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Filosofia do Direito Profº Camilo Onoda Caldas Este ano, a matéria versará sobre a história da filosofia. A história da filosofia do direito surge no século XIX com Hegel, antes não existia. Ele passa através de suas teorias afirmar que o próprio da filosofia é a contradição, quebrando, destarte, com o pensamento cartesiano, em que era recorrente a ideia de que uma ideia ou é certa ou errada, isto é, não era passível de questionamentos. Assim sendo, existem várias visões a respeito do direito e da filosofia, mas nenhuma é mais certa do que a outra. Filosofia etimologicamente é o amor à sabedoria. A história da filosofia tem uma divisão, qual seja: • História antiga • Patrística • Medieval • Renascentista • Moderna • Iluminista • Contemporânea o Juspositivista (Eclético; Estrito; Ético) o Não juspositivista (Não marxista; Marxista) Como já visto, a filosofia do direito surgiu a partir das ideias de Hegel, no entanto, o direito já era objeto da filosofia grega desde os primórdios. Inclusive, um dos primeiros textos da filosofia que ainda temos preservado trata a respeito da justiça. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 1 de 85 PRÉ-SOCRÁTICOS – Tema: Physis Destarte, essa classificação não é dada a quem é anterior à Sócrates, e sim para quem tem pensamentos sobre temas anteriores à Sócrates. Para os pré-socráticos, o tema principal é a physis, isto é, a natureza, a origem das coisas. Já os pós-socráticos travam sobre temas ligados às pessoas, isto é, a antropologia. A diferença da filosofia para a mitologia é que os filósofos utilizavam-se da razão para explicar as coisas, isto é, havia uma sistematização e, por consequência, uma ordenação de ideias, ao passo que o pensamento mitológico levava em consideração a confiança de quem passou a informação, ou seja, os pensamentos eram oriundos da tradição. Ademais, a mitologia era baseada na cosmologia e teogonia, isto é, origem do mundo e origem dos deuses respectivamente. Já a filosofia também era baseada na tradição grega, mas de forma sistematizada na razão, confrontando o próprio pensamento cosmológico e teogônico. Assim, no período pré-socrático a preocupação maior era com a phisys, ou seja, descobrir a causa dos fenômenos naturais, isto é, a origem das coisas. Tales de Mileto tem a posição de primeiro filósofo, e após ele, uma ampla gama de pensadores se destaca. Embora Tales seja considerado o primeiro filósofo da história, não há conhecimento de nenhum registro escrito por ele, havendo, somente, a doxografia, isto é, autores falando o que supostamente Tales havia dito, o que não as torna tão confiáveis. Anaximandro foi discípulo de Tales, e enquanto a tradição da mitologia grega considerava a cosmologia como tendo por base o ar, a água, a terra ou o fogo, em Anaximandro tal compreensão alcançava um novo patamar, isto é, a physis se originava do ápeiron, algo infinito, ilimitado, que, sem forma, dá origem a todas as coisas. É de autoria de Anaximandro o fragmento https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 2 de 85 mais antigo preservado da filosofia, que aduz: “De onde as coisas tem seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição segundo a necessidade, pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, conforme a ordem do tempo”. Esse texto fala da origem das coisas, que ao mesmo tempo é o destino de todas elas. E esse movimento de origem e fim em uma mesma coisa é permanente, ou seja, tem um “devir”, um fluxo contínuo. Vale ressaltar que ele diz que as coisas serão julgadas pela sua injustiça, ou seja, tem um juízo de todas as coisas. Heráclito, também conhecido como o obscuro, fundava no fogo a base da natureza, isto é, a origem da physis. O universo só tinha por padrão a mudança. O fogo procedia a uma constante transformação de todas as coisas. Nada é permanente, tudo se transforma. A única coisa que é permanente é a mudança. No seu famoso fragmento, “no mesmo rio entramos e não entramos; somos e não somos”, “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, há a dimensão de devir, isto é, do fluxo infinito do mundo. Essa noção de devir para Heráclito, não é a de qualquer fluxo: trata-se da luta dos contrários, e sendo assim, o quente se torna frio e o frio quente, a criança se torna velho e o dia anoitece. O mundo é transformado constantemente, mas essa transformação é a da coisa oposta. Assim, a tensão entre os opostos é a causa de justiça no mundo e, desta forma, os conflitos não podem acabar, porque se não houver conflitos não haverá justiça. Parmênides - A verdade aparece, para Parmênides, como a razão, como aquilo que é, e está ligada ao mundo sensorial, ou seja, àquilo que se vê, e que, portanto muda. Logo de início, a perspectiva de Parmênides é diferente da de Heráclito. Para Parmênides, no entanto, o que é é único, não se muda. A identificação do ser como uno, pleno, não divisível, acarreta, no pensamento de Parmênides, a noção de que a mudança, a transformação e a oposição interna na própria coisa https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 3 de 85 são opiniões desprovidas de realidade e razão. Heráclito representa um pensamento oposto daquele parmediano. A estabilidade do ser é sua marca característica. Para alguns autores, Parmênides funda a lógica, porque em seu pensamento estão presente três princípios da lógica, quais sejam, o princípio da identidade (aquilo que é, é); princípio da contradição (uma coisa não pode ser ou não ser ao mesmo tempo); e o princípio do terceiro excluído (uma coisa ou é, ou não é, não existe uma terceira opção). Quem irá resolver o problema entre Heráclito e Parmênides é Platão, só que antes disso devemos analisar Sócrates. FILOSOFIA SOCRÁTICA – Tema: antropologia (direito, política) A filosofia trata de questões humana, e não mais da origem das coisas. Nesta perspectiva, surgem duas questões relevantes discutidas nesse período filosófico sobre o ser humano, quais seja, a política e o direito (que é visto como justo). Sócrates nasceu em Atenas. Atenas vivia a época que foi chamada de Século de Péricles. Os atenienses haviam vencido a guerra contra os persas, e a democracia ateniense na época, proporcionou a eles a dianteira do pensamento filosófico. Em decorrência da democracia, a política se torna um dos grandes temas da filosofia. Frisa-se que o regime democrático ateniense excluía mulheres, escravos e etc. Os problemas decorrentes da democracia ateniense eram resolvidos por meio da política, isto é, por meio da logos, da fala/razão. Assim, não mais se utilizava da força para resolver conflitos, e sim a política, o logos, a fala. É neste contexto de https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 4 de 85 forte força política que Sócrates vive e desenvolve a sua filosofia. Neste contexto, surgem igualmente os sofistas, que eram elementos essenciais para a democracia ateniense, já que eles eram professores de retórica e ensinavam como persuadir pessoas, e a como ser um bom político. Os sofistas não eram atenienses, e foram convidados por Péricles, sendo os mais importantes sofistas o Górgias e Protágoras. Os sofistas não se preocupam com a verdade, mas sim como a convencer as pessoas por meio da logos. Isso provocou em Sócrates uma grande revolta, já que segundo ele, a filosofia deveria se preocupar com a verdade. Assim, sendo, para Sócrates, os sofistas não eram considerados filósofos, pois prestavam um desfavor para a filosofia. Existeaté uma palavra muito conhecida e inspirada nos sofistas, que é o “sofismo”, isto é, a arte de fazer com que um raciocínio tenha aparência de verdadeiro, sem que necessariamente o seja. Já para Sócrates a verdade não varia de sujeito para sujeito de acordo com a logos, com os argumentos, existindo, portanto, uma verdade única, não relativa como faziam parecer os sofistas. A filosofia de Sócrates tem como premissa a verdade, onde a mesma não pode ser relativizada. Sócrates para descobrir a verdade, partia inicialmente de um exame do que ele e os demais sabiam sobre a realidade concreta. Assim, é que Sócrates fazia vários diálogos com as pessoas, questionando-as para se buscar a verdade. A partir dessas conversas, as pessoas notavam que não sabiam de nada do que julgavam saber. Quando as pessoas costumavam questionar Sócrates, ele dizia que não sabia da resposta, reconhecendo-se assim ignorante, o que já o fazia diferente dos demais que achavam que sabia tudo. Por isso, ele aduz que para se conhecer a verdade é necessário “conhece-te a ti mesmo”. Destarte, diferente dos sofistas que afirmavam que a verdade era uma https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 5 de 85 convenção humana, Sócrates, por meio do diálogo, buscava a verdade, e o que configura o seu pensamento filosófico é justamente essa busca pela verdade. É justamente no entorno da busca pela verdade passível de ser definido dialeticamente, que se situa sua reflexão sobre o direito, pois os sofistas levantavam-se contra a ideia de uma correspondência da lei com os desígnios dos deuses. Sócrates recusa tanto uma quanto a outra visão sobre o direito, isto é, o direito não é um desígnio dos deuses, nem meramente uma convenção humana. A busca de Sócrates é a de extrair o conceito de justo por meio da razão. Por conta de seus pensamentos, Sócrates foi condenado à morte por envenenamento, sob a acusação de que ele não adorava corretamente aos deuses e que também iria corromper os jovens com a sua filosofia. Os discípulos de Sócrates tentaram subornar as autoridades para liberar Sócrates, mas ele não quis fugir, dizendo que tinha um dever, que era o de cumprir as leis da polis. No entanto, o pensamento socrático não é, de modo algum, precursor do juspositismo. Sócrates não se submete às leis por reconhecer seu acerto. Tampouco considera a sua sentença justa. A condenação de Sócrates, sendo injusta, revelaria aos atenienses com clareza o justo, por contraste. Para Sócrates, seu exemplo serviria para demonstrar a injustiça, e por isso preferiu morrer. Distanciando-se dos sofistas, para quem a verdade era um produto volátil, humano, meramente convencionado como tal, e afastando-se também dos que imaginavam o justo uma repetição da tradição revelada pelos deuses, Sócrates situa a virtude, a razão e a verdade como sendo critério do justo. Destarte, apoiado na razão, Sócrates fez uma filosofia do direito. Destarte, existem duas formas de interpretar a morte de Sócrates, quais sejam: - Positivismo: tem que aceitar as leis da pólis, https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 6 de 85 portanto, a sua condenação. - A verdade não é forma de convenção entre as pessoas e, portanto, a sua condenação era injusta, e com o tempo isso seria provado. Sendo assim, para Sócrates descobrir a verdade, ele utilizava-se da maiêutica, que é o processo por meio do qual se adquire conhecimento através do diálogo. Em outras palavras, é o processo que se utiliza do diálogo para conseguir a verdade, e consequentemente, à filosofia. PLATÃO Platão é discípulo de Sócrates, e inspirado nele é que escreveu muitos diálogos, uns com histórias verdadeiras de Sócrates, e em outros colocando a sua própria filosofia, utilizando-se, no entanto, de Sócrates como ator. Platão faz a distinção de gnoseologia e epistemologia. Na gnoseologia basta o conhecimento, já na epistemologia tem que existir o conhecimento científico. Destarte, ele elabora uma distinção entre conhecimento e conhecimento científico, e a exemplo do que já dizia Parmênides, é necessário distinguir a mera opinião “doxa” do que vêm a ser conhecimento científico “episteme”. Aduz Platão que a filosofia está preocupada com o conhecimento científico, já que busca a verdade. Platão em sua filosofia tenta encontrar uma solução para o problema surgido entre Heráclito e Parmênides, onde um afirmava a mudança como elemento essencial do ser, e o outro a estabilidade, imutabilidade. Vejamos a forma utilizada para isso abaixo. Platão diz que o mundo da natureza está sempre em transformação, inclusive a política. Como será possível então fazer ciência de algo que muda, que é instável? Para resolver isso, ele faz uma distinção entre o mundo sensível (mundo que está em transformação), do mundo inteligível (mundo das https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 7 de 85 ideias, daquilo que não muda). No mundo sensível a mudança é visível por meio dos sentidos, assim é possível ver a transformação. Já o mundo inteligível não muda, o conhecimento é imutável, sendo, portanto, possível conhece-lo por meio do intelecto. Assim, o ser pode mudar, mas as ideias não, pois o que é é, e o que não é, não é. Destarte, é necessário um método para conhecermos as ideias, um caminho. Frisa-se que o mundo das ideias não é uma criação do pensamento de cada pessoa, porque caso contrário, não seria conhecimento científico. O mundo das ideias tem uma existência autônoma em relação ao indivíduo. Assim, as ideias estão sempre presentes, e o ser humano deve encontrar um caminho para alcança-las, e este caminho para Platão é a dialética, isto é, uma técnica de investigação que envolve a logos, o uso da razão/fala confrontado com as várias opiniões, para que a partir desse confronto de ideias, seja possível identificar o que é a mera opinião e distingui-la do que é o conhecimento. É desta forma que são construídos os diálogos de Platão, sempre envolvendo a interlocução entre dois sujeitos, e por meio dessa interlocução se separa a mera opinião do conhecimento. Esse movimento de descartas as meras opiniões do que é o conhecimento, ou seja, está oposição é que torna possível a obtenção de conhecimento. Para um sofista, se a sua ideia convence ela já é válida, mesmo não sendo verdadeira. E é neste ponto que se distingue o pensamento Platônico do pensamento sofista. Platão tentou descobrir uma forma de construir uma boa polis, pois só com a boa polis poderíamos encontrar um governo de alguém que conhece a verdade. Para elaborar uma boa polis, é necessário levar em conta a psique. Assim, a alma pode ser dividida de 3 maneiras, que são os 3 princípios por meio do qual o ser humano se move: - Apetitiva - Irascível https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 8 de 85 - Racional A alma apetitiva se move para satisfação de seus apetites ligados a produção das coisas e a reprodução. A alma irascível se move a partir das emoções do sujeito. A alma racional se move a partir da razão. Assim, em síntese, esses são os três princípios que estão presentes na mente humana. A partir dessa análise feita no sujeito, verifica- se qual parte da alma é predominante em cada sujeito, para que se possa distribuir as atividades da polis. Assim, aqueles que têm a alma predominantemente apetitiva deve se ocupar na polis com a reprodução e à economia. Já aqueles que têm predominantemente a alma irascível devem ser os militares da polis e cuidar da segurança de todos. Já aqueles que têm aalma predominantemente racional devem ser responsáveis por governar a polis, e dentre todos esses racionais, deve se pegar o que mais se destaca e transformá-lo em rei. Desta análise, pode-se perceber que Platão não gosta muito da democracia, e sim da aristocracia, isto é, o governo de poucos. Ressalte-se que para realizar essa análise nos sujeitos, é necessário que haja igualdade de oportunidade, e a polis é que deve proporcionar isso, afastando, portanto, o pensamento de sucessão hereditária nas atividades da polis. Tal comunismo platônico é sua tentativa radical de estruturar o justo a partir dos alicerces concretos da sociedade, e não simplesmente no nível das normas ou de vontades individuais. Outro elemento importante para Platão é a “Paideia”, que é o sistema de educação que visa constituir um cidadão virtuoso e justo, pois sem eles, não seria possível uma polis justa. Pela educação é que há de se revelar o sábio, o filósofo, e portanto, é ele que deverá se tornar legislador. Frisa-se que essa aristocracia deve governar visando o bem comum de todos, pois caso contrário haveria a degeneração. Destarte, para que haja bons governantes é necessário que no comando https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 9 de 85 esteja quem conheça sobre a razão, sobre o justo. Assim sendo, o justo, para Platão, não se reduz à lei justa, mas sim se verifica na sociedade justa. O homem justo não é simplesmente um técnico das normas, mas economista, um político, um homem de ação social. Há um papel específico reservado às legislações e ao legislador no todo do pensamento sobre o direito e o justo em Platão. O descobrir do justo há de configurar em boas legislações, e por isso, Platão se põe a investigar aquele que pode conhecer a ideia do justo e tornar-se legislador da sociedade. Destarte, virtude e justiça é o que compõe o direito dessa época e, portanto, se uma norma não é justa, ela não é nem chamada de direito. No fim de sua vida, Platão ao ver a dificuldade de implantar seus pensamentos na polis, ele defende um “juspositivismo”, falando que os cidadãos devem cumprir as leis da polis. Na fase de sua velhice, no seu último livro, As leis, Platão mitiga de algum modo suas posições. Reconhecendo a dificuldade real de que, na prática, o filósofo venha se tornar rei, e que haja, além disso, uma sucessão de reis filósofos, e tendo mesmo enfrentado perseguições graves por conta de sua legislação revolucionaria e radical, Platão propõe um certo resgate da experiência jurídica e normativa. Platão concede à verificação dos costumes das pólis uma potencial fonte de criação de normas. Neste caso, os juízes hão de se tornar, então, escravos das leis, já que elas podem exprimir o justo. Já que o seu pensamento idealizado não fora concretizado, era necessário que alguém colocasse os pés no chão agindo de forma rápida, e quem faz isso é o seu discípulo Aristóteles. ARISTÓTELES Por um erro do bibliotecário, o seu livro foi https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 10 de 85 chamado de metafísica, ou seja, o que vem depois da física. Neste livro, Aristóteles fala de algo que é comum a todos os seres vivos, logo, ele fala sobre o ser, enquanto ser. Aristóteles em alguns pontos discorda de seu mestre Platão, e tem até uma frase conhecida: “Sou mais amigo da verdade do que de Platão”. Ele reformula a maneira platônica de pensar a teoria do conhecimento, mas ainda dentro da ideia de que o mundo da natureza está em transformação. Na metafisica, ele apresenta uma teoria, chamada de 4 causas. Nesta teoria, Aristóteles diz que todo ser é constituído por 4 causas, quais seja: - Material: o que constituí as coisas. - Formal: o que individualiza as coisas. - Eficiente: o que provoca a mudança do ser. - Final: a causa final, o objetivo, a finalidade do ser. Todo ser é constituído por uma matéria, mas não é somente ela que determina o ser das coisas. Por exemplo: mesa e cadeira, ambas constituídas por madeira e ferro. Além da matéria, as coisas têm uma forma diferente, o que já as torna diferente de certo modo. Ex.: mesa e cadeira compostas pelas mesmas matérias, mas de formas diferentes. Neste aspecto, é válido ressaltar que para Aristóteles o que difere um ser do outro, ou é a matéria ou é a forma. Existe também um princípio que transforma as coisas, que é a causa eficiente. Essa causa eficiente explica a mudança das coisas e o porquê isto acontece. Algo sempre atua sobre a matéria, transformando-a. E essa causa eficiente pode ser uma ação humana ou uma ação da natureza. Destarte, se o ser é o que é, não é somente porque ele tem matéria e forma, mas sim porque existe uma causa eficiente modificando-a. Já a causa final diz respeito ao objetivo, a finalidade do ser. Tudo aquilo que é tem um objetivo, por exemplo, mesa tem por finalidade apoiar objetos, e a cadeira foi feita para sentar. A https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 11 de 85 finalidade, portanto, determina o ser das coisas. Ex.: faca e enfeite. A finalidade dada a um objeto determina o que ele é. Frisa-se que a finalidades do ser não é definida só pelos seres humanos, mas a natureza também define uma finalidade. Conceito de Ato e Potência: por meio desses conceitos, Aristóteles explica o que as coisas são em um momento, e o que elas podem ser. Um ser é naturalmente ato, mas tem uma potência de se transformar em uma coisa diferente do que é. Ex.: atualmente sou estudante, em potência sou um juiz. Todo ser tem potencia a outros seres, e essa potencia vem da causa eficiente, por exemplo: uma criança tem potência a se transformar em adulto. O homem tem uma inclinação natural a viver na polis, porque todo homem é um animal político. Só não vive na polis quem está acima ou abaixo do ser humano. Ocorre que nem toda organização política é igual, porque o poder político está dividido de formas diferentes de acordo com a sociedade. Em alguns locais, apenas um governa (monarquia), em outros apenas alguns governam (aristocracia), ademais, existem ainda locais em que todos governam (politéia ou democracia). O problema é que essa organização nem sempre é instável, porque a organização política pode se alterar, ou ainda se degenerar. E qual é o critério para dizer se houve degeneração? O bem comum! Assim, quando a monarquia não governa pelo bem comum, ela se degenera em tirania. Quando a aristocracia não governa para o bem comum, ela se degenera em oligarquia. E quando a politéia não governa em nome do bem comum, ela se degenera em demagogia. Destarte, toda vez que a organização política perder a sua finalidade, que é o bem comum, ela se degenerará. Assim, para Aristóteles, não importa quem governe, desde que o faça em nome do bem comum, o que difere do pensamento contemporâneo republicano, que https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 12 de 85 aponta que só haverá bem comum se todos governarem, isto é, se houver democracia. E o que é o bem comum? Qual a inspiração comum a todos? A felicidade, pois somente ela é um fim em si mesmo, todas as outras aspirações é apenas um meio de atingi-la. A felicidade, portanto, é a máxima aspiração para Aristóteles. Como alcançar a felicidade? É necessário que os cidadãos sejam virtuosos. Aristóteles fala em virtudes: - Intelectuais - Morais Dentro das virtudes intelectuais tem-se a phronesis que é a prudência para se escolher aquilo que é bem e, portanto, se afastar do que é ruim. Mas o que é bom e ruim? Aí é que entra a virtudemoral para determinar o que é bom ou ruim. Destas duas virtudes, é que surge a teoria do meio-termo, onde se prega que o bem não está em nenhum extremo, e sim no meio termo. Destarte, o sujeito prudente, portanto, virtuoso, evita esses extremos e persegue o equilíbrio do meio termo. O bem está entre o excesso e a carestia (falta), a virtude/coragem é evitar a ação excessiva e ao mesmo tempo a ação temerária. Aristóteles cria uma teoria a respeito da justiça, e nela faz a distinção entre justiça universal e particular. Justiça universal é uma virtude que participa de todas as outras virtudes. Já a justiça particular é considerada em si mesmo, e é dividida em três: - Distributiva: dar a cada um o que é seu, isto é, respeitar a proporcionalidade. Ex.: dar um pão a cada um da polis. Assim, quando a distribuição dos bens da polis for de acordo com a necessidade de cada um, haverá justiça. - Corretiva: aqui os bens já foram distribuídos, mas de forma errada, e por isso há injustiças. Ocorre que a má distribuição aqui pode ter ocorrido de forma voluntária (compra e venda, doação, e etc.) ou involuntária (furto, roubo e etc.). Neste https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 13 de 85 caso, faz-se necessário a justiça corretiva para corrigir as injustiças que possam surgir. - Reciprocidade: aqui a justiça está ligada à equivalência entre as coisas. P. ex.: entregar um ovo em troca de um boi é injusto. Assim, é necessária a reciprocidade para estabelecer o equilíbrio das coisas conforme a sua utilidade. Equidade – é o elemento que possibilita a flexibilização da realidade para buscar o mais justo. Conclusão da filosofia aristotélica: Quando aristoteles diz que para que possamos pensar a justiça devemos identificar a natureza das coisas, isso não significa que ele vai conceber um conjunto de regras imóveis, fixas tanto no campo da ética como no direito. Isso é um pensamento dos modernos. No Aristoteles, aquilo que é o justo é determinado conforme o estado de coisas que é decorrência da natureza, e que não é algo fixa, imutável. Na filosofia aristotélica não tem como pré-fixar o que é ser corajoso, só saberemos se o sujeito é corajoso conforme a realidade que se apresentar. Não tem como falar de coragem. A virtude se revela em cada caso concreto, ou seja, não existe uma regra natural imutável. A determinação do justo se dá conforme a realidade se apresente. A equidade flexibiliza o rigor de toda lei, de toda regra conforme cada caso concreto. Aristóteles extrai essa ideia de equidade a partir de uma . Oara dar uma justa medida da coisa, você não pode usar uma régua justa, a justa medida] É necessário uma prudência para observar a realidade e dizer o que é o mais justo. Conclusão, tem flexibilização para fixação do que é justo. FILOSOFIA HELENISTA E PATRISTICA A filosofia helenística se desenvolve depois da perda da independência política de Atenas. Assim, a política não será mais o tema da filosofia e sim a ética. Do final da vida de Aristóteles em diante é o https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 14 de 85 período da filosofia helenística. Neste período, houve o desenvolvimento de várias correntes filosóficas, que se transformaram nas grandes escolas da antiguidade romana. Trataremos das 3 principais: - Ceticismo - Epicurismo - Estoicismo Essas três escolas competem com uma outra escola chamada Patrística. Assim, a filosofia helenística e patrística irão coexistir. Um ponto comum entre essas correntes é que elas falarão sobre ética, embora não deixem de falar também sobre direito e justiça. Ceticismo é uma corrente filosófica que não nega a existência da verdade, mas afirma existir uma dificuldade ou impossibilidade de conhecê-la. A consequência dessa corrente para o direito é que se não tem como conhecer a verdade, também não é possível conhecer o mais justo. Epicurismo é uma corrente que, diferente dos céticos, acredita ser possível descobrir o que é mais justo por meio de uma convenção. Estoicismo é uma corrente filosófica que também aduz ser possível descobrir a verdade e o mais justo, por meio de uma razão natural que preestabelece o que seria mais justo. Um dos pensadores do estoicismo é o Cicero, imperador de Roma e defensor da República. Essas correntes já possuíam um cunho religioso, mas é a partir a filosofia patrística que se têm inicio a uma filosofia cristã. A filosofia patrística vai surgir ligada ao Cristianismo, já que ela é a filosofia dos padres “pater”. Santo Agostinho constrói um pensamento filosófico dentro da filosofia patrística. Durante este período há um embate entre a filosofia patrística e a helenística. A filosofia patrística trata de todos os temas que eram tratados https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 15 de 85 anteriormente, só que sob a teologia cristã. Durante esse período discutia-se também a constituição do texto sagrado, então Santo Agostinho além de ter que discutir com a filosofia helenística, tinha que tomar por base o texto sagrado. Assim, na filosofia patrística, havia uma conciliação dos textos sagrados com a filosofia antiga. Não se tratava, portanto, de uma oposição entre fé e a razão, mas sim da utilização das escrituras como meio para se buscar a razão. Santo Agostinho afirmava que o texto bíblico, por si só, não era a verdade, sendo necessário, portanto, utilizá-lo como forma de alcançar a verdade, que é interna por intermédio de Cristo. Assim, os textos sagrados provocam a busca pela verdade. A filosofia agostiniana é Platônica, por isso ele é considerado um neoplatônico. Logo, a filosofia agostiniana é uma releitura da filosofia platônica, adaptada para o cristianismo. Na filosofia agostiniana quem detém o poder é Deus. Portanto, o pensamento desenvolvido por meio da filosofia era o de submissão à autoridade de Deus. Justiça, destarte, era respeitar essa hierarquia natural instituída por Deus. Logo, era esse o argumento utilizado para explicar o fato do servi ter que continuar sendo servo para o resto da vida, pois isso era estabelecido pela justiça divina. “Deus é um ser, e o mau é um não ser. Assim, Deus não é a origem do mau”. FILOSOFIA MEDIEVAL E RENASCENTISTA São Tomás de Aquino fazia sua filosofia baseada em Aristóteles. Portanto, ele é um neo-aristotélico. Na época de São Tomas, a igreja já era a maior e principal instituição política unificada. A https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 16 de 85 organização econômica da época era o feudalismo, onde o poder era descentralizado para os feudos. A igreja era, portanto a única instituição centralizada, e a figura do Papa era a do maior poder político existente à época. Não havia a concorrência com a filosofia pagã como na época de Santo Agostinho. O pensamento religioso nessa época não é só o católico na Europa, mas havia também o Judaísmo e o Islamismo. Assim, a filosofia está inserida dentro desses três pensamentos religiosos. Todas essas religiões possuem um livro sagrado, e nenhuma poderia impor a sua sagrada escritura à outra religião. Portanto, a discussão filosófica da época era saber sobre qual filósofo estava pautado o livro sagrado. Os islamistas, por exemplo, diziam que o seu livro sagrado estava de acordo com as visões de Aristóteles. Portanto, as discussões entre as religiões eram essas. São Tomás então adaptou o cristianismo ao pensamento aristotélico. São Tomás tem um livro chamado “suma teológica”, onde existem centenasquestões do campo religioso de forma organizada, ordenada do início do mundo ao fim. É considerada uma grande obra da filosofia cristã. Na suma teológica, São Tomás utilizava o método de disputa, onde primeiramente se apresentava uma questão (por exemplo, Deus existe?). Em seguida se apresentava os argumentos contra aquela questão (por exemplo, Deus não existe por x motivos). Em seguida eram apresentados os argumentos a favor sobre a questão (por exemplo, Deus existe por y motivos). Depois se utilizava ainda um contra argumento à questão. Frisa-se que todos esses argumentos deveriam ser baseados em uma autoridade, e assim era que ele construía a verdade. Logo: Disputa: - Questão - Argumentos contra - Argumentos a favor - Contra argumento https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 17 de 85 Na suma teológica, São Tomás apresenta dois tratados: - Tratado sobre a lei (conjunto de questões sobre as leis). - Tratado sobre a justiça. Assim, como se pode ver, o Direito não está fora do pensamento tomista. No tratado sobre as leis, São Tomás apresenta uma divisão entre as leis, qual seja: - Lei eterna - Lei divina - Lei natural - Lei humana Existe uma lei que se confunde com Deus, que é a lei eterna. Ela é a própria racionalidade divina, o próprio Deus. Por isso, ela nunca é conhecida inteiramente pelos humanos, dada a racionalidade inferior dos homens. No entanto, isso não significa que o ser humano não possa conhecer uma parte dessa lei. E aí é que surgem as outras leis. A lei divina é a lei eterna revelada aos homens por Deus. Logo, integra a lei eterna. Ocorre que uma revelação só é revelação quando a igreja diz que é. Sendo assim, a igreja tem um poder extraordinário, pois é ela que controla o que é a verdade, o que é justo. A lei natural é a que pode ser conhecida pela razão humana. A lei humana é aquele que é criada pela própria humanidade, em conformidade com a lei natural. Assim, como se pode perceber, São Tomás defende a existência de um direito natural que pode ser conhecido pelo homem por meio da razão. As pessoas podem também criar leis, isto é, um direito positivo. No entanto, essa lei criada deve ser baseada na razão e, portanto, nas leis naturais. Essa lei humana está voltada para o bem comum da sociedade, ou seja, uma norma humana somente será considerada direito quando está em https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 18 de 85 conformidade com o bem comum. Assim, o direito para São Tomás é o justo, o bem comum. Como se pode perceber, a filosofia tomista concebe uma filosofia da justiça com base em Aristóteles. Tem-se em São Tomás de Aquino a ideia de que um sujeito deve ser virtuoso para alcançar a salvação. E ser virtuoso é seguir as leis. Após um período a economia feudal começa a entrar em decadência, e começa a surgir a economia capitalista. As correntes protestantes que surgem a seguir de Lutero e Calvino se opõem ao pensamento tomista, e são mais ligadas ao pensamento agostiniano. Na Inglaterra, Henrique XIII queria se casar novamente, por exemplo, e a igreja católica não permitia. Daí ele rompeu com a figura do papa e criou uma nova religião. Assim, na Inglaterra o protestantismo desenvolve a ideia de que as relações com Deus não precisavam mais ser intermediadas, e sim diretas. Destarte, não era necessário mais a figura do Papa e da igreja católica para se relacionar com Deus, ocasionando uma alteração na filosofia e na política. Durante esse período é que surge, concomitantemente, a filosofia renascentista, que não está ligada à religião. Essa filosofia começa a se confrontar com a filosofia medieval, mas ainda não é uma ruptura severa à filosofia medieval, e a razão disso é porque a igreja tinha o poder sobre tudo, isto é, sobre a vida e morte das pessoas e, portanto, matava quem ia contra o pensamento religioso. É na filosofia renascentista que se tem a figura do Maquiavel (Sex XV a XVI). Maquiavel é uma forma de pensar a política e a justiça sem ligação com a igreja. Ele tenta resolver o problema de como se ter o poder e mantê-lo, porque só com um poder estável era possível se formar um Estado Nacional. Para Maquiavel a pessoa tem que fazer de tudo para se manter no poder, pois isso é ser virtuoso para https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 19 de 85 ele. Consegue se manter no poder quem cumpre e não cumpre suas promessas conforme as situações. No entanto, duas grandes formas para se manter no poder é não tocar no dinheiro e nem na liberdade das pessoas, pois “as pessoas sofrem mais a perda do dinheiro do que a morte de seus pais”. A filosofia de Maquiavel é totalmente ligada ao ser humano, e por isso é antropológica. Como já dito anteriormente, Maquiavel quer criar Estados Nacionais para ascender economicamente. Veremos na filosofia moderna que, quando já estiverem formados os Estados Nacionais, a preocupação da filosofia não será mais em como se manter no poder, e sim em como limitar o poder do governante. ----- Filosofia Moderna HOBBES - O referencial para a teoria do Estado e Direito é baseada na filosofia moderna. - Estado e direito são necessários para manter a ordem, pois Hobbes nasce em um momento de guerra civil na Inglaterra, onde as pessoas queriam a paz. - O Estado deve ser soberano, com poderes absolutos, de forma que os sujeitos não tenham poder nenhum. - Frisa-se que soberania aqui tem dois sentidos, quais seja, ser superior sobre território e povo, e o sentido jurídico que significa que o Estado é quem determina o direito. - As pessoas também criam normas por meio do contrato, mas não podem infringir normas imperativas de ordem pública. Assim, em última instância, ainda quem determina o direito é o Estado. - Método de Hobbes é baseado em Rene Descartes. - Descartes quis reformular toda ciência. Assim, criou um novo método que traria certeza para a https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 20 de 85 ciência, pois a filosofia, por exemplo, era muito imprecisa, onde sobre um mesmo assunto havia várias discussões. Descares, portanto, disse que o método utilizado pela filosofia era errado. - São necessários argumentos certos, e não apenas prováveis para se construir ciência. O improvável é insuficiente para fazer ciência. - Ciência tem que partir de uma verdade, de um conhecimento intuitivo (indução). A intuição (indução) difere-se da dedução, já que nesta é necessário uma demonstração para chegar a uma conclusão. Um conhecimento intuitivo é reconhecido de imediato como verdadeiro. - Não é possível ter intuição de coisas complexas e, portanto, para fazer ciência é necessário partir de algo simples para em seguida chegar ao complexo. - Após partir do simples, é necessário ordenar as coisas. - Em seguida, deve-se fazer uma síntese. - (PROCESSO P/ CIENCIA: Simples, ordenar, síntese). - Matemática tem axioma, que é aquilo que não é necessário demonstrar, por ser muito intuitivo. Ao passo que aquilo que não é intuitivo é chamado de teorema. - Hobbes baseia-se nessa teoria de Descartes para fazer ciência. - Para construir uma teoria Política e do direito, o ponto de partida mais simples é o indivíduo. Assim, o ser humano tem características, e a partir dela é que se desenvolve a teoria do Estado e direito. - O elemento básico do ser humano é a vida. Assim, o ser humano faz de tudo para se autopreservar. - Individuo fazendo de tudo pela autopreservação ocasiona conflitos. - Eu não sei o que o outro pode fazer comigo, e vice versa.Assim, isso gera uma guerra de todos contra todos. - O indivíduo tem duas faculdades, quais sejam, a vontade e o entendimento. Assim, o individuo tem vontade de ficar vivo e por isso tem o entendimento que pode fazer de tudo para se manter vivo. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 21 de 85 - Mesmo o mais forte pode perder para o mais fraco, se ele vier em grupo, p.ex. Assim, a força individual é insuficiente para manter a ordem. - Fazendo uso da vontade e do entendimento é que o ser humano cria um pacto, uma sociedade civil, onde todos transferem seus poderes ao soberano. - Assim é que a filosofia explica a legitimidade e a força coercitiva do Estado e do direito a partir do individuo. - O contrato só é valido se há vontade e entendimento. Assim, é que os cidadãos devem seguir as leis, porque ela é a minha própria vontade e entendimento. - O ser humano só tem uma liberdade, que é a de fugir caso o soberano queira matar ele, pois se você faz o pacto para se manter vivo, não faria mais sentido permanecer pactuado nesse caso. - No pensamento tradicional feudal, os indivíduos não eram iguais. Hobbes parte nesta teoria dizendo que os indivíduos são iguais. Logo, começa a deslegitimar o pensamento da igreja. - Essa teoria é boa tanto para a Monarquia quanto para a Burguesia. JOHN LOCKE - Para Hobbes é necessário apenas um soberano, e ele não está limitado pelo direito. - Locke está associado à teoria liberal, isto é, a liberdade. - Liberdade positiva (só é livre quem participa da política), e liberdade negativa (você pode fazer tudo, ao menos que seja proibido). - Essa liberdade em Locke é pensada sob o aspecto econômico, isto é, sou livre para fazer o contrato que eu quiser. Já para John Milton, a liberdade era ausência de dominação e, por isso, não fazia sentido discutir liberdade no escravagismo, já que não havia liberdade. Assim, em John Milton é necessário criar um arranjo político que impeça a dominação de um sobre o outro, precisando, portanto, que o próprio Estado obedeça leis para evitar o seu domínio sobre os demais. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 22 de 85 - Todos exercendo a liberdade pode gerar conflitos. É necessário o Estado para impor limites. Mas como instituir limites para o próprio Estado? - John Locke defende a existência de um direito natural, e para conhece-lo os sujeitos utilizam-se da razão. - O estado de natureza não é de guerra, e sim de paz, pois todos já conhecem a existência de um direito natural, devendo, portanto, respeitar a liberdade e a propriedade do outro. - O problema do estado de natureza é que ele não tem garantia de que será obedecido por todos, e por isso pode existir conflitos. Ninguém é um bom juiz de si mesmo, portanto, é necessário um terceiro imparcial (Estado) para julgar com base no direito. - O que leva a criação do Estado é um pacto que preserve o direito natural, que garanta a segurança à lei, aos contratos e para manter a ordem. - A autoridade do soberano tem um limite, que são os direitos naturais. Destarte, se houver violação aos direitos naturais, o individuo poderá resistir ao Estado. - O que legitima o direito positivo também é a conformidade com o direito natural. - O direito natural que deve ser preservado é a propriedade privada, vista aqui não só como coisas materiais, mas no sentido de propriedade de si mesmo, como a vida, e etc. - O que garante/legitima a propriedade? O trabalho humano. - Locke cria uma teoria da desigualdade, e ele diz que a fonte da desigualdade é o dinheiro, pois ele é possível ser acumulado. Já quando era apenas o trabalho que legitimava a propriedade, as pessoas não acumulavam para não estragar. - Assim, o limite do soberano é o direito natural, e esse direito natural é o de propriedade. - Todos têm direitos naturais, basta nascer individuo. Assim, o objetivo do Estado é garantir a liberdade e propriedade do individuo em relação a todos os sujeitos. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 23 de 85 ------ ILUMINISMO ROUSSEAU - Nasceu na Suíça, mas morou durante muito tempo na França. - Foi um grande ícone da Revolução Francesa, e por isso foi enterrado ao lado de Voltaire. - Voltaire tem um livro “Deus e os homens”, no qual critica a religião, alegando ela ser um atraso para a ciência e para a razão. - Os iluministas tinham como adversários tanto a Nobreza (autoridades reais), como o Clero da Igreja. - A religião não estava dando conta de explicar muitas coisas, nem sequer os fenômenos naturais e, por isso, o iluminismo tinha o intuito de reformar a razão e os dogmas, bem como racionalizar tudo, seja sistema métrico, calendário e etc. Assim, o iluminismo visa fazer racionalização em todos os campos. - Rousseau dentro do Iluminismo cria uma teoria contratualista. - O estado de natureza era de pura paz e harmonia, onde as pessoas viviam isoladas. Às vezes tinham um ponto de convivência para se reproduzir, mas disso nunca surgiam conflitos. - A desigualdade não está de acordo com o direito natural previsto no estado de natureza. - Não há conflitos no estado de natureza porque os bens são de todos, sendo a origem da desigualdade a propriedade privada. - Entende-se por propriedade privada a apropriação daquilo que a natureza concedia para todos. A desigualdade surge quando um fala que determina coisa é sua, e a outra acredita. - A partir da propriedade privada, passou-se a existir relações de trabalho, entre donos de terra e os ingênuos. Assim, consequentemente passa a existir conflitos. - Para voltar a ter paz e harmonia é necessário criar o contrato social. É necessário um soberano para https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 24 de 85 regular a relação entre as pessoas egoístas, que só pensam na propriedade privada. - É necessário o Estado criar um processo pedagógico e promover uma boa educação de forma que as pessoas comecem a pensar no todo e não somente nele mesmo, isto é, na propriedade privada. - Ele defende a liberdade como um direito de todos. - Ele defende a legalidade, pois é ela que limitará o governo arbitrário e impedir a desigualdade e falta de liberdade. - É necessário um governo de leis e não um governo de homens, assim, é preciso um Estado de direito. O sujeito é só um servo da lei, e é a norma que confere o poder ao sujeito. - O interesse geral deve ser garantido o tempo todo. O Estado pode até ir contra o interesse de um particular em específico, desde que para garantir a vontade geral. - Se o governante não agir em prol da vontade geral, ele perde a condição de governante. - Rousseau é um crítico da propriedade privada, e não é considerado tão liberal justamente pelo fato desses serem a favor da propriedade privada. - Por outro lado, a lei para Rousseau é ruim pelo fato de proteger a propriedade privada, mantendo, portanto, a desigualdade. Assim, as leis são boas por um lado e ruins por outro. - Só a educação pode mudar esse cenário. BENTHAM - É um filosofo do iluminismo, nascido em meados do Século XVIII e morreu no inicio do século XIX. - Cria o utilitarismo que é outra forma de se enxergar o direito. - Repele o direito natural. - O direito só deve estabelecer como norma aquilo que é útil, sob a perspectiva coletiva. - O pensamento de Bentham é empirista, pois é necessário observar o efeito concreto que uma norma provoca na sociedade para estabelecer se ela é justa ou não. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/1611G32 Página 25 de 85 - Pensamento empirista foi muito criticado. - Surge o Panoptismo, criado por Bentham para maximizar os resultados, com o menor custo possível. - O panoptismo é uma doutrina de vigilância, baseada na possibilidade do sujeito ser vigiado o tempo todo, minimizando os custos e maximizando os resultados. Kant Tem uma obra chamada crítica da razão pura, e tem outro livro chamado crítica da razão prática. O Kant nasceu em uma cidade que atualmente reside na Alemanha, e por isso é considerado alemão. Ele passou a vida inteira isolado de badalações, sempre deu aula no mesmo lugar, tinha uma vida muito regrada. Ele tinha uma vida tão regrada, que dizia que a pessoa tinha que dedicar o máximo de tempo em prol da ciência e da razão, e por isso tinha que desprezar atividades que gastavam energias à toa, que é o sexo. Kant morreu virgem. Kant desenvolve uma filosofia sobre o conhecimento, uma teoria, que vai revolucionar tudo o que existia anteriormente, e alguns chamam isso de revolução copernicana. Pra fazer essa revolução, Kant divide os tipos de juízos que existem. Ele diz que existem juízo analítico e sintético. E o juízo sintético pode ser a posteriori ou a priori. Isso está na critica da razão pura. O Kant revoluciona de uma maneira ainda mais radical a teoria do conhecimento. Depois dele a filosofia nunca mais foi a mesma. Ele é, sem dúvidas, o pensador mais importante do iluminismo. O que é essa revolução copernicana? Ele diz que há um problema fundamental na filosofia, que nem o Descartes venceu. A preocupação dos antigos era do conhecimento objetivo das coisas, do conhecimento do que é justiça, do que é natureza em si mesma, e etc. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 26 de 85 O Kant diz que esse é o problema da filosofia, pois ela insiste na possibilidade do conhecimento em si, e isso é impossível. Com Kant há a morte da metafisica, portanto. E também há uma morte da teologia que era pensada até então, pois para Kant o conhecimento em si das coisas é impossível, o ser das coisas jamais pode ser conhecido. E consequentemente, o conhecimento de Deus é impossível, o máximo que você pode ter é fé, porque a razão jamais vai explicar isso. Frisa-se que ele era religioso. O Kant, portanto, opera uma transformação profunda na teoria do conhecimento de modo que se antes o objeto estava no centro da teoria do conhecimento e orbitava sobre ele o sujeito, ele inverte tudo isso. Ele diz que no centro da teoria do conhecimento está o sujeito, os objetos giram em volta dele. Há essa alteração, de tal modo que o conhecimento em si das coisas é impossível, não existe nenhuma possibilidade disso. O máximo que é possível é um conhecimento subjetivo das coisas. Ou seja, você pode conhecer uma coisa tal qual ela se apresenta pra você, mas esse não é o conhecimento em si das coisas, mas sim como ela se apresenta para você. Você não consegue conhecer a essência das coisas, o máximo que você pode conhecer o mundo, é como o mundo se apresenta pra você, mas isso é uma visão particular, não é objetivo. Portanto, a filosofia não está descrevendo as coisas objetivamente, e sim apenas como o sujeito do conhecimento enxerga. Essa proposição de Kant tem um problema, qual é? Se eu tenho uma compreensão do mundo que é particularmente subjetiva, como posso dialogar com outras pessoas se essa experiência é particular? Nós temos um conhecimento de como é feito essa porta, daí segundo Kant a gente não sabe, mas sim pensamos como a enxergamos e explicamos o objetivo, mas isso não revela as coisas em si mesmo. Como posso comunicar com as pessoas se não existe um ponto comum? Se a experiência fosse totalmente subjetivo e o conhecimento também, https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 27 de 85 como será possível um ponto comum do conhecimento de todos? Kant tem uma resposta pra isso. Para descartes todo conhecimento já estava inato no sujeito, já para Kant, ele diz que o que existe em comum para todos é uma estrutura da razão. Isso é comum pra todos. Só que essa estrutura da razão é vazia de conteúdo, e essa estrutura é preenchida a partir da experiência. A experiência preenche essa estrutura da razão que todos têm. Tem duas categorias fundamentais para Kant, tempo e espaço. Todo mundo tem essa estrutura inata da razão. Agora, a experiência que cada um de tempo e espaço é variável, portanto, o que é invariável é a estrutura. O que é variável é a experiência. A ideia de espaço é inata, você já tem a ideia de tempo e espaço, agora quantas portas tem essa sala é determinada pela experiência. Mas a ideia de quantidade não é criada pela experiência. É por isso que você consegue dialogar sobre tempo e espaço. Dá briga porque na hora da experiência, essa experiência de cada um pode ser diferente, e pode ter conhecimento não confiável, mas a ideia de quantidade varia? O conceito de quantidade varia? Não. O conceito de quantidade não depende de experiência, de qualidade, de causalidade não varia. O que você pode conhecer com certeza absoluta são essas categorias de conhecimento porque não dependem de experiência. Já o que depende de experiência pode gerar controvérsia. A razão se desenvolve dada certas condições, e é isso que ele quer examinar na crítica, que é a verificação da possibilidade de você ter um conhecimento racional. Qual é a possibilidade da razão pura e razão prática? (veremos próxima aula) Eu tenho juízos que ele classifica como analíticos, que não permitem o conhecimento. Por exemplo, triangulo que tem três lados. Mas dizer que o triangulo tem três lados não é apenas reproduzir aquilo que estava contido na ideia de triangulo? O https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 28 de 85 juízo analítico não acrescenta em nada o nosso conhecimento. O juízo sintético é aquele que acrescenta. Por meio da experiência (a posteriori), quanto mede uma sala? Eu vou e meço. A experiência não é 100% confiável. Não é porque você viu uma coisa 10 vezes, que irá acontecer 11. Todo conhecimento a posteriori tem uma precariedade, pois só vai haver o conhecimento perfeito se ele não depender de nenhuma experiência, isso é um juízo sintético a priori, que acrescenta conhecimento, mas não depende da experiência. Onde isso será possível, qual o campo do conhecimento que vai existir isso? No direito! Por quê? Veremos na próxima aula. ---- CONTINUAÇÃO Kant – Filósofos da Modernidade – Aristóteles e Platão É o pensador que estabelece os principais fundamentos do pensamento jurídico contemporâneo. O modo como os juristas do século XIX e XX refletem o pensamento Kantiano. Ao contrário dos filósofos que não têm tanto destaque, Kant tem muito destaque. Kant é lembrado como um sujeito defensor do direito internacional, de uma relação pacífico entre os Estados. Pensava o direito de uma forma internacional, de forma que o cidadão fosse cidadão do mundo e etc. Ele tinha essa ideia de cidadania universal. O Kant escreve a crítica da razão pura, na qual ele identifica as possibilidades do conhecimento. E neste caso, ele quer verificar a possibilidade de conhecimento no campo da natureza, no campo natural. Diferente será a crítica da razão pratica onde ele examina não a natureza, mas a sociedade, a questão social e por consequência, a questão do individuo. A crítica da razão pura ele observa o campo da natureza, onde existem leis naturais, existe uma https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 29 de 85 necessidade, ou seja, existem certas leis que ordenamo mundo da natureza. A impossibilidade de conhecer a natureza em si das coisas, dessas leis naturais. No entanto, Kant diz que no campo individual, no campo da ação humana e das relações sociais há uma diferença fundamental. Ou seja, na crítica da razão pratica o que Kant examina é que existe uma diferença quando você estar procurando conhecer um individuo. Individuo são os seres humanos. O que distingue o humano do que não é humano, isto é, das demais coisas? O entendimento como já dizia Descartes, e a vontade. Isso não existe no campo da natureza, pois lá não tem conhecimento do mundo e muito menos liberdade de agir. Já os seres humanos, no campo humano, o elemento da liberdade e da vontade é o que distingue. Kant nota que no campo das coisas naturais, não existe liberdade. A pedra não decide se ela caí ou não, por exemplo, pois existem leis necessárias. Portanto, se você fala em lei no campo humano existe uma diferença fundamental, pois no campo humano se existe uma determinada lei, ela pode não ser cumprida. No campo da natureza existe causa e efeito entre as coisas, assim, as coisas são, mundo ôntico, já no campo do direito não é causa e efeito e sim um mundo deôntico, um dever ser. No campo do direito tem esse elemento da vontade, o dever, portanto, só existe na razão prática, pois não existe no campo das ciências naturais a liberdade, por meio da vontade. Dever só existe no campo do direito e não no campo da natureza. A moralidade é simplesmente o cumprimento do dever? Não! O cumprimento de um dever moral, não se mede por nenhum elemento externo que não simplesmente o dever e o querer. A pessoa fala: eu não vou dar dinheiro para o pessoal do Nepal porque meu dinheiro não chegará! Kant diz que todos esses juízos que envolvem circunstancias, análises e etc., não cabe um juízo moral. O juízo da moralidade não é um juízo empírico. Para você https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 30 de 85 construir um pensamento que seja racional, para encontrar aquilo que é o racional não é empiricamente, e sim por meio de um juízo a priori. No caso do direito e da moralidade, você consegue ver um juízo sintético a priori, você consegue um acréscimo de conhecimento sem nenhuma analisa empírica. Ficou reservado o campo da moralidade e do direito um campo especial, onde você consegue fazer uma teoria sobre o justo e a ética sem depender da experiência. Kant abomina o utilitarismo, porque se você fizer um juízo circunstancial você nunca conseguirá encontrar uma certeza racional acerca da moral e do direito. O que é moral é aquilo que está conforme o dever, que está conforme a liberdade intrínseca do sujeito. Isso sim é que é ação moral. Para o Kant esse aspecto subjetivo do querer é que caracteriza a ação moral, não bastando que o sujeito aja. Diferença entre direito e moral: quais são os critérios utilizados? A moral é interna, já o direito é externo. Frisa-se que a moralidade não é algo subjetivo para Kant no sentido de que cada um tem um padrão moral. A moralidade tem uma objetividade para Kant. No caso de Kant, a diferença entre ambos é que o agir moral só existe quando o sujeito quer praticar uma determinada conduta, ou seja, internamente ele deseja praticar aquilo, ao passo que no caso do direito, são os aspectos externos. Na moral há uma conformidade do sujeito com o querer fazer aquela ação. Agir por outro motivo, por outra finalidade que não o próprio querer descaracteriza a ação moral. O cumprimento do dever moral deve ser o querer e dever. Se houver qualquer elemento externo, por exemplo, eu doei o dinheiro porque isso, ou aquilo. Nada pode condicionar o querer ou dever do sujeito. A filosofia do direito é o oposto da filosofia utilitarista ou a aristotélica, porque para se dizer o que é moral basta o dever e o querer. Kant vai dizer que o dever moral se cumpre https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 31 de 85 simplesmente por ser um dever. E você deve ter uma aliança desse dever com a liberdade intrínseca do sujeito. Por isso, só dá pra falar em moralidade no campo humano, pois não faz sentido falar em moralidade no campo da natureza, já que não existe possibilidade de descumprimento, ao passo que no campo humano é possível o sujeito não querer. Mas o que é devido? Tudo o que eu quiser? Não, para Kant a moralidade tem uma objetividade, existe um dever moral que todos devem respeitar. Saia da ideia de que a moralidade cada um tem a sua. O que é moral é racional, e a razão ela tem essa objetividade. No campo da moralidade pode-se conhecer o racional em si, as coisas em si mesmo, posso conhecer a moral em si mesma. Só na natureza que é possível conhecer apenas o fenômeno, mas não as coisas em si. No dever moral é possível conhecer ele em si. A razão tem um caráter universal. Para Kant, para você encontrar o que é dever moral subjetivo, você não encontra isso com um juízo da realidade. Você tem apenas de um raciocínio abstrato identificar o que é racional do ponto de vista moral, e aí Kant apresenta um imperativo categórico, um imperativo da razão que indica qual deve ser o seu agir. Esse imperativo da razão determina como deve ser a sua ação, qual é o dever que você tem. Você tem o dever e tem que querer agir conforme esse dever, e aí sim você estará agindo moralmente. De que maneira deve-se agir? Qual é a ação moral? Você não fundamenta a razão com juízo a posteriori, e sim com um juízo a priori. Juízo posteriori não pode, assim, não pode a partir da razão concreta. Deve-se ter determinado a priori o que é moral ou não. Quando o sujeito cumpre o dever moral, se não tem vontade, não é moral. Abstratamente você vai identificar o que é devido ou não. Toda ação humana deve estar conforme o imperativo: age como se tua ação pudesse servir de https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 32 de 85 máxima universal para todos os seres humanos. Se você agir conforme o imperativo categórico é moral, se agir em desconformidade, aí sua ação é injusta, imoral. Só uma ação que pode servir de máxima universal para todos é que pode ser considerada justa e moral. Se a ação não pode ser universalidade ela não é moral e nem justa. Observem que esse imperativo categórico é estabelecido a priori, ou seja, é válido independentemente de qualquer resultado, de qualquer efeito prático que tenha, pois isso já está determinado de inicio. Só o que pode ser universalidade é que pode ser definido como moral. Moralmente correto é aquilo que pode ser universalizado. Ex. mentir, a moral não tem possibilidade de mentir. A mentira é um tipo de ação que não pode ser universalizada, você não pode tornar a mentira uma ação universal de todos. Ou seja, se você não pode colocar ela como uma máxima universal, isso não poderá ser considerado moral. Para o raciocínio de Kant esse imperativo está a priori, não dependendo da experiência e não é dotado de qualquer conteúdo, mas estabelece qual é o dever moral. Para Kant o dever moral vai se confundir com o direito, pois o que é devido moralmente vai ser o que está estabelecido do ponto de vista jurídico. O direito é uma reafirmação do dever moral. Do que depende a boa convivência das pessoas? Cumprindo as leis! Mas nem todo mundo vai usar da sua liberdade para agir conforme o dever moral, e como garantimos isso? Como fazer com que as pessoas ajam conforme o dever moral? Pela coerção. A coerção vem da sanção. Então, um determinado dever moral, para ser cumprido, é necessário colocar uma sanção. Aí saímos do campo da moral e fomos para o direito. No campo da moral não existe sanção. Portanto, a sanção só vai existir a sanção. No campodo direito vai existir além do dever moral, o elemento da coerção que se dá por meio da sanção. Como posso dizer que a liberdade do sujeito ficou preservada, como mantive o sujeito livre e ao https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 33 de 85 mesmo tempo estabeleci uma coerção sobre ele? Eu violei aquilo que era a condição natural do individuo que é ser livre. Como resolver esse problema? Como falar que tenho liberdade se tem alguém me coagindo a agir de certa maneira, sendo que a coerção tira minha liberdade. Como falar que preservei a liberdade? Como posso dizer que a coerção exercida pelo Estado tem uma legitimidade? O Estado está ali para promover o bem comum. O Estado tem que garantir, portanto, uma liberdade universal. Só é possível garantir a liberdade de todos se essa liberdade puder conviver com outra liberdade. E pra essa liberdade ganhar esse caráter universal, é necessário que o Estado atue evitando a ação livre do sujeito que acabe com a liberdade do outro. Você é um sujeito livre, tem liberdade. Essa liberdade que você tem só é moral quando tem esse caráter universal. Portanto, se você usar a sua liberdade para cercear a liberdade do outro, ou seja, se for exercida de modo a restringir a liberdade do outro, aí você rompeu o caráter universal, e, portanto, neste caso o Estado pode atuar por meio da força, violenta, sanção, para bloquear essa sua ação. O Estado tem legitimidade para bloquear o exercício da liberdade quando essa liberdade é utilizada para cercear a liberdade do outro, pois não estaria conforme o imperativo categórico. Ou seja, o sujeito é livre e cumpre a moral quando exerce essa sua liberdade de maneira que ela se concilie com a liberdade do outro. Já quando o sujeito quiser cercear a liberdade do outro, aí essa liberdade não é mais legítima. O Estado vai garantir que o sujeito possa livremente contratar com outro sujeito. Ou seja, o Estado garante que você tenha uma liberdade para fazer um contrato, uma liberdade individual. O exercício dessa liberdade não pode ser feita anulando a liberdade do outro. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 34 de 85 O sujeito é dotado de uma liberdade, agindo e usando a sua liberdade ela pode ser conciliada com a liberdade do outro, essa ação dele, se querendo agir dessa maneira, é moral. Para o Kant qual é o conteúdo que todo direito deve ter ou conter? Ele diz que a questão do direito não é de conteúdo, e sim uma questão de pura forma, pois o direito deve simplesmente permitir o igual exercício da liberdade. Agora em função do que eu exerço essa liberdade, ou qual é a utilidade de eu exercer essa liberdade não está determinado a priori, porque cada um pode querer uma coisa diferente no exercício de sua liberdade. Isso não tem como estabelecer a priori. Portanto, o conteúdo de um determinado direito não é dado a priori, o que é dado a priori é a forma do direito, onde ele deve possibilidade o exercício da liberdade, e essa liberdade deve ser utilizada para qual finalidade? Aí isso não é dada a priori. A única coisa que é dada a priori é que o direito deve garantir o igual exercício da liberdade. Já o conteúdo de um direito não é dado a priori. O que caracteriza a existência do direito é a existência de uma igualdade e liberdade. E essa igualdade e liberdade é garantida pela lei. Isso está, portanto, garantida por uma legalidade. O pensamento Kantiano lembra o pensamento liberal, pois o Estado está aqui para garantir igual possibilidade de você exercer a sua liberdade. Quando você olha para a constituição, ela parece estar longe desse ideal Kantiano? Não, pois a CF diz que todos são iguais pela lei, e que as pessoas são livres. Qual a finalidade do Estado? É garantir a legalidade e o igual exercício da liberdade. Bem comum, felicidade, não é dever do Estado, pois isso depende do individuo no exercício de sua liberdade. A felicidade, por exemplo, advém do exercício de sua https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 35 de 85 liberdade. Como fica a prioridade privada? Nos primórdios, como ninguém havia se apossado de nada, a simples posse dava ao sujeito o direito de prioridade. A posse era a garantia da propriedade. Se você se apossa você se torna proprietário. Neste caso, pode! Depois de construídos os proprietários você não pode tomar a propriedade do outro, porque aí você estaria tomando a liberdade do outro. Portanto, a propriedade foi legitimada originalmente na posse, e depois foi legitimada pela lei. E se o sujeito não está ocupando? O que deslegitima a posse? Se você está dando uso para a coisa e alguém vai e quer pegar, você vai restringir a liberdade, mas e se você não está usando? Os juristas nesse caso se dividem. Pela leitura Kantiana, não poderia pegar mesmo não utilizando. Toda essa construção de Kant é sempre feita de maneira abstrata, por isso Kant é um contratualista. Tem um contrato social, e o contrato social legitima o Estado. Kant é um contratualista, mas ele seguindo o modelo dos modernos, ele não diz que o contrato social é uma coisa que aconteceu, mas sim que é uma abstração, porque as pessoas decidiriam viver sobre a legalidade, igualdade e propriedade porque é mais racional. Se elas querem ou não isso, é outra questão. Por que existe Estado e Direito não é afirmado por Kant dada uma certa realidade. O contrato social é pressuposto. O Estado representa o resultado da decisão racional do individuo abstrato. Portanto, o pensamento Kantiano vai abstrair qualquer tipo de análise da história concreta ou real da humanidade para definir a necessidade de Estado e direito. Quem tem direito de votar para Kant? Só quem não depende do outro, quem é livre. Trabalhador depende do patrão e então não pode votar. Voto é só para quem é burguês. Para Kant existe a https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 36 de 85 possibilidade de você virar burguês, e aí você poderá votar. Kant não quer saber o que determinou alguém como burguês ou trabalhador, pois isso é uma análise empírica e, portanto, não cabe à filosofia do direito. A filosofia de Kant deixou de fora um elemento importante, e a falta desse elemento fez com que Kant não entendesse realmente o que é o Estado e o Direito. Faltou uma coisa essencial, e qual é esse elemento? Veremos no próximo semestre. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 37 de 85 2º SEMESTRE Neste começo de semestre estudaremos a filosofia do século XIX e XX. Estudamos que Kant é um filósofo ligado ao iluminismo, e sua filosofia descreve certos direitos como próprios do indivíduo, que são a liberdade, igualdade e propriedade privada. Assim, ele pregava que o Estado deveria ser de direito para preservar esses direitos inatos ao ser humano, sendo um jusnaturalista e defensor da legalidade. No século XIX, surge o capitalismo industrial que acaba com a organização econômica anterior e trazendo uma grande desvalorização do trabalho humano. Neste século, os Estados também já estavam constituídos sobre a figura do Estado e o Direito. O Romantismo também é um pensamento de força para a filosofia do século XIX, pois era uma oposição ao iluminismo e possuía como características a: i) valorização do passado; ii) valorização do nacionalismo; iii) valorização do subjetivo, das emoções. Com o advento doiluminismo, todos notaram que as mudanças não foram tão boas. Daquilo que foi o iluminismo para aquilo que veio depois, resultou-se grande tumulto e confusão. Assim é que o romantismo valorizava o passado, por ser melhor do que o iluminismo existente. Ademais, com o iluminismo surgiram leis, como o Código de Napoleão, que em decorrência de sua objetividade desvalorizava as emoções, e por isso, o romantismo pregava também a valorização do sujeito e das emoções. No campo da filosofia, teremos dois filósofos que tentaram explicar esse século XIX, e são eles https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 38 de 85 Schopenhauer e Hegel. SCHOPENHAUER não gosta do iluminismo e nem do século XIX, e está ligado diretamente a Nietzsche – que só pensava desgraça - e Freud. O termo niilismo é utilizado para falar de quem tem um “pé” em Nietzsche. Os niilistas não veem sentido no mundo, e por que eles têm esse pensamento no século XIX? Porque antes, para dar sentido à sociedade, existia a religião e a filosofia. No entanto, a religião estava entrando em crise, e ao mesmo tempo, a filosofia pregava o iluminismo que veio com o positivismo – que não é bom. Diante disso, não existia mais sentido na sociedade para eles. Ademais, os niilistas atacavam a todos que tentavam, de alguma forma, dar sentido à sociedade. Schopenhauer é um filósofo que não se desprende do século XVIII, pois acreditava, por exemplo, em contrato social. Já Hegel é uma quebra desse pensamento, pois é um anti- contratualista. Além disso, Hegel faz a filosofia da história e não a história da filosofia, bem como é o fundador da filosofia do direito, que não existia até então. Schopenhauer utiliza a vontade para explicar o elemento primordial de todo ser. A vontade arbitra todo sujeito, e ele – o sujeito – sempre busca formas de satisfazer essas vontades. No entanto, ao saciar as suas vontades, o ser humano fica infeliz com o tédio de não ter o que desejar. No entanto, logo em seguida surge uma outra vontade, e a pessoa busca satisfazê-la novamente, tornando-se infeliz outra vez, ficando nesse ciclo sem fim. Onde entra a ética e o direito para Schopenhauer em tudo isso? Para ele, injustiça é um indivíduo se interferir na realização da vontade do outro, salvo quando a vontade do outro for suprimir a sua própria vontade, pois nesse caso seria permitida a interferência. Neste contexto, o papel do Estado é conciliar essas vontades para que as pessoas possam conviver mutualmente. Assim, para Schopenhauer, o papel https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 39 de 85 do Estado e do direito é justamente fazer a conciliação das vontades dos indivíduos da sociedade. Na filosofia sempre existe muita contradição, e o pensamento dogmático tenta justamente acabar com isso. No entanto, Hegel utiliza a contradição de forma diferente em sua teoria, conforme iremos estudar, dizendo que o próprio da filosofia é a contradição. HEGEL Ele nasceu e morreu em cidades que hoje é a Alemanha, no século XIX. A filosofia de Hegel é o marco de transição entre a filosofia iluminista para a filosofia contemporânea. Frisa-se que ele é um crítico do iluminismo, assim como também eram os romantistas. Hegel viveu no período pós-revolução francesa. Então, ele escreve observando a Europa pós- revolução, sendo, portanto, suas ideias influenciadas por esse episódio. Hegel é jusnaturalista, mas muda a forma de se pensar o jusnaturalismo existente até então, isto é, muda a forma como os iluministas pensavam o jusnaturalismo. Através dos pensamentos de Hegel, ocorreram diversas rupturas no pensamento. Ele rompe, por exemplo, com a ideia de direito natural, é crítico do contrato social, critica a perspectiva individualista e rompe com a separação da filosofia existente, que era a ideia do sujeito/objetivo e ideal/real. A filosofia de Hegel é diferente das anteriores, pois em sua obra chamada de “Princípios da Filosofia do Direito”, ele coloca a ideia de que o racional é real, e de que o real é racional. Ademais, para ele você deve identificar o racional no fim das coisas, porque aquilo que se apresenta como realidade é racional. Os fenômenos de transição do século XVIII para o XIX é justamente isso, pois conforme a razão e as ideias iam progredindo, a https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 40 de 85 realidade também foi se alterando. Há uma realidade que se encontra na racionalidade e vice versa, e esse movimento é constante. Destarte, o papel da filosofia não é somente ficar pensando no que é mais racional para mudar a realidade, mas também olhar a realidade para se alcançar o mais racional. Assim, no curso da história existe uma determinada tese, isto é, uma realidade racional. No entanto, vai surgindo uma racionalidade tentando alterar essa realidade atual, e diante dessa oposição de ideias é que surge a antítese. Diante disso não podemos tentar eliminar uma ideia ou outra (pois aí seria Descartes), devemos, destarte, diante dessas duas realidades contrárias, criar uma síntese, que é a superação dessas duas ideias anteriores. Diante de uma síntese ocorre o fim da filosofia? Não, pois o que é síntese torna-se tese (realidade que contém e nega aquilo que é anterior), e depois surge novamente uma antítese (um pensamento oposto), que gerará uma nova síntese. Diante disso, verificamos que para Hegel a contradição é próprio da filosofia, e o grande erro da filosofia até então era querer tirar essa contradição para alcançar uma verdade. É justamente com a contradição que a filosofia evolui. Na filosofia de Hegel, aquilo que está no fim da filosofia é o máximo da razão, e só é o máximo da razão porque contém e nega as ideias anteriores. Assim, a razão não é a mesma o tempo todo, pois vai se alterando. Não há, portanto, uma verdade universal e, por isso, a filosofia não pode buscar uma verdade. Existe alguma ideia absoluta? O absoluto para ele é o que está no fim da história, no presente. Mas a história não tem fim, e aí conforme vai se alterando a história, o absoluto também se altera. O absoluto hoje deixa de ser amanhã. A filosofia, portanto, é sempre a negação da negação. Inclusive, quando alguém fala mal dos pensamentos de Hegel, só mostra que ele estava certo, porque disse que isso mudaria. https://col126.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=c7f4e5a1-4…b4be33ad1020d86cb3a90659d2e6ec5e157de4ed7&oneredir=1 20/09/16 11G32 Página 41 de 85 Como a filosofia de Hegel aparece no direito e Estado? A teoria de Hegel rejeita tanto a filosofia da antiguidade como a filosofia moderna, já que ela vem depois (é uma síntese). Na filosofia antiga, o problema é que o todo suprimia o individuo, isto é, o todo valia mais do que o individuo, não existindo, portanto, mínimo existencial. Já na filosofia moderna, houve a valorização do individuo de tão forma tão grande que, por vezes, acabava com a totalidade, isto é, o individuo sempre acaba ganhando por existirem certos direitos que o Estado não pode suplantar. O papel do Estado para Hegel é justamente uma síntese dessas duas visões, pois o Estado deve garantir a existência do individuo, porém essa existência não pode suplantar o todo. Assim, o Estado deve atender o interesse coletivo, preservando o interesse particular. O direito, portanto, nunca é uma anulação do interesse público pelo privado e nem vice-versa, pois é sempre uma tensão entre essas duas coisas. Destarte, Hegel fez uma síntese sobre Estado e Direito. Existe o direito abstrato, no entanto, quando não estamos em contato com outra pessoa não se cria a noção de dever. Assim, no campo do direito
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