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EFEITOS DA POSSE

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AULA 03 – Direito das Coisas – CIVIL IV (Efeitos da posse) – CCJ0015 – 2017.2�
1. Efeitos da posse:
 	Dentre os efeitos da posse, destacam-se: a) percepção de frutos; b) indenização e retenção por benfeitorias; c) indenização por prejuízos sofridos; d) defesa da posse (interditos possessórios); e) usucapião. 
(A) Direito aos frutos: 
O direito à percepção dos frutos varia conforme a classificação da posse quanto à subjetividade e está disciplinado nos arts. 1.214 a 1.216, CC (os quais recomenda-se a leitura atenta): 
	
	Frutos colhidos
	Frutos pendentes
	Frutos percipiendos
	Posse de boa-fé
	Boa-fé Direito do possuidor
	Restituição, com direito à dedução das despesas.
	-----
	Posse de má-fé
	Indenização ao possuidor legítimo, com direito à dedução das despesas
	Só lhe assiste o direito às despesas.
	Indenização ao possuidor legítimo.
 	O pagamento feito ao possuidor de má-fé pelas despesas de produção e custeio é devido tendo em vista o princípio do direito civil que proíbe o enriquecimento sem causa: 
Em que pese a existência de posse de má-fé, terá o possuidor direito às despesas que despendeu, necessárias à produção e ao custeio dos frutos. Trata-se de aplicação do princípio de vedação ao enriquecimento sem causa, não sendo dado ao proprietário ou legítimo possuidor gozar dos frutos oriundos da coisa sem devolver ao possuidor de má-fé as quantias gastas para dar produtividade à coisa. 
Obs: os frutos colhidos por antecipação devem ser devolvidos. 
Os frutos civis, por tratarem-se de rendimentos, reputam-se colhidos a cada dia. 
As normas contidas nos arts. 1.214 a 1.216, CC são supletivas, podendo, portanto, ser afastadas através do regular exercício da autonomia privada. 
(B) Direito às benfeitorias 
Assim como ocorre com os frutos, a indenização pelas benfeitorias depende da classificação da posse quanto à sua subjetividade (vide arts. 1.219 e 1.220, CC): 
	
	Benfeitoria necessária
	Benfeitoria Útil
	Benfeitoria Voluptuária
	Posse de boa-fé
	Indenização + Retenção
	Indenização + Retenção
	Jus tollendi, sem direito de retenção
	Posse de má-fé
	Apenas restituição do valor gasto pelo possuidor.
	-----
	-----
Obs: as benfeitorias são compensadas com os danos. 
Lei nº 8.245/91, art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção.
Lei nº 8.245/91, art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel.
Enunciado n° 81, I Jornada de Direito Civil: O direito de retenção previsto no CC 1219, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias. 
Súmula n° 158 do STF: Salvo estipulação contratual averbada no registro imobiliário, não responde o adquirente pelas benfeitorias do locador. 
 	As normas contidas nos art. 1.219 e 1.220, CC são supletivas, podendo, portanto, ser afastadas através do regular exercício da autonomia privada.
(C) Interditos possessórios O art. 1.210, CC, prevê a tutela da posse através dos interditos possessórios: 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
Interdito possessório é a denominação genérica que se dá às ações possessórias� que visam combater as seguintes agressões à posse: 
	
	Conceito
	Interdito adequado
	Exemplo
	Esbulho (perda da posse)
	Agressão que culmina da perda da posse
	Reintegração de posse - efeito restaurador (arts. 926 a 931). 
	Grupo de moradores de rua invade a propriedade, expulsando Z da cidade.
	Turbação (perturbação)
	Agressão que embaraça o exercício normal da posse
	Manutenção de posse - efeito normalizador (arts. 926 a 931, CPC).
	Y efetua reforma em seu imóvel e começa a deixar os materiais, equipamento e entulhos no terreno vizinho, embaraçando a posse.
Locador não quer respeitar a vigência do contrato de locação, colocando bens no imóvel locado para forçar o locatário a sair do imóvel.
	Ameaça (violência iminente ao direito da posse) 
	Risco de esbulho ou de turbação. 
	Interdito proibitório (932 e 933, CPC). 
	K toma conhecimento de um grupo de pessoas vindo em direção a sua propriedade para invadí-la. 
	O fato de o limite entre as formas de agressão da posse serem muito tênues, associado à velocidade com que uma agressão pode se transformar em outra, fez com que a legislação estabelecesse a fungibilidade entre as ações possessórias (art. 920, CPC). É importante nesse ponto definir a abrangência da expressão “ações possessórias” para fins de aplicação da regra da fungibilidade. Entende a maioria da doutrina e jurisprudência que a fungibilidade a que se refere o CPC só existe entre as ações de reintegração de posse, manutenção de posse e interdito proibitório (ações possessórias em sentido estrito). Assim, ainda que as ações como a de nunciação de obra nova (art. 934, CPC) e a ação de dano infecto (art. 1.280, CC) possam ser utilizadas na defesa da posse, somente as ações possessórias em sentido estrito estão sujeitas à regra da fungibilidade. 
(D) Ações petitórias:
	Ação petitória
	A defesa da posse é feita com fundamento no direito de propriedade.
	
	Proprietário (Adquirente da propriedade - compra e venda, arrematação em leilão etc.)) nunca teve a posse e quer ser investido pela 1ª vez na posse do bem.
	Injusta resistência do atual possuidor
	Ação ´reivindicatória
(ação real - art. 1.228, C)
	Proprietário já teve a posse do bem, mas a perdeu e quer recuperá-la de quem injustamente a detenha com fundamente no direito de sequela. 
	W deixa o bem de sua propriedade sob a guarda de M, que o transfere, sem autorização, para N. AO retornar W poderá reivindicar o bem de quem quer que injustamente o detenha.
I. Ação de imissão de posse:
“O novo Código de Processo Civil não previu, todavia, de modo específico, a antiga ação de imissão de posse. Nem por isso ela desapareceu. Acredito realmente que o autor possa promovê-la, desde que imprima ao feito o rito ordinário (ação ordinária de imissão de posse) e que terá por objeto a obtenção da posse nos casos legais” (Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, vol.3 – Direito das Coisas).
E no CPC a imissão de posse está disciplinada nos artigos:
Art. 538, CPC.  Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel.
§ 1o A existência de benfeitorias deve ser alegada na fase de conhecimento, em contestação, de forma discriminada e com atribuição, sempre que possível e justificadamente, do respectivo valor.
§ 2o O direito de retenção por benfeitorias deve ser exercido na contestação, na fase de conhecimento.
§ 3o Aplicam-se ao procedimento previsto neste artigo, no que couber, as disposições sobre o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer.
...
Art. 625, CPC.  O inventariante removido entregará imediatamente ao substituto os bens do espólio e, caso deixe de fazê-lo, será compelido mediante mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de bem móvel ou imóvel, sem prejuízo da multa a ser fixada pelo juiz em montante não superior a três por cento do valor dos bens inventariados.
...
Art. 806, CPC.  O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial, será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação.
§ 1o Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeitoa alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo.
§ 2o Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, conforme se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no prazo que lhe foi designado.
(E) Institutos semelhantes:
I. Ação de despejo (art. 5º, Lei nº 8.245/91)
Há exclusão da ação petitória quando a posse é originada pelo contrato de locação. 
Caso haja alienação durante e vigência do contrato de locação (art. 8º, da Lei nº 8.245/91):
a) O Adquirente pode denunciar o contrato com o prazo de 90 dias para desocupação. 
b) Quando o contrato de locação por tempo determinado contenha cláusula de vigência em caso de alienação e averbado na matrícula do imóvel, o adquirente deverá aguardar o término da vigência do contratual.
II. Ação de dano infecto (art. 1.280 e 1.281, CC):
Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.
Art. 1.281. O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras, pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas as necessárias garantias contra o prejuízo eventual.
III. Ação de demolitória (art. 1.280, CC):
Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.
IV. Ação de nunciação de obra nova foi excluída pelo CPC, enquanto procedimento especial, permanecendo a possibilidade de uma ação de obrigação de não fazer com pedido de tutela de urgência ou de evidência.
2. Condições das ações possessórias: 
(a) Possibilidade jurídica do pedido: No campo possessório, a possibilidade jurídica do pedido assume papel relevante, principalmente pela confusão relativamente habitual entre o âmbito petitório e possessório. Muitas vezes o autor do pedido nunca foi possuidor e não obteve qualquer transmissão ou sucessão na posse. Poderá ter pretensão e legitimidade para ingressar com ação reivindicatória. Entretanto, não terá pretensão possessória. Seu pedido será juridicamente impossível sob o prisma possessório (MEDINA, Miguel Garcia et.al. Procedimentos cautelares e especiais. 2.ed. São Paulo: RT, 2010. pp. 266-267). 
(b) Interesse de agir; 
(c) Legitimidade: possuidor, seja direto, seja indireto. O detentor não tem legitimidade ativa nem passiva. Se houver agressão à posse de bem sob sua apreensão, somente lhe é deferida a autotutela imediata e proporcional da posse; se ele for indicado como réu em ação possessória, deverá valer-se da nomeação à autoria (art. 62, CPC). 
3. Cumulação de pedidos: a cumulação de pedidos de indenização, multa pela não cessação imediata à agressão da posse, bem como demolição não desnaturam a natureza da ação possessória, que continuará a seguir o procedimento especial previsto pelo CPC (marcantemente diferenciado pela audiência de justificação). 
4. Exceptio domini: por expressa determinação legal (art. 923, CPC), não é possível, regra geral, no juízo possessório, discutir o domínio. A decisão acerca de uma ação possessória será tomada com base na melhor posse, e nesse aspecto a função social da posse assume papel relevante. Exceções: a usucapião pode ser utilizada como matéria de defesa e, consoante a Súmula 487, STF, será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio se com base neste ela for disputada. 
5. Da questão da tutela antecipada nas ações possessórias A tutela de urgência é permitida no âmbito das ações possessórias pelo art. 928, CPC. Ela terá caráter satisfativo e estará pautada em cognição sumária. O art. 928 c/c art. 924, CPC, exige requisitos especiais para a concessão da medida liminar (que poderá ser deferida com ou sem audiência da parte contrária, lembrando que quando o réu for ente de direito público, não é possível a concessão de liminar inaudita altera parte):
(a) prova da posse;
(b) caracterização detalhada da agressão à posse, inclusive com indicação da data em que houve o esbulho ou a turbação;
(c) que a agressão tenha ocorrido a menos de ano e dia (esbulho ou turbação novo). É importante ressaltar que, quanto ao terceiro requisito, a concessão da tutela de urgência não se limita ao esbulho ou à turbação nova. A interpretação sistemática do CPC conduz à conclusão de que caso a agressão tenha ocorrido há menos de ano e dia, a liminar concedendo antecipação de tutela seguirá o procedimento especial previsto no art. 928, CPC. Caso, porém, a agressão tenha ocorrido há mais de ano e dia, o direito fundamental de acesso à justiça e o princípio da inafastabilidade da jurisdição implicam na necessidade de tutela jurisdicional adequada à solução das crises de direito material, de modo que a tutela de urgência poderá ser concedida, mas na forma do art. 273, CPC (aplicação do art. 924, CPC). 
6. Desforço possessório: 
Desforço incontinenti: defesa imediata da posse pelo possuidor agredido. Deve estar assentado no binômio imediatismo-proporcionalidade. O art. 1.210, § 1° tem que ser entendido em harmonia com o art. 188, também do CC/02. O desforço próprio, como ação exclusiva do possuidor, deve ser promovido logo e limita-se a trazer a situação ao fato anterior à violência. Ou não permiti-lo que se perpetre. Logo, é prazo contínuo e ininterrupto. É decadencial, de modo que não permite um intervalo, pois se este se der, caberá ao interessado buscar as vias ordinárias, ou seja, procurar a Justiça, como órgão estatal, a disposição dos jurisdicionados (PUGLIESE, Roberto J. Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 195).
A doutrina costuma classificar a autotutela da posse em duas espécies:
(A) Desforço imediato: ocorre nos casos de esbulho (quando há perda da posse, através de meios violento, clandestino ou com abuso de confiança), em que o possuidor poderá restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo.
(B) Legítima defesa da posse: ocorre nos casos de turbação (quando há ameaça grave, concreta e eminente ao direito de posse - o possuidor está na iminência de perder a posse), em que o possuidor normaliza o exercício de sua posse, mantendo-se por sua própria força (sem a utilização do Judiciário ou da Polícia), contanto que o faça logo.
 	Os meios utilizados devem ser proporcionais à agressão, assim, o excesso poderá levar à indenização.
Art. 1.2012(...)
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
�
� O autor já teve ou tem a posse, mas, a perdeu. Somente se discute a melhor posse e não o direito de propriedade.

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