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DIÁLOGOS ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL SOCIAL E AS INFÂNCIAS GUARANI E MOÇAMBICANA

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XV Encontro Nacional de Docentes de Terapia Ocupacional e IV Seminário Nacional de Pesquisa em Terapia Ocupacional – UFES – Vitória/ES - 2016 
 
 
DIÁLOGOS ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL SOCIAL E AS 
INFÂNCIAS GUARANI E MOÇAMBICANA 
 
Marina Di Napoli Pastore*, Amabile Teresa de Lima Neves** e Maria Daniela Corrêa de 
Macedo**** 
 
*Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Terapia Ocupacional na Universidade Federal de 
São Carlos, São Carlos, Brasil. Pesquisadora membro do Núcleo Amanar – Casa das Áfricas 
** Mestranda no Programa de Pós Graduação em Terapia Ocupacional na Universidade Federal de 
São Carlos, São Carlos, Brasil 
**** Professora Doutora do curso de Terapia Ocupacional na Universidade Federal do Espírito 
Santo, Vitória, Brasil 
e-mail: marinan.pastore@gmail.com 
 
Grupo de Trabalho: [GT 9] Terapia Ocupacional Social 
 
 
Resumo: Diversos campos epistemológicos tem se 
debruçado sobre a infância e a criança apresentando 
mútiplas formas de olhar para essa categoria geracional 
e social, constituindo um domínio interdisciplinar de 
investigação e discussão. Na produção teórico-prática 
da terapia ocupacional brasileira há uma compreensão 
dominante sobre a infância que assume como 
parâmetro a relação saúde-doença e o desenvolvimento 
infantil. A presente reflexão decorre de interrogações 
surgidas de experiências de pesquisas e de práticas em 
terapia ocupacional social realizadas tanto em contexto 
cultural guarani no Brasil como em um bairro 
periurbano em Moçambique. Discute-se a dimensão 
cultural da infância, considerando a pertinência de 
abordagem cultural para a terapia ocupacional. O 
intento é contribuir para abordagens teórico-práticas 
plurais sobre os fazeres infantis em que a criança seja 
interlocutora em relações dialógicas, contribuindo para 
o adensamento da reflexão sobre atividades humanas 
na construção da experiência e dos modos de existir. 
Entende-se que o brincar, enquanto linguagem 
fundamental da infância, configura modos de 
compartilhamentos de saberes e vivências. As crianças 
criam no brincar demandas pertencentes à ordem dos 
fazeres que se entrelaçam na construção de 
conhecimento e das expressões de sua cultura. Discute-
se, igualmente, as dinâmicas interculturais presentes 
nas relações de alteridade entre crianças e o 
profissional de terapia ocupacional que favorecem a 
atuação em contextos culturalmente distintos, exigindo 
o exercício do diálogo, além de mediações, produções 
e afirmações que remodelam a própria 
profissionalidade. Assim, desenvolvem-se novas ações 
técnicas e ocorre a expansão da produção de 
conhecimento a partir de diálogos contextualizado 
entre terapeutas ocupacionais e crianças. 
 
Palavras-chave: terapia ocupacional social; cultura; 
diversidade; crianças; infância 
 
Abstract: Different epistemological fields have prone 
about the childhood and the child presenting multiples 
ways to look to this generational and social category, 
constructing an interdisciplinary dominion of 
investigation and discussion. At the theoretical and 
practice production of the Brazilian occupational 
therapy is a predominant comprehension about the 
childhood that assume as parameter the health-sickness 
relation and the child development. The present 
reflection discourse of interrogations that appears as 
from research experiences and practices in social 
occupational therapy realized in cultural context 
Guarani in Brazil as in a periphery neighborhood in 
Mozambique. We discuss the cultural dimension of the 
childhood, considering the pertinence of the cultural 
approach to the occupational therapy. The objective is 
to contribute to plural theoretical and practices 
approaches about the childhood doing in that the child 
be interlocutor at dialogical relations, contributing to 
the deepening of the reflection about human activities 
in the constructing of the experiment and ways to exist. 
We understand that the play, as fundamental language 
of the childhood, sets up sharing modes of knowledge 
and experiences. The children create in the play 
demands that belongs to the order of doing that 
intertwine at the construction of knowledge and 
expressions of their culture. We discussion, equally, 
the intercultural dynamics presents at the otherness 
relations between children and the professional of 
occupation therapy that favoring the acting in several 
cultural contexts, requiring the exercise of dialogue, 
besides mediations, productions and affirmations that 
remodel the own professionality. Thus, it develops 
news technical actions and occur the expansion of the 
 
ISSN 0104-4931 
v. 24, Suplemento Especial, 2016
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XV Encontro Nacional de Docentes de Terapia Ocupacional e IV Seminário Nacional de Pesquisa em Terapia Ocupacional – UFES – Vitória/ES - 2016 
 
 
production of knowledge from contexts dialogues 
between occupational therapy and children. 
 
Keywords: social occupational therapy; culture; 
diversity; children; childhood. 
 
1.0 - Introdução 
 
 A infância, para muitos estudiosos, 
compreende uma categoria geracional, estrutural e 
social, que varia de acordo com a sociedade inserida 
por razões diversas: econômicas, sociais, culturais, de 
gênero, de etnicidade, entre outras. Não há uma única 
forma de infância, bem como não é possível chegarmos 
a um modelo de criança atemporal e 
descontextualizado culturalmente (JAMES & PROUT, 
1990; ALANEN, 2001; SARMENTO, 2002; 2005; 
2014). 
 
[...] a infância é universal em termos de 
ocorrência mais específica em suas 
manifestações concretas, sendo crucial 
que o debate internacional inclua, cada 
vez mais, investigações realizadas em 
contextos etnográficos não-ocidentais. 
(NUNES, CARVALHO, 2007, P. 5). 
 
 Nos últimos anos essa questão vem sendo 
revisitada e rebatida nos debates atuais, nos quais se 
traz a ideia de que a infância não deva ser percebida 
em uma perspectiva universalizada, mas 
contextualizada. Quando consideramos a criança como 
“fora de lugar”, as ações realizadas por elas acabam 
sendo associadas a desvios e/ou patologias. Para 
estudarmos as crianças temos que questionar a 
infância, as relações, os modos e meios que a 
circundam, os símbolos que a permeiam, entre outros, 
compreendendo também a sociedade e as culturas em 
períodos históricos específicos. 
 Na terapia ocupacional, ao nos depararmos 
com trabalhos sobre as crianças e infâncias, 
percebemos o aumento de estudos que enfocam 
questões relativas ao desenvolvimento típico e atípico 
da infância e às questões cognitivas e psicológicas. 
Este trabalho surge com o objetivo de dialogar com 
práticas e pesquisas que trazem para o cerne as 
questões socioculturais que envolvem o ser criança e a 
infância em espaços-tempos específicos. Para isto, foi 
preciso assumir conexões com as dinâmicas sociais 
próprias das realidades estudadas, bem como atentar as 
multiplicidades dos universos aos quais as crianças 
partilham e integram. 
 O texto sugere, assim, apontamentos e 
reflexões trazidos de pesquisas e práticas 
desenvolvidas no âmbito sociocultural com crianças 
em duas realidades diferentes: as Guarani, de Aracruz, 
e as moçambicanas, da Matola A. Discute-se a 
dimensão cultural da infância, considerando a 
pertinência de abordagem cultural para a terapia 
ocupacional. 
 
 
2.0 - Materiais e métodos 
 
A partir das vivências e práticas em contextos 
reais, trabalhar sobre as infâncias Guarani e 
moçambicanas nos fez assumir os significados 
presentes nas dinâmicas próprias, interligadas a 
contextos específicos, cujoprincipal desafio era o de 
conhecer e reconhecer os modos de vida que delineiam 
as visões sobre a criança. Para tal, o exercício 
etnográfico se fez importante e necessário para a 
compreensão histórica, social e cultural que se 
pretendia intervir. 
Entendemos, como sugere Magnani (2009, 
p.132), que o local em que o estudo se debruça pode 
ser visto para além de um cenário onde ocorra a ação 
social, mas como “resultado das práticas, intervenções 
e modificações impostas pelos mais diferentes atores 
(poder público, corporações privadas, associações, 
grupos de pressão, moradores, visitantes, 
equipamentos, rede viária, mobiliário urbano, eventos, 
etc.)”, numa rede complexa de interações, disputas, 
trocas, conflitos e partilhas que constitui, por sua vez, 
“um repertório de possibilidades que, ou compõem o 
leque para novos arranjos ou, ao contrário, surgem 
como obstáculos”, fazendo com que caiba ao trabalho 
etnográfico, a partir de um olhar de “perto e de dentro” 
(MAGNANI, 2002, p. 18) formas de ser e estar a partir 
de contextos e práticas específicos. 
A prática etnográfica constitui-se de dois 
momentos conjuntos: a prática etnográfica, programada 
e contínua, e da experiência etnográfica, em momentos 
imprevistos, descontínuos, mas que coabitaram um 
espaço-tempo e uma população comum: as crianças em 
seu espaço-tempo específico e situado (CLIFFORD, 
2014). A etnografia englobou estratégias de estudos 
prévios, como história da população Guarani de 
Aracruz -ES, bem como de Moçambique, e estratégias 
de contato e encontro com as crianças e com seus 
familiares em ambas as comunidades. O uso de 
materiais audiovisuais, como fotos, vídeos e desenhos, 
foram utilizados no intuito de vinculação e de 
protagonismo das crianças durante as ações 
desenvolvidas em conjunto. 
 
 
 
 
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3.0 - Encontros interculturais: infância e contextos 
socioculturais 
 
 Ao se trabalhar com crianças em contextos 
não hegemônicos, notamos uma dificuldade nos textos 
que traziam a infância numa visão não contextualizada. 
Passamos a trabalhar com textos e leituras a partir da 
sociologia e antropologia da criança, buscando um 
diálogo em que a horizontalidade, individualidade e 
culturas das crianças fossem consideradas pertinentes 
para o entendimento da realidade e contexto ao qual 
vivem. 
 Algumas das abordagens hegemônicas, como 
as que temos visto no âmbito da terapia ocupacional 
brasileira em trabalhos com infância, e em outras 
disciplinas, tem colocado a reflexão em crianças 
consideradas como “fora de lugar”, ou seja, insistência 
numa perspectiva que compreende a infância fora da 
“normalidade”. Buscando dialogar com os contextos 
culturais aos quais as crianças partilham, discutimos a 
necessidade de compreensão em se estabelecer outras 
bases de estudos que não as de padrões ocidentais, 
europeus e norte-americanos, mas a olhar a infância e 
suas comunidades a partir de contextos específicos. 
 Passamos a estabelecer uma visão da criança 
enquanto ator social, na qual ela interage e interfere na 
sociedade como tal, desenvolve processos de 
adaptação, apropriação, reinvenção e reprodução, 
realizadas por elas próprias – “sujeito concreto que 
integra essa categoria geracional [infância] e que, na 
sua existência, para além da pertença a um grupo etário 
próprio, é sempre um actor social que pertence a uma 
classe social, a um género, etc.” (Sarmento, 2005, p. 
371). 
No caso das crianças guarani e moçambicanas 
possuem outras regras e compreendem o mundo a 
partir de outras formas de viver: elas ocupam outros 
lugares e papéis, e possuem outras atividades, 
significativas e que marcam o ser criança nestes 
espaços. O texto é, assim, uma maneira de conciliar os 
modos de ser em espaços não hegemônicos e 
culturalmente diversos das crianças, trazidas para um 
olhar a partir de ações e pesquisa no campo da terapia 
ocupacional social. 
 
3.1 - Crianças Guarani das Aldeias de Aracruz – ES 
 
O projeto de extensão “Terapia Ocupacional e 
os jovens Guarani do Espírito Santo: diálogos e 
oficinas culturais” teve início em 2011, após estudos 
sobre as necessidades dos jovens das aldeias Guarani, 
na cidade de Aracruz, localizada no litoral capixaba, 
distante 83 km da capital, Vitória. Suas ações, com 
enfoque cultural, visam envolver os discentes de 
terapia ocupacional e outras áreas, proporcionando 
práticas e discussões socioculturais e territoriais 
(MACEDO et al., 2015). 
 A fim de contextualizar historicamente o 
cenário de atuação da extensão, Macedo e outros 
(2016), com base nos estudos de Ciccarone (2001), 
explicam que os Guarani-Mbyá chegaram ao Espírito 
Santo em meados de 1960, pelo território de Guarapari, 
contudo atualmente se concentram em Caieiras Velhas, 
região de Aracruz. Os autores apontam que essa longa 
trajetória fora motivada por causas múltiplas, como a 
revelação religiosa, os conflitos pela terra, os conflitos 
internos nas aldeias, o trabalho forçado nas fazendas, a 
morte de parentes e a exploração para o turismo. 
Teão e Loureiro (2009), explicam que esse 
movimento de andança, ao qual os Guarani chamam de 
oguata porã, ocorre em prol da busca pela ivy 
marãey(terra sem mal), onde possam exercer seu 
nhandereko (modo de ser), que é constituído por meio 
das relações de reciprocidade que estabelecem entre si, 
com o meio ambiente e com sua religiosidade e 
espiritualidade. A terra é, portanto, unidade social 
fundamental para a sua organização. 
Complementarmente, Macedo (2010) e Costa 
(2012), destacam que as singularidades dos povos e 
comunidades tradicionais1, configuradas a partir da sua 
relação com a terra, por vezes são envolvidas em 
intensos conflitos socioculturais e territoriais, pois a 
maior parte dos territórios por eles escolhidos para 
viver tornam-se alvo de disputas fundiárias que tendem 
a não considerar a diversidade cultural e nem as 
necessidades e demandas das populações tradicionais 
em relação à terra. 
Dessa forma, a extensão legitimou-se pelo 
fator social e cultural que abrange em suas ações, as 
quais se voltam para a valorização cultural, afirmações 
identitárias, cidadania e emancipação social. A 
princípio, as intervenções ocorriam na aldeia Guarani 
Três Palmeiras, atreladas às questões de socialização e 
interação dos jovens Guarani entre si, com outras 
etnias (como os Tupiniquim) e com os não índios, e 
reforçando-se pelo recorte étnico do subgrupo Guarani-
Mbyá, buscavam adentrar as questões interétnicas e 
interculturais. 
Todavia, embora o público de abrangência 
fossem os jovens Guarani, nos anos de 2013 e 2014, 
 
1
São povos e comunidades que possuem formas próprias e 
diferenciadas de organização, utilizando-se dos territórios e 
dos recursos naturais como forma de reprodução cultural, 
econômica, social e religiosa, através de conhecimentos e 
práticas transmitidas pela tradição, pautadas em práticas 
coletivas produzidas e produtoras de identidade comunitária. 
(COSTA, 2012) 
 
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XV Encontro Nacional de Docentes de Terapia Ocupacional e IV Seminário Nacional de Pesquisa em Terapia Ocupacional – UFES – Vitória/ES - 2016 
 
 
houve uma aproximação significativa por parte das 
crianças às atividades, demandando espaços do brincar 
como lócus para suas experimentações identitárias,principalmente as experiências ligadas à auto expressão 
e expressão cultural do cotidiano em comunidade. 
Nessa perspectiva, pensando em proporcionar 
espaços de produção e compartilhamento cultural às 
crianças, optou-se pela realização da oficina de 
atividades, pelo fato de se constituírem enquanto 
espaços de sociabilidade, trocas, expressões e 
experimentações culturais. Para tanto, essas oficinas 
foram inscritas no formato de Oficina de Brincadeiras 
Infantis, onde se elegeu trabalhar as brincadeiras e os 
jogos infantis durante as visitas mensais à aldeia 
Guarani, que ocorriam aos sábados à tarde, entre uma e 
duas vezes ao mês. 
Quanto às ações técnicas norteadoras das 
práticas, optou-se com as crianças pela “ação cultural”, 
que, em terapia ocupacional social, diz respeito às 
ações pertinentes aos contextos culturais dos 
indivíduos, relacionada às necessidades de grupos 
culturais quanto às expressões: artísticas, de 
linguagem, de questões de gênero, de questões etárias e 
de questões econômicas. Nessas ações, o terapeuta 
ocupacional visa compreender as formas de construção 
das diferenças culturais entre os grupos culturais, a 
partir organização simbólica das experiências e ações 
humanas, do modo como se dá suas relações e das 
formas de aprendizado desses grupos (MACEDO et al., 
2016). 
Mediante essa conjuntura, as oficinas se 
davam de maneira coletiva, com brincadeiras e jogos 
que envolviam, concomitantemente, saberes populares 
e saberes Guarani. Em reuniões, realizadas na 
universidade, os discentes e a docente/ou técnica, 
responsável pela visita, pensavam, estudavam e 
planejavam as principais brincadeiras a serem 
propostas para que minimamente alguns materiais 
fossem separados, contudo, as ações no território nunca 
aconteciam numa mesma ordem, pois buscava-se 
sempre respeitar e acompanhar o ritmo das crianças e 
das próprias aldeias Guarani, na intenção de acolher e 
compreender os desejos e subjetividades que iam 
surgindo no encontro das diferenças. 
Assim, as próprias crianças se dividiam de 
acordo com suas afinidades que envolviam seus gostos 
e idades. Geralmente, aquelas entre 5 e 10 anos 
optavam pelo desenho, contação de história, bolinha de 
gude, identificação de árvores e plantas. Já as crianças 
entre 10 e 13 anos, escolhiam jogos mais corporais, 
com regras, interação social, e competição, como: pula 
corda, pula elástico, peteca, pique bandeira, queimada 
arco e flecha, futebol, cabo de guerra, jogos de 
expressão corporal. 
O fato das crianças, principalmente as 
pequenas, falarem em sua maioria apenas o Guarani, e 
dos alunos não saberem a língua, por vezes, dificultava 
comunicação. Contudo, na medida em que os discentes 
iam compreendendo a atividade como meio e recurso 
para construir as relações interculturais e acessar o 
universo Guarani, as trocas aconteciam e muitos 
significados emergiram, através das histórias e 
conhecimentos recriados e apresentados pelas crianças 
a sua maneira nos desenhos e jogos. 
Vale destacar que as oficinas não se reduziam 
apenas à parte prática das brincadeiras, mas também 
envolvia o feitio de alguns brinquedos. A peteca e o 
alvo para o arco e flecha, por exemplo, foram feitos 
pelas crianças, que conduziram desde sua construção 
até seu acabamento e a brincadeira em si. 
Ao terapeuta ocupacional coube, pois, 
acompanhar essas experimentações, exercendo o papel 
de articulador intercultural no encontro das diferenças 
etárias, linguísticas, e nos modos de produzir e 
expressar o conhecimento, proporcionando, nesse 
sentido, as condições para que o espaço criativo se 
desse e as crianças pudessem compartilhar os seus 
saberes. 
 
3.2 – A infância vivida na Matola A 
 
A infância africana, e especificamente a 
moçambicana, aparece, em textos governamentais e 
oficiais, marcadas pelas ausências e privações de 
direitos, como nos documentos em parceria com o 
UNICEF Moçambique, que atentam principalmente 
para questões como: moradia e precariedade, saúde-
doença, vacinação, HIV/AIDS, abandono escolar, 
trabalho infantil, entre outros. Tais documentos, por 
sua vez, embora tragam a preocupação às crianças e a 
participação infantil, não dialogam diretamente com as 
crianças nem com seus contextos históricos e 
socioculturais, imprimindo uma reflexão externa, em 
que o olhar e entendimento da infância está pautado em 
moldes europeus e norte-americanos, não refletindo as 
realidades locais. 
 Em um segundo momento, o diálogo foi 
ampliado para as representações das infâncias na 
literatura acadêmica, onde foi possível reconhecer, 
principalmente nos trabalhos antropológicos e 
sociológicos com as crianças, que as mesmas 
apareciam enquanto colaboradoras das pesquisas, 
atuando em seus mundos como atores sociais. 
 Ao entender que as infâncias só podem ser 
pensadas e problematizadas a partir de seu contexto, 
foi realizada uma pesquisa entre janeiro e julho de 
2014, em que as vivências foram partilhadas e 
narrativas construídas com as crianças que habitavam o 
bairro da Matola A, localizado numa área periurbana 
 
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da capital moçambicana com o intuito de captar o que é 
ser criança em uma comunidade moçambicana. 
 O bairro da Matola A surgiu entre 1960-70, 
com a rápida industrialização e enquanto lugar de 
passagem, migração e refúgio durante e após as duas 
guerras que assolaram o país: a guerra de libertação, 
contra o governo português (1964 a 1975) e a guerra 
civil (1976 a 1992) (ARAÚJO, 2006). O bairro da 
Matola A, desde sua constituição, foi um lugar de 
chegada e viveu transformação importante: havia quem 
tivesse ido para trabalhar, quem mudou por conta da 
guerra, quem se refugiou e, ao mesmo tempo, quem 
ainda continua chegando. Quem nasceu ali, cresceu e 
ainda vive lá, ou os que estavam de passagem. Mas um 
lugar em que os espaços são pedaços, as histórias são 
plurais, as vivências são singulares e múltiplas, tal 
como as lembranças de um passado que se tornara 
presente. As crianças como fruto daquele tempo e 
local, carregado de memórias e de vida. 
 A infância era ali representada por esses 
processos que envolviam a comunidade como um todo, 
partilhando de dinâmicas sociais e de divisão de 
trabalhos que englobavam os modos de ser das pessoas 
que ali viviam. 
 A partir da experiência etnográfica, dos 
encontros que ocorreram, foi possível notar uma outra 
infância ali: crianças que tinham suas 
responsabilidades, tarefas, mas que brincavam, 
interagiam com os outros, tomavam decisões e 
compartilhavam com os mais velhos, relacionavam-se 
entre pares e com o mundo. Para poder entender, era 
precisar estar presente, participar e integrar aquele 
universo. 
 As dinâmicas que as crianças partilhavam 
eram diversas: cuidavam de si, dos irmãos mais novos, 
das mães, dos pais, iam à escola, cozinhavam, 
ajudavam no que fosse preciso e, nos mais diversos 
momentos, brincavam. Suas atividades tinham a 
premissa e a cultura do cuidado e ajuda, principalmente 
com os mais velhos. A relação existente entre as 
crianças e adultos, muitas vezes apontada e julgada 
enquanto trabalho infantil, tinha outra conotação ali: 
era preciso conhecer a realidade e seus modos de atuar 
para então abrir-se a discussão e a uma leitura sensível 
do envolvimento entre eles. Camara Laye, escrito 
senegalês, traz em seu livro “O menino negro” alguns 
trechos que refletem essa relaçãoe laços entre as 
responsabilidades e as brincadeiras, que podem ser 
percebidos nas passagens a seguir. 
 
Meus amigos e eu escalávamos a escada que levava 
até o alto e com o estilingue caçávamos os 
pássaros, às vezes os macacos que vinham saquear 
os campos. Pelo menos era essa a nossa missão, e a 
cumpríamos sem reclamar, bem mais por prazer 
que por obrigação; mas de vez em quando, 
envolvidos em outras brincadeiras, também 
esquecíamos o motivo pelo qual estávamos ali, e 
senão para mim, pelos menos para meus 
amiguinhos a coisa não se passava sem problemas 
[…]; assim, devidamente esclarecidos, ficávamos 
de olhos nas colheitas, ainda que fizéssemos 
confidências apaixonantes, que os ouvidos dos 
adultos não deviam ouvir […] (LAYE, 2013, p. 
42). 
 
 Com o tempo, compreendeu-se que as 
crianças possuíam suas atividades pautadas pela 
divisão social do trabalho e no enfoque de formar 
cidadãos responsáveis, a partir de entendimentos de 
parentesco e solidariedade, partilhados também na 
relação entre pares (criança-criança) e durante o 
brincar. 
As diversas formas em que o brincar ocorria 
fornecia às crianças o exercício de entendimento, 
transformação e pertencimento da e na comunidade, 
enquanto atores sociais que integravam maneiras de 
existir e atuar no mundo. 
As experiências vividas pelas crianças nos 
seus espaços de significação e pertencimento, como os 
familiares e escolares, com suas normas e valores 
próprios de organização e de funcionamento, 
reforçados por um espaço de criação conjunta e 
sentimento de partilha geram a necessidade de criar e 
manter um “espaço interativo comum e de brincar 
juntas, que as crianças instituem sua própria ordem 
social.” (FERREIRA, 2004, p. 48-49), que só pôde ser 
percebido, significado e problematizado a partir das 
vivências na própria comunidade, no dia-a-dia das 
crianças, em que suas vivências e modos de ser foram 
validados quanto sua historicidade, cultura e meio 
social. 
Com as crianças foi possível compreender que 
era através do brincar que elas exploravam e se 
apropriavam não apenas dos valores e dos significados 
de suas culturas, mas das suas simbologias, de seus 
espaços e de seus modos de viver, dos seus mundos 
que as permeiam e dos quais participam, assumindo 
formas de experimentar o ser criança que lhes é 
atribuído, em suas mais diversas maneiras e alteridade, 
fossem durante as atividades domésticas, as escolares, 
as comunitárias ou em suas próprias. 
Para Sarmento (2002), torna-se fundamental 
compreender os contextos em que as crianças estão 
inseridas, e que as brincadeiras e o brincar, enquanto 
linguagem da criança, sejam vistos como parte inerente 
do ser criança, permitindo a ampliação do olhar da 
infância e, especificamente, da criança moçambicana 
que vive numa comunidade periurbana, considerando-
se todos os aspectos que circundam e valorizam seus 
meios e espaços, culturas e sociedade, no qual a 
 
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XV Encontro Nacional de Docentes de Terapia Ocupacional e IV Seminário Nacional de Pesquisa em Terapia Ocupacional – UFES – Vitória/ES - 2016 
 
 
redescoberta dos traços das crianças e da própria 
infância, marcados principalmente pelo brincar, nos 
permite a possibilidade de experimentar um mundo 
“infinitamente mais pacífico.” (SARMENTO, 2002, p. 
16-17). 
 
 
4. Discutindo o trabalho da terapia ocupacional 
social em cultura e suas dinâmicas 
 
O campo social requer do terapeuta 
ocupacional a capacidade de intervir em culturas 
distintas de acordo com a diversidade e multiplicidade 
cultural existente, rompendo com ações e 
procedimentos técnicos pré-estabelecidos (BARROS 
et. al., 2007). A partir disto, buscar promover ações, 
práticas e pesquisas culturalmente pertinentes e 
significativas, voltadas à valorização dos cotidianos 
culturalmente diferentes é também se debruçar sobre a 
existência dos modos de ser não normativos e avançar 
no debate acerca dos processos que levam ao 
rompimento dos cotidianos. 
Desse modo, as abordagens teórico-práticas 
plurais sobre os fazeres infantis que compreendem a 
criança como interlocutora em relações dialógicas, 
contribuem para o adensamento da reflexão sobre 
atividades humanas na construção da experiência e dos 
modos de existir. Pois, nelas se entende que o brincar, 
por ser linguagem fundamental da infância, configurará 
saberes a respeito dessa categoria para além daqueles 
atrelados ao desenvolvimento infantil e ao viés saúde-
doença, mas também relacionados aos modos de troca, 
de compartilhamentos de saberes e vivências das 
crianças, abarcando demandas pertencentes à ordem 
dos fazeres que se entrelaçam na construção de 
conhecimento e das expressões de sua cultura. 
Nessa perspectiva, as práticas extensionistas e 
de pesquisa apresentadas neste manuscrito apontam 
desafios colocados à profissionalidade, mas que 
possibilitam pensar em novas formas de exercer as 
práticas conforme as diversas infâncias existentes. 
No contexto de atuação do projeto de extensão 
“Terapia Ocupacional e os jovens Guarani do Espírito 
Santo: diálogos e oficinas culturais”, que faz parte do 
universo dos Povos e Comunidades Tradicionais, foi 
possível perceber por meio das brincadeiras e jogos 
infantis, que as crianças Guarani possuem um cotidiano 
permeado por dilemas advindos da relação entre a 
cultura local, o crescimento econômico e políticas 
públicas, que por vezes causam rompantes e 
demandam reorganização de seus fazeres humanos e 
relações e que se iniciam desde as primeiras idades. 
Tais percepções emergiram na medida em que os 
alunos, a docente e a técnica proporcionaram espaços 
de liberdade para as crianças construírem e 
reproduzirem as experiências a sua maneira (como 
quando desenhavam personagens de desenhos 
animados que não pertenciam à cultura Guarani ou 
diversos animais e elementos da natureza), o que 
possibilitou revelarem o entendimento do mundo em 
que vivem e do modo que organizam a relação com o 
território. 
Na mesma direção, o trabalho com as crianças 
moçambicanas utilizou de um viés em que elas fossem 
postas como protagonistas de um tempo-espaço 
específicos, em que a história de guerras recentes do 
país, junto ao grande período de colonização e modos 
em que organizavam suas atividades significativas, a 
partir de um entendimento de vida partilhada em 
comunidade, com divisão dos trabalhos e 
reconhecimento do papel das crianças ali. 
Para a compreensão e acolhimento das 
diversidades e demandas, fossem individuais ou 
coletivas das crianças nestes dois contextos, um 
conceito se tornou primordial para as autoras: o da 
alteridade, como princípio articulador de nossas ações, 
reconhecendo a condição humana na criança, e, 
portanto, considerando, as características próprias e 
distinções, tanto coletivas, quanto individuais dessa 
categoria geracional e social. 
Foi preciso que nos aproximássemos e 
conhecêssemos as formas de organização dessas 
crianças, como se constroem e se dão suas relações, 
suas representações geracionais, seus códigos de 
comunicação e símbolos centrais de sua cultura. Nesse 
processo, é significativo destacar o estranhamento 
inicial advindo de ambos os lados: das profissionais, 
pelo fato de se depararem com uma infância diferente 
dos estereótipos relacionados às crianças com as quais 
estudamos em diferentes níveis do processo de 
formação, e das crianças, uma vez que somos adultas, 
brancas, de classe média e com formação diferente da 
delas. O uso da língua portuguesa também foi um 
estranhamento em ambosos contextos: as crianças da 
aldeia de Aracruz falavam guarani, e as da Matola A 
falavam changana. Todavia, o estranhamento foi 
significativo para que a alteridade permeasse as 
relações, uma vez que por meio dele pudemos 
despertar outros olhares sobre as crianças e realizar 
reflexões, (re)descobrimentos, (re)conhecimentos e 
(re)afirmações não só desse outro, como de si próprios. 
Partindo do reconhecimento do protagonismo 
da criança e considerando-a um “Sujeito concreto que 
integra essa categoria geracional [infância]”, e, 
portanto, “sempre um ator social [...]” (SARMENTO, 
2005, p. 371) detentor de direitos, ações, saberes e 
subjetividades que a permitem negociar, compartilhar e 
criar cultura com seus pares (PASTORE, 2015), as 
ações passaram a ser planejadas levando em 
 
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consideração as experiências do brincar das crianças 
Guarani e moçambicanas. O intuito de trabalhar as 
brincadeiras e jogos infantis parte da compreensão de 
que a criança expressa e exerce o seu ser e estar através 
da brincadeira. Conforme Carvalho (acesso ago 2015), 
o brincar é a linguagem tipicamente infantil, capaz de 
integrar experiências da corporeidade, da cognição e da 
emoção, dos papéis sociais, das interações. 
Com o tempo de convivência estreitou-se o 
encontro da língua portuguesa com a língua guarani e 
changana e para além, sentimentos, culturas, e códigos 
de comunicação, foram mesclados e compartilhados. 
Entretanto, destaca-se que as brincadeiras constituíram 
a forma de linguagem que mais viabilizou as trocas 
entre os estudantes e as crianças. 
Além das afetações proporcionadas, como as 
novas formas de estar e de interagir com o contexto 
cultural, as brincadeiras e modos de interação através 
delas criar reflexões sobre as questões de 
interculturalidade e dos papéis e caminhos da terapia 
ocupacional social nos meios de cultura. O contato 
com as diferenças culturais possibilitou às crianças a 
valorização da sua produção cultural, já que por meio 
das negociações elas puderam se expressar de forma 
ativa, participativa e singularizada. 
Nossas práticas e estudos refletem, também, o 
modo como nos colocamos em relação com o outro, e, 
no caso, com o ser criança, em que, a partir da 
etnografia e do entendimento de que era necessário 
reconhecer os valores e símbolos próprios das infâncias 
que ali ocorriam, elementos outros acabaram por 
emergir e fazer parte dos processos contínuos, em que 
o brincar esteve presente das mais diversas formas: na 
Oficina de Brincadeiras Infantis, com as crianças 
guarani de Aracruz, ou no brincar livre, nas ruas do 
bairro, ou entre as atividades das crianças, na Matola 
A. O brincar nos permitiu acessar o mundo do 
imaginário humano e a um mundo em que o nosso ser 
criança refloresce: foi através do estar aberto ao outro, 
aos seus saberes e seus modos de ser que foi possível 
reconhecer que falar de uma infância única já não é 
mais possível, típica ou atípica, mas a partir de práticas 
etnográficas em que a diversidade, alteridade, encontro 
e dialogia (FREIRE, 1987) sejam possíveis. 
Tanto no contexto da pesquisa etnográfica 
como na prática em comunidades tradicionais na 
terapia ocupacional social, foi preciso elaborar o 
entendimento das pluralidades e sentidos existentes, 
tanto dos profissionais quanto da população, para que 
as ações e suas interpretações aprendessem os sentidos 
na dialogia de Paulo Freire (1987) e na tensão do 
entrelaçamento entre crianças, famílias e redes, a partir 
de contextos sociais específicos, históricos e culturais. 
 
 
5. Conclusão 
 
Na perspectiva do diálogo intercultural e 
territorial, compreendemos a pertinência da 
compreensão de que na relação com o seu meio, as 
crianças influenciam e são influenciadas, alteram e são 
alteradas, transformam e são transformadas, enquanto 
atores e protagonistas de uma infância que deve ser 
notada, valorizada e estudada, a partir de sua 
contextualização aos meios sociais, culturais, 
econômicos, históricos. 
Através do processo de campo e da etnografia 
realizados em momentos diversos, como no 
reconhecimento da população, do lugar, de sua história, 
e na convivência, foi possível que percebêssemos um 
caleidoscópio de saberes e dinâmicas que foi preciso a 
disponibilidade para o outro. Disponibilidade esta que 
não foi espontânea, mas algo que só pode ser 
construído no exercício reflexivo, através de um 
processo mútuo: somos observados/as e este é um dos 
aprendizados significativos da prática antropológica. 
Cabe aqui ressaltar os laços com a formação 
do/da terapeuta ocupacional, sobretudo no campo 
social, em que entendemos a necessidade de construção 
de relações e interações com enfoque cultural no 
processo de formação, o que nos proporcionou uma 
melhor experimentação da relação teórico-prática e 
trocas entre diferentes saberes e sobre diferentes 
culturas. Assim como o entendimento e prática em 
ação comunitária e ação cultural, com a realização de 
uma relação dialógica e de negociação entre 
universidade e sociedade (auto) reflexões sobre/na a 
atividade humana e aprender permanentemente a 
interagir e a dialogar no universo do agir, do fazer, do 
trabalho e do brincar, seja nos mundos infantis ou nos 
diversos mundos aos quais interagimos ao estar 
disposto ao encontro com o outro. 
 
Agradecimentos 
 
Às crianças Guarani, de Aracruz-ES, é às crianças 
moçambicanas, do bairro da Matola A. 
 
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