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DIREITO CIVIL IV (2) ATUAL PARA AV2

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DIREITO CIVIL IV – DIREITO DAS COISAS
Semana Aula 01 – Direito das Coisas
Conceito: O Direito das Coisas “é o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são, ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é possível exercer o poder de domínio.” – Clóvis Beviláqua.
Coisa é o gênero do qual o bem é espécie. Segundo o art. 202 do CC português, “diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”. Bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico. Somente interessam ao direito coisas suscetíveis de apropriação exclusiva pelo homem, sobre as quais possa existir um vínculo jurídico, que é o domínio.
Direitos Reais (jus in re) X Direitos Obrigacionais (jus ad rem)
Os D. Reais têm por objeto o próprio bem, enquanto os D. Obrigacionais têm por objeto uma prestação humana.
“O direito pessoal, por sua vez, consiste numa relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. Os direitos reais têm, por outro lado, como elementos essenciais: o sujeito ativo, a coisa e a relação ou poder do sujeito sobre a coisa, chamado domínio.” – Carlos Roberto Gonçalves.
Ressalte-se que o direito das coisas não está regulado apenas do Código Civil, mas também em leis especiais, como as que disciplinam, por exemplo, as locações em prédios residenciais, a alienação fiduciária, os loteamentos, etc.
Características
As principais características dos Direitos Reais são:
1) Oponibilidade erga omnes: é oponível contra todos, indistintamente, representando uma prerrogativa do seu titular, que deve ser respeitada.
2) Direito de sequela: É o direito de reaver a coisa de quem quer que injustamente a detenha. Vem do verbo “seguir”. Dá-se quando o proprietário persegue a coisa para recuperá-la, não importando com quem a coisa esteja. É um poder do titular do direito real de seguir a coisa para recuperá-la de quem injustamente a possua. É uma característica fundamental dos direitos reais, e não só da propriedade, mas do usufruto, superfície, hipoteca, etc. Não existe nos direitos obrigacionais, e é por isso que os direitos reais são mais fortes/poderosos do que os direitos pessoais.
3) Exclusividade: não se pode existir dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa.
4) Preferência: consiste no privilégio de obter o pagamento de uma dívida com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Em caso de inadimplemento tem o credor o direito de se satisfazer sobre o valor do bem objeto de direito real, afastando outros credores que tenham apenas direito pessoal contra o devedor, ou mesmo direito real de inscrição posterior.
5) Taxatividade: os direitos reais são apenas aqueles enumerados pela lei – rol taxativo. Não é lícito às partes, no exercício da liberdade contratual, criar direitos reais não previstos em lei. Os direitos reais estão elencados no artigo 1.225 do Código Civil de 2002. Frise-se, contudo, que o direito real deve estar previsto em lei, mas não necessariamente no corpo do Código Civil, podendo estar regulado por leis esparsas.
Classificação
Os direitos reais podem ser classificados em:
1) Quanto à propriedade do bem:
- Direitos reais sobre coisa própria – o único direito real sobre coisa própria é a propriedade, que confere o título de dono ou domínio. Normalmente, a propriedade é ilimitada ou plena, conferindo ao titular os poderes de usar, gozar, dispor e reaver a coisa de quem injustamente a detenha ou a possua – art. 1.228 CC.
- Direitos reais sobre coisa alheia – são aqueles que incidem sobre a propriedade de outrem. Ex.: Penhor, hipoteca, servidão. Podem ser divididos em três grupos:
Direito real de fruição: é o desmembramento em relação ao uso da coisa. Pode ser enfiteuse, servidão, usufruto, uso e habitação.
Direito real de garantia: Se não cumprida a obrigação principal, o credor irá dispor (abrir mão) da coisa. Pode ser hipoteca, penhor e anticrese.
Direito real de aquisição: O titular transmite a propriedade para terceiros, paulatinamente. Pode ser compromisso irretratável de compra e venda, e alienação fiduciária em garantia.
2) Quanto aos poderes do titular do direito real:
 
- Direitos reais limitados: o proprietário reúne apenas algumas das faculdades inerentes à propriedade.
- Direitos reais ilimitados: o proprietário reúne todas as faculdades inerentes à propriedade (uso, gozo, disposição e reivindicação).
 
A propriedade consiste no direito real mais amplo, derivando os demais da criação de direitos sobre uma ou mais das faculdades da propriedade (usar, gozar, fruir e dispor do bem). Assim, o usufruto, por exemplo, consiste no direito real de usar e fruir do bem.
 
 
É importante frisar que a limitação aqui se refere a não concentração dos poderes inerentes à propriedade nas mãos do titular. Sob o ponto de vista de exercício de direitos, todos os direitos, mesmo a propriedade plena, sofrem limitações.
Diferenças entre direitos reais e direitos pessoais
Teorias acerca das supostas diferenças:
1) Teoria negativista – não há diferença entre direitos reais e pessoais. Os direitos reais não passam de técnica jurídica para restringir comportamentos. Esta teoria não é mais aceita pela doutrina moderna.
2) Teoria personalista – o direito real é uma projeção da personalidade sobre a coisa. A relação jurídica que envolve direito real é estabelecida entre pessoas: no polo ativo está o titular do direito real e no polo passivo há o que a doutrina chama de sujeição passiva universal. Crítica: há a criação de um vínculo jurídico para pessoas que não manifestaram vontade em participar da relação jurídica
3) Teoria realista – é o poder imediato da pessoa sobre a coisa, sem qualquer tipo de intermediação. Não há que se falar em sujeição passiva universal, pois significaria transpor um vínculo jurídico a pessoas estranhas à relação. Há um direito subjetivo oponível erga omnes, sem que haja, em abstrato, um sujeito passivo determinado. Críticas: não há relação senão entre duas pessoas; a oponibilidade erga omnes não é característica exclusiva dos direitos reais, mas de qualquer direito absoluto, como os direitos de personalidade.
OBS.: A teoria personalista, apesar das críticas, é a que tem maior receptividade na doutrina.
	Direito Reais
	Direito Pessoais
	Relações jurídicas entre uma pessoa e uma coisa. O sujeito passivo não é determinado, mas é toda a coletividade.
	Relações jurídicas entre uma pessoa e outra.
	Princípio da publicidade (tradição e registro).
	Princípio da autonomia privada (liberdade).
	Efeito erga omnes. Os efeitos podem ser restringidos.
	Efeitos inter partes. Há uma tendência de ampliação dos efeitos.
	Rol taxativo (numerus clausus), segundo a visão clássica – art. 1.225 do CC.
	Rol exemplificativo (numerus apertus) – art. 425 do CC – criação dos contratos atípicos.
	A coisa responde (direito de sequela).
	Os bens do devedor respondem (princípio da responsabilidade patrimonial).
	Caráter permanente. Instituto típico: propriedade.
	Caráter transitório, em regra, o que vem sendo mitigado pelos contratos relacionais ou cativos de longa duração. Instituto típico: contrato.
Objeto do direito das coisas
Objeto de direito real tanto podem ser as coisas corpóreas, móveis ou imóveis, quanto as incorpóreas. Assim, podem existir direitos sobre direitos, que são bens incorpóreos.
O direito real pode também ter por objeto as produções do espírito humano nos domínios das letras, das artes, das ciências ou da indústria. Fala-se então em propriedade literária, artística, científica e industrial. É importante frisar que os direitos de propriedade intelectual têm sido entendidos atualmente como direitos sui generis, pois envolvem conteúdo patrimonial (comfortes características de direito real) e conteúdo extrapatrimonial.
Sujeitos
 
Sujeito ativo: titular do direito subjetivo absoluto sobre o bem. Pode exercer o direito de sequela e será sempre possuidor (ainda que, dependendo do desdobramento da relação possessória, seja possuidor indireto).
 
Sujeito passivo: sobre quem recai o dever de respeito ao exercício do direito pelo sujeito ativo. Conforme já visto anteriormente, diz-se que na relação de direito real há sujeição passiva universal.
 
Figuras Híbridas – natureza tanto de direito obrigacional quanto direito real
Obrigação propter rem: é a que recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito real. Só existe em razão da situação jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa. Também é chamada de “obrigação ambulatória”. Decorrem da lei (ex lege) e não da vontade do titular do direito (ex voluntate). São obrigações que originam direitos por causa da coisa, e não direitos sobre a coisa. Ex.: condômino pagar o condomínio (art. 1.315 CC); condômino não poder alterar a fachada do prédio (1.336, III, CC); obrigação que tem o dono da coisa perdida de recompensar e indenizar o descobridor (art. 1.234 CC); obrigação de indenizar benfeitorias (art. 1.219 CC), etc.
 
Ônus reais: são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo gravames ou direitos oponíveis erga omnes, como, por exemplo, o usufruto, a penhora e a hipoteca.
 
Obrigações com eficácia real: relações obrigacionais que produzem eficácia erga omnes. Ex: art. 576 do CC – “Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro.”; Ex: art. 1.417 e 1.418 do CC.
Caso Concreto 
 
Antônio celebrou contrato de compromisso de compra e venda de bem imóvel com Ricardo, em 02 de fevereiro de 2016, tendo por objeto seu apartamento situado no bairro do Recreio, no Rio de Janeiro, no valor de R$ 800.000,00.  A escritura não foi registrada no respectivo Cartório de Registro de Imóveis. Diante da inadimplência desde o ano de 2014, o condomínio ajuíza a Ação de Cobrança  (referente às cotas condominiais em atraso), em face do promitente vendedor, que alega ilegitimidade passiva. Sustenta Ricardo  (promitente vendedor)  que a promessa de compra e venda já teria transferido a responsabilidade pelo pagamento da cota condominial ao promitente comprador, e que a propriedade do bem imóvel  fora transferida no ano de 2016 para Antônio.
 
 
INDAGA-SE: 
a) A responsabilidade pelo pagamento de cotas condominiais tem qual natureza jurídica?
 
Gabarito: obrigação propter rem
 
b) No Código Civil Brasileiro há algum dispositivo legal  acerca da responsabilidade pelo pagamento das cotas condominiais  que possa ser utilizado pelo condomínio, na respectiva ação ajuizada?  Explique a sua resposta com a devida fundamentação.
 
Gabarito: Sim. Acerca da imputabilidade utilizada pelo condomínio, no que tange a cobrança das cotas condominiais em atraso, encontra-se na regra do artigo 1245, § 1º do Código Civil.
 
c) Na hipótese narrada, pode-se afirmar que  houve transferência da propriedade do bem imóvel, mediante o contrato celebrado entre Antônio e Ricardo? Explique sua resposta com a devida fundamentação.
 
Gabarito: Diante da hipótese narrada, não houve a transferência da propriedade imóvel entre as partes contratantes, pois a transferência a propriedade imóvel, por ato inter vivos, ocorre com o respectivo registro no Cartório de Registro de Imóveis  (terminologia atual Serviço Registral de Imóveis – SRI), conforme o disposto no artigo 1245, caput, do Código Civil.
Questão Objetiva
Sobre as obrigações propter rem é correto afirmar que:
a.     São obrigações que constituem verdadeiros direitos reais, uma vez que existem em função da existência desses. Portanto, o titular do direito real, será o titular da obrigação propter rem.
b.     Renúncia ao direito real libera sempre o renunciante da obrigação propter rem.
c.     Ocorrendo a transferência da coisa sobre a qual incide uma obrigação propter rem esta estará automaticamente extinta.
d.     São obrigações de natureza ambulatória, o que significa afirmar que a titularidade acompanha sempre o direito real, como é o caso do IPTU e da taxa de condomínio.
e.     Para a caracterização da obrigação propter rem importa identificar quem era o seu titular à época do fato gerador.
Gabarito: D
Semana Aula 02 – Posse
Conceito: De forma simples, pode-se dizer que a posse é o exercício de fato, em nome próprio, de um dos poderes inerentes ao domínio. Nos termos do art. 1.196 do CC, “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.”
Evolução histórica, conceito e características
 
Em uma primeira abordagem, a posse pode ser encarada como um fato, enquanto a propriedade consiste num direito. Em outras palavras, a posse é uma situação de fato, enquanto a propriedade é uma situação de direito. Como veremos adiante, em geral ambas coincidem na mesma pessoa, mas nem sempre isso ocorre.
Obs.: Posse Direta X Posse Indireta – art. 1.197 do CC.
A posse pode ser considerada a exteriorização da propriedade, seu aspecto visível e palpável no mundo fenomênico (falamos da posse direta). Exemplo: por ter me visto com o telefone celular, o observador supôs que eu seria o proprietário do mesmo. E isso se dá, repita-se, porque geralmente posse e propriedade encontram-se nas mãos da mesma pessoa, apesar da coincidência não ser necessária.
A posse, em outras palavras, cria uma espécie presunção de propriedade. E é por esse motivo que tutela-se com veemência aquela, por vezes em detrimento desta: como o que possui presume-se proprietário, em um primeiro momento é de se garantir tal situação fática, até mesmo por razões de segurança jurídica e pacificação social.
Enquanto a propriedade, de certo modo, teve seu âmbito de incidência reduzido ou conformado pela Constituição de 1988 (vide arts. 5º, inc. XXIII; 182, §§ 2º e 4º; 184 e 186, dentre outros) cedendo para a chamada “função social da propriedade” (alguns autores falam em uma nova espécie de propriedade, a propriedade social), a posse saiu fortalecida, principalmente através da previsão constitucional expressa da usucapião (vide arts. 183 e 191 da CF/88).
Teorias da Posse
O estudo da posse é repleto de teorias que procuram explicar o seu conceito. Podem, entretanto, ser reduzidas a dois grupos: o das teorias subjetivas e o das teorias objetivas.
1) Teoria subjetiva (subjetivista) de Savigny
Teve como principal defensor o jurista Friedrich Carl von Savigny. Para ele, a posse pode ser conceituada como o poder direto ou imediato que a pessoa tem de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de defende-lo contra a intervenção ou agressão de quem quer que seja. A posse, para essa corrente, possui dois elementos: corpus + animus domini.
O corpus é o elemento material da posse, constituído pelo poder físico ou de disponibilidade sobre a coisa. O segundo elemento seria o animus domini, a intenção de ter a coisa para si, de exercer sobre ela o direito de propriedade.
O CC de 2002 não adotou essa corrente, pois para ela, por exemplo, o locatário, o comodatário, o depositário, dentre outros, não seriam considerados possuidores, eis que não haveria qualquer intenção de tornarem-se proprietários.
2) Teoria objetiva (objetivista) de Ihering
Teve como principal defensor o jurista Rudonf von Ihering. Defende essa corrente que, para constituir-se a posse, basta que a pessoa disponha fisicamente da coisa ou que tenha a mera possibilidade de exercer esse contato. Essa corrente dispensa a intenção de ser dono, tendo a posse apenas um elemento, o corpus, elemento material e único fator visível e suscetível de comprovação.
O elemento psíquico não se situana intenção de dono, mas tão somente na vontade de agir como habitualmente o faz o proprietário, independentemente de querer ser dono.
Essa é a teoria adotada pelo CC de 2002, conforme consta do art. 1.196 – “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
Diferenças entre propriedade, posse e detenção
Propriedade: direito real onde o proprietário tem o poder de usar, gozar, dispor e reaver a coisa de quem a injustamente a detenha ou a possua.
Posse: exercício do poder de fato em nome próprio, exteriorizando a imagem da propriedade e fazendo uso econômico da coisa (animus tenendi – intenção de usar a coisa tal como o proprietário).
 
Detenção: exercício do poder de fato sobre a coisa em nome alheio. O “fâmulo da posse” ou “detentor” é servo da posse, pois mantém uma relação de dependência com o verdadeiro possuidor, obedecendo às suas ordens e orientações. A detenção é também chamada de “posse degradada”. O art. 1.198, CC, define o detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva-se a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
 
Obs: aquele que adquire a posse de modo contrário ao direito também é considerado detentor.
Obs2: Art. 1.208, primeira parte, do CC – “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância”. A permissão se distingue da tolerância: a) pela existência, na primeira, do consentimento expresso do possuidor. Na tolerância, há uma atitude espontânea de inação, de passividade, de não intervenção; b) por representar uma manifestação de vontade, embora sem natureza negocial, configurando um ato jurídico em sentido estrito, enquanto na hipótese de tolerância não se leva em conta a vontade do que tolera, sendo considerada simples comportamento a que o ordenamento atribui consequências jurídicas, ou seja, um ato-fato jurídico; c) por dizer respeito a atividade que ainda deve ser realizada, enquanto a tolerância concerne a atividade que se desenvolveu ou que já se exauriu.
Obs3: Art. 1208, segunda parte, do CC – “os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou clandestinidade”. Os aludidos atos impedem o surgimento da posse, sendo aquele que os pratica considerado mero detentor, sem qualquer relação de dependência com o possuidor. O dispositivo em apreço, aliás, trata de hipótese de detenção sem dependência do detentor para com o possuidor, denominada detenção independente.
Classificação da posse e suas características
Quanto ao desdobramento da relação possessória, a posse classifica-se em posse direta e posse indireta.
a) Posse direta ou imediata – aquela que é exercida por quem tem a coisa materialmente (corpus), havendo um poder físico imediato. A título de exemplificação, cite-se a posse exercida pelo locatário, por concessão do locador.
b) Posse indireta ou mediata – exercida por meio de outra pessoa, havendo mero exercício de direito (animus), geralmente decorrente da propriedade. É o que se verifica em favor do locador, proprietário do bem.
Vide art. 1.197 do CC.
Quanto aos vícios, a posse pode ser justa ou injusta.
a) Posse justa – é a que não apresenta os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade, sendo uma posse limpa.
b) Posse injusta – apresenta os referidos vícios, pois foi adquirida por meio de ato de violência, ato clandestino ou de precariedade, nos seguintes termos:
Posse violenta: é a obtida por meio de esbulho, por força física ou violência moral.
Posse clandestina: é a obtida às escondidas, de forma oculta, à surdina, na calada da noite.
Posse precária: é a obtida com abuso de confiança ou de direito. Também é chamada de “esbulho pacífico”. Exemplo: o locatário de um bem móvel que não devolve o veículo ao final do contrato.
Obs.: Basta a presença de um dos critérios acima para que a posse seja caracterizada como injusta, não havendo a exigência de cumulação.
A posse injusta não deve ser considerada posse jurídica, não produzindo efeitos contra o legítimo possuidor (para quem esta situação jurídica não passa de detenção), muito embora o possuidor injusto possa fazer manejo dos interditos possessórios contra atos de terceiros.
 
Continuidade do caráter da posse (art. 1.203, CC): a posse que se inicia justa permanece justa; a posse que se inicia injusta, permanece injusta ao longo do tempo, a menos que se opere a interversão (a palavra está correta) do caráter da posse.
 
Inversão do título da posse: Violência e clandestinidade são vícios relativos, enquanto que a precariedade é vício absoluto. Isso implica dizer que pode ocorrer a interversão do caráter da posse quando esta for violenta ou clandestina. Nestes casos, cessada a violência ou a clandestinidade, a posse deixa de ser injusta e passa a ser justa.
 
Quanto ao convalescimento da posse precária, a doutrina moderna, superando o entendimento do que antes era majoritário, aceita. Todavia, ainda não foram definidos critérios objetivos para determinar o momento da interversão (Nelson Rosenvald, por exemplo, fala em mudança do ânimo da posse; Flávio Tartuce admite o convalescimento da precariedade em casos, por exemplo, de novação). Se o vício da violência é bem mais grave e a posse violenta pode passar a ser justa, por que o efeito da cessação da injustiça não pode atingir a posse precária, vício de menor gravidade? Fica a reflexão.
Quanto à subjetividade, a posse pode ser de boa-fé ou de má-fé.
a) Posse de boa-fé – é aquela cujo possuidor está convicto de que o exercício de sua posse encontra fundamento na ordem jurídica – ele desconhece eventual vício ou impedimento que macula a posse da coisa. A boa-fé, aqui, é tomada em seu aspecto subjetivo. Via de regra, a posse de boa-fé decorre de justo título. Por este motivo, a posse fundada em justo título gera presunção relativa (juris tantum) de boa-fé. Vide art. 1.201 do CC: “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. §único – O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite essa presunção”.
b) Posse de má-fé – o possuidor tem conhecimento do vício que macula a posse. Assim como na posse injusta, a posse de má-fé não pode ser considerada posse jurídica e não goza de proteção contra o legítimo possuidor, para quem o possuidor de má-fé não passa de fâmulo da posse. Obs.: de qualquer modo, ainda que de má-fé, esse possuidor não perde o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque de terceiro.
Quanto à forma de aquisição, a posse pode ser originária ou derivada.
a) Posse originária – a posse é tida como originária quando não há vínculo entre o sucessor e o antecessor da posse, de modo que a causa da posse não é negocial. Ex.: Posse de um imóvel que não estava ocupado, com fins de usucapião.
b) Posse derivada – a posse é derivada quando há um ato de transferência (da posse, e não necessariamente da propriedade) entre o antecessor e o sucessor. Na posse derivada haverá sempre tradição. Ex.: Posse decorrente de um contrato de aluguel.
Quanto ao decurso de tempo, a posse pode ser nova ou velha.
a) Posse nova – é a que conta com menos de um ano e um dia, ou seja, é aquela com até um ano.
b) Posse velha – é a que conta com pelo menos um ano e um dia, ou seja, com um ano e um dia ou mais.
**Importância – Vide art. 558 do CPC.
Quanto aos seus efeitos, a posse pode ser ad interdicta ou ad usucapionem.
a) Posse ad interdicta – constituindo regra geral, é a posse que pode ser defendida pelas ações possessórias diretas ou interditos possessórios. A título de exemplo, tanto o locador quanto o locatário podem defender a posse de uma turbação ou esbulho praticado por um terceiro. Essa posse não conduz à usucapião.
b) Posse ad usucapionem – exceção à regra, é a que se prolonga por determinado lapso de tempo prevista na lei,admitindo-se a aquisição da propriedade pela usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Em outras palavras, é aquela posse com olhos à usucapião (posse usucapível), pela presença dos seus elementos. Essa posse deve ser mansa, pacífica, duradoura por lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com a intenção de dono (animus domini). Além disso, em regra, deve ter os requisitos do justo título e boa-fé.
Composse (compossessão)
É a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa – art. 1.199 CC. Há, portanto, um condomínio de posses. Na prática, a composse pode ser decorrente de contrato ou de herança, tendo origem inter vivos ou causa mortis.
Exemplificando, em caso envolvendo o contrato, pense-se na hipótese de uma doação conjuntiva, a dois donatários, mantendo ambos a posse sobre o imóvel doado. Na herança, pode ser citada a situação dos herdeiros antes da partilha dos bens, ainda em curso o inventário.
Em relação a terceiros, como se fossem um único sujeito, qualquer dos possuidores poderá usar os remédios possessórios que se fizerem necessários, tal como acontece no condomínio. Como ficou claro, há composse de bens entre cônjuges, de acordo com as correspondentes regras de regime de bens; e também entre conviventes ou companheiros, havendo união estável (art. 1723 do CC). Relativamente ao seu estado, a composse admite a classificação a seguir:
Composse pro indiviso ou indivisível – é a situação em que os compossuidores têm fração ideal da posse, pois não é possível determinar, no plano fático e corpóreo, qual a parte de cada um. Exemplo: dois irmãos têm a posse de uma fazenda e ambos exercem-na sobre todo o imóvel, retirando dele produção de hortaliças.
Composse pro diviso ou divisível – nesta situação, cada compossuidor sabe qual a sua parte, que é determinável no plano fático e corpóreo, havendo uma fração real da posse. Exemplo: dois irmãos têm a composse de uma fazenda, que é dividida ao meio por uma cerca. Em metade dela um irmão tem uma plantação de rabanetes; na outra metade o outro irmão cultiva beterrabas.
Obs.: Em se tratando de composse pro diviso, o possuidor somente poderá defender a posse correspondente à sua fração real.
Semana Aula 03 – Efeitos da Posse
Dentre os efeitos da posse, destacam-se:
a) percepção de frutos;
b) indenização e retenção por benfeitorias;
c) indenização por prejuízos sofridos;
d) defesa da posse (interditos possessórios);
e) usucapião.
A) Direito aos frutos
Os frutos são estudados como bens acessórios na Parte Geral do Código Civil, sendo conceituados como bens que saem do principal, ou seja, que dele se destacam, sem diminuir sua quantidade.
Quanto à origem, podem ser classificados:
- Frutos naturais: são aqueles decorrentes da essência da coisa principal, como por exemplo, as frutas produzidas por uma árvore.
- Frutos industriais: são os que se originam de uma atividade humana, caso de um material produzido por uma fábrica.
- Frutos civis: são os que têm origem em uma relação jurídica ou econômica, de natureza privada, sendo também denominados rendimentos. São obtidos da coisa em troca do proveito que outro faça dela. É o caso, por exemplo, dos valores decorrentes do aluguel de um imóvel, de juros de capital, de dividendos de ações.
Obs.: Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.
Relativamente ao estado em que eventualmente se encontrarem, os frutos podem ser classificados:
- Frutos pendentes: são aqueles que estão ligados à coisa principal, e que não foram colhidos. Exemplo: maçãs que ainda estão presas à macieira.
- Frutos percebidos: são os já colhidos do principal e separados. Exemplo: maçãs que foram colhidas pelo produtor.
- Frutos estantes – são os frutos que foram colhidos e encontram-se armazenados; Exemplo: maçãs colhidas e colocadas em caixas em um armazém.
- Frutos percipiendos – são os que deveriam ter sido colhidos, mas não foram. Exemplo: maçãs maduras que deveriam ter sido colhidas e que estão apodrecendo.
- Frutos consumidos – são os que foram colhidos e não existem mais. São as maçãs que foram colhidas pelo produtor e vendidas a terceiros.
No que interessa aos efeitos da posse, para a análise do direito aos frutos é fundamental que a posse seja configurada como de boa ou má-fé, conforme arts. 1.214 a 1.216, CC:
 
	Posse
Frutos
	Colhidos
	Pendentes
	Percipiendos
	Boa-fé
	Direito do possuidor.
	Restituição, com direito à dedução das despesas.
	-----
	Má-fé
	Indenização ao possuidor legítimo, com direito à dedução das despesas.
	Só lhe assiste o direito às despesas.
	Indenização ao possuidor legítimo.
Obs: O pagamento feito ao possuidor de má-fé pelas despesas de produção e custeio é devido tendo em vista o princípio do direito civil que proíbe o enriquecimento sem causa.
 
Obs2: os frutos colhidos por antecipação devem ser devolvidos. 
 
Obs3: As normas contidas nos art.s 1.214 a 1.216, CC são supletivas, podendo, portanto, ser afastadas através do regular exercício da autonomia privada.
B) Direito às benfeitorias
As benfeitorias são bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora de sua utilidade. Enquanto os frutos e produtos decorrem do bem principal, as benfeitorias são nele introduzidas. É fundamental aqui relembrar a antiga classificação das benfeitorias e que consta no art. 96 do CC.
Assim como ocorre com os frutos, a indenização pelas benfeitorias depende da classificação da posse quanto à sua subjetividade (vide arts. 1.219 e 1.220, CC):
 
	Posse
Benfeitoria
	Necessária
	Útil
	Voluptuária
	Boa-fé
	Indenização + Retenção
	Indenização + Retenção
	Retirada + sem direito de retenção
	Má-fé
	Apenas restituição do valor gasto pelo possuidor.
	----
	----
 
C) Interditos possessórios
O art. 1.210, CC, prevê a tutela da posse através dos interditos possessórios.
 
Interdito possessório é a denominação genérica que se dá às ações possessórias que visam combater as seguintes agressões à posse:
 
Esbulho – agressão que culmina da perda da posse. Interdito adequado: reintegração de posse (efeito restaurador). Art. 560 e seguintes do CPC.
 
Turbação – agressão que embaraça o exercício normal da posse. Interdito adequado: manutenção de posse (efeito normalizador). Art. 560 e seguintes do CPC.
 
Ameaça – risco de esbulho ou de turbação. Interdito adequado: interdito proibitório. Art. 567 e 568 do CPC.
O fato de o limite entre as formas de agressão da posse ser muito tênue, associado à velocidade com que uma agressão pode se transformar em outra, fez com que a legislação estabelecesse a fungibilidade entre as ações possessórias (art. 554, CPC). É importante nesse ponto definir a abrangência da expressão “ações possessórias” para fins de aplicação da regra da fungibilidade.
Entende a maioria da doutrina e jurisprudência que a fungibilidade a que se refere o CPC só existe entre as ações de reintegração de posse, manutenção de posse e interdito proibitório (ações possessórias em sentido estrito). Assim, ainda que as ações como a de nunciação de obra nova (possíveis, mas hoje não mais são de rito especial no CPC) e a ação de dano infecto (art. 1.280, CC) possam ser utilizadas na defesa da posse, somente as ações possessórias em sentido estrito estão sujeitas à regra da fungibilidade.
Condições das ações possessórias
 
1) Possibilidade jurídica do pedido: “No campo possessório, a possibilidade jurídica do pedido assume papel relevante, principalmente pela confusão relativamente habitual entre o âmbito petitório e possessório. Muitas vezes o autor do pedido nunca foi possuidor e não obteve qualquer transmissão ou sucessão na posse. Poderá ter pretensão e legitimidade para ingressar com ação reivindicatória. Entretanto, não terá pretensão possessória.Seu pedido será juridicamente impossível sob o prisma possessório.” (MEDINA, Miguel Garcia et.al. Procedimentos cautelares e especiais. 2.ed. São Paulo: RT, 2010. pp. 266-267).
**Obs.: O novo CPC extinguiu a “possibilidade jurídica do pedido” como condição da ação, passando a ser analisado no mérito da demanda. 
 
2) Interesse de agir;
 
3) Legitimidade – possuidor, seja direto, seja indireto. O detentor não tem legitimidade ativa nem passiva. Se houver agressão à posse de bem sob sua apreensão, somente lhe é deferida a autotutela imediata e proporcional da posse; se ele for indicado como réu em ação possessória, deverá valer-se da nomeação à autoria, antes procedimento autônomo e agora apenas um pedido em preliminar de contestação.
 
Cumulação de pedidos (art. 555 do CPC): a cumulação de pedidos de indenização, multa pela não cessação imediata à agressão da posse, bem como demolição não desnaturam a natureza da ação possessória, que continuará a seguir o procedimento especial previsto pelo CPC.
 
Exceptio domini: por expressa determinação legal (art. 557, CPC), não é possível, regra geral, no juízo possessório, discutir o domínio. A decisão acerca de uma ação possessória será tomada com base na melhor posse, e nesse aspecto a função social da posse assume papel relevante. Exceção: a usucapião pode ser utilizada como matéria de defesa (Súmula 237 STF).
Da questão da “tutela antecipada” nas ações possessórias
A tutela de urgência é permitida no âmbito das ações possessórias pelo art. 562 do CPC. Ela terá caráter satisfativo e estará pautada em cognição sumária. Registre-se que a concessão da medida liminar poderá ser realizada com ou sem audiência da parte contrária.
Obs.: Quando o réu for ente de direito público não é possível a concessão de liminar sem a oitiva da parte contrária.
Requisitos (art. 561 CPC):
- prova da posse;
- caracterização detalhada da agressão à posse, inclusive com indicação da data em que houve o esbulho ou a turbação;
- que a agressão tenha ocorrido a menos de ano e dia (esbulho ou turbação novo).
Obs.: Observar o disposto no art. 558 do CPC.
Desforço possessório
 
É a defesa imediata da posse pelo possuidor agredido. Deve estar assentado no binômio imediatismo X proporcionalidade. O art. 1.210, § 1°, tem que ser entendido em harmonia com o art. 188, ambos do Código Civil.
O desforço próprio, como atitude exclusiva do possuidor, deve ser promovido logo e limita-se a trazer a situação ao fato anterior à violência. Logo, é prazo contínuo e ininterrupto. É decadencial, de modo que não permite um intervalo, pois se este se der, caberá ao interessado buscar as vias ordinárias, ou seja, procurar a Justiça, como órgão estatal, à disposição dos jurisdicionados (PUGLIESE, Roberto J. Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 195).
A doutrina costuma classificar a autotutela da posse em duas espécies:
- desforço imediato: ocorre nos casos de esbulho (Obs.: Art. 1.224 CC), em que o possuidor recupera o bem perdido.
- legítima defesa da posse: ocorre nos casos de turbação, em que o possuidor normaliza o exercício de sua posse.
D) Usucapião
O direito à usucapião é um dos principais efeitos decorrentes da posse.
O Código Civil, em relação à propriedade imóvel, consagra as seguintes modalidades de usucapião de bem imóvel: a) usucapião ordinária (art. 1.242 CC); b) usucapião extraordinária (art. 1.238 CC); c) usucapião especial rural (art. 1.239 CC, já prevista na CF/88) e; d) usucapião especial urbana (art. 1.240 CC, também na CF/88).
Além dessas formas de usucapião, existem ainda a usucapião indígena (Lei 6.001/1973 – Estatuto do Índio), a usucapião coletiva (Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade) e a usucapião administrativa, sem ação judicial, tratada pelo art. 60 da Lei Minha Casa, Minha Vida (Lei 11.977/2009).
Quanto à propriedade móvel, o Código Civil de 2002 continua tratando das formas ordinária e extraordinária, nos arts. 1.260 e 1.261. Há ainda tratamento específico da usucapião de servidões, no polêmico art. 1.376 do CC.
MUITO IMPORTANTE: vide art. 1.243 do CC.
O instituto será estudado de forma detalhada mais adiante.
Exercício
Assinale a alternativa incorreta:
 
(a) O possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação.
(b) Considera-se possuidor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções.
(c) O Código Civil reconhece como injusta a posse que for violenta, clandestina ou precária.
(d) A posse poderá ser desmembrada em direta e indireta.
Resposta: Letra “b”. A alternativa traz consigo o conceito de “detentor”.
Semana Aula 04 – Aquisição e Perda da Posse
Momento de início da posse: art. 1.204 do CC.
Espécies de aquisição da posse:
Aquisição originária: não há relação jurídica com o antecessor da posse. A aquisição se dá por ato unilateral. Nos modos originários de aquisição, não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. Segundo Orlando Gomes, adquire-se a posse por modo originário quando não há consentimento de possuidor precedente.
 
Se o modo de aquisição é originário, a posse apresenta-se livre dos vícios que anteriormente a contaminavam. Assim, se o antigo possuidor era titular de uma posse injusta, tais vícios desaparecem ao ser esbulhado. 
 
Aquisição derivada: Caracteriza-se a aquisição derivada ou bilateral quando a posse decorre de um negócio jurídico. Neste caso, existe relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. O adquirente recebe a posse adquirida com os mesmos vícios que a inquinavam nas mãos do alienante. Se a posse anterior era violenta, clandestina ou precária, conservará, em regra, o mesmo caráter nas mãos do novo possuidor. A aquisição derivada pode ocorrer pela tradição e pela sucessão inter vivos e mortis causa. A tradição é a forma, por excelência, de aquisição derivada da posse.
Meios de tradição da posse
A posse pode ser adquirida por qualquer ato jurídico, bem como o será pela tradição, que pressupõe um acordo de vontades, um negócio jurídico de alienação, quer seja a título gratuito (ex.: doação), quer a título oneroso (ex.: compra e venda). Existem três espécies de tradição: real, simbólica e consensual.
 
A tradição real envolve a entrega efetiva e material da coisa. Pressupõe sempre uma causa negocial. Para Serpa Lopes, a tradição real exige os seguintes requisitos: a) a entrega da coisa (corpus); b) a intenção das partes em efetuar a tradição e; c) a justa causa, requisito a ser compreendido como a presença de um negócio jurídico precedente, que a fundamenta.
 
A tradição caracteriza-se como simbólica quando traduzida por atitudes, gestos, condutas indicativas da intenção de transferir a posse. Exemplos clássicos são os atos de entrega das chaves de imóveis ou automóveis. A coisa não é efetivamente entregue, mas o simbolismo do ato é indicativo do propósito de transmitir a posse.
 
A tradição pode ser também consensual (alguns autores chamam de tradição ficta). Ocorre tradição consensual nas hipóteses do constituto possessório e da traditio brevi manu.
Há constituto, por exemplo, quando o vendedor, transferindo a outrem o domínio da coisa, conserva-a em seu poder, mas agora na condição ou qualidade de locatário. A cláusula constituti não se presume. Deve constar inequivocamente do ato ou resultar da estipulação que a pressuponha.
 
Já a traditio brevi manu é exatamente o inverso do constituto possessório, pois se configura quando o possuidor de uma coisa alheia passa a possuí-la como própria. Seria o exemplo do locatário que adquire o bem.
Em ambas as hipóteses (constituto e traditio) não ocorre a exteriorização da tradição. Existe pura e simplesmente inversão no animus do sujeito. Há uma modificação subjetiva na compreensão da posse pelos sujeitos envolvidos. Aplicam-se tanto os bens móveis quanto aos imóveis.
Acessão de posses
Conceito: é a soma da posse do sucessorcom a do seu antecessor, desde que mantenham as mesmas características.
A posse pode ser adquirida em razão da sucessão inter vivos ou causa mortis. 
O art. 1.206 do CC enuncia que a posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres – princípio da continuidade do caráter da posse (art. 1.203 do CC).
Especializando o princípio da continuidade da posse, preconiza o art. 1.207 do CC que o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
Obs.: Herança – totalidade do patrimônio deixado pelo de cujus. Legado – coisa certa e determinada deixada pelo de cujus.
Obs.: Sucessão universal – herança. Sucessão singular – legado, doação ou qualquer outro ato de transmissão de bens a título singular.
Extinção da posse
A posse pode ser perdida por:
1) Perda da coisa: com a perda da coisa o possuidor se vê privado da posse sem querer. Na hipótese de abandono, ao contrário, a privação se dá por ato intencional, deliberado.
2) Perecimento da coisa: a destruição pode resultar de a) acontecimento natural ou caso fortuito; b) por fato do próprio possuidor (ex.: acidente de carro); c) por fato de terceiro, em ato atentatório à propriedade.
3) Abandono (derrelição).
4) Transmissão da posse para outra pessoa.
5) Tomada da posse por outrem (vide art. 1.224 CC).
6) Classificação da coisa como bem fora do comércio: nessa hipótese, a coisa se tornou inaproveitável ou inalienável. Pode alguém possuir bem que, por razões de ordem pública, moralidade, higiene ou segurança coletiva, passe à categoria das res extra commercium, verificando-se, então, a perda da posse pela impossibilidade, daí por diante, de ter o possuidor poder físico sobre o objeto da posse.
Tal consequência, todavia, é limitada às coisas tornadas insuscetíveis de apropriação, uma vez que a só inalienabilidade é frequentemente compatível com a cessão de uso ou posse alheia.
Semana Aula 05 – Propriedade
O Código Civil não definiu a propriedade, listando apenas suas características essenciais, quais sejam, uso, gozo, disposição e reivindicação. Todavia, assim pode ser definida a propriedade, segundo a doutrina: “a propriedade é a submissão de uma coisa, em todas as suas relações jurídicas, a uma pessoa”.
Propriedade plena X Propriedade limitada
A função social da propriedade
A função social está relacionada à utilidade conferida ao bem, utilidade esta que se dá por meio do exercício da posse (propriedade enquanto bem). Também pode ser entendida como um elemento estrutural (propriedade enquanto direito), de modo que não há proteção constitucional à propriedade exercida em desconformidade com sua função social. Por fim, a função social impõe uma série de limitações que devem ser respeitadas pelo proprietário (propriedade enquanto instituição).
**Importante: Análise do art. 1.228 CC.
Em se tratando da propriedade rural, a Constituição da República, em seu art. 186, fornece os parâmetros cumulativos da função social:
a) aproveitamento racional e adequado;
b) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
c) observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
d) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Características da propriedade
As características da propriedade estão indicadas no art. 1.231, CC: a plenitude e a exclusividade. A essas características a doutrina soma outras três: perpetuidade, elasticidade e oponibilidade erga omnes.
 
A propriedade é considerada plena quando se encontrar nas mãos do proprietário todas as faculdades que lhe são inerentes (usar, gozar, dispor e reivindicar), estando o mesmo sujeito apenas às limitações impostas no interesse público.
 
Contrapondo-se a noção de propriedade plena, acima abordada, temos a propriedade limitada, que se caracteriza: a) quando estiver sujeita a algum ônus real; b) quando for resolúvel.
 
A exclusividade significa que a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas ou mais pessoas. O direito de um sobre determinada coisa exclui o direito de outro sobre a mesma coisa. Isso não se choca com a ideia de condomínio, pois cada condômino é proprietário, com exclusividade, de sua parte ideal.
 
A propriedade é perpétua, pois não se extingue pelo não-uso. Não estará perdida enquanto o proprietário não a alienar ou ocorrer algum dos modos de perda previstos em lei, como a usucapião, a desapropriação, o perecimento etc. Ademais, é transmissível aos herdeiros.
 
A característica da elasticidade decorre da possibilidade de serem transferidos alguns dos poderes a terceiros. O fenômeno inverso chama-se retração.
 
Por fim, a oponibilidade erga omnes já foi oportunamente estudada quando da análise das características dos direitos reais. Em tempo, é importante lembrar que a propriedade, por ser direito real por excelência, apresenta as mesmas características comuns a essa categoria de direitos.
 
Extensão do direito de propriedade:
 
A) propriedade móvel: recai sobre a coisa por inteiro, delimitada espacialmente pelos próprios limites materiais da coisa.
 
B) propriedade imóvel (arts. 1.229 e 1.230, CC): abrange o solo e o subsolo, em altura e profundidade úteis ao proprietário. Não se incluem as jazidas, minas, recursos minerais, energia hidráulica e monumentos arqueológicos (propriedade da União).
Limitações ao direito de propriedade
As limitações ao direito de propriedade estão dispostas na Constituição Federal, no Código Florestal, no próprio Código Civil, dentre outros.
As limitações de interesse público serão estudadas nas respectivas disciplinas. Segue abaixo alguns exemplos, a título ilustrativo:
- Art. 176, CF: propriedade da União das jazidas e recursos minerais e os potenciais de energia elétrica;
- Tombamento;
- Art. 5º, XXIV, CF: possibilidade de desapropriação por utilidade ou necessidade pública ou por interesse social;
- Art. 1º, Código Florestal: as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta lei estabelecerem;
- Art. 5º, XXV, CF: requisição de bens particulares.
As limitações de interesse privado estão contidas principalmente no Código Civil. Demais disso, no exercício da autonomia privada, poderão as partes estipular limitação específica – Ex.: cláusulas de inalienabilidade.
Direitos de vizinhança
O Código Civil, nos artigos 1.277 ao 1.313, estabelece importantes limitações ao direito de propriedade, relativos ao direito de vizinhança.
Nos direitos de vizinhança a norma jurídica limita a extensão das faculdades de usar e gozar por parte de proprietários e possuidores de prédios vizinhos, impondo-lhes um sacrifício que precisa ser suportado para que a convivência social seja possível e para que a propriedade de cada um seja respeitada.
 
Importante observar que a noção de vizinhança remete à proximidade dos imóveis, independente de relação de contiguidade entre eles.
 
As normas referentes ao direito de vizinhança estabelecem regras para:
 
a) controle e vedação do uso anormal da propriedade (arts.1.277 a 1.281, CC);
b) propriedade das árvores limítrofes e seus frutos (arts. 1.282 a 1.284, CC);
c) criação de passagem forçada (art. 1.285, CC);
d) servidão para passagem de cabos e tubulações (arts. 1.286 e 1.287, CC);
e) águas (arts. 1.288 a 1.296, CC);
f) estabelecer limites entre prédios e regular o direito de tapagem (arts. 1.297 e 1.298, CC);
g) regulamentar o direito de construir (arts. 1.299 a 1.313, CC).
Semana Aula 06 – Aquisição da Propriedade Imóvel
Modos de aquisição da propriedade imóvel
Formas Originárias: Usucapião e Acessões (Ilhas, aluvião,avulsão, álveo abandonado e plantações e construções).
Formas Derivadas: Registro do título e sucessão hereditária.
1) Registro de título (art. 1.245 ao 1.247 do CC)
Obs.: Art. 502 e 108 do CC.
No sistema imobiliário brasileiro o registro tem natureza aquisitiva do domínio (forma derivada de aquisição da propriedade imóvel). Sem registro, o direito do adquirente não é direito real, e sim direito pessoal de eficácia relativa entre os negociantes (adquirente e alienante – efeito inter partes), não produzindo efeitos, pois, contra terceiros (erga omnes). A eficácia erga omnes da propriedade imóvel só é atingida pelo registro, que confere a publicidade necessária à relação dominial.
Obs.: Legislação pertinente – Lei de registros públicos (LRP) – Lei 6.015/73.
Obs.2: Súmula 84 do STJ – “É admissível a oposição de Embargos de Terceiros fundados em alegação de posse advinda de compromisso de compra e venda, ainda que desprovida de registro.”
Finalidade do Registro Imobiliário: conferir publicidade ao estado dos imóveis para que tal estado adquira eficácia perante terceiros.
 
Atributos do Registro:
- Publicidade;
- Presunção relativa de veracidade (exceção: registro Torrens – presunção absoluta);
- Legalidade;
- Obrigatoriedade;
- Continuidade;
- Força probante;
 
Efeito do registro: aquisição de direitos reais (propriedade, servidão, hipoteca etc.).
Obs.: Teoria da Aparência – Art. 1245, §2º CC.
Obs.: Princípio da prioridade – Art. 1246 CC. “Aquele que registrar primeiro o título aquisitivo terá a titularidade do domínio do imóvel; assim sendo, o título do segundo adquirente não terá eficácia, gerando tão somente a possibilidade de ação de perdas e danos contra o alienante, uma vez que mover uma reivindicatória seria bastante temerário, pois apenas sairia vencedor se conseguisse comprovar a falsidade do título e do registro do primeiro adquirente.
Atos de Registro de Imóveis:
 
a) Matrícula:
 
Disciplinada pela LRP em seus arts. 227 a 235, a matrícula é o registro inaugural do imóvel, consistindo na especificação do estado de um imóvel, tanto em seus aspectos físicos (localização, dimensões etc.) quando jurídicos (proprietário, forma de aquisição etc.). Este é o teor do art. 228, LRP: 
 
Art. 228. A matrícula será efetuada por ocasião do primeiro registro a ser lançado na vigência desta lei, mediante os elementos constantes do título apresentado e do registro anterior nele mencionado.
 
A matrícula só pode ser cancelada por determinação judicial, pelo desdobro ou pela fusão.
 
Desdobro: subdivisão de lotes.
 
Fusão: unificação de imóveis contíguos. No caso de fusão, o cancelamento da matrícula anterior e abertura de nova matrícula é uma faculdade do proprietário dos imóveis contíguos.
 
b) Registro:
 
Em conformidade com o art. 167, I da LRP, devem ser registrados todos os atos que influenciem no uso, gozo e disposição de um imóvel. Em outros termos, o registro será feito sempre que houver alteração na titularidade de um imóvel ou quando houver limitação da propriedade pela formação de direitos reais limitados.
 
Desta feita, devem ser registrados atos como: instituição de bem de família, hipotecas, servidões, usufruto, uso, habitação, contratos de compromisso de compra e venda, anticrese, superfície, incorporações, instituições e convenções de condomínio, compra e venda de imóvel, permuta, dação em pagamento, doação etc.
 
c) Averbação:
 
Através da averbação é feita alteração em registro já existente. Assim, o art. 167, II da LRP determina que serão averbados atos como: mudança de denominação e de numeração dos prédios, da edificação, da reconstrução, da demolição, do desmembramento e do loteamento de imóveis; restabelecimento da sociedade conjugal; sentenças de separação judicial, de divórcio e de nulidade ou anulação de casamento, quando nas respectivas partilhas existirem imóveis ou direitos reais sujeitos a registro; contrato de locação, para fins de exercício do direito de preferência; extinção do direito de superfície; cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade impostas a imóveis.
2) Acessões imobiliárias (NÃO SERÃO COBRADAS NA PROVA)
 
Inicialmente cumpre esclarecer que a rigor do Código Civil as acessões são consideradas como formas de aquisição da propriedade imóvel (art. 1.248, CC). Todavia, a doutrina destaca que a acessão pode ocorrer:
 
- de imóvel em imóvel;
- de móvel em imóvel;
- de móvel em móvel.
 
Essa última situação refere-se às hipóteses de confusão, comistão e adjunção, tratada pelo Código Civil em seção própria dentro do Capítulo sobre aquisição da propriedade móvel. Assim, para o Código, acessão ocorre somente na forma do art. 1.248.
 
As quatro primeiras formas de acessão são as chamadas acessões naturais. As construções e plantações são consideradas acessões artificiais.
 
a) Formação de ilhas
 
Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes:
I - as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais;
II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.
As ilhas formadas em águas públicas pertencerão ao Poder Público, enquanto que as ilhas formadas em águas privadas serão do domínio privado, na forma do art. 1.249, CC/2002, supracitado. Além das águas particulares, o Código Civil preceitua que as ilhas formadas em correntes comuns também serão do domínio privado.
 
Os conceitos de águas públicas, águas comuns e águas privadas são encontrados no Código de Águas (Decreto n° 24.643/34). O Código de Águas determina que as águas públicas são de uso comum ou dominiais (art. 1°).
 
Águas comuns: correntes não navegáveis ou flutuáveis e de que essas não se façam. (art. 8°, Código de Águas).
 
Águas particulares: São particulares as nascentes e todas as águas situadas em terrenos que também o sejam, quando as mesmas não estiverem classificadas entre as águas comuns de todos, as águas públicas ou as águas comuns. (art. 8°, Código de Águas).
 
 
b) Aluvião
 
Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.
 
Conceito de aluvião: art. 16 do Código das Águas - Constituem "aluvião" os acréscimos que sucessiva e imperceptivelmente se formarem para a parte do mar e das correntes, aquém do ponto a que chega o preamar médio, ou do ponto médio das enchentes ordinárias, bem como a parte do álveo que se descobrir pelo afastamento das águas.
 
A aluvião pode ser:
 
- própria: formada por depósitos de materiais trazidos das águas.
- imprópria: formada quando parte do álveo é descoberto pelo afastamento das águas.
 
c) Avulsão
 
Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado.
Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.
 
Há uma impropriedade terminológica no tratamento da avulsão feito pelo Código Civil, pois o caput do art. 1.251 induz que a avulsão ocorre apenas quandouma porção de terra se deslocar abruptamente de um imóvel para outro. Todavia, é consolidado o entendimento de que ocorre avulsão quando qualquer parte de um imóvel é violentamente arrancado e transportado, por força natural, a outro imóvel. Assim também é o que dispõe o art. 19 do Código de Águas:
 
Art. 19. Verifica-se a "avulsão" quando a força súbita da corrente arrancar uma parte considerável e reconhecível de um prédio, arrojando-a sobre outro prédio.
 
 
d) Álveo Abandonado
 
Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
 
Distinção entre álveo abandonado e aluvião imprópria.
 
Obs: álveo abandonado em decorrência de obra pública pertence ao ente público que realizou a obra.
Processo Civil. Agravo no Recurso Especial. Ação de divisão. Desvio do curso do rio. Utilidade pública. Álveo abandonado. Propriedade do Estado. Código de Águas, art. 27. Litigância de má-fé. Atentado à verdade dos fatos. Reexame de prova. Prova do prejuízo e julgamento extra petita. Prequestionamento. Ausência. 
- Se o rio teve seu curso alterado por ingerência do Poder Público, e não por fato exclusivo da natureza, pertence ao expropriante a fração de terra correspondente ao álveo abandonado.
- É inadmissível o recurso especial na parte em que dependa de reexame de prova e se não houve o prequestionamento do direito tido por violado.
- Agravo no recurso especial a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 431698 / SP. Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI. TERCEIRA TURMA. Publicação DJ 30/09/2002 p. 259) 
 
e) Construções e Plantações
 
Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.
 
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
 
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
 
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.
 
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.
 
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.
 
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.
 
 
O art. 1.253, em atendimento ao princípio da gravitação jurídica, fixa presunção relativa de propriedade das construções e plantações ao proprietário do imóvel. 
 
As normas contidas nos arts. 1.254 a 1.259 têm utilidade para as hipóteses em que ficar comprovado que o solo e as sementes ou materiais utilizados nas plantações ou construções pertencem a pessoas distintas. A regra geral é a de que o proprietário do imóvel, dada a natureza acessória das plantações/construções com relações ao solo, adquirirá a propriedade das acessões. O Código Civil contempla quatro situações distintas:
 
1ª situação: pessoa que planta/constrói em solo próprio com matéria-prima alheia
 
- se há boa-fé: aquisição da propriedade das construções/plantações, com ressarcimento do valor da matéria prima.
- se há má-fé: aquisição da propriedade das construções/plantações, com ressarcimento do valor da matéria prima, mais indenização pelas perdas e danos (se for o caso).
 
2ª situação: pessoa que planta/constrói com matéria-prima própria em solo alheio
 
- se há boa-fé: o proprietário do imóvel adquire as construções/plantações, mas terá que ressarcir o proprietário da matéria-prima pelas despesas. A lei fala em indenização, o que revela a possibilidade de ressarcimento por eventuais perdas e danos existentes.
- se há má-fé: se o valor agregado ao solo superar de maneira desproporcional o preço do terreno, o plantador/construtor de má-fé poderá adquirir a propriedade do imóvel, mediante pagamento de indenização, que será fixada judicialmente se não houver acordo entre as partes. Se a má-fé for bilateral, aplica-se o disposto no art. 1.256.
 
3ª situação: pessoa que planta/constrói com matéria-prima alheia em imóvel alheio
 
- se há boa-fé: o proprietário do imóvel adquire a propriedade das construções/plantações e deverá o plantador/construtor ressarcir o valor da matéria-prima.
- se há má-fé: por analogia, o proprietário do imóvel adquire a propriedade das construções/plantações e deverá o plantador/construtor ressarcir o valor da matéria-prima, mais as eventuais perdas e danos.
Obs: a responsabilidade do proprietário do imóvel pela reparação é subsidiária.
 
4ª situação: construção parte em imóvel próprio, parte em imóvel alheio. Regras dos arts. 1.258 e 1.259.
Obs: autores há que visualizam nessa situação hipóteses de desapropriação por interesse privado.
Semana Aula 07 – Aquisição da Propriedade Imóvel (CONTINUAÇÃO)
3) Usucapião
Etimologia da palavra: usus (do latim, uso) + capionem (do latim, aquisição), que significa aquisição pelo uso.
 
A usucapião, portanto, é a aquisição de direito real através do exercício da posse mansa, pacífica, continuada e duradoura. É sabido que não apenas a propriedade pode ser adquirida através da usucapião, mas outros direitos reais, como a servidão, por exemplo. Dessa forma, a usucapião transforma um estado de fato (posse) em um estado de direito (propriedade, servidão etc). A usucapião é forma originária de aquisição da propriedade. 
 
Fundamento
 
Corrente subjetivista: o fundamento da usucapião é a presunção de que o proprietário abandonou o bem, renunciando-o tacitamente.
 
Corrente objetivista: a aquisição da propriedade através da usucapião repousa na utilidade social do bem em questão. A usucapião tem, assim, como fundamento a consolidação da propriedade, dando juridicidade a uma situação de fato: a posse unida ao tempo. A posse é o fato objetivo, e o tempo, a força que opera a transformação do fato em direito.
Requisitos gerais e específicos para usucapião
São divididos em 03 (três):
a) Pessoais: referem-se às característicaspessoais, bem como atitudes do adquirente e do proprietário. Assim, para usucapir, é necessário que o adquirente tenha capacidade jurídica, na forma da lei civil. Por outro lado, também não corre o prazo da usucapião contra os absolutamente incapazes. Além disso, considerando ser a prescrição uma espécie de prescrição aquisitiva (frise-se que há críticas à expressão), há de serem observadas as causas obstativas, suspensivas e interruptivas da prescrição elencadas nos arts. 197 a 202, CC/2002.
 
b) Reais: referem-se ao objeto da usucapião, é dizer, aos bens e direitos suscetíveis de usucapião. Assim é que podem ser usucapidos os bens apropriáveis, estando, pois, excluídos os bens fora do comércio, os bens públicos e bens que, pela natureza da relação jurídica que autoriza a posse do possuidor, não podem ser usucapidos, como, p.ex., o condômino usucapir área condominial (via de regra).
 
Obs.: Súmula n° 340, STF – Bens Públicos . Aquisição por usucapião. Desde a vigência do Código Civil [1916], os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.
c) Formais: os requisitos formais referem-se à posse (que deve ser exercida com animus domini), ao prazo e à sentença judicial (declaratória). A posse deve ser justa, não sendo condição essencial a boa-fé. Dessa forma, a posse há de ser: mansa, pacífica, pública, contínua e duradoura.
 
Sobre a continuidade, cabe ressaltar a possibilidade de soma de posses para efeito de usucapião – art. 1.243 CC.
 
Em se tratando de usucapião de imóveis, da sentença deve ser extraída carta que será registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Ademais, em conformidade com as súmulas 263 e 391, ambas do STF, tanto o possuidor quanto os confinantes devem ser citados pessoalmente para a ação de usucapião.
Além desses requisitos genéricos, presentes em todas as espécies de usucapião, algumas modalidades exigem requisitos específicos, aplicáveis somente a elas. Assim, por exemplo, na usucapião ordinária, é necessária prova da boa-fé, etc... 
Espécies e respectivos prazos
 
- Usucapião de imóveis:
a) usucapião ordinária (art. 1.242 CC); b) usucapião extraordinária (art. 1.238 CC); c) usucapião especial rural ou usucapião “pro labore” (art. 1.239 CC, já prevista na CF/88) e; d) usucapião especial urbana ou usucapião “pro misero” (art. 1.240 CC, também na CF/88).
Além dessas formas de usucapião, existem ainda a usucapião indígena (Lei 6.001/1973 – Estatuto do Índio), a usucapião coletiva (Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade) e a usucapião administrativa, sem ação judicial, tratada pelo art. 60 da Lei Minha Casa, Minha Vida (Lei 11.977/2009).
OBS.: Usucapião familiar – Art. 1.240-A CC.
 
Em 2011, a Lei n. 12.424 introduziu uma nova modalidade de usucapião de bens imóveis, a qual a doutrina já vem denominando de usucapião familiar ou matrimonial
 
Muitas questões polêmicas estão sendo levantadas a respeito do novel instituto, inclusive quanto à própria constitucionalidade. Na V Jornada de Direito Civil, realizada pelo STJ e pelo CJF, alguns enunciados foram aprovados a respeito da usucapião matrimonial:
 
498. A fluência do prazo de 2 anos previsto pelo art. 1.240-A para a nova modalidade de usucapião nele contemplada tem início com a entrada em vigor da Lei n. 12.424/2011.
 
499. A aquisição da propriedade na modalidade de usucapião prevista no art. 1.240-A do Código Civil só pode ocorrer em virtude de implemento de seus pressupostos anteriormente ao divórcio. O requisito "abandono de lar" deve ser interpretado de maneira cautelosa, mediante a verificação de que o afastamento do lar conjugal representa descumprimento simultâneo de outros deveres conjugais, tais como assistência material e sustento do lar, onerando desigualmente aquele que se manteve na residência familiar e que se responsabiliza unilateralmente pelas despesas oriundas de manutenção da família e do próprio imóvel, o que justifica a perda da propriedade e a alteração do regime de bens quanto ao imóvel objeto de usucapião.
 
500. A modalidade de usucapião prevista no art. 1.240-A do Código Civil pressupõe a propriedade comum do casal e compreende todas as formas de família ou entidades familiares, inclusive homoafetivas.
 
501. As expressões "ex-cônjuge"  e "ex-companheiro", contidas no art. 1.240-A do Código Civil, correspondem à situação fática da separação, independentemente de divórcio.
 
502. O conceito de posse direta referido no art. 1.240-A do Código Civil não coincide com a acepção empregada no art. 1.197 do mesmo Código.
 
   
Obs.: Usucapião Administrativa – O Provimento 23/2016 da CGJ do RJ regulamenta o procedimento da usucapião extrajudicial ou administrativa junto aos Tabelionatos de Notas e aos Registros de Imóveis do Estado do Rio de Janeiro. Cumpre observar, ainda, que o Conselho nacional de Justiça fez uma Consulta Pública com o objetivo de elaboração do Provimento que regulamenta o procedimento da usucapião extrajudicial ou administrativa em todo o Brasil, e que, provavelmente, entrará em vigor este ano.
Prazos
 
Os prazos variam conforme a espécie de usucapião:
  
- usucapião extraordinária    - art. 1.238, caput: 15 anos.
                                              - art. 1.238, parágrafo único: 10 anos.
  
- usucapião ordinária    - art. 1.242, caput: 10 anos.
                                      - art. 1.242, parágrafo único: 5 anos.
 
- usucapião especial     - rural (art. 1.239, CC c/c art. 191, CR/88): 5 anos.
                                      - urbana (art. 1.240, CC c/c art. 183, CR/88): 5 anos.
 
- usucapião coletiva: 5 anos.
 
- usucapião familiar ou matrimonial: 2 anos.
 
- usucapião extrajudicial ou administrativa: 5 anos.
 
 
Direito intertemporal
 
Quanto aos prazos, especial atenção deve ser dada às modalidades extraordinária e à usucapião tabular (administrativa), sendo necessário fazer uso das normas de transição previstas nas disposições transitórias do Código Civil.
 
Usucapião extraordinária (art. 1238, caput, CC): aplicação da regra contida no art. 2.028, CC:
 
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
 
Usucapião extraordinária (art. 1.238, parágrafo único) e usucapião tabular: aplicação da regra contida no art. 2.029, CC:
 
Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior
Alegação em defesa e seus efeitos
A regra da proibição de exceção de domínio é suavizada quando a matéria de defesa for a usucapião, consoante entendimento sumulado pelo STF:
 
Súmula 237, STF: o usucapião pode ser arguido em defesa.
Questão objetiva 
 
Por 10 anos, sem interrupção nem oposição, Fábio possuiu, como seu, bem imóvel no qual estabeleceu sua moradia habitual, podendo:
 
A. depois de mais cinco anos requerer ao juiz que declare adquirida a propriedade do bem, independentemente de justo título e boa-fé.
B. requerer ao juiz que constitua desde logo, em seu favor, a propriedade do bem, somente se possuir justo título e boa-fé.
C. depois de mais cinco anos requerer ao juiz que constitua, em seu favor, a propriedade do bem, desde que possua justo título e boa-fé.
D. requerer ao juiz que declare desde logo adquirida a propriedade do bem, independentemente de justo título e boa-fé.
E. requerer ao juiz que constitua em seu favor, a partir do trânsito em julgado da sentença, a propriedade do bem, independentemente de justo título e boa-fé.
 
Gabarito: letra D
Semana Aula 08 – Aquisição da Propriedade Móvel
Formas de aquisição da propriedade móvel
A aquisição da propriedade móvel representa a incorporação dos direitos de dono em um titular. Se de um lado uma pessoa adquire a propriedadede uma coisa móvel, por outro lado outra a perde, concomitantemente.
Formas originárias
a) Ocupação e achado do tesouro (art. 1263 a 1266 do CC) – Descoberta (art. 1233 a 1236 do CC)
Nos termos do art. 1263, aquele que se “assenhorar” (apoderar) da coisa será considerado seu proprietário, desde que tal ocupação não seja vedada em lei. Portanto, a pessoa que adquire um bem que não pertence a qualquer pessoa (res nullis), o faz de forma originária, por meio da ocupação. Ex.: caça e pesca.
Também pode ser objeto de ocupação a coisa abandonada por alguém, em virtude da derrelição (res derelicta). Ex.: Caso alguém encontre um cão abandonado por outrem, adquire sua propriedade. Registre-se que se o cão é perdido a pessoa que o encontra não lhe adquire o domínio. Coisa abandonada não se confunde com coisa perdida.
As regras relativas ao tesouro mantêm relação com a vedação do enriquecimento sem causa (art. 844 a 886 do CC) e estão previstas nos arts. 1264 a 1266 do CC).
Por sua vez, a descoberta, antiga invenção, não gera a aquisição da propriedade móvel, via de regra, mas mantém relação com os institutos da ocupação e achado do tesouro.
Revela o art. 1233 do CC que quem quer que ache coisa alheia perdida, deverá restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Obs.: art. 746 do CPC. A recompensa (não inferior a 5% do valor do objeto) é chamada de achádego.
b) Usucapião de bens móveis
Existem duas formas de usucapião de bens móveis – a ordinária (art. 1260 do CC) e a extraordinária (art. 1261 do CC).
Na usucapião ordinária exige-se, além da boa-fé, que a posse tenha por causa justo título, cuja noção já foi firmada na unidade referente à teoria da posse. O prazo para a usucapião ordinária é de 3 (três) anos.
 
Na usucapião extraordinária de bens móveis dispensa-se a prova da boa-fé. Assim, mesmo de má-fé o possuidor poderá usucapir o bem. A ausência da exigência de boa-fé é refletida no prazo da usucapião, que é de 5 (cinco) anos.
A polêmica gira em torno da possibilidade de usucapião, por parte do adquirente de boa-fé, de bens furtados ou roubados. Nesse mister, tem entendido a jurisprudência que há possibilidade de usucapir o bem, desde que não una a sua posse com a de quem praticou o crime.
Assim, a usucapião poderia ocorrer, desde que presente a interversão da posse, bem como somente na modalidade extraordinária, uma vez que não existiria justo título. O STJ, por sua vez, entende que não é possível a usucapião de bens furtados ou roubados.
Formas derivadas
a) Tradição (art. 1267 e 1268 do CC)
A tradição consiste na entrega da coisa ao adquirente, com a intenção de lhe transferir a sua propriedade.
Vale ressaltar os tipos de tradição: tradição real, tradição simbólica e tradição ficta (consensual). Obs.: traditio longa manu é forma de tradição simbólica.
O art. 1268 do CC trata da alienação a non domino, quer dizer, aquela realizada por quem não é o dono da coisa móvel. Registre-se que tal tradição não aliena a propriedade, salvo as exceções previstas no próprio dispositivo legal.
b) Especificação (art. 1269 a 1271 do CC)
A especificação consiste na transformação da coisa em uma espécie nova, diante do trabalho do especificador, não sendo mais possível o retorno à forma anterior (art. 1269 do CC). A forma de aquisição é derivada, pois há, em certo sentido, uma relação pessoal entre o dono da coisa anterior e o especificador, aquele que efetua o trabalho.
Como exemplo, citamos que há especificação nos casos da escultura em relação à pedra, da pintura em relação à tela, da poesia em relação ao papel. A modificação é substancial, pois surgiu uma espécie nova: a pedra agora é uma linda estátua, a tela é um belo quadro, o papel uma importante obra literária.
Registre-se que as regras da especificação também têm relação com a vedação do enriquecimento sem causa.
c) Confusão, comistão e adjunção (art. 1272 a 1274 do CC)
Obs.: Em muitos códigos consta a expressão “comissão”, quando o certo é “comistão”.
Os três institutos são forma de aquisição derivada da propriedade móvel e estão presentes quando coisas pertencentes a pessoas diversas se misturam de tal forma que é impossível separá-las.
- Confusão: mistura entre coisas líquidas (ou mesmo gases), em que não é possível a separação. Ex.: misturas de água e vinho; álcool e gasolina; biodiesel e gasolina, etc.
- Comistão: mistura de coisas sólidas ou secas, não sendo possível a separação. Ex.: misturas de areia e cimento; cereais de safras diferentes, não sendo possível identificar a origem.
- Adjunção: justaposição ou sobreposição de uma coisa sobre outra, sendo impossível a separação. Ex.: tinta em relação à parede, selo valioso em álbum de colecionador.
***Muito importante – art. 1274 do CC – erro de digitação – o dispositivo queria fazer menção à especificação – art. 1.270 a 1.271 do CC.
Exercício:
Pergunta: Uma confecção de São Paulo encomendou a uma outra empresa a confecção de diversas etiquetas para serem acrescentadas aos seus produtos. Quanto às etiquetas, após costuradas nos produtos, pode-se afirmar que houve o fenômeno da adjunção ou da especificação? Justifique sua resposta.
Resposta: A adjunção é a reunião de duas coisas, pertencentes a diferentes donos, em um só todo, pois cada uma dessas coisas forma uma parte distinta e reconhecível. Portanto, é possível afirmar que houve adjunção na hipótese analisada, conforme art. 1274, CC.
Semana Aula 09 – Perda da Propriedade
Perde-se a propriedade nos casos previstos no art. 1275 do CC.
1) Alienação
É um negócio jurídico, gratuito ou oneroso, que causa a transferência de direito próprio sobre bem móvel ou imóvel a outrem.
O termo alienação deve ser reservado apenas às transmissões voluntárias, provenientes de negócio jurídico bilateral.
A perda da propriedade pela alienação sempre estará subordinada à tradição, no caso de bens móveis (exceto navios e aviões, que demandam registro) e ao registro do título aquisitivo, quando versar sobre bens imóveis.
Em regra, a alienação necessita da vontade do titular do bem para se perfazer. Todavia, há casos em que a alienação poderá ocorrer sem o consentimento do titular atual, como, por exemplo, na compra e venda com cláusula de retrovenda (Art. 505 do CC).
2) Renúncia
Renúncia é o negócio jurídico unilateral pelo qual o proprietário declara formal e explicitamente o propósito de despojar-se do direito de propriedade. Na renúncia nada se transmite a ninguém, simplesmente o titular abdica do direito real, que nesse instante se converte em res nullius.
A renúncia é negócio jurídico que deve ser interpretado restritivamente. Por esse motivo, a lei não admite renúncia tácita, sobretudo quando se tratar de bens imóveis, devendo, nesse caso, o ato ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis. 
Os bens móveis podem, em tese, ser renunciados. Todavia, a formalidade exigida pela renúncia impede que na prática essa modalidade de perda da propriedade seja comum à propriedade mobiliária.
3) Abandono
 
O abandono também implica em perda da propriedade por ato voluntário do seu titular, com a diferença que, nesse caso, o animus de abandonar a coisa é presumido pela cessação dos atos de posse.
Note que, apesar de estranho e provavelmente contrário à boa-fé, pela manifestação expressa exigida na renúncia é possível que o sujeito que renunciou o bem continue na posse do mesmo. No abandono, porém, isso é impossível, pois é justamente a falta de práticas de atos sobre a coisa que faz induzir que o proprietário a abandonou.
Quando a coisa abandonada for imóvel, o Município, o Distrito Federal ou a União poderão arrecadar o bem e após três anos adquirir a propriedade
Interessante e polêmica norma trouxe o art. 1.276, §  2º, CC:
 
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago,

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