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de desenvolvimento proximal como [...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou colaboração com companheiros mais capazes. (VYGOTSKY, 1994 apud Maciel, 2000, p. 70). A zona de desenvolvimento proximal é constituída pelo conjunto de funções que amadureceram e que ainda estão em fase embrionária. Em diferentes momentos, Vygotsky ressalta que o aprendizado é construído nas relações sociais. O contato com a realidade, com os instrumentos, com o trabalho, em especial com outras pessoas, é fundamental na construção do conhecimento e do sujeito psicológico. De acordo com Vygotsky, para compreender adequadamente o desenvolvimento deve-se considerar não apenas o nível de desenvolvimento real da criança, capacidade de realizar tarefas de forma independente, mas também o nível de desenvolvimento potencial, isto é, sua capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes (OLIVEIRA, 1993, p. 59). A teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento 63 Entendemos então que é a partir da existência desses dois níveis de desenvolvimento – real e potencial, que Vygotsky define a zona de desenvolvimento proximal. O nível de desenvolvimento real refere-se às conquistas que já estão consolidadas na criança/adulto, o que já aprendeu e domina; indica os processos mentais que já se estabeleceram, representando as funções já amadurecidas. O nível de desenvolvimento potencial refere-se o que a criança/adulto é capaz de fazer mediante a ajuda de outra pessoa (adulto ou outra criança). Para Vygotsky, esse nível é bem mais indicativo do desenvolvimento mental do que aquilo que ela consegue fazer sozinha. O nível de desenvolvimento proximal, por sua vez, é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que costuma determinar através de solução, independente de problemas, e o nível de seu desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração de companheiros mais capazes. Assim, a ZDP é um domínio em constante transformação, uma vez que a criança que faz algo com a ajuda de alguém hoje, poderá, em pouco tempo, estar realizando sozinha a mesma tarefa. Concluímos então, que para Vygotsky, o fundamento do funcionamento psicológico tipicamente humano é social e, portanto, histórico; ou seja, todos os elementos do ambiente humano são carregados de significado cultural, constituindo-se em elementos mediadores na relação entre homem e o mundo (OLIVEIRA, 1993, p. 40). A teoria sócio-histórico-cultural no espaço escolar Neste sentido, é interessante refletirmos sobre a relevância do conceito de zona de desenvolvimento proximal para a área da educação, na medida em que, em interação com outras pessoas, a criança é capaz de colocar em movimento vários processos de internalização e desenvolvimento que, sem a ajuda externa, seriam impossíveis de ocorrer. Para Rego (2002, p. 71), o desenvolvimento pleno do ser humano depende do aprendizado que realiza num determinado grupo cultural, a partir da interação com outros indivíduos da sua espécie. Isto quer dizer, por exemplo, um indivíduo criado numa tribo indígena, que desconheça o sistema da escrita e não tem nenhum tipo de contato com um ambiente letrado, não se alfabetizará. O mesmo ocorre com a aquisição da fala. A criança só aprenderá a falar se pertencer a uma comunidade de falantes, ou seja, as condições orgânicas (possuir o aparelho fonador), embora necessárias, não são suficientes para que o indivíduo adquira a linguagem. Assim, ao trabalhar com o meio cultural e com a relação entre os indivíduos para a definição do percurso do desenvolvimento humano, Vygotsky não propõe uma pedagogia autoritária. Pelo contrário, trabalha constantemente com os conceitos de reconstrução e reelaboração por parte do indivíduo do conteúdo culturalmente construído e transmitido na interação social com grupo que integra. Teorias da Aprendizagem 64 A constante recriação da cultura faz parte do processo histórico das sociedades humanas e auxilia na construção da subjetividade e da consciência individual de cada um dos seus membros, de modo que, na escola, a interação entre os alunos também provoca mudanças/transformações no desenvolvimento das crianças. As funções psicológicas superiores são construídas no espaço escolar, na combinação das características biológicas, do nível real de desenvolvimento da criança e do seu nível potencial, mas, principalmente, nas relações que a criança estabelece e que são, por sua vez, mediadas por instrumentos e símbolos, com o auxílio da intervenção por parte de educadores e de amigos na interação social. O aprendizado torna-se um processo essencial na construção do ser humano como espécie diferenciada e do seu desenvolvimento, pois envolve a interferência do outro social para a reconstrução da experiência individual e dos significados que a compõem. Deste modo, a escola teria então como função o desenvolvimento de aberturas para a construção de zonas de desenvolvimento proximal da criança, na qual a intervenção do educador é um processo pedagógico que objetiva o alcance de avanços que não ocorreriam espontaneamente. Realizem, em grupos, fóruns de debate sobre o papel da cultura na teoria de Vygotsky. Discutam a possibilidade, nas escolas brasileiras, de realização da aprendizagem por meio da zona de desenvolvimento proximal. Uma boa dica de estudo para um aprofundamento na teoria sócio-histórico-cultural de Vygotsky é a leitura do livro de René Veer e Jaan Valsiner, intitulado Vygotsky: uma síntese. (São Paulo: Edições Loyola, 1996). A teoria de Vygotsky: pensamento e linguagem A linguagem humana, sistema simbólico fundamental na mediação entre sujeito e objeto de conhecimento, tem, para Vygotsky, duas funções básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante. Isto é, além de servir ao propósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as instâncias dói mundo real em categorias conceituais cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem. Marta K. de Oliveira A importância do estudo das idéias de Vygotsky C ompreendemos que o aprendizado de modo geral e o aprendizado escolar em particular não só possibilitam como orientam e estimulam o processo de desenvolvimento. Um processo que envolve, ao mesmo tempo, quem ensina e quem aprende não se refere somente a situações em que existe um educador fisicamente presente, pois, como nos aponta Oliveira (1993, p. 40), a interação social pode manifestar-se por meio de objetos, eventos, situações, modos da organização do real e na própria linguagem. Segundo Maciel (2001, p. 66), Vygotsky destaca o lugar das interações sociais como “espaço privilegiado de construção de sentidos e, portanto, da linguagem como criação do sujeito. Considera o pensamento e a linguagem a chave para a compreensão da natureza da consciência humana”. A linguagem, segundo Vygotsky, abre caminhos para a zona de desenvolvimento proximal, isto é, ajuda a criança a avançar de um nível de desenvolvimento real para uma área de potencialidades por meio da mediação realizada pelo outro. Dessa forma, podemos dizer que Vygotsky tem como um de seus pressupostos básicos a idéia de que o ser humano constitui-se como tal na sua relação com o outro social, onde a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem (OLIVEIRA, 1993, p. 24). Para Maciel (2001, p. 67), cada palavra, antes de tudo, é uma