jurisdição. Subsidiariamente, caso o Tribunal entenda que haveria supressão de instância, que ordene a imediata apreciação do pedido de progressão pelo juízo a quo. O §2º diz que idêntico procedimento seria adotado para os casos de livramento condicional, indulto e comutação de pena. Se é assim, também haveria o requisito do cumprimento de 1/6 da pena e TFD nos últimos 12 meses. E o exame criminológico? Se o regime é o mesmo, a discussão sobre o exame se estenderia também a esses institutos. Surpreendentemente, em recente julgado, a 2a turma do STF, diz que traduz constrangimento ilegal exigir exame criminológico para fins de indulto ou comutação se o respectivo decreto presidencial não o exigir. O decreto presindencial traduz a vontade soberana do Executivo federal, mas dentro dos limites fixados pela Constituição e pela lei, em apreço ao art. 2º, CRFB. Assim, o decreto presidencial estaria se sobrepondo ao §2º do art. 112, LEP. Curso: Curso Completo de Direito penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 4 - Bloco: 1-4 E se a progressão de regime demorar tanto para ser deferida que o acusado já completou prazo para progredir duas vezes? Pode progredir do regime fechado para o regime aberto direto? Posição dominante – é inadmissível a progressão per saltum, nos termos da súmula 491, STJ. Por quê? Por falta de previsão legal e, de certo modo, ofensa à individualização da pena (art. 5º, XLVI), que pede que a progressão de regime se dê paulatinamente, possibilitando a reinserção de forma gradativa. Posição minoritária – o apenado não pode ser penalizado pela morosidade estatal, ou seja, seria vedação a um comportamento contraditório do estado (nemo potest venire contra factum proprium), que estaria negando benefício ao apenado por morosidade excessiva dele mesmo. Além disso, o entendimento minoritário invoca a isonomia. O art. 118, LEP, cuida da regressão de regime, permite que ela se dê per saltum; por que então não permitir que a progressão se dê da mesma forma? Haveria ofensa à isonomia. Como último argumento, indica-se a individualização da pena que, sendo garantia do apenado, não poderia ser invcada pelo Estado contra os interesses do próprio apenado. PROGRESSÃO NOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS Momento 1 – redação originária: exigência de regime integralmente fechado, sem prossibilidade de progressão e sem pena restritiva de direitos. Momento 2 – STF declara inconstitucional o regime integralmente fechado do §1º do art. 2º, da Lei 8.072, admitindo a progressão. Mas com que fração? Com a única fração então em vigor, que era de 1/6 (LEP). Cai a norma que dizia que o regime seria obrigatoriamente inicial fechado, abrindo-se a possibilidade de o regime inicial ser fechado, semiaberto ou aberto. Além disso, admite-se a PRD. Momento 3 – Lei 11.464/07: Exigência de regime inicialmente fechado (§1º), prevendo-se a possibilidade de progressão de regime com as frações do §2º – 2/5 para o primário e 3/5 para o reincidente. Para o MP - a declaração de inconstitucionalidade do §1º se deu em sede de controle difuso, produzindo efeitos apenas inter partes, não extirpando do ordenamento o regime integralmente fechado. Assim, para o MP, o momento 2 não teria existido. Como na teria existido, ao advir a Lei 11.464, a realidade existente seria aquela do momento 1. Se o parâmetro é o momento 1, e não o momento 2, o regime obrigatoriamente inicial fechado e as frações para progressão de regime seriam novatio legis in mellius, aplicando-se retroativamente, estando a progressão sujeita aos percentuais novos. STF e STJ - Embora o controle tenha sido difuso, à decisão ter-se-ia dado efeito erga omnes, de forma que alcançaria todos os processos em curso e as execuções penais em curso. Mas se, para esse entendimento, existiu o momento 2, o parâmetro passou a ser a fração de 1/6 para a progressão, de forma que a Lei 11.464 traduziria novatio legis in pejus, e, logo, irretroativa. Curso: Curso Completo de Direito penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 4 - Bloco: 1-4 Também em relação ao regime inicialmente fechado e à possibilidade de PRD teria havido novatio legis in pejus, irretroativa. Nessa linha, a súmula vinculante n. 26, STF e a Súmula 471, STJ. OBS: A inconstitucionalidade do regime obrigatoriamente inicial fechado declarada pelo STF esvazioua discussão intertemporal envolvendo a Lei 11.646/07 no tocante ao regime inicial e a admissibilidade da PRD, sendo possível fixar um regime inicial aberto ou semiaberto, bem como a substituição. Os crimes hediondos estão definidos na Lei 8.072/90. O tráfico tem lei própria. Mas o que é tráfico? Todas as restrições libertárias previstas no art. 44, da Lei 11.343, dizem respeito ao comércio de entorpecentes (art. 33, caput e §1º) ou auxílio material ao tráfico (art. 34, 35, 36 e 37). Posição minoritária – MP – as 5 figuras delitivas seriam “tráfico”, já que a lei não tem definição típica do que seja tráfico e seriam todas matizes distintas da mesma engrenagem. Por isso, as 5 modalidades delitivas estariam alcançadas pela disciplina da Lei 8.072/90, com progressão em 2/5, se primário, e 3/5, se reincidente. Posição majoritária – sob a égide da Lei 6.368/76, STF e STJ entendiam que seriam tráfico o art. 12, caput e §§, bem como o art. 13. O art. 12, caput e §1º correspondem, hoje, ao art. 33, caput e §1º, não havendo dúvida de que constituem tráfico. O art. 13 corresponde, hoje, ao art. 34, também quanto a ele não havendo dúvida de que há tráfico. Mas o art. 12, §2º, III, previa tipo penal aberto. O STJ diz que os crimes de financiamento (art. 36) e fornecimento de informações privilegiadas (art. 37) não seriam tipos inéditos, porque já estavam criminalizadas no art. 12, §2º, III. Se, para o STF e para o STJ, o art. 12, como um todo, era tráfico, os atuais arts. 36 e 37, também seriam tráfico. Mas não se pode dizer que, aqui, o entendimento seja unânime, porque não há julgados que fixem qual seja a fração para a progressão de regime nesses crimes. Na Lei 6.368, o art. 14 previa a associação para o tráfico, que não era encarada como tráfico pelos Tribunais Superiores, com base no devido processo legal e na legalidade penal estrita. O enquadramento do fato enquanto tráfico desafia tratamento mais gravoso e execução penal mais gravosa, de forma que a interpretação deve ser restritiva e atenta ao direito penal do fato. Se a pessoa responde por associação, se os fatos narrados na denúncia imputam a ela apenas associação, não pode ser tratada como se tivesse, também, traficando. O art. 14 foi reproduzido no art. 35, da Lei 11.343. o STJ pacificou o entendimento no sentido de que, em que pese os argumentos novos que a Lei 11.343, favoráveis à associação como sendo matiz do tráfico, a associação para o tráfico não é tráfico. Se não é tráfico, está fora da disciplina da Lei 8.072/90, e se está fora de sua disciplina, a progressão de regime se dá em 1/6. Curso: Curso Completo de Direito penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 4 - Bloco: 1-4 Então, se A é condenado por tráfico (art. 33, caput) em 5 anos e por associação (art. 35) por 3 anos, para fins de livramento condicional, a fração seria única (2/3), por conta do art. 44, parágrafo único, da Lei 11.343; entretanto, para fins de progressão de regime, o cálculo seria diferenciado: na condenação por tráfico, 2/5 (2 anos), e na condenação pela associação, 1/6 (6 meses), precisando cumprir 2 anos e 6 meses para progredir de regime. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E DEMAIS INCIDENTES DA EXECUÇÃO (ARGUMENTOS PARA PROVA DA DP) Tecnicamente falando, a melhor terminologia para o tráfico, o terrorismo e a totrtura não seria de crimes equiparados a hediondos, e sim crimes constitucionalmente hediondos. Isso porque o art. 5º, XLIII, CRFB, nomina tais crimes expressamente, fazendo referência genérica aos crimes hediondos. Partindo da premissa de que a associação para o tráfico não é tráfico, este crime, sai não só do âmbito da Lei 8.072/90, como também do art. 5º, XLIII, CRFB, não havendo razões ontológicas para lhe ser dispensado tratamento mais gravoso, revelando-se um crime comum como outro qualquer. Afinal, todos os gravames diferenciados existentes em nossa legislação têm como referência constitiucional o art. 5º, XLIII, CRFB, não se mostrando constitucional sequer a fração de 2/3 para o livramento condicional. REGRESSÃO DE REGIME O art. 118, LEP, traz as hipóteses em que pode haver regressão de regime: Inciso I Posição minoritária – só seria possível pensar em regressão depois do trânsito em julgado, com base na presunção de inocência. Posição dominante – não é preciso aguardar o trânsito em julgado, já que a presunção é de não culpabilidade. Se o réu é absolvido da acusação, restabelece-se o status quo ante. Inciso II Se o crime é anterior, não se pode dizer que a execução da pena foi frustrada. Por isso, o tratamento é diferenciado: apenas há regressão se a soma das penas for incompatível com o atual regime de cumprimento de pena. Ex: restam 5 anos de pena a cumprir, já tendo progredido para o semiaberto – se é condenado por 2 anos, a soma permite que permaneça no semiaberto; se é condenado por mais 4 anos, a soma não permite que fique no semiaberto, havendo necessariamente a regressão. Art. 118, §1º Curso: Curso Completo de Direito penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 4 - Bloco: 1-4 Trata da hipótese em que houve a progressão, mas não houve o pagamento de multa. Isso não merece prosperar. A redação do art. 118, §1º, é de 84, ao passo que a redação do art. 51, CP, é de 96. lei posterior revoga a lei anterior. Então, se o não pagamento da multa não enseja a prisão, sendo dívida de valor a desafiar inscrição em dívida ativa e execução fiscal, também não pode autorizar a regressão. O art. 118, §2º, diz que na hipótese do art. 118, I e §1º, o condenado deve ser ouvido previamente. Posição minoritária – DP - Em apreço ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa (art. 5º, LIV e LV), a regressão do regime, no caso do art. 118, I e §1º, LEP, só se dá de maneira definitiva e depois de ouvido o apenado. Embora majoritariamente se entenda suficiente a sua oitiva em sede administrativa, é certo que, em apreço à jurisdicionalização do processo de execução, deve se dar em juízo, independentemente de sua oitiva no PAD. Posição majoritária – STF e STJ – a oitiva prévia do apenado só é exigível nos termos do §2º do art. 118, LEP, a título definitivo, valendo o depoimento por ele prestado no PAD. A contrário sensu do §2º do art. 118, LEP, é possível a regressão cautelar do regime, como manifestação do poder geral de cautela do juiz da execução, sem a sua prévia oitiva. Como aplicar a regressão de regime se o réu já está no regime fechado? Determina-se a recontagem do prazo para fins de progressão, a partir da falta grave, regra esta que não se estende ao livramento condicional (súmula 441, STJ). Posição para DP - não há previsão legal da recontagem, ofendendo o devido processo legal e a legalidade penal estrita. E a falta grave não passaria incólume, pois novo bom comportamento carcerário só nos próximos 12 meses. Então, ainda que tivesse o requisito temporal para a progressão, não poderia progredir nos próximos 12 meses. OBS: a recontagem também se estende aos condenados no regime semiaberto cumprindo pena detentiva, porque a detenção não compora regime fechado, que seria, assim, contra legem. Julgados mais antigos aplicam o art. 118 literalmente; como fala em regressão para qualquer regime mais gravoso, poderia haver a regressão para o regime fechado, mesmo em sede de detenção. Mas esse entendimento não prospera hoje. OBS: A recontagem também tem sido a solução quando o réu estiver cumprindo pena no regime inicial fixado na sentença, porque agravar este regime ofenderia a coisa julgada, traduzindo revisão criminal pro societatis, ao arrepio do art. 626, parágrafo único, CPP. Hoje esse é o entendimento que prevalece nos Tribunais Superiores. Entretanto, não se pode dizer que o tema esteja pacificadonos Tribunais superiores se o crime for reclusivo, que comporta o cumprimento em regime fechado, hipótese em que inicidia o art. 118, LEP, a determinar a regressão para qualquer dos regimes, até porque a individualização da execução exige que lhe seja dado um caráter rebus sic standibus. Curso: Curso Completo de Direito penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 4 - Bloco: 1-4 OBS: Ainda que a condenação transitada em julgado tenha fixado o regime inicial fechado, a falta grave permite, para os Tribunais Superiores, a regressão para este regime e a recontagem. Mas essa recontagem deve ser combatida em prova para a DP, não só por ausência de previsão legal, como por configurar excesso, já que já houve a regressão. OBS: Para os Tribunais superiores, uma mesma falta grave pode autorizar a perda dos dias remidos, a regressão de regime e a revogação de benefícios como a visita periódica ao lar e trabalho extra muros, porque seriam incidentes de execução distintos, não havendo bis in idem. Em prova para a DP, devemos dizer que isso é bis in idem, porque em nome da individualização da pena, esses ônus deveriam ser aplicados de forma progressiva e pela recenticidade. Caso concreto – prova discursiva sem consulta (limite de 8 linhas): qual é a fração da progressão de regime para o crime de associação para o tráfico? Curso: Curso Completo de Direito penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 4 - Bloco: 1-4
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