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Vejamos um exemplo envolvendo o Brasil: OMC autoriza Brasil a retaliar EUA por subsídio ao algodão (Jornal O Globo, 03/12/2011) 1º - O Brasil aciona a OMC em 2002, acusando os EUA de aplicar subsídios ilegais na produção de algodão. Segundo o Brasil, a aplicação de subsídios ilegais, em torno de US$ 3 bilhões, conferia ao produtor americano uma vantagem irregular no preço do produto final frente ao algodão brasileiro, colocando os EUA como segundo o maior produtor mundial de algodão; 2º - O Brasil pede à OMC o direito de retaliar os EUA em cerca de US$2,5 bilhões que, segundo o governo brasileiro, refletia o prejuízo dos produtores nacionais; 3º - A defesa americana alega que os prejuízos não poderiam ter ultrapassado US$30 milhões, portanto defendia esse valor para retaliações brasileiras; 4º - Depois de nove anos em discussão, a OMC dá ganho de causa ao Brasil, e confere ao governo brasileiro o direito de retaliar os EUA em até US$295 milhões em elevação de tarifas aos produtos americanos, barreiras de proteção à exportação americana e/ou suspensão da comercialização no Brasil de produtos e serviços oriundos dos EUA; 5º - A OMC também autoriza a chamada “retaliação cruzada”, que é a suspensão temporária de direitos de patentes de empresas americanas no Brasil, como na área de medicamentos. Diplomaticamente, vale a pena usar esse direito de retaliação? Quais são as alternativas? Não necessariamente. No mundo da diplomacia, esses direitos de retaliação muitas vezes são utilizados como “trunfos” em negociações entre os países envolvidos. O que precisamos compreender é que há situações em que a aplicação dessas retaliações pode trazer mais prejuízos futuros para o comércio bilateral ou mesmo multilateral. Por isso, o direito dado pela OMC vale-se muito mais como uma “arma política”, além de conferir ao país vencedor uma posição privilegiada em determinadas negociações. Outro exemplo, agora contra o Brasil: Japão contesta na OMC alta do IPI sobre carros (Jornal Valor Econômico, 14/10/11) 2/2 Nesta data, o Japão, seguido da Coréia do Sul, decidiu contestar na OMC o aumento do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) adotado pelo governo brasileiro sobre os carros importados da Ásia. Inicialmente, o governo japonês apenas enviou um pedido de observação ao Comitê de Acesso ao Mercado da OMC, que periodicamente examina novas barreiras levantadas pelos países membros da organização. A iniciativa japonesa, no entanto, pode abrir caminho para que outros governos se queixem e busquem na OMC uma medida compensatória contra o Brasil, colocando a cargo dos juízes da OMC o exame sobre a legalidade da medida adotada pelo governo brasileiro. Para o Ministro da Fazenda (2011) brasileiro, Guido Mantega, a elevação de 30 pontos percentuais no IPI é uma “(...) medida necessária para esse setor (automotivo), pois garante competitividade à industria nacional frente a uma enxurrada de carros asiáticos (...)”. Para muitos analistas, o Brasil encontrará dificuldades em justificar a validade da medida perante a OMC. Isto porque haveria formas mais hábeis para a adoção de medidas protecionistas que estariam de acordo com a sofisticação técnica dos negociadores brasileiros e da própria OMC. Até agora, funcionários brasileiros têm afirmado que a medida permite a manutenção de fluxo razoável de comércio. Certas fontes lembram que as regras da OMC permitem várias opções de medidas que os países podem adotar em situação de dano contra a indústria nacional. Entre as mais drásticas, há o mecanismo de salvaguardas. A elevação do IPI para carros no Brasil figura no relatório que a OMC prepara sobre novas medidas protecionistas no comércio mundial, que será examinado pelos países desenvolvidos e emergentes do G-20 - que justamente se comprometeram a não adotar barreiras adicionais ao comércio.
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