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Judith Cerqueira Faculdade Baiana de Direito e Gestão Direito Civil I Evolução histórica, pessoa natural, direitos da personalidade, morte, pessoa jurídica, domicílio e bens Direito Civil I | Judith Cerqueira Direito Civil I 1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES A relação entre direito público e direito privado é guiada de uma forma totalmente diferente da outra Dicotomia entre o público e o privado é a grande dicotomia do Direito Direito Civil é um ramo do Direito Privado Podem existir interesses privados que dizem respeito à uma coletividade Titularidade do Direito: se houver um sujeito que vise a um interesse público, então se trata do Direito Público 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Direito romano: a) Criação do Corpus Juris Civilis, por Justiniano b) Império Romano exerceu grande influencia com suas leis Código Napoleônico: a) Inaugurou a Era das Codificações b) É usado até hoje na França BGB (Código Civil Alemão): a) Influenciou o Código Civil de 2002 Direito Português: b) Ordenações Filipinas : ficaram mais tempo em vigor no Brasil do que em Portugal 3 CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO DE 1916 Teve muita influência do Código Napoleônico, apesar de nesta época o Brasil apresentar um quadro socioeconômico bem diferente da França Deu uma importância absurda à propriedade, em razão dos grupos de maior poder da época. Afinal, o poder econômico vinha dos latifundiários, que visavam a proteção de sua propriedade acima de tudo No campo contratual, a influência do Código Napolêonico é mais evidente, ao passo que existia o liberalismo econômico, e se o ser humano era livre, ele era para realizar contratos da forma que bem entendesse autonomia da vontade Campo familiar: a) Família patriarcal, formada a partir do casamento 1 Direito Civil I | Judith Cerqueira b) O homem tinha poder sob os filhos e a mulher, sendo esta, após o casamento, dada como incapaz, pois o homem passava a cuidar dos interesses da sua vida c) Apenas a esposa legitima (ou esposo) recebia a herança caso o outro viesse a falecer d) A família era dada como um fim em si mesmo, ou seja, a família não era pensada para atender os interesses dos membros da mesma. União da família a qualquer custo, sendo inexistente a ideia de divorcio Direito da Personalidade era ignorado 4 CÓDIGO CIVIL DE 2002 4.1 PROCESSO DE ELABORAÇÃO Começou a ser criado em maio de 1969, sendo que a comissão para sua elaboração foi presidida por Miguel Reale A primeira versão foi apresentada em 1972 para discussão. Em 1975 tornou-se projeto de lei O projeto de lei recebeu na Câmara dos Deputados 1.063 emendas Após ser apreciado e votado, o projeto só saiu da Câmara em 19841984: em pleno processo de redemocratização Por conta da elaboração da CF de 88, o projeto do Código acabou sendo esquecido O Código, que foi criado em 1969, não apresentava compatibilidade alguma com a CF de 88 O enfraquecimento do Código deu espaço para a criação de leis esparsas, que tratam de matérias relativas ao Direito Civil e se dirigem a destinatários específicos, mas que não estão no Código Civil. EX: Estatuto da Criança e do Adolescente; Código de Defesa do Consumidor As leis esparsas acaba criando diversos microssistemas jurídicos a) Tal momento ficou conhecido como período de descodificação, visto que o Código passa a ter menos força enquanto elemento central, afinal, inúmeras leis que dizem respeito ao Direito Civil foram criadas O trâmite legislativo do Código só foi retomado em 1995 no Senado, onde teve 331 emendas, e pra finalmente ser aprovado em 2002 Era um Código que já nascia velho 4.2 COMPARAÇÕES ENTRE O CÓDIGO DE 2002 E O DE 1916 Miguel Reale afirma que existem três princípios norteadores do Código Civil como um todo: a) 1º: Eticidade (agir com boa fé) 2 Direito Civil I | Judith Cerqueira b) 2º: Sociabilidade, que consiste na ideia de superar os valores individuais. Surge a ideia de função social c) 3º: Operabilidade, que fez com que se buscasse analisar problemas do Código anterior para que os erros não se repetissem no atual Propriedade: maior ênfase dada à função social da posse, ou seja, o proprietário passa a ter uma restrição maior quanto a liberdade para o abuso de sua propriedade Campo contratual: não se fala mais em autonomia da vontade, e sim em autonomia privada, que apresenta mais limites que a autonomia da vontade Família: a) Supera a ideia do patriarcalismo b) Famílias monoparentais c) A dissolução conjugal é dada de forma muito mais fácil d) Se um casal não possui filhos, podem ir direto ao cartório para solicitar o divórcio, não precisando passar por um juiz Responsabilidade civil: a) Envolve a questão da indenização, sendo que esta é sempre analisada em: conduta, dano e nexo causal b) No Código de 1916, a responsabilidade civil era focada em algo chamado responsabilidade civil subjetiva, que além de apresentar os três elementos, deve apresentar a culpa c) No atual Código Civil, existe tanto a responsabilidade civil subjetiva como a responsabilidade civil objetiva. Existem situações que mesmo que a pessoa não seja culpada, ela irá responder pelo dano causado d) Na responsabilidade civil objetiva, a culpa não é um fator importante 4.3 O CÓDIGO, CONSOLIDAÇÃO E ESTATUTO O Código é algo inovador (leis novas, novos artigos) e possui uma prevenção da completude de certos ramos do Direito Consolidação: a) Se refere a um único ramo do Direito b) Difere do Código no que diz respeito à inovação, uma vez que reúne as leis esparsas de uma forma mais sistematizada c) Justaposição das leis Estatuto: a) Possui em comum com o Código a característica da inovação b) O Estatuto irá escolher um determinado tema e regulamentar sobre o mesmo, nos mais diversos ramos do Direito 4.4 O CÓDIGO EM SI É dividido em duas partes: parte geral, onde trata da normativa que é aplicável a tudo do Direito Civil e irá abordar as pessoas 3 Direito Civil I | Judith Cerqueira (Livro I), os bens (Livro II), e os fatos jurídicos (Livro III). Já a parte especial trata de cada um dos subramos do Direito Civil A parte especial possui seis livros, sendo o último denominado de livro complementar Livro I (Do Direito e das obrigações); Livro II (do Direito de Empresa); Livro III (Do Direito das Coisas); Livro IV (Do Direito de Família); Livro V (Do Direito das Sucessões); Livro complementar (Das Disposições Finais e Transitórias) Estrutura básica: a) Possui artigos, parágrafos, incisos e alíneas b) Os incisos vêm em algarismos romanos e têm a função de enumerar diversas coisas c) Quando um parágrafo é acrescentado, tem a função de complementar o que está no artigo ou traz uma exceção para o artigo 5 PESSOA NATURAL 5.1 NOÇÕES GERAIS Pessoa natural X Pessoa jurídica: os dois tipos de pessoas abordados no Código Consequência de ser pessoa natural (ou física) está expresso no Art. 1º do CC: toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil Quem é pessoa, tem personalidade Tal afirmação implica que a pessoa tenha direitos de personalidade, recebendo um tratamento diferenciado 5.2 NASCITURO Mesmo que um bebê nasça e morra segundos, minutos ou horas depois, ele deve ser registrado (certidão de nascimento atestado de óbitofuneral), pois se respirou, é entendido como pessoa Porém, se nasce morto, não é compreendido como pessoa Teorias sobre a personalidade do nascituro: a) Teoria Natalista: o nascituro não possui personalidade jurídica b) Teoria Concepcionista: existem divisões para afirmar a personalidade do nascituro. Como o próprio nome afirma, o indivíduo possui direitos desde sua concepção c) Teoria da PersonalidadeCondicional: o nascituro possui personalidade, porém, esta personalidade ainda não produz efeitos, sendo dependente de uma condição Lei de Biossegurança: utilização de células troncos de embriões excedentes de inseminação artificial, para realizar pesquisas. Sofreu uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 4 Absolutamente incapazes X Relativamente Incapazes ''Art.3º: são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 anos'' Apresenta caráter protetivo Relativamente Incapazes (Art. 4º): -Maiores de dezesseis e menores de dezoito -Ébrios habituais e viciados em tóxico -Aqueles que por causa transitória ou permanente não puderam exprimir sua vontade -Os pródigos Direito Civil I | Judith Cerqueira 5.3 CAPACIDADE DE FATO E CAPACIDADE DE DIREITO (OU CAPACIDADE DE GOZO) 5.3.1 Capacidade de direito Consiste na capacidade definida pelo Art. 1º do Código Civil O simples de fato de ser pessoa já faz com que o sujeito seja capaz de titularizar direitos e deveres, sendo essa capacidade nomeada capacidade de direito ou capacidade de gozo A ideia de capacidade é qualitativa, diferenciando o ser 5.3.2 Capacidade de fato É a capacidade de exercício É avaliada para a prática de alguns atos da vida civil Os atos que são afetados por essa capacidade são usados no que envolve a vontade do sujeito, como um instrumento de criação de um dado fato jurídico Vale ressaltar que nem todas as pessoas podem praticar os atos da vida civil Os atos praticados por um indivíduo absolutamente incapaz são considerados nulos, não produzindo nenhum efeito jurídico Os relativamente incapazes necessitam de um representante, sendo o seu ato considerado anulável. Produz efeitos até que o interessado (apenas o relativamente incapaz) reclame. Vale ressaltar que o ato praticado pelo seu assistente é válido e produz efeitos Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência): alterou substancialmente a redação original dos art. 3º e 4º do CC, uma vez que limitou as hipóteses dos absolutamente incapazes a apenas os menores de 16 anos de idade. Vale ressaltar que retirou do rol dos 5 Direito Civil I | Judith Cerqueira absolutamente incapazes aqueles que possuem transtornos mentais, os tornando relativamente incapazes A lei define uma idade mínima para a prática de atos civis por conta de presumir que há uma falta de experiência ou discernimento da pessoa Antes, a maioridade era alcançada aos 21 anos, porém o Código Civil de 1916 alterou para 18 anos Um sujeito se torna um ébrio habitual ou viciado em tóxico a partir do momento em que não conseguir realizar suas atividades corriqueiras Já os pródigos são pessoas que gastam dinheiro de forma desenfreada, dissipando seu patrimônio, não restando nem o suficiente para se sustentar. Exemplos clássicos: compulsão por jogos. DESTACA-SE QUE SUA LIMITAÇÃO VALE APENAS PARA ATOS RELACIONADOS AO DESCONTROLE DO PATRIMÔNIO Pessoas com deficiência deixaram de ser dadas como absolutamente incapazes 5.4 CESSAÇÃO DAS INCAPACIDADES E A EMANCIPAÇÃO Art. 5º afirma que a incapacidade cessa aos 18 anos Vale ressaltar que tal artigo diz respeito somente aos atos civis, podendo outros ramos do Direito não serem regidos pelas regras do Código Civil. Como por exemplo, o fato de que uma pessoa de 16 anos poder votar Emancipação: a) Será concedida pelos pais, ou de um deles na falta de outro b) Prescinde da autorização do juiz, mas requer instrumento público c) Tutor: figura nomeada pelo Estado para tomar conta dos interesses do menor que se emancipou dos pais d) Curador é para maiores incapazes e) A emancipação é irretratável, ou seja, não pode ser desfeita f) Não exclui os direitos que o menor possui mas também não possibilita que exerça todos os atos da vida adulta g) Não pode tirar carteira de motorista 6 DIREITOS DA PERSONALIDADE São titularizados por todo sujeito que seja pessoa 6.1 ESBOÇO HISTÓRICO Foi atribuída a Otto Von Gierke a construção e denominação jurídica dos direitos da personalidade, a partir do século XIX Entretanto, em Roma já era existente os direitos da personalidade, mas não nos moldes que conhecemos hoje Contribuição do pensamento filosófico grego sobre os direitos da personalidade, em vista do dualismo entre o direito natural e o direito positivo 6 Direito Civil I | Judith Cerqueira Cristianismo exerceu forte influência no surgimento dos direitos humanos, em razão dos vínculos entre Deus e o homem Iluminismo 6.2 FONTES Teoria monista: afirma que existe apenas um direito da personalidade, e que este possui diversas manifestações Teoria pluralista: existem diversos direitos da personalidade, os quais seriam independentes dos demais Vale ressaltar que é mais uma expressão doutrinária do que uma aplicação do Código. O Código não adotou nenhuma das teorias 6.3 CARACTERÍSTICAS Art.11: afirma que os direitos da personalidade são intransmitiveis e irrenunciáveis Inatos – direitos prescindem de requisitos, além de nascer com vida; Inalienáveis – direitos que não podem ser alienados; Intransmissíveis – direitos que não podem ser transmitidos; Indisponíveis – não se pode abrir mão dos direitos; Imprescritíveis – não importa quanto tempo passe, você sempre pode requerer seu direito de personalidade. Extrapatrimoniais – direitos que não têm valor econômico; Vitalícios – direitos que se mantêm por toda a vida. 6.4 DIREITO AO CORPO O direito ao corpo está disposto do art. 13 ao art 15 do CC Transplante de órgãos: a) Um indivíduo, que se declarar doador de órgãos em vida, quando vier a seu falecimento, na prática, cabe a família decidir se os mesmos serão doados ou nãoart.9º da Lei nº 9.439/97, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento b) Entretanto, se um indivíduo não possui família, os seus órgãos serão doados Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001) § 1º (VETADO) § 2º (VETADO) 7 Direito Civil I | Judith Cerqueira § 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de 6.5 IMAGEM E HONRA Está prevista no Art. 20 do CC Pode se falar de imagem em dois sentidos: imagem retrato ou imagem atributo. A imagem retrato é a reprodução da imagem física do sujeito. Já a imagem atributo não é tratada como sendo algo físico, sendo o conjunto de características que são associados a uma determinada pessoa Quando se fala de honra, a doutrina também costuma trabalhar com a ideia de honra subjetiva e honra objetiva. A honra subjetiva diz respeito ao sentimento do sujeito, enquanto que a honra objetiva é algo que causa uma má impressão na sociedade a partir de um dado caso 6.6 PRIVACIDADE Envolve o nosso direito de estar só, em que nós não tenhamos contato com outras pessoas Possui, também, o sentido da não publicação de coisas de nossa vida, ou de estar em nosso espaço sem a violação de terceiros Distinção entre privacidade e intimidade: a intimidade seria algo mais nuclear da privacidade. São os aspectos que são os maissecretos de todos, porém não deixa de ser privacidade. Vale ressaltar que no que diz respeito à proteção, a intimidade ganha muito mais força que a privacidade Direito ao esquecimento: as pessoas tem direito que fatos de seu passado, não sejam fatos trazidos à tona no presente momento -Encerrada a parte de Direitos da Personalidade 7 MORTE Noções gerais: a) Está nos artigos 7º, 6º e 8º do Código Civil 8 Direito Civil I | Judith Cerqueira b) A morte também passa pelo registro civil Eutanásia, distanásia e ortotanásia a) Há eutanásia quando o médico ou outro sujeito, com a autorização da própria pessoa que vai morrer ou de algum responsável, pratica ato que causa a morte desse sujeito. No Brasil não há permissão para eutanásia, sendo a sua execução dada como homicídio. É uma intervenção para acelerar o processo de morte b) Distanásia: é o processo que envolve prolongar o acontecimento da morte; que a morte não ocorra de imediato. É condenada pelo Conselho Federal de Medicina. São atitudes invasivas, que causam sofrimento para o paciente. EX: entubar o paciente c) Ortotanásia: deixa a morte seguir seu curso natural. É recomendada pelo Conselho Federal de Medicina Morte presumida: a) Art. 7º: afirma os casos em que se terá uma morte presumida sem decretação de ausência. 1º caso: se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida b) Comoriência: quando há a morte de dois ou mais indivíduos na mesma ocasião- Art.8º. Para que dois indivíduos sejam comorientes, é preciso que tenham morrido no mesmo momento. Se for impossível a fixação do momento exato em que os indivíduos tenham falecido, presume-se que tenham morrido juntos. Neste caso, um não herda nada do outro, fazendo com que seu patrimônio seja transmitido aos outros herdeiros. Vale ressaltar que a regra da comoriência só vale se morrerem juntos parentes, sucessores recíprocos. Ex 1: se Raphel (pai) e Miguel (filho) morrem em um acidente de carro. Se o pai falecer antes de Miguel (filho), este herdará o espólio de Raphael. Entretanto, se ocorrer o inverso, Miguel nada herdará, sendo a herança de Raphael atribuída a seus pais. 7.1 AUSÊNCIA Art. 22: ausente é aquela pessoa que desaparece de seu domicilio sem deixar noticiais de seu paradeiro ou procurador ou representante para administrar seus bens A ideia é proteger o patrimônio do sujeito e evitar que este pereça, quer o indivíduo esteja vivo ou não (arts. 22 a 25) Caso a ausência seja prolongada e as possibilidades de morte aumentem, a proteção legal volta-se para os herdeiros, os quais passam a ter seus interesses considerados (arts. 25 a 38) O CC de 1916 definia o ausente como sendo absolutamente incapaz, visto que partia do pressuposto que o ausente, por ter desaparecido, possuía distúrbios mentais, e por tal motivo, poderia destruir seu patrimônio a ideia é proteger o patrimônio a qualquer custo 9 Direito Civil I | Judith Cerqueira 7.1.1 Fases da ausência 7.1.1.1Curadoria do ausente O ordenamento jurídico procura preservar os bens do ausente, na hipótese de um eventual retorno Equipara-se à morte (morte presumida) apenas para dar início ao processo de sucessão, sendo que a esposa do ausente não é considerada viúva A curadoria prolonga-se pelo período de um ano Cessa a curadoria: 1) pelo retorno do ausente; 2) pela certeza de morte do ausente; 3) pela sucessão provisória 7.1.1.2Sucessão provisória Quando a ausência é prolongada e o legislador se volta para os interesses dos herdeiros Quem pode requerer a abertura (art. 27): 1) cônjuge não separado judicialmente ou de fato por dois anos; 2) herdeiros presumidos, legítimos, os testamentários; 3) os que tiverem direito aos bens dependente da morte do ausente; 4) credores de obrigações vencidas e não pagos Os bens, ao serem entregues, possuem caráter provisório e condicional. É condicional pois os herdeiros precisam dar uma garantia da sua restituição, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos, por conta da incerteza de morte do ausente Os ascendentes, descendentes e cônjuge, uma vez provada a sua condição de herdeiro, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens (art. 30, parágrafo 2º) O ascendente, descendente ou cônjuge deverá fazer seus todos os frutos e rendimentos dos bens (ex: um imóvel do ausente que tenha sido alugado). Entretanto, os demais herdeiros deverão capitalizar metade de tais ganhos, para o caso do ausente retornar (art. 33) Possui uma duração de 180 dias para que se possa ter certeza da posse dos bens, não podendo ainda assumir tais bens. Se um dos herdeiros não oferecer a garantia, além de ser eliminado do processo, o bem irá para o outro herdeiro interessado ou na ausência deste, irá para o curador Ascendente ou cônjuge tem acesso a todos os frutos do bem; se o sujeito não tiver como dar o penhor ou a hipoteca, os bens serão administrados por outra pessoa 7.1.1.3Sucessão definitiva É a concretização da posse dos bens do ausente pelos herdeiros Motivos: quando houver certeza da morte do ausente; datados 10 anos depois de julgada a sentença que deu início a sucessão provisória; o ausente tem que ter 80 anos e 5 anos sem dar noticiais, visto que a expectativa de vida no Brasil é de 70 anos As garantias que foram feitas podem ser requeridas pelos herdeiros É declarada a morte presumida por ausência do sujeito Dissolução da sociedade conjugal (Art. 1571) 10 Direito Civil I | Judith Cerqueira a) O casamento só se dissolve por morte de um dos cônjuges ou através do divorcio b) O cônjuge do desaparecido pode requerer divorcio após dois anos da ausência de uma forma direta 8 PESSOA JURÍDICA 8.1 NOÇÕES GERAIS É um ente abstrato, não existindo uma manifestação física É proveniente de um fenômeno histórico e social, e consiste num grupo de pessoas ou bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei, para a consecução de fins comuns 8.2 NATUREZA JURÍDICA Uma das primeiras teorias, que veio da França, afirmava que a pessoa jurídica não existia. Planiol acreditava que não haveria sentido em pretender qualificar como pessoa algo diferente do ser humano Primeira teoria favorável partiu de Savigny, a chamada Teoria da Ficção, onde ainda não admite a presença da pessoa jurídica no meio social, mas para fins de Direito, deverá ser criada uma ficção Teorias Realistas: reconhece que a pessoa jurídica é uma realidade no mundo, não sendo simplesmente uma ficção a) Teoria da realidade objetiva ou orgânica (Gierke e Zitelmann): pessoa jurídica é uma realidade sociológica, ou seja, é fruto das forças sociais e possui vida própria b) Teoria da realidade jurídica ou institucionalista: as pessoas jurídicas seriam organizações sociais destinadas a um serviço ou oficio, e por isso seriam dotadas de personalidade c) Teoria da realidade técnica (usada pelo Direito brasileiro): reconhece a existência da pessoa jurídica, mas a diferencia das pessoas naturais Teoria da Equiparação: a pessoa jurídica não só existe como também é igual a pessoa natural 8.3 DIREITO DA PERSONALIDADE Quando se fala em direitos da personalidade da pessoa jurídica, há uma limitação, que consta no Art. 52 Princípio da autonomia patrimonial: confere à pessoa jurídica uma natureza distinta dos seus membros, a fim de evitar fraudes e abusos contra credores Teoria da desconsideração da personalidade jurídica: reação aos abusos praticados por terceiros que usam a pessoa jurídica como uma espécie de ‘’véu’’ para proteger os seus negócios escusos. Tal teoria permite que o juiz desconsidere o princípio de que a pessoa jurídica possui natureza distinta de seus membros,para que estes 11 Direito Civil I | Judith Cerqueira possam ter seus bens particulares atingidos, satisfazendo uma ideia de justiça. Vale ressaltar que não acarreta a dissolução da pessoa jurídica Despersonalização: diferentemente da desconsideração, irá importar na dissolução da pessoa jurídica Existem duas teorias acerca da desconsideração da personalidade jurídica: a ‘’teoria maior’’ e a ‘’teoria menor’’, sendo que a maior se subdivide em objetiva e subjetiva a) Teoria maior: prestigia a contribuição doutrinária e em que a comprovação da fraude constitui motivo para que o juiz possa ignorar a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas b) Teoria menor: o simples prejuízo do credor já é um motivo para que o a autonomia patrimonial não seja considerada. Não se preocupa em comprovar a fraude c) Teoria maior objetiva: para tal teoria, apenas a confusão patrimonial já é um motivo, sendo que só basta comprovar a existência de bens do sócio registrados em nome da sociedade e vice-versa d) Teoria maior subjetiva: é o abuso da personalidade jurídica que fundamenta tal teoria Parte dos direitos da personalidade que constam no Código Civil são inaplicáveis às pessoas jurídicas Dano moral da pessoa jurídica: é realmente um dano moral? 8.4 FUNÇÃO SOCIAL Embora existam os direitos individuais, e cada um seja livre para perseguir seus objetivos, ao buscar se realizar, o sujeito não pode fazer isso a um custo de prejudicar a sociedade Existem pessoas jurídicas que são mais poderosas que certas pessoas naturais Ex: obsolência programada 8.5 CLASSIFICAÇÃO Art.40 do CC: as pessoas jurídicas são direito público, interno ou externo, e direito privado Art.41: pessoas jurídicas do direito público interno (União; Estados Federais; autarquias; Municípios; demais entidades de caráter público criadas por lei) Mesmo sendo entes de direito público, se tiver uma organização de direito privado, as normas do Código deverão ser aplicadas Art.41: direito público externo (Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo Direito Internacional público). Ex: ONU Art.44: pessoas jurídicas de direito privado (associações; sociedades; fundações; organizações religiosas; partidos políticos; empresas individuais de responsabilidade limitada) Foco do estudo será nas associações e fundações a) Associações: pessoa jurídica criada a partir da reunião de pessoas para um objetivo que não seja o de obter lucro. É indispensável 12 Direito Civil I | Judith Cerqueira consultar o Art.54 do CC, o qual trata dos itens que devem ser informados no estatuto da associação b) Sociedades: em regra, também são formadas a partir da reunião de pessoas. Entretanto, VISA AO LUCRO c) Fundações: ao contrários das sociedades e associações, não são criadas pela reunião de pessoas. São criadas a partir da dotação de um patrimônio, ou seja, uma pessoa por um ato intervirus ou morte causa, diz que uma parte de seu patrimônio vai ser separado e vai ser destinado para a criação de uma pessoa jurídica. Não tem objetivo de lucro, existindo um rol de atividades que a fundação deve ter Organizações religiosas: possui, de certa forma, uma estrutura associativa. Contudo, deve dar conta de garantir a liberdade religiosa prevista na CF, dessa forma, não podendo criar um processo de criação de organização religiosa muito rigoroso Partidos políticos: depende de uma lei específica (9096). Possui um modelo de criação mais complicado 8.6 CRIAÇÃO Sistema do reconhecimento: para que uma pessoa jurídica passe a existir é necessário que tenha autorização estatal. Não é a regra do nosso ordenamento jurídico, mas aparece em alguns casos, ao passo que existem atividades que necessitam de uma permissão administrativa. Ex: criação de uma mineradora Sistema das disposições normativas: é a regra do nosso ordenamento. Para que a pessoa jurídica possa ser criada, deve haver um registro. Não é necessária, na maioria dos casos, a autorização estatal. Vale ressaltar que antes do registro não existe a pessoa jurídica, e para que possa ser registrada, deve atender aos requisitos Sistema das disposições gerais: art.45 e 46 do CC Diretriz normativa do Art.46: a) Denominação, fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver b) O nome e a individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores c) O modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente d) Informar se o ato constitutivo é reformável no que diz respeito à administração, e se o é, de que modo e) Se os membros respondem ou não subsidiariamente pelas obrigações sociais f) As condições de sua extinção e o destino de seu patrimônio, se for o caso 8.7 CAPACIDADE E (RE) PRESENTAÇÃO A pessoa jurídica tem a capacidade de direito, já que ela pode regularizar direitos e deveres 13 Direito Civil I | Judith Cerqueira Já a capacidade de exercício, muitos não gostam de falar em representação pois seria como se terceiros estivessem agindo pela pessoa jurídica, visto que quando um sócio esta assinando um contrato, ele é a pessoa jurídica Art.48 e 49 8.8 EXTINÇÃO Extinção convencional: se a pessoa jurídica foi criada a partir de um ato de vontade, de muitas vezes de alguns sujeitos, nada mais justo de que também, por um novo acordo, as pessoas envolvidas resolvam extinguir aquela pessoa jurídica. É a extinção espontânea por conta das partes Extinção legal: possui como motivo determinante algum fator da lei. Ex: associação que acabou ficando apenas uma pessoa, sendo extinta, afinal, uma associação é formada por diversas pessoas Extinção administrativa: acontece exclusivamente naqueles casos em que as pessoas jurídicas estão sujeitas ao regime de conhecimento. Ou seja, só irá ocorrer quando a autorização dada pelo Estado for retirada Extinção judicial: a pessoa jurídica é extinta a partir da sentença de um juiz numa sentença Seja qual for o caso de extinção, o procedimento deve ser o mesmo, e que está expresso no Art.51 do CC. Assim como o ato de criação precisa passar por um registro, também o ato de extinção necessita de um. Para que a pessoa jurídica se extinga, é necessário, primeiro, que ocorra sua liquidação, ou seja, verificar seus ativos e passivos, pagar aos credores, para só depois disso, culminar na extinção 8.9 RESPONSABILIDADE CIVIL Questões: 1) Discorra sobre as origens da pessoa jurídica; 2) Discorra sobre a questão da efetividade do processo; 3) Quais são as teorias sobre a desconsideração da personalidade jurídica presentes no ordenamento brasileiro? Elenque os dispositivos legais em que elas se apresentam, apontando, ainda, os requisitos. ; 4) Quais são as variações da desconsideração da personalidade jurídica apresentadas pela doutrina? ; 5) Como se dá o incidente de desconsideração da personalidade jurídica a partir do CPC 2015? 1) No que diz respeito à origem da pessoa jurídica, existem cinco teorias que se debruçaram sobre tal questão. A primeira encontra raízes na França e foi construída por Planiol, o qual acreditava que não havia sentido em qualificar como pessoa algo que fosse diferente. Já Savigny, com sua famosa Teoria da Ficção, afirmava que a pessoa jurídica deveria ser criada no plano do Direito, mas não admitia sua existência no meio social. A chamada Teoria Realista propagava o fato de que a pessoa jurídica é de fato uma realidade no mundo, que será complementada pela Teoria da Equiparação, ou seja, a pessoa jurídica não só existe como também é igual a pessoa 14 Direito Civil I | Judith Cerqueira natural. Entretanto, a Teoria da Realidade Técnica, mais atual, se opõe à ultima teoria mencionada, uma vezque afirma que a pessoa jurídica deverá ser diferenciada da pessoa natural, não igualada. Por mais que existam tais teorias, uma coisa é certa: a pessoa jurídica é algo abstrato, não devendo ser tratada como uma pessoa natural, afinal, ela é criada por um grupo de indivíduos que possuem um interesse em comum 2) O novo Código de Processo Civil realiza o princípio da efetividade pelo fato de seus dispositivos serem observados pelos agentes sociais, ao passo que sofreu importantes transformações, as quais são mais condizentes com a ideia de justiça da sociedade, e é mais abrangente. Além disso, torna o processo algo mais célere e oferece mecanismos para que a efetividade seja observada, seja através da materialização dos direitos fundamentais ou de uma resposta mais eficiente e justa por parte do judiciário, facilitando, assim, o acesso à justiça. 3) Teorias da desconsideração: a teoria adotada pelo nosso CC (art. 50) é a Teoria Maior Objetiva. Além dela, a Teoria Menor Objetiva, que não há a necessidade querido fazer a confusa patrimonial A teoria da desconsideração permite que o juiz, em casos de fraude e de má-fé, desconsidere o princípio que afirma a existência distinta entre pessoas jurídicas e pessoas naturais, a fim de atingir e vincular os bens particulares dos sócios A desconsideração da personalidade jurídica não deve ser confundida com a extinção da pessoa jurídica. A desconsideração é algo pontual, visto que não está fazendo com que a pessoa jurídica deixe de existir, só que para o fim daquela obrigação específica, vai haver de modo pontual a desconsideração dessa personalidade jurídica, ou seja, vai se afastar a ideia de pessoa jurídica e pessoa natural para poder atingir o patrimônio dessa pessoa natural. Para falar de desconsideração, é necessário falar de responsabilidade civil. A desconsideração só será feita num contexto em que buscou se responsabilizar alguém e a pessoa não teve bens suficientes em seu patrimônio para pagar o que devia Art. 43: afirma que o Estado irá responder pela conduta de seus agentes públicos, por mais que não sejam os culpados pela situação Responsabilidade civil objetiva Desconsideração inversa: presente no CPC de 2015 o Art. 133, parágrafo 2º. Incidente: algo que vai ser resolvido de modo acessório ao processo. Paralelamente, Intervenção de terceiros: alguém que originariamente não é parte venha a participar do processo 8.10ASSOCIAÇÕES É a reunião de pessoas que não tenham como objetivo fins econômicos Entretanto, não é por isso que uma dada associação está proibida de gerar renda, afinal, tal associação deverá pagar as contas de sua 15 Direito Civil I | Judith Cerqueira instalação, o que inevitavelmente irá gerar uma receita para o local, mas esta situação não se configura como um lucro, ao passo que a receita gerada deve ser revertida em benefícios para melhorar o funcionamento da atividade da própria associação Está prevista no CC a partir do art. 53 OAB tem uma estrutura associativa, mas é uma entidade de classe O direito associativo está constitucionalmente garantido no art.5º, VII da CF Tende a ter interesses sociais, sendo assim útil para a sociedade Criação: art. 54 Art. 5º, XX, afirma que ninguém poderá ser compelido a realizar uma associação ou nela ficar contra sua vontade liberdade associativa Assembleia Geral: é o órgão deliberante máximo. Podem possuir competências exclusivas e não exclusivas, sendo que no art. 59 do CC encontram-se suas competências exclusivas. É constituído por todos os associados, onde todos podem se manifestar e votar Competências exclusivas da Assembleia Geral: destituir os administradores e alterar o estatuto Extinção: art. 51 se aplica a toda pessoa jurídica, porém, o art. 61 diz respeito, especificamente, às associações. 8.11SOCIEDADES É constituída por meio de um contrato social e possui o objetivo de gerar lucros Sociedades empresárias: é aquela que possui como objetivo o exercício da atividade própria de empresário, o qual está voltado profissionalmente para uma atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços. É marcada pela impessoalidade, ou seja, apenas interessa o capital fornecido pelos seus membros, tendo pouca importância suas vocações pessoais Sociedades simples 8.12FUNDAÇÕES 9 DOMICÍLIO Está relacionado com a questão da ausência Art.70 do CC É o local onde sua pessoa fixa sua residência, sendo algo objetivo. Mas por outro lado há uma subjetividade na questão do animo definitivo Questão da pluralidade: ocorre quando a pessoa possui mais de uma residência e vive alternadamente entre elas. O Código, então, afirma 16 Direito Civil I | Judith Cerqueira em seu Art.71 que essas diversas residências serão consideradas como domicílio Art.73 afirma que as pessoas que não possuírem residência fixa, será considerado como sendo seu domicílio o lugar em que forem encontradas pessoas em situação de rua, ciganos, andarilhos etc Espécies a) Voluntário: pode ser geral (escolhido livremente) ou especial (domicilio é fixado perante um contrato preso. O domicilio especial pode ser fixado por um contrato (art.78 do CC) ou por uma eleição (art.11 do CPC) Domicilio da pessoa jurídica: art.75 indica os locais de domicílio da pessoa jurídica 10 BENS São os objetos do Direito. São os objetos das relações jurídicas que se formam entre os sujeitos 10.1CLASSIFICAÇÃO DOS BENS 10.1.1 Bens considerados em si mesmos 10.1.1.1 Bens móveis e imóveis Quando se trata de um bem móvel, a transferência se dá por via da tradição, ou seja, de entregar o bem. Já o bem imóvel se dá por via de um registro. Além disso, a aquisição de um bem imóvel pode ser feito, também, através de usucapião, acessão ou direito hereditário Os bens imóveis são o solo, e aquilo que for incorporado ao solo, natural ou artificialmente art.79 do CC A propriedade mobiliária pode ser adquirida, também, pelo usucapião, ocupação, achado de tesouro, especificação, confusão, comistão, adjunção Para serem alienados, hipotecados ou gravados de ônus real, os imóveis exigem a anuência do cônjuge, sendo que o mesmo não ocorre com os bens móveis (art. 1.647, I) A hipoteca pertence aos imóveis, com exceção dos navios e aeronaves (CC, art.1.473). O penhor é reservado aos móveis (art. 1.431) No Direito Penal, apenas os bens moveis podem ser objetos de furto ou roubo (CP, art. 155 e 157) Somente imóveis podem ser direito de bem de família (CC, art. 1.711) Bens imóveis: a) Imóveis por natureza: somente o solo, subsolo e o espaço aéreo são imóveis por natureza. Tudo o que se aderir ao solo são imóveis por acessão justaposição ou aderência de uma coisa à outra b) Imóveis por acessão natural: compreende as árvores e os frutos. Além disso, também compreende as pedras, os cursos de água, subterrâneos ou superficiais que corram naturalmente 17 Direito Civil I | Judith Cerqueira c) Imóveis por acessão artificial ou industrial: é tudo aquilo que é incorporado ao solo pelo homem, à exemplo das construções. d) Imóveis por determinação legal: são bens incorpóreos, imateriais que não são, em si, moveis ou imóveis, mas que o legislador assim o determina para maior segurança das relações jurídicas Os bens podem ser materiais e imateriais. Os direitos da personalidade, por exemplo, são bens imateriais, que não possuem uma manifestação física no mundo Coisas corpóreas e não incorpórea: as coisas corpóreas possuem uma forma física definida. Já as incorpóreas são Teoria do patrimônio mínimo: os bens possuem um papel importante na garantida da dignidade da pessoa humana. Ela não pretende afirmar quaissão os bens que compõem esse patrimônio mínimo, visto que os bens que o compõe vão variar em razão de dois fatores: 1) Tempo, no sentido de que o que hoje poderíamos afirmar o patrimônio mínimo de uma pessoa, certamente não seria o mesmo de uma pessoa de 50 anos atrás; 2) Fungibilidade: a ideia de substituir uma coisa pela outra. Já um bem infungível possui características que o diferencie de um dado bem que é igual a ele Consumível x Incomsumível: com o passar do tempo, a maioria dos bens irá se deteriorar. Entretanto, tem bens que o próprio uso implica em sua destruição beber agua, por exemplo. Bens indivisíveis X divisíveis: bem divisível é aquele que não pode ser fracionado, visto que irá ter suas propriedades alteradas. Já os divisíveis são aqueles que quando fracionados, não terá sua propriedade alterada. Bens singulares X Bens coletivos (arts. 89 a 91): também se classifica como bem coletivo a chamada universalidade de direito, que é ‘’o complexo de relações jurídicas de uma pessoa dotadas de bem econômico’’ (art. 91). Às vezes, alguns autores falam de bens simples e bens compostos, que não estão relacionados com a ideia de singular e coletivo. Ressalva: O bem composto é formado por várias partes, já o bem simples é uma coisa uma, ou seja, que não pode ser dividida. 10.2PATRIMÔNIO Abrange apenas o ativo e o passivo de um dado sujeito, não importando seus valores sociais, mas sim econômicos Se restringe aos bens avaliados em dinheiro Há doutrinadores que afirmam a inexistência do passivo. Entretanto, o patrimônio é a projeção econômica da personalidade, não podendo se admitir um indivíduo sem patrimônio, logo, fazendo com que este seja dotado de obrigações, ou seja, o seu lado passivo Teoria clássica ou subjetiva: o patrimônio é uma universalidade de direito, unitário e indivisível, se apresentando como uma continuação e projeção da personalidade do sujeito 18 Direito Civil I | Judith Cerqueira Teoria realista (moderna ou da afetação): o patrimônio seria constituído apenas pelo ativo e não seria unitário e indivisível, mas sim formado por vários núcleos de bens destinados a coisas especificas, ex: dote, herança, massa falimentar etc 10.3BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Principais: é aquele bem que possui existência autônoma, não dependendo de outro para concretizar-se Acessório: é aquele que depende da existência do principal São bens acessórios: a) Frutos: utilidades que a coisa principal periodicamente produz, sem diminuir sua substancia frutos que uma arvore dá. Os rendimentos consistem em frutos civis, à exemplo do aluguel, dos juros e dos dividendos b) Produtos: coisas que o objeto principal produz, entretanto, há uma diminuição perceptível em sua substância pedras e metais que se extraem das minas c) Pertenças (Art.93): objetos acessórios que são destinados a conservar e/ou facilitar o uso das coisas principais, sem que destas sejam parte integrante máquinas utilizadas em uma fábrica; implementos agrícolas; aparelhos de ar condicionado d) Benfeitorias: obra realizada pelo homem e tem como intuito embelezar, conservar ou melhorar o objeto principal. Podem ser divididas em: 1) Úteis, quando são empregadas com a finalidade de facilitar o uso do objeto principal ( novo processador para um notebook, por exemplo) ; 2) Necessárias, as quais tem como objetivo evitar a deterioração do bem principal ( troca de bateria de um carro); 2) Voluptuárias, as quais possuem apenas o objetivo de embelezar a coisa principal (adesivo em um notebook) e) Partes integrantes: quando unidos ao bem principal, formam um todo A função econômica do principal é o principal critério utilizado para distingui-lo do acessório Exceção em que o acessório domina o principal: a hipoteca é um acessório em relação à dívida garantida, porém irá prevalecer o acessório por conta da importância social adquirida pelo referido direito real de garantia A natureza do principal e do acessório é a mesma se o solo é imóvel, a árvore também o é O acessório acompanha o principal em seu destino Gravitação jurídica dos bens: afirma que o acessório acompanha o bem principal. O CC inclui a categoria da pertença mas não só o inclui como também coloca um regime jurídico diferente do acessório 19 Direito Civil I | Judith Cerqueira 10.4QUANTO AO TITULAR DE DOMÍNIO Bens públicos: são aqueles pertencentes à União, aos Estados ou Municípios a) Bens de uso comum do povo: são bens cujo uso não se restringe a uma ordem especial ou qualquer tipo de discriminação praias, estradas, ruas e praças b) Bens de uso especial: são bens que por meio de uma ordem especial, são atribuídos a uma determinada pessoa prédios onde funcionam as escolas públicas c) Bens dominicais ou dominiais: são bens que não são afetados pela utilização direta e imediata do povo, nem aos usuários de serviços, mas que pertencem ao patrimônio estatal títulos pertencentes ao Poder Público; terrenos da marinha (Praia de Inema, em Salvador, por exemplo); terras devolutas Vale ressaltar que o Art.102 proíbe o usucapião dos bens públicos Bens particulares: são definidos por exclusão, ou seja, são aqueles que não pertencem ao domínio público, mas sim a uma iniciativa privada, interessando sua regulação e disciplina ao Direito Civil 10.5BENS DE FAMÍLIA Existem dois regimes diferentes para os bens de família Está presente no CC a partir do Art.1.711 ao art.1.722 Bem de família convencional Há, além disso, outro sistema, o chamado bem de família legal, que está regulada na Lei 8.009/90 O bem de família convencional só se torna bem de família por meio de ato de vontade dos interessados A ideia do bem de família passa por uma noção que a dialoga muito com a ideia do patrimônio mínimo, pois há determinados bens que devem ser mais protegidos que outros bens Os bens de família convencionais não existem apenas no sentido estrito da coisa, abrangendo diversas coisas O bem de família convencional não revoga os bens de família legais O bem de família legal continua como tal enquanto estiver atendendo aos requisitos necessários O bem de família convencional, além de incondicional, é inalienável 20 Direito Civil I | Judith Cerqueira 21 1 Considerações preliminares 2 Evolução histórica 3 Código Civil brasileiro de 1916 4 Código Civil de 2002 4.1 Processo de elaboração 4.2 Comparações entre o Código de 2002 e o de 1916 4.3 O Código, Consolidação e Estatuto 4.4 O Código em si 5 Pessoa natural 5.1 Noções gerais 5.2 Nascituro 5.3 Capacidade de fato e capacidade de direito (ou capacidade de gozo) 5.3.1 Capacidade de direito 5.3.2 Capacidade de fato 5.4 Cessação das incapacidades e a emancipação 6 Direitos da personalidade 6.1 Esboço histórico 6.2 Fontes 6.3 Características 6.4 Direito ao corpo 6.5 Imagem e Honra 6.6 Privacidade 7 Morte 7.1 Ausência 7.1.1 Fases da ausência 7.1.1.1 Curadoria do ausente 7.1.1.2 Sucessão provisória 7.1.1.3 Sucessão definitiva 8 Pessoa jurídica 8.1 Noções gerais 8.2 Natureza jurídica 8.3 Direito da personalidade 8.4 Função social 8.5 Classificação 8.6 Criação 8.7 Capacidade e (Re) Presentação 8.8 Extinção 8.9 Responsabilidade civil 8.10 Associações 8.11 Sociedades 8.12 Fundações 9 Domicílio 10 Bens 10.1 Classificação dos bens 10.1.1 Bens considerados em si mesmos 10.1.1.1 Bens móveis e imóveis 10.2 Patrimônio 10.3 Bens reciprocamente considerados 10.4 Quanto ao titular de domínio 10.5 Bens de família
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