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DA CIBERNÉTICA À TEORIA FAMILIAR SISTÊMICA.doc

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DA CIBERNÉTICA À TEORIA FAMILIAR SISTÊMICA
UM RESGATE DOS PRESSUPOSTOS
Monografia apresentada ao Movimento como requisito parcial para obtenção do certificado de formação em Terapia Sistêmica
ORIENTADORA: MARIA CRISTINA D’AVILA CASTRO
Florianópolis
2002
SUMÁRIO
1.	Resumo
2.	Introdução
3.	Referencial Teórico
	Origem da Teoria Sistêmica
	Cibernética de Primeira Ordem
	Cibernética de Segunda Ordem
	Teoria Geral dos Sistemas
	Do Construtivismo ao Construcionismo Social
	Alguns Pontos Básicos da Terapia Sistêmica
4.	Conclusão
5.	Referências Bibliográficas
1. RESUMO
Esta monografia foi elaborada para fins de conclusão de curso de formação em Terapia Sistêmica do Movimento – Instituto e Clínica Sistêmica de Florianópolis.
O tema escolhido foi a trajetória da Teoria Sistêmica, ou seja, um estudo do surgimento da teoria, de onde veio até os dias de hoje, objetivando clarear os princípios e situar melhor a própria teoria. 
Para isto, utilizarei como metodologia a revisão bibliográfica, principalmente autores como Grandesso, Rosana Rapizo, Gergen, Maria José de Vasconcelos, Capra, Maruyana, entre outros. O uso desta metodologia necessita de muita leitura de vários livros, vários autores, o que num primeiro momento acaba confundindo mais ao invés de clarear, pois cada um tem seus pensamentos, idéias e conceitos. Portanto, após este momento de confusão e de angústia, as idéias vão clareando.
Outra dificuldade desta metodologia é que muitas vezes a idéia pode até estar clara para quem escreve, o problema então, é passar a idéia para o papel. Em alguns momentos, parece que já escrevemos tudo que tínhamos a escrever e tudo está lógico e claro. Em outros, parece que por mais que escrevamos sempre há muito ainda a serem escrito. 
Existe um pensamento que desconheço o autor que pode retratar minha sensação: uma coisa é o que pensamos, outra coisa é o que falamos e outra coisa é o que os outros entendem do que falamos. 
Até porque, dentro da Teoria Sistêmica existe uma imprecisão conceitual muito grande. Vários termos, vários autores sem concordância entre eles. Isto acabou dificultando muito meu trabalho. Tentar entender o que cada termo significava, foi uma árdua tarefa. Cibernética de Primeira Ordem, Cibernética de Segunda Ordem, Primeira Cibernética, Segunda Cibernética, Teoria Geral do Sistema, Construtivismo, Construcionismo Social....são termos que o limite de diferença entre eles é muito pequeno, definir cada um e tentar dividi-los mesmo que para fins didáticos e de entendimento, fica realmente difícil, na medida em que cada um acaba sendo uma evolução do outro, como explico melhor na conclusão da monografia. Cito evolução não no sentido de um ser melhor que o outro, mas no sentido de ampliação de visão, de complemento, de soma. 
Portanto, resgatar toda esta teoria e colocá-la num papel, não foi nada fácil, mas acredito que tenha sido uma experiência muito valiosa. Principalmente, como monografia de conclusão do curso de Terapia Familiar Sistêmica, nada mais propício do escrever sobre a própria teoria, para poder me integrar bem com tudo que foi dado ao longo destes quatro anos. 
2. INTRODUÇÃO
Esta monografia busca resgatar os pressupostos da Teoria Sistêmica, nascida de um desejo de conhecer e de me aprofundar mais. Acredito que este estudo seja fundamental para um melhor entendimento da própria teoria como um todo. A partir do momento que conseguimos entender de onde vêm os pressupostos da teoria, entende-se melhor seus princípios, técnicas e recursos.
O interesse por esta busca surge a partir de uma falta, como falei, uma necessidade de estudar mais. Ao fazer meu estudo de caso, tive que resgatar muito os princípios da teoria para fazer a conexão com a prática. Isto me motivou a ler e me aprofundar um pouco mais no assunto, pois acredito que, ter clareza destes pressupostos auxiliam e muito na prática terapêutica.
“Se um clínico não reconhece as premissas subjacentes à sua maneira de operar, essa falta de compreensão pode tornar o trabalho menos eficaz”. (Vasconcelos, Maria José de, 1995, p.25).
Além de sentir a necessidade de conhecer, de aprofundar mais a Teoria Sistêmica enquanto respaldo para a prática clínica, minha busca foi motivada também pela entrada no mestrado . Acredito que na grande maioria dos mestrados a exigência pela cientificidade é a busca essencial. Foi onde me deparei com o fato de ter introjetado a teoria sim, mas ela não estava tão definida, tão clara, tão situada para mim. Havia ainda algumas dúvidas em relação aos princípios, as escolas, os autores que faziam parte destas escolas, como foi o surgimento da teoria, a evolução da teoria....enfim, precisava me situar dentro de tudo isto e me absorver da teoria, pois achava que para mim a Teoria Sistêmica estava muito “solta”. 
Com este desafio lançado, percebi ao longo da caminhada, que esta sensação não era minha e que isto fazia parte da própria teoria.
Maria José de Vasconcelos (livro citado), dedica um capítulo do seu livro sobre a imprecisão conceitual na Terapia Familiar Sistêmica e sobre a fragmentação teórica. Estas duas foram minhas grandes dificuldades ao escrever. Primeiro, sobre a imprecisão conceitual, o que aconteceu é que em determinado momento, eu já não sabia se Cibernética de Primeira Ordem era igual a Primeira Cibernética e se Cibernética de Segunda Ordem era igual a Segunda Cibernética.......a cada leitura, me confundia ainda mais. Foi então que descobri que esta confusão não era minha e sim da própria teoria, pois há divergência entre os autores e existem várias nominações. Segundo ponto é a questão da fragmentação teórica, que gera uma dificuldade de integração das diferentes contribuições que são: Teoria Geral dos Sistemas, Cibernética, Física Quântica, Física Clássica.......que a princípio, parece mais uma “sopa de letrinhas”.
Juntamente com tudo isso, minha maior frustração foi a falta de material encontrada para tal esclarecimento - até este momento ou dos que tive contato - onde nenhum dos livros utilizados parecia suprir esta minha necessidade, de trazer a evolução passo a passo da Teoria Sistêmica. É importante eu deixar claro aqui que não estou desmerecendo nenhum livro, muito pelo contrário, sem os quais jamais poderia ter realizado esta monografia, mas volto a ressaltar que é uma necessidade minha.
Espero então estar descrevendo neste presente trabalho esta evolução passo a passo da Teoria Sistêmica. 
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
 
3.1.Origem da Teoria Sistêmica
A Teoria Sistêmica tem suas origens na física quântica, a partir da mudança na visão de mundo, onde passou-se da concepção linear-mecanicista de Descartes e Newton para uma visão holística e ecológica. O termo holístico, do grego “holos”, totalidade, refere-se a uma compreensão da realidade em função de totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores. Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes, intimamente interligados, sistêmicos.
Num primeiro momento a ênfase dada ao método cartesiano levou à fragmentação do pensamento e a uma atitude generalizada de reducionismo na ciência, na crença que todos os aspectos dos fenômenos complexos poderiam ser compreendidos se reduzidos às suas partes constituintes. Para Descartes, o universo material era uma máquina, nada além de uma máquina. Não havia propósito, vida ou espiritualidade na matéria. A natureza funcionava de acordo com leis mecânicas, e tudo no mundo material podia ser explicado em função da organização e do movimento de suas partes. Animais, plantas e seres humanos eram considerados simples máquinas. O pensamento de Descartes compara um homem doente com um relógio mal fabricado e um homem saudável com um relógio bem feito.
A evolução do pensamento reducionista de Descartes leva ao surgimento de um novo paradigma: o universo é um todo unificado que pode, até certo ponto, ser divididoem partes separadas, em objetos feitos de moléculas e átomos, compostos, por sua vez, de partículas. Mas atingindo esse ponto, no nível das partículas, a noção das partes separadas dissipa-se. As partículas e todas as partes do universo, não podem ser entendidas como entidades isoladas, devem ser definidas através de suas interrelações. Cada evento é influenciado pelo universo todo, embora não possamos descrever essa influência em detalhe. 
Neste novo paradigma o universo então, é visto como uma teia dinâmica de eventos interrelacionados. Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia é fundamental, todas elas decorrem das propriedades das outras partes do todo, e a coerência total de suas inter-relações determina a estrutura da teia. 
A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e de integração. Os sistemas são totalidades interligadas, cujas propriedades não podem ser reproduzidas a unidades menores. Todo e qualquer organismo é uma totalidade integrada e portanto, um sistema vivo. Embora possamos discernir suas partes individuais em qualquer sistema a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. Um outro aspecto importante reconhecido a partir do estudo dos sistemas é sua natureza intrinsecamente dinâmica. Suas formas não são estruturas rígidas, mas manifestações flexíveis, embora estáveis, de processos subjacentes. 
O aspecto dinâmico do sistema leva a conceitos como “Cibernética” que estuda a comunicação e o sistema de controle dos organismos vivos e também nas máquinas.
Este pensamento desenvolvido pelas diversas áreas de conhecimento científico, reiterado pelo pensamento filosófico da época, também foi absorvido pela prática clínica dentro do campo das psicoterapias. Ocorre então uma mudança de foco das teorias clínicas, que passa a observar mais os sistemas humanos do que o indivíduo recordado do seu contexto. O foco da visão clínica deixa de ser o intrapsíquico e passa para o interrelacional. Surge então, a Teoria Sistêmica aplicada à atividade clínica. A seguir descreverei um pouco mais sobre o desenvolvimento da física na área específica dos sistemas, relacionando-a com a Terapia Sistêmica, que é o tema que nos interessa no presente trabalho. 
3.1.1. Cibernética de Primeira Ordem 
Aqui seguirei a linha de pensamento trazido por Maruyama, seguida por Grandesso. O estudo da Cibernética dividiu a própria Cibernética em duas fases: primeira ordem e segunda ordem. Como esclarecimento vale situar, que a Cibernética de Primeira Ordem divide-se em dois momentos: o primeiro momento, que se dá por Primeira Cibernética e o segundo momento, a Segunda Cibernética.
Um dos princípios norteadores da Primeira Cibernética é o interesse pela estabilidade, pela estrutura, entendendo que os sistemas funcionam com uma meta, um propósito que equivale a um equilíbrio. Interessam-se então pelo que denominam mecanismo de homeostase, que são as estratégias de ação dos sistemas e organismos para o mantenimento de sua estabilidade.
“o primeiro período da cibernética de primeira ordem (primeira cibernética), se ocupava dos mecanismos e processos pelos quais os sistemas, em geral, funcionavam com o intuito de manter a sua organização. O sistema, de acordo com essa concepção, operava de acordo com um propósito ou meta, cujo alcance era garantido por mecanismos de regulação e controle (...) regulação, enquanto um mecanismo, visa manter a sobrevivência do sistema à medida que controla os distúrbios que o atingem, impedindo-os de evoluírem para uma mudança, que possa quebrar a sua organização. Nesse sentido, o sistema cibernético era compreendido como equivalente a uma máquina trivial, fosse ele uma máquina, um organismo biológico, ou um sistema social, que, tendo uma organização e um propósito, operava na correção dos desvios, de modo que se mantivessem estável e sobrevivesse. Esse processo conhecido como retroalimentação negativa, por meio do qual um sistema vivo sobrevive mantendo a sua constância apesar das mudanças do meio, convencionou-se chamar de morfoestase”. (Grandesso, Marilene. 2000, p.124)
Aplicada à clínica o conceito de homeostase negativa, advinda da Primeira Cibernética leva a idéia de que a permanência ou surgimento do sintoma é uma forma de não mudança, uma forma do sistema voltar a ser o que era antes, no sentido de auto-regulação do sistema. 
Por estes motivos os terapeutas da Primeira Cibernética são mais diretivos, planejando ativamente suas estratégias e ações. Têm como objetivo definir o problema de forma clara e aplicar técnicas para a eliminação ou redução do problema ou sintoma apresentado pela família, pois os sintomas são considerados, nesta época uma ameaça de desequilíbrio. 
Neste sentido nasce a idéia de homeostase familiar, ao se observar que os esforços psicoterapêuticos dirigidos ao membro da família que trazia o sintoma (paciente identificado) podiam ser frustrados pelo comportamento de outros membros, ou que outros membros poderiam tornar-se perturbados na medida em que o membro em tratamento melhorasse. Isso sugeria que a família é algo como um sistema estável e o sintoma existe para manter o status quo.
Assim o terapeuta dedicava-se a entender os padrões de relação da família que mantinham ou alimentavam o sintoma. 
As técnicas destinavam a burlar a homeostase e a induzir uma crise na família que reorganizava-se mais funcionalmente, sem a necessidade do sintoma. O que importava então era a função do sintoma e não o comportamento em si. O ponto chave da terapia era que o terapeuta assumia a responsabilidade de planejar ações a fim de resolver o problema de seu cliente. Isso implica uma definição clara do problema com o qual vai se trabalhar a partir da queixa trazida pela família. 
A idéia básica é gerar, a partir de intervenções, situações que vençam a homeostase, sua resistência a mudança e empurrar a família para outro padrão de funcionamento que não necessite a presença do sintoma. 
Assim, enfatizavam o sintoma, para quebrá-lo. O tratamento rapidamente se efetivava e a terapia de família se tornou um tratamento eficiente e breve, se contrapondo aos tratamentos psicoterapêuticos da época. Porém, passando algum tempo do tratamento, muitas famílias voltavam a fazer sintomas em busca da sua homeostase conforme se acreditava. 
Surge então a chamada Segunda Cibernética onde coloca que o sintoma não é o foco, o sintoma é apenas para identificar que algo não vai bem na família, sendo o foco agora as relações e não o sintoma ou a pessoa que traz o sintoma. A pessoa com o sintoma, denomina-se como paciente referido (P.R.), que é a pessoa que leva a família à terapia. Dentro dessa visão, não significa que o problema é do paciente referido somente, mas sim que o problema passa por todos os membros da família.
Na Segunda Cibernética se acrescenta a homeostase positiva, cuja equilibração leva a permanência ou surgimento do sintoma como forma de mudança, porque se há sintoma tem que se procurar ajuda terapêutica, aumentando assim a possibilidade de mudança (auto-transcendência). Não temos mais como modelo um sistema resistente, “paralizado” em seu movimento, mas sim um sistema que, inevitavelmente, muda para novas coerências e onde o sintoma não é mais um “mecanismo homeostático” que impede a família de mudar ou de sucumbir a uma crise, mas apresenta-se como alternativa amplificada, solução possível naquele momento, para aquele sistema. 
Esta visão implica a idéia de que o sistema tem e adquire, ao longo do tempo, seus próprios recursos para realizar mudanças, possuindo autonomia e uma capacidade de auto-organização . A crise, ao invés de ser considerada como um perigo, como na Primeira Cibernética, é vista agora como parte do processo de mudança, e o sintoma como surgido no meio dela.
“A sobrevivência dos sistemas vivos não dependia apenas de sua capacidade de morfoestase. Além de conseguir manter sus estabilidade, um sistema vivo necessitava, também de ser capaz de modificar sua estrutura básica, para adaptar-seàs situações de mudanças do meio. Esse processo, chamado de morfogênese, não poderia ser explicado por uma retroalimentação negativa, mas, sim, por uma retroalimentação positiva, consistindo de seqüências que amplificavam o desvio de modo que o organismo, adaptando-se às condições do contexto, conseguisse sobreviver. Esses processos de amplificação do desvio, por meio da retroalimentação positiva, e os processos sistêmicos de mudança, daí decorrentes, foram descritos por Maruyama como segunda cibernética, constituindo-se assim no segundo período da cibernética primeira ordem. 
Até então, os teóricos dos sistemas costumavam ver a retroalimentação positiva como indesejável, associando-a à destruição do sistema. Diferentemente da primeira cibernética que se constituía como uma visão homeoSTÁTICA dos processos sistêmicos, a segunda cibernética caracterizou-se por uma visão homeoDIMÂMICA, termos cuja grafia assim cunhada por Sluzki salientam a dialética estabilidade-mudança”. (Grandesso, Marilene. 2000, p.125)
Portanto, o foco da Teoria Sistêmica está nas relações, e a proposta terapêutica é trabalhar com todos os membros da família juntamente. Uma vez que se entende a família como um sistema em interação, em que cada um dos seus membros tem responsabilidades e funções a desempenhar, criando assim um jogo de interdependência e interrelação, seria então contraditório pensar que somente um membro está “doente”. 
“Quando consideramos a intervenção terapêutica numa perspectiva sistêmica, temos de redefinir a terapia não como uma intervenção centrada num indivíduo ‘doente’, mas como um ato de participação e crescimento num grupo com uma história”. (Andolfi. M, 1996, p.87) 
 “A patologia que se manifesta nele (P.R.) é a ponta do iceberg, que reflete e esconde toda uma intrincada redes de relações que existem na família (...) Na medida que aceitamos que o problema reside na interação afastamos uma explicação linear dos fenômenos, de causa e efeito, e nos aproximamos da noção de circularidade e, assim, da responsabilidade compartilhada da patologia familiar. A questão deixa de ser de um para ser de todos”. ( Groisman. M, 1991, p.26)
Além da preocupação com a homeostase positiva ou negativa, um sistema pensado a partir da Cibernética de Primeira Ordem, pode ser operado “de fora”, entendendo seus modelos como correspondentes a uma realidade independente do observador. Este seria o outro princípio importante da Cibernética de Primeira Ordem, a não inclusão da idéia de auto-referência, caracterizada pelo postulado de independência entre observador do sistema e sistema observado. Esta idéia de auto-referência, onde o observador faz parte da observação, foi trazida pela Cibernética de Segunda Ordem, portanto estarei descrevendo melhor no item que refere-se a esta cibernética.
Resumindo, toda esta idéia de Cibernética de Primeira Ordem, Primeira Cibernética, Segunda Cibernética, Cibernética de Segunda Ordem, embasado em Maruyama podíamos até esquematizar desta maneira:
1ª Ordem: palavras e princípios básicos: não inclusão da auto-referência. 
  Primeira Cibernética: homeostase negativa.
  Segunda Cibernética: homeostase positiva.
 
2ª Ordem: palavras e princípios básicos: auto-referência
 relação
Foi Maruyama em 1963, quem introduziu, na área da Cibernética, este conceito de Segunda Cibernética. 
“A 1ª cibernética trataria dos processos morfostáticos, resultantes de retroação negativa ou retroação auto-reguladora. Diante do desvio, a retroalimentação negativa conduz o sistema de volta a seu estado de equilíbrio homeostático, otimizando a obtenção do objetivo. A 1ª cibernética trataria da capacidade de auto-estabilização do sistema. Por outro lado, a 2ª cibernética trataria dos processos morfogenéticos, resultantes de retroação positiva ou amplificadora do desvio, amplificação que pode – caso não produza a destruição ou ruptura do sistema – promover a sua transformação, levando-o a um novo regime de funcionamento. Poderíamos dizer que a 2ª cibernética trataria da capacidade de auto-organização – no sentido de auto-mudança – do sistema, enquanto a 1ª cibernética trataria da capacidade de reorganização – no sentido de auto-manutenção – do sistema”. (Maruyama in Mª José de Vasconcelos, 1995, p.105).
Entretanto, Maruyama, acaba contribuindo para a confusão conceitual quando nomeia um segundo momento da Cibernética de Primeira Ordem, como Segunda Cibernética pois acaba-se confundindo com Cibernética de Segunda Ordem, o que não seria a mesma coisa. É claro que acaba recebendo críticas por isso. Keeney in Maria José de Vasconcelos, fala que as idéias cibernéticas surgiram mais ou menos simultaneamente por diversos autores, sendo que cada um nomea de uma forma diferente as mesmas coisas, não havendo concordância entre eles. São os termos: Cibernética de Primeira Ordem, Cibernética de Segunda Ordem, Primeira Cibernética, Segunda Cibernética, Primeiro Grau da Cibernética, Segundo Grau da Cibernética, Cibernética da Cibernética, Si-Cibernética, Segunda Potência, Visão de Segunda Ordem, entre outros. 
“Devo preveni-los, imediatamente, de que certos terapeutas de família têm feito uso da distinção estabelecida por Maruyama entre o primeiro e o segundo grau da cibernética, que reenvia respectivamente aos processos de estabilidade e mudança. Essa é uma distinção não-cibernética, diferente da enunciada por Von Foerster. A distinção de Maruyama entre o primeiro e o segundo grau de cibernética não se inscreve na tradição histórica do pensamento cibernético a que estamos nos referindo.” (Keeney in Mª José de Vasconcelos, 1995, p.107).
Portanto, esta questão da discussão de nomeação não é um assunto para me aprofundar neste momento, foi apenas um recorte para podermos entender melhor alguns princípios e suas diferenças dentro da Teoria Sistêmica e também para poder me situar e situar os leitores dentro de algum autor, no caso Maruyama. 
3.1.2. Cibernética de Segunda Ordem
A velha noção de consertar uma estrutura que apresenta um problema, não serve mais. Os problemas não estão nas famílias, mas em sua construção da realidade, em sua relação e na forma pela qual esta permite a emergência de realidades, sujeitos, crenças e sintomas. 
Não há uma família dada “lá fora” a ser conhecida, previsível e manipulada, mas uma família ou um sistema, imprevisível, incerto, dependente de uma história, auto-organizador e autônomo, regidos por suas próprias leis. Com base no conceito de autonomia, questiona-se o valor e a pertinência de intervenções que pretendem dirigir o sistema para determinado lugar. Questiona-se também a idéia de que tais intervenções causam mudanças, já que o meio (terapeuta) não determina o que acontece no sistema (família).
O interesse dos terapeutas desloca-se assim das seqüências de comportamento a serem modificadas para os processos de construção da realidade e identidade familiar, para os significados gerados no sistema. Não é o sistema que determina o problema, mas o problema que determina o sistema.
A terapia transforma-se em uma rede de conversações em torno do problema e o terapeuta em um participante ativo da transformação do sistema. O terapeuta não é mais um implementador de técnicas. Ele trata de tentar criar um espaço para a conversação, busca compartilhar e acompanhar a visão de mundo trazida pela família, para co-construir realidades alternativas, novas conotações, com as quais o sistema terapêutico desenvolva novas perspectivas que não trazem em si o comportamento sintomático. 
Não se trata de solucionar problemas, mas de solucionar impasses na resolução de problemas, através da mudança de perspectiva que permita um melhor agenciamento do próprio sistema para tomada de decisões e mobilização de seu potencial auto-organizativo. A terapia introduz complexidade nas narrativas, sugere ações, que não têm caráter fundante, mas que dão lugar ao surgimento de alternativas possíveis de ação. 
“A tarefaterapêutica é facilitar o diálogo entre diferente vozes do sistema, operando com a ambigüidade, fontes de mal-entendido e contradições, diferenças que permitam gerar descrições mais abrangentes, menos antagônicas do problema compartilhado. Neste sentido, a terapia deve promover um canal de expressão”. (Rapizo, Rozana.1998, p.75).
 
A intervenção é feita através de perguntas conversacionais, reflexivas, circulares. Perguntas que procuram explorar a influência do problema na vida da família e a influência da família na vida do problema. Investigam conexões, padrões, relações. Perguntas conversacionais, são aquelas que abem espaço para novas perguntas e criam oportunidade para que novos significados do cliente emerjam e promovam a mudança de visão e comportamento. 
Boscolo e Cecchin (in Rapizo, Rosana. 1998, p.79), divulgaram o primeiro modelo discursivo ou de conversação para a terapia de família. Adotando estas premissas, o terapeuta, ou equipe terapêutica questiona também suas próprias crenças a respeito da família e de seu trabalho. Temos então, a valorização de um contexto terapêutico mais colaborativo e menos hierárquico. 
Enfim, com o passar do tempo a Cibernética amplia seu olhar e começa a se deslocar para o entendimento de sistemas que não são, e não podem ser organizados de fora, colocando em cheque a possibilidade de se falar em uma observação objetiva de uma realidade independente, livres das influências do observador.
A noção de auto-referência é fundamental, na Cibernética de Segunda Ordem, surgindo à idéia de que o observador está inserido na observação que realiza, pois aquele que descreve suas observações, descreve a respeito de si. Conceito não trazido pela Primeira Cibernética, onde entende seus modelos como correspondentes a uma realidade independente do observador. Então, quem traz esta idéia é a Cibernética de Segunda Ordem e o Construtivismo e Construcionismo Social, que veio dar consistência ao pensamento Cibernético.
“Nossa estrutura enquanto observadores, desde a nossa corporeidade até a nossa linguagem e a nossa cultura, impõe restrições ao tipo de observações que podemos fazer. Essa nova cibernética implicou uma teoria sobre o observador, a crença na impossibilidade de separar o observador do sistema observado e, portanto, o questionamento da possibilidade de conhecimento objetivo, de previsão e controle. Um discurso científico passa a ser entendido não apenas como um discurso sobre um referente, mas também como um discurso sobre os limites da linguagem e dos processos mentais de quem o produz (...) a incorporação dessa nova epistemologia às práticas sistêmicas implicou mudanças fundamentais no papel do terapeuta e na própria concepção da terapia. Antes de ser um interventor que opera sobre um sistema (família, casal, indivíduo, por exemplo) para mudá-lo em uma dada direção, previamente definida como ‘mais funcional’ para o sistema, o terapeuta passa a ser visto como mais um no sistema. No lugar de intervir, o terapeuta co-participa do sistema terapêutico, atuando para uma transformação co-evolucionária que conta com a surpresa e o imprevisível à medida que os sistemas produzem sua própria mudança. Da mesma forma que a cibernética de segunda ordem, enquanto uma epistemologia, se define como construtivista/construcionista social, as terapias, segundo este modelo, também passam a ser chamadas de terapias de segunda ordem ou de terapia sistêmica construtivista/construcionista social”. (Grandesso, Marlene. 2000, p.131)
3.1.3. Teoria Geral dos Sistemas
A partir do momento em que se adota uma visão de sistema, a ciência tende a não isolar os fenômenos de seus contextos, examinando unidades cada vez maiores. Sob o título comum de investigação dos sistemas, convergem os avanços de diversas especializações científicas. 
Várias disciplinas se incluem entre as “ciências dos sistemas”, entre elas e às que são relevantes neste momento, são: Teoria Geral dos Sistemas e Cibernética, uma organicista e outra mecanicista. A tendência mecanicista se relaciona a técnicas de controle, automatização, inovações tecnológicas, tendo como teoria a Cibernética. Já a tendência organicista, partindo do princípio que um “organismo é uma coisa organizada”, trata-se de especificar as leis de funcionamento desse tipo de sistema. 
As duas tendências desenvolveram-se paralelamente, Wiener – Cibernética e Bertalanflly – Teoria Geral dos Sistemas.
Bertalanffy preocupava-se com os sistemas biológicos e sociais, diferentemente dos matemáticos (mecanicistas) da cibernética. Para ele, o modelo de retroalimentação (homeostase negativa e positiva), podia muito bem explicar o processo das máquinas, portanto era insuficiente para explicar ou descrever sistemas biológicos. O organismo vivo mantém através destas interações dinâmicas múltiplas um estado de desequilíbrio constante. E, a desconsideração do potencial evolutivo e de crescente organização dos organismos vivos na cibernética inviabilizava sua aplicação ao mundo biológico ou social. Para ele sistemas de retroalimentação são sistemas fechados, aonde não se considera a possibilidade de transição a estados de maior complexidade. 
Portanto, estas considerações apontam certamente para limitações que foram parte dos problemas da aplicação do modelo cibernético ao mundo biológico e social. No entanto, com a retomada do estudo dos sistemas auto-organizadores (homeostase positiva) e as novas concepções daí decorrentes, muitas destas lacunas foram preenchidas. E, apesar do esforço de Bertalanffy em diferenciar sua teoria da Cibernética, as duas praticamente se confundem e o modelo desenvolvido por ele é absorvido, transformado e mesmo ultrapassado pela Cibernética de Segunda Ordem.
E isto acaba refletindo na escassez de material e muitas vezes até pouco explorada, enquanto embasamento da Teoria Sistêmica. Por estes motivos é que acabei me atendo mais à Cibernética. 
3.4. Do Construtivismo ao Construcionismo Social
No início da década de 80 com as idéias de von Foerster – onde observador e observado são inseparáveis – e de Maturana e Varela – onde a percepção visual nasce da intersecção entre o que nos é oferecido e nosso próprio sistema nervoso, o que vemos não existe como tal, no lado externo de nosso campo de experiência, mas é resultado da atividade interna que o mundo exterior deflagra dentro de nós. A validação de uma pesquisa científica não precisa do mundo objetivo para funcionar, ao pesquisador um mundo não é composto por objetos, mas uma comunidade de observadores, cujas declarações venham a compor um sistema coerente, sendo esta a razão da “objetividade entre parênteses” – surge o Construtivismo na terapia familiar.
O pressuposto do Construtivismo é que os indivíduos reagem a um mundo não tal como ele é na sua objetividade, mas ao mundo conforme ele é percebido, sendo, todo o conhecimento auto-referente. É impossível referirmo-nos a uma situação da qual participamos sem que nossas descrições sejam influenciadas por nossas qualidades pessoais (auto-referência). Fica evidente nessa afirmação a questão da auto-referência de qualquer observação. Quando se fala em auto-referência está sendo assumido que qualquer observador inclui a si mesmo nas observações que faz. Conforme Epítetus (in Grandesso, Marilene. 2000, p.27), “os homens não são movidos pelas coisas, mas pela visão que fazem delas”.
É aqui que se estabelece a inter-relação e interdependência do observador com o observado. Ao se observar algo é claro que o observador vai estar “colocando” conteúdos seus. Portanto, convêm notar que este pressuposto acaba enfatizando o individualismo.
Já ao final desta década (80), o construcionismo social começa a tomar impulso na terapia familiar com Kenneth Gergen, incluindo o contexto social. 
“A seus olhos, tanto os significados como o sentido do self e as emoções tem sua origem em um contexto intrinsecamente relacional, não apenas o “eu” e o “tu” não se manifestam senão nos diálogos permitidos pelas relações humanas, como tambéma própria identidade é produzida pelas narrativas que têm origem em trocas comuns; tais narrativas dizem respeito, na verdade, muito mais a relações sociais do que as escolhas individuais” . (Gergen in Elkaïn, Mony. 1998, p.228)
O Construcionismo Social, coloca que, os critérios para identificar eventos no mundo não são objetivos, mas circunscritos por uma cultura, história ou contexto social. Assim sendo, não se postula uma base objetiva para o conhecimento convencional. Pois, o mundo é compreendido em termos de artefatos sociais, historicamente situados, e produtos do intercâmbio entre pessoas. Assim, longe de ser ditado pelas forças da natureza, o processo de compreender resulta de uma ação cooperativa de pessoas em interação. É assim que se pode compreender as mudanças nas construções psicológicas sobre o indivíduo e os relacionamentos ao longo do tempo, bem como de uma cultura para outra. 
Neste sentido, a comunicação, a negociação são fundamentais, manutenção ou mudança de uma interpretação não depende da sua validação por meio da observação, dos procedimentos ou da metodologia, mas do questionamento de sua comunidade lingüística. As comunidades desenvolvem o seu consenso sobre uma suposta natureza das coisas por meio da negociação contínua de práticas rituais e da socialização dos novos usuários dessas práticas.
O conhecimento, então, de acordo com essa epistemologia construcionista, é considerado como uma interpretação lingüística, manifesta na forma de proposições, que constituem as práticas sociais. Gergen ( in Grandesso, Marilene. 2000, p.84) afirma: “o conhecimento não é alguma coisa que as pessoas possuem em algum lugar de suas cabeças, mas algo que fazem juntas. Linguagens são, essencialmente, atividades compartilhadas”. 
 
Segundo Gergen (in Mony Elkaïn, p.229) “O construtivismo está ligado ainda à tradição do individualismo, à medida que descreve a construção do saber a partir de processos intrínsecos ao indivíduo, enquanto o construcionismo social, ao contrário, volta-se para traçar as fontes da ação humana nas relações sociais. Portanto, a relação que se estabelece entre o construtivismo e o construcionismo social é que ambos partem do pressuposto de que o saber é uma construção do espírito e se recusam a definir o conhecimento como um reflexo fiel de uma realidade, ou seja, a principal característica do construtivismo/construcionismo social é a interdependência entre o observador e o universo observado”.
Pode-se então dizer que o Construcionismo Social foi um pouco mais além, evoluiu, ampliou a idéia, do Construtivismo, levando em conta o social, as relações sociais, o intercâmbio social. 
Considero que o limite entre estes dois pressupostos é muito pequeno, na medida em que o individual e o social são interdependentes e um não se constitui sem o outro. “Se é indivíduo na medida em que se é social, e o social surge na medida em que seus componentes são indivíduos”. (Grandesso, 2000, p.160).
3.5. Alguns Pontos Básicos da Terapia Sistêmica
Após todo este resgate teórico, gostaria de estar descrevendo aqui, de que forma estes pressupostos se aplicam na prática clínica da terapia sistêmica, para isso utilizei algumas aulas dadas e principalmente o livro de Marilene Grandesso.
•	Visão de mundo e de homem: a visão de mundo é holística e/ou ecológica onde o universo é uma rede de interrelações. Nada existe se não em relação. Desse modo, o homem é parte desta rede que está em constante mudança. Nada é definitivo, tudo é relativo. Isso não inviabiliza a construção de hipóteses, porém, essas hipóteses não são vistas como verdadeiras ou falsas e podem sofrer transformações conforma mudanças na rede de interrelações. 
Então, a hipótese sistêmica engloba todos os elementos de uma situação problema e a forma como eles se ligam. Como não há uma tentativa de ver a hipótese como verdadeiras ou falsa, o que interessa é que ela possa ser útil no sentido de conduzir a novas informações que levem o sistema à mudança Há sempre vários ângulos, várias possibilidades. 
•	Globalidade: todo e qualquer sistema comporta-se como um todo coeso. Assim, uma mudança em uma parte do sistema provoca mudança em todas as outras partes e no sistema como um todo.
•	Não-somatividade: um sistema não pode ser considerado como a soma de suas partes. Esse princípio definidor implica que se considere o todo, na sua complexidade e organização, em detrimento de suas partes. A complexidade sistêmica não pode ser explicada a partir da soma de seus elementos. Contudo, qualquer mudança nas relações entre as partes constituintes de um sistema implica uma mudança no funcionamento do todo.
•	Circularidade: a interação entre os componentes de um sistema manifesta-se como uma seqüência circular, de modo que a relação entre quaisquer de seus elementos é bilateral. Dentro desse pressuposto de causalidade circular, a ordem dos fatores não altera o produto, um todo não possui começo nem fim. As partes unidas de um sistema estão em relação circular, num circuito de retroalimentação: cada pessoa afeta e é afetada pelo comportamento de outra pessoa e do contexto em que está inserido.
•	Objetividade entre parênteses: tudo que é visto, é visto através de alguém. Então não existe uma verdade única. Ela pode ser construída e desconstruída pelo grupo de observadores, pela família, pelo sistema terapêutico, criando-se espaços consensuais de inter-subjetividade.
•	Estar na relação: o terapeuta compartilha experiências de sua própria vida, com o objetivo de desmistificar o processo e reduzir a distancia profissional, quando perceber que isso é importante para o cliente no momento.
•	Sintoma: a idéia central é ver o doente, o membro sintomático como um representante circustancial, de alguma disfunção no sistema familiar (paciente referido). O sintoma é a expressão de padrões inadequados de interação no interior da família. É um movimento de sair do mal-estar em direção ao bem-estar para os membros do sistema de uma situação tida como problema. 
•	Padrão de relação: forma de se relacionar, de interagir com as pessoas, com o mundo, que se modifica permanentemente na medida em que suas idéias, crenças, valores vão se transformando como resultado de intercâmbios dialógicos. 
•	Perguntas circulares e reflexivas: interligam os fatos e os membros do sistema, ampliando a capacidade de refletir sobre si, sobre os outros, sobre o presente, o passado e o futuro. Por exemplo: o que significa essa palavra para cada um de vocês?
•	Releitura ou redefinição: ver o problema de um jeito mais possível de trabalhar. Contar a mesma história com marcações diferentes.
•	Conotação positiva: qualifica-se o esforço da família/cliente para alterar o problema, estimulando-se sua capacidade auto-organizadora.
•	Responsabilidades do terapeuta: constante responsabilidade de o cliente se responsabilizar pelo seu processo; estar em simetria não ingênua, o terapeuta está ali para ajudar na solução do problema mas isso não o coloca na posição de expert do problema do outro; acreditar na capacidade auto-reguladora do sujeito; trabalho estruturado no respeito e apreciação do outro, passando a sensação de possibilidade e esperança. Há um respeito ético pela autonomia do cliente; questionamento freqüente sobre seu próprio pensar terapêutico na aventura interminável do auto-conhecimento. 
4. CONCLUSÃO:
Escrever tudo o que pensamos, para que o outro entenda, sempre é uma tarefa difícil, parece sempre que há muitas coisas a serem ditas. 
Escrever ainda, sobre os pressupostos ou sobre a epistemologia da Teoria Sistêmica não foi uma tarefa nada simples. Cibernética de Primeira Ordem, Primeira Cibernética, Segunda Cibernética, Cibernética de Segunda Ordem, Teoria Geral dos Sistemas, Construtivismo, Construcionismo social...são termos que acabam se confundindo muito e é difícil perceber o limite de cada um, ou seja, até onde vai, onde começa, suas diferenças, suas semelhanças, sua contribuição para a teoria......
Estes termos podem nos deixar bastantesconfusos se estivermos apoiados no paradigma da ciência tradicional, em busca da verdade, de uma única verdade, do certo e do errado...o que no início acabei procurando; o termo “certo” e o significado de cada termo para poder então escrever a monografia. Após esta irrefutável tentativa, percebi que estava imbuída pelo pensamento ocidental: é isto ou aquilo, e até talvez tentando realmente buscar uma única resposta, aquela que fosse a mais científica, trazendo o próprio pensamento do mestrado. Não sendo de todo mal, pois acredito que temos que ter um referencial.
Portanto, foi quando me deparei que a própria Teoria Sistêmica faz o convite a este novo paradigma da ciência, a substituição desta forma de pensar separativista do ou-ou para um pensamento integrador e-e que não reduza as diferenças, mas sim some estas diferenças. Podemos ser Construcionistas sociais, sem deixar de sermos Construtivistas, ou, sermos Cibernéticos de Segunda Ordem sem deixar de ser de Primeira Ordem. Até porque em certos momentos, nós enquanto psicoterapêutas, podemos utilizar algumas estratégias da Cibernética de Primeira Ordem e em outros momentos trabalhar dentro da Cibernética de Segunda Ordem. Trazendo a questão da circularidade - termo da Teoria Sistêmica, A influenciando em B, assim como B influenciando em A - podemos pensar que circulamos dentro das cibernéticas, estando em determinados momentos na primeira depois vamos para a segunda e podemos ainda voltar para a primeira. 
No meu entender, tanto a Cibernética de Segunda Ordem em relação à Cibernética de Primeira Ordem e o Construcionismo Social em relação ao Construtivismo, acabaram sendo uma evolução. Não sei se poderia usar o termo evolução, pois pode passar a idéia de ser melhor, de ser superior, e não seria neste sentido que estou me referindo, pois a Cibernética de Segunda Ordem não existiria sem a Cibernética de Primeira Ordem, mas sim, no sentido de ampliação da visão de construção em cima, de acréscimo. 
Neste sentido, é que acredito ser tão difícil definir quais autores são da Cibernética de Primeira Ordem e/ou da Segunda Ordem, pois foi uma árdua tarefa delimitar quem ficou na primeira e quem foi para a segunda, encontrando pouquíssimas bibliografias que delimitassem isto e tivessem concordância entre eles. 
É grande a satisfação de estar finalizando este trabalho, pois não significa apenas o fechamento deste, mas a finalização (ou quase) desta longa jornada, com muitas alegrias, aprendizados e crescimentos, mas também com muito esforço, dedicação e frustrações, ou ainda, a grande realização de uma meta, de um propósito, de um desejo.
Neste momento é com grande alegria, e com a certeza de ter conquistado muitos aprendizados, crescimento e um novo olhar, talvez mais ampliado, que a Teoria Sistêmica me proporcionou, que agradeço á todas vocês Cris, Telma, Letícia, Noeli...e todas as amigas e pessoas que fazem parte do Movimento.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.
ELKAÏM, Mony. Panorama das terapias familiares. São Paulo: Summus, 1998, v.2.
GRANDESSO, Marilene A. Sobre a reconstrução do significado: Uma análise epistemológica e hermenêutica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
GROISMAN, Moisés. Família, trama e terapia: A responsabilidade repartida. 
 Rio de Janeiro: Objetiva, 1991, 10ªed.
McNAMEE, Sheila e GERGEN, Kenneth. A terapia como construção social. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998
RAPIZO, Rosana. Terapia sistêmica de família: Da introdução à construção. Rio de Janeiro: Instituto Noos, 1998.
VASCONCELOS, Maria José de. Anais do Iº Congresso Brasileiro de Terapia Familiar: A Cibernética como Base Epistemológica da Terapia Familiar Sistêmica. São Paulo: ed. Rosa Mª Stefanini de Macedo- PUC, 1994, v. 2. 
____________________________Terapia Familiar Sistêmica: Bases da Cibernética. São Paulo: Editorial Psy, 1995.

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