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RESP. CIVIL ANÁLISE JUR. DO CASO CONCRETO

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Caso: Abandono afetivo e material.
Dos fatos
A demanda teve início com o pedida de uma filha que alegava em sua Petição ter sido abandonada por seu pai antes mesmo de nascer. Ocorre que quando sua genitora completou 8 (oito) meses de gestação, o genitor a abandonou e desde então a requerente espera pela aproximação do mesmo.
Conforme mandam os tramites legais foi realizado o exame de DNA, que confirmou a paternidade, no entanto, a requerente afirma que o comportamento do requerido não mudou em nada com relação a esta, afirmando ainda que este ignora ao vê-la. 
 O requerido alega não ter abandonada a mão da requerente, aduz ainda que pediu o exame de DNA para que não restassem dúvidas a respeito da paternidade, alega ainda que a autora do processo jamais o procurou para que houvesse uma aproximação entre os dois, no entanto, cai em contradição, ao mesmo tempo que afirma que a autora fez várias ligações para a sua residência ofendendo ele e sua família.
Da sentença
Os fatos foram analisados e foi decidido que houve abandono afetivo bem como a falta de apoio material, caracterizado pelo desinteresse do pai em corresponder as tentativas de aproximação efetuadas pela filha ou de prestar qualquer auxilio para a satisfação de suas necessidades básicas, de maneira que este descumpriu a responsabilidade civil dos pais sobre seus filhos.
Análise jurídica do caso exposto com fulcro na Responsabilidade Civil e no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
Da responsabilidade civil
Para que haja ampla compreensão jurídica do caso exposto, faz-se necessário entender o que é a responsabilidade civil e como poderá ser aplicada ao caso em questão.
A responsabilidade civil surgiu na medida em que a civilização evoluiu, e então se fez necessária aplicação e adequação da lei no tempo e no espaço, para que a lei exista em função do homem, atendendo e suprindo suas necessidades, e no que tange ao direito civil, deve ser eficaz na resolução das lides decorrentes das relações entre as pessoas. 
Nem sempre houveram leis que regessem as relações civis entre as pessoas, o homem primitivo por exemplo, viva em grupos e o mal que causasse a um integrante deste agrupamento atingia a todos e então a pena utilizada era exclusão ou morte do agressor. A lei que vigorava nessa época era a vingança coletiva.
Com a evolução dos tempos a forma de punição aos danos causados a outrem também evolui, sendo utilizada a forma de reparar o mal com o mal, que se deu com o surgimento da Lei de Talião, a qual reinava a pratica de olho por olho e dente por dente, e cada homem se adaptou a reagir com mal ao mal que lhe fosse causado.
Outra fase histórica da evolução da responsabilidade civil foi a da Composição Obrigatória, onde foi extinto o meio de justiça com as próprias mãos e agora as autoridades coatoras eram responsáveis por julgar e punir os culpados pelo rompimento das obrigações entre as pessoas. 
Esse método de responsabilização surgiu quando as autoridades perceberam a ineficácia da Lei de Talião, pois esta causava uma grande desordem social que tiravam a paz pública, e a partir de então decidiu-se que os delitos seriam divididos em duas partes: os delitos públicos que eram aqueles que causavam ofensas mais graves e desordem, e os delitos privados.
Nos delitos públicos as autoridades eram responsáveis pela repressão dos transgressores como sujeito passivo atingido, já nos privados as autoridades atuavam apenas na composição e sua principal função era evitar conflitos. Nos delitos públicos a pena onerosa imposta aos réus destinava-se aos cofres públicos e nos delitos privados destinava-se à vítima. 
Por fim, a Lei Aquilia ou Lei Aquiliana, foi o impulso e base para que surgisse a responsabilidade civil com base na culpa, bem como a possibilidade de reparação do dano causado a outrem.
A partir da Responsabilidade Civil embasada na Lei Aquiliana, faz-se necessária a análise do elemento subjetivo da culpa que consiste na caracterização da intenção de uma pessoa querer causar dano a outra, que passou a excluir toda a ideia primitiva de punição daquele que quebrava sua responsabilidade civil com relação a outra pessoa, e a partir de então, considerou-se a reparação integral do dano causado.
O Direito Francês serviu de complemento para aperfeiçoar a Lei Aquiliana, tomando como base os pressupostos do dano e da reparação integral e juntando-os ao instituto da culpa, aduzindo que mesmo quando esta for de natureza leve ou levíssima, deverá caracterizar indenização.
 O Código de Napoleão regulou a culpa na responsabilidade civil, dividindo-a em culpa contratual e extracontratual:
Responsabilidade Civil Contratual ou Aquiliana: quando decorre da transgressão a norma que foi pré-estabelecida em um contrato inter partes.
Responsabilidade Civil Extracontratual: quando a violação ofende a uma lei, com ou sem a caracterização da vontade.
A Responsabilidade Civil, portanto, nada mais é do que indenizar o dano que surge quando alguém deixa de cumprir algum preceito estabelecido em contrato, ou, quando deixa de observar as leis e normas jurídicas.
Dos danos morais e materiais
Um dos pressupostos da Responsabilidade Civil é o dano, sem este não há que se falar em ilicitude, já os pressupostos da ilicitude são:
Ação ou omissão: deve existir a pratica de ação ilícita, ou a falta de uma ação licita ou obrigatória, para que haja a responsabilidade civil.
Resultado: os resultados podem gerar dano material, que são os danos ao patrimônio em sentindo amplo, ou podem ser danos morais, que são aqueles que ofendem a honra e dignidade. Não é um simples aborrecimento, mas deve caracterizar sério impacto na vida da pessoa.
Há também o dano estético e a perda de uma chance, mas para a análise do presente caso basta se falar em danos materiais e morais, primeiro pela linha de raciocínio da caracterização da omissão, pois houve a falta de ações não apenas licitas, mas obrigatórias, que é a responsabilidade de um genitor para com o filho que concebeu, por conseguinte o dano moral nasce das dificuldade financeiras que este filho enfrentou ao viver sem a ajuda de um pai para suprir as necessidade da vida, tais como a alimentação, materiais escolares, eventuais gastos com médicos e remédios, roupas e sapatos, e até mesmo a possibilidade de ingressar em uma universidade.
Destarte, há que se falar também nos danos morais, que atingem à honra e a dignidade, pois a figura de um pai presente no dia a dia e nos eventos importantes, causa sérios danos à saúde psicológica e emocional de uma pessoa que está crescendo e formando o seu caráter. Mesmo que na sociedade atual seja comum que os pais criem seus filhos separados, nada justifica o abandono afetivo.
Ou seja, a prática de uma ação ou omissão que cause prejuízo a um bem juridicamente tutelado gera a obrigação de indenizar, sendo uma diretriz que também emana da responsabilidade civil no direito de família. No entanto, no que se refere as relações familiares, o dano moral tem um grau de subjetividade muito elevado, sendo muitas vezes difícil de estabelecer os limites entre condutas licitas e verdadeiramente ilícitas, contudo, ainda que as dificuldades existam, o direito não pode se omitir ou se negligenciar, e deve salvaguardar os direitos que dizem respeito a cada pessoa, de modo que não premie aquele que, desconsiderando as disposições legais, pratica ação ilícita ou se omite de ação licita, causa prejuízo de ordem material ou moral.
Na responsabilidade civil, a culpa se dá em latu sensu, ou seja, não há distinção entre dolo e culpa, pois ambas se equiparam, e em alguns casos geram indenização mesmo sem culpa, como exemplo, a responsabilidade dos pais sobre os filhos, que é uma responsabilidade civil objetiva, nesse sentido, a lei obriga e responsabiliza os pais no que toca aos cuidados com os filhos. A ausência dos cuidados essências, o abandono moral, violam a integridade psicofísica, bem como o princípio da solidariedade familiar, pois, são valores protegidos constitucionalmente, portantotais violações configuram dano moral.
O causador do dano será obrigado a indenizar, esta deverá conter o valor equivalente as despesas necessárias para que o filho possa amenizar as sequelas psicológicas mediante o tratamento cabível. (DIAS, 2007, p. 408).
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. (BRASIL, C.C/2002).”
Assim, constitui-se dano moral qualquer ato praticado pelo genitor que prejudique a formação de caráter ou personalidade da criança ou adolescente, bem como, ferir o princípio da dignidade da pessoa humana. 
O fator preponderante que irá identificar o dano, e por conseguinte gerar a indenização é o nexo causal que advém de um liame entre conduta e resultado. No presente caso evidenciou-se que o agente deu causa ao dano por culpa e omissão, é de suma importância ressaltar que ninguém é obrigado a amar ninguém, no entanto é dever do Estado reprimir condutas que possam ofender o psicológico e a moral, portanto a conduta é caracterizada pelo abandono do genitor + o resultado gerado que foram os danos morais e materiais. 
O princípio da dignidade da pessoa humana nas relações familiares ligado ao abandono afetivo
Positivado na Constituição Federal, o princípio da dignidade da pessoa humana rege não só o direito civil, como todos os direitos fundamentais. Trata-se de garantir que todos sejam respeitados e vivam de maneira honrada.
O abandono afetivo fere o referido princípio, pois, impede que a vítima desenvolva suas funções da maneira adequada, ferindo sua saúde mental e emocional.
Apesar de todo o transtorno causado pela falta do fato, a que se falar também em proteção ao interesse da criança, a respeito da temática, o artigo 227 da CF/88 prevê:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
 Dessa forma fica clara a quebra do princípio da dignidade da pessoa humana, ao passo que o acesso aos direitos fundamentais é total ou parcialmente dificultado, o genitor não responderá apenas pela falta de amor, mas pela falta de responsabilidade para com a pessoa que deu a vida, responderá pelo não suprimento das necessidades que iriam lhe garantir uma vida digna e honrada como manda a Constituição Brasileira.

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