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APOSTILA DE PRÁTICA EMPRESARIAL

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Prática Processual Empresarial
Prática Processual 
Empresarial
Vanessa Cristina Moretti
2
Prática Processual Empresarial
SEÇÃO I – NOÇÕES BÁSICAS DE 
PRÁTICA PROCESSUAL 3
1. A DINÂMICA PROCESSUAL 3
1.1 A LIDE 3
1.2 O PROCESSO 4
1.2.1 Pressupostos processuais: capacidade 
de parte e capacidade processual 4
1.2.2 Espécies de processo 6
1.3 O PROCEDIMENTO 7
1.3.1 Procedimento Sumário 7
1.3.2 Procedimento Ordinário 7
1.3.3 Procedimentos especiais 8
SEÇÃO II - PRÁTICA PROCESSUAL 
EMPRESARIAL I 8
1. INTRODUÇÃO 8
2. O EMPRESÁRIO E O REGISTRO 9
2.1 EMPRESÁRIO 9
2.1.1 O empresário individual 9
2.1.2 A Sociedade empresária 10
2.1.3 Microempresas e empresas 
de pequeno porte 11
2.2 O REGISTRO 11
2.2.1 O registro do ruralista 12
2.2.2 O DNRC e a Junta Comercial 13
2.3 PRÁTICA JURÍDICA DO 
REGISTRO EMPRESARIAL 15
2.3.1 Mandado de segurança 15
3. SOCIEDADES EMPRESARIAIS 15
3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 15
3.2 ESPÉCIES DE SOCIEDADES EMPRESARIAIS 16
3.2.1 Sociedade em nome coletivo 16
3.2.2 Sociedade em comandita simples 17
3.2.3 Sociedade limitada 17
3.2.4 Sociedade Anônima 18
3.3 PRÁTICA JURÍDICA SOCIETÁRIA 18
3.3.1 Petição inicial de dissolução de 
sociedade cumulada com liquidação judicial 18
3.3.2 Petição inicial de retirada ou 
exclusão de sócio 19
3.3.3 Petição inicial de reparação de danos por 
ato de administrador de Sociedade Anônima. 20
SEÇÃO III - PRÁTICA PROCESSUAL 
EMPRESARIAL II 21
1. NOTA PRÉVIA 21
2. PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA 
E CONCORRÊNCIA DESLEAL 22
3. PROPRIEDADE INDUSTRIAL 25
SUMÁRIO
3.1 MARCA E NOME EMPRESARIAL 25
3.1.1 Marca 25
3.1.2 Nome empresarial 27
3.2 TÍTULO DO ESTABELECIMENTO 28
3.3 A PROPRIEDADE INTELECTUAL 28
3.4 PATENTE 28
3.5 PRÁTICA JURÍDICA DE PROTEÇÃO À 
CONCORRÊNCIA E À PROPRIEDADE INDUSTRIAL 29
3.5.1 Petição Inicial de Contrafação 
de propriedade industrial 29
3.5.2 Petição inicial de nulidade de 
marca/patente/ desenho industrial 29
4. ESTABELECIMENTO E LOCAÇÃO EMPRESARIAL 30
4.1 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL 30
4.1.1 Alienação do estabelecimento 30
4.2 PONTO EMPRESARIAL E SUA PROTEÇÃO 31
4.3 PRÁTICA JURÍDICA DE PROTEÇÃO AO 
PONTO E AO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL 32
4.3.1 Petição inicial de ação renovatória 32
SEÇÃO IV – PRÁTICA PROCESSUAL 
EMPRESARIAL III 33
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE 
RECUPERAÇÃO E FALÊNCIA 33
1.1 ORGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO 34
2. RECUPERAÇÃO JUDICIAL 35
2.1 GENERALIDADES 35
3. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 35
4. FALÊNCIA 35
4.1 GENERALIDADES 35
5. PRÁTICA JURÍDICA FALIMENTAR E 
RECUPERACIONAL 36
5.1 PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL 36
5.2 PEDIDO DE AUTOFALÊNCIA 37
5.3 PETIÇÃO INICIAL DECLARATÓRIA 
DE FALÊNCIA 37
SEÇÃO V – PRÁTICA PROCESSUAL 
EMPRESARIAL IV 37
1. NOÇÕES GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 37
2. PRÁTICA JURÍDICA CAMBIAL 38
2.1 PETIÇÃO INICIAL DE EXECUÇÃO 38
2.2 EMBARGOS A EXECUÇÃO 39
2.3 PETIÇÃO INICIAL DE CAUTELAR 
INOMINADA DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO 39
2.4 PETIÇÃO INICIAL DE REPARAÇÃO 
DE DANOS – CHEQUE PRÉ-DATADO 39
3. AÇÃO MONITÓRIA 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40
 
3
Prática Processual Empresarial
SEÇÃO I – NOÇÕES BÁSICAS DE 
PRÁTICA PROCESSUAL
1. A DINÂMICA PROCESSUAL 
1.1 A LIDE
 
Fonte da imagem: http://www.google.com.br/
url?q=http://robertodearaujocorreia.wordpress.com 
A vida em sociedade implica em um eterno ajuste de 
interesses entre as pessoas. Todos têm necessidades a 
satisfazer, no entanto quando a satisfação delas depende 
da conduta do outro nos deparamos com situação que se 
resolvem espontaneamente e outras que se transformam 
num verdadeiro conflito. 
A lide é justamente esta disputa, este conflito de 
interesses que se forma em razão de uma pretensão 
resistida, conforme conceitos clássicos de Francesco 
Carnelutti trazidos por Fernanda Tartuce, Luiz Dellore e 
Marco Aurélio Marin:
“Em suas relações jurídicas, os indivíduos 
têm interesses, posições favoráveis à satisfação 
de uma necessidade. Quando uma delas visa a 
satisfazer seu interesse e não consegue fazê-
lo pela conduta do outro envolvido, surge a 
pretensão: exigência que a outra parte se 
sujeite ao cumprimente do interesse alheio. 
A partir de tais conceitos, podemos chegar à 
clássica definição de lide: conflito de interesses 
qualificado por uma pretensão.”1 
Diante da formação da lide nasce a necessidade de 
resolução dela a fim de que não se instale o caos nas 
relações sociais. Neste sentido Fernanda Tartucce et.all.:
“A lide abala as estruturas da sociedade, 
instalando uma verdadeira crise. Diante dessa 
situação, foi e é necessário, historicamente, o 
emprego de meios que solucionem, da melhor 
forma possível, esse conflito para que a desordem 
e o caos não se instalem completamente e 
comprometam a própria manutenção e existência 
do grupo social.”2 
 
Apontamos como meios de resolução de conflitos 
a autotulela ou autodefesa permitida por lei em alguns 
casos, a mediação, a conciliação, a arbitragem nos termos 
da lei 9.307/96 e a solução jurisdicional.
Vale mencionar que atualmente há uma forte tendência 
às medidas alternativas de solução de conflito e, como 
exemplo, citamos a resolução 125 de CNJ que dispõe sobre 
a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos 
conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e 
determina a criação de Núcleos permanentes de métodos 
consensuais de solução de conflitos: 
“Art. 7. Os Tribunais deverão criar, no prazo 
de 30 dias, Núcleos Permanentes de Métodos 
Consensuais de Solução de Conflitos, compostos 
por magistrados da ativa ou aposentados e 
servidores, preferencialmente atuantes na área, 
com as seguintes atribuições, entre outras...”
Por outro lado, a Constituição Federal em seu artigo 5º, 
XXXV, garante ao indivíduo, mesmo antes de esgotadas 
as possibilidades de resolução alternativa de conflito, 
buscar a solução judicial. Estamos diante do princípio da 
inafastabilidade do controle jurisdicional que:
1 Fernanda Tartuce, Luiz Dellore, Marco Aurélio Martin. Manual de Prática Civil, 3ªed., rev., atual. e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2008, p.28.
2 Paulo Duarte. Formas de Resolução de Conflitos. Gosto de ler. Disponível em: <http://www.gostodeler.com.br/materia/14204>. Acesso em: 1 set. 2012.
4
Prática Processual Empresarial
“...assegura a todos a possibilidade de 
acesso ao Judiciário, donde, toda vez que, por 
algum motivo, o cidadão não conseguir obter, 
espontaneamente, a satisfação de um interesse, 
poderá socorrer-se do Poder Judiciário e deduzir 
pretensão.”3 
 Note-se que a autotutela só pode ser exercida em 
casos expressamente previstos em lei e assim, diante da 
proibição da vingança privada concluímos que a solução 
dos conflitos se verifica em regra por meio do Estado.
Sabemos que o Estado, entretanto, é inerte e precisa 
da provocação da parte para iniciar sua atuação. A 
instrumentalização deste direito de ação acontece através 
do processo.
1.2 O PROCESSO
É através do processo que o Estado, após a provocação 
da parte, inicia sua atuação para sanar a situação 
conflituosa. O processo é o meio pelo qual se exerce o 
direito a tutela jurisdicional.
 
Fonte da imagem: http://www.reporternews.
com.br/noticia.php?cod=312155 
Nas lições de Candido Rangel Dinamarco:
“Processo é uma série de atos interligados 
e coordenados ao objetivo de produzir a tutela 
jurisdicional justa, a serem realizados no exercício 
de poderes ou faculdades ou emcumprimento a 
deveres ou ônus.”4 
Conforme a pretensão que o autor busca satisfazer, 
o legislador disponibilizou três espécies de processo 
para a solução do litígio: de conhecimento, de execução 
e cautelar. Neste passo é o entendimento de Fernanda 
Tartuce et. all.:
 
 “Há três tipos de processo, conforme o tipo 
de prestação jurisdicional pedida pelo autor, 
ao exercer o direito de ação: processo de 
conhecimento, de execução e cautelar.”5 
Imperioso mencionar, no entanto, que o conhecimento 
da demanda pelo judiciário exige o preenchimento de 
certos requisitos de admissibilidade, quais sejam: os 
pressupostos processuais e as condições da ação.
Entendemos ser de grande relevância o tratamento 
dos pressupostos processuais mesmo que em apertada 
síntese, pois são eles os requisitos necessários para o 
desenvolvimento válido e regular do processo. 
1.2.1 Pressupostos processuais: capacidade de 
parte e capacidade processual
 O processo deve preencher certos requisitos para 
que possa se desenvolver de forma válida e regular. 
São requisitos de existência e validade chamados de 
pressupostos processuais, quais sejam: “o órgão julgador 
competente e imparcial, a petição inicial tecnicamente 
formulada, a citação do réu e a capacidade das partes.”6 
Dentre os mencionados acima, trataremos da 
capacidade das partes lembrando que tal pressuposto 
decorre da capacidade de direito prevista no artigo 1º 
Código Civil. 
“Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e 
deveres na ordem civil.”
3 Andréa Presas Rocha. Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional (direito de ação). Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2497, 3 maio 2010. Disponível em: 
<http://jus.com.br/revista/texto/14788>. Acesso em: 1 set. 2012.
4 Cândido Rangel Dinamarco. Instituições de direito processual civil. 2ª ed., São Paulo: Malheiros, v. 2, 2002. p. 25.
5 Fernanda Tartuce, Luiz Dellore, Marco Aurélio Martin. Manual de Prática Civil, 3ªed., rev., atual. e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2008, p.30.
6 Fernanda Tartuce, Luiz Dellore, Marco Aurélio Martin. Manual de Prática Civil, 3ªed., rev., atual. e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2008, p.53.
5
Prática Processual Empresarial
No Brasil podem figurar como parte as pessoas físicas, 
jurídicas, bem como a massa falida e o condomínio que 
são entes despersonalizados. 
No que tange a capacidade de ser parte e o empresário 
individual, oportuno citar o entendimento de Alessandro 
Sanchez:
“O registro demonstra apenas o início da 
atividade empresarial, sendo que mesmo antes 
de se falar em registro, devemos falar em 
capacidade de direito, pois responderá pelos 
atos empresariais em nome próprio, em vista da 
atividade empresarial que eventualmente tenha 
iniciado antes do registro.”7 
Depreende-se do entendimento acima esposado que 
tendo em vista que o empresário individual (excluindo-se o 
EIRELI) exerce a atividade empresarial em nome próprio, 
responderá pelos atos praticados inclusive podendo ser 
parte na demanda. 
A capacidade processual é a aptidão para estar em 
juízo sem o auxílio de outrem, ou seja, a aptidão pessoal 
para o exercício de direitos e obrigações processuais. 
Ainda conforme Sanchez no que se refere à capacidade 
para estar em juízo dos empresários individuais:
“Obtendo o registro empresarial, em regra, 
além da capacidade de direito, o empresário 
individual adquire não somente capacidade para 
ser parte, mas também capacidade de agir e 
naturalmente capacidade para estar em juízo.”8 
Já em se tratando da capacidade para estar em juízo 
das pessoas jurídicas é importante destacar que elas 
atuam, são representadas pelas pessoas naturais.
Assim como ocorre com a capacidade para ser 
parte, têm capacidade processual também alguns entes 
despersonificados, tais como condomínio, a massa falida, 
o espólio, as sociedades despersonificadas, entre outros.
O maior critério de classificação das sociedades é 
aquele que trata da personificação jurídica. 
As sociedades contratuais ou institucionais têm o início 
de sua personalidade jurídica a partir do registro. As 
sociedades empresárias arquivam seus atos constitutivos 
no Registro Público de Empresas Mercantis e as sociedades 
simples matriculam-se no Cartório de Registro das Pessoas 
Jurídicas.
O artigo 12, em seu inciso VI, trata das 
pessoas jurídicas regularmente constituídas, ou 
seja, dos entes personificados. Senão vejamos:
“Art. 12. Serão representados em juízo, ativa 
e passivamente:
...
VI - as pessoas jurídicas, por quem os 
respectivos estatutos designarem, ou, não os 
designando, por seus diretores;
...”
Para Alessandro Sanchez “a pessoa jurídica 
regularmente constituída possui capacidade processual, 
porém, fica impossibilitada de estar em juízo a não ser 
representada pelas pessoas naturais que o seu contrato 
ou estatuto designa”9 
 
Além do tratamento às sociedades personificadas, o 
artigo 12, VII do Código Civil trata da representação das 
sociedades despersonificadas que se verificará por meio 
da pessoa a quem couber a administração de seus bens.
7 Alessandro Sanchez. Prática Jurídica Empresarial. São Paulo: Atlas, 2009, p.1.
8 Alessandro Sanchez. Prática Jurídica Empresarial. São Paulo: Atlas, 2009, p.3.
9 Alessandro Sanchez. Prática Jurídica Empresarial. São Paulo: Atlas, 2009, p.5.
6
Prática Processual Empresarial
Apesar de obrigatório o registro do empresário, 
conforme artigo 967 do Código Civil, algumas sociedades 
não possuem ato constitutivo ou este não é registrado no 
Registro Público de Empresas Mercantis. São as sociedades 
comuns aquelas que são assim classificadas porque ainda 
não foram registradas, embora haja intenção disso mais 
adiante, ou aquelas que por opção dos sócios de não 
registrar sua atividade. 
Neste tipo societário há o patrimônio especial que 
tem por titular todos os sócios e que deverá ser esgotado 
antes do patrimônio deles em caso de cobrança de dívidas. 
Conforme Enunciado 210 do CJF:
“O patrimônio especial a que se refere o art. 
988 é aquele afetado ao exercício da atividade, 
garantidor de terceiro, e de titularidade dos 
sócios em comum, em face da ausência de 
personalidade jurídica.”
Ainda com relação às sociedades despersonificadas, 
temos a sociedade em conta de participação prevista no 
artigo 991 do Código Civil. 
Neste tipo de sociedade temos a presença do sócio 
ostensivo que a administra e em nome de quem ela é 
exercida. Na sociedade em conta de participação o ato 
constitutivo, ainda que levado a registro, não conferirá 
personalidade jurídica.
 
“Art. 993. O contrato social produz efeito 
somente entre os sócios, e a eventual inscrição 
de seu instrumento em qualquer registro não 
confere personalidade jurídica à sociedade.”
O sócio ostensivo é quem suporta as ações já que ele 
é o único que se obriga perante terceiros, tendo em vista 
que o sócio participante é apenas investidor.
1.2.2 Espécies de processo
Conforme já dissemos, o legislador disponibilizou três 
tipos de processo que são definidos com base na finalidade 
almejada pelo autor da pretensão resistida. São o processo 
de conhecimento, o de execução e o cautelar.
O processo de conhecimento também chamado 
cognitivo é aquele por meio do qual se verifica a existência 
ou não do direito pretendido no caso concreto. Este 
processo pode ser meramente declaratório, constitutivo 
ou condenatório.
No processo de execução o autor busca a satisfação 
de seu crédito representada por um título executivo. Vale 
destacar que após a alteração trazida pela lei 11.232/05, 
tal título será necessariamenteum título extrajudicial, pois 
a execução de título judicial agora é parte do processo de 
execução, perdendo a autonomia que lhe era peculiar.
O processo cautelar é aquele utilizado pela parte em 
situações de urgência para evitar algum dano que possa 
prejudicar sua pretensão no deslinde de outro processo. 
A autora Elisabete Vido em sua obra Prática Empresarial, 
de maneira muito objetiva e didática arremata:
“No processo de conhecimento, o autor 
busca a certeza sobre uma determinada relação 
jurídica, a constituição ou desconstituição de 
uma relação jurídica ou, ainda, a condenação do 
réu.
No processo de execução, o autor busca a 
satisfação de um título que a lei elevou à condição 
de título executivo extrajudicial (lembrando que 
não existe mais execução de título judicial, já que 
a execução de um processo de conhecimento é 
realizada por meio do cumprimento de sentença, 
no qual o juiz fixa no corpo da sentença o prazo 
para que o réu cumpra o consignado no título 
judicial).
No processo cautelar, o objetivo do autor é 
assegurar a efetividade de outro processo, das 
provas ou das pessoas envolvidas(por esse 
motivo, é sempre incidental ou preparatório 
7
Prática Processual Empresarial
do processo de execução ou do processo de 
conhecimento).”10 
1.3 O PROCEDIMENTO
Apesar de etimologicamente não haver diferença entre 
processo e procedimento que vêm do latim pro cedere 
(“caminhar para frente”), para a doutrina ambos não se 
confundem. Senão vejamos:
O prestigiado autor Luiz Rodrigues Wambier entende 
que a distinção entre processo e procedimento é que o 
primeiro tem cunho finalístico.11 
Na visão de Alexandre Freitas Câmara, “o processo é 
uma entidade complexa, de que o procedimento é um dos 
elementos formadores”.12 
Fernada Tartuce, Luiz Dellore, Marco Aurélio Martin 
entendem que “a forma material pela qual o processo se 
verifica, por meio de uma sequência de atos processuais, 
é denominada procedimento.”13 
Processo é o instrumento para o exercício do direito de 
ação e procedimento é a maneira como este instrumento 
se manifesta.
De maneira breve relembraremos agora os 
procedimentos sumário, ordinário e os procedimentos 
especiais.
1.3.1 Procedimento Sumário
Como já sabemos o processo de conhecimento pode 
seguir pelo procedimento comum ou pelo especial.
O procedimento comum pode ser sumário ou ordinário, 
sendo certo que o primeiro se aplica às causas cujo valor 
não ultrapasse sessenta salários mínimos, conforme artigo 
275 do CPC e o ordinário àquelas em que não se aplicam 
o sumário e nem os procedimentos especiais. 
O procedimento comum é mais rápido, mais enxuto, 
de tal forma que não é possível em sua estrutura a 
intervenção de terceiros, com exceção da assistência, 
recurso de terceiros interessados, denunciação da lide em 
casos de seguro, conforme se depreende da leitura do 
artigo 280 do CPC:
“Art. 280. No procedimento sumário não são 
admissíveis a ação declaratória incidental e a 
intervenção de terceiros, salvo a assistência, o 
recurso de terceiro prejudicado e a intervenção 
fundada em contrato de seguro.” 
1.3.2 Procedimento Ordinário
O procedimento ordinário é o mais amplio e, como 
já dissemos, tem aplicação residual e subsidiária. Tal 
procedimento se divide em quatro fases, conforme a Profa. 
Elisabete Vido, a saber:
“1ª Fase Postulatória(que compreende a 
petição inicial, a citação do réu e as defesas do 
réu);
2ª Fase Saneadora(que compreende o 
período no qual o juiz determina as providencias 
preliminares, aprecia as nulidades, realiza a 
audiência preliminar e profere o ‘despacho 
saneador’);
3ª Fase Instrutória(que se destina à atividade 
probatória iniciada na petição inicial e que tem 
seu fim na audiência de instrução);
4ª Fase Decisória(em que o juiz profere a 
sentença).”14 
11 Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Tlamini. Curso Avançado de processo civil. 12ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, v.1.
12 Alexandre Freitas Câmara. Lições de direito processual civil. 23ª ed. São Paulo: Atlas. São Paulo: Atlas, 2012, v.1
13 Fernanda Tartuce, Luiz Dellore, Marco Aurélio Martin. Manual de Prática Civil. 3ªed., rev., atual. e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2008, p. 30
14 Elisabete Teixeira Vido dos Santos. Prática Empresarial. 3ªed., rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. Coleção Prática Forense, v.5, p.137.
8
Prática Processual Empresarial
1.3.3 Procedimentos especiais
Os procedimentos especiais são assim denominados 
porque possuem características diferentes do procedimento 
ordinário. Tais procedimentos estão previstos no artigo 
890 e seguintes do CPC, bem como em leis especiais.
Dentre os procedimentos especiais há aqueles que não 
dizem respeito ao direito empresarial, desta feita, no nosso 
estudo se restringirá àqueles de matéria empresarial que 
serão abordados em momento oportuno.
 Neste primeiro momento relembramos alguns conceitos 
do direito processual civil de extrema importância para o 
estudo da prática processual empresarial que é o objeto 
de nosso estudo.
Ao longo de nossa disciplina abordaremos a estrutura 
de cada ação, trazendo as principais informações sobre 
sua elaboração diante de cada processo e procedimento.
Daremos início na próxima seção ao tratamento das 
ações anulatórias em vista do registro.
SEÇÃO II - PRÁTICA PROCESSUAL 
EMPRESARIAL I 
1. INTRODUÇÃO
O Código Civil de 2002, entre outras inovações, trouxe 
em seu artigo 966 a caracterização da figura do empresário, 
inaugurando no Brasil a chamada Teoria da Empresa que 
abandonou por completo a Teoria dos Atos de Comércio 
do Código Comercial de 1850.
Fonte da Imagem: http://www.affectum.com.br/ 
Percebemos neste momento histórico, a inclusão no 
texto da lei civilista da maior parte das regras pertinentes 
à empresa, fato este que reacendeu inúmeras inquietudes 
em parte da doutrina brasileira sobre a unificação do 
direito privado. 
No entanto, tal posicionamento não se sustentou. A 
unificação formal legislativa nada tem haver com o aspecto 
substancial de cada ramo do direito. 
Há que se observar, além da junção formal no mesmo 
códex, o objeto e os princípios norteadores de cada ramo. 
Neste sentido é o entendimento de Vera Helena Mello 
Franco:
“A tese da perda de autonomia do direito 
comercial decorrente do processo de unificação 
legislativa do direito brasileiro, felizmente não 
vingou. Afinal, o fenômeno econômico, objeto 
da disciplina do direito comercial e de suas 
normas, têm exigências técnicas e econômicas 
particulares que pressupõem uma organização 
própria e normas específicas de atuação”.15 
 
No livro II da lei 10.406 de 2002 não apenas o 
empresário e seus elementos caracterizadores foram 
abordados, mas também as obrigações inerentes ao 
sujeito do direito empresarial, tais como a necessidade de 
sua inscrição no registro de empresas mercantis, conforme 
preconiza o artigo 967 do mencionado dispositivo legal.
“Art. 967. É obrigatória a inscrição do 
empresário no Registro Público de Empresas 
Mercantis da respectiva sede, antes do início de 
sua atividade.”
A seguir faremos uma abordagem mais profunda sobre 
o registro do empresário e para tanto, necessário se faz 
uma breve explanação do conceito de empresário e suas 
obrigações.
15 Vera Helena Mello Franco. Manual de direito Comercial. 2ªed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.33.
9
Prática Processual Empresarial
2. O EMPRESÁRIO E O REGISTRO
Não há como abordar a regularização da atividade 
empresária, sem tratar do sujeito desta atividade trazido 
pela teoria daempresa incorporada na legislação brasileira 
pelo Código Civil em 2002. 
2.1 EMPRESÁRIO
A teoria traz como principal característica o conceito 
de empresário, antes denominado comerciante. Aquele 
que se encaixar nas características trazidas pela lei civilista 
em seu artigo 966 e não for impedido legalmente, será 
considerado empresário.
Vale destacar que o artigo em comento não elencou 
o registro como elemento caracterizador do empresário. 
Esta obrigação apenas regulariza situação já existente, 
qual seja a existência da figura do empresário.
Tendo em vista que estudaremos a diante mais 
detidamente o registro, deixaremos para a ocasião os 
comentários sobre a sua natureza.
Mas quem é o empresário?
O empresário é o sujeito que exerce a empresa, que 
como já sabemos, é “atividade econômica organizada para 
produção e circulação de bens ou serviços.”16 
No entanto, para que seja caracterizado o sujeito da 
atividade empresarial, necessário se faz a junção de outros 
requisitos. 
Neste momento, percebemos uma divergência 
doutrinária que Marlon Tomazette apresenta de forma 
sucinta em sua obra Curso de direito empresarial e que 
agora transcrevemos:
“Asquini, além da condição de sujeito de direito, 
destaca a atividade econômica organizada, a 
finalidade de produção para o comércio de bens 
e serviços e a profissionalidade. Giampaolo dalle 
Vedove, Francesco Ferrara Junior e Francesco 
Galgano não destoam da orientação de Asquini, 
destacando a organização, a economicidade da 
atividade e a profissionalidade.
Remo Fransceschelle indica como elementos 
do empresário a produção para o mercado, a 
organização e o fato do empresário suportar 
o risco do empreendimento, como elementos 
essenciais do conceito. Tullio Ascarelli destaca 
os elementos do próprio conceito legal, a 
atividade econômica organizada, exercida 
profissionalmente e dirigida à produção ou 
circulação de bens ou serviços.”17 
Assim, temos que os elementos caracterizadores de 
empresário são o exercício de uma atividade de natureza 
econômica, organizada, com profissionalismo e a finalidade 
de produção ou circulação de bens ou de serviços.
2.1.1 O empresário individual
Empresário individual é aquele que desenvolve 
atividade econômica organizada para produção ou 
a circulação de bens ou serviços em nome próprio, 
isoladamente, assumindo todos os riscos da atividade. Ou 
seja, empresário individual é aquele que exerce atividade 
descrita pelo art. 966, e que tenha plena capacidade civil 
(maior de 18 anos e que esteja em plenas condições 
mentais).
Os incapazes (menores de 18 anos, não emancipados e 
os incapacitados) deverão ser representados ou assistidos.
Além disso, é preciso que não haja nenhum impedimento 
legal ao desenvolvimento dessa atividade. São impedidos 
de exercer a atividade empresarial os leiloeiros e 
corretores; os falidos, não reabilitados; servidores 
públicos e militares na ativa; magistrados e membros do 
16 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito comercial: direito empresarial. 6ªed. São Paulo: Saraiva, 2002, v.1, p.19.
17 Marlon Tomazette. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 2ªed. São Paulo: Atlas, 2009, v.1, p 43.
10
Prática Processual Empresarial
Ministério Público; deputados e senadores (art.54,II,CF); 
vereadores(art.29,IX,CF), médicos, no exercício simultâneo 
de farmácia e drogaria e estrangeiros e sociedades sem 
sede no Brasil para algumas atividades(arts.176 e 222, 
CF). 
Entretanto, conforme dispõe o artigo 973 do Código 
Civil, aquele que exercer atividade empresarial estando 
impedido responderá por todas as obrigações contraídas.
Quanto ao empresário individual, cabe uma breve 
explanação sobre a EIRELI- Empresa individual de 
responsabilidade limitada, alteração trazida pela lei 
12.441/11 ao artigo 980 do Código civil, observemos:
“Art. 980-A. A empresa individual de 
responsabilidade limitada será constituída por 
uma única pessoa titular da totalidade do capital 
social, devidamente integralizado, que não será 
inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-
mínimo vigente no País.” 
 
A empresa individual de responsabilidade limitada é 
pessoa jurídica formada por uma única pessoa, um único 
sócio, que detém a totalidade do capital social. O capital 
social da EIRELI deve ser integralizado na instituição 
da empresa e no montante de no mínimo 100 salários 
mínimos.
A utilização da expressão “EIRELI” no nome empresarial, 
ao final da firma ou da denominação social (para diferenciá-
la das demais empresas) é imprescindível e há limitação 
à participação de cada pessoa em apenas uma EIRELI. 
Quem for sócio de uma EIRELI pode ter outras empresas 
individuais ou ser sócio em empresas de outras espécies, 
não mais de EIRELI.
As características e requisitos apresentados acima não 
causam discussões ou entraves na doutrina, porém quando 
o assunto é composição da EIRELI nos deparamos com 
muita divergência. Afinal a EIRELI pode ser constituída 
apenas por pessoa natural?
Ao admitir que apenas as pessoas naturais podem 
constituí-la, no direito brasileiro a única forma de sociedade 
unipessoal continua sendo a subsidiária integral, de acordo 
com o art. 251 da Lei nº 6.404/76 (Lei das S/A). 
Por outra banda, se for admitido que a EIRELI seja 
formada por uma pessoa jurídica, ela poderá ser tanto 
um empresário individual (se o seu único sócio for pessoa 
natural) quanto uma sociedade empresária unipessoal (se 
composta por uma pessoa jurídica). 
2.1.2 A Sociedade empresária
A sociedade empresária é pessoa jurídica que se forma 
por meio de um contrato entre duas ou mais pessoas, que 
se obrigam a conjugar esforços e recursos para atingir fins 
comuns.
Conforme os ensinamentos de Waldo Fazzio Júnior:
“Identifica-se como sociedade empresária a 
pessoa jurídica de direito privado, implementada 
por um contrato, cujo objeto social é a 
exploração de atividade empresarial, ou que, 
independentemente de seu objeto, adota a 
forma societária por ações.”18 
O nascimento de uma sociedade legalizada se dá 
pela inscrição no registro competente: a junta comercial, 
18 Waldo Fazzio Júnior, Manual de direito comercial, 13ªed. São Paulo: Atlas, p.112.
11
Prática Processual Empresarial
o cartório de registro civil de pessoas jurídicas e a OAB 
(sociedade de advogados). O registro das sociedades 
confere a elas personalidade jurídica.
Assim temos que as sociedades se dividem em duas 
grandes classes: as sociedades não personificadas e as 
sociedades personificadas.
As sociedades despersonificadas são aquelas que não 
têm registro e, portanto, não possuem personalidade 
jurídica. São as sociedadescomuns e as sociedades em 
conta de participação.
Por outro lado, as sociedades personificadas são 
aquelas dotadas de personalidade jurídica adquirida, como 
já dissemos, por meio do registro. São elas: as sociedades 
simples, a sociedade em nome coletivo, a sociedade em 
comandita simples, a sociedade limitada, a sociedade 
anônima, a comandita por ações e a cooperativa.
2.1.3 Microempresas e empresas de pequeno 
porte
A Lei Complementar 123/2006 instituiu o Novo Estatuto 
Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno 
Porte e considera como microempresário aquele que 
aufere receita bruta de até R$ 360.000,00 por ano e como 
pequeno empresário aquele cujo faturamento bruto anual 
seja maior a R$360.000,00 e até R$3.600.000,00 por ano.
Ambos podem ser empresário individual, EIRELI, 
sociedade empresária ou sociedade simples devidamente 
registrados no Registro de empresas Mercantis ou no 
registro civil de pessoas jurídicas,conforme dispõe o art.3º 
da Lei 123/2006:
“Art. 3º Para os efeitos desta Lei 
Complementar, consideram-se microempresas 
ou empresas de pequeno porte a sociedade 
empresária, a sociedade simples, a empresa 
individual de responsabilidade limitada e o 
empresário a que se refere o art. 966 da Lei 
nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código 
Civil), devidamente registrados no Registro 
de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de 
Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: 
(Redação dada pela Lei Complementar nº 139, 
de 10 de novembro de 2011) (Produção de 
efeitos – vide art. 7º da Lei Complementar nº 
139, de 2011)...”
O legislador constitucional no artigo 179 garantiu 
tratamento favorecido simplificado à microempresa e a 
empresa de pequeno por entender que ambas seriam um 
estímulo ao desenvolvimento econômico. Assim, a ME e a 
EPP gozam de privilégios registrários, trabalhistas, fiscais 
e previdenciários, além de condições mais favoráveis 
relativamente ao seu acesso a certames licitatórios e aos 
mercados de créditos e capitais entre outros.
2.2 O REGISTRO
Conforme já sabemos, o registro é uma das principais 
obrigações do empresário que deverá se realizar conforme 
a lei 8.934/94 que regulamenta o registro público de 
empresas mercantis e atividades afins.
O Código Civil no artigo 1.150 também trata do 
registro, dispondo que os empresários se vinculam ao 
registro público de empresas mercantis por meio das 
juntas comerciais, a quem é atribuída à função de realizar 
efetivamente o registro. Vejamos:
Art. 1.150. O empresário e a sociedade 
empresária vinculam-se ao Registro Público 
de Empresas Mercantis a cargo das Juntas 
Comerciais, e a sociedade simples ao Registro 
Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá 
obedecer às normas fixadas para aquele registro, 
se a sociedade simples adotar um dos tipos de 
sociedade empresária.
 
Fonte da Imagem: http://www.folhavitoria.com.br/economia/noticia/ 
12
Prática Processual Empresarial
O registro se faz necessário para garantir a divulgação 
da intenção de se desenvolver a atividade empresária. Nas 
lições de Gladston Mamede(2009:64) “com o registro, ele 
exteriorizou o intuito empresário, a intenção de empresa: 
disse do seu horizonte que é estabelecer, ainda, que passo 
a passo, uma atividade econômica organizada, por mais 
que ínfima em seu nascedouro.”
O registro mercantil tem como função principal declarar 
a existência do empresário (no caso dos ruralistas, 
constituir na condição de empresários), no entanto 
funciona também como forma de guardar, manter as 
informações importantes sobre ele. 
É através do registro que se mantêm a segurança nas 
relações interindividuais, haja vista o artigo 1º da lei de 
Registro Público de Empresas Mercantis.
“Art 1.150 ...
I - dar garantia, publicidade, autenticidade, 
segurança e eficácia aos atos jurídicos das 
empresas mercantis, submetidos a registro na 
forma desta Lei;
...”
Vale mencionar que quanto ao registro do micro e 
pequeno empresário, cujas características já foram acima 
citadas, é preciso que tal condição seja comunicada a 
junta comercial por meio de declaração de microempresa 
ou de empresa de pequeno porte.
2.2.1 O registro do ruralista
São muito comuns no Brasil empreendimentos 
familiares e mais ainda empreendimentos rurais familiares. 
Alguns, no entanto, tiveram seu início como uma pequena 
atividade desenvolvida da propriedade da família e depois 
se transformaram em grandes empreendimentos chegando 
até ao mercado externo. 
Com vistas a esta característica do mercado nacional, 
o legislador civilista possibilitou a equiparação destes 
produtores a empresários se assim desejarem. 
Art. 971. O empresário, cuja atividade 
rural constitua sua principal profissão, pode, 
observadas as formalidades de que tratam o 
art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição 
no Registro Público de Empresas Mercantis da 
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, 
ficará equiparado, para todos os efeitos, ao 
empresário sujeito a registro.(grifo nosso)
Conforme observamos da leitura da norma, há uma 
faculdade ao ruralista e não uma obrigatoriedade como 
para os empresários.
Desta feita, enquanto o registro do empresário 
caracterizado pelo art. 966 CC tem natureza declaratória, 
o registro daqueles que desenvolvem atividade rural tem 
natureza constitutiva. Senão vejamos:
“Enunciado nº 202: - O registro do empresário 
ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo 
e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao 
regime jurídico empresarial. É inaplicável esse 
regime ao empresário ou sociedade rural que 
não exercer tal opção. (Enunciado Aprovado na 
III Jornada de Direito Civil do - CEJ da CJF).” 
 
Assim, apenas diante da opção pelo registro, o ruralista 
se equipara ao empresário em todos os direitos e deveres 
e neste sentido é o entendimento dos Tribunais:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. 
TRIBUTÁRIO. SALÁRIO-EDUCAÇÃO. PRODUTOR 
RURAL PESSOA FÍSICA. INEXIGIBILIDADE DA 
EXAÇÃO. 
1. A orientação das Turmas que integram a 
Primeira Seção/STJ firmou-se no sentido de que 
a contribuição para o salário-educação somente 
é devida pelas empresas em geral e pelas 
entidades públicas e privadas vinculadas ao 
13
Prática Processual Empresarial
Regime Geral da Previdência Social, entendendo-
se como tais, para fins de incidência, qualquer 
firma individual ou sociedade que assuma o risco 
de atividade econômica, urbana ou rural, com 
fins lucrativos ou não, conforme estabelece o 
art. 15 da Lei 9.424/96, c/c o art. 2º do Decreto 
6.003/2006.
2. Assim, “a contribuição para o salário-
educação tem como sujeito passivo as empresas, 
assim entendidas as firmas individuais ou 
sociedades que assumam o risco de atividade 
econômica, urbana ou rural, com fins lucrativos 
ou não” (REsp 1.162.307/RJ, 1ª Seção, Rel. Min. 
Luiz Fux, DJe de 3.12.2010 - recurso submetido 
à sistemática prevista no art. 543-C do CPC), 
razão pela qual o produtor rural pessoa física, 
desprovido de registro no Cadastro Nacional 
de Pessoa Jurídica (CNPJ), não se enquadra 
no conceito de empresa (firma individual ou 
sociedade), para fins de incidência da contribuição 
para o salário educação.Nesse sentido: REsp 
711.166/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, 
DJ de 16.05.2006; REsp 842.781/RS, 1ª Turma, 
Rel. Min. Denise Arruda, DJ de 10.12.2007.
3. Recurso especial provido.19 
2.2.2 O DNRC e a Junta Comercial
O sistema do registro de empresas se organiza a partir 
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio 
Exterior, por meio de seu órgão Departamento Nacional de 
Registro do Comércio - DNRC.
Ao DNRC compete normatizar, supervisionar e 
controlar o registro de empresas que é efetivamente 
executado pelas Juntas Comerciais que apenas analisam 
os aspectos formais concernentes aos serviços de registro, 
estando impedida da análise do mérito dos atos postos a 
arquivamento, bem como de interferência no que tange as 
questões envolvendo sócios ou acionistas.
Neste sentido já decidiu o STJ:
“a junta comercial não cuida de examinar 
eventual comportamento irregular de sócio, 
motivador de sua exclusão, devendo limitar-
se ao exame das formalidades necessárias 
ao arquivamento” Resp 151.838/PE, Relator 
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.
Por outro lado, ao Judiciário compete o exame do 
mérito no que se refere ao registro. Entretanto, a celeuma 
gira em torno do foro competente para o ingresso de ações 
desta natureza.
Sabemos que no que tange a matéria comercial 
a competência legislativa é da União,enquanto que 
a organização do serviço das Juntas Comerciais é de 
competência dos Estados e do Distrito Federal.
No entanto, a questão é tormentosa na doutrina e na 
jurisprudência, senão vejamos:
Marlon Tomazette em sua o obra Curso de Direito 
Empresarial trata da questão e arremata:
“O STJ entende que nas questões relativas 
à matéria comercial em si, o foro competente 
é a Justiça Federal, uma vez que as juntas 
comerciais efetuam o registro do comércio por 
delegação federal. Entretanto, no que tange às 
questões do funcionamento interno da Junta e a 
sua administração, a competência será da justiça 
comum estadual.”20 
Assim também é o entendimento de Fábio Ulhoa 
Coelho:
19 REsp. 1242636 / SC RECURSO ESPECIAL 2011/0054205-5, Relator(a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141), Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA Data do 
Julgamento 06/12/2011 Data da Publicação/Fonte DJe 13/12/2011, RB vol. 579 p. 64, disponível em http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia 
20 Marlon Tomazette. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 2ªed. São Paulo: Atlas, 2009, v.1, p 68
14
Prática Processual Empresarial
“ Se o registro de uma sociedade limitada 
é, por exemplo, negado, a pretexto de que o 
contrato social não atende aos requisitos da 
lei, a discussão sobre a pertinência, ou não, do 
indeferimento caberia ser feita, de acordo com 
esse entendimento, perante os juízes federais, 
porque a Junta, no caso, atuou como órgão 
executante das normas emanadas pelo DNRC, 
integrante da estrutura administrativa da União. 
Já na hipótese de a Junta, por exemplo, ter 
inabilitado um licitante, na concorrência pública 
para construção de sua sede, o conhecimento da 
matéria seria da competência do juiz estadual, 
tendo em vista que o objeto da lide, agora, é ato 
administrativo.”21 
O STJ tem pacificamente afirmado ser a Justiça Federal 
a competente para o julgamento de mandado de segurança 
contra ato praticado pelo presidente da Junta Comercial.
No entanto, quanto a ações ordinárias, o STJ já decidiu 
no sentido de ser de competência também da Justiça 
Federal.22 Contudo, recentes precedentes do próprio STJ 
são no sentido de que competente é a Justiça Estadual.
Assim, é pacífico entendimento de que mandado de 
segurança contra ato do presidente da Junta Comercial, 
ação de nulidade de marca e ação de nulidade de patente 
devem ser propostas na Justiça Federal. Já ações ordinárias 
devem ser propostas na Justiça Estadual.
Nesta esteira é o entendimento de Gladson Mamede:
“Isso não quer dizer, todavia, que todos os 
processos que digam respeito à junta comercial 
sejam da competência da Justiça Federal; se o 
objeto da demanda é a relação entre os sócios 
ou qualquer outro litígio afim, para o qual o 
órgão não seja tomado especificamente na sua 
condição de delegatário de funções federais, a 
competência será da Justiça Comum Estadual. 
Assim, julgando o Recurso Especial 678.405/
RJ, a Terceira Turma do Superior Tribunal 
de Justiça, afirmou: ‘a jurisprudência deste 
Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela 
competência da Justiça Federal, nos processos 
em que figuram como parte a Junta Comercial 
do Estado, somente nos casos em que se discute 
a lisura do ato praticado pelo órgão, bem como 
nos mandados de segurança impetrados contra 
o seu presidente, por aplicação do art.109, VIII, 
da Constituição Federal, em razão de sua atuação 
delegada. Em casos em que particulares litigam 
acerca de registros de alterações societárias 
perante a Junta Comercial, esta Corte vem 
reconhecendo a competência da justiça comum 
estadual, posto que uma eventual decisão 
judicial de anulação dos registros societários, 
almejadas pelos sócios litigantes, produziria 
efeitos secundários para a Junta Comercial do 
Estado, fato que obviamente não revela questão 
afeta à validade do ato administrativo e que, 
portanto, afastaria o interesse da Administração 
e, consequentemente, a competência da Justiça 
Federal para julgamento da causa’”.23 
Importante ressaltar, ainda, que a competência 
estadual é residual, ou seja, não sendo competente a 
Justiça Federal, será competente a Justiça Estadual, já 
que em matéria empresarial não há endereçamento para 
justiça especial.
Após uma breve análise do registro e dos órgãos que 
compõem o Sistema Nacional de Registro de Empresas 
Mercantil, o SINREM, passemos agora a uma análise mais 
detida das medidas processuais relacionadas ao registro.
21 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito comercial: direito de empresa. 13ªed. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1, p 69
22 “As juntas comerciais estão, administrativamente, subordinadas aos Estados, mas as funções por elas exercidas são de natureza federal. Conflito conhecido para declarar 
competente o Juízo Federal da 3ª Vara de Londrina - SJ/SP.” CC 43225 PR 2004/0059108-7, Relator Ministro ARI PARGENDLER, Orgão Julgador: S2- 2ª seção, data 
julgamento 25/10/2005, Dj de 1º/2/2006. Fonte: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia
23 Gladston Mamede. Direito Empresarial Brasileiro: Empresa e Atuação Empresarial. 3ªed. São Paulo: Atlas, 2009, v.1, p 67,68
15
Prática Processual Empresarial
2.3 PRÁTICA JURÍDICA DO REGISTRO 
EMPRESARIAL 
2.3.1 Mandado de segurança 
O mandado de segurança tem como fundamento legal 
a Constituição Federal e seu art. 5º, LXIX e o art. 1º, 
caput, da lei 12.016/2009,
A competência é da Justiça Estadual ou Federal de 
acordo com a hierarquia da autoridade que praticou o 
abuso, lembrando que se a autoridade pertence a um 
órgão ligado a União ou suas autarquias, a competência 
será da Justiça Federal(art.109, CF).
No caso de ato do presidente da Junta Comercial, 
conforme já estudado, a competência é da Justiça Federal 
em razão da submissão hierárquica das Juntas Comerciais 
ao DNRC no que tange a matéria empresarial.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ 
DE DIREITO DA____VARA CÍVEL DA COMARCA 
DE ________________________DO ESTADO DE 
___________
Ou ainda,
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL 
DA_______VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA 
DE_____________
O mandado de segurança é cabível quando houver 
violação de direito líquido e certo, com prova previamente 
constituída.
No que tange as partes, como impetrante aquele que 
ingressa com o Mandado de Segurança e como impetrado 
a autoridade coatora.
Devemos nos ater ao prazo decadencial de 120 dias para 
a propositura, contado do dia da ciência, pelo interessado, 
do ato impugnado, conforme art.23 da lei 12.016/09.
O pedido precisa conter:
a) A concessão da liminar para suspender o ato que 
motivou o pedido;
b) A procedência do pedido do impetrante e 
consequente confirmação da liminar; 
c) A notificação da autoridade coatora para prestar 
informações;
d) A intimação do MP para apresentar parecer no 
prazo legal;
e) A ciência da pessoa jurídica a qual pertence a 
autoridade coatora, para, querendo, ingresse no feito;
f) Indicação do endereço para envio das intimações
 
O valor da causa deverá ser calculado conforme os 
critérios do artigo 259 do CPC.
Além disso, vale lembrar que não há condenação 
em honorários de sucumbência e no que se refere às 
provas, como já dissemos, elas deverão ser previamente 
constituídas e instruir a exordial.
3. SOCIEDADES EMPRESARIAIS 
3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 
Trataremos agora das ações societárias e para tanto 
abordaremos conceitos básicos do direito societário.
Ricardo Negrão ensina que “sociedade é o contrato 
celebrado entre pessoas físicas e/ou jurídicas(ar.1.039), 
por meio do qual estas se obrigam reciprocamente 
a contribuir, com bens ou serviços, para o exercíciode 
atividade econômica e a partilhar, entre si, os resultados”24 
24 Ricardo Negrão. Manual de direito comercial e de empresa: evolução histórica do direito comercial, teoria geral da empresa, direito societário. 6ªed. rev. e atual. São 
Paulo: Saraiva, 2008, v.1, p 244
16
Prática Processual Empresarial
As sociedades empresariais se diferenciam, basicamente 
pela responsabilidade dos sócios. No entanto, vale lembrar 
que a doutrina diverge quanto ao critério de classificação 
delas.
Além da classificação quando a personalidade jurídica, 
as sociedades se dividem quanto ao seu objeto em duas 
grandes categorias: sociedade empresária e sociedade 
simples.
As sociedades simples são aqueles que têm por objeto 
social atividades distintas de empresário. São aqueles 
que estão na exceção do artigo 966 do Código Civil, mais 
precisamente no em seu paragrafo único, primeira parte:
“Parágrafo único. Não se considera empresário 
quem exerce profissão intelectual, de natureza 
científica, literária ou artística, ainda com o 
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo 
se o exercício da profissão constituir elemento 
de empresa.”(grifo nosso)
As sociedades empresárias, de outra banda, têm como 
características a economicidade, consistente na criação de 
riquezas; a organização, representada por uma estrutura 
visível de fatores objetivos e subjetivos de produção; e a 
profissionalidade, ou habitualidade de seu exercício.25 
 Ainda sobre a classificação das sociedades quanto ao 
regime de constituição e dissolução elas podem ser: a) 
contratuais, cujo ato constitutivo é o contrato social. São 
sociedades contratuais a sociedade em nome coletivo, 
sociedade em comandita simples e a sociedade limitada, 
b) institucionais, cujo ato constitutivo é o estatuto social. 
São sociedades institucionais a sociedade anônima e a 
sociedade em comandita por ações.
Nas contratuais a participação societária se concretiza 
por meio das quotas e nas institucionais por meio das 
ações. O regime de dissolução das primeiras está previsto 
no Código Civil, enquanto o das segundas na lei das 
sociedades por ações (Lei 6404/76).
As sociedades podem se dividir, ainda, em sociedades 
de pessoas ou sociedades de capital. Nesta classificação 
o que se verifica são as condições para a alienação da 
participação societária.
Nas sociedades de pessoas os atributos pessoais dos 
sócios são essenciais para a realização do objeto social 
e nas sociedades de capital o que importa é o capital 
subscrito, já que os atributos dos sócios são indiferentes 
para a formação da sociedade.
Quanto à responsabilidade dos sócios, podem ser 
ilimitadas, limitadas ou mistas. Nas sociedades ilimitadas 
todos os sócios respondem com seus bens particulares 
pelas obrigações da sociedade; nas sociedades limitadas 
todos os sócios respondem no limite de determinada 
contribuição, em de regra, não respondem com seus bens 
particulares pelas obrigações da sociedade; nas sociedades 
mistas alguns sócios respondem de forma ilimitada, com 
seus bens, e outros de forma limitada, não respondendo 
com seus bens particulares.
3.2 ESPÉCIES DE SOCIEDADES EMPRESARIAIS
3.2.1 Sociedade em nome coletivo 
Essa espécie de sociedade está prevista entre os artigos 
1039 a 1044 do Código Civil. 
A maior característica deste tipo societário é a 
responsabilidade solidária dos sócios pelas obrigações 
sociais subsidiariamente ao patrimônio social e de forma 
ilimitada.
É constituída por meio de contrato celebrado apenas 
entre pessoas naturais e o nome empresarial se verifica na 
25 Ricardo Negrão. Manual de direito comercial e de empresa: evolução histórica do direito comercial, teoria geral da empresa, direito societário. 6ªed. rev. e atual. São 
Paulo: Saraiva, 2008, v.1, p 245
17
Prática Processual Empresarial
modalidade firma social com a expressão “companhia” ou 
“Cia” acrescida ao nome de um dos sócios.
3.2.2 Sociedade em comandita simples
Tem sua previsão legal nos artigos entre o 1045 ao 1051 
do Código Civil e sua principal característica é existência 
de duas espécies de sócios, os sócios comanditários, 
obrigados somente pelo valor de sua quota, podendo ser 
pessoa natural ou pessoa jurídica e os sócios comanditados, 
pessoas físicas de responsáveis solidária e ilimitadamente 
pelas obrigações, de forma subsidiária ao patrimônio 
social.
Ao sócio comanditário é vedado a prática de atos de 
gestão e o uso de seu nome na composição da firma social. 
Ausente uma das categorias de sócio por mais de 
seis meses a sociedade se dissolve (1051CC) e em caso 
de morte do sócio comanditado há dissolução parcial, a 
menos que o contrato social expressamente estipule o 
ingresso de sucessores (1028, I) e de morte comanditário 
a sociedade não dissolve, sendo possível a continuará por 
seus os sucessores aos quais cabe indicar representante 
(1050CC) salvo disposição diversa no contrato.
3.2.3 Sociedade limitada
A sociedade limitada foi introduzida em nosso sistema 
em 1919 pelo decreto 3.708 e era denominada “sociedade 
por quotas de responsabilidade limitada”. No Código Civil 
de 2002 está prevista dos artigos 1052 a 1087 CC.
É o tipo societário de maior presença na economia 
brasileira, chegando a noventa por cento das sociedades 
empresariais registradas nas Juntas Comerciais.
A sociedade limitada é aquela cujo capital social 
se divide em quotas e a responsabilidade dos sócios 
é limitada ao valor de suas quotas, uma vez que todos 
os sócios respondem solidariamente do que falta para a 
integralização do capital social subscrito.
Conclui-se, portanto, que as principais características 
deste tipo societário são a limitação da responsabilidade dos 
sócios ao valor de suas quotas, embora todos respondam 
pela integralização do capital social (CC, art.1052) e a 
contratualidade que permite um maior relacionamento 
entre os sócios, já que há margem para dispor sobre as 
cláusulas do contrato sem os rigores do regime legal das 
Sociedades Anônimas.
Sobre a sociedade limitada, vale mencionar, ainda, 
que em caso de omissão do Código Civil haverá aplicação 
supletiva das regras da sociedade simples (CC, artigos 997 
a 1032) e da lei 6404/76, sendo que no último caso há 
necessidade de previsão expressa no contrato social. 
Dessa forma, para Fábio Ulhoa Coelho26 , surgem dois 
subtipos de sociedade limitada, a sociedade limitada de 
vinculo instável – aquelas sujeitas à regência supletiva 
das sociedades simples e a sociedade limitada de vinculo 
estável – aqueles sujeitas à regência supletiva da lei das 
sociedades anônimas.
A responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais 
na limitada como o próprio nome diz é “Limitada”. Desta 
forma, se o patrimônio social é insuficiente para responder 
pelo valor total das dívidas que sociedade contrair 
na exploração da empresa, os credores só poderão 
responsabilizar os sócios com bens de seu patrimônio 
individual até certo montante, depois desse valor, a perda 
é do credor. 
Mas qual é esse limite? Em conformidade no art. 1052 
C.C. a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor 
de suas quotas, mas todos respondem solidariamente 
pela integralização do capital social. Assim, o limite da 
responsabilidade dos sócios na sociedade limitada é o total 
do capital subscrito e não integralizado. 
26 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito comercial: direito de empresa. 13ªed. São Paulo: Saraiva, 2009, v.2, p 376
18
Prática Processual Empresarial
Lembremo-nos que capital subscrito é o montante de 
recursos que os sócios se comprometem a entregar para a 
formação da sociedade e capital integralizadoé a parte do 
capital que eles realmente injetaram na sociedade. 
Podemos dizer, portanto, que capital subscrito é aquele 
comprometido e integralizado é aquele que efetivamente 
foi pago.
Dessa forma concluímos que a responsabilidades 
dos sócios na limitada é subsidiaria, limitada e solidaria. 
Subsidiária ao capital social, limitada ao valor não 
integralizada do capital social e solidaria pela integralização 
do capital. 
 
3.2.4 Sociedade Anônima
A sociedade anônima é regida por lei especial, a 
lei 6404/76, entretanto o Código Civil apresenta suas 
características, art 1088 e trata da regência supletiva no 
1089.
Temos, portanto, como características principais das 
sociedades anônimas a empresarialidade; capital dividido 
por ações; responsabilidade dos acionistas limitada à 
integralização das ações subscritas; a impessoalidade 
(sociedade de capital); exigência mínima de dois 
acionistas(com exceção da subsidiária integral e qualquer 
SA por até um ano de exercício.); suas ações são 
negociadas livremente; penhorabilidade das ações; podem 
ser abertas ou fechadas, dependendo da possibilidade ou 
não de negociação de suas ações na bolsa de valores ou 
no mercado de balcão e a adoção do nome na modalidade 
denominação seguida pelas expressões SA, sociedade 
anônima ou CIA, companhia. 
No que tange às características principais das 
sociedades anônimas Waldo Fazzio resume:
“A sociedade anônima é um ser jurídico, cujo 
capital é dividido em quinhões transferíveis, 
adquiridos por acionistas, cuja responsabilidade 
a eles se circunscreve. Distingue-se das 
outras formas societárias por um conjunto de 
características invariáveis. Trata-se, sobretudo, 
de uma sociedade de capital constituída por 
frações com titularidade móvel e impessoal, ou 
seja, seu capital é dividido em ações suscetíveis 
de transferência, não tendo relevância a pessoa 
de seus detentores. Por isso, assina-se por 
uma denominação e não por uma razão social. 
Também é uma sociedade do tipo limitada, na 
medida em que a responsabilidade dos acionistas 
está circunscrita ao preço de emissão das ações 
por eles subscritas ou adquiridas. A companhia 
tem natureza empresarial outorgada por lei, 
independentemente de seu objeto social...”27 
(grifo nosso)
Após uma breve análise nas sociedades empresárias, 
passaremos agora ao estudo prático do direito societário, 
abordando a estrutura das principais ações societárias.
3.3 PRÁTICA JURÍDICA SOCIETÁRIA
3.3.1 Petição inicial de dissolução de sociedade 
cumulada com liquidação judicial
No que se refere às sociedades limitadas, assim como 
nas sociedades simples (art.1087, CC), vale lembrar 
que a dissolução pode ser total ou parcial. A dissolução 
total acontece por vontade dos sócios, decurso do prazo 
determinado, falência, inexigibilidade do objeto social, 
unipessoalidade por mais de 180 dias ou em razão de 
causas determinadas em contrato.
27 Waldo Fazzio Júnior. Direito Comercial: empresário, sociedades, títulos de crédito, contratos, recuperação, falência. 7ªed. São Paulo: Atlas, 2008, v.12, p.67
19
Prática Processual Empresarial
Já a dissolução parcial ou resolução da sociedade 
nas limitadas ocorre por vontade dos sócios, morte dos 
sócios28 , retirada dos sócios, exclusão de sócio minoritário 
(no caso de não integralização das quotas, cometimento 
de falta grave e no caso de exclusão judicial, pela falta 
grave ou incapacidade superveniente).
Nas sociedades anônimas a dissolução pode ser parcial 
ou total, sendo que a primeira ocorre, unicamente, na 
hipótese de reembolso de acionista dissidente29 , uma 
vez que não é possível a exclusão do sócio e, a morte 
de acionista não afeta a existência da sociedade. A 
dissolução total, por outro lado, pode ocorrer pelo término 
do prazo de duração, por decisão judicial ou de autoridade 
competente, pela cisão total, incorporação e fusão.
Quanto à ação propriamente dita, vamos abordar a 
Dissolução Total de Sociedade cumulada com Liquidação 
Judicial. 
Importante se faz apontar a estrutura da mencionada 
petição iniciando pelo fundamento legal que está no 
artigo 1.218, VII do CPC e nos artigos 655 e seguintes do 
CPC/1939.
Quanto à competência a petição inicial de dissolução 
será endereçada ao juiz da comarca do local da sede, se 
não houver foro de eleição.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ 
DE DIREITO DA____VARA CÍVEL DA COMARCA 
DE ________________________DO ESTADO DE 
___________
Quanto às partes teremos o autor como sendo o sócio 
que pretende a dissolução e os réus os demais sócios e a 
sociedade(tendo em vista que a sociedade será alterada e 
que seu patrimônio poderá arcar com o ressarcimento ao 
sócio, ela é parte imprescindível na ação).
Esta ação é cabível quando um sócio quer a dissolução 
total por quebra da affecto societatis e pela impossibilidade 
da continuação da empresa:
“Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida 
judicialmente, a requerimento de qualquer dos 
sócios, quando:
I - anulada a sua constituição;
II - exaurido o fim social, ou verificada a sua 
inexeqüibilidade.”
No pedido é necessário conter: 
a) A procedência do pedido do autor para determinar 
a dissolução da sociedade (art. 655 e ss do CPC/39);
b) A liquidação nos moldes do art. 1.102 e ss do CC;
c) A citação dos réus, para que, querendo, apresente 
sua contestação no prazo legal, sob pena de revelia;
d) A condenação ao pagamento das custas e 
honorários advocatícios;
e) O endereço de recebimento das 
intimações(art.39,I,CPC)
f) A produção de provas
3.3.2 Petição inicial de retirada ou exclusão de 
sócio
No que se refere ao direito de retirada ou recesso 
“mantemos a opinião de que, em qualquer sociedade 
limitada por prazo indeterminado, os sócios possuem o 
direito de recesso independentemente de motivação, em 
função da natureza contratual da sociedade e, sobretudo 
pela garantia constitucional de que ninguém será compelido 
a manter-se associado.”30 
Quanto à exclusão do sócio, esta pode acontecer 
quando não há a integralização das quotas pelo sócio 
(sócio remisso) que deverá ser notificado a pagar em 30 
28 Enunciado 221 CJF: “Diante da possibilidade de o contrato social permitir o ingresso na sociedade do sucessor de sócio falecido, ou de os sócios acordarem com 
os herdeiros a substituição de sócio falecido, sem liquidação da quota em ambos os casos, é licita a participação de menor em sociedade limitada, estando o capital 
integralizado, em virtude da inexistência de vedação no Código Civil”
29 Dissidentes são aqueles sócios que não concordam com algumas deliberações que possam alterar o estatuto social. Esses sócios têm direito de se retirar da sociedade 
mediante reembolso do valor patrimonial das ações.
30 Marlon Tomazette. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 2ªed. São Paulo: Atlas, 2009, v.1, p 371
20
Prática Processual Empresarial
dias, transcorrido tal prazo, os demais sócios poderão 
cobrá-lo judicialmente, reduzir sua quota ao valor que 
já foi integralizado ou excluí-lo, devolvendo a ele o que 
disponibilizou para a sociedade, deduzidas as despesas, 
conforme entendimento do artigo 1004 e 1058 do 
Código Civil. Pode, ainda, acontecer a exclusão do sócio 
quando este praticar falta grave que coloque em risco a 
continuidade da empresa, desde que previsto em contrato 
social e com a concordância da maioria dos sócios(1/2 do 
capital social).
A exclusão pode acontecer judicialmente pelo 
cometimento de falta grave e por incapacidade 
superveniente, devendo a maioria dos sócios ingressar 
com a ação ora em estudo.
Na sociedade anônima como já dissemos,a dissolução 
parcial somente pode se verificar em caso de reembolso de 
acionista dissidente, pois a exclusão do sócio é impossível. 
A estruturação da Petição Inicial de Retirada e Exclusão 
de Sócio se verifica praticamente da mesma forma, 
vejamos:
O fundamento legal da petição inicial de retirada de 
sócio se encontra no artigo 282 CPC, assim também no 
caso de exclusão, acrescido do artigo 1030 CC. 
A competência para julgamento de ambas será o local 
da sede, se não houver foro de eleição.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ 
DE DIREITO DA____VARA CÍVEL DA COMARCA 
DE ________________________DO ESTADO DE 
___________
O autor no caso da ação de retirada é o sócio que 
pretende se retirar e os réus os demais sócios e a 
sociedade. No caso da ação de exclusão, os autores são 
os sócios que pretendem a exclusão e os réus o sócio que 
será excluído e a sociedade.
Já tratamos, acima, das causas de exclusão do sócio, 
de tal forma, agora, de maneira resumida, podemos disser 
que é cabível a exclusão do sócio que praticou um ato de 
inegável gravidade e a retirada, quando há a quebra da 
affectio societatis.
No pedido é preciso conter:
a) A procedência do pedido do autor no sentido de 
determinar a retirada ou exclusão do sócio;
b) A apuração dos haveres, conforme art.1031, CC;
c) A citação dos réus, para que, querendo, apresente 
sua contestação no prazo legal, sob pena da revelia;
d) A condenação ao pagamento das custas e 
honorários advocatícios;
e) O endereço de recebimento das 
intimações(art.39,I,CPC)
f) A produção de provas
3.3.3 Petição inicial de reparação de danos por 
ato de administrador de Sociedade Anônima.
Na sociedade anônima denomina-se administrador 
tanto os membros do Conselho de Administradores, 
quanto os membros da Diretoria. Essa composição dúplice 
da administração é obrigatória nas companhias abertas e 
nas de capital autorizado. Nos demais casos, ficará a cargo 
do estatuto definir sobre a necessidade do conselho de 
administradores.
De qualquer modo, o administrador deve ser pessoa 
natural, idônea (não tenha condenação definitiva pelos 
crimes e infrações previstas no artigo 147,§1º da lei 
6404/76).
Assim como estes requisitos há, ainda, para à diretoria 
a exigência de residência no país não sendo necessária a 
condição de acionista. Já para os componentes do conselho 
de administradores, exige-se a qualidade de acionista e 
não a residência no país.
O administrador que agiu com dolo ou culpa, ou violou 
a lei ou o estatuto, causando danos a alguém pode ser 
responsabilizado por meio de ação própria a saber:
21
Prática Processual Empresarial
“ No caso de danos causados à companhia, 
compete a esta, mediante deliberação da 
assembleia, promover a ação de reparação 
(art.159 da Lei 6.404/76), admitindo-se 
subsidiariamente a legitimidade dos acionistas 
para o ajuizamento de tal ação.
Causando danos a sociedade, é desta o 
direito de promover a ação de responsabilidade 
do administrador. Neste caso, ela se manifestará 
sua vontade por meio de uma assembleia geral, 
que decidirá a favor ou contra o ajuizamento da 
referida ação...o administrador será afastado 
e substituído por outro. Assim, competirá aos 
demais administradores ajuizar a referida ação, 
denominada ação social uti universi, porquanto 
promovida pela própria sociedade.”31 
A petição inicial de reparação de danos por ato do 
administrador de S.A tem por fundamento legal o art. 282 
e o art. 159 da lei 6404/76.
A competência para ingresso da ação é no local onde 
os atos foram realizados que normalmente é na sede da 
empresa.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ 
DE DIREITO DA____VARA CÍVEL DA COMARCA 
DE ________________________DO ESTADO DE 
___________
Tal ação terá como autor a sociedade anônima, a partir 
da decisão da assembleia geral ordinária. No entanto, 
havendo deliberação pelo não ajuizamento da ação, pode 
ser proposta por qualquer acionista que represente aos 
menos 5% do capital social (ação social uti singuli32 ).
O réu é o administrador que praticou o ato e também 
que sabia do ato lesivo e não informou a assembleia.
Conforme já sabemos, tal ação é cabível no caso de 
prejuízos causados à sociedade por ato de ação ou omissão 
de administrador.
No pedido deve conter:
a) A procedência do pedido do autor para determinar 
a responsabilidade do administrador a fim de ressarcir a 
Sociedade pelos prejuízos causados, com juros e correção 
monetária, conforme art.159 da lei 6404/76;
b) A citação do réu, para que, querendo, apresente 
sua contestação, no prazo legal, sob pena de revelia;
c) A condenação ao pagamento das custas e 
honorários advocatícios;
d) O endereço de recebimento das intimações 
(art.39,I,CPC)
e) A produção de provas
Vale mencionar, ainda, que o valor da causa nesta ação 
será o valor do prejuízo causado.
SEÇÃO III - PRÁTICA PROCESSUAL 
EMPRESARIAL II
1. NOTA PRÉVIA
Ao longo desta seção trataremos dos meios de repressão 
civis e penais à concorrência desleal nos seus mais diversos 
aspectos, passando pela proteção à propriedade industrial 
e intelectual. Abordaremos, ainda, a proteção ao nome e 
ao estabelecimento empresarial.
Para tanto é fundamental para nosso estudo a 
abordagem, mesmo que breve, do princípio da livre 
iniciativa e da concorrência desleal.
31 Marlon Tomazette. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 2ªed. São Paulo: Atlas, 2009, v.1, p 548
32 Marlon Tomazette. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 2ªed. São Paulo: Atlas, 2009, v.1, p 549
22
Prática Processual Empresarial
2. PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA E 
CONCORRÊNCIA DESLEAL
 
Fonte da imagem: http://vocesa.abril.com.br 
O princípio da livre iniciativa corolário da atividade 
empresarial tem sua previsão no Texto Constitucional no 
artigo 170.
Conforme explica Fábio Ulhoa Coelho(2009:187), 
todos os princípios contidos no artigo em comento foram 
informadores da ordem econômica, sendo a livre iniciativa 
um elemento estrutural da economia. Continua o autor 
afirmando que “a Constituição, enquanto assegura aos 
particulares a primazia da produção e circulação dos 
bens e serviços, baliza a exploração dessa atividade 
com a afirmação de valores que o interesse egoístico do 
empresário comumente desrespeita”33 
Citamos como exemplo as práticas concorrenciais 
ilícitas que o direito brasileiro reprime: a concorrência 
desleal e a infração à ordem econômica.
Importante para uma maior compreensão do objeto 
de nosso estudo é a análise da concorrência desleal, 
entretanto, faremos em breve síntese a diferenciação 
entre ela e a infração à ordem econômica.
A concorrência desleal tem por principal diferença 
da infração a ordem pública o sujeito de passivo de 
sua atuação, ou seja, a primeira atinge unicamente e 
diretamente os empresários, ao passo que a segunda tem 
um alcance muito maior extrapolando os interesses dos 
empresários e refletindo em toda estrutura econômica do 
mercado.
A dificuldade em conceituar a concorrência desleal 
surge a partir da importância que as práticas concorrenciais 
lícitas têm no mercado. Entre a concorrência saudável e a 
desleal há um caminho muito curto e é disso que alguns 
empresários se valem na busca por espaço no mercado de 
consumo. 
De maneira clara e objetiva a advogada Márcia 
Elizabete Martins expõe sobre a definição e os requisitos 
caracterizadores da concorrência desleal em seu 
artigo sobre a concorrência desleal e os pressupostos 
empresariais:
“A doutrina tem considerado como definição 
de concorrência desleal, todo ato de concorrenteque, valendo-se de força econômica de outrem, 
procura atrair indevidamente sua clientela. 
Nesse sentido é que, na delimitação do campo 
de incidência da concorrência desleal, são 
fixados certos pressupostos por doutrina e 
por jurisprudência, para a identificação de sua 
existência em concreto. São os seguintes os 
requisitos assentados na doutrina universal: a) 
desnecessidade de dolo ou de fraude, bastando 
a culpa do agente; b) desnecessidade de 
verificação de dano em concreto; c) necessidade 
de existência de colisão; d) necessidade de 
existência de clientela; e e) ato ou procedimento 
suscetível de repreensão.” 34
Vale lembrar que a busca por espaço necessariamente 
implica em divisão dele, razão pela qual não há como 
se desvincular concorrência de prejuízo. A concorrência 
leal ou desleal implica em diminuição ou perda da área 
de atuação do empresário- concorrente, mesmo que 
esporadicamente.
33 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito comercial: direito de empresa. 13ªed. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1, p 187
34 Márcia Elisabeth Martins. A concorrência desleal e os pressupostos empresariais. Disponível em http://www.fblaw.com.br
23
Prática Processual Empresarial
Valiosa é a lição de Fábio Ulhoa Coelho neste sentido:
“Como as motivações e os efeitos da 
concorrência leal e desleal são idênticos, a 
diferença entre elas se encontra no meio 
empregado para conquistar a preferencia dos 
consumidores”35 
Aprofundando-nos um pouco mais no tema proposto, 
a lei cuidou de reprimir a concorrência desleal na esfera 
cível e penal. 
A repressão civil implica ao empresário um dever 
de reparação dos danos sofridos. A averiguação de tais 
prejuízos inerente às condutas tipificadas como crime, 
conforme disposto no artigo 195 da Lei nº 9.279/96, que 
estudaremos adiante, não causa grande dificuldade.
A celeuma se forma quando estamos diante de práticas 
da chamada “concorrência desleal genérica”36 cujas 
condutas não fazem parte do tipo penal acima citado. 
O tratamento legal para este tipo de concorrência foi 
dado no artigo 209 da lei de propriedade industrial:
“Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado 
o direito de haver perdas e danos em 
ressarcimento de prejuízos causados por atos 
de violação de direitos de propriedade industrial 
e atos de concorrência desleal não previstos 
nesta Lei, tendentes a prejudicar a reputação 
ou os negócios alheios, a criar confusão entre 
estabelecimentos comerciais, industriais ou 
prestadores de serviço, ou entre os produtos e 
serviços postos no comércio.”
 Com vistas à teoria do ato ilícito, o Código Civil também 
garante ao prejudicado o direito ao ressarcimento por 
prejuízos decorrentes de concorrência desleal de atos que 
maculem a reputação ou os negócios alheios, conforme se 
verifica em no art. 927, CC.
A par da repressão civil, o legislador brasileiro também 
se preocupou com os aspectos penais, conforme já 
dissemos. A lei de propriedade industrial em seu artigo 
195 tipifica como crime as condutas de “concorrência 
desleal específica”37 
“Art. 195. Comete crime de concorrência 
desleal quem:
I - publica, por qualquer meio, falsa afirmação, 
em detrimento de concorrente, com o fim de 
obter vantagem;
II - presta ou divulga, acerca de concorrente, 
falsa informação, com o fim de obter vantagem;
III - emprega meio fraudulento, para desviar, 
em proveito próprio ou alheio, clientela de 
outrem;
IV - usa expressão ou sinal de propaganda 
alheios, ou os imita, de modo a criar confusão 
entre os produtos ou estabelecimentos;
V - usa, indevidamente, nome comercial, 
título de estabelecimento ou insígnia alheios ou 
vende, expõe ou oferece à venda ou tem em 
estoque produto com essas referências;
VI - substitui, pelo seu próprio nome ou razão 
social, em produto de outrem, o nome ou razão 
social deste, sem o seu consentimento;
VII - atribui-se, como meio de propaganda, 
recompensa ou distinção que não obteve;
VIII - vende ou expõe ou oferece à venda, 
em recipiente ou invólucro de outrem, produto 
adulterado ou falsificado, ou dele se utiliza 
para negociar com produto da mesma espécie, 
embora não adulterado ou falsificado, se o fato 
não constitui crime mais grave;
35 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito comercial: direito de empresa. 13ªed. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1, p 191
36 “A concorrência desleal genérica se caracteriza quando utilizado meio imoral, desonesto ou condenado pelas práticas usuais dos empresários.” (Coelho, 2009:196)
37 “ ...as práticas empresariais tipificadas como crime de concorrência desleal(LPI, art. 195) são formas de concorrência desleal específica; e as não tipificadas como crime, 
mas geradoras de direito à indenização por perdas e danos(LPI, art.209), são de concorrência desleal genérica.” (Coelho, 2009:192)
24
Prática Processual Empresarial
IX - dá ou promete dinheiro ou outra utilidade 
a empregado de concorrente, para que o 
empregado, faltando ao dever do emprego, lhe 
proporcione vantagem;
X - recebe dinheiro ou outra utilidade, ou 
aceita promessa de paga ou recompensa, para, 
faltando ao dever de empregado, proporcionar 
vantagem a concorrente do empregador;
XI - divulga, explora ou utiliza-se, sem 
autorização, de conhecimentos, informações 
ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, 
comércio ou prestação de serviços, excluídos 
aqueles que sejam de conhecimento público ou 
que sejam evidentes para um técnico no assunto, 
a que teve acesso mediante relação contratual 
ou empregatícia, mesmo após o término do 
contrato;
XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem 
autorização, de conhecimentos ou informações a 
que se refere o inciso anterior, obtidos por meios 
ilícitos ou a que teve acesso mediante fraude; ou
XIII - vende, expõe ou oferece à venda 
produto, declarando ser objeto de patente 
depositada, ou concedida, ou de desenho 
industrial registrado, que não o seja, ou 
menciona-o, em anúncio ou papel comercial, 
como depositado ou patenteado, ou registrado, 
sem o ser;
XIV - divulga, explora ou utiliza-se, sem 
autorização, de resultados de testes ou outros 
dados não divulgados, cuja elaboração envolva 
esforço considerável e que tenham sido 
apresentados a entidades governamentais como 
condição para aprovar a comercialização de 
produtos.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) 
ano, ou multa”
Portanto a obtenção de vantagem em detrimento do 
concorrente, por meio de publicação de afirmação falsa; 
desvio de clientela empregando meio fraudulento, uso 
indevido de nome empresarial, título do estabelecimento 
ou insígnia alheios; divulgação, sem autorização, de 
conhecimento ou dados confidenciais; entre outros são 
práticas tipificadas como crime.
Nesta esteira é o entendimento dos Tribunais:
“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - 
AÇÃO ORDINÁRIA - VIOLAÇÃO DE MARCA E 
CONCORRÊNCIA DESLEAL - PROPRIEDADE 
INDUSTRIAL - EMBALAGEM DOS PRODUTOS - 
SEMELHANÇAS - RISCO DE CONFUSÃO ENTRE 
OS CONSUMIDORES - TUTELA ANTECIPADA - 
REQUISITOS - VEROSSIMILHANÇA DA ALEGAÇÃO 
E RECEIO DE DANO GRAVE OU DE DIFÍCIO 
REPARAÇÃO - DEMONSTRAÇÃO - RECURSO 
NÃO PROVIDO. A propriedade da marca adquire-
se pelo registro válido expedido, garantindo, 
ainda, ao seu titular o uso exclusivo em todo 
o território nacional, bem como a possibilidade 
de ver seus direitos resguardados, impedindo 
a prática da concorrência desleal. A proteção 
à marca, prevista na Lei 9279/96, estende-se 
ao direito de uso exclusivo da embalagem dos 
produtos, denominado “trade dress”, que pode 
ser definido como os seus elementos distintivos, 
os quais, em conjunto, fazem com que

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